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Digitized by the Internet Archive
in 2010 with funding from
University of Toronto
http://www.archive.org/details/criticaehistoriaOObraa
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ESTUDOS HISTÓRICOS
vi
Composição e impressão na Typogra-
phia da ANTIGA CASA BERTRAND
Rua da Alegria, 100 — Lisboa —
VOLUMES PRECEDENTES DA COLECÇÃO
D( >S
ESTUDOS HISTÓRICOS DO AUTOR
I Livro primeiro dos brasões da sala de Cintra. Lisboa, IS'»1».
Edição de 101 exemplares para ofertas.
II O Conde de Villa Franca e a Inquisição. Lisboa, 1899. Edição
de 500 examplares, com 12 estampas. Preço 1$000 réis.
III Livro segundo dos brasões da sala de Cintra. Lisboa, 1901.
Edição de 101 exemplares para ofertas.
IV — As sepulturas do Espinheiro, Lisboa, 1901. Edição de 250 exem-
plares, com 6 estampas. Preço 2$()()() réis.
V- Livro terreiro dos brasões da sala de Cintra. Lisboa, 1005.
Edição de 101 exemplares para ofertas.
O II e o IV vol., e bem assim o presente, encontram-se á
venda na administração do Archivo histórico portuguez, rua
do Alecrim, 7, Lisboa.
CRITICA
HISTORIA
ESTUDOS
ANSELMO BRAAMCAMP FREIRE
Director do Archivo Histórico Portuguez
VOL. I.
LISBOA
TIP. DA ANTIGA CASA BERTRAND
100— RUA DA ALEGRIA— 100
1910
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Da ultima linha do texto na pag. 316 deverão suprimir-se as palavras
»tendo talvez para ellas também concorrido», e bem assim as quatro pri-
meiras linhas da pnj. seg., porque o mestre <iil casado com 'íuiomar de
Faria, não é o que foi cirurjião mor de D. Afonso V, mas sim o que no
mesmo cargo serviu a 1). Manuel.
VENERANDA E VENERADA
MEMORIA
DE
Alexandre Herculano
NO
CENTENÁRIO DO SEU NASCIMENTO
DEDICA ESTE VOLUME
O AUTOR.
ADVERTÊNCIA
Começo a reunir neste volume os artigos por
mim publicados no "Jornal do Commercio,,, de
Lisboa, sob o pseudónimo de Silex.
Abranje esta primeira parte treze estudos escritos
desde junho de 1901, até julho de 1902, aparecendo
elles agora com vários aditamentos e retoques ao
texto antigo e com matéria inteiramente nova em
alguns apêndices anexos. Termina tudo um copioso
indice alfabético de matérias, indispensável requi-
sito em obras deste género para serem facilmente
aproveitadas.
As modificações introduzidas não alteraram
porem em nada a essência das apreciações de critica
histórica e social formulada já ha oito para nove
annos. Sobre este ponto insisto, para desvanecer
qualquer presunção contraria. O que penso hoje,
já então pensava; a coerência é perfeita e apenas
dei um passo para diante quando, em novembro
de 1907, me declarei republicano.
Então, um meu amigo, espirito extremamente
culto, escritor reverenciado e aplaudido, dirijiu-
I I AIA I RI 1 NCIA
me uma carta, na qual entre outras coisas, me
dizia: "aquelles que teem a fortuna de conhecer
v. pelos seus livros, mão acham que fizesse outra
coisa, senão tirar as consequências de uma convic-
ção firmada ha annosH.
É perfeitamente exacto, e quem me fizer a honra
de ler as pajinas deste volume, verá nellas a con-
firmação da precedente asserção. Para essas pajinas
remeto pois o leitor, por não ser aqui logar apro-
priado para em tal assunto me deter mais.
Algum tempo hesitei antes de me resolver a
tornar a dar á estampa estes estudos, perdidos nas
colunas de um periódico. Reconhecia a insuficiência
delles, e por isso receava-me de ser acoimado de
vaidoso inconciente, por pretender salva-los do
merecido esquecimento. Veio porem resolver-me
finalmente, o facto de em alguns delles tentar apre-
sentar na sua verdadeira estructura moral os
caracteres dalgumas personajens históricas, geral-
mente mal apreciados por serem apenas conhecidos
pelas historias oficiaes e cortesãs, que a uns engran-
decem e a outros deprimem.
Lembrei-me que, usando doutros processos, fir-
mando-me quasi exclusivamenre em documentos e
memorias contemporâneas, ainda que, em resultado
da minha insuficiência e talvez do errado método
de apreciação e dedução da minha critica, não
conseguisse a desejada restituição completa da
verdade, não deixaria todavia de despertar o inte-
ADVERTÊNCIA III
resse e chamar a atenção do verdadeiro historiador
para o aspecto que a meus olhos aquelles vultos
tomavam. Já não será este, creio, um serviço com-
pletamente despresivel prestado á historia nacional.
Noutros artigos destes estudos tento ainda
esclarecer um pouco o modo de viver, nos séculos
xv e xvi,, de gerações passadas, referindo-me
principalmente a usos e custumes da corte portu-
guesa, não por para elles me atrair simpatia
especial, mas por acerca delles haver maior faci-
lidade em encontrar dados seguros para apreciação.
Nós pouco sabemos da vida social dos nossos
maiores. É asserção trivial, mas desgraçadamente
bem verdadeira.
Causa-me inveja, confesso o pecado, quando
leio alguns admiráveis e interessantíssimos trabalhos
feitos noutras nações sobre aquella especialidade,
a mais interessante certamente da historia. Para
elles porem se haverem tornado tão completos, não
bastou unicamente a divulgação, lá por fora em
muito maior escala realisada já, de documentos;
tiveram principalmente á mão, os seus autores, as
memorias individuaes, as autobiografias, as cartas
e tantos outros monumentos históricos, que nos
faltam quasi por completo. Documentos, vão-se
hoje publicando entre nós bastantes; esses porem,
a não serem os preciosíssimos tirados dos arquivos
da Inquisição e infelizmente ainda muito restricta-
mente trazidos á luz, só raras vezes nos revelam o
[V ADVI \i II NCIA
viver da gente portuguesa de eras passadas. Vamos
pois, é certo, tendo já relativa copia de documentos;
mas não possuímos memorias pessoaes; mas só
raríssimas vezes nos é dado lermos cartas verda-
deiramente intimas, que não houvessem sido des-
tinadas ao publico. Sem estas bases, humilde e mal
seguro tem de ser sempre o edifício que levantar-
mos.
Para o estudo da sociedade portuguesa dos fins
do século xv e princípios do seguinte, temos porem
uma preciosíssima compilação de dados no Can-
cioneiro de Garcia de Resende, monumento de
indiscutível valia para apreciação dos usos e cus-
tumes do tempo, quando ella seja guiada por critica
documental cuidadosamente enunciada. No Can-
cioneiro porem, composto quasi exclusivamente de
trovas escritas por cortesãos, raras vezes se encon-
trarão reflexos da vida popular; existe todavia,
pouco posterior áquella, outra compilação de obras,
todas oriundas comtudo do génio de um só homem,
na qual, em vários painéis, uns apenas esboçados,
outros de traço profundo, a nossos olhos se repre-
sentam cenas da vida real do povo português.
Acontece porem, que em torno do Cancioneiro de
Resende com relativa facilidade se agruparão docu-
mentos; ao passo que em redor das Obras de Gil
Vicente quasi por completo elles nos faltarão.
É pois como acima digo, mais fácil hoje em
dia conhecer a vida cortesã daquelles tempos, do
que a popular.
ADVER1 I NCIA
Doutros bastante anteriores está ella traçada em
parte pelo grande espirito a cuja memoria dedico
este volume. Por Alexandre Herculano a quem por
igual venero, como historiador profundo, e como
homem de integro e elevado caracter; ao seu saber,
d sua personalidade moral, orgulho-me de prestar
esta bem sincera homenajem, lastimando-me apenas
da sua insignificância.
Aldeia, março de 1910.
05 COMDE5 DE VIANA
D. DUARTE E D. ISABEL
D. Duarte de Meneses e D. Isabel de Castro, por Fernandes Costa,
S. S. (j. L, no "Boletim da Sociedade de Geographia, n.° com-
memorativo do 25.o anniversario da Sociedade. Abril de 1901.»
Lisboa, 1901.
A D. Afonso V chamaram os nossos historiadores o
Africano. Não acertaram. No meu entender caber-lhe-hia
melhor o epiteto de Cavaleiro.
Foi elle um cavaleiro andante da Idade Média, deslo-
cado em princípios da Renascença. Fé, injenuidade,
desinteresse, prodigalidade, valentia, facilidade, honesti-
dade, eram os elementos do seu caracter. Conforme
com elles procedeu, e por elles padeceu.
Já em seu irmão, o Infante D. Fernando, não se encon-
travam as mesmas virtudes e defeitos em grau igual.
Valoroso, injenuo, fácil, honesto talvez, mas interesseiro
e invejoso era o Infante. Em 1452 fujira elle do reino
buscando aventuras em Africa, na aparência, para dar
largas aos seus instinctos cavaleirosos, na realidade
porem, por despeito orijinado de seu irmão lhe não
conceder os rendimentos que pretendia. Em 1463 tornou
a Africa com el Rei, e com elle assistiu em novembro
ao malogrado escalamento de Tanjer, d'onde voltaram
1
2 ESTUDOS
ambos para Ceuta. Aqui porem pouco se demorou o
Infante, porque, tendo alcançado licença de seu irmão,
partiu para Alcácer a fim de acompanhar os Condes de
Viana e de Guimarães numa entrada que projectavam
por território de Moiros. Realizada ella, quis o Infante,
com pasmo de todos, haver para si o quinto do saque,
lesando em seus direitos o capitão da praça.
É licito pois supor, que não foi só para alcançar gloria,
que o Infante, com D. Sancho de Noronha, Conde de
Odemira, seu primo muito aceito, resolveu acometer
novamente a cidade de Tanjer, e se abalançou a reali-
zar tal feito sem consentimento réjio, liem auxilio do
Capitão de Alcácer, o Conde de Viana D. Duarte de
Meneses, soldado valoroso e pratico nas guerras africa-
nas. A gloria só para si, ... e o espolio também.
No dia 19 de janeiro de 14Ó4, véspera de S. Sebas-
tião, partiram de Alcácer D. Fernando e D. Sancho
direitos a Tanjer, levando nobre, mas pouco numerosa
companhia e essa indisciplinada e desapercebida. Era
inevitável o malogro, e assim sucedeu, com perda infe-
lizmente da liberdade e da vida para muitos Portugue-
ses.
Um dos fidalgos mortos foi Gomes Freire, que, apre-
ensivo e profético, á partida exclamara: Oh ! noite má
para quem te aparelhas? Outro, foi D. Gonçalo Cou-
tinho, Conde de Marialva, que na morte resgatou uma
larga vida de desordens, turbulências, crimes até, e tão
escandalosa, que, sendo elle um tal senhor, fôra-lhe con-
fiscada a casa temporariamente, e padecera alguns me-
ses de prisão.
Em quanto o Infante doidamente levava tantos á
morte e á desgraça, permanecia D. Afonso V em Ceuta,
preparando-se para as vistas, que em Gibraltar lhe apra-
zara seu cunhado D. Henrique IV de Castella. Chegou
lijeira, como má que era, a noticia da algara do Infante;
CONDIS DE VIANA 3
não desistiu porem cl Rei do seu propósito, e para a
fronteira praça espanhola partiu. Na jornada os princi-
cipaes, que o acompanharam, foram o Conde de Gui-
marães, seu irmão D. João, os Condes de Monsanto e
Atouguia, e o Prior do Crato. Aponto-lhes os nomes,
porque, excepto dois, o Atouguia e seu irmão o Prior,
todos os mais, por uma triste coincidência, tiveram
morte desastrosa. O Conde de Guimarães, foi o Duque
de Bragança degolado na praça de Évora em 20 de
junho de 1483; seu irmão D. João, Marquês de Monte-
mor, executado em estatua em Abrantes a 12 de setem-
bro do mesmo anuo, veio a finar-se, homisiado em
Sevilha, a 30 de abril do anno seguinte; e finalmente o
Conde de Monsanto precedeu-os a ambos no tumulo,
levado por uma frechada, já tomada Arzila, em 24 de
de agosto de 1471. Ao menos este, morreu gloriosa-
mente.
Terminadas as vistas de Gibraltar, regressou D. Afon-
so V a Ceuta, passando todavia logo a Alcácer no in-
tuito de atacar Arzila. Não proseguiu por causa das
chuvas, e novamente se acolheu a Alcácer, d'onde ainda
pretendeu tornar a sair em expedição, em dia cie Santa
Maria cie Ca/icieioz, 2 de fevereiro '. Outra vez desis-
tiu, não sei por quê, e voltou para Ceuta, onde com
elle foi ter o Conde de Viana, D. Duarte de Meneses,
capitão de Alcácer. Então resolveu D. Afonso V a ex-
pedição á serra de Benacofú, e ordenou ao Conde que
o acompanhasse. Partiram, e ao terceiro dia foi o Conde
morto pela moirama, defendendo a rectaguarda das tro-
pas do Rei -, em quem dera um daquelles acessos de
pavor, a que era sujeito, e que, com mais violência ainda,
se repetiu na noite da batalha de Toro.
1 Azurara, Chronica do Conde D. Duarte, paj. 358.
- Ibidem, cap. 154.
4 ESTUDOS
I stava portanto passado, havia muito, o dia 20 de
janeiro de 1494, data, modernamente assinalada, e agora
aceita pelo sr. Fernandes Costa, como sendo a da morte
do valoroso (-onde D. Duarte. Digo modernamente, por-
que nem Azurara, nem Rui de Pina, a precisaram; e
porque julgo haver sido D. Agostinho Manuel que,
meado quasi o xvn século, a inventou no seu livro da
Vida de D. Duarte de Meneses.
Creio que se pode marcar a data da morte de
D. Duarte, nos primeiros dias do mes de fevereiro de
1404, antes porem de 8. No mes de janeiro, até 28, são
datadas de Ceuta varias cartas réjias; depois, ha um
intervalo, e só tornam a aparecer outras cartas datadas
daquella cidade, de 8 de fevereiro em diante, até ao fim
do mes, e de 4, ó, 7, 10 e 13 de março !. Neste dia
estava certamente o Conde D. Duarte morto, pois nelle
foi, em sua sucessão, nomeado capitão de Alcácer seu
filho o Conde D. Henrique ''. É pois muito provável
que naquelle intervalo do principio de fevereiro tivesse
tido logar a expedição á serra de Benacofú.
Diz Azurara, e não Rui de Pina, que a morte do
Conde D. Duarte foi muito chorada, pêro não tanto
■como devera.
Não sei a quem o Cronista se refere. Emulos invejo-
sos, tinha decerto muitos o Capitão de Alcácer, um delles
até seria o Conde de Odemira; mas D. Afonso V não
foi ingrato á memoria do Conde de Viana, a quem, em
vida, prestara já singular, mas bem merecida homenajem.
Passara-se o caso na primavera de 1460. Em abril
; Liv. 2.o dos Brasões de Cintra, paj. 375. Peço desde já ao
leitor que me releve esta e análogas citações de trabalhos meus;
Faço-as unicamente, porque nos logares apontados encontram-se
indicados os documentos, que servem de base ;i^ asserções do texto.
( hancelaria de D. Afonso V, liv. 8.", fl. 108.
COXIM S DE VIANA 5
desse anuo deixara D. Duarte de Meneses por capitão
de Alcácer sen sobrinho Afonso Tellez e viera a Lisboa
ter com Afonso V. "Daly se foy EIRey a Santarém, onde
com solene arenga de seus serviços e merecimentos, e
com devida cerémonia ho fez Conde de Vyana de Ca-
minha.. '.
Morto o Conde, logo a 20 de julho escreveu el Rei
na carta do condado de Valença o necrolojio do seu
fiel soldado, ^e as palavras do documento afirmam cla-
ramente a gratidão real.
"Atendendo aos serviços de D. Duarte de Meneses,
que Deus haja, Conde de Viana, que foi do nosso Con-
selho e nosso Alferes mor, e Capitão por nós em a nossa
vila de Alcácer em Africa, e vendo como elle por nosso
serviço duas vezes foi cercado na dita vila de Alcácer
dei Rei de Fez em espaço de dez meses; e cento e sete
dias, que duraram os ditos dois cercos, sendo combatido
de três mil e duzentas pedras de bombarda e doutra
muita artilharia, que no poderio dos ditos dois cercos
traziam, e por graça de Deus a defendeu como valente
e esforçado cavaleiro, sendo por muitas vezes fora da
dita vila a pelejar com os Moiros, e com ajuda do Se-
nhor Deus sempre os venceu, sendo no primeiro cerco
ferido no rosto por nosso serviço. E como isso mesmo
antes dos ditos cercos, e depois delles, com o desejo
de nos servir fez outras muitas pelejas e cavalgadas. E
vendo nós isso mesmo, como estando ora em as partes
de Africa, conquistando a dita terra, aconteceu os Moi-
ros delia nos virem buscar; e, pelejando nós e a nossa
gente com elles, mandámos ao dito Conde D. Duarte,
que acudisse por si áquellas partes, que mais sentimos
na dita peleja que elle era necessário a nosso serviço ; e
' Pina Crónica de D. Afonso V, Cap. 143. A carta do condado.
de Viana é de 6 de julho de 1460 (li v. 3.o de Místicos, fl. 57 v.).
D ESTUDOS
quis Deus, que, por Seu serviço e nossa ventura, o dito
Conde falecesse na dita peleja. No qual feito outra cousa
dello não pudemos conhecer, assim pelo que vimos,
como pelo que nos foi dito por outros, que eram no
dito caso que por elle olharam, que morreu como ca-
valeiro de grande coração que elle era. No qual tempo,
e auto de peleja, nós notificámos a todos, que elle nos
serviu tão grandemente, que por muitos louvores que
lhe déssemos em nossas crónicas de seus feitos, e mer-
cês que mandássemos fazer a sua molher, e filhos, e
criados, lhe não galardoaríamos seus grandes mereci-
mentos. . . lembrando-nos de D. Henrique de Meneses,
seu filho. . . o fazemos conde, etc!i,r.
São bem notáveis estas palavras; e os factos, como
logo indicarei, não vieram posteriormente embaciar a
gratidão que nellas D. Afonso V manifestara pelos ser-
viços e sacrifício do seu Alferes mór.
Diz o sr. Fernandes Costa, acusando o Africano de
ingratidão, e referindo-se á frase do Cronista, porem não
tanto como devera : "E interessante e curioso ver o que
os nossos chronistas régios, forçadamente cortezãos, sa-
biam escrever nas entrelinhas das suas chronicas. Ás
vezes, uma phrase sua rasga obscuridades, enchendo-as
de clarões. Esta é das taes.„
Peimita-me o ilustre Académico discordar neste ponto
da sua opinião. É conveniente que o historiador saiba
ler nas entrelinhas dos cronistas oficiaes; mas é neces-
sário que entenda a leitura.
Se a frase, porem não tanto como devera, fosse de Rui
de Pina, como o sr. Fernandes Costa supoz, e não de
Azurara, como realmente é, entendia-se perfeitamente.
Ainda assim compreende-se, porque a manha foi quasi
geral em todos os cronistas. Era aquella uma das ma-
8 Chancelaria de I). Afonso \\ liv. S.", íl. 87.
CONDES DE VIANA i
neiras que ellcs tinham, pobres mortaes, de meter reque-
rimentos para lhes serem melhoradas as pensões. Apre-
sentando os reis como geralmente avaros, pouco largos
em recompensar os serviços prestados, amesquinhavam
os cronistas as mercês já recebidas, e criavam funda-
mento para pedir mais.
Logo depois da morte do Conde D. Duarte deu
D. Afonso V, alem do oficio de alferes mór e da capi-
tania de Alcácer, coisas que nesses tempos não eram
simplesmente honorificas, eram rendosas; deu, repito, o
condado de Viana a seu filho D. Henrique de Meneses,
o qual, com o titulo de conde de Viana, encontro na
carta cia capitania de Alcácer, que é de 13 de março, e
noutra de 13 de junho acerca da terra de Benamarim
em Africa :. A 20 de julho porem, desse mesmo armo de
1464, foi, como acima disse, D. Henrique feito conde de
Valença, e senhor desta villa e da de Caminha, recebendo
estes senhorios em troca do de Viana, e não creio que
ella fosse prejudicial ao Conde. E não ficaram ainda por
aqui as trocas; porque, por carta de 12 de novembro de
1471, deu D. Henrique a el Rei as vilas de Valença.
Caminha e Vila Nova da Cerveira, recebendo em vez
destas a de Loulé, e se ficou intitulando Conde de
Loulé s até encontrar a morte, também ás mãos dos
Moiros, sendo capitão de Arzila, pouco antes de 17 de
fevereiro de 1480 9.
Com este filho de D. Duarte de Meneses não foi
D. Afonso V ingrato, apesar das trocas, nada desvan-
tajosas para o fidalgo, e que obedeceram ao propósito
politico, desde então manifestado, de tirar as praças
Chancelaria de D. Afonso V. liv. S.°, fl. 108; Alguns docu-
mentos da Torre do Tombo, etc. paj. 33.
s Chancelaria de D. Afonso, V, liv. 7.o fl. 26.
:' Liv. _;. dos Brasões de Cintra, paj. 386.
8 ESTUDOS
fronteiras do poder dos nobres. E ainda, alem de
muitas outras mercês, lhe fez D. Afonso V a não pe-
quena de o casar com D. Guiomar, filha do Duque de
Bragança, D. Fernando I, a quem el Rei deu um alvará
para este casamento l0.
I). Garcia e D. Fernando de Meneses, outros filhos do
Conde D. Duarte, se morreram em 1484, um enterrado
na cisterna do castello de Palmella, o outro degolado
na praça de Setúbal, a culpa não foi de D. Afonso V.
D. João de Meneses, o filho mais novo do Conde de
Viana, moço pequeno ao tempo do seu falecimento,
fel-o el Rei bem novo capitão de Arzila, por carta de
27 de abril de 1481 ". Conservou sempre a graça real,
e são innumeras as mercês que recebeu. D. João II no-
meou-o capitão de Tanjer, governador da casa do
Príncipe, e por morte deste seu mordomo mór. D. Ma-
nuel conservou-o na mordomia, fel-o conde de Tarouca
em 1499, elejeu-o prior do Crato em 1508, e nomeou-o
seu alferes mór poucos meses antes de morrer. Ainda
serviu a D. João III, menos de um anno comtudo l3.
Creio ter desvanecido a nódoa de ingratidão, que
neste caso o Cronista talvez não lançasse sobre D. Af-
fonso V, mas que o sr. Fernandes Costa admitiu.
Não é fácil escrever com acerto historia portuguesa,
fundado só na leitura dos cronistas e historiadores pas-
sados. É preciso recorrer aos documentos, ou aproveitar
o que outros, baseados nelles, teem escrito, e desconfiar
da matéria de muito livro edificado no ar, fujindo de
aceitar como bons os seus dizeres.
Nesta ordem de ideias vou notar alguns equívocos
1,1 Chancelaria de D. Manuel, liv. 30.°, ti. 102 v.
11 Chancelaria de D. Afonso V, liv. 26.°, fl. 103 v.
'-' Liv. 2.o ilos Brasões de Cintra, paj. 122.
CONDIS DE VIANA 9
em que incorreu o ilustre autor do artigo a que me
estou referindo.
Lê-se nelle que foram muito de Santarém os Tcllez
de Meneses. Foram efectivamente; mas não eram da
família do Conde de Viana, nem no tumulo deste as
armas, que se esculpiram, foram as daquelles, em tudo
bem diversas. A casa dos Tellez de Meneses era em
Fora de Vila, e provieram elles de Fernão Tellez de
Meneses, senhor de Unhão, filho segundo de Aires
Gomez da Silva, senhor de Vagos, e de sua mulher
D. Brites de Meneses, que era dos Meneses de Canta-
nhede, ramo muito diverso do dos Meneses dos Condes
de Viana. As armas dos Tellez de Meneses, esquarte-
ladas de leões e de campo liso, também se encontram
no museu de Santarém, onde o autor as podia ter visto
numa pedra trazida de uma capella da igreja de S. Do-
mingos.
Dos patronímicos Tello e Tellez não usaram indife-
rentemente os dois grandes ramos dos Meneses. Tellez
só se encontra no ramo primogénito, o de Cantanhede:
D. Gonçalo Tellez, D. Leonor Tellez. Tello encontra-se
em ambos os ramos, no de Cantanhede, e no dos
condes de Barcellos e Viana: D. João Afonso Tello,
D. Afonso Tello. As armas que estão no tumulo do
Conde D. Duarte, são as dos Meneses das casas de Vila
Real e Tarouca, e de seus ramos.
O tumulo do Conde D. Pedro, que está na igreja da
Graça de Santarém, não encerra, ou encerrava, só o
cadáver delle e o da Condessa D. Beatriz Coutinho sua
terceira mulher. Também lá foi sepultada a primeira,
D. Margarida de Miranda, mãe de D. Beatriz de Meneses,
que sucedeu na casa e foi 2.a Condessa de Vila Real,
e de D. Leonor de Meneses, aquella a quem seu pai
deixou por herdeira de todos os bens patrimoniaes com
o especial encargo de ordenar a sua sepultura, e que
10 ESTUDOS
foi a primeira mulher do depois 3." Duque de Bra-
gança.
Da Condessa D. Beatriz Coutinho também teve o
Conde D. Pedro uma filha, mas essa chamava-se Isabel,
e não Beatriz, como o sr. Fernandes Costa escreveu;
e não foi encarregada por seu pai de coisa nenhuma
relativa á sua sepultura.
Era efectivamente o Conde D. Pedro casado, quando
nasceu, de Isabel Dominguez, mulher solteira, seu filho
D. Duarte; assim o declara a carta de lejitimação de 15
de março de 1424 ,:;. E, como diz o sr. Fernandes Costa,
a mulher do Conde, então viva, era realmente D. Marga-
rida. Não se sabe quando se efeituou o primeiro casa-
mento de D. Pedro de Meneses, que foi Conde de
Vila Real e depois de Viana, e não se sabe também
quando esta sua mulher faleceu. Consta porem que em
1420 se recebera elle com sua segunda mulher, D. Filipa
Coutinho, não se consumando o matrimonio, porque a
noiva morreu no mar vindo ter com o esposo a Ceuta ''.
Toda a parte do artigo do sr. Fernandes Costa, que
se refere á abertura do tumulo do Conde D. Duarte, e
ao que lá se encontrou, é interessantíssima, pela essência
e pela forma, e ficará na historia portuguesa. Foi um
poeta que escreveu aquellas linhas; foi um poeta que
soube aproveitar aquellas três letras, a m o, que talvez
na inscrição não pertencessem ao verbo amar, mas que,
apresentadas com a arte do autor, enternecem o leitor,
e redobram nelle a afeição já dedicada á infeliz viuva,
a Condessa de Viana.
Chamou-se esta senhora D. Isabel de Castro. Foi filha
de D. Fernando de Castro, Governador da casa do
Chancelaria de D.João I, liv. 4.°, fl. 74.
I.iv. 2.o dos Brasões de Cintra, paj. 359.
CONDES DE VIANA 1 1
Infante D. Henrique, c irmã do Conde de Monsanto e
da Condessa de Abranches. Casou em 1449, antes de 19
de abril ' ', com D. Duarte de Meneses, que era viuvo.
Paia este casamento dotou o Infante D. Henrique três
mil e quinhentas coroas de oiro a D. Duarte, aprovando
D. Afonso V o contrato por carta de 20 de setembro de
1440. Tinha el Rei também querido concorrer para este
enlace; e havia, pouco antes, por carta de 25 de agosto,
dado certa tença em casamento a D. Isabel ' '.
Sobreviveu a Condessa de Viana muitos annos a seu
marido, e foi, no meio das suas grandezas, bem infeliz.
Á saudade imensa que a morte desastrosa do seu com-
panheiro lhe deixou, acresceram novos e sucessivos
golpes que despedaçaram o pobre coração de D. Isabel.
Em 1480 morre-lhe o filho mais velho, o Conde de
Loulé, nos areaes africanos, ás mãos dos Moiros, como
seu pai !
Em 1484 são justiçados por traidores ao Rei outros
dois filhos! O Bispo de Évora, que envenenam no fundo
de uma cisterna; D. Fernando, que degolam em publico.
Da sua brilhante geração só subsiste o mais novo,
D. João.
Pois ainda a mulher forte, cheia de fé em Deus e de
resignação com a Sua divina vontade, resistiu por mais
treze annos !
D. Isabel de Castro, Condessa de Viana, morreu em
1497, entre 13 de maio e 15 de junho !'.
Foi uma grande mulher, cuja historia ainda está por
fazer.
Aldeia, () de junho de 1901.
'•' "Deu a I). Duarte de Meneses quarenta e cinco mil reaes, e a
sua molher D. Isabel, da sua tença, por carta de 19 de abril de 144')...
Carta de 12 de maio de 1451, de quitação a Gonçalo Monteiro, almo-
xarife da Guarda. Chancelaria de D. Afonso V, liv. 11.°, fl. 47.
'' Liv. 2.o dos Brasões de Cintra, paj. 377.
'" Ibidem.
A ORDEM DE SANTIAGO
Ordens militares portuguezas I Ordem de Santiago, por Manoel
Xavier Trindade Roquette, Tenente de Infanteria, com ura Prefacio
de João Carlos Rodrigues da Costa, Coronel de Artilharia. Lei-
ria, 1901.
A Ordem de Santiago da Espada foi instituída em
1170 por D. Fernando II de Leão, e teve em Cáceres o
seu primeiro assento. Passou d'aqui para Castella, esta-
belecendo-se em Uclès, d'onde irradiou para Portugal,
recebendo de D. Afonso I, em 1172, a doação da vila
da Arruda; mas, certeza nenhuma existe, dos Cavaleiros
terem nestes tempos fixado domicilio no reino.
No Livro dos Copos transcreveu-se uma bula, não
autentica, de Alexandre III, datada de 3 de julho de
1175, na qual ha referencia á Ordem possuir então Al-
cácer, Almada e Arruda, castellos, que, juntamente com
o de Palmella, lhe foram doados por D. Sancho I em
28 de outubro de 1186.
Postos os Spatarios na vanguarda das conquistas cris-
tãs, não puderam suportar o peso das armas musul-
manas, e em 11Q1 estava perdido todo o território alem
do Tejo, que três daquelles castellos dominavam. Conser-
varam porem os Cavaleiros, apesar do desastre, a pro-
tecção dei Rei, que em 1193 lhes doou a torre e paços
da Alcáçova de Santarém, e em 1194 o edifício de San-
tos ao poente de Lisboa.
1-1 ESTUDOS
Tornou a fortuna a inclinar-se para as armas cristãs,
e os Spatarios já em 1210 estavam restabelecidos em
Palmella, e em 1217 em Alcácer. Nos annos seguintes
avultaram as doações á Ordem, que em 1235 recebeu
Aljustrel; em 1236, Cezimbra; em 1239, Alfajar de Pena
e Mertola; em 1240, Ayamonte; e Tavira em 1244. Esta
foi a enorme expansão que em seus princípios teve a
Ordem em Portugal.
Lira ella então governada, cá no reino, pelo Comen-
dador mór, que reconhecia a autoridade do Mestre de
Uclès em Castella, a quem obedecia como chefe su-
premo da Ordem. Foi só nos fins do XIII século, rei-
nando já D. Dinis, que teve logar o primeiro passo
seguro dado pelo ramo português da Ordem para a
sua emancipação do mestrado castelhano. Foi então com
efeito que Nicolau IV, por bula de 17 de setembro de
1288, renovada em 1 de maio de 1290, permitiu aos
Cavaleiros e Freires da Ordem de Santiago nos reinos
de Portugal e Algarve elejerem mestre d'entre si.
Reuniram logo em capitulo os Treze da Ordem, e ele-
jeram prelado a D. João Fernandez. E este considerado
o primeiro Mestre independente de Castella havido pela
Ordem em Portugal, apesar de entre o seu governo e o
do seu sucessor nas mesmas condições, ter mediado
bastante tempo, para cima de dezoito annos.
Publicada a bula de Nicolau IV, recorreu delia ime-
diatamente o Mestre de Uclès, e encetou-se, perante a
Cúria, um formidável pleito, que se protraiu com alter-
nativas varias até que Bonifácio VIII anulou a bula
de Nicolau IV, e em 1298 já os Cavaleiros portugueses
estavam de novo sujeitos ao mando do Mestre caste-
lhano. Não abandonaram elles comtudo a demanda, e
proseguiram na luta mesmo sob o governo estranjeiro,
auxiliados nisso muito eficazmente pelo Rei. Sucedeu
depois a longa vacância do sólio pontifício, a qual se
ORDEM DE SAN riAGO 15
estendeu desde a morte de Clemente V, em 20 de abril
de 1314, até á eleição de João XXII, feita em Lião de
França no dia 7 de agosto de 1316.
Aproveitaram este interregno os Cavaleiros portu-
gueses para durante elle convocarem capitulo provincial,
no qual elejeram mestre o Comendador mor Lourenço
Anes, que, apesar de todas as oposições, se sustentou no
governo da Ordem sempre amparado pela Coroa, e
desde então, senão de direito, pelo menos de facto, ficou
o ramo português separado do tronco castelhano.
Recorrera entretanto o Mestre de Uclès a todos os
meios, não esquecendo o da excomunhão tão eficaz
nesses tempos, e perante a Cúria protestara por seus
procuradores contra a separação. Foi atendido, e a bula
de 17 de abril de 1317 ordenou novamente aos Spatarios
portugueses, que reconhecessem a autoridade do Mestre
geral da ordem em Castella. Interveiu então el Rei
D. Dinis directa e enerjicamente por meio dos seus
embaixadores em Avinhão, e com tanta eficácia, que
obteve a suspensão da precedente bula por outra de
27 de fevereiro de 1319, renovada a 1 de julho, pela
qual o Papa determinou entregar o conhecimento da
causa aos Arcebispos de Compostela e de Braga.
Tiveram realmente efeito suspensivo as novas letras
apostólicas, e continuou a subsistir a separação das
Ordens apesar dos esforços contrários dos Castelhanos,
que em 1327 mandaram a Portugal um procurador para
dar cumprimento á bula de 1317, ao que D. Afonso IV
se opoz formalmente. Continuou pois, repito, a subsistir
a separação, e nunca mais houve sujeição dos Cavalei-
ros portugueses ao Mestre de Uclès, sem embargo do
Papa em 1333 ter avocado a causa a si, e, de, ao que
parece, nunca o pleito ter tido julgamento final durante
todo o resto do XIV século.
Diz Rui de Pina haver sido em 1440 que os embaixa-
10 ESTUDI S
dores de D. Afonso V trouxeram de Roma as letras da
independência absoluta da Ordem de Santiago portu-
guesa da castelhana. Pode ser. Encontro todavia uma
carta passada em Abrantes, a 3 de junho de 1446, a
D. João, Bispo de Ceuta, que estivera pela segunda vez
em Roma como embaixador no anuo de 1444, pela
qual lhe é dada quitação de certa quantia despendida
com a desanexação do mestrado de Santiago '. A
Cúria naquelles tempos era maquina que não trabalhava
sem ser untada, e por isso não creio que ella produzisse
antes de lubrificada. O certo por tanto é a bula ter sido
concedida por Eugénio IV a rogo daquelle Embaixador,
que no tempo das suas missões era ainda somente
Fr. João, Provincial do Carmo.
Finalmente Nicolau V, em bula de 17 de junho de
1452, confirmou á Ordem de Santiago de Portugal todos
os privilejios, isenções e prerogativas de que a de Cas-
tella gozava.
A melhor parte do que acima fica dito é extraída da
excelente Historia da administração publica em Portu-
gal, do sr. Henrique da Gama Barros, livro que honra
tanto seu autor, continuador directo dos grandes mes
três, como esta lusa terra tão pobre em monumentos
daquella ordem ; livro que tem tido da parte dos nossos
críticos periodiqueiros a consagração do silencio, sintoma
muito apreciável.
O sr. Roquette no seu folheto acerca da Ordem de
Santiago desenvolve o que resumidamente fica dito?
— Não.
Elle anda para traz e para diante. Tão depressa não
admite a existência da Ordem antes da sua instituição,
o que parece razoável ; como afirma, na paj. 25, que
1 Chancelaria de D. Afonso V, liv. 5.°, fl. õ4.
0RD1 M DE SANTIAGO 17
quarenta c dois annos antes, no começo do reinado de
D. Afonso Henriquez, já a Ordem estava em Portugal,
fazendo dos Spatarios uma sorte de pescadas, o que
não parece razoável.
Não admira esta indecisão num autor, que não con-
sultou um único documento; num autor que se não
socorreu de nenhum livro merecedor de confiança. As
Dissertações de João Pedro Ribeiro, a Historia de Por-
tugal de Herculano ; a própria Historia de Portugal de
Herculano ! o 'Quadro Elementar do Visconde de Santa-
rém, a Historia da administração do sr. Gama Barros, são
tudo fontes desprezadas pelo sr. Roquette, para quem os
autores de fé são Fr. Jerónimo Roman, Pedro de Mariz,
Fr. Agostinho de Santa Maria, e outros quejandos.
Na paj. 26 cita-se, é verdade, um autor venerando e
venerado, Fr. António Brandão ; mas, por sinal, põe-se-
lhe na boca o que elle não disse.
Na Monarehia Lusitana, no cap. XV do liv. VIII
transcreveu Brandão uma escritura do Conde D. Henri-
que, datada de 5 dos idos de dezembro da era de 1135
(9 de dezembro de 1097 da era vulgar), de confirmação
dos privilejios da Cornelhã á igreja de Santiago de
Compostela. Apesar da tradução portuguesa seguir logo o
orijinal latino, apesar do Cronista mor bem claramente
dizer que a mercê fora feita ao Apostolo, entendeu o
sr. Roquette que ella havia sido á Ordem, e assevera-nos
que o douto Brandão quis, com este documento, provar
a protecção já nesse tempo dispensada á Ordem pelo
Conde D. Henrique! E não ficou ainda por aqui. Sem
prova, nem exame, sem ao menos se escudar com auto-
ridade alheia, não hesita em insinuar a falsidade do do-
cumento! Não é elle apócrifo, não; socegue. Nunca nin-
guém se lembrou de tal cuidar, e João Pedro Ribeiro
aceitou-o sem duvida, e Herculano fez obra por elle.
Disse lá acima, que o autor nenhum documento com-
18 ESTUDOS
pulsara directamente; encontro porem agora na paj. 45
a citação do Livro dos mestrados H. 188. Tive curiosi-
dade ; fui ver, e nada lá encontrei que nem de lonje se
refira ao que se diz no texto, invocando a citação. Os
autores antigos pregam muita vez partidas destas, a
quem se não acautela, conferindo as suas citações.
Seria fastidioso estar a corrijir todos os erros, a cada
passo cometidos pelo autor da Ordem de Santiago;
mas para os meus leitores ficarem bem inteirados, apon-
tar-lhes-hei mais um, transcrevendo de paj. 86 o se-
guinte período: "No reinado de D. João II, em Santarém,
sendo administrador do mestrado o Príncipe herdeiro
D. Afonso, no anno de 1480,., reuniu-se o capitulo geral.
Neste anno reinava D. Afonso V, e aquelle, a quem o
autor chama Príncipe D. Afonso, era então o Infante
I). Afonso e tinha cinco annos de idade. Para ajuizar
da falta de cuidado com que o folheto foi escrito, aquella
amostra basta.
O catalogo geral dos Mestres, que constitue o capi-
tulo IV do folheto, trouxe-me á lembrança a lista geral
da Misericórdia, com a diferença de nesta só se verem
números, ao passo de naquelle nem um algarismo se
encontrar. Datas ficaram no tinteiro; e talvez fosse melhor.
Não conheço o sr. Roquette, nem de vista nem de
nome; não me move contra elle nenhuma espécie de
má vontade, bem pelo contrario. Vejo pelo seu posto
no exercito, tenente de infantaria, que é homem moço.
Suponho-o trabalhador e desejoso de acertar nas suas
investigações históricas, e por isso, com a rude mas ino-
fensiva franqueza de um velho que tem estudado um
pouco a historia nacional, lhe digo que ponha este seu
folheto de parte, e trate de o refazer, estudando bem o
assunto, consultando os documentos, seguindo os bons
autores. Destes já lá em cima lhe apontei uns poucos ;
dos outros, dos documentos, dir-lhe-hei que se encon-
ORDEM DE SANTIAGO 1"
tram muitos e preciosos na Torre do Tombo acerca da
Ordem de Santiago, a mais rica neste ponto das nossas
ordens militares. Tem lá o Livro dos Copos, para o
mais antigo; tem os primeiros livros da chancelaria para
os tempos de IX João II e seguintes.
E não se peje de fazer nova edição ; tem moderna-
mente ótima companhia. Aqui está o sr. Visconde de
Sanches de Frias, que já deve talvez ter idade para
major, e que ainda ha poucos annos publicou um folheto
intitulado Pcéibeiro da Beira, do qual fez logo depois
segunda edição, emendando os erros que na outra enxa-
meavam. É verdade não ter o caso aproveitado a este
autor, que ha poucos meses publicou um drama, intitu-
lado O poeta Garcia, e precedido de uma noticia bio-
gráfica, na qual as inexactidões também abundam, facto
de que já está avizado, e que provavelmente dará logar
a segunda edição. E, se assim suceder, todos ganhare-
mos com isso, até o autor, provando a honestidade e
desejo de acertar com que estuda.
Não hesite pois o sr. Roquette em seguir este exem-
plo, que não é único; mas não paga a pena estar a citar
outros.
Uma das coisas mais nocivas, para alguns que escre-
vem sobre historia portuguesa, são os elogios dos
críticos da imprensa periódica, pessoas que em geral
gozam de uma tão absoluta ignorância da matéria, que
causa pasmo e verdadeiro assombro.
Quanto ao prefacio do sr. João Carlos Rodrigues da
Costa, coronel de artilharia, achei-o de muito salutar
lição. Mostrou-me o que seria na essência um prologo
meu, se eu caísse na peta de o antepor a um tratado
acerca das vantagens da artilharia de montanha sobre a
de campanha para o assedio das praças fortes.
Aldeia, dia de Santiago, 25 de julho de 1901.
RAPARIGA5 DO CANCIONEIRO
índices do Cancioneiro de Resende c das Obras de Gil Vicente.
Lisboa, DOO, edição de vinte exemplares pára ofertas.
Estamos em Évora na tarde de segunda feira 1Q de
abril de 1490.
Em frente da casa do Secretario, onde festiva boda
decorria, era extraordinária a multidão, ajitando-se fre-
mente, anciosa por ver, o que tanta vez presenceara.
Começaram os convidados a descer a escada. Após elles,
Afonso Oarcês e Isabel Fernandez, os donos da casa,
acompanhados de seus filhos e genro, fizeram circulo
fora do limiar da porta. Assomaram logo entre as om-
breiras dois mancebos, e atraz delles um homem rica-
mente vestido, novo ainda, um pouco grosso, mais alto
do que baixo, de rosto comprido e corado, olhos pretos
graciosos, barba preta, cabelo corredio, gesto grave, mas
afável.
El Rei ! El Rei ! Bradou o povo ; e todos avançaram,
apertandose.
Então parou o homem, e dirijiu em roda de si
aquelle olhar, "que fazia muito maior lugar do que todos
os oficiaes e porteiros com muito trabalho podiam fa-
zer.,. Recuou tudo, e fez-se praça suficiente para se orga-
nizar o cortejo. Á frente os arautos e passavantes,
seguidos dos porteiros e oficiaes; depois alguns oficiaes
22 ESTUDOS
mores, os Vedores da Fazenda, e o Mordomo mór pre-
cedendo cl Rei, que dava a direita ao Príncipe e a
esquerda ao Duque. Logo atraz, ainda um pouco no
lado, o Capitão dos ginetes seguido dos cavaleiros da
guarda.
Encamiríhou-se a cavalgada direito á Praça.
Entretanto em sua casa apertava Afonso Garcês nos
braços a sua Margarida, e estremamente comovido com
a honra que sua alteza lhe fizera de vir em pessoa ao
casamento de sua filha, a entregava a seu marido, Luis
da Costa, que havia pouco recebera, como brinde de
bodas, a mercê de um oficio de escrivão da Fazenda real.
Nisto chegava a cavalgada á Praça, onde destroçou
em parte, ficando el Rei com o Príncipe, o Duque e al-
guns mais, a passear. Dadas poucas voltas, apareceu
no topo da rua dos Mercadores, subida a galope,
Filipe do Casal, que a toda a brida desde a torre dos
Coelheiros corria pressuroso a dar a el Rei a grata nova
de na véspera, em Sevilha, o Coudel mór haver rece-
bido por palavras de presente, em nome do Príncipe, a
Infanta D. Isabel de Castella e Aragão. Salta o mensa-
jeiro em terra ao approssimar-se dei Rei e, ainda antes
de lhe beijar a mão, lhe grita ofegante a noticia.
Num relance de olhos lembra D. João II ao Vedor
da Fazenda D. Martinho de Castelbranco, organizador
dos festejos, o que cumpria ordenar; e ao cabo de pou-
cos minutos, o repique dos sinos, o estridor das trom-
betas, o estrépito das bombardas, a estai ida dos fogue-
tes, atroavam os ares. Todos em Évora ficaram sabendo
a alegre nova.
Em quanto se acendiam os fogaréos, se enramavam
e embandeiravam as ruas, e os muros e torres da cidade,
subia el Rei com o Príncipe e mais comitiva á Sé, a
dar graças a Deus, e a rogar Sua benção para os espo-
sados; mas dessa vez Deus foi surdo.
RAPARIGAS DO CANCIONEIRO 23
Na volta, pela rua da Selaria abaixo, todos bem ale-
gres e satisfeitos seguiam el Rei, que de repente parou,
por se lhe ter atravessado adiante uma rapariga, que de
pandeiro na mão se poz a cantar e bailar no meio da
rua, com tanta graça, meneio e requebro, que el Rei
soltou um valente bravo, e, pegando nella, a lançou
nas ancas da mula, e assim a levou ao paço para dan-
çar e cantar ante a Rainha.
Esta bailadora da rua da Selaria não era nenhuma
cachopa dos arredores de Évora; não era a filha de
nenhum cidadão honrado da cidade; não. Era uma
fidalga das mais altas linhajens da corte, uma neta de
D. Henrique II de Castella, D. Briolanja Henriquez se
chamava; D. Henrique Henriquez, senhor das Alcáçovas
e Aposentador mor, era seu irmão; Aires de Miranda,
Alcaide mor de Vila Viçosa, seu marido.
Tornara-se aquella tarde de tanto prazer e alvoroço,
que todos parecia haverem perdido o juizo; e, assim
como os velhos Rui de Sousa, senhor de Sagres, e
Diogo da Silva, aio do Duque, se tinham posto a pular
e cantar no meio da rua, não era para estranhar que
uma mulher moça lhes seguisse o exemplo. E então
estas raparigas da corte de D. João II e de D. Manuel,
que eram mesmo levadinhas da breca.
Namoradeiras, volúveis, trocistas, traziam os cortesãos
seus servidoros pela arriata.
Quem ousa de me servyr
em grão pervguo se mete;
ha mil despresos de ouvyr,
e tanto mal de sentir,
com que lhe sue o topete '.
Isto declarava pelos annos de 1482 uma D. Guiomar,
respondendo a certa cantiga de Francisco da Silveira.
1 Cancioneiro gemi, fl. 107, col. 4.->
24 ESTUDOS
Esta I). Guiomar, Dama do Paço, não é fácil dizer
quem fosse; não era comtudo nenhuma
das três grandes Ouioinares,
a quem D. Francisco, futuro Conde do Vimioso, se
refere muito depois, em versos dirijidos do paço de
Santos, em março ou abril de 1511, a D. Rodrigo de
Castro, sogro de D. João Lobo, que os levou á Beira,
onde D. Rodrigo então estava, provavelmente na Covi-
lhã de que era alcaide mor '-'.
Das três grandes Guiomares
pudera ser uma a filha de Duarte Galvão, aquella
D. Guiomar de Meneses a quem Simão de Sousa do
Sem dirijiu, pelos annos de 150S, estes versos:
Vossa graça e parecer
vay, senhora, de maneyra,
que deve, quem quer vyver,
de fazer por vos uaiu ver,
ahynda qu'ele uaiu queyra.
E deve-se d'entender,
em quem vos nam tenha visto;
porque, depoys de vos ver,
nam se pode fazer isto.
Que, quem vos bem conhecer
e vos vir, que Deos não queyra,
nam pode leyxar de ser
S'qsso, em quanto vyver,
nem vyver doutra maneyra :.
'-' Cancioneiro, fl. 82, col. 2.a. Na Gente do Cancioneiro, p. 2<)5
do X vol. da Revista lusitana, puz a data destas trovas entre março
de 1510 e igual mês de 1512; agora porem posso precisa-la muito
mais porque sei, por does. do Corpo cronolojico, ter a corte perma-
no paço de Santos, donde são dirijidas as trovas, desde fins
de fevereiro até fins de abril de 1511.
1 Cancioneiro, fl. 153, col. 3.^
RAPARIGAS DO CANCK kNEIRO 25
Delia, na primavera de 1510, dizia Oarcia de Resende:
D. GUyomar de Meneses
está fora, ha oyto meses,
do paço, num moesteyro
Talvez fosse para socegar.
Comtudo é certo que no Cancioneiro se mencionam
outras três Guiomares, todas florescendo na corte no
ultimo quartel do século xv.
Uma, era D. Guiomar Henriquez. Estava esta doente
no verão de 1408, quando foram os juramentos de
Castella, na ocasião em que João Oomez de Abreu
mandou para Aragão novas de Lisboa. Apesar de
doente, ainda metia medo ao poeta:
Diz, que disse dela mal ;
está de mytn descontente,
e ser disso ynocente
nam me vaí '.
Era sobrinha da D. Briolanja da rua da Selaria, e foi
mulher de Oarcia de Mello, o Brazeiro, heroe de uma
porquissima aventura num serão dei Rei. Teve uma
prima de quem diziam:
Porque he tam mau rapaz
Dona Margarida Anriqttè?G
Outra, era D. Guiomar de Meneses, donzella muito
volúvel, a quem D. João de Meneses, lastimàndo-se a
si, e ao Prior do Crato, que lha tirara, dirijiu, pelos
annos de 1487, estas trovas:
' Cancioneiro, fl. 216. col. 1.
'Ibidem, fl. 190, col. V>
6 Ibidem, fl. 175, col. o.*
26 ESTUDOS
Eu, porque mela deyxou ;
i triste, que a levar,
porque cedo o ha de deyxar.
Levou ma, mas não por ter
melhores trunfos nem mais,
senam so por cila ser
tal, que nunca pode estar
hum 'ora sem se mudar. "
A terceira, foi I). Guiomar de Castro, a mais ladina
das três, a qual um dia, diante de muitos, espetou a
lingua pela boca de seu irmão D. Rodrigo que depois
explicava:
Mays comprida e mays del^uada
achev a sua que a minha,
porque toda a campainha
me leyxou escalavrada.
E fez-me tão grandes briguas
nos queixays,
que mos iiom fizera tays
hum grande molho d'ortiguas.
Eu disse-lhe: tate perra!
nam metays assy de ponta
a lingoa, que tanto monta
como (is da boca em terra;
fazei conta.
Dizia: Mano, deixay-me
em quanto tenho luguar.
E eu bradava : Soltay-me !
Deixay-me resfoleguar,
(.pie me quereis afoguar ! s
Veio D. Guiomar a casar, pelos annos de 14S2, com
Aires da Silva, Camareiro mor e Rejedor das justiças,
e passou a ser senhora grave e sisuda, como sucedia ás
mais traquinas donzellas, facto muito notável nas rapari-
gas daquelles tempos. Efectivamente é relativamente fácil
encontral-as, em quanto solteiras, envolvidas em aven-
turas, que chegaram muito lonje; depois de casadas
porem, o caso é raro. Hoje dá-se por cá o inverso.
E por aquelles tempos já também isso mesmo sucedia
Cancioneiro, ti. IS col. l.a
' Ibidem, ti. 166. col. 4..<
RAPARIGAS DO CANCIONEIRO 27
em França, onde Brantôme encontra muitas mais belles
et honnesies dames entre as casadas, do que nas soltei-
ras. Mas não se compara o desregramento da corte fran-
cesa dos Valois, com a liberdade dos contemporâneos
paços portugueses. Nestes as belles et honnestes dames
eram também vertucuses, qualificativo que ao solteirão
francês servia para estremar as sem macula.
O que as nossas teriam, seria mais desenvoltura nos
modos; eram mais bravias. Vou talvez dizer uma heresia,
mas encontro nas donzellas da corte daquelles tempos
muito das varinas de antanho. Elias eram desempenadas,
fortes:
Pêra parecer donzela
cousas tendes bem que farte !l.
Bailavam, cantavam, tinham a resposta pronta em
prosa ou verso, e a frase livre.
Brás da Costa mandou comprimentar uma sua prima
no dia do seu casamento, e ella respondeu:
— Dizei lá a vosso amo, que não estou para o aturar
vou entrar em batalha '".
Não é agora, aqui, sobre o joelho, só quasi á vista
destes índices, que se pode fazer um estudo desenvol-
vido acerca das donzellas da corte daquelles tempos;
mas que interessante não seria elle?
Os autores dos índices, os Novos Obsequiosos de Sa-
cavém, como elles se assinam no fundo do prefacio,
tiveram sobretudo em mira, vê-se, proporcionar dados
biográficos". D'aqui resultou que, mesmo na parte
'' Cancioneiro, fl. 154, col. 5.;>
111 Ibidem, fl. 132, col. 3.->
11 Um dos Novos Obsequiosos de Socavem era eu próprio; mas
na realidade, na composição dos índices, não tive, pode-se
parte nenhuma; foi tudo organizado pelo Visconde de Cas
Alem d'isso, pretendi com este artigo encubrir mais o segredo, que
então envolvia o criptonimo Si/cx, com que assinava estes artig -.
28 ESTUDOS
relativa ao Cancioneiro, e só me referirei a esta, porque
a outra, a concernente aos Autos, os próprios autores
confessam ser "um pouco menos completa-,; na parte
pois do Cancioneiro, repito, ainda acho o índice algo
incompleto. Para as biografias dá talvez todas as indica-
ções necessárias; mas ha omissão de alusões a muitas
coisas da vida social, que se encontram mencionadas
fujiti vãmente em vários pontos do Cancioneiro. O bra-
gal de Arouca, as mantilhas da Beira, as mantas do
Alemtejo, as empreitas de Ceuta, as luvas de lã da
Covilhã, os bancos de Flandres e outros objectos, não
encontraram cabimento no índice.
Falando no Cancioneiro nada hei de dizer de quem o
colijiu? E, tendo tantas noticias de Garcia de Resende,
hei de me calar? Nada, mas ficará para outro estudo.
Aldeia, 4 de agosto de 1901.
V
GARCIA DE RESENDE
No "Jornal do Commercio» de 17 de agosto de 1901
comecei a desempenhar-me da promessa feita no final
do estudo precedente, transcrevendo do meu livro Sepul-
turas do Espinheiro, então ainda no prelo, o capitulo
relativo a Garcia de Resende. Poderia, agora que o livro
já está publicado, dispensar-me da transcrição; pare-
ce-me porem que, tratando-se de pessoa tão notável nas
letras pátrias, não deveria perder o ensejo de juntar ao
já divulgado mais algumas notas e observações sujeridas
por posteriores investigações. Transcreverei pois o capi-
tulo, introduzindo-lhe vários acrescentamentos e modifi-
cações. No fim, alem das memorias icerca de Jorje de
Resende já por mim coordenadas no acima referido
estudo histórico e agora um tanto ampliadas, porei mais,
em Aditamentos, algumas noticias desconhecidas relati-
vas a Duarte e André de Resende. Ficarão assim expos-
tos, em um único quadro, todos os elementos que para
as biografias dos quatro Resendes, escritores quinhen-
tistas, pude apurar.
No mosteiro do Espinheiro da Ordem de S. Jerónimo,
junto a Évora, encontram-se sepulturas de grandes senho-
res, fidalgos, heroes, estadistas. Agora porem referir-me-
hei simplesmente á de um homem que nem foi fidalgo,
]\ ESTUDOS
nem heroe nem estadista, mas que deixou seu nome
pairando mais alto que o dos outros todos. Á penna
deveu ( iarcia de Resende a sua fama, apesar de também
não ter sido nem grande poeta, nem insigne historiador.
Do poeta apenas mereceram louvor a Castilho as Tro-
vas á morte de D. Inês de Castro; ao livro do histo-
riador chama Herculano, em dia aziago, é certo, "mes-
quinha colecção de historietas,.. Pois, apesar disso, o
nome de (iarcia de Resende soa alto na literatura por-
tuguesa.
Nas suas historietas apresenta-nos elle a descripção
de usos, custumes, trajos, ceremonias; dá-nos trechos de
conversações, noticias de relações sociaes, e muitas outras
informações interessantes, incluindo as aneedotas, que
nos revelam em parte o modo de viver da gente portu-
guesa daquelles tempos. £ nós, que não temos memorias
da vida intima de ninguém; nós, que sabemos a valia
da historia oficial dos cronistas coada pela censura;
nós, que nesta historia, árida e seca, só encontramos a
noticia das acções dos reis e próceres, e não sentimos
nella o pulsar da vida nacional; nós, estimamos, louva-
mos, e sobretudo agradecemos a Resende o seu livro,
que aos nossos olhos revive as gerações passadas.
Herculano tinha dois heroes: D. João I, como rei;
Fernão Lopez, como cronista. D. João II e Garcia de
Resende, detestava-os. Pois olhe o Mestre, que, se na
vida de D. João II ha o assassínio do Duque de Vizeu,
na de D. João I lá está o do Conde de Ourem; com a
diferença, que o Príncipe Perfeito, Rei de Portugal,
matou um parente que lhe jurara pela vida; ao passo
que o Rei da Boa Memoria, sendo apenas um fidalgo
pretendente nem ainda sabia a quê, assassinou um
homem só para desbravar um pedaço de caminho. Na
premeditação, no disfarce, na companhia que lhes guar-
dava as costas, contrapesam-se os dois réjios assassinos;
GARCIA DE RESENDE >1
mas avantaja-se muito D. João II ao Mestre de Avis no
facto de defender a monarquia na sua pessoa, que, ao
baquear assassinada, podia na queda arrastar até a pró-
pria independência nacional.
D. João I, ajudado pelo seu grande Condestavel, ven-
ceu a batalha de Aljubarrota, em sua casa, dentro no
reino, defendendo este de uma invasão opressora e de-
testada; o Príncipe D. João, desajudado de todos, ganhou
a batalha de Toro, em país estranho, hostil. D. João I,
ao cabo de quarenta e oito annos de reinado, dos quaes
vinte e dois pacíficos, deixou, é certo, o reino aumentado
e prospero; D. João II, em catorze annos de governo,
dos quaes os três primeiros bem ajitados, e os três
últimos bem angustiados, levantou a nação da ruina a
que seu predecessor a levara, e deixou tudo pronto
para as assombrosas venturas de seu sucessor. E, se
não ha comparação entre os resultados que a Portugal
trouxeram aquellas duas batalhas, também é incompa-
rável a conquista de Ceuta com o descobrimento da
índia.
A que fastijio não subiria Portugal, se D. João II
tivesse tido os quarenta e oito annos de reinado que
seu glorioso bisavô alcançou? A que prosperidade não
chegaria o reino, se os grandes acontecimentos do prin-
cipio do xvi século tivessem cabido no reinado de
D. João II, em vez de sucederem no de D. Manuel?. . .
D. Manuel!. . . O rei piegas, que, metido entre as saias
da mamã e das manas, começou logo de principio a
arruinar o Estado, restituindo a casa aos Braganças
expulsando os Judeus e Moiros!
A crónica de Fernão Lopez avantaja-se muito á de
Garcia de Resende? Não ha nisto duvida; mas também
que diferença enorme não existe nas acções pelos
dois historiadores narradas. Coube em sorte a Fernão
Lopez relacionar os. feitos épicos de um povo. que de-
32 ESTUDOS
fendia sua independência com a enerjia de um heroe,
que pugna pela honra e pela vida; pertenceu a Resende
contar a existência de uma nação, que debaixo do
sétro do "melhor rei do mundo,,, como lhe chamava,
apesar de inimigo, o Cardeal de Alpedrinha, viveu
feliz, e portanto não teve historia. H já repararam para
o final da crónica de Fernão Lopez? Não a acham,
nesta parte, muito desbotada, comparando-a com o
principio? É porque aos tempos revoltos tinham suce-
dido os socegados; é porque o povo, salva a sua
independência, começava a viver feliz.
Desculpar-me-ha o leitor esta sorte de reivindicação
histórica a modo de desabafo? Talvez não; mas de bom
grado, estou persuadido, aceitará as particularidades
que lhe posso ministrar acerca da vida de Garcia de
Resende, e que talvez ignore. Todavia, para não alon-
gar demais este estudo, restrinjir-me-hei quasi uni-
camente ás informações que os documentos me deram.
Mas, hei de começar já, sem dizer nada do Cancio-
neiro, o melhor serviço literário que Resende prestou?
Sim, nada direi, porque tudo está dito e redito por pen-
nas muito mais autorizadas do que a minha; notarei
apenas a Índole de Resende, porque a ella em muita
parte atribuo o renome de que elle gozou.
Garcia de Resende foi alegre; soube rir, rir á antiga
portuguesa, de boca bem aberta, soltando a atroadora
gargalhada na cara dos parceiros, ajitando em ondas
revoltas toda a adiposa massa do enorme corpanzil.
( ) riso nain mo mandeys,
porque já cá tenho niiiyto.
E tinha; e não era riso escarnicador, nem sorvido,
nem alambicado, á moda de hoje; mas espontâneo, fran-
co, contajioso, e
GARCIA DE RESENDE 33
não diguo mais por agora
senam que sois enfeníto
para dar prazer e ryr.
Ponto. Vamos aos dados biográficos.
Garcia de Resende nasceu em Évora pelos annos de
1470, ou ainda antes. Chega-se a esta data pelas seguin-
tes ilacções. ,
Quando D. João II em 1490 montou a casa do Prín-
cipe seu filho, era Garcia moço da camará dei Rei que
o passou a D. Afonso. Desagradou a mudança a Re-
sende, alem doutros motivos, por ser "muito moço,; e
"se agasalhar com seu tio,,; mas não era todavia tão
criança, que lhe não pudesse ser feita mercê, no anno
seguinte, da escrevaninha dei Rei, "então a melhor cousa
que havia entre os moços da camará,,, e que vagara,
perto de um armo antes, quando Rui de Sande "fora
acrescentado,, '.
Rui de Sande, naquelle mesmo anno de 1490, havia
passado de moço da camará dei Rei a cavaleiro da casa
do Principe; e por duas cartas, ambas do primeiro de
janeiro do anno seguinte, por ter sempre servido bem
e fielmente, "e em especial no casamento do Príncipe,,,
pelo que era merecedor de todo o acrescentamento,
lhe fizera D.João II mercê da alcaidaria de Castello Real,
e de uma tença de trinta mil reaes -. Este foi o acres-
centamento a que no citado capitulo da Vida se refere
Resende. O outro, o maior, quando Rui de Sande pas-
sou a ser D. Rodrigo de Sande do Conselho dei Rei, veio
a ter logar em 1500, depois delle, como embaixador,
1 Garcia de Resende, Vida de D.João II, cap. cc.
'-' Chancelaria de D.João II, liv. 9.» fl. 42 v.
34 ESTUDOS
haver tratado o segundo casamento de D. Manuel !. Rui
de Sande tivera os primeiros engrandecimentos pelos
serviços prestados nos cargos de enviado a Castella em
1488, e de secretario da embaixada que ao mesmo reino
foi em 14Q0 a celebrar os desposorios do Príncipe
português com a Infanta castelhana, enlace para que
bastante concorrera Rui de Sande, e que D. João II levava
muito em gosto, e por isso bizarramente galardoou a
quem para elle tanto contribuirá.
É evidente que na escrevaninha dei Rei não ia suce-
der a um homem como Rui de Sande nenhum rapa-
zelho, e por isso até julgo que, dando vinte e um an-
nos nesse tempo a Resende, me arrisco a fazel-o mais
moço do que realmente era. Aceitando comtudo o anno
de 1470, como sendo aquelle em que o futuro cronista
veio ao mundo, vê-se que dificilmente podia ter elle sido
irmão do famoso antiquário André de Resende, nascido
em 1498 ou 1500, segundo de vários dados seguros,
autobiográficos os mais delles, infere o erudito Leitão
Ferreira na sua Vida de André de Resende, biografia
inédita, hoje já publicada por mim no Are/i. hist. port.,
vol. VII. E se a coisa aqui fica mais do que provável por
ótima conjectura, lá adiante ficará certa por documento
irrefragavel.
Os pais de Garcia de Resende foram Francisco de
Resende e Beatriz Bota '. Francisco de Resende foi criado
3 Góes, Chronica de D. Manuel, part. I, cap. xlvi, advertindo
que a carta de dom é comtudo só de 8 de fevereiro de 1Õ04 (Chan-
celaria de f). Manuel, liv. 19.o, fl. 5).
1 Hoje diz-se Bôt<>, e já não será d'agora; mas é em completa
oposição á criji.ni ao apelido assinalada pelos nobiliários. Referem
elles que na tomada de Ceuta um soldado português, havendo morto
as duas sentinellas de uma tone, subira ao alto delia e de lá, com
as duas cabeças nas mãos, preguntara aos companheiros que haviam
ficado em baixo: Boto? Deste facto proviria a alcunha conservada
em apelido pelos seus descendentes.
GARCIA DE RESENDE 35
do Bispo de Évora D. Garcia de Meneses. Doou-lhe este
uma herdade que vagara no termo da cidade, doação
por D. Afonso V confirmada e posteriormente ratificada
por D. João II, em Santarém, a 28 de junho de 1484, por
se haver perdido a primitiva carta '. Francisco parece ser
já finado em 1490, quando na casa do Príncipe foi posto
seu filho Garcia, por isso que então este "se agasalhava
com seu tio,, que não nomeia. Talvez fosse o tal tio
o dr. Rui Bot,o, Desembargador do Paço, muitas ve-
zes mencionado nos documentos daquelle anuo. A um
Boto, António Boto, sucedeu Garcia de Resende, d'ali
a muito tempo, na posse de um moinho abaixo das ca-
sas de Valverde, prédio que da coroa o Boto trazia afo-
rado, que por sua morte vagou, e que por portaria de
25 de novembro de 1529 foi emprasado a Resende <;.
D. João II no anuo de 1491 escolheu Resende para
moço da sua escrevaninha, como o próprio nomiado
nos declara no seu livro, e neste oficio, muito junto á
pessoa dei Rei e de sua particular confidencia, serviu até
ao fim da vida de D. João II, merecendo em todo o
tempo inteira confiança e benévola amizade a seu amo.
Innumeras foram as provas de amizade e confiança
por elle dadas a Garcia de Resende e que este aponta
no seu livro '.
Ao Moço da Escrevaninha competia ter sempre na
mão, em quanto D. João II escrevia, uma penna mo-
lhada e pronta para substituir aquella de que elle se
estava servindo ; sucedia por tanto ver Resende tudo
quanto seu amo assentava no papel. Um dia, estando
el Rei a escrever a Fernando o Católico, percebeu Re-
sende ser coisa de muita importância e discretamente virou
5 Chancelaria de D.João II, liv. 22.o, fl. 33.
6 Corpo cronolojico, part. I, tnac. 33, doe. 43.
7 Vida de D. João II, cap. 55, 122, 12ô, 131, 179, ISO, 182, 200
(todo elle), 207, 210 e 212.
36 ESTUDOS
o rosto para o lado; D. João II deu por isso e disse-lhe:
"Vira-te para cá, que, se me ruão fiasse de ti, não te
mandaria estar aí; e porem isto não te dê presunção,
senão vontade para milhor servir e ser milhor ensi-
nado.. \
Garcia tinha, na verdade, o condão de se insinuar e
tornar agradável. Elle debuxava, tocava e compunha mu-
sica, recitava e por fim também trovava. Tão felizes
dotes tornaram-n-o quasi indispensável a D. João II,
sobretudo quando sobreveio a melancolia e a doença. Ás
vezes, á sesta ou já de noite na cama, atacado de insónia,
ordenava-lhe el Rei que tocasse um pouco ou recitasse
umas trovas ; outras vezes acudia o próprio Resende aos
enfados de seu amo, proporcionando-lhe os meios de se
distrair, como sucedeu quando elle, uma tarde depois de
jantar, se encontrou arriscado a não poder afastar o pe-
rigoso sono, jogando, segundo usava, o xadrez, por lhe
faltar o taboleiro, que o seu futuro cronista logo ali dese-
nhou e lhe apresentou. Então soltou o Príncipe Perfeito
espontaneamente umas palavras bem claramente revela-
doras, não só da afeição, mas também do apreço em
que elle tinha os dotes naturaes de Garcia: ''Para que
é trazer taboleiro, nem trazer nenhuma cousa, senão tra-
zer somente Resende',,
E assim fazia; e tornou-se-lhe tão inseparável com-
panheiro que em Alvor, no tempo da doença final,
tinha-o a dormir no seu quarto, onde só elle entrava e
saía sem ser chamado.
Aproveitava-se também da sua habilidade no desenho
para casos de maior vulto, do que o do taboleiro de
H Notarei que D. João II tratava Resende por tu, porque o
criara desde garoto ; não se cuide ser aquelle modo de tratamento o
adoptado pelo Príncipe Perfeito quando se dirijia a seus servidores.
Não; respeitava-se demais a si e a elles para usar de formas tão de-
primentes, que estavam reservadas para alguns Braganças.
GARCIA DE RI si NDE 37
xadrez. Andou D.João II uns tempos tratando da defesa
de Lisboa e seu porto; então resolveu, depois de ter
mandado levantar a torre de Caparica '■', construir de-
fronte, no sitio onde posteriormente D. .Manuel edificou
a torre de Belém, uma fortaleza e encarregou Resende
de a desenhar. Não pudemos todavia apreciar os méri-
tos do cronista como enjenheiro militar, porque a
construção da fortaleza por elle planeada, nunca se che-
gou a principiar, por sobrevir a morte de D. João 11.
A ella assistiu e foi dos que sinceramente o choraram,
porque ninguém pode acusar Garcia de Resende de
ingrato. Na sua Vida de D. João II, a afeição, a sau-
dade, a gratidão, a admiração, atinjem o entusiasmo,
tanto que tornam até, em certos casos, as suas afirma-
ções bastante suspeitas de parciaes.
Neste livro, como já vimos, deixou Resende algumas
notas autobiográficas; onde porem se encontram ele-
mentos valiosos para apreciarmos o seu génio alegre e
feliz, as suas aptidões variadas, as suas relações sociaes,
a aceitação de que gozou na corte e fora delia, é no
Cancioneiro geral. Esta obra imortalizou-o e retratou-o.
Falecera D. João II a 22 de oitubro de 1495 e se
com elle perdeu Resende uma amizade segura, parece
entre tanto ter continuado a encontrar menos má dis-
posição a seu respeito em D. Manuel, a quem acompa-
nhou em 149S nos juramentos de Castella, e que por
provisão dada em Lisboa, ali de maio de 1515, desem-
bargou a elle, Garcia de Resende, cavaleiro de sua
casa, uma tença de vinte mil reaes com o habito ,0.
11 Esta obra importou em oS3.4()") reaes, afora o material, e foi
dirijida por Gomes de Elvas a cuja viuva se deu quitação em 16
de abril de 1496 (Cartas de quitação de D. Manuel, n.° 277, p. 431
do II vol. do Arc/i, h/st. port.J.
10 Corpo cronolojico, part. 11, mac. 57, doe. 68.
3S ESTUDOS
Por este documento ficamos sabendo haver Resende sido
cavaleiro de unia das ordens militares, declarando-nos
elle próprio que o fora da de Cristo ".
Pelo tempo em que esta mercê lhe foi feita, vê-se
que seria ella o galardão dos serviços do futuro cro-
nista na embaixada do anno anterior a Roma, a celebre
de Tristão da Cunha a Leão X. Nella parece que não
serviu Garcia de Resende somente de secretario, e que
alguma parte também teve de tesoureiro. Infere-se da
carta de 11 de abril de 1514, dirijida ao Secretario
António Carneiro, na qual o Embaixador, queixando-se
de falta de dinheiro e declarando ir sacal-o em Roma
sobre o governo português, acrescenta que o man-
dará "entregar a Garcia de Resende que nos pague
nosso ordenado o tempo que cá mais andarmos em
terra- '-.
É muito notável a parcimonia real no meio de uma
tão pomposa manifestação de riqueza e vaidade, como
foi a embaixada a Roma. D. Manuel para os estranjei-
ros era pródigo em prendas riquíssimas, dadivas sober-
bas; aos seus mesquinhava os ordenados, não lhes
querendo pagar o mais tempo que lá andaram. Alem
do testemunho do próprio Embaixador, que miudamente
conta o caso na carta citada, encontra-se logo depois o
mesmo Resende a queixar-se ao Conde de Tarouca,
Mordomo mor, de lhe não terem ainda pago a moradia
do tempo que a mais serviu em Roma, e em verso lhe
vai dizendo:
nem mais nem menos hum dia,
do que a eles fostes dai',
me ha vossa senhoria
de despachar ' ;.
" Cancioneiro, fl. 223, col. 4.
12 Corpo diplomático português, I, 243.
13 Cancioneiro, fl. 22 5. col. 3.
GARCIA DE RESENDE 39
E o Conde Prior desculpa-se com el Rei, e não manda
pagar.
Na jornada para Roma, a náu do Embaixador, depois
de ter tocado em Alicante e em Iviça, havia arribado a
Malhorca "com grande tormenta,,, e lá permanecera
fundeada por espaço de dez on doze dias, havendo,
durante elles, extraordinário concurso de curiosos, atraí-
dos, é bem de ver, pelo elefante destinado ao Papa.
"Vieram todos os fidalgos de Malhorca e assi molheres,
que nom ficou gente na cidade,, '''. Entre as senhoras
aparecera "liiuna gentyl dama que chamavam dona Es-
perança.,, e como ella se apresentara de luto, Resende,
para a distrair e consolar, enviara-lhe uma declaração
de amor num vilancete, para o qual também compu-
zera a musica, "entoado também per elle,, ''.
Que me quieres Esperança ?
aquy me vienes buscar
por me mas desesperar ?
Mal pensava a dorida dama ao reparar, se é que re-
parou, naquelle gorducho e já maduro galan. que a elle
deveria ser seu nome repetido ainda quatro séculos mais
tarde !
Durante a sua estada em Roma havia Garcia de Re-
sende alcançado de Leão X a bula Quanto frequentais,
de 11 de abril de 1514, concedendo induljencias a
quem, visitando o Espinheiro nos dias das festas de
nossa Senhora, diante de Sua imajem, rezasse por alma
delle e de seus defuntos "'.
Em 1516 já Garcia de Resende era fidalgo da casa
dei Rei, e escrivão da fazenda do Príncipe. Elle próprio
n Carta de Nicolau de Faria, já datada de Roma a IS de março
de 1Õ14 (Corpo diplomático, I, 238).
15 Cancioneiro, fl. 222, col. 2.
16 Sr. A. F. Barata, Breve memoria do Espinheiro, p. S.
40 ESTUDOS
o declara na ultima folha do Cancioneiro. Ainda assim,
SÓ quatro annos depois é que D. Manuel mandou dar
ao Escrivão da fazenda do Príncipe, por provisão feita
em Évora a 5 de julho de 1520, as propinas em espe-
ciaria correspondentes ás que recebiam os escrivães da
fazenda real, as quaes eram dez arráteis de pimenta,
outros dez de cravo e doze de canela 17. Passou Garcia
de Resende o recibo desta especiaria em 30 de agosto
de 1529, e assinou-o assim:
^>
No oficio de escrivão da fazenda continuou Resende
até morrer; e nelle serviu a D. João em quanto príncipe, e
de 1521 em diante já rei. Não parece ter sido D. João III
muito liberal com o seu Escrivão da fazenda; pelo menos
não encontro vestijios de nenhuma avantajada mercê
por el Rei feita a Garcia de Resende, pois que se
não podem considerar grandes dadivas umas pensões,
a que logo me referirei, e o aforamento, já apontado,
do tal moinho, que havia sido de António Boto. Em
1522 e 1524 passaram-se a Resende cartas de padrão de
duas tenças de doze mil reaes cada uma; mas estas
havia-as elle comprado com o seu dinheiro ls. Também
se não pôde por tanto considerar dadiva, e no mesmo
caso está a permissão que D. João III lhe deu em 1525
'• Corpo cronolojico, part. II, mac. 9, doe. 85.
Is Chancelaria de D. João III, Doações, liv. 4<>.<\ íl. 121 v. ; e liv.
37.0, fl. 132 v.
GARCIA DE KM Si ND1 41
para trespassar corta tença na comunidade do Espi-
nheiro, autorizando esta a cobrar para sempre a pensão
por carta geral. A moradia de Resende era bem limitada,
pois que consistia apenas em mil reaes por mes e al-
queire de cevada por dia, advertindo que este ordenado
era a simples moradia de guarda ela camará dei Rei '■', e
que certamente outro havia de receber com o oficio de
escrivão da fazenda. Não se pense comtudo que este ofi-
cio era grande coisa. Nelle sucedeu a Resende, por sinal
que apenas nove dias depois do seu falecimento, um
André Pirez, escrivão da camará e cavaleiro fidalgo 20.
Do documento acima citado vê-se haver sido Garcia
de Resende daquelles moços da camará, que faziam
guarda a el Rei sob as ordens do Guarda mór, e isto
vinha-lhe ainda do tempo de D. João II, em cuja camará
o moço da escrevaninha muitas vezes dormiu.
Apesar de todo o mencionado ser pouco, juntou Re-
sende pecúlio bastante para edificar e dotar uma capella
na cerca do Espinheiro, e para instituir um morgado.
A capella, talvez desenho do próprio Garcia que se
gaba de "debuxar muito bem.,, é muito interessante e
está alegremente encastoada na verdura dos arvoredos,
logo abaixo do mosteiro dos Hieronimitas. A estampa
em frente apresenta-nos o aspecto exterior da capella.
O morgado abranjia uns poucos de prédios os quaes,
sem serem de grande rendimento, não eram todavia
tão insignificantes que não rendessem em 1815, fora as
19 'Mniita a Garcia de Resende de seu ordenado dos meses de
julho... e dezembro do dito armo (152S), a razão de mil reaes de
moradia por mês, cevada e soldo ordenado, treze mil e oito reaes,,.
— Está esta verba no "Rol dos que andam na guarda da camará
dei Rei . . ., de que Luis da Silveira é guarda mór, dos mêses de
julho... e dezembro de 528., (Moradias, mac. 1.", n.° 6, fl. 27).
Xeste documento tamb,em existe a assinatura de Resende.
80 Carta de 11 de fevereiro de 1 53ó, em Sousa Viterbo, Dic. dos
architectos. II, 371.
42 ESTUDOS
propinas, géneros no valor actual de bastante mais de
trezentos mil reis -'. Mas não antecipemos.
Vou-me referir agora á única doação, relativamente
importante, feita por D. João III ao seu Escrivão da fa-
zenda. Diz a carta: "Da feitura desta em diante todos
os navios que se armarem para Arguim, ilha de S. Tomé
ilha de Santiago, Malagueta e rios e toda Guiné, assim
os que se armarem em Lisboa, como os que se armarem
nas ditas ilhas para os ditos rios de Guiné, quer se
armem por mim e meus oficiaes, quer por armadores
que o dito trato arrendarem, os capitães e escrivães de
cada um dos ditos navios paguem por cada viajem que
fizerem, assim destes reinos, como das ditas ilhas, para
os ditos rios, outra tanta pensão como pagam os capi-
21 Encontro noticia dalgumas escrituras cie cumpras de prédios
efeituadas por Garcia de Resende, "fidalgo da casa dei Rei e escrivão
da sua fazenda,., por tanto indubitavelmente 0 cronista:
Em Évora, nas notas do tabelião João Furtado, a 12 de oitubro
de 1502, comprou por 4.250 reaes a Isabel Dias. viuva de Pedro Aries
Pinheiro, lavrador, um quinhão imposto numa herdade a Benafilé,
termo de Évora (Bib. dosr. Visconde da Esperança, cod. 80, mac. 24).
Esta escritura é de duvidosa autenticidade; lá adiante se verá.
Km 13 de dezembro de 1524, cm Évora, nas notas do tabelião
Diogo Gonçalvez, comprou por 45.000 reaes brancos a N' uno Vaz
Vicente, lavrador na herdade dos Varellas a Benafilé, e a sua mulher,
um quinhão na mesma herdade (ibi).
Por escritura de 5 de julho de 1526 adquiriu, por transacção e
amigável composição a herdade do Baleisão, no termo de Beja, e
dois ferrajiaes junto aos muros de Évora, prédios que haviam sido
de seu primo Duarte de Resende (Bib. publica de Évora, cod.
CX-2-11).
Em 9 de oitubro de 1528, em Évora, na Se e casa do cabido, se
celebrou instrumento de novação de emprasamento em vida de três
pessoas da referida herdade do Baleisão, a favor de Garcia de Resende
representado no acto por seu irmão Jorje, a quem passara pro-
curação, em I isboa, a 28 do mes precedente (ibi, cod., CXI-1-17).
Ror escritura de 4 de agosto de 1531, feita em Évora pelo tabelião
Vasco Fernandez, comprou por 32.000 reaes brancos a Madalena
Dias, viuva de João Varella, lavrador, e a seus filhos, trinta alqueires
de trigo de renda na herdade dos Varellas a S. BrissOS, na ribeira de
Benafilé (Cit. cod. 80 da Bib. do sr. Visconde, da Esperança).
A algumas destas escrituras me hei de referir mais demoradamente
nos ADITAMENTOS, no fim deste artigo.
GARCIA DE RI SI ND1 43
tães e escrivães dos navios da Mina, que é mil reaes
cada capitão e quinhentos reaes cada escrivão; e não
indo nos ditos navios capitão, o piloto, que fôr por
piloto e capitão, pagará os ditos mil reaes em cada via-
jem que fizer, e isto quando vier de torna viajem. Os
quaes mil reaes, e assim os quinhentos dos escrivães, os
meus feitores e oficiaes, a que pertencer, arrecadarão
dos ditos capitães e escrivães em cada viajem quando
tornarem . . . E querendo ora fazer graça e mercê a Gar-
cia de Resencle, fidalgo de minha casa e escrivão da
minha fazenda, havendo respeito aos muitos serviços
que delle tenho recebidos, etc.,i Faz-lhe doação em sua
vida das ditas pensões, assim e da maneira que elle tinha
as pensões dos capitães e escrivães dos navios da Mina.
Dada em Montemor o Novo a 20 de abril de 1525".
Por este documento consta haver Resende também
possuído as pensões dos capitães dos navios da Mina,
mas não sei quando lhe foi outorgada esta mercê, por
isso que ella se não encontra rejistada.
Garcia de Resende tinha a muito louvável aspiração
de perpetuar seu nome, não só pelos seus escritos, mas
também por fundações que para todo sempre servissem
de padrão glorioso ao nome de Resende. Não era fidalgo,
nem teria talvez presunções a isso, mas esperava que
seus descendentes o viessem a ser, e por tanto lhes quis
deixar solar e jazigo.
Na sua herdade de Vai de Arcas, a qual fez cabeça
do seu morgado 23, começou a fundação de uma torre,
22 Chancelaria de D.João Í/J, liv. 8.° de Doações, fl. 103 v.
23 Esta herdade parece ter mudado de nome; pelo menos do xvn
século em diante o morgado era chamado da Anta, e na freguesia
de S. Brissos, concelho de Montemor o Novo, onde eram situadas
quasi todas, se não todas as propriedades do morgado, encontro
ainda hoje uma herdade da Anta e quinta da Anta, mas não vejo
mencionado nenhum prédio com o nome de Vai de Arcas. Logo
transcreverei parte da instituição do morgado.
44 ESTUDOS
em que mandou se puzessem, lavradas em mármore,
as suas armas, no logar onde- melhor parecesse; eis o
solar. No mosteiro do Espinheiro, o panteon da fidal-
guia alemtejana, procurou Resende a sua sepultura. En-
tendeu-se com os frades e edificou na cerca, á honra de
Nossa Senhora do Egipto, uma capella, já concluída em
1520, segundo resa, nos seguintes termos, a inscrição que
se vê, sobrepujada pelo escudo das duas cabras dos Re-
sendes, acima da porta de entrada :
Esta: irmida: efomte
mandou : fazer Garcia
de reesende: em: loniior
de nossa; snra: ano: 1520 -'
Se a ermida se fundou em 1520, só cinco annos
depois é que o fundador, segundo as noticias por
mim obtidas, começou a tratar com a comunidade do
Espinheiro a dotação da capella para os sufrágios pela
sua alma. Efectivamente foi só em 1525 que Resende
comprou duas tenças, uma de cinco mil trezentos e trinta
e três reaes, arrematada em praça por dividas ao te-
souro réjio, e outra de dois mil reaes adquirida por
instrumento feito em Évora a 30 de janeiro, ao qual
serviram de testemunhas Duarte de Resende -■' e outros.
Com estes documentos dirijiu-se o cronista a D. João III,
pedindo-lhe: "por quanto tinha feito uma capella no
mosteiro de Nossa Senhora do Espinheiro desta cidade
de Évora, e estava concertado com o Prior e Frades
delle de lhe dizerem para sempre uma missa quotidiana,
-' Na estampa em frente, poderá ler-se, com o auxílio de uma
lente, a inscrição sobre a porta de entrada da capella. No pavimento
estava a campa de Garcia de Resende adiante repro-
duzida em fototipia; no chão do adro, no centro delle, diferença-se
a lapide ila sepultura de Jorje de Resende.
obre este primo com irmão de Garcia de Resende vejam-seos
ADI rAMENTOS, no fim deste artiffO.
GARCIA DE RI SEND1 45
e delle lhes dar de esmola pela dita missa, em eada um
anno, sete mil trezentos e trinta e três reaes. . . ao dito
mosteiro, para que em cada um anno para sempre lhe
fossem pagos por carta geral no almoxarifado... de
Évora». Defere el Rei o requerimento do seu Escrivão da
fazenda, e manda que a referida tença seja sempre paga
ao mosteiro á vista do traslado desta carta, do recibo
do Prior, e da certidão do mesmo e de seus frades, "em
que certifiquem que a dita missa se diz cada dia . . . A
qual tença, por fazer mercê ao dito Garcia de Resende
e esmola ao dito mosteiro, me praz que nunca em ne-
nhum tempo seja alevantada, nem tirada, nem pago sorte
delia, antes quero que o dito mosteiro a tenha e haja
para sempre, etc.H Foi dada a carta em Évora a 14 de
março de 1525, pondo-se-lhe logo a seguir uma con-
dição restrictiva: "Sem embargo de dizer, que nunca a
dita tença seja alevantada, nem se pague sorte delia, hei
por bem que o dito mosteiro a tenha e haja com a obri-
gação e da qualidade que são as tenças separadas,, -'''.
Tinha Resende assegurado o socego para seus restos,
ou, para melhor dizer, supunha isso, porque os frades
depois, como direi, não convieram no ajuste; e tratou,
passados já os sessenta de idade, de dispor de seus bens,
e de lejitimar seus filhos.
Em Évora, a 8 de setembro de 1533, fez Garcia de
Resende por sua própria mão seu testamento, e apre-
sentou-o á aprovação no dia 13 seguinte-'. Deste do-
cumento só encontrei rejistada uma verba, mas talvez
seja a principal. Transcreve-la-hei, resumindo o preciso
para não alterar o sentido:
"Se eu não poder acabar em minha vida de fazer o
26 Chancelaria de D.João III, liv. 20.» de Doações, fl. 243 v.
21 Testemunhas á aprovação: Brás Gonçalvez da Carvalhosa, Álvaro
do Casal, Rui Pereira, Jordão Fragoso e João Boto.
40 ESTUDOS
morgado, como tenho ordenado e assentado, se faça
logo destas cousas, a saber: da minha herdade de Vai
de Arcas com o assento de casas e torre honrada, que
aí hei de fazer, e, se não, por este mando que se faça,
como tenho ordenado, e já para ella tenho lá cincoenta
bordos e dez vigas; e assim da herdade que se chama
dos Varellas, e a herdade da Casa Branca, que ao pre-
sente são minhas; e o que tenho na herdade da Noguei-
ra, que parte com o Vai de Arcas; e o que tenho na
herdade do Fale, pegada com esta; e o que tenho na
herdade que foi dos Pintos, que parte com a Defesa; e
assim o que tenho na herdade dos Rascões «a Benafilé
iBoa-fé) que parte com a dos Varellas, e da Nogueira,
e com a Casa Branca; e todo o mais que em estas
terras, em que tenho quinhões, poder haver até serem
minhas, e assim em outras assim pegadas; e as minhas
casas grandes de Évora, com todo o mais que nellas fizer
e acrescentar; e a minha ermida e capella de Nossa
Senhora do Espinheiro. E tudo isto junto, se eu o não
puder acabar, como muito desejo, em minha vida, por
este o faço, . . . e mando que se faça tudo em um mor-
gado sem contradição alguma, porque eu, com quanto
poder posso, o faço e hei por feito, e obrigo a isso to-
dos os meus bens. . . e minha terça, ainda que isto seja
escusado, pois eu, por não ter molher e certo herdeiro,
o posso fazer. O qual morgado faço com tal declaração,
que o herdeiro delle se chame sempre de Resende sem
outro apelido, e que seja obrigado a comprar em he-
rança a metade da sua terça para o dito morgado se
acrescentar cada vez mais . . . E com estas declarações
se fará o compromisso, o qual peço por mercê a el Rei,
nosso senhor, que o queira confirmar -s. E na torre, que
assim mando fazer, mando que em pedra mármore se
28 Desta confirmação, se existiu, não encontrei <> rejisto.
GARCIA Dl RI si ND] 47
façam minhas armas, e se ponham em lugar onde me-
lhor parecer. 0 qual morgado... faço herdeiro delle
por meu falecimento a Francisco, meu filho varão mais
velho, para elle e quantos delle descenderem por linha
direita, herdando sempre o filho mais velho; e não
havendo filho varão, que o herde a filha mais velha; e
não havendo filha, que o herde o filho bastardo; e não
havendo filho bastardo macho, que o herde a filha
bastarda fêmea, a mais velha; e isto, sendo os ditos filho
ou filha bastardos conhecidos e cridos e havidos por
filhos. E, não havendo filho nem filha, lidimos nem bas-
tardos, então herde o parente Resende mais chegado,
que se chamará sempre Resende. E, se por ventura meu
filho Francisco falecer sem filho, deixo o dito morgado
a António, meu filho; e, falecendo António sem filho, o
deixo a Bastião, ou a qualquer irmão macho que tiver,
e depois destes nascer. E, não havendo filho varão, deixo
então o dito morgado a minha filha, mais velha que
elles todos, que se chama Maria de Resende e a seus
filhos e herdeiros, por esta maneira acima declarada; e
falecendo Maria sem filhos, se tiver outra irmã que de-
pois delia nascer, a ella fique tudo. E falecendo todos,
o que Deus não mande, sem filho nem filha, fique tudo
a meu irmão, ou a seu filho mais velho, se elle vivo não
fôr, pela maneira atraz declarada. E, sendo caso que
assim venha ao filho de meu irmão, então mando que
toda minha fazenda, assim movei como de raiz, se meta
no dito morgado . . . para que o dito morgado seja
maior.,, Ainda vem uma disposição para que, de prefe-
rencia ao tio, suceda ao avô o neto, "pois é filho do
filho maior, que por razão de natureza não devera mor-
rer primeiro que o pai 29.M
'"' Liv. 1.° da Provedor/a de Évora, fl. 442; liv. 39.°do Registo do
Real Archivo, fl. 242.
48 ESTUDOS
Uma observação antes de continuar. O único irmão,
que a este tempo Garcia de Resende tinha vivo, era
Jorje de Resende, que a 18 de julho de 1537 requereu
o traslado da verba acima, como no próprio rejisto se
declara. Fica por tanto, e de vez, sem ser por ótimas
conjecturas, excluída a suposta fraternidade entre Garcia
e André de Resende, que só morreu em 1573 30.
Tornemos porem a ligar o fio da narrativa.
No mesmo anno de 1533 em que o testamento foi
escrito, concluiu Garcia de Resende o livro da Vida e
feitos dei rey Dom João segundo, como consta da decla-
ração estampada na primeira edição da obra, a de 1545,
no verso da ultima folha das innumeradas que prece-
dem o capitulo primeiro da crónica, em frente por tanto
deste capitulo.
Atendendo a esta declaração ou titulo, como lhe
chama Castilho, não haver sido reproduzido em ne-
nhuma das subsequentes edições, nas minhas conheci-
das pelo menos, e a ser a primeira estremamente rara,
deveria talvez transcreve-lo aqui na integra; limitar-me-
hei porem a extracta-lo, pois que o citado escritor o
reproduziu por inteiro em livro nada raro !l. Diz o tal
titulo, ao meu intento: "Liuro da vida... do... prín-
cipe el Rey dom João ho segundo . . . ordenado e
escripto no anno. . . de mil e quinhentos e trinta e três
por Garcia de Resende fidalgo da casa dei rey nosso
senhor. Que muytas das cousas vio e foy presente a
ellas: por ser de menino criado do dito senhor em sua
camará e aceito a elle: e o seruio em cousas de muyta
fieldade atee a ora de sua morte a que era presente e
30 Veja-se nos aditamentos, no fim deste artigo.
31 Garcia de Resende, e.xcerptos, seguidos de uma noticia sabre sua
vida e obras, etc, III vol. da Livraria clássica, paj. 318.
GARCIA DE RESENDE 49
dormia em sua camará, E o que per si liam vio vay
com grande fieldade e muyto verdadeiramente escripto,
de que sam boas testemunhas muytos nobres e pessoas
de muyta autoridade e credito que ao presente sam
viuas. Dirigido a . . . el rey dom João o terceiro nosso
senhor.-,
Clareia de Resende ainda sobreviveu ao seu testa-
mento e á conclusão da crónica, perto de dois annos e
meio; mas foram, segundo parece, amargurados pela
falta de saúde.
Em principios de maio de 1535 dirijiu uma carta á
Camará de Évora, escusando-se de comparecer na
assembleia para que fora convidado, na qual se haviam
de elejer os procuradores ás Cortes então convocadas
para se reunirem naquella cidade. Desculpa-se com a
doença, escrevendo: "Eu estou tam mall sentido que
nam poso hyr a chamado de vosas mercês, o que muyto
folgara de fazer,, 32. A sessão eleitoral, a que Resende
não pôde comparecer, teve lugar a 10 de maio e um
dos vereadores presentes, foi seu irmão Jorje de Re-
sende 33.
Noutra carta escrita no mesmo anno de 1535, a 20
de novembro, e endereçada de Évora ao Camareiro
mór de D. João III, D. Francisco de Castelbranco, na qual
lhe encarece as vantajens de transferir a sua residência
de Lisboa para Évora, reunindo-se á corte, diz-lhe que
fala "tão solto nisto, porque não podem dizer faze-lo
por interesse, pois que por minhas doenças poucas
vezes vou ao paço,, ".
No ultimo anno da sua vida, em 1536, voltou para
■'■- Kncontra-se reproduzida esta carta em fac-simile no Arc/i. hist.
port, III, 47, e já havia sido impressa por A. Filipe Simões no Insti-
tuto, XV, 190.
» Arch. hist. port., III, 48.
;i Instituto, XV, 191.
4
50 ESTUDOS
Resende a acima referida tença de sete mil trezentos e
trinta e três reaes, da qual se lhe passou apostila de padrão
a 19 de janeiro, dizendo-se nella: "Por quanto o prior
e padres do dito mosteiro do Espinheiro se não con-
certaram com Garcia de Resende sobre a missa quoti-
diana, que lhe haviam de dizer... por estes sete mil
trezentos e trinta e três reaes de tença, hei por bem que
os ditos dinheiros sejam de aqui em diante pagos ao
dito Garcia de Resende, etc, ' '.
Consolou-se elle do desgosto que os frades lhe de-
ram, compondo o Sermão dos três Reys magos, o qual
dedicou a pessoa desconhecida, a quem o enviou com
estas palavras no cabo: "Beijo, senhor, as mãos a vossa
mercê a .xv. de Janeiro de mil e quinhentos e trinta e seys
annosi;.
Ainda neste armo, nove dias antes da sua morte, a
26 de janeiro, deu D. João III a Garcia de Resende,
fidalgo de sua casa e escrivão da sua fazenda, carta de
privilejios para a impressão das suas obras, que elle
tinha compostas, "assi em prosa, como em metro, em
lingoagem português, as quaes obras, por serem boas
e proveitosas, elle as queria mandar imprimir,, :;,i.
Em Évora, na quinta feira 3 de fevereiro de 1536
morreu Garcia de Resende !/, apagando-se aquelle es-
:,:' Chancelaria de D.João III, liv. 26.° de Doações, fl. 243 v.
'•'' Lneontra-se na primeira folha da ed. de 154~> da Vida de
D. João II, ed. em que também se incluiu o Sermão dos Reis Ma-
gos.
37 "Aos iij dias do mes de fevereyro era de ir \x\ bj ffaleçeo gra-
çia de Regemde seu testamemteyro he pêro da mota cortessão que
mora ao terreyro dalvaro velho.,, Termo lavrado a fl. 185 do liv. 1."
de semelhantes da freguesia de Santo Antão de Évora, guardado
hoje no cartório do Seminário da mesma cidade com os demais
livros findos daquella e doutras freguesias.
Apresentarei aqui, por julga-los interessantes, extractos dalguns
«nitros análogos assentos encontrados por mim nos referidos livros:
A 8 de março de 1545 foi baptisado Jerónimo, filho de D. Filipe
Lobo e de D. Joana sua mulher, foram padrinhos D. Rodrigo [Lobo,
GARCIA DE RESENDE 51
pirito galhofeiro Deus sabe no meio de quantos pade-
cimentos, mitigados apenas pela presença dos filhos me-
futuro Barão de Alvito] z Jorje de Resende, madrinhas D. Beatriz e
Luzia Gonçalvez, parteira (liv. 1." de Santo Antão, fl. <> \\); a 2 de
abril de 1535 Foi baptisado Lourenço, Filho de I). Francisco de Sousa
e de I). Beatriz sua mulher (provavelmente a madrinha no prece-
dente assento), padrinhos Garcia de Resende e Estevão de Aguiar,
madrinhas D. Caterina Ferreira e Luzia Gonçalvez, parteira (ibi
fl. 7 v.). Puz estes dois assentos para mostrar as boas relações dos
dois irmãos Reseijdcs com a poderosa família dos Barões de Alvito,
vedores da Fazenda ; D. Filipe e 1). Francisco eram primos com irmãos,
netos do l.o Barão. Continuam os assentos: A 30 de junho de 1536
foi baptisada Antónia, filha de Diogo de Góes e de sua mulher
Leonor Vaz (ibi. fl. 3ô v.); a 23 de julho de 1536 foi baptisado
Luis, filho de Bento Rodriguez e de Beatriz Rodriguez sua mulher,
foram compadres o dr. Rodrigo Monteiro e Garcia de Resende
{ibi. fl. 39, este é o filho de Jorje);- a 2 de dezembro de 1536 foi
baptisada Caterina, filha de Rui Boto e de D. Joana sua mulher,
compadres Honorato, embaixador dei Rei de França, e António
Ferreira, comadres Beatriz do Rego e Beatriz Anes, parteira (ibi.
fl. 50 v., deste custume das parteiras serem madrinhas se derivou
o uso de lhes chamar comadres); -a 30 de julho de 1537 enterrou
a Misericórdia a Maria de Resende, pobre desamparada (Cartório
da Misericórdia, liv. da receita e despesa de 1537, fl. 10); a 10 de
dezembro de 1537 foi baptisada Lucrécia, filha de Garcia de Re-
sende e de sua mulher Maria de Resende, compadres Jorje Barbosa
e Álvaro de Madureira, comadres Caterina Bota e Luisa Eanes,
parteira (liv l.o de Santo Antão, fl. 83 v.); -a 29 de março de 1538
enterrou a Misericórdia a Leonor Bota, filha de Filipa Bota, freira de
S. Francisco (cit. liv. da Misericórdia, fl. 70 v.);~a 1 de janeiro
de 1539 faleceu o dr. Duarte de Pina, testamenteira sua filha Maria
Bota, morador na rua da Porta Nova (liv. l.o de Santo Antão,
fl. 189); -a 5 de fevereiro de 1539 foi baptisada Beatriz, filha de
Garcia de Resende e de Maria de Resende sua mulher, compadres
Marti/n Boto e Pêro Taveira, comadres Tareja Falcoa e Caterina
Dias Azambuja, parteira (ibi. fl. 115); -a 16 de abril de 1539 foi
baptisado Manuel, filho de Barnabé de Góes e de Ilena Dias sua
mulher (ibi. fl. 121); -a 25 de novembro de 1542 faleceu Maria de
Resende, mulher de Garcia de Resende, morador na rua das Estala-
jens, que parece ter ficado por testamenteiro (ibi. fl. 194 v.);— a 9
de maio de 1544 casou Duarte Lobo, filho de Manuel Fernandez e
de Caterina Fernandez sua mulher, moradores na Vila Nova, com
Caterina de Resende, filha de Fernão de Resende e de Brites Alvarez,
moradores a S. Mamede (liv. l*o de S. Mamede, fl. 104); -a 29 de
setembro de 1545 é Jorje de Resende padrinho de uma criança (liv. 2.o
de Santo Antão, fl. 10 v.);— a 5 de maio de 1551 casou Garcia de
Resende com Isabel de Canha, em sua casa por especial mandado
do Cardeal nosso Senhor, por justos respeitos que a isso o moveram;
foram testemunhas "vernaldim pariiz (ou parniz),,, arcediago do
52 ESTUDOS
nores e do dedicado irmão a quem os deixou entregues.
No mesmo dia teve logar a abertura do testamento 38.
Foi levado o corpo á sua capella da cerca do Espi-
nheiro, no meio delia se lhe abriu a sepultura, a qual
cobriram com uma grande campa, em que se vê, alem
do escudo com as duas cabras dos Resendes, este sim-
ples epitáfio:
Sepoltura de gar-
cia de Reesende
bago da Sé, e António Tomé, Simão Gomez, ferrador e Manuel
Pescoço (ibi. fl. 191 v.); a 10 de oitubro de 1558 faleceu Filipa
Bota; foi no habito de S. Domingos e foi enterrada no dito mos-
teiro (?); fez testamento, "he testamenteira. . . catelina Bota,, (ibi.
liv. Lo, fl. 144); a 17 de abril de 1575 casou Bernabé de Resende
com Eugenia "Manieta, digo Mancata,. (ibi. liv. 37.°, fl. 139); a 21
de julho de 157() casou Francisco de Faria com Meda de Góes,
morador á Porta Nova (liv. 51.o da Sé fl. 198 v.); etc.-Os Resendes
e seus presumíveis parentes vão em itálico.
18 Liv. l.o da Provedoria de Évora, fl. 442, na Bib. publica
daquella cidade; liv. 29.° do Registo do Real Archivo, fl. 242, na
Torre do Tombo. -No IX vol. do Dic. bibliographico declara Ino-
cêncio haver Joaquim António de Sousa Telles de Matos encontrado
o assento de óbito (é o transcrito na nota precedente) de um Garcia
de Resende falecido a 3 de fevereiro de 1536, não havendo porem
a certe/a de que este fosse o cronista. Agora não restam duvidas:
a data da abertura do testamento tira-as todas. Os outros dois Gar-
cias de Resende mencionados no Dic. são um só, o filho de Jorje
de Resende, o sobrinho e genro do cronista, casado no próprio
anno em que este morreu, ou no seguinte, com sua filha Alaria de
Resende, falecida a 25 de novembro de 1542, e não 1502 como
erradamente se lê no Dic. bibliographico. Maria de Resende tinha
tido duas filhas: Lucrécia, baptisada a 10 de dezembro de 1537; e
Beatriz, a 5 de janeiro de 1539 (cf. estas datas todas na nota 37).
Nove annos depois de enviuvar, tornou Garcia de Resende, a 5 de
maio de 1551, a casar com Isabel de Canha, e não da Cunha, como
se lê no Dic. (cf. na cit. nota). Estes erros, convém esclarecer, não
são de Inocêncio; provieram da pouco segura paleografia de Telles
de Matos que ministrou as noticias. Nos nobiliários apenas encon-
tro, acerca deste segundo Garcia de Resende, muito vagas noticias:
a filha Lucrécia morreu solteira; a outra professou; elle e a segunda
mulher partiram para a Índia e tiveram a Fr. Sebastião de Resende,
frade de S. Francisco, e a filhas naquelle estado casadas. Se este
Garcia de Resende, que em vários does. aparece nomiado Garcia de
Resende Falcão, partiu efectivamente para a índia, só o fez depois
de 21 de julho de 1558, data de uma escritura por elle assinada e
que o sr. A. F. Barata aponta a paj. 15 tio seu folheto André de
Resende, Lúcio?
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GARCIA DE RESENDE 53
A capella foi profanada depois de 1834. A lapida
foi arrancada e vendida para Évora, onde durante muitos
annos serviu de mesa de cozinha em casa particular!
Só perto de dois annos depois disto escrito, na prima-
vera de 1903, voltou para o Espinheiro e delia apresento
aqui a reprodução em fototipia.
A sepultura foi revolvida, e alguns ossos do cronista,
que andavam por lá dispersos, foram guardados por
piedade em 1865 na Biblioteca Eborense ;i9!
Pobre Garcia! Não merecias aos teus conterrâneos,
que tanto se envaidecem com o teu nome, serem teus
restos assim tratados. Elles levantaram-te um monu-
mento no luxuoso teatro ha poucos annos edificado
em Évora, ao qual puzeram o teu nome; mas foste tão
desgraçado, que não tiveste um amigo verdadeiro, ou
um admirador sincero, que pensasse em distrair uns
centos de mil réis para reparar a tua violada sepultura,
e restituir-lhe os teus restos! Pobre Garcia!
Pela data da morte vê-se que não assistiu Garcia de
Resende á impressão da sua Vida de D. João II, que
saiu pela primeira vez no anno de 1545, tendo-se aca-
bado de imprimir em casa de Luis Rodriguez, livreiro
dei Rei, aos 12 de junho. Posso conjecturar, talvez sem
grande perigo de errar, que a pessoa, a quem devemos
a impressão da crónica, foi Jorje de Resende, irmão do
autor. Jorje, dedicado amigo de Garcia, também foi
dado ás letras, e da sua lavra se encontram muitas
poesias no Cancioneiro. Mas Jorje, que não sabemos
ao certo quando morreu'*0, seria ainda vivo ao tempo
Sr. A. F. Barata, Breve memoria do Espinheiro, paj. 9.
40 Parece haver Jorje de Resende morrido pelos annos de 1547,
por quanto neste se fez o inventario de seus bens, segundo uma no-
ticia, com visos de bem fundada, á qual lá mais adiante, nos adita-
mentos, me referirei.
54 ESTUDOS
em que sc imprimiu o livro de seu irmão? Era, e disso
tenho a certeza, não só por o ter encontrado em 29 de
setembro de 1545, servindo de padrinho de uma crian-
ça ' ', mas também por um facto que muito aprecio. Possuo
um exemplar da primeira edição da Vida de D.João //,
de Resende, e esse exemplar é o que pertenceu a Jorje
de Resende, que no verso da ultima folha, no fim de
tudo, lhe poz a sua assinatura, igual á que o leitor logo
verá em fac-simile tirado de uma carta de Jorje, a qual
se guarda no Corpo cronolojieo. Talvez não fosse Jorje
de Resende que presidisse á impressão da crónica de
Garcia, mas podia te-lo sido; e, por os filhos do autor
serem então de menor idade, nada mais compreensível
do que atribuir á piedade fraternal o cumprimento de
tão gostoso dever.
Do facto de não ter Garcia de Resende chegado a
mandar imprimir o seu livro, parece-me poder-se tirar
uma ilacção favorável á memoria do autor.
Tem Resende sido acusado, e justamente, de plajia-
rio de Rui de Pina; e acrescentarei que o foi com mui
notável impudência, se o prologo da Vida de D.João II
é obra de Garcia. Por três vezes se lê no tal prologo,
que não houve quem se lembrasse da memoria de
D. João II para lhe contar a vida. Isto, dito pelo autor
que d'ali a poucas pajinas vai copiar trechos inteiros de
um livro escrito sobre o mesmo assunto antes do seu,
é um cumulo. Mas, no mesmo prologo, e por duas ve-
zes, ha referencia positiva a uma crónica de D. João II
já existente; e de uma das vezes a alusão ao livro de
Rui de Pina é clara nestas palavras: "eu. . . viesse a es-
crever sua vida do tempo de seu nascimento até ser al-
çado por rei, por não ir em sua chronica.,, Quem abrir
" Cf. na nota 37.
GARCIA DE KM SEND1 55
a historia de Rui de Pina verá que elle a começa rro
dia da morte de D. Affonso V.
Aparece-nos pois neste prologo um Resende tapando
com a manta, e descobrindo com o chocalho, um Re-
sende estúpido, o que elle nunca foi; e a explicação pa-
rece-me comezinha.
O prologo é geralmente a ultima coisa que o autor
escreve. Podia ter Garcia de Resende deixado os apon-
tamentos para elle, e seu irmão, ou quem quer que foi,
colejindo-os, dar-lhes, por estar mais alheio da matéria
do que o autor, aquella forma confusa que se presta á
acusação de descarado plajio. E note-se que é muito
dificultoso discriminar plajios nos historiadores antigos:
umas vezes, porque elles parece não terem compreen-
dido bem o feio do caso, et prenaient leur bien oii i/s le
trouvaient; outras vezes,, na maior parte, porque as obras
plajiadas desapareceram. No mesmo anno de 1490 em
que D. João II, por duas cartas de 16 de fevereiro, dava
duas tenças a Rui de Pina, sendo uma para elle e outra
para o escrivão que lhe ajudava "a escrever os nossos
feitos famosos» ''-; nesse mesmo anno, repito, a 11 de
março, concedia el Rei licença para ter servidor, por ser
de setenta annos e adorado, a Antão Martinz, "nosso
caronista;/, clérigo de missa ',:!. O que é feito das obras
deste cronista?
Escreverei agora resumidamente o catalogo dos admi-
nistradores do morgado de Garcia de Resende, até á
completa extincção da família, e abolição do vinculo
que durou duzentos e oitenta annos.
O 1.° administrador foi seu filho Francisco de Re-
sende. Teve elle em 11 de oitubro de 1539 carta de
a Chancelaria de D.João II, liv. 12.o, fl. 16.
13 Ibidem, ti. 3^) v.
56 ESTUDOS
padrão da tença de sete mil trezentos e trinta e três
reaes, por lhe terem pertencido os bens que seu pai dei-
xou em morgado para se cumprir a obrigação da sua
capella ''. Era menor quando o pai morreu, e ficou
por seu tutor seu tio Jorje de Resende, que o casou
com sua filha Filipa Bota, casamento já efeituado em
25 de agosto de 1548, morando então os conjujes
na sua herdade da Anta, termo de Montemor o Novo,
nas suas casas de Vai da Arca ,,;1. Francisco de Re-
sende, morador em Évora, foi condenado, por um
ferimento que fez, a um anuo de degredo para fora da
cidade, mas teve perdão da pena por carta de 22 de
março de 1556 4ti. Dez annos depois, em junho de 1566,
encontro-o exercendo o cargo de vereador da Camará
de Évora, no qual o torno a achar investido em agosto
de 1571 e março do anno seguinte'1'. Francisco de Re-
sende e Filipa Bota fizeram testamento de mão comum,
estando na herdade da Anta, termo de Montemor o
Novo, a 16 de julho de 1580. Instituíram, na crasta do
mosteiro de S. Francisco de Évora, uma capella, a qual,
se em suas vidas não puderem acabar de fazer, mandam
que se faça no lugar que lhes for dado em capitulo dos
frades. Minuciosamente determinam como a capella ha
de ser executada e a ella legam certos bens. Foi o tes-
tamento aprovado nas casas da quinta da Anta, aos
18 de oitubro de 1580, e aberto em Évora a 2 do se-
guinte mes de novembro, estando ainda o cadáver de-
Francisco de Resende por sepultar |S. Encontro a noticia
" Chancelaria de D.João III, liv. 26.o de Doações, fl. 243 v.
15 Escritura daquella data extractada pelo sr. A. F. Barata a paj. lí
di' -ih Folheto André de Resende, Lúcio?
"' Chancelaria de I). João III, liv. 26.° de Perdões e legitimações,
fl. 57.
'" I iv. 2.o de Extractos de does. no archivo da Camará de Évora,
colijidos porj. M. da Cunha Rivara, n.os 1510, 1622 e 1638.
™ I iv. 2.o tia Provedoria de Évora, fl. 420.
GARCIA DE RESEND1 57
delle haver sido sepultado na igreja do referido con-
vento, numa capella da banda direita, com este epitá-
fio: Aqui jaz Francisco de Resende, dando d terra o
que e seu. Falleceu no 1.° de dezembro de 15S0 ''''. Deve-
se ler novembro em vez de dezembro, e não sei se o
erro estaria no epitáfio, ou será de quem o copiou.
2.° administrador: D. Jeronima de Resende, filha de
Francisco de Resende, teve, por falecimento deste, apos-
tila de padrão da tença vinculada, como consta da verba
de 3 de setembro de 1 583 i0. Foi casada com Fernão
Gonçalvez Cogominho, morgado da Torre dos Coelhei-
ros, mas morreu sem deixar descendência, nos fins do
anno de 1608, princípios de 1609 ''.
3.° administrador: Pedro Paulo de Resende, que era
filho de Manuel Coelho da Silva e de D. Maria de Al-
meida, filha de António de Resende •"'-. o segundo filho,
que para a sucessão do morgado nomeou Garcia de
Resende em seu testamento :,:i. Sucedeu Pedro Paulo a
D. Jeronima, sua tia (prima com irmã de sua mãe) na
tença vinculada de sete mil trezentos e trinta e três réis,
e foi notificado para a distratar ou reduzir. Aceitou a
redução, e em 29 de junho de 1624 passou-se-lhe apos-
19 António Peixoto de Queiroz e Vasconcellos, Nobiliário das fa-
mílias de Portugal, no vol. que tem na lombada o n.» 23. Guarda-se
na Torre do Tombo, mas não pertence ao Arquivo.
50 Chancelaria de D.João III, liv. 26. o de Doações, fl. 243 v.
;>1 Carta de 30 de setembro de 1609 escrita de S. Tomé de Me-
liapor por António de Resende Falcão ao Provedor da Misericórdia
de Évora. Foi impressa pelo sr. Gabriel Pereira na l.a parte do
Archivo da Misericórdia de Évora. paj. 13, folheto da colecção dos
Estudos eborenses.
52 Habilitações do Santo Oficio, mac. 68 de Franciscos, n.o 1271,
a fl. 158 e outras.
53 Este filho de Garcia de Resende seria mulato, musico e medico
no dizer de um nobiliário do século xvn apontado por Augusto
Filipe Simões (Instituto, XV, 180). Não me parece exacto, porque
então não seria só o defeito de sangue judaico, mas também o de
moirisco, o motivo para o 9.o administrador do vinculo não ser
admitido a familiar do Santo Oficio, como adiante veremos.
58 i si idos
tila de cinco mil quinhentos c seis réis, a começar no
primeiro de janeiro do auno seguinte34. Pedro Paulo,
segundo dizem os nobiliários, casou com D. Luisa de
Figueiredo, rilha de Nicolau Coelho, escrivão dos órfãos;
morreu porem sem geração ".
4.° administrador: D. Brites de Resende, irmã de Pe-
dro Paulo de Resende, herdou por sua morte o mor-
gado, e por apostila de 18 de fevereiro de 1647 foi-lhe
confirmada de juro e herdade a tal tença, já reduzida a
cinco mil e quinhentos réis, para a começar a receber
do primeiro de janeiro daquelle anno em diante''0. Foi
D. Brites casada com Fernando Peixoto de Faria, deixou
testamento aprovado em 16 de julho de 1660", e já era
falecida em 20 de julho de 1663 is. No tempo desta se-
" Doações de D. Filipe III, liv. 14.», fl. 96.
\n Dic. dos architectos, II, 365, supõe o meu presado amigo
dr. Sousa Viterbo não ser perfeitamente exacta a minha afirmação
de a D. Jeronima de Resende ter sucedido na administração do vin-
culo seu sobrinho Pedro Paulo de Resende. Funda-se na carta e
procuração enviada de Meliapor em 1600 por António Falcão de
Resende á Mesa da Misericórdia de Évora, ..para aquelle estabeleci-
mento, palavras do indefesso investigador, tomar posse, em seu
nome, do morgado». Estes doo. foram publicados pelo sr. Gabriel
Pereira, no seu folheto na nota*51 cit.: a carta, na integra, em copia
não paleografica comtudo; a procuração, em resumo, com supressão
de umas palavras indispensáveis para o bom sentido; foi talvez lapso
da impressão. António Falcão pediu porem primeiro á Misericórdia
para revindicar para elle a posse do morgado, "e alcançando em
meu nome a posse desse morgado, do rendimento lhe concedo (á
Misericórdia) o que a suas mercês parecer decente,,. Ora, não só a
administração do vinculo recaiu em Pedro Paulo sem encargo ne-
nhum a favor daquelle estabelecimento pio, encargo até impossível
de legalmente se lançar, como si') a elle Pedro Paulo, e nunca a
António Falcão, se passou apostila no padrão da tença anexa ao
vinculo. F^tas apostilas, averbamentos lhe chamaríamos hoje, é
que me serviram de guia para o catalogo dos administradores, e
creio não ser possível encontrar base mais segura. Entre tanto, não
tenho duvida nenhuma em confessar, que, sendo-me a existência de
António balcão de Resende perfeitamente conhecida, a da sua carta
ignorava absolutamente.
" Doações de f). foão IV, liv. 3.o, fl. 274.
Nobilitações, cit., fl. 158.
8 Doações de D. João IV, liv. 3.°, fl. 274, verba á marjem.
GARCIA DE RESENDE 59
nhora já o vinculo tinha a designação de morgado da
Anta.
5.° administrador: Garcia de Resende, que sucedeu a
sua avó paterna D. Brites, e teve em 1 de setembro de
1664 apostila para receber no almoxarifado de Évora,
onde sempre foi paga, a tença anexa ao morgado ''.
Garcia de Resende foi filho de Diogo Gomes Peixoto
e de sua mulher D. Inês de Ataíde, ambos naturaes de
Elvas, mas moradores em Évora em 1657. Nascera Gar-
cia em Elvas, e lá fora baptisado em 30 de agosto de
1638 com o nome de Fernando, que na crisma mudou
em Garcia60. Casou, precedendo escritura dotal de 12 de
maio de 1657, com D. Brites Maria de Sande, que tam-
bém se chamou D. Brites de Sande e Vasconcellos, que
fora baptisada em Évora a 18 de fevereiro de 1643 e
que era filha de Domingos Coelho de Figueiredo e de
sua mulher Maria de Sande e Vasconcellos 61. Estes
Sandes eram de Estremoz, e tinham fama constante e
antiga de cristãos novos. Garcia de Resende viveu em
Évora, onde parece ter exercido o oficio de almotacé,
e já era falecido em 24 de março de 1689 o"2.
6.° administrador: Diogo de Resende e Vasconcellos,
filho de Garcia, sucedeu no morgado, e teve confirma-
ção da tença em 6 de julho de 1689 ,i:!. Foi vereador
em Évora nos annos de 1709, 1713 e 1715°', e já era
falecido, solteiro e sem filhos, a 7 de junho de 1717 ''•',
tendo talvez morrido em princípios de 1716.
7.o administrador: D. Inês Maria de Resende e Vas-
concellos sucedeu no vinculo por morte de seu irmão,
59 Doações de D. Afonso VI, liv. 6.<\ fl. 434.
'''" Habilitações cit.,'fl. 252 e 253.
111 Ibidem, fl. 224.
62 Doações de D. Afonso VI, liv. 6.<\ fl. 434, verba á marjem.
113 Doações de D. Pedro II, liv. 8.o, fl. 183 v.
•j Habilitações cit., fl. 235.
6:' Doações de D. Pedro II, liv. 8.o, fl. 183 v., verba á marjem.
60 ESTUDOS
e em 7 de janeiro de 1718 teve confirmação da tença
para a começar a receber do primeiro de janeiro de 1716
em diante 66. Casou com o dr. Sebastião Vieira de Ma-
tos, neto materno de Pedro Margalho Geraldo, insti-
tuidor de um morgado em que os Resendes vieram a
suceder, mas que tinha tal fama de cristão novo, que
serviu ella de impedimento absoluto a seus descenden-
tes para entrarem no Santo Oficio {'".
8.° administrador: D. Micaela Arcangela Bernarda de
Resende sucedeu a sua mãe, e em 23 de junho de 1735,
sendo viuva do desembargador José Cardoso Girão,
teve padrão da tal tença de juro e herdade no almo-
xarifado de Évora os. Esta senhora teve, em 26 de junho
de 1738, provisão para aforar umas casas na rua do La-
gar do Cebo, em Lisboa, as quaes pertenciam a um
morgado que não era o instituído por Garcia de Re-
sende09. Em quanto ella administrou este, pagou ao
convento do Espinheiro para missas cinco mil e qui-
nhentos réis, que antigamente eram sete mil trezentos
e vinte 70. Por aqui ficamos sabendo, que, se os frades
recusaram a tença, como acima disse, não foi por se não
contentarem com a importância delia; outro motivo ti-
veram, mas não sei qual.
9.° administrador: Francisco Policarpo Girão de Re-
sende, filho de D. Micaela, foi baptisado em S. Mamede
de Évora a 15 de fevereiro de 1719; teve o habito de
Cristo por alvará de 11 de abril de 1734 7l. e já tinha
sucedido no morgado quando em 1747 foi reprovado
para familiar do Santo Oficio, por ter, sobretudo pelos
66 Padrões e doações de D.João V, liv. 9.o, fl. 254 v.
Habilitações cit, nas tenções Finaes, fl. 282 v. e seguintes.
68 Padrões e doações de f). João \\ liv. 1 J.°. fl. 385.
69 Ofícios e mercês de D.João V, liv. 94.o, fl. 170 v.
/ ivro das capeUas do Espinheiro, fl. 50, na Bib. do Évora.
"' Ordem de Cristo, liv. 101.", fl. 108.
GARCIA Dl: RESENDE 61
Margalhos, muito radicada, constante, e antiga fama de
cristão novo '-. Coitado do Garcia de Resende! Elle a
arranjar um solar com torre e brasão para afidalgar
seus descendentes, e o seu representante dois séculos
depois a ser por judeu escorraçado do Santo Oficio!
Depois desta vergonha, porque então o era, e grande,
parece ter Francisco Policarpo passado a viver em El-
vas, onde, dizem alguns nobiliários, casou com D. Te-
reza Rosa de Faria, filha de António Cardoso de Al-
meida, daquella cidade.
10.° administrador: D. Maria Rosa Gertrudes de
Resende. Não tenho a certeza desta senhora ter chegado
a administrar o morgado, nem posso asseverar que o
seu nome fosse exactamente aquelle, porque os do-
cumentos encontrados não esclarecem nenhum dos
casos. No que não ha duvida é em ter ella sido casada
com Inocêncio José de Mendonça, que na maior parte
dos documentos é chamado Inocêncio José de Men-
donça e Faria, ou Inocêncio José de Mendonça Faria e
Magalhães. Foi elle cavaleiro da ordem de Cristo por
carta de 21 de julho de 1765 73, tenente e ultimamente
sarjento mór de cavalaria na praça de Elvas, e ainda
vivia em 1805 quando se fez a escritura de casamento
do filho. Inocêncio José de Mendonça administrava o
vinculo em 1777, e devia ser já em nome do filho,
depois da morte de sua mulher, por não ser esta no-
meada no documento que vou citar. Naquelle anno de
1777 foi reedificada de grave ruiria a ermida de Garcia
de Resende no Espinheiro, sendo dom Abade Fr. Se-
bastião de Santa Maria, e administrador da capella Ino-
cêncio José de Mendonça. Depois das obras foi a er-
72 Habilitações do Santo Oficio, mac. 68 de Franciscos, n.° 1271.
O processo é muito volumoso; Francisco Policarpo defendeu-se
com tenacidade.
73 Ordem de Cristo, liv. 2Só.o, fl. 150.
62 ESTUDOS
mida novamente reconciliada, e nella se disse outra vez
missa a 8 de dezembro de 1778, escolhendo-se este dia
por se ter mudado o antigo retabolo, que era de nossa
Senhora do. Egipto, para nossa Senhora da Concei-
ção "'.
ll.o e ultimo administrador: André Lúcio de Resende,
que também usou de outros nomes "', nasceu em Elvas
em 1756 7", e ainda não estava emancipado em 1805",
quarenta e nove annos depois! Pobre Garcia! O teu
ultimo representante foi um idiota!
E verdade que André Lúcio teve um irmão, Tomás
José de Resende e Vasconcellos, que foi bacharel for-
mado; mas nem isso é garantia segura de inteligência,
nem o filho segundo sobreviveu ao primogénito.
André Lúcio de Resende assentou praça no rejimento
de cavalaria de Elvas, no qual era tenente quando se
celebrou naquella cidade, em 21 de janeiro de 1805, o
contrato do seu casamento com D. Antónia Camila da
Silveira Leal, filha do capitão Luis Garcia Gomes Freire,
já falecido, e de sua viuva D. Maria Barbara da Sil-
"' Cit. Livro das capcllas do Espinheiro, fl. 50.
Aparece em does. também com estes nomes: André Lúcio de
Resende e Vasconcellos, André Lúcio de Resende e Sande, e no
mais antigo, 1771, André José de Resende Mendonça Faria Vascon-
cellos Sande Girão.
6 No assento de óbito, adiante citado, declara-se haver André
Lúcio de Resende falecido com cincoenta e oito annos em 1814;
tinha por tanto nascido no anno indicado no texto. Podia porem ter
havido engano, ou no próprio termo, ou na sua copia, e o homem
ser muito mais novo e não haver sido idiota, como adiante direi.
Desvanece-se porem a duvida, porque consta de um processo para
lo de vinculo, requerida em 1771 pelo pai de André, que
este era então menor e imediato sucessor do morgado (Desembargo
do Paço. Alemtcjo e Algarve, mac. 75, nfi 21). Ora, ainda que se
suponha ter elle então apenas um anno de idade, é certo que trinta
e cinco annos depois ainda não estava emancipado. Isto é apenas
uma contraprova, certamenie desnecessária, porque a idade de André
i ml içada no assento de óbito deve estar certa.
im o declara a escritura de casamento (Desembargo do Paço.
\lemtejo e Algarve, mac. 118, n.o 39).
GARCIA DF. RESENDJ 03
veira Leal 7S. Os alfinetes e as arras, que por este contrato
foram arbitrados á noiva, uma provisão réjia de 7 de
junho do mesmo anuo lhos garantiu pelos rendimentos
dos morgados do noivo '''.
Em Elvas continuou a viver André Lúcio de Resende,
declarando a todos publicamente que por sua morte
acabava sua geração H0, e veio a morrer de hidropisia na
sua casa da rua do Tabolado, sendo capitão reformado
de cavalaria, no dia 17 de abril de 1814, com cincoenta
e oito annos, tendo feito testamento a 6 do precedente
fevereiro e deixando por sua universal herdeira e testa-
menteira a sua mulher81.
Meteram-se de posse dos morgados do finado sua
viuva, e Manuel de Sande de Vasconcellos, de Estre-
moz, e Francisco Inácio de Resende Feio, de Évora.
A capella de Garcia de Resende foi denunciada por
José Maria Ribeiro Pestana de Brito, e julgada vaga e
incorporada na coroa por sentença de 5 de julho de
1817s-.
O morgado ou capella de Garcia de Resende cons-
tava, ao tempo da sua abolição, das seguintes glebas:
herdade da Anta, com quatro folhas rendendo tre-
zentos alqueires de trigo, cento e vinte de cevada, e
varias pitanças; quinta da Anta, dentro na herdade;
sete moradas de casas na aldeia, que rendiam a dois
mil réis cada uma; herdade do Fale, dentro da qual
estava a freguesia de S. Brissos; uma morada de casas
junto á igreja, rendendo três mil réis; herdade dos
Morenos, três pensões pagas na eira, as quaes rendiam
7!l Desembargo do Paço. Alemtejo c Algarve, mac. 118, n.° 39.
7!l Ofieios e mercês de D. Maria I, liv. 20.<\ fl. 120.
80 Registo do Real Arehivo, liv. 39.", fl. 246.
sl Ibidem, fl. 244 v. e 247.
«2 Ibidem, fl. 254 v.
04 ESTUDOS
cincoenta e seis alqueires (de trigo?); herdade do Pi-
nheiro, um quinhão de vinte e seis alqueires de trigo e
treze e meio de cevada; herdade dos Andrades, um
quinhão de quatro alqueires e três quartas de trigo,
três alqueires e meio de centeio, e sete e meio de ce-
vada; herdade da Nogueira, um quinhão de sete alquei-
res de centeio hi.
Quem olhar para a carta n.° 29 da Comissão Geodé-
sica, e reparar para a ribeira de S. Brissos, lá verá, es-
tendendo-se por ella abaixo, a maior parte dos prédios
acima mencionados. Não concordam todos os nomes
delles com os referidos no instrumento de instituição, e
não paga a pena a identificação, a não ser a de um, a
cabeça do morgado, á qual Resende chama Vai de
Arcas, e que posteriormente, já no xvu século, era de-
signada por Anta. Dos poucos elementos que os docu-
mentos ministram, apura-se comtudo, me parece, que
eram ambas a mesma propriedade, mudando ella de
nome com o andar dos tempos.
Diz Resende na instituição : "a minha herdade de Vai
de Arcas com o assento de casas e torre honrada que
aí hei de fazer.» No documento precedentemente citado
menciona-se a "herdade da Anta. . . e a quinta da Anta
dentro na herdade.» Geralmente no Alemtejo só se dá
nome de quinta aos prédios que teem casas de habitação,
e que são murados, ou pelo menos vedados. Mas ha
mais. Na instituição declara-se que a Nogueira partia
com o Vai de Arcas, e que a Fale era pegada com a
Nogueira. No referido mapa lá se vê um monte chamado
da Nogueirinha, pegando ao sul com o monte das Fales,
e ao poente com a Anta.
O viajante que fôr para o Alemtejo, ao passar no
entroncamento da Casa Branca, lembre-se que a quatro
8;) Desembargo do Poço. Alantejo c Algarve, mac. 1 IS, n.° 39.
GARCIA DE RI SENDE
65
quilómetros dali, na direcção nor-nordeste, existiu "a
minha herdade com torre honrada... de que Resende
tanto se desvanecia.
Ultima averiguação.
A casa, chamada em Évora de Garcia de Resende,
a qual se vê reproduzida na estampa em frente, foi
delle ? — Não.
Esta casa pertenceu a um morgado instituído por
Pedro Margalho Geraldo, vinculo de que veio a ser
administrador seu quinto neto André Lúcio de Resende
e Vasconcellos, o idiota, rim seu nome, e como admi-
nistrador da sua pessoa e bens, requereu seu pai, Ino-
cêncio José de Mendonça e Faria, para subrogar por
certo olival no termo de Elvas, uma morada de casas
junto ao poço de S. Mansos na cidade de Évora, as
quaes pertenciam ao morgado instituído pelo dr. Pedro
Margalho Geraldo; e, por andarem de aluguel, visto a
residência do suplicante ser em Elvas, se achavam muito
arruinadas e precisadas de grande concerto. Por este
motivo requer a subrogação, e no requerimento, que
não tem data, poz-se despacho, mandando começar o
processo, em 22 de setembro de 1784. Fez-se a vistoria
ás casas' em 13 de oitubro do mesmo armo, e, por
estarem muita danificadas, foram avaliadas em trezentos
mil réis. O olival foi reputado em maior quantia, teve
por tanto o processo despacho para provisão em 25 de
janeiro de 1785 s'. Finalmente foi autorizada a subro-
gação, por provisão réjia de 14 de março do mesmo
anuo 8j.
Depois vendeu- se a casa, que era o que se pretendia
e como a pessoa, em cujo nome se vendeu, era o repre-
« Desembargo do Paço. Alentejo e Algarve, mac. 90, n.o 5.
•3 Ofícios e marés de D. Maria /, liv. 26.°, El. 120.
00 ESTUDOS
sentante de Garcia de Resende, e o prédio fora de
morgado, d'aí, sem outro fundamento, se orijinou a
lenda.
É certo ter elle tido umas casas em Évora; "as minhas
casas grandes de Évora,,, diz Garcia no seu testamento;
mas também é certo, que, por os documentos o não
declararem, não sabemos em que sitio da cidade fossem.
E até mesmo nenhuma certeza podemos ter delias
haverem chegado a entrar para o vinculo, como o
testador desejava. Quando aquelle se dissolveu, não
abranjia nenhumas casas em Évora; nem o olival no
termo ele Elvas, pouco antes subrogado por umas, era
pertença do morgado.
Do processo de habilitação de Francisco Policarpo
Girão de Resende, documento acima citado, apura-se
que em 1710 residiam seus pais na freguesia de S. .Ma-
mede, e pelos mesmos tempos stia avó morava na fre-
guesia da Sé. D'aqui pode-se concluir que a avó, D. Inês
.Maria de Resende, já então 7.a administradora do mor-
gado da Anta, estava viuva e assistia nas casas do seu
vinculo; ao passo que sua filha D. Micaela tinha já
sucedido, ou directamente a seu falecido pai, ou por
sua própria cabeça, no morgado de Pedro Margalho, e
habitava nas casas a este pertencentes.
Nesta hipótese teria sido a casa de Garcia de Resende
na freguesia da Sé de Évora.
( iarcia de Resende também teve umas casas em
Lisboa, e pena é que as eborenses se não encontrem tão
bem confrontadas como as outras. Eram estas vizinhas
dos Armazéns e Tercenas do reino, na rua da Tanoaria,
junto da porta que foi da Judiaria, porta pegada á
Moeda; e partiam de um lado com a torre, do outro
com o muro da Casa do Armazém, e por diante com
rua publica que ia para a Tanoaria. Estas casas havia-as
Resende comprado a uma Caterina Dias, e pagava por
JORJE DE KM SEND1 07
cilas de foro ao Armazém cento e oito reaes. ( lonsti-
tuiam um praso cm vidas, e por morte de Garcia foram
aforadas por emfiteuse a seu filho Sebastião de Resende,
por carta dada cm Évora, um mes depois da morte do
pai, a 2 de marco de 1536 Rfi.
E nada mais sei dizer acerca de ( iarcia de Resende.
É pouco, concordo; outros exporão o resto s~.
No pavimepto do adrozinho alpendrado da capella
edificada na cerca do comento do Espinheiro por Garcia
de Resende, encontra-se hoje a campa de seu irm." i
Jofje de Resende, a qual em 1045 ainda estava no corpo
da igreja s^. Na lapide vè-se um escudo com as duas
cabras dos Resendes, e por baixo delle este epitáfio :
SEPVLTVRA- DE
GEOROE- DE
R E E S E X D E • E
DE • SEVS • FILHOS
Jorje versejou e seu irmão publicou no Cancioneiro
algumas poesias suas v', que nenhuns dados biográficos
ministram, e só nos mostram um poeta amatorio piegas, no
género triste:
Lembranças, tristes cuidados
magoam meu cora
quando cuido nos passados
dias. que passados são.
s" Chancelaria de D.João III, liv. 21. o de Doações, fl. 62 v.
s" Aqui terminava, no "Jornal do Commereio.. de20di
looi. o artigo sobre Garcia de Resende; parece-me porem interes-
sante juntar-lhe agora o pouco mais que nas Sepulturas do F.spi-
nheirq escrevi em seguida acerca de seu irmão Jorje de Resende.
locarão assim reunidas, contando com a matéria dos ADITAMEN
a este estudo, as noticias que pude alcançar dos quatro Resendes,
escritores quinhentistas.
SN Memorial das sepulturas que estão uo convento do Espinheiro,
ti. 10, ms. do anuo de lo4S existente na Bib. publica de Évora.
s' Cancioneiro geral, de fl. 1S4. col. <>.■'■. a fl. 1SS, col. 3.a
68 ESTUDOS
Da vida de Jorje de Resende nada me consta que
interesse. Passou-a socegadamente em Évora, onde
foi vereador em vários annos, aparecendo a exercer
aquelle cargo nos de 1535 90, 1540 e 1541'". Também
foi, segundo noticias que encontro, mas mão garanto,
recebedor dos empréstimos em Évora e sua comarca'1-,
e na mesma "juiz dos órfãos proprietário, tão insigne ju-
rista que ainda hoje as suas decisões são arestos e orá-
culos as suas sentenças,- !,:;. Foi outrosim fidalgo da casa
de D. João III, que lhe entregou a administração do
morgado da Oliveira, da qual deu a conta relativa aos
três annos de 152Ò a 1528 numa carta dirijida a el Rei
e datada de Évora a 26 de oitubro de 1528 '''. Da sua
assinatura neste documento aqui vai o fac-simile:
Por cila fiquei sabendo, como já acima disse, que
Jorje de Resende ainda chegou a possuir um exemplar
pelo menos da primeira edição, a de 1545, da Vicia de
D. João II de seu irmão, facto de que tirei a conjectura
de poder Jorje ter sido quem dirijiu aquella impressão.
Elle foi o tutor de seus sobrinhos menores, pelo menos
de Francisco, o mais velho, em cujo nome requereu,
'"' Arch. hist. port., Ill, 48.
91 Collecção de extractos de does., no archivo da Camará de Évora
colei ida porj. R. da Cunha Rivara, liv. 2.o, n.os 1190 e 1201.
'• Genealogia de Resendes, ms. de letra do P.eJosé Lopez de Mira,
na Bib. publica de Évora, anu. X, mac. 26, cod. 1."
IV Francisco da Fonseca, Évora gloriosa, paj. M>4, § 714.
Este autor não é muito seguro nas ^nas afirmações. No alto da
paj. seguinte encabeça o mesmo oficio e análogo qualificativo de
"singularmente sábio,., em um Pedro Vaz de Resende que errada-
mente declara ser pai do famoso humanista André de Resende.
91 Corpo cronolojico, part. I, mac. 41, doe. 85.
JORJE DE RESENDE 69
em 18 de junho de 1537, traslado da verba elo testa-
mento de Garcia relativa á instituição elo vinculo93.
Com Lucrécia Falcoa, filha, conforme os nobiliários,
de André Falcão, de uns Falcões de Évora, casou Jorje
de Resende, que ainda vivia em 20 de setembro de
1545 96; era porem já falecido em 1547, anuo em que
se partilharam seus bens, sendo cabeça de casal sua
vima, que pouco tempo comtudo lhe sobreviveu, por
isso que em 8 de oitubro de 1548 já seu filho André
Falcão de Resende vendia um quinhão que lhe coubera
na lejitima materna. Lá mais adiante, no cap. II dos
aditamentos indicarei a fonte onde bebi estas noticias.
De sua mulher teve vários filhos: um foi André Fal-
cão de Resende, que estudou direito na Universidade
de Coimbra, seguiu os logares de letras e foi poeta; ou-
tro, Fr. Brás de Resende, dominicano, e também es-
critor '•''.
No segundo quartel do xvm século ainda havia em
Évora descendentes de Jorje de Resende, os quaes não
95 Liv. l.o da Provedoria de Évora, fl. 442.
96 Vide nota 37.
"7 Barbosa Machado, Bib. lusitana, 1, 140 e ^4S.
Evidentemente não se pode concluir das minhas palavras neste
período do texto, para atpii literalmente trasladadas das Sepulturas
do Espinheiro, que eu ignorasse a existência doutros filhos de Jorje
de Resende. Eu declarei haver elle tido vários filhos e nomiei An-
dré, que foi poeta, e Fr. Brás, que foi também escritor; quis apenas
referir-me, claramente se percebe, aos filhos de Jorje que, como elle,
como seu irmão, cultivaram as letras, mantendo-me na especiali-
dade, escritores, de que estava tratando havia muitas pajinas. Alem
disso, vários filhos não são só dois e tanto não os quis nomear aqui
a todos, que já lá atrás mencionei outro, Garcia, marido de Maria
ele Resende, de quem me não tornei agora a ocupar. Nenhum elos
nobiliários, e eram uns poucos, que tive ele roda de mim em quanto
compuz aquelle opúsculo, nenhum deixava ele apontar o António de
Resende, soldado na índia; não o trouxe para aqui, porque o seu
nome nenhum interesse despertava; e, se o nomeasse, nenhuma razão
teria para deixar em esquecimento o Francisco, a Beatriz e a Guio-
mar. Nenhum delles se tornou notável, nenhum delles foi sepultado
I ->l ilx >s
usavam comtudo deste apelido98; parece porem que es-
tavam completamente extinctos, quando, em 1817, por
morte de André Lúcio de Resende foi julgada vaga para
a coroa a capella de Garcia de Resende.
Castilho declara, em 1845, haver ainda quem pre-
tendesse, com boas razões, reivindicar o morgado da
Anta". Não sei quem seria esse pretendente; não julgo
tivesse bons fundamentos, nem creio chegasse jamais
a intentar o processo.
A geração distinguiu-se; mas ficaram os livros e a
capelinha do Espinheiro. Aquelles, duradoiros; esta, tal-
vez agora mais livre de completo olvido.
Aldeia, julho de 1901, retocado em setembro de 1909.
spinheiro, assunto restrito do meu opúsculo, que necessidade
tinha eu de os indicar? Isto é, a Beatriz nomeei-a, no seu logar,
porque foi sepultada naquelle comento.
Porque me defendo com tanto calor, dirão? Porque o meu que-
tmigo dr. Sousa Viterbo, a quem tanto devemos pelos inesgo-
táveis subsídios ministrados numa infinidade de monografias histó-
ricas cuidadosamente documentadas, a quem eu, especialmente,
muito reconhecimento tributo, nào só pela forma como geralmente
me tem distinguido nas referencias a mim feitas, mas principalmente
ainda pela excelente colaboração com que tem honrado o meu
Archivo histórico, censura-me no seu Dic. dos architectos, vol. II,
I >. 166, por ignorar a existência de António de Resende, lançando
sobre mim a suspeita de em todo o meu trabalho ter procedido com
pouco cuidadora investigação, visto que em matéria tão corrente e
simples errei. Não. senhor, conhecia todos (.s filhos de Jorje de
Resende e até sabia que eram só oito, e não de/ como dizem alguns
nobiliários fazendo neste ponto errar a quem por elles se guie.
lauto me sciiti desta censura, quanto me deixou indiferente a
critica azeda que um sr. Henrique Freire, a quem a terra seja leve,
despejou sobre as Sepulturas do Espinheiro no jornal -Noticias de
Évora».
'• Habilitações tio Santo Oficio, mac. (>S de Franciscos, n." 1871,
0 v.
' / ivraria clássica. III. 316.
ADITAMENTOS
Dois Duartes de Resende
Dá-se aqui um dos muitos casos de homonímia, que
tantos erros teem feito cometer aos nossos investigadores
históricos.
Contemporâneos existiram dois Duartes de Resende,
sem haver nenhum parentesco entre elles. Dois disse eu,
mas não garanto que não fossem mais; dois conheço
eu, devera dizer: um, alemtejano, vivendo obscura-
mente em Évora ; outro, beirão, tornando-se conhecido,
mais ainda pelos seus escritos, do que pelos serviços
prestados á pátria em lonjinquas rejiões. Aquelle, em
virtude de uma inconsiderada afirmação do P.1' Fran-
cisco da Fonseca na sua Évora gloriosa, paj. 411, até
agora concederam, todos quantos eu conheço, os méritos
do outro. Ao primeiro, já falecido em 1526, atribuíram,
não só os serviços que o segundo prestava no extremo
Oriente ainda em 1527 pelo menos, como as obras
escritas por elle em 1531 e depois disso. Chegou porem
a ocasião de os discriminar, restabelecendo a ver-
dade.
Duarte de Resende, nascido e morador em Exora, era
primo com irmão do cronista Garcia de Resende. Duarte
ainda vivia em 30 de janeiro de 1525, dia em que serviu
de testemunha em certo instrumento de compra feita
72 ESTUDOS
pelo parente '; mas veio a falecer neste mesmo anno ou
nos princípios do seguinte. Consta de uma escritura, a
que já me vou referir.
Numa quinta feira 5 de julho de 1 526, em Santarém,
na freguesia do Salvador, nas casas onde então poisava
Garcia de Resende, fidalgo da casa de D. João III e
escrivão da sua fazenda, compareceu Fernão Nunez,
cavaleiro da casa do dito senhor, morador na cidade de
Silves, e perante um tabelião da vila declarou: que por
quanto sabe que el Rei tem passado algumas cartas e
provisões, a requerimento delle dito Garcia de Resende,
sobre urna nomeação e vontade de Duarte de Resende,
"meio irmão delle dito Fernão Nunez e primo com irmão
do dito Garcia de Resende,,, acerca de uma herdade
chamada do Baleisão no termo de Beja, foreira em dois
terços ao Bispo e no outro terço ao Cabido da Sé de
Évora, e de dois ferrejiaes junto dos muros daquella
cidade, um á porta da Mesquita, o outro ao curral do
Concelho, ambos foreiros ao Bispo, prédios que o re-
ferido Duarte de Resende trouxe emprasados em sua
vida, o qual por muitas vezes, até á hora de sua morte,
publicamente declarou que havia de deixar estes prasos
e toda a sua fazenda ao dito seu primo Garcia de Re-
sende, constando até que neste sentido havia feito testa-
mento; e que por elle Fernão Nunez ter muita amizade
e antiga com o referido Garcia de Resende, e haver
delle recebido muitas boas obras pelas quaes lhe está
cm obrigação, desejando conservar sua amizade e duvi-
dando, alem disso, a qual dos dois de direito pertença
a posse dos ditos prasos, se veio a concordar com o
primo do falecido, nestes termos. Fernão Nunez subroga
c demite em Garcia de Resende algum direito, se o tem,
sobre os ditos prasos, dos quaes este tomará posse, ficando
1 Vide paj. 44.
DUARTE DE RESENDE 73
obrigado a, durante toda a vida do outro, lhe entregar
a metade de tudo quanto os ditos prédios renderem,
depois de descontados os foros e algum outro encargo
se o houver. Por morte de Fernão Nunez ficará Garcia
de Resende na plena posse dos prasos, apenas sujeitos
ás obrigações á propriedade delles inerentes. Para outor-
gar na escritura apresentou Fernão Nunez procuração de
Aldonça Cabral, sua mulher, por ella assinada em Silves,
a 1 1 do precedente mes de maio \
Mais nada me consta deste Duarte de Resende, primo
com irmão do cronista; é porem o suficiente para o
distinguir do seu homónimo, que nestes tempos ainda
era feitor em Ternate.
Vejamos.
Andava Oermão Oalharde a imprimir em Coimbra,
onde se concluiu a impressão a 30 de agosto de 1531
os Tratados de Amizade e outros de Cicero, vertidos
para português por Duarte de Resende, quando a este,
em 25 de maio, escreveu João de Barros, então na
sua quinta da Ribeira de Alitem, junto a Pombal,
uma carta acompanhando o orijinal da Ropicapnefma,
o qual lhe enviava para ser entregue ao referido im-
pressor, em cujos prelos foi efectivamente acabado de
imprimir, em Lisboa porem, a 8 do mesmo mês do
anno seguinte. Nesta carta, pela qual o futuro famoso
autor Da Ásia dedicava aquella sua outra obra a Duarte
de Resende, entre varias indicações biográficas, que tra-
tarei de aproveitar, encontram-se por duas vezes refe-
rencias claras ás relações, não só de amizade, mas também
de consanguinidade existentes entre os dois escritores:
- Bib. publica de Évora, cod. < \, 2, 1/, n." 1, escritura mencio-
nada com a data errada no respectivo Catalogo dos manuscritos,
IV, 201'.
74 ESTUDOS
"Peró como sangue riam se roga»;; e "por serdes ami-
guo e sangue». A ella também alude na Década terceira
da Ásia, no cap. x do liv. v.
Despertada a curiosidade, procurei ver se encontrava
a proveniência do parentesco e, depois de varias infru-
tíferas buscas, pôz-me na pista uma nota lançada, no
primeiro quartel do século xvn, na minha copia do No-
biliário de Damião de Ooes, nestes termos: "Dizem, e
isto não está no Livro, que este Joanemendez [de Vas-
concellos] ouve a mendez de Yasconcellos, que casou
com Phelippa de barros filha de gonçalo nunes de bar-
ro. . . e que depois se apartarão por suas próprias von-
tades, e elle se fez clérigo c foi prior de Tentúgal. E que
naceo delles João de barros de Yasconcellos, que foi
Comendador de Christo, que iaz em S. Cruz de Coim-
bra, e que o dito João de barros ouve nua filha bastarda
por nome Britiz de barros, que casou com Oil de Re-
sende, pay de gonçalo de Resende, pai de Duarte de
Resende.»
Puz-me logo á cata de documentos e alguns encon-
trei; poucos, suficientes porem para no principal, a filia-
ção de Duarte de Resende, confirmarem a fujitiva as-
serção do genealojista. Vamos já vê-lo.
Em Lamego vivia Oil de Resende, escudeiro da
Condessa de Marialva, D. Maria de Sousa, viuva do
l.o Conde, a qual o encarregava de certos serviços de
sua casa, enviando- o a alguns logares do reino para ar-
recadar rendas suas. Era elle solicito cobrador, segundo
parece, pois tinha suscitado contra si o ódio dalguns
fidalgos e outras pessoas poderosas, pelo que se temia
de o matarem ou mandarem matar. Para o defender
deste perigo recorreu a Condessa a D. Afonso V que,
por carta dada em Estremoz a 28 de julho de 14Ó6,
concedeu a Gil de Resende licença, para elle e aquelles
que com elle continuadamente em sua casa viverem
DUARTE Dl RES1 ND1 75
poderem trazer armas defensivas e ofensivas ;. Ao mes-
mo, ainda escudeiro e morador em Lamego, mas não
já ao serviço da Condessa de Marialva, apesar delia
ainda viver, foi concedida, em Santarém, a 4 de janeiro
de 1471, por ser homem fidalgo, carta de privilejios
para seus caseiros, criados, amos, mordomos, panigua-
dos e lavradores, estantes na comarca da Beira, e de
escusado de dar aposentadoria nas suas casas de mo-
rada, adegas/ cavalariças, etc. '. Delle mais nada sei alem
do nome de sua mulher, Beatriz de Barros, se é exacta,
como parece, a noticia genealojica acima transcrita.
( ionçalo de Resende, filho, conforme a referida noticia,
de Gil de Resende, foi cavaleiro da casa dei Rei e adail
de Arzila, oficio que largou a D. Manuel, recebendo,
em satisfação da sua renuncia, por carta dada em Lisboa
a 1 de oitubro de 1501, uma tença temporária de seis
mil reaes'. Alem desta mercê, ainda lhe fez outra por
carta dada em Santarém, a 30 de maio do anuo seguin-
te, pela qual o nomeou escrivão do almoxarifado de
Lamego ,;. Foi uma espécie de reforma, a fim do antigo
Adail de Arzila poder socegadamente passar os ultimos
tempos da sua vida na sua terra natal. Dos seus serviços
em Africa nada me consta; e da sua vida apenas sei
mais, haver elle sido casado com Brites Faresoa (Frasão
diríamos hoje) e ter morrido em fins de 1505 ou prin-
cípios de 150Ó, não lhe tendo chegado a ser paga a
tença do primeiro destes dois annos. Parece porem não
haverem feito grande falta aos herdeiros os seis mil
reaes, porque só quando já tinha prescrito o direito a
recebe-los, ao cabo de dez annos, recorreram a D. Ma-
nuel, que ordenou o pagamento por alvará de 1 de ju-
; Chancelaria de D. Afonso V, liv. 38.o, íl 4') v.
1 Ibidem, liv. 16.o, fl. 129.
' Chancelaria de I). Manuel, liv. 38.°, fl. S4 v.
6 Ibidem, liv. 6.°, fl. 05 v.
/O ESTUDOS
nho de 1515. Muniu-se então a viuva da indispensável
autorização do Juiz dos órfãos de Lamego para receber
a parte pertencente a seus filhos menores, e enviou pro-
curação a seu outro filho Duarte de Resende, ao qual,
em 8 de maio do anuo seguinte, foram entregues os
seis mil reaes em panos de igual valor, assinando elle
o respectivo recibo pela mãe ".
Era pois Duarte de Resende a este tempo já maior
de vinte e cinco annos, tendo por tanto nascido, em
Lamego (quasi com certeza), antes de 1491, alguns an-
nos primeiro que seu parente e amigo João de Barros,
imortal cronista dos feitos da índia.
Lara aquelles estados orientaes havia de ter partido
Duarte de Resende na armada do annò de 1520, da qual
era capitão mor Jorje de Brito, que levava ordem de
D. Manuel para ir levantar uma fortaleza nas ilhas Mo-
lucas e ficar nella por capitão. Não alcançou elle o seu
destino, por ter sido morto em combate quando para lá
se dirijia, e foi substituido na capitania, em conformidade
com o rejimento que levara do reino, por seu irmão
António de Brito que começou a obra da fortaleza no
dia 24 de junho de 1522, em Ternate, uma das ilhas
daquelle arquipélago.
No tal rejimento, ou em alvarás trazidos do reino,
iam já providos os ofícios daquelles que haviam de ficar
na nova fortaleza; era o nso e tanto se não alterou então,
que, vindo tempos depois a falecer o feitor, foi o seu escri-
vão imediatamente provido na feitoria. Adiante veremos.
Corpo cronolojico, part. n, mac. 58, doe. 8. O recibo é inte-
ressante: "Recebeu britez faresoa molher que foy do dito gonçalo
ile Resemde os seis mjl reaes acima conteúdos per dez covados
dolanda de cxxx reaes covado E doze covados de truufym de iij
Ix reaes covado E hum covado mais dele do dito preço e x\ reaes
em pano os quaes Recebeo per autorjdade do juiz dos órfãos de
lamego quanto ao de seus filhos e Recebeo per duarte de Resemde
seu filho cõ procuração bastante em biij de mayo de mjl lv xbj
a tli iv...
DUART1 Dl RESEND1 //
É certo haver Duarte de Resende chegado a Ternate
na armada de António de Brito e ter logo começado a
exercer o oficio de escrivão da feitoria das Molucas,
no qual certamente ia já despachado do reino e em que
estava investido, quando, no dia 20 de oitubro daquelle
anuo de 1522 s, teve o Capitão noticia de a uma daquellas
ilhas haver arribado, muito destrocado, Gonçalo Gomez
de Espinosa, na náu Trindade, a ultima, existente então
nessas parajens, da armada de Fernão de Magalhães.
Mandou Espinosa pedir socorro a António de Brito,
ainda ao tempo ocupado na construção da fortaleza, e elle
prontamente, em vários navios, enviou auxilio aos Cas-
telhanos que iam sendo victimas dos seus próprios sal-
vadores, porque a primeira embarcação chegada era de
indijenas nossos aliados, que de pronto se dispuzeram a
destruir os infelizes náufragos, salvos por intervenção
de Duarte de Resende que logo depois os alcançou ".
Pouco espaço decorrido, morreu de doença Rui Gago,
feitor nas Molucas, e sucedeu-lhe no oficio o escrivão
da feitoria, Duarte de Resende l0.
Por alguns annos permaneceu elle em Ternate depois
de concluída a fortaleza, e para lá lhe enviou João de
Barros um exemplar da sua Crónica do emperador Cla-
íimundo ", pela primeira vez impressa em 1522 '-. Ainda
se conservou, sempre com o cargo da feitoria, depois
8 Consta a data de uma carta de António de Brito a D. João III.
impressa nos Alguns documentos da Torre do Tombo, paj. 466.
11 Barros, Década terceira, liv. v, cap. X. A este facto alude Na-
varrete nas Viajes, IV ', 101, estropiando o nome de Duarte de Resende
em Duarte Roger e assim passou para a obra de Lord Stanley of
Alderley, The first voyage round t/ie world.
10 Barros, Década terceira, liv. vin, cap. ix.
11 Na Dedicatória da Ropicapnefma, p. 2 tia ed. de 1869, escreveu
João de Barros, dirijindo-se a Duarte de Resende: "dado que digaes
quam bem vos pareceo o meu Clarimundo quando foy ter comvosco
em Maluco,,.
12 A prymeira parte da crónica do emperador Clarimundo donde
os Reys de Portugal descende/n. No fim: Acabase a prymeira parte
78 ESTUDOS
da partida do primeiro capitão António de Brito, em
janeiro de 1526, e por sinal que por esses tempos com-
prou um navio pequeno chamado S. Pantaleão ' :. Con-
tinuou ainda durante todo o governo do segundo capi-
tão D. Garcia Henriquez, e só em maio de 1527 é que
entregou a feitoria a Baltasar Raposo, ou Baltasar
Rodriguez Raposo, que para feitor de Ternate levara
comsigo o terceiro capitão I). Jorje de Meneses '''; ao
reino porem só chegou em princípios de 1531, ou fins
do anuo precedente ' '.
da crónica do cmpcrador Clarinuuulo donde os rcys de Portugal
descem: tyrada de lyngiiagem Ungara cm a nossa Portuguesa per
loam de barros: e jmpressa per derma n gualharde . . . A qual se
em premio nesta .. . eydade de Lyxboa. A iij dias de Marco da era c'e
Mil e quinhentos e xxij. Encontra-se a noticia desta edição em
Gallardo, Ensayo de una biblioteca espanola, 1, col. 663, n.° 545, e
no Catalogo de Salva, li, 587, nota ao n.° 3274. Barbosa Machado
teve vaga noticia desta edição; mas, como não viu nenhum exemplar,
descreve-a na Bibliotheca lusitana, li, 606, com a data e o nome do
impressor errados: 1520 e |oão de Barreira. Inocêncio da Silva, no
Dic. bibliographico, 111, 319, n.° 478, duvida, com boa razão, da
informação de Barbosa Machado; entre tanto, para quem tivesse
lido a Dedicatória da Ropicapnefma, nenhuma duvida podia restar
de ter existido uma edição do Ciar/mundo bastante anterior ao anno
de 1531. A segunda edição é de 1555 e não de 1553, como. pro-
vavelmente por erro de impressão, aparece na Bib. lusitana. O titulo
desta edição encontra-se em Gallardo, sob n.o 546, e diz: Aprimeyra
parte da Crónica do Emperador Clarimundo donde os Rcys de Por-
tugal descendem . . ., e no fim: Acabasc a primeira parte da crónica
do emperador Clarimundo . . . tirada de linguagem ungara em a
nossa portuguesa per Joam de barros, e impressa perjoam de bar-
reyra, impressor da universidade de Coimbra . . . A qual se empremio
nesta . . . cidade de Coimbra. A cinco dias do mes de Julho da era de
Mil c quinhentos e LV annos. ( ) erro na data desta edição
o Dic. bibliográfico, onde não pode ser lançada a culpa He impressão.
13 Barros, Década quarta, liv. I. cap. XV.
11 /ilidem, cap. xvi; Castanheda, Hist. da índia, liv. xvn, cap. LXI.
15 Na já por vezes citada Dedicatória via Ropicapnefma, p. 5,
escreveu Joio de Barros, em data de 25 de maio de l^il : "consirei
virdes poucos dias áa de Maluco, onde estivestes por fector dei Rey
nosso senhor, e eu sair de seu thesoureiro (negocio que também
trata de mercadoria como o vosso)». Servira João de Barros o oficio
mreiro da Casa da índia, Atina e Ceuta desde maio de 1525,
até dezembro de 1528, segundo declara Severim de Faria na Vida
de João de Barros, p. 27 tios Discursos politicas, ed. de 1624.
DUARTE DE RI SI ND1 . 9
Da vida de Duarte de Resende depois de regressar á
pátria, escacas noticias me são ministradas. Em maio de
1531, quando João de Barros lhe dirijiu a já tanta vez
citada Dedicatória, estava o antigo feitor de Ternate
em Coimbra, não só para ínjir á peste que então asso-
lava 1 isboa, mas também para acompanhar a impressão
das suas traduções de Cícero. Depois? — Depois, mais
nada sei de positivo, porque até mesmo certeza não
tenho de havçr sido elle o Duarte de Resende a quem,
por carta de 26 de janeiro de 1534 dada em Évora, foi
concedida licença para andar em mula ""'.
Referir-me-hei por ultimo ás suas produções literárias.
As mais antigas encontram-se no Cancioneiro geral,
na folha 199. São trovas, cantigas e outras poesias,
quasi todas em castelhano e todas de amores, o que não
admira visto ser então o poeta homem de vinte e tantos
annos. Mais surpresa causa encontrar já nellas muitas
alusões mitológicas, mas serve isso para mostrar que
desde moço cultivara Duarte de Resende o latim.
Da sua ciência desta lingua dá fé a tradução dalgu-
mas composições de Cicero, obra certamente retocada
durante os entorpecidos ócios da feitoria de Ternate, no
meio dos sacos do cravo de acre perfume, e entrando
pelas janellas o ar quente e húmido do verão constante
e os rujidos do prossimo vulcão.
Chegado a Portugal entregou o manuscrito a Germão
Oalharde, que nos seus prelos o acabou de imprimir
aos 30 de agosto de 1531, vindo a publico com este
titulo: Marco Túlio Cicerom de Amicicia, Paradoxos, c
Sonho de Scipião tirado em lingoagem Portuguesa per
Duarte de Resende, Cavaleyro Fidalguo da Casa dei
"; Chancelaria de D.João III, liv. 20.° de Doacções, fl. 91.
ESTUDOS
Rey nosso Senhor |:. É a obra precedida de uma carta
do autor a "Garcia de Resende, Fidalgo da Casa dei Rey
nosso Senhor, e Escrivão de sua Fazenda, &c. a quem
manda esta obra enderençada.n O tom da carta, datada
de Coimbra no mesmo dia da conclusão da impressão,
revela claramente que entre os dois Resendes nenhuma
consanguinidade existia.
Outra obra, depois desta, compoz ainda Duarte de
Resende, porque elle não era só bom latino, mas "homem
estudioso das cousas do mar e geographiaM, como
declara João de Barros; esta obra porem nunca se che-
gou a imprimir. Poz-lhe o autor o titulo de Tratado da
Navegação que Fernão de Magalhaens, e seus Compa-
nheiros fizerão às Ilhas do Molueo |s, e dedicou-a,
segundo assevera Severim de Faria l9, a seu parente e
amigo João de Barros, em paga do oferecimento que
este lhe fizera da sua Ropicapnefma, composta em 1531
e impressa no anuo seguinte. Para a composição da-
quella segunda obra se serviu Duarte de Resende prin-
cipalmente do roteiro do astrólogo André de San Martin
e doutros seus papeis e livros, tomados em Ternate na
nau de Espionsa, como de tudo dá larga noticia João
de Barros 20.
E de mais composições saídas da penna de Duarte de
Resende não encontro noticia.
r Barbosa Machado. Bib. lusitana, I, 742, onde se transcreve
parte do titulo, encontrando-se este reproduzido por inteiro na se-
gunda edição, Lisboa, 1790. Inocêncio no Dic. bibliographico, II,
214, dá, conto sendo o rosto eia primeira edição, o frontespicio da
segunda.
18 Barbosa Machado, loc. cit., dizendo ter a obra sido escrita em
1Y2_! no que se enganou, não tanto pelo que afirma Severim de Fa-
mo veremos, mas principalmente porque só nos fins ele oitu-
bro daquelle anuo, como acima vimos, chegou a náu ele Espinosa a
Ternate.
19 Vida de João de Barros, p. 28 elos Discursos potiticos.
Terceira Década, liv. v, cap. x.
Dl 'AR 11 Dl RESEND1 81
Era elle já falecido cm 1563, quando se imprimiu a
Terceira Década da Ásia de João de Barros, que, tratando
como leal amigo de pugnar pela reputação do seu pa-
rente, declara provir um erro geográfico contido numa
relação da viajem de Magalhães escrita por certo autor,
unicamente delle haver mal usado das palavras de Duarte
de Resende no seu Tratado da navegação de Maga-
lhães, onde o tal erro não aparece, apesar da obra ser
citada. Quantp á maneira por que o tal escritor, que não
nomeia, houve á mão o manuscrito de Resende, explica:
'•ou foi do tratado que elle me dirigio, que eu empres-
trei, ou também elle em sua vida daria o treslado a
outrem.. -'.
Não ha pois duvida; era então Duarte de Resende
já finado. Se casou, se teve descendência, ignoro abso-
lutamente.
Terceira Década, liv. v, cap. x, fl. 147 v. da ed.. de 162S.
6
A suposta fraternidade de Garcia
e André de Resende
Para mim, ao ler a verba testamentária de Garcia de
Resende na qual Jorje de Resende é designado por antono-
másia "meu irmão.,, converteu-se logo em certeza abso-
luta a bem fundada suspeita de que entre o compilador
do Cancioneiro e o autor das Antiguidades de Évora o
parentesco existente não provinha de serem filhos do
mesmo pai. Devo porem ainda insistir neste ponto, por-
que me podem objectar não haver Garcia de Resende
nomeado para a sucessão do vinculo, ou delia excluído,
a André de Resende e sua descendência, por elle ser
frade, e que por tanto o facto delle não aparecer men-
cionado no testamento de Garcia não destroe comple-
tamente a suposição de haverem sido irmãos.
Apesar do argumento não parecer de peso, convém
desfaze-lo, e para isso começarei por pôr os pontos,
como os documentos no-los apresentam.
hm 8 de setembro de 1533 escreveu Garcia de Re-
sende o seu testamento. Nelle instituiu um vinculo;
indicou para a sua administração a ordem de sucessão
a seguir entre os seus descendentes; e finalmente decla-
rou que, no caso de completamente se eistinguir a sua
descendência, "fique tudo a meu irmão, ou a seu filho
mais velho, se elle vivo não for... A 3 de fevereiro de
153o morreu Garcia de Resende, e a 18 de julho do
anno seguinte Jorje de Resende, na qualidade de tio e
ANDRÉ DE RES1 NDE 83
tutor do menor Francisco de Resende, filho mais velho
do falecido, requereu traslado autentico da verba tes-
tamentária. É isto o que declara o respectivo rejisto ii<>^
logares lá atrás citados.
Ciarei;! de Resende tinha só um irmão, por isso não
carecia de o nomear quando o chamou e á sua descen-
dência para a administração do instituído vinculo ; por-
que, se tivesse mais de um irmão, precisaria, é obvio,
declarar qual era o escolhido, mesmo até para afastar
inevitáveis litijios futuros que o instituidor cauteloso
desejaria evitar.
Admitamos porem por um instante, só por um ins-
tante, que André de Resende era irmão do cronista
e que este, por aquelle, na sua qualidade de frade,
ser inábil para poder suceder no vinculo, entendesse
não carecer de o excluir da administração. Admitido
isto, havemos forçosamente de concluir que apenas dois
irmãos tinha Garcia de Resende: o frade, inábil; o meu
irmão do testamento, Jorje de Resende. D'aqui não se
pode fujir; porque, se existisse mais algum irmão, tor-
nava-se absolutamente indispensável ao testador indicar
pelo nome aquelle para quem, na falta de descendência
sua, reservava o direito de suceder na administração.
Pois bem, eu vou já provar que André de Resende teve
pelo menos dois irmãos os quaes, admitida a impugnada
suposição, haviam também de ser irmãos de Garcia.
No seu testamento, datado de 1 de dezembro de 1573,
na parte escrita depois de 1571, por duas vezes se re-
fere André de Resende a minha sobrinha Cristina de
Resende: da primeira vez institue por tutor de seu filho
Barnabé ao marido de Cristina, Brás Rodriguez Ribeiro,
cidadão de Évora, nomeado também para testamenteiro;
da segunda vez deixa-lhe, a ella, um legado de vinte mil
reaes o qual mais adiante confirma.
Quem era esta sobrinha? — Era uma filha adulterina
84 ESTUDOS
de Manuel Vaz de Resende, morador em Évora, havida
de uma sobrinha de sua mulher, Teresa de Vila Lobos,
já ao tempo, pela sua idade, incapaz de ter filhos. Alegando
este e outros motivos, entre elles o de não ter filhos le-
jitimos, pediu Manuel Vaz para sua filha ser lejitimada
e obteve carta réjia de lejitimação em 14 de junho de
1548 '. Na mesma data foi passada outra análoga
carta a favor de uma irmã de Cristina, Antónia, nas-
cida dos mesmos pais-. Em 26 de janeiro de 1558 foi
celebrada em Évora, entre as duas irmãs, uma escritura
de composição sobre as partilhas por morte do pai 3;
a 10 de oitubro do mesmo armo já Cristina estava ca-
sada com Brás Rodriguez, tanto que naquella data assi-
naram a escritura de venda de umas casas ''; em 1 de
dezembro de 1573 a mesma Cristina é contemplada por
seu tio André de Resende no seu testamento. Quanto a
Antónia de Resende encontro apenas a indicação de
haver casado com Afonso Monteiro, moço da camará
de D. Sebastião '. Notarei ainda que Cristina de Re-
sende não pode ser a "sobrinha orfan e bem pobre,
com outro minino seu irmão, os quaes eu a meu cargo
tomei«, a que se refere mestre André na sua carta de
19 de março de 1547 endereçada a D.João de Castro G;
1 Perdões e lejitimações de D.João III, liv. 60, fl. 101 v.
- //;/. A mesma Antónia, ou outra de igual nome. havia já
sido lejitimada por carta de 21 de agosto de 1539, sendo então de
dois annos de idade (ibi. liv. l.o, fl. 261 v.). Nesta carta não se no-
meia a mãe e o pai aparece intitulado cavaleiro fidalgo da casa do
Cardeal Infante D. Afonso; alega-se porem o mesmo motivo da mu-
lher de Manuel Vaz ser já velha para poder ter filhos.
:! Genealogia de Resendes, nis. de letra de José Lopez de Mira,
secretario do Santo oficie Bib. publica de Évora, arm. X, mac. 26,
cod. 1.° Manuel Vaz de Resende havia falecido a 5 de oitubro
d.e 1Õ52.
' Sr. António Francisco Barata, André de Resende, Lúcio .?,paj. 15.
•■ Cit. Genealogia de Resendes.
6 Boletim de bibliographia portugueza, I, 153; Documentos para
a historia da typographia portugueza, nos seea/os xvi <• XVII, I, 13.
<s
E
I s * S '5R?i *^>
5
u
ANDRÉ DE RI SENDE 85
não pôde ser, porque Cristina no anuo seguinte foi le-
jitimada a requerimento do pai ainda vivo, e só consta
ser órfã dez annos mais tarde.
Cristina, sobrinha de André de Resende, era filha de
.Manuel Vaz de Resende, o qual vinha a ser por tanto
irmão do celebre humanista. Manuel, que tinha já uma
filha de dois annos em 1539, era, sem duvida nenhuma,
não só vivo, como até de maior idade em 1533 quando
Oarcia de Resende escreveu o seu testamento.
Outro irmão do famoso antiquário é por elle próprio
nomeado na acima apontada carta de lo de março de
1547". Xella pedia a D. João de Castro quisesse prote-
jer e servir-se de um irmão que lá tinha em Goa, cha-
mado João Rodriguez, o qual partira havia muito para
a índia, deixando-o no reino "pouco mais de minino».
André de Resende deverá ter nascido pelos annos de
1500; partira por tanto João Rodriguez para a índia
nalguma das armadas dos annos de 1508 e seguintes \
Aqui temos por tanto dois irmãos de André de Re-
sende que também o haviam de ser de Garcia, se os dois
Resendes que mais se distinguiram nas letras houvessem
sido filhos do mesmo pai. Seriam pois quatro os irmãos
de Garcia de Resende, existentes e todos de maior
idade, quando elle fez o seu testamento. Como se pode
admitir que elle, se o facto fosse verdadeiro, pudesse,
sem receio de confusões, deixar, na falta de descenden-
tes seus, a administração do instituído vinculo a meu ir-
' Esta carta foi dirijida de Lisboa a D. João de Castro, g
nador da índia; eucontra-se impressa no Boletim acima citado e da
sua ultima pajina apresento aqui o fac-simile, para se poder compa-
rar a letra com a dos assentos de baptismo publicados pelo sr. A. F.
Barata no III vol. do Arrh. hist. port., a fim de não restarem duvidas
da carta ser do próprio punho de André de Resende, apesar de lhe
faltar a assinatura por haver sido cortado o papel.
s Não encontrei o seu nome nem na Emmcnta que em 1907 pu-
bliquei no Boletim da Sociedade de Geographia, nem na outra que
existe ms. na Bib. Xac. de Lisboa.
86 ESTUDOS
mão e a seu filho mais velho? Ninguém acreditará na
possibilidade de tal haver sucedido.
Ainda, alem destes dois, talvez que também fosse ir-
mão de André de Resende um Nuno Vaz, escudeiro da
casa da Rainha D. Caterina e pai de Rodrigo Ferreira,
rapaz de dezaseis para dezasete annos quando foi preso
pelo Meirinho de Évora por o encontrar na rua trajando
calções novos de seda de tafetá-.; e não só o prendeu
como lhe apreendeu os calções e a espada. Recorreu
Rodrigo Ferreira a seu tio mestre André de Resende e
este, alegando a curta idade do sobrinho, havia pouco
vindo de Castella e ignorante da defesa das sedas, al-
cançou para elle carta de perdão outorgada em Lisboa
a 14 de setembro de 1566''. Se Nuno Vaz não era irmão,
como parece indicar o patrinimico (o pai do humanista
chamou-se André Vaz; um dos irmãos, Manoel Vaz),
seria meio irmão ou cunhado '"; mas bastam, para o
meu propósito, os outros dois acima apontados.
Toda esta argumentação cai por terra, dirão os que
souberem da existência, se alguém o sabe, do documento
a que já me vou referir, porque numa escriptura de 12
' "Dom sebastião- • ■ Faço saber que mestre andre de Resemdeme
emviou dizer por sua petição que em euora o meirinho manoel da
silua prendera hum seu sobrinho filho de nuno vaz escudeiro da casa
cia Rainha minha senhora e avo e que a ella serujra nas Cousas que
lhe mandaua pêra sua casa e que delia avya mister (parece-me qiie em
vez de ella e de delia se deverá Ar elle rdelle; seria engano do escrivão
ao trasladar o doe.) o qual se chamava Rodriguo ferrevra e jsto por
o achar com humscalçõis nouosdesedá de tafetá e os tomara e asj a
espada e o acusaua por a dita seda e por o dito Rodrigo ferreyra ser
de xbj anos ou xbij e aver pouco que viera de castella e não
tinha pêra sj que a seda era defesa em calçõis me pedya lhe fizese
de aver por bem que por o dito caso se não procedese mais
Contra elle e o Releuase de alguma culpa quell i tiuesee lhe mandase
tornar o que lhe asj fora tomado e Receberia merçe e declarou que
o dito Rodrigo ferrevra fora solto sob fiança. Ku vendo.., etc. Per-
dões e legitimações de D. Sebastião, liv. 42.° fl. 160.
10 Talvez fosse um dos testamenteiros da mãe de André de Re-
sende, os quaes elle diz haverem sido "o meu cunhado esua mulher
minha meia irmã e seus filhos» (Vida de Fr. Pedro, Porteiro, cap.
ANDRÉ DE RESEND1 87
de oitubro de 1502, lavrada em Évora nas notas do ta-
belião João Furtado, pela qual Garcia de Resende, "fi-
dalgo da casa dei Rei e escrivão da sua fazenda», por
tanto o cronista, comprara certo prédio, se nomeia entre
as testemunhas a "Diogo de Góes, escudeiro do Duque
de Coimbra, tio delle comprador, irmão de sua mãe
Ângela Leonor de Góes.. ". Ora esta senhora foi, na
opinião dalguns, a mãe de André de Resende, apesar
delle, no epitáfio a ella dedicado, lhe chamar Angela
Leonor Vaz, e o biografo seu contemporâneo, Leonor
Vaz Góes '-. Sendo assim, vinham por tanto Garcia e
André a ter a mesma mãe, e como ambos eram Resen-
des, o pai forçosamente também havia de ser comum;
não se assustem porem; não é este o cachopo em que
o meu barco naufragará, se tão triste sorte lhe está re-
servada.
22, cm Leitão Ferreira, Vida de André de Resende no Arch. hist.
port.); ou, com menor probabilidade, o Nuno Vaz a que o anti-
quário se refere no seu testamento, declarando ser já falecido e
ter-lhe ficado devendo certa quantia da renda de uma igreja, cujo
nome se apagou no doe, mas que seria a de Aguiar.
11 Bib. do sr. Visconde da Esperança, na sua quinta da Manisola
junto a Évora, cod. 80, mac. 24.
'- Tenho muitas duvidas sobre o nome verdadeiro da mãe de
André de Resende. Elle, no epitáfio que lhe dedicou, chama-lhe
Angela Leonor Vaz e creio ser esta a única vez que a nomeia nos
seus escritos. Bem sei que Diogo Mendez de Vaseoncellos, amigo e
primeiro biografo do celebre antiquário, diz ter sido sua mãe Leonor
Vaz Góes; mas também é certo haver André de Resende tido o fraco
de se querer afidalgar, a ponto de, na sua bem conhecida carta a
Jorje Coelho, haver produzido uma ascendência paterna, que bem
devia saber não ser verdadeira. Ora, se elle assim procedeu a res-
peito dos Resendes de seu pai, poder-se-ha admitir que deixasse de
enfeitar o nome de sua mãe com um apelido tão nobre como o de
Góes, se não fosse demasiada audácia? Custa-me a crer. E' verdade
que em Évora, no segundo quartel do século xyi, existiram vários
Góes (cf. na nota 37, paj. 50), tendo-se até um delles chamado
Barnabé, nome dado por André de Resende a seu filho; mas isso,
no meu entender, nada prova. Está porem provado que o prenome
Angelus, adoptado por André de Resende nas suas primeiras obras
antes d" famoso Lucins, foi homenajem de amor filial (cf. no notá-
vel estudo da sr.a D. Carolina Michaêlis de Vaseoncellos, Liicins
88 ESTUDOS
( ) códice citado é da letra do IV José Lopez de Mira,
secretario do Santo Oficio de Évora, bem conhecido
compilador de noticias históricas que pacientemente
copiava de tudo quanto lhe aparecia, documentos, ma-
nuscritos e até de livros impressos, e que veio a falecer
no primeiro quartel do secnlo xix. Delle não haver sido
bom paleógrafo, justamente o acusou Rivara; de muita
critica histórica, também não creio que fosse provido,
entretanto, nesta ocasião, não lhe faltou ella completa-
mente. Em nota a esta escritura declara o P.' Mira du-
vidar da miudeza com que o tabelião pormenorizara o
tal parentesco, mostrando assim não ter visto a escritura
orijinal, mas qualquer copia ou simples apontamento
encontrado algures, ou por alguém indicado se não mi-
nistrado. Duvida, e judiciosamente nota que o tabelião
faz fé somente nas clausulas substanciaes do contrato
que estipula, necessitando, o que adicionar sobre pa-
rentescos e fidalguias, doutra prova. Acrescenta, mas
claudica neste ponto, que o Garcia de Resende, outor-
gante na escritura, é outro que foi casado com Teresa
de Albuquerque.
Não sei se este outro Garcia de Resende existiu; delle
nunca encontrei memoria; mas que na noticia da es-
critura de 1502 se quis indicar o cronista, não ha du-
vida; basta elle aparecer intitulado escrivão da fazenda
dei Rei, e é até este facto que vem acabar de patentear
a impostura.
Xo sumario daquella escritura, como elle nos aparece,
Andreas Resendius Lusitanas, paj. 164 do III vol. do Arch. hist.
port.); mas não posso admitir, como Diogo Mendez de Vasconcellos
na Vita, que o Angela tosse sobrenome e não o nome próprio da
mãe do antiquário. Notarei por ultimo que o IV .Manuel da Fonseca,
na Évora gloriosa, p. 40"), chama áquella senhora Angela I
Vaz de (iões, vindo por tanto a variante Angela Leonor de <
pertencer, quasi exclusivamente, ;í noticia extractada no texto, facto
que de certo não serve para lhe reforçar a autenticidade.
ANDRÉ DE RES1 ND1 89
lia muita falsidade que eu não atribuo a José Lopez de
Mira, pelo contrario, elle até reparou no caso sem o sa-
ber comtudo resolver. Em primeiro logar nunca tabelião
nenhum, ao dar as confrontações de qualquer testemu-
nha de um contrato, entrou nas minudencias com que
neste aparece Diogo de Ooes !:;, facto suficiente para
recusar fé á tal noticia; em segundo logar, em 1502,
nem Garcia de Resende era fidalgo da casa dei Rei,
nem escrivão da sua fazenda. Em 11 de maio de 1515
ainda elle era simples cavaleiro da casa dei Rei, e só no
anno seguinte é que aparece com o foro de fidalgo e o
oficio de escrivão da fazenda, mas do Príncipe, note-se '''.
Parece-me que não careço de insistir. A tal escritura,
ou é suposta, ou na noticia delia dada acrescentaram
palavras que lá não encontraram.
Não me afastando muito do assunto, irei, a titulo de
curiosidade, extractar algumas noticias relativas a André
Falcão de Resende de uma Resposta aos quesitos do
13 Não encontrei nenhum Diogo de Góes que fosse escudeiro
da casa do Duque de Coimbra; porque não era elle de certo o Diogo
de Góes, fidalgo da casa dei Rei, possuidor de uma tença graciosa
de 16.666 rs. ela qual se lhe deu nova carta de padrão com salva,
por haver perdido a primeira, em Sintra, a 31 de julho de 1503
(liv. 19.o de I). Manuel, fl. 21); tença que elle, juntamente com sua
mulher Maria Brandoa, vendeu a seu genro António Lobo, também
fidalgo da casa, por instrumento feito em Évora a 7 de dezembro
do anno seguinte (liv. 42.° de 1). João III, fl. 23). Não era certamente
este, apesar de morador em Évora, a testemunha da escritura de
1502, nem era também, já agora advertirei, o cavaleiro da casa dei
Rei que por carta de 26 de agosto de 150õ foi nomeado almoxarife
dos fornos da porta da Cruz, em Lisboa (liv. 44." de D. Manuel,
fl. 1), a quem se passaram cartas de quitação em 17 de fevereiro de
1512 e 11 de setembro de 1517 (Arch. hist. port., I, p. 400 e 401), e
a quem, em 2 de abril de 1521, se mandaram pagar sessenta mil
reaes do seu casamento (Lousada, Sumários da Torre do Tombo, 1,
fl. 570 v. mini). Era, provavelmente, o Diogo de Góes, mari
Leonor Vaz e pai de Antónia, baptisada na igreja de Santo Antão
de Évora em 30 de junho de 1536, como ficou apontado na n
paj. 51.
11 Vide os does. atrás cit, paj. 37 e 39.
90 ESTUDOS
///. Lente de Véspera de Cânones na Universidade de
Coimbra o sr. Si/não de Cordes Brandão e Ataíde. É
um ms. sem assinatura o qual parece, como em nota lhe
poz mão desconhecida, haver sido ordenado pelo Ar-
cebispo Cenáculo '•'.
"Do inventario e partilhas feitas em Évora por morte
de Jorje de Resende em 1547, de que foi juiz Fernão
Sardinha e escrivão Roque da Mata, consta: 1.°, que os
herdeiros, filhos de Jorje de Resende e de sua mulher
D. Lucrécia Falcoa, cabeça de casal, eram oito, Garcia,
António, Francisco, Brás, André, D. Brites, D. Filipa e
D. Guiomar; 2.", que André tinha vinte annos e por
tutor seu irmão Garcia.
"Sendo André Falcão de Resende de vinte annos em
1547, segue-se que tinha nascido em 1527, e que, fa-
lecendo em 1598, se é verdade o que afirma Barbosa
Machado na Bib. lusitana, morreu com setenta e um
annos ,:'.
"Nas notas do tabellião Fernão Darcas, fl. 56, está uma
escritura feita na casa do inquisidor de Évora, João Al-
varez da Silveira, em 3 de oitubro de 1548, e nella se
diz: 1.°, que, querendo o Cardeal Infante D. Henrique
que André Falcão de Resende fosse clérigo, o tinha
feito seu capelão fidalgo; 2.°, que André estudava artes
e teologia na Universidade de Coimbra; 3.°, que, para
continuar na mesma os taes estudos, vendeu, com li-
cença do Juiz dos Órfãos e consentimento e abonação
de seu irmão e tutor Garcia Falcão de Resende, a Se-
'• Bib. publ. de Évora, anu." \. n.o 26, cod. 1 °
Jli Na incompleta edição das poesias de André Falcão de Re-
sende, impressa em Coimbra no terceiro quartel do século xix, repro-
duz-se, na p. 413, :l única Elejiapor aquelle poeta composta, e pre-
cede-se a reprodução de uma nota "fielmente transcrita cio ms..,,
termos: "Feita (a Elejia) pelo A. sobre o mal da peste, que
havia na cidade de Lisboa, onde elle estava no anno de 1599; da
qual peste elle morreu. E foi a derradeira obra. que compoz».
ANDRÉ DE RESENDE 01
bastião de Macedo, camareiro e guarda roupa do dito
Cardeal, e a sua mulher D. Helena Juje '', um quinhão
que lhe coubera da lejitima de sua mãe, D. Lucrécia
Falcoa, na herdade de Men coveiro.
"André Falcão de Resende, filho de Jorje de Resende,
ainda em 1553 se conservava capelão do mesmo Infante
Cardeal, com moradia de setecentos reaes por mês e al-
queire de cevada por dia, como consta das Provas, VI,
632.
"Nas notas do tabelião Fernão Darcas, fl. 104, se acha
uma escritura de venda de uma vinha sita em Valbom,
que fizeram, em 18 de janeiro de 15Ó3, André Falcão
de Resende e sua mulher D. Leonor de Almada, a Ho-
nório Rosado e a sua mulher Joana Calada. Nesta es-
critura já não vem nomeado capelão (extraordinário
seria se viesse!), mas somente fidalgo da casa do Infante
D. Henrique.
"André Falcão tinha casado com Leonor de Almada,
tendo tido delia um filho baptisado na Sé de Évora a
7 de agosto de 1560, com o nome de André, do qual
foram padrinhos Manuel Mendez Correia, e mestre An-
dré de Resende, e madrinha D. Isabel de Almada. Lste
assento está a fl. 74 v
"André Falcão de Resende era sobrinho do cronista
Garcia de Resende, o qual era irmão inteiro de Jorje
de Resende seu pai; era também sobrinho de mestre
André de Resende, filho de André Vaz de Resende que
era irmão inteiro de Francisco de Resende, pai do cro-
nista Garcia de Resende e de Jorje de Resende, de quem
foi filho André Falcão de Resende
'" Helena Jorje lhe chama o nobiliário de que se serviu osr. Gui-
lherme J. C. Henriques, a p. 142 da sua obra Alemquer e o seu
concelho, part. x. - Sobre estes Macedos veja-se um artigo do sr. Pedro
de Azevedo, no Arc/i. hist. port., I, 371. Desta escritura dá noticia
o sr. A. F. Barata a p. lõ do folheto André de Resende, Lúcio/
02 ESTUDOS
"Ora Francisco de Resende, pai de Jorje e do cronista
Garcia, era irmão de André Vaz de Resende, que foi
pai de mestre André de Resende, e ambos filhos de
Marti m Vaz de Resende, e desta sorte se vem em claro
conhecimento que mestre André de Resende era primo
inteiro de Jorje de Resende e do cronista Garcia de Re-
sende,,.
Assim termina a tal Resposta, não me atrevendo a ga-
rantir a exactidão de todas as informações nella contidas.
Sobre outras noticias da vida de André de Resende
não me alargarei, porque ao tempo que estes estudos
serão publicados, já deverá ter aparecido no Arch. hist,
port., para onde a transcreverei, a biografia tão inteli-
jente e concienciosamente elaborada pelo douto aca-
démico Francisco Leitão Ferreira, a qual, orijinal e iné-
dita, se guarda na Biblioteca Nacional de Lisboa, cod.
Ó41 do fundo antigo; porei aqui apenas, por na referida
biografia pouca referencia haver ao filho do ilustre ebo-
rense, as memorias acerca delle encontradas por mim.
Andava mestre André de Resende nos sessenta annos,
quando lhe nasceu um filho havido em "mulher não
casada,,, ao qual poz o nome de Barnabé e lejitimou,
sendo elle de sete para oito annos, por instrumento feito
em Lisboa pelo tabelião António Pinheiro, a 9 deoitubro
de 1567, lejitimação confirmada por carta réjia do dia se-
guinte. Is É pouco vulgar, não me lembra de a ter jamais
|v; ( ) dr. mestre André de Resende enviou dizer que houvera um
flho, sendo de ordens sacras, de uma mulher não casada, o qual se
chamava Barnabé e era de idade de sete annos para oito; e porque
não tinha herdeiro forçado nenhum, ascendente nem descendente, o
queria lejitimar para lhe soceder e\ testamento, ab intestato e por
doação, e a o ter lejitimado como parecia da lejitimação que ofe-
recia, etc. Carta de lejitimação dada em Lisboa, a 9 de oitubro de
l 567 (Perdões e legitimações de D. Sebastião e D. Henrique, liv. 26.°,
fl. 559 v.).
ANDRÉ DE RESENDE 93
encontrado, e tem um tanto de misteriosa, aquella for-
mula de designar o estado da mãe de Barnabé. Filho de
mulheres solteiras, de mulheres casadas, de viuvas e até
de freiras, encontram-se frequentemente nas cartas réjias
de lejitimação; mas filho de "mulher não casada» é es-
tranho, repito. Seria ella alguma escrava preta? talvez,
porque Barnabé de Resende dificilmente se livrará da
fama de haver sido mulato. Seria ella alguma viuva
de tal qual posição social a quem não se quisesse com-
prometer? ta'mbem é possível e mais para esta hipótese
me inclinaria, atendendo a que o rapaz foi dado a criar
ao Duque de Aveiro, se me não constasse o pouco
escrúpulo que se ligava então a admitir mulatos em
casas fidalgas. Elle até sucedia ter o dono da casa de os
aceitar como filhos seus lejitimos!
Fosse porem como fosse, o certo é ter André de Re-
sende no seu testamento deixado o filho por herdeiro
de seus bens, com a condição que, falecendo elle "sem
casar, ou sem filhos legítimos ou legitimados, em tal
caso quero que a dita fazenda fique ao mosteiro de
S. Domingos desta cidade (Évora), a saber: os bens de
raiz, que são os que atraz tenho nomeados l9, tirando
umas casinhas de que ao diante farei menção, e quanto
aos bens moveis, poderá dispor e testar delles como lhe
bem parecer, depois que elle fôr em idade para isso».
Mais adiante obriga a sua fazenda a uma missa annual,
de esmola de quinhentos reaes, dita no referido mos-
teiro, no oitavario dos finados. Nomeia tutor de Bar-
nabé a Brás Rodriguez Ribeiro, cidadão daquella cidade
e marido de Cristina de Resende, sobrinha do testador;
e declara que deu o filho ao Duque de Aveiro a quem
19 "Declaro que ha fazenda que eu hora tenho, que é ha minha
quintãa (a de Valbom), et casas en que moro, et três outras moradas de
casas que se allugam ethomovil de casa...,, Vejam-se os extractos do
testamento no Arch. hist. port., onde deverão aparecer no vol. VIII.
94 ESTUDOS
pede muito "que o favoreça e ajude para com el Rei
em acrescentamento;,.
Este Duque de Aveiro era o 2.° que em 1571 havia
sucedido na casa a seu pai i0 ; mas, apesar de André de
Resende, invocando as suas antigas relações com os
falecidos duques, lembrar a seu filho "que fui mestre
do Duque seu pay, e da Duquesa sua mayW| parece com-
tudo não ter conseguido eficaz protecção para o filho,
que teve curta vida e nenhum "acrescentamento,-, con-
soante já vamos ver.
Menos de anuo e meio depois da morte do anti-
quário celebre, no dia 17 de abril de 1575, na igreja de
Santo Antão de Évora, casou Barnabé de Resende, con-
tando apenas quinze para dezaseis annos de idade, com
"Eugenia Marneta, digo, Mancata,, "-'. Não foi certa-
mente nenhum brilhante casamento e destoou das fu-
maças de fidalguia, na realidade bem pouco fundamen-
tadas --, que mestre André de Resende assoprava aos
olhos dos amigos. Pouco tempo durou a união: a 18 de
oitubro de 1596, com trinta e seis annos apenas faleceu
em Évora Barnabé de Resende, segundo a informação
daquella cidade enviada a Leitão Ferreira e por elle
aproveitada na sua biografia de André de Resende,
informação certamente pouco verdadeira num ponto,
quando diz não ter Barnabé deixado sucessão.
Deixou, é certo, e prova-o um documento encontrado
pelo P.1' Mira e por sua mão extratado, o qual em re-
sumo declara o seguinte. Em Évora, a 30 de maio de
1603, sendo juiz dos órfãos o licenciado Paulo Oomez
da Fonseca e escrivão do dito juizo Nicolau Coelho, se
fez o inventario dos bens de António de Resende, mo-
'-'■' Brasões de Cintra, II, 477.
'-' I.iv. 37 dos assentos da referida freguesia, fl. 139.
'-"' Cf. no Arch. hist. port., IV, 39.
ANDRÉ DE RESEND1 ()t
rador no bairro de S. Mamede, do qual não procederam
filhos apesar de casado com Caterina Dias da Costa que
ficou por cabeia de casal. No dito inventario se parti-
lharam, entre outras fazendas, as casas e a quinta de
Valbom que mestre André de Resende havia vinculado,
porque o vinculo havia sido anulado, ficando apenas
subsistindo, e só na quinta, a pensão de quinhentos réis
para a missa ordenada pelo instituidor no mosteiro de
S. Domingos. Constava a anulação do vinculo de uma
sentença alcançada contra os frades por Barnabé de Re-
sende, filho do dito instituidor e pai deste defunto, a
qual anda junta ao referido inventario - ':.
A geração de André de Resende eistinguiu-se dois
séculos antes da de Garcia; c, se na deste existiu a ma-
cula de sangue judaico, a do outro não se livrou da
suspeita do labeo de sangue africano.
Aldeia, setembro de 19(W.
23 Cit. códice SO da hib. do sr. Visconde da Esperança.
V
A RAINHA D. LEONOR
Um artigo publicado no "Jornal do Cornmercio«, em
agosto de 1901, acerca do mosteiro da Madre de Deus
veio despèrtar-me a vontade de dar á lingua a respeito
das virtudes, feições, eiistumes, e manhas, da Rainha
D. Leonor, a mulher de D. João II.
Nas crónicas e historias tem ella geralmente passado
até hoje por uma excelente pessoa, devido sobretudo á
permissão e auxilio concedidos a Fr. Miguel de Con-
treiras para a fundação da Misericórdia. Esta admirável
instituição de caridade, filha de unia alma impregnada
nas mais sans doutrinas do evangelho, foi durante sécu-
los entre nós quasi o único amparo dos humildes e
desvalidos da fortuna. Por esse motivo milhares de bên-
çãos caíram sobre aquella, que a cortesania oficial pro-
clamou sua fundadora, ao passo que se ia obliterando a
memoria do pobre Trinitario, apostolo da caridade em
Lisboa, onde o povo o saudava reverente, quando o via
passar, esmolando, acompanhado do seu anão e do seu
jumentinho.
Em 15 de agosto de 1498, sendo rejente do reino a
Rainha D. Leonor, instituiu-se na capital a irmandade
da Misericórdia, e de Lisboa irradiou a instituição para
7
98 ESTUDOS
todas as cidades e vilas mais importantes do reino.
Sessenta annos mais tarde já Fr. Miguel de Contreiras
estava esquecido, e em completo olvido ficaria, se não
fossem as reclamações dos padres da Trindade.
Não quero desmerecer na gloria que a E). Leonor
pertence nesta pia fundação. E evidente que, sem o con-
sentimento da Rainha, se não teria erijido a irmandade;
é certo que, sem a sua muito eficaz protecção, cila não
teria prosperado; mas desejo pôr as coisas no devido
logar. A viuva de D. João II merece louvor por ter ani-
mado, auxiliado e amparado a Fr. Miguel de Contrei-
ras na efeituação da sua obra, e por isso deve ser tida
na conta de caridosa mulher. Este caso figura-se-me,
em ponto menor, muito parecido com o dei Rei D.José,
talvez o melhor soberano que nos dará a casa de Bra-
gança, unicamente porque sustentou o .Marquês de Pom-
bal.
A caridade é uma sublime virtude. É a que mais ha
de agradar a Deus, e por tanto aquella a que de prefe-
rencia devem recorrer, para alcançarem a misericórdia
divina, os que trazem a conciencia carregada.
Não seria pois este o motivo por que a Rainha D. Leo-
nor praticou aquella virtude? E não seria Er. Miguel de
Contreiras, seu confessor, que lhe apontaria o expiatório
caminho?
blla, a Rainha, como os cronistas no-la pintam, não
parece ter sido estremosa consorte, nem ter largado a mãe
e os irmãos para seguir o marido. Sempre agressiva
talvez, mostra-se perfeitamente hostil contra elle nos
últimos annos da sua vida. Abandona-o na sua doença;
deixa-o morrer sósinho, sem lhe prestar os desvelos de
enfermeira carinhosa, sem lhe dar a consolação de ouvir
uma doce voz de mulher amiga nas horas do padeci-
mento. Desamparado, no meio de homens mais afeitos
ao uso das armas do que a ministrar tisanas, finou-se
RAINHA D. LI ONOR 99
I ). João II nos confins do Algarve, clamando pela
Rainha que o não quis nunca ouvir. Sc no coração delia
existiu a caridade, ou brotou depois do outono de 1495,
OU era surda á voz do marido.
Havia muito que o filho bastardo, o possível pomo
da discórdia conjugal, tinha nascido; havia muito que
sua mãe andava afastada; e aquella ofensa parecia dever
estar perdoada e esquecida, porque D. Leonor tinha em
1490 recebido de bom rosto, pelo menos na aparência»
a D. Jorje, o não culpado fruto do adultério.
A morte do Príncipe D. Afonso, do único filho, essa
grandíssima desgraça, devia ter estreitado os laços de
amizade que uniam os conjujes, por isso que para elles
abriu uma perene fonte de lagrimas, que a saudade em
ambos alimentava, e que a dor para amparo reciproco
não quereria ver separada. Não sucedeu porem assim,
e desde então é que em D. Leonor se começou a mani-
festar mais a aversão pelo marido, o afecto pela família.
As crónicas de Rui de Pina e de Garcia de Resende
dão-no claramente a entender; alguns documentos o
indicam.
Em 1488 já D. Leonor tinha mandado edificar umas
casas para os banhos, e uns aposentos para os enfermos,
que concorriam ás caldas do termo da sua vila de Óbi-
dos. O logar porem era ermo, e por essa razão não po-
diam os doentes prover-se lá do que lhes cumpria.
Recorreu a Rainha ao marido, o qual, "por neste bem
havermos parte,,, concede, em 4 de dezembro, amplos
privilejios aos moradores, até ao numero de trinta vizi-
nhos, que vierem viver nas sobreditas caldas '. Este foi
o principio da hoje florescente vila das Caldas da
Rainha.
Em 1490, a 14 de julho, em Évora, "esguardando ás
1 Chancelaria de D.João II, liv. 14.°, fl. õ5 v.
100 ESTUDOS
muitas despesas que sabemos que a Rainha tem em sua
casa, a que o seu assentamento e rendas não podem
;, assim como a seu estado, e serviço nosso e seu
pertence, e pelo muito amor que lhe temos,, , manda
D. João li dar de assentamento, de dotação, a D. Leonor,
.1 contar do principio do anno corrente, dois contos
seiscentos e vinte e cinco mil reaes, isto é, mais oitocen-
tos e sessenta e cinco mil reaes, do que já tinha -. Foi
um aumento de cincoenta por centro feito por um Rei,
que sabia bem o valor do dinheiro, exactamente no
tempo em que se encontrava em frente dos enormes
encargos trazidos pelo casamento do Príncipe.
No mesmo anno, nas Alcáçovas, a 11 de setembro,
el Rei autoriza a Rainha a poder dispor em testamento,
para obras pias, dos vinte e oito mil escudos de oiro
das suas arras, ainda no caso delia o preceder no tu-
mulo :;.
Em 1401, vinte dias antes da morte do Príncipe, a
23 de junho, concede el Rei em Santarém, a requeri-
mento de D. Leonor, para beneficio do logar das Caldas,
que este seja isento do julgado das sisas de Óbidos,
tendo juiz próprio, que logo nomeia vitalício, escolhendo
para o cargo o provedor que pela Rainha estava nas
Caldas '. As outras concessões réjias ao hospital e banhos
são do reinado de D. Manuel.
A 13 de julho do referido anuo morreu o Príncipe
D. Afonso, e o apartamento da Rainha tornou-se mani-
festo.
Não foi só o ódio ao bastardo que imperou no animo
delia; foi, mais do que isso, o receio de ver a coroa
desviada da cabeça de seu irmão. Sempre a família
• Chancelaria de D.João, II, liv. 16.°, fl. 85.
; Ibidem.
1 Ibidem, liv. 1(>.<\ ti. 1 il.
RAINHA D. I I ON< IR 101
antepondo-se ao marido, ainda que, neste caso, com
razão.
D. Leonor pelos seus conselhos conseguiu, conforme
assevera o cronista, que D. João II declarasse herdeiro
do trono e seu sucessor a I). Manuel; e, se cila alcançou
isto vivendo com o marido em termos agressivos, não
devemos crer que, usando com elle de meiguice e
bom trato, não obtivesse o mesmo resultado? D. João II
era politico#bastante, e em demasia amigo da sua gente,
pela lei e pela grei, para não querer, nomeando a coroa
em D. Jorje, atiçar a revolução no reino, e lança-lo em
aventuras que lhe poderiam ser fataes. Havia de escutar,
como escutou, a voz da razão, que veio calcar os seus
afectos de pai, e acceita-la-hia com tanto mais presteza
e agrado, se, em vez de lhe ser atirada aos ouvidos com
voz áspera e modo duro, lhe fosse insinuada pacifica e
carinhosamente. Mas não pôde ser, porque existia a
sogra e a cunhada, e ellas dominavam o animo da
Rainha.
D. Leonor, repito, não foi a esposa cristã, não deixou
a família para seguir o marido. Este, teve muitas culpas,
não lhas quero atenuar; mas teve uma tremenda expia-
ção, moral e fisica. O que não sofreu elle ao ver, de
repente, o filho morto numa pobre cabana de pescado-
res? O que não padeceu, sentindo-se morrer, numa
intolerável agonia, abandonado por todos os seus? E,
se no seu espirito entrou a suspeita de lhe terem apres-
sado o fim. que tormentosos não foram seus últimos
dias ?
Não vou acusar D. Leonor de ter propinado a morte
a seu marido. Não tenho provas disso; mas parece-me
possuir já as suficientes para quasi poder afirmar, que
D. João II morreu efectivamente envenenado, como insi-
nuam Rui de Pina, Garcia de Resende, e o próprio
Damião de Góes, espirito bem esclarecido, na primeira
102 ESTUDOS
edição, a suprimida, da l.a parte da Chronica de D. Ma-
nuel ■'.
Dizem os dois contemporâneos que depois das festas
de Évora, em princípios de 1 401 , tora o veneno minis-
trado a el Rei numa pouca de agua que bebeu na
herdade da Fonte Cnberta, termo daquella cidade. Acres-
centam, ter-se a suspeita confirmado em muitas pessoas
pelo facto de Fernão de Lima, Copeiro mór, Estevão de
Sequeira, Copeiro pequeno, e Afonso Fidalgo, homem
da copa, "inchados e solutos como el Rei, antes delle
poucos dias todos três falecerem,, ''.
lia na asserção dos cronistas dois pontos a notai-:
primeiro, a data do envenenamento ; depois, o facto da
morte dos três homens.
Quanto á data, suponho ter havido engano, não só
porque, no parecer de médicos que tenho consultado,
não se conhece veneno que mate a quatro ânuos e tanto
de praso ; mas sobretudo, porque no tempo assinalado,
quando o Príncipe ainda não tinha falecido e pelo seu
casamento parecia ter assegurado a sucessão da coroa,
nenhum interesse havia em matar a el Rei. É preciso
por tanto procurar a ocasião do crime em tempos mais
prossimos do desenlace; mas para isso não tenho por
ora dados nenhuns, e na verdade a data do envenena-
mento, neste caso, para prova do sucesso é circums-
tancia mini ma.
Agora, quanto ao facto da morte dos três homens,
prova tremenda porque se não pode atribuir a mera
coincidência, direi o que sei.
Fernão de Lima morreu tão pouco antes dei Rei, que
este só na véspera da sua morte, a 24 de oitubro de 1405,
• Veja-se lá mais adiante o artigo Envenenado.
'• Resende, Vida de I). João II, cap. 128. íl. 181. Rui de Pina, no
\í da Chronica d ■ D.João //, declara o mesmoi:qnasi pelas
lalavras, omitindo porem o nome de Afonso Fidalgo.
RAINHA D. LEON< >R 103
é que assinou o alvará confirmando a cisa do Copeiro
mór a seu filho Diogo Lopez de Lima '. A mulher e
herdeiros de Afonso Fidalgo passou-se, a 0 de setembro
de 1497, carta de quitação do que elle recebera e des-
pendera no anno de 1494, e parte do de 1495, em que
elle se finou s. Á mulher e herdeiros de Estevão de
Sequeira foi lhe passada análoga carta de quitação em
3 de maio de 1499 '•'. Nesta, á primeira vista, não é tão
grande a clareza, mas, reparando-se bem, serve igual-
mente de prova.
Advertirei primeiro, que o facto do documento ser
passado três annos e meio depois da morte de D. João II
nada vale, porque muitas vezes mediaram prasos ainda
maiores entre as datas das cartas de quitação, e o tempo
do exercício dos responsáveis. Notarei depois, que a
quitação é dada a Estevão de Sequeira, "Copeiro que foi
dei Rei, meu senhor. . . de toda a prata e coisas que
recebeu o tempo que foi Copeiro,,. Portanto não chegou
a exercer o oficio no reinado de D. Manuel. Este
apressou-se, como se colhe da carta de nomeação "', em
designar para copeiro mór a Lourenço de Brito, não só
porque o oficio estava vago pela morte de Fernão de
Lima, mas porque houve algumas alterações nos oficiaes
mores, que nem todos continuaram a servir ao novo
Rei, que alguns daquelles oficio:; deu a criados seus,
pelo que se viu gente de mediana nobreza substituir
grandes fidalgos. Mas, se houve esta pressa com alguns
dos oficiaes mores da casa, outro tanto não sucedeu
com os oficiaes menores, que eram, por fim de contas,
Chancelaria de D. João III. liv. 41.". de Doações, fl. 72.
; .l/r//, hist. port., 1, 164, n.° S.
" Ibidem, II, 77. n.<> 1S7.
10 Carta de S de novembro de 1 407 (?) para ter o oficio de copeiro
mór, "pela guisa por que até era o foi por nossa carta... Chancela-
ria de í). Manuel, liv. 8.°, ti. 2.
104 ESTUDOS
os responsáveis, os que lidavam com os objectes e va-
lores cio serviço. Daqui pode-se concluir que Estevão
de Sequeira não serviu de copeiro a I). Manuel, porque,
como Fernão de Lima e Afonso Fidalgo, também morreu
pelos mesmos tempos o,ue D. João II, confirmando-se
neste ponto a asserção dos cronistas.
( :onsta-me, não logrei ainda ver o artigo, que o dou-
tor Manuel Bento de Sousa, a quem eu considero tanto
como todos os que o conheceram, atribue a morte de
D. João II á hidropesia, julgando até que a falta de cura
ou pelo menos de alivio, proveio de não ter el Rei tei-
mado no tratamento pelas aguas de Monchique, as quaes
ao principio na aparência recrudescem o mal. Respeito
muitíssimo a ciência e clara inteligência daquelle ilustre
medico, mas elle, neste caso, não tomou o pulso ao
doente ".
Aqui fico por hoje. Voltarei comtudo ao assumto que
é tão interessante, quanto enredado.
Antigamente os médicos mandavam tomar os remé-
dios pela manhan, em jejum. Era ótimo, porque se fi-
cava logo livre da maçada, e não se pensava mais em
tal, a não ser que a droga fosse daquellas que teimam
em se tornar lembradas.
Depois, começaram a receitar para uma hora antes
das comidas. Era terrível! Passava-se o dia de relojio
na mão; tinha de se voltar para casa mais cedo; trans
" Bem pelo contrario, como se verá nu artigo Envenenado,
o tlr. Manuel Bento acreditava no envenenamento.
RAINHA D. Mi >NOR 105
tornava-se a vida toda! Conheceram elles isso, e, como
verdadeiros amigos dos doentes que são, mudaram a
hora para ò principio das refeições. Acção filantró-
pica, pois tornou a pôr as coisas quasi tão boas como
d'antes. Mas não ficaram ainda as mudanças por aqui, e
agora já se prescrevem remédios para tomar entre dois
pratos ao jantar.
Ora eu também quero fazer arte nova, pelo menos
em prólogos, e por isso vou ministrar um aos meus lei-
tores no meio deste suculento pão e laranja.
Estes artigos são escritos nos intervalos que me dei-
xam outras tarefas. Como para ellas preciso juntar pri-
meiro todo o material, porque sem o ter todo reunido
não posso fazer obra; e como o arrebanha-lo leva
tempo, não só por estar espalhado, mas também por-
que são breves as horas que me dão para isso, resulta
haver ocasiões em que, apesar de trabalhar de dia, nada
posso adiantar á noite. São estes serões que Silex tem
aproveitado. Agora deu-se o caso de haver material re-
unido, de se poder por tanto fazer obra, e tiveram de
parar os ganchos. E aqui está, amigo leitor, o motivo
por que, ha perto de um mês '-, eu tenho deixado a
pobre Rainha D. Leonor em descanço.
Não lhe quero mal nenhum, note-se. Xão tenho por
ella simpatia, é certo; mas desejo ser justo, e vou dili-
jenciar se-lo. Não esconderei suas virtudes, ainda que
torne patentes seus defeitos; não encobrirei as graves
culpas de seu marido, apesar da enorme atracção que
para elle me arrasta.
D. João II não foi só um homem; foi um Rei. A
realeza era a sua essência, a ella estava subordinado seu
12 O primeiro artigo era de 3 de setembro de 1()()1 e este, de 26.
i ESTUDOS
espirito, que por causa delia era exclusivamente domi-
nado pela Politica, a verdadeira, a san; não essa reles e
baixa coisa que para aí vemos. Em quanto o Rei e 0
Marido caminharam a par, foi tudo bem; desde que
houve oposição ao Rei, pretendendo-se embaraçar seus
pensamentos políticos, desapareceu o Marido, ficou só
o Soberano, e tudo na vida intima dos conjujes andou
mal.
Não era unicamente o amor paternal que levava
D. João II a querer deixar a sucessãd da coroa a seu
filho [). Jorje; havia também no caso um grande con-
ceito politico. El Rei percebia que seria esse o único
meio de evitar o regresso dos Braganças, e isto não o
queria elle só por mesquinho espirito de vingança; um
mais elevado intento o incitava. D. João II tinha perfei-
tamente compreendido que era grande de mais aquella
casa [Xira caber em reino tão pequeno; conhecia admi-
ravelmente o instincto de cubica, eiva hereditária que
dominava todos seus membros; e receava para o so-
do reino a estada nelle de fidalgos tão orgulhosos,
ávidos e irrequietos, como os Braganças até então se
haviam mostrado. Em D. João II existia já o alto pen-
samento de reunir numa só monarquia todos os povos
da Península, e por isso procurou para mulher de seu
herdeiro a filha mais velha dos Reis Católicos. Parece
ter então adivinhado o futuro, porque a Princesa D. Isa-
bel chegou a ser jurada herdeira de Castella e Aragão,
e, se não fosse a desastrosa morte do Principe I). Afonso,
é muito possível que o filho de D. João II tivesse vindo
a ser o rei da Espanha toda.
Este sonho desvaneceu-se nos campos de Santarém
mas a ideia não se apagou de todo no espirito dei Rei,
que, repito, parecia antever o futuro. Se a expulsão dos
Braganças tivesse sido mantida, nunca teria sucedido a
grandíssima desgraça politica de 1040; e quanto mais
RAINHA D. I EON( IR 107
se repetissem as alianças com Castella, e quanto menos
se deixassem rebentar ramos do tronco real, tanto mais
provável e fácil se tornaria a união, como de facto se
tornou.
A tenacidade muita justa da Rainha D. Leonor, opon-
do-se aos desígnios do marido, transtornava-lhe os pro-
jectos, exaçerbava-lhe o génio, já "seco de condição e
não humano.., quando em saúde, muito mais irritável
agora que estava doente. "Fui tão mau bicho, que nunca
me acenaram, que não mordesse,, l:i; e a Rainha não
só lhe acenava, como o acirrava. Pode-se julgar do que
seria o viver intimo dos conjujes nos últimos annos do
casamento. D. João II com a sua ideia fixa apertava a
Rainha para que cedesse; ella, teimosamente, não transijia,
nem sequer ao menos em tornar a admitir o bastardo á
sua presença.
Foi uma luta tremenda, destas que se passam dentro
das quatro paredes de uma casa, e na qual a Rainha
D. Leonor sempre nobremente sustentou a causa do
direito; e é de justiça não se negar louvor a uma mu-
lher fraca e doente, que pugna pela razão e resiste aos
maus tratos de um homem duro e áspero, que encar-
nava em si o principio do absolutismo. O que não se-
riam essas diárias lutas caseiras? que preces fervorosas,
nesses tempos de fé viva, não dirijiria D. Leonor a Deus,
suplicando-lhe o fim do seu martírio? que angustias não
passariam pelo seu coração ao lembrar-se que el Rei
poderia, na sua obcecação, rasgar completamente o direito
e até, numa hora de desvairamento, manchar para sem-
pre sua memoria com um assassínio?
De passajem farei notar aos que teem D. João II na
conta de uma besta fera, que lhe seria fácil então mandar
matar o Duque de Beja, e que, não só semelhante pen-
13 Resende. Vida de D.João 11, cap. 211. fl. 121 v.
108 ESTUDOS
samento não veio á ideia dei Rei, mas até, se houve
crime, a victima foi elle próprio.
A luta foi tal, que as forças fisicas de D. Leonor cede-
ram, e a Rainha esteve gravemente doente em Setúbal
no mês de maio de 1494.
E aqui vem a propósito notar, para confronto com o
abandono em que D. Leonor deixou o marido no Al-
garve, quando elle lá se finou, que D. João II, ao saber
da doença da Rainha, correu logo, apesar de já bem
enfermo, a acompanha-la e assistir-lhe '''.
Resistiu ella porem ; curou-se, e, se saiu da doença
com a já debilitada saúde ainda mais avariada, conser-
vou a anterior firmeza de espirito, a mesma tenacidade
para proseguir na contenda.
Tentou D. João II ao principio vencer com dadivas a
oposição da Rainha, atacando-a pelo seu lado fraco;
sim, pelo lado fraco. Documentos provarão logo ao
leitor que não sou injusto acusando D. Leonor de avidez.
Trouxe-! he este defeito o sangue de seu bisavô materno,
o Duque D. Afonso de Bragança.
Por carta de 20 de janeiro de 1492 arbitrou-lhe el Rei
uma tença de quatrocentos cruzados de oiro pelos dízi-
mos, que a Rainha possuia, das jóias que entravam nas
alfandegas do reino, para que ella "melhor nisto pudesse
ser servida e mais certa,, '•'. Logo a seguir, por outras
'' Pina, Chrpnica de D.João II, cap. 69, paj. 181. "E eu o vi
chorar soo muytas lagrimas com grandes salluços e sospiros, aven-
do-a jaa por morta... afirma Garcia ele Resende (Vida, cap. 179),
forçando um pouco a nota.
" Chancelaria de D. Manuel, liv. 43.°, fl. 60 v. É muito curioso
este documento, e por isso extracta-lo-hei : "A Rainha D. Leonor,
minha molher, disse, como depois que é rainha, até agora, ella não
houvera a renda da dizima das jóias a fundo declaradas, que lhe
pertencia haver de todallas alfandegas de nossos reinos, per bem da
doação que os reis passados deram, e confirmaram, ás rainhas, a
saber: aljôfar, cendaes, ouro fiado e prata fiada, anéis, arcas, esca-
ninhos, espalhos, pentes, folha de ouro e de prata, alfreces, tornes,
RAINHA D. LEONOR 109
cartas de 28 e 30 do mesmo mês, confirmou-lhe amplís-
simos privilejios nas jurisdições das suas terras "'. E,
se mais documentos não existem desses tempos, é por-
que a Chancelaria, os livros de rejisto, de D. João II
estão, infelizmente, muito mutilados ''.
O ultimo caderno que existe de rejistos daquelle Rei
foi começado em Lisboa, a 11 de dezembro de 1492, e
está no liv. 7." a fl. 136 ls. Documentos posteriores a estes
tempos, só se 'encontram alguns transcritos na chamada
Leitura Nova, ou em cartas de confirmação dos reinados
seguintes. Não sei a que se deva atribuir aquella falta,
se a desleixo e descuido, se a propósito, ou a nenhuma
destas causas e simplesmente a efeitos do terremoto de
1755; mas sei que é uma perda irreparável, que ha de
tornar muito difícil o estudo da historia dos últimos três
annos do reinado de D.João II aos historiadores, quando
em Portugal os houver.
Salvou-nos comtudo a Leitura Nova um documento
interessantíssimo. Mostra-nos elle D.João II pretendendo
mais uma vez com presentes dobrar a Rainha aos seus
desígnios, e D. Leonor, apesar de se manter firme na
toda seda e retroz, froxam, aguilhoz, ambres, contas, botões, azevi-
ches, camicazes (camicaras, cm leitura nova), veos, fita de ouro e de
seda, canudos de ouro e de prata, coraes redondos, outras contas, e
veos e enxaravias de seda e de linho, chapins, cabelleiras, chapilheres,
alvaiade, tecidos, manilhas de ouro e de prata, e azeviches, cordões e
forcaduras, almíscar, crespinas de ouro e de seda, esmoleiras de ouro
e de seda, bolsas, candeias de Aragão pêra resar, açafates, rocas,
buetas grandes, sedeiras de seda e de linho, cordas de cardar a lgodao,
luvas, matalotes, e assim outras muitas cousas desta qualidade...
16 Chancelaria de D. Manuel, liv. 43.", fl. 57 v., e liv. 10.",
fl. 58 v.
1 Em S de fevereiro de 1529 fez-se inventario dos livros, então
existentes na Torre do Tombo, de rejisto dos reis passados e no
respectivo auto declarou-se constar a Chancelaria de D. João II de
catorze livros, com 5419 folhas ao todo (Arch. Iiist. port., III, 300).
Hoje são vinte e sete os livros, mas as folhas estão reduzidas a 1034,
,s Cf. no meu artigo A Chancelaria de D.João II no Arch. hist.
port., II, 337.
110 ESTUDOS
sua resolução, não hesitar em recorrer ao marido a
pedir-lhe favores.
Em Exora, no anuo da morte, a 13 de janeiro de
1405, passou-se nova carta, por se haver perdido a
primeira, na qual se declara ter a Rainha I). Leonor
pedido, "pêra as cousas que ella queria fazer por des-
cargo de sua alma», que lhe fossem aumentadas as arras,
alegando que não chegariam os estipulados vinte mil
escudos de oiro. El Rei anue, e eleva a quantia a vinte
e oito mil escudos, "esguardando nós o muito amor
que lhe temos, e como sempre folgamos de lhe fazer
graça e mercê das cousas que nos pede, por serem boas
e justas, e como isto que assim pede é por descargo de
sua alma-, ''•'. Mas a ideia fixa de D. João II lá transpa-
rece mais adiante no mesmo documento: "E por esta
rogamos e mandamos aos nossos filhos, sob pena de
nossa benção, e encomendamos aos nossos sucessores,
que lha guardem...
Esta formula é estranha, e não se pode deixar de
supor intencional. Se el Rei tivesse sucessor directo,
era a esse, a seti filho e herdeiro, no singular e não no
plural, que elle havia de ordenar, sob pena de sua ben-
ção, que desse cumprimento á carta. Como ainda man-
tinha a esperança de poder deixar a coroa a D. Jorje,
adoptou aquella formula vaga para designar o sucessor.
O que convinha saber-se, era, se aquella foi a norma
geral nos documentos réjios do tempo ; mas infeliz-
mente a mutilação da Chancelaria impede a averiguação.
Continuava pois a luta, variando apenas as formas:
alternavam as blandícias com os maus tratos.
Meado o verão de 1495 partiu D. João II de Évora
com a Rainha, e poucos cortesãos escolhidos, para as
Alcáçovas.
'" Liv. 1." de Reis, fl. 14.
RAINHA D. I EONOR 1 1 1
Foi nesta viloria alemtejana que proseguiu a contenda
domestica; foi lá que se feriram os últimos combates;
foi aí que a Rainha alcançou a vitoria.
Já perto do fim de setembro passou el Rei a Vila
Nova de Alvito; e a Rainha no entretanto foi avistar-se
a Viana com sua mãe a Infanta I). Beatriz, e sua irmã,
a Duquesa D. Isabel.
Não foi de certo a Viana, como diz Rui de Pina, por
mandado dei 'Rei, a ver se os conselhos das suas paren-
tas a demoviam do seu propósito. É preciso demasiada
injenuidade para se acreditar que a Infanta ea Duquesa
quisessem de boa fé concorrer para que seu filho e
irmão, D. Manuel, perdendo na Rainha o seu único sus-
tentáculo, fosse privado da coroa, que em lejitima suces-
são lhe pertencia. Não foi por tanto aquelle o motivo que
levou D. João II a consentir na visita, que só serviria
para retemperar as forças da Rainha, dando-lhe nova
enerjia para a luta, se esta ainda existisse; foi porque
ella já tinha terminado; foi para a Rainha levar ás duas
'senhoras a nova da vitoria, sua e da lejitimidade.
Tornaram ambos os esposos para as Alcáçovas, e
então mandou el Rei chamar Fr. João da Povoa, seu
confessor; com elle se fechou numa camará, e a elle, no
dia 20 de setembro) dictou seu testamento, no qual
declarou por seu herdeiro e sucessor ao Duque de Beja.
Foi tremenda a batalha no espirito dei Rei, mas nelle
venceu a ideia do "bem destes reinos e senhorios, e a
governança, regimento e defensão delles, a que tenho
muita obrigação e singular afeição e amor.,, Por isso,
"de meu moto próprio, certa ciência, livre vontade, po-
der absoluto, na melhor forma e maneira que eu posso,
quero e me praz,,, que o Duque D. Manuel fique por
verdadeiro herdeiro do reino, e o possua ;".
20 Sousa, Provas da Hist. genealógica, vol. II, paj. 1(>7, doe. 2S.
112 I SI ['DOS
A batalha foi tremenda, repito, e íaz-me pena pela
memoria de D. João II, que nesta occasião a generosi-
dade não tivesse completamente vencido o rancor, e que
nem uma única vez, em todo o longo documento, se
encontre nomeada a Rainha.
Ainda assim, se é feia a falta de generosidade no Rei
vencido; é feissima a falta de caridade na Rainha ven-
cedora.
Deixou ella partir o marido sósinho para as caldas
de Monchique; deixou recrudescer a doença, e em Al-
cácer do Sal, onde ficara com o irmão esperando a
presa, só tinha tempo para despachar troteiros velozes,
que todos os dias, a cada hora, lhe fossem trazendo no-
ticias do progresso da terrível agonia de Alvor -'. E
houve umas horas de pânico, naquella sexta feira em
que D. João II e todos que o rodeavam chegaram a jul-
gar a doença vencida.
() Duque já ia a caminho do Algarve; voltou porem
apressadamente, e os dois irmãos uniram fileiras. Na
segunda feira comtudo socegaram.
Na véspera, ao cair do sol no oceano, o grande espi-
rito largara o miserável invólucro: D. João II tinha
morrido.
E chegou o temno da ceva.
'-' É muito interessante o seguinte trecho ele um manuscrito, que
< meu estudioso amigo sr. Pedro A. de Azevedo me indicou: "Foi
(D.Sebastião) ver mais as casas em que 1 IRey D. João 2.o morreo, as
quais estão danificadas, que para EÍRey sobir a numa casa que não
«lê todo gastada, mandou vir numa escada ele mão pella qual
sobio, e dahi veyo atravessando a villa (de Alvor) pela principal rua.
e se veyo para Villa nova, aonde chegOU já de noite, e ceou. e dei-
tousse logo na cama, por aver ao outro dia de partir ante manhan
Monchique. Alvor lie de 250 pessoas, tem a alcaidaria o Conde
di Odimira». Relaçam da jornada eTEl-Rey D. Sebastião quando
partio da cidade de Évora, frita pelo Coronista João Cascão. Torre
mbo, t><<\. 1 Kll. paj. 625.
RAINHA D. LEONOR 1 13
li
Ali mesmo, em Alcácer do Sal, na terça feira 27 de
oitubro de 1495, foi D. Manuel aclamado rei. Passou
em seguida a Montemor o Novo, onde permaneceu
durante algitws meses, e logo ali se começou a destruir
a obra de D. João II. Em fevereiro do anuo seguinte
estava el Rei em Setúbal.
Nesta então villa, nos dias 23 e 24 de março, ex-
pediram-se seis cartas réjias confirmando á Rainha
D. Leonor o seu assentamento de dois milhões e seis cen-
tos e cinco mil reaes, as jurisdições das suas terras, as
doações de Alemquer, Óbidos, Sintra, Aldeia Galega, e
Aldeia Gavinha, e os quatrocentos cruzados em oiro
pelo dizimo das jóias :á. Ainda em Setúbal, coníirmou-
lhe el Rei a doação de Silves e Faro, no dia 26 de
maio23, tendo lhe doado a 11 um milhão e duzentos e
sessenta mil reaes de tença pelas rendas da sisa judenga
e genesim de Lisboa"2'. Alem disto, a 29 de abril, fizera
D. Manuel doação a sua irmã de umas casas naquella
cidade junto a Santo Eloi -', e a 0 de maio, "porque
sempre queremos que a dita Senhora seja bem servida e
paga de seu dinheiro, onde quer que em nossas rendas
o tiver,., dá-lhe a casa do Aver do Peso de Lisboa
para nella ter todas as suas rendas, sem de lá se dis-
trair quantia nenhuma antes da Rainha estar inteira-
22 Chancelaria de D. Manuel, liv. 10.°, fl. 58 v. e 60; liv. 4:3.",
fl. 57, 57 v. e 00 v.; e liv. 1." de Místicos, fl. 135 v.
23 Liv. 1." de Místicos, fl. 5/.
24 Chancelaria de I). Ma/mel, liv. 10.", fl. 59 v.
'-'' Liv. 1." de I^eis, fl. 96 v. Acerca da situação destas casas,
veja-se lá adiante o artigo O Camareiro.
8
114 ESTUDOS
mente paga :i;. Finalmente, a 26 desse mesmo mes de
maio, foi reformada uma precedente carta de 9 de ja-
neiro, na qual a D. Leonor eram doados os padroados de
certas igrejas, dando-se-lhe agora os das de S. Martinho
Madalena e S. Nicolau de Lisboa, Santo Estevão e Santa
Maria da Alcáçova de Santarém, e outros das boas do
reino'-7. Ficaram seguras, e não só seguras, mas muito
aumentadas, as rendas da Rainha D. Leonor.
"Porque de nós suas cousas não são menos estima-
das, que as nossas próprias, pelo muito amor que lhe
temos, e desejo de lhe sempre fazer mercê.,, Justiça lhe
seja feita neste ponto: D. Manuel não foi ingrato a sua
irmã.
Algumas daquellas confirmações não foram somente
exajeradas; foram em manifesta oposição ao estipulado.
Refiro-me, note-se, ás confirmações; as doações estava
el Rei no seu pleno direito de as fazer, nada havendo
a esse respeito que observar, e até o mesmo sucederia
ás confirmações, se D. Manuel tivesse declarado que
eram doações. Poderia-se notar o exajero delias; mas
como elle estava no seu direito de as fazer, a critica não
deveria passar alem.
Bem mais extraordinária liberalidade foi a restituição
completa, feita por esses tempos, da casa ao Duque de
Bragança D. Jaime; mercê, "que (não pôde deixar de
exclamar Damião de Góes) foi uma das maiores que
imperador nem rei, nem outro senhor, nunca fez de ter-
ras patrimoniaes possuídas pacificamente, porque nas
adquiridas de novo, ou que se esperam de adquirir,
teem obrigações de partirem liberalmente com aquelles
que lhas ajudaram a ganhar; mas em estado tão pa-
cifico, como o em que el rei D. Manuel começou de
'-''• Chancelaria de D. Manuel liv. lO.o, fl. 58.
-': Liv. l.o de Reis, fl. 101.
RAINHA D. I EONOR 1 15
reinar, e reinava, taes c tamanhas mercês não se acha
que se fizessem, nem a mim me alembra que o visse
em nenhum dos autores históricos que tenho lido;...
a grandeza da qual mercê fez fazer a muitos vários jui-
zos„ .
Estes dizeres ainda em 1506 eram considerados tão
verdadeiros, que a rigorosa censura, então exercida so-
bre a primeira edição da Chronica de Ooes, não ousou
corta-los; ouírotanto porem não sucedeu ás palavras
imediatamente seguintes. Estas pretenderam apaga-las
para sempre, mas felizmente não o conseguiram. Trans-
creve-las-hei, não só porque nos mostram a fraqueza de
animo de D. Manuel, dominado pela mãe e irmã; mas
sobre tudo, porque nos vêem apresentar o caracter da
Rainha D. Leonor como eu o concebo, isto é, como o
de mulher cubiçosa de riquezas para si e os seus, e
absolutamente desrespeitadora da memoria e ultima
vontade do marido, por quem evidentemente nenhum
afecto por tanto sentia.
Em seguida ao trecho "a grandeza da qual mercê fez
fazer a muitos vários juízos,,, escreveu Damião de Góes
primitivamente estas palavras, suprimidas pela censura:
"dizendo uns, que mais de poder absoluto a fizera el Rei
que não de conselho, nem razão que tivesse para dar
tantas vilas e fortalezas, e tão importantes á coroa do
reino; outros escusavam isto pondo a culpa á Infanta
D. Beatriz sua mãe, e á Rainha D. Leonor, irmã dei Rei,
por lho fazerem fazer, parte por rogos, parte por muita
importunação; outros, que mais tiravam ao vivo, diziam
que taes bens se não podiam dar, visto que el Rei
D. João mandara em seu testamento, que não somente
os não restituísse aos culpados nas traições, mas ainda
28 Góes, Chronica de D. Manuel, parte i, cap. xm.
11() I si IDOS
por nenhum modo os recolhesse em seus reinos, nem
em sua graça» JM.
E ainda o historiador foi benévolo, não pondo bem
claro 0 enorme desfalque trazido ás rendas do listado
por aquella restituição30. D. João 11 para a tornar mais
dificultosa, havia feito mercê a vários, em pagamento de
serviços, de muitos dos bens da coroa e patrimoniaes
confiscados ao Duque de Bragança D. Fernando. Teve
por tanto D. Manuel, quando restituiu a casa ao Duque
D. Jaime, de dar a muitos rendas avultadas em satisfação
dos bens que lhes tirava; de sorte que, não só o Estado
deixou de receber as rendas de muitas terras importan-
tes, como ainda teve, em beneficio alheio, de perder o
equivalente a muitas delias. Por exemplo: ao Marquês
de Vila Real foram dados, em duas vidas, quatrocentos
e cincoenta e tantos mil reaes de tença pela vila de Ou-
rem ;;l; ao Conde de Borba, de juro e herdade, os se-
nhorios das vilas do Redondo e Pavia e mais duzentos
e noventa mil reaes de tença, pela vila de Borba32; e de-
zenas e dezenas, se não centenas, de outras satisfações
análogas se encontram nos livros da chancelaria. E no-
29 Sr. Joaquim ele Vasconcellos, Archeologia artística, //." 10, Goe-
siana, as Variantes das Chronicas, paj. 8. A verba do testamento
d< ! ». |oão II, que se refere aos Braganças, diz assim: "Item, porque
eu tenho visto e sabido quanto mal e dano se segue nos regnos e se-
nhorios, com a vinda dalguns que cometem maus casos contra os
rei- e senhores elas terras, encomendo e mando ao dito Duque
meu primo, que aquelles, que nos semelhantes casos eram contra
mim, nem seus Filhos que fora destes regnos estão, nõ sejam recebi-
dos nelles; e assj encomendo a todolos grandes e pessoas tio meu
lho e do dito Duque meu primo, que sempre lhe lembrem
muito que deve esto Fazer». Sousa, I>rovas da Hist. geneologica.
III, 171.
l0Veja-se a este respeito o meu estudo intitulado Livradas tenças
dei Rei, no vol. II do Areli. Hist. Port., paj. 208.
;l Carta ele l ele dezembro ele 1510, a fl. 104 v. elo liv. 8." ela
Chancelaria de D.João III.
32 Carta ele 2 de junho de 1500, na Chancelaria de D. Manuel,
liv. '58.", fl. 88 v.
RAINHA D. LEONOR 1 17
te-se, que eram então avultadas aquellas quantias, hoje
na aparência diminutas, e corresponderiam agora a bas-
tantes contos de réis.
Mas voltemos á Rainha D. Leonor, e perdoe-me o lei-
tor o ir metel-o em contas, que, por instruetivas, são até
certo ponto toleráveis.
D. Leonor havia casado com o então Príncipe D.João
por contrato de 10 de setembro de 1473, celebrado já
depois de consumado o matrimonio :;::. No instrumento,
entre outras condições, estipulam-se as seguintes: (3 dote
da noiva ficaria constituído pela fortaleza de Lagos, ava-
liada em 10.000 cruzados, e pelas jóias e correjimentos
(adornos, enxoval) que sua mãe lhe daria, os quaes, por
carta de 27 de abril de 1475, foi declarado valerem
24.8Q8 cruzados34; montou por tanto o dote em 34.898
cruzados. O assentamento (a dotação) foi arbitrado em
1.165.000 reaes35, entrando nesta quantia 150.000 reaes
"pêra panos de oiro e seda pêra vestir,, (os alfinetes).
Ao assentamento, elevando-o a milhão e meio, se
acrescentaram 335.000 reaes pelas rendas de Sintra, Tor-
res Vedras e Óbidos em quanto D. Leonor não possuísse
estas villas, porque, havendo-as, logo se descontaria
aquella verba. As arras, falecendo o Príncipe primeiro,
foram estipuladas em 20.000 escudos de oiro.
Recapitulando esta parte do contrato, temos: dote,
34. SOS cruzados; dotação, incluindo os alfinetes e as
rendas das três vilas, 1.500.000 reaes; arras, 20.000 es-
cudos de oiro.
Mais condições do contrato: Por morte do Príncipe
;!:! Chancela ria de D. Afonso V, liv. 33.o, fl. 104.
31 Gaveta IS.:», niac. 4.°, n." (>.
3' No contrato dcclara-se ser o assentamento, que havia de ser
pago em rendas na cidade de Lisboa, de um milhão 160.000 reaes;
mas pelas contas e somas em seguida feitas, vê-se que era na rea-
lidade de l.ltn.000 reaes.
11S ESTUDOS
haverá a sobrevivente Princesa as arras, o dote, e 500.000
reaes de assentamento; ou, á sua escolha, para a qual
terá o praso de uni anuo, haverá as arras, e 1.350.000
reaes de assentamento em sua vida, largando o dote.
É claro: ou o dote e 500.000 reaes de renda; ou
1.350.000 reaes de assentamento, perdendo o direito ao
dote.
Alterações posteriores ao contrato: A dotação foi
sucessivamente elevada por I). João II até á quantia de
2.625.000 reaes'"1; as arras subiram a 28.000 escudos :!7;
só o que persistiu no mesmo valor de 34.808 cruzados,
foi o dote. Alem disto, recebeu D. Leonor em vida de
seu marido a doação da vila de Sintra, feita ainda por
O. Afonso V, em 31 de janeiro de 1480 :!S, e a das vilas
de Torres Novas, Alvaiázere, Torres Vedras, Óbidos,
Alemquer, Sintra, Aldeia Galega, e Aldeia Gavinha, por
carta de 22 de agosto de 1482 '''■'. Em 1490, por carta de
8 de dezembro, as vilas de Torres Novas, Torres Vedras,
e Alvaiázere foram dadas á Princesa D. Isabel por con-
sentimento da Rainha D. Leonor, recebendo esta, por
cartas de 10, 14 e 15 de abril de 1491, em satisfação
Por carta de 24 de setembro de 1486, sendo já de 1.600.000 reaes
ntamento da Rainha, foi elle aumentado com 100.000 reaes,
ficando por tanto em 1.760.000 rs. (Chancelaria de I). João II, liv. 16.°,
ti. 85 v.). Por outra carta de 14 de julho de 1490, "esguardando ás
muitas despesas, que sabemos que a Rainha tem em sua casa. . . e
pelo muito anuir que lhe temos,,, determina D. João II, que ella te-
nha, do l.o de janeiro de 1 190 em diante, mais 865.000 reaes, sendo
10 rs. acrescentados ao assentamento de 1.760.000 rs., "e os
500.000 que lhe damos de graça, que são assim por todos 2.625.000
reaes» (Ibidem, fl. S5).
J* Consta serem as arras de 28.000 escudos, tia carta de 1 1 de se-
tembro de 1 190, pela qual D. João II, "esguardando ao muito amor
que entre nós ambos ha», concede á Rainha o poder dispor em tes-
tamento das arras, ainda mesmo que ella o preceda no tumulo
(Chancelaria de D.João II, liv. lo.-, ti. 85).
Corpo cronolojico, parte 1.;'-, mac. 1, doe. 27.
'ária de D.João II, liv. 3.o ti. 49 v.
RAINHA D. LEONOR 119
daquellas três vilas, as rendas e os direitos do serviço
real e genesim dos Judeus de Lisboa, a cidade de Silves,
e a vila de Faro, com a declaração que, falecendo a
Princesa primeiro, seriam restituídas as três vilas a
D. Leonor, e as rendas, agora a ella doadas, regressa-
riam á coroa '". Alem de todos os mencionados logares,
que pertenciam a D. Leonor, consta, pela carta de 18 de
junho de 1400, na qual se lhe arbitra certa tença em sa-
tisfação das rçndas das suprimidas judiarias de suas ter-
ras, que a Rainha também possuiu Vila Franca de Xira,
Castanheira, Azambuja e Cascaes'1.
Todas estas doações foram confirmadas e algumas
ampliadas por D. .Manuel, que em 1504 fez contas com
a irmã.
Foi dada a carta em Sintra a 29 de agosto, e por ella
se mandaram pagar a D. Leonor, alem da lejitima que
lhe ficou por morte do Príncipe D. Afonso e que foi
avaliada em 8.045.948 reaes, as arras e todo o dote, con-
tinuando a Rainha a receber por inteiro os 2.625.000
reaes do seu assentamento ''\ Isto é: pelo contrato de
casamento tinha D. Leonor direito a 500.000 reaes de
dotação e mais a valia do dote, ou a 1.350.000 reaes
de assentamento sem o dote; pela conta que o irmão
lhe mandou fazer, recebeu a Rainha todo o dote e
ficou tendo o massimo assentamento. Entretanto direi
que a este respeito só se deve notar o exajero, pois
que D. Manuel, citando na carta as condições do refe-
rido contrato, acrescenta estas palavras: "porem, sem
embargo disso, a nós prouve que ella houvesse o dito
assentamento por inteiro, e mais o dito dote, por lhe
nisso fazermos graça.,. Foi mercê; estava el Rei no
10 Chancelaria de D.João II, liv. 16.", fl. 108 v.; liv. 10.", fl. 76
e 76 v.
11 Chancelaria de D. Manuel, liv. 41. o, fl. 98.
'-Ibidem, liv. 19.", fl. 30 v.
120 ESTUDOS
pleno direito de a fazer. O que logo mostrarei, é que
foi com estes dinheiros dados por el Rei de mão bei-
jada, e não lha beijaria, que a Rainha dotou o hospital
das Caldas. E, quasi sempre, o Estado que paga as
caridades réjias.
Continuando-se no mesmo documento com as contas,
delle transcreverei o seguinte período: "E também era
apontado no dito contrato (o cio casamento) que, tanto
que lhe (á Rainha) viessem as terras de Sintra, Torres
Vedras e Óbidos, deixasse logo de seu assentamento
335:000 reaes por ellas; e como quer que haja muito,
que cila houve as ditas terras, e o dito desconto se não
fez, nós o mandámos ora ver e se achou por direito,
que, por quanto o dito Senhor (D.João II) lhe acrescen-
tara de fora outros dinheiros em seu assentamento, alem
dos que tinha, que o dito desconto se não devia fazer..,
Quer dizer: se as rendas da Rainha tivessem sido cer-
ceadas, era de razão que mais se diminuíssem ; como
haviam sido aumentadas, não se lhe devia fazer desconto
nenhum. O direito, invocado para sustentar esta lojica,
é que me parece, a mim leigo na matéria, não vir a
propósito.
Aproveitando-se as cartas de 10 de setembro de 1502,
29 de agosto de 1504, e 10 de junho de 1506 ''■', pode-se,
depois de algum trabalho, restabelecer a conta corrente
dei Rei D. .Manuel com a Rainha D. Leonor.
Devia el Rei :
IV].. dote 1 $.610.220
Pela lejitima 8.045.948
Total 21.656.168
Chancelaria de D. Manuel, liv. \.<\ fl. 29, liv. 19.o, fl. 30, e
liv. 18.o, fl. 12.
RAINHA D. 1 EONOR 121
I louve a Rainha :
Em Fi02, em parte do valor dos bens com que dotou
o hospital das ( )aldas 5.4")
Em 1504, no saldo do valor desses bons 554.980
Em dinheiro, que mais recebeu nesse anno 1.810.840
No mesmo anuo. em jóias
Em uma peça de prata
Em 1505, em dinheiro 4.58
Em 1506, em dinheiro 8.48
Soma 21.6Í
Diferença 328
lotai . . .
Aquella diferença de 328 reaes ruão sei se proviria de
erro ou omissão dos contadores, ao fazerem as conta
se de engano meu resultante de alguma oscilação no
valor do cruzado de oiro, que nos citados documentos
se vê regular então por 390 reaes, ou, aprossimadamente,
1 1 $320 réis do dinheiro actual.
Aqui porei ponto final nas contas. No capitulo se-
guinte tornarei a referir-me ao hospital das Caldas, e
transcreverei uma carta da Rainha na qual se manifesta
o seu génio cubiçoso.
IV
Acerca do hospital das Caldas e da sua fundação
tem-se escrito muito desacerto. Não irei comtudo, soce-
gue o leitor, fazer a monografia daquelle tão útil esta-
belecimento; apenas, para o meu fim, aproveitarei as
indicações dalguns documentos.
A Rainha D. Leonor, "esguardando como nosso Se-
nhor dava saúde a muitos enfermos que se iam curar
aos banhos de agua das Caldas, que são no termo da
1 22 ESTUDOS
sua vila de Óbidos, os quacs, por não serem correjidos,
nem as easas de aposentamento delles serem taes, como
pêra boa saúde e provimento dos ditos enfermos per-
tencia, ella mandara fazer de novo,,. Assim se lê na
carta de 4 de dezembro de 1488, de privilejios a trinta
moradores do logar das Caldas ''''. Por tanto, em 1488 já
existia nas Caldas, mandada edificar por D. Leonor,
uma casa para banhos. A ella seguiu-se o hospital o
qual, parece, estava concluído em 20 de janeiro de 1498,
data da carta réjia de autorização ao hospital das Caldas,
que a Rainha D. Leonor "mandou fazer,,, para possuir
até trezentos mil reaes de renda por anno ''"'.
A par do hospital mandava D. Leonor levantar a ca-
pella, para a erecção da qual alcançou de Alexandre VI
a bula de 4 dos idos de setembro (10 de setembro)
de 1495 '''. É este edifício a pequena, mas muito notá-
vel e interessante igreja de Nossa Senhora do Populo,
a qual, segundo uma inscrição, em caracteres góticos do
tempo, ainda hoje lejivel nas ombreiras e verga da porta
que da eapella mór dá ingresso á sacristia, foi acabada
no anno de 1500. Diz o letreiro:
Esta capela mãdou fazer a muito alta he muito esera-
recida lie emlustrisima Ratinha dona lianor molher do
muito alto lie potemtisimo Rei dom Joham lio segundo
lie se aquabou na era de mill b ''.
A povoação ia crescendo, e a requerimento da Rainha
foi o logar feito vila. Com esta classificação já aparece
11 Chancelaria de D.João //, liv. 14.", fl. 55 v.
( hancelaria de D. Manuel, liv. 28.°, fl. 55.
'Ias Pontifícia: Regia Decreta: et alia documenta super fun-
., dotatione et ordinatione Regalis Capelloe, ele, parte 2.*, sem
numeração de folhas. Ms. na Torre de rombo.
RAINHA D. LEONOR 123
em documento de 10 de setembro de 1502 ''"; só lhe
foi dado termo porem, por carta de 21 de março
de 1511 's.
Recapitulando, temos que já existia casa para banhos
em 14SS, hospital em 1498, igreja em 1500, e vila
em 1502.
A casa dos banhos data por tanto do tempo de
D. João II; a conclusão do hospital e da igreja é com-
tudo do reinado de D. Manuel. Como é que se pôde
pois explicar a existência, no fecho principal da abo-
bada da capella mór, do escudo das armas de D. Manuel
em quanto duque de Beja? Não sei, apesar de sem du-
vida serem, as armas que lá estão, as delle desse tempo.
As armas da Rainha D. Leonor consistiam num escudo
partido das do marido, e das próprias delia. Como os
dois eram primos, tinham ambos por armas as do reino,
as quaes comtudo no escudo de D. Leonor se não en-
contram perfeitamente repetidas, por isso que ao centro
teem só uma linha de castellos, fazendo bordadura para
os dois lados. Não é fácil descrever em termos de bra-
são o escudo da Rainha D. Leonor, e, se o tentasse,
talvez me não entendessem.
Numa sua carta de 12 de março de 1510 vê-se o si-
nete das armas de D. Leonor •'■'. A impressão mostra-nos
os cinco escudetes das quinas do reino repetidos em
dois campos a par, cinco em cruz de cada lado, e os
campos separados por uma pala, na qual se vêem três
castellos iguaes aos outros catorze, que sobrecarregam
a bordadura do escudo todo. Noutro selo da Rainha,
reproduzido na Historia geneologica m, o escudo tem
apenas dez castellos na bordadura, existindo entre elles
« Chancelaria de D. Manuel, liv. 4.", fl. 29.
is Ibidem, liv. 8.", fl. 25.
í!l Corpo cronolojico, part. l.a, inac. S.° doe. 90.
50 Vol. IV, estampa Al, n.° LXVIII.
[24 ! SI IDOS
as quatro pontas de uma cru/ florida. É curioso aparecer
este selo em documento de 1487, tendo D. João II desde
1485 mandado tirar das armas do reino as quatro pon-
tas da cruz de Avis. Foi-se, com louvável economia,
aproveitando o existente sinete.
É muito diverso o escudo do meio da abobada da
capella mór da igreja das Caldas. Nelle esculpiram as
armas do reino tendo nove castellos na bordadura, e
por diferença duas bricas no campo das quinas. Isto
vê-se claramente cá de baixo. Afigura-se mais existir um
banco de pinchar ligando as duas bricas, que se conhece
serem partidas, distinguindo-se a custo umas palas, e
um tranchado também com palas e mais duas coisas
aos lados, que podem ser águias.
O conjunto apresenta-nos por tanto as armas de
D. Manuel, Duque de Beja, tal qual se encontram no
Mes ire dos sentença, manuscrito de 1494, e nos primei-
ros cinco volumes da Bíblia dos Jerónimos, que são
de 1495. Nestes, advertirei, apagaram posteriormente a
diferença, deixando ficar as armas do reino inteiras;
mas, olhando-se atentamente, ainda aquella se percebe,
e claramente se vê na portada do primeiro volume,
dentro de uma concha pintada a claro-escuro ''.
Como é pois, repito, que se pode explicar a existência
das armas do Duque de Beja na igreja das Caldas
começada a edificar por sua irmã em vida de D.João II,
e pela mesma concluida no quinto anuo do reinado de
1 ). Manuel? É caso em que nem conjecturas sei fazer.
Concluídas as obras, tratou D. Leonor de dotar o
hospital, a fim delle se poder manter de futuro. Enten-
deu-se com D. Manuel, e por carta de 10 de setembro
de 1502 comprou-lhe as jugadas, rendas de pão e vinho,
foros e outros direitos das suas vilas de Óbidos e Aldeia
1 < f. nos Brasões de Cintra, III, 281.
RAINHA D. LEONOR 125
Galega da Mercearia, e seus termos '\ Foi o preço ajus-
tado, entrando na compra os celeiros e adegas em que
se recolhiam aquelles direitos, a quantia de 5.833.14o
reaes, paga pela Rainha sem desembolsar um ceitil, pela
forma que explicarei.
Quando se deu aquella carta, já D. Manuel tinha
confirmado á irmã todo o seu assentamento, e apesar
de por este facto ella ter logo perdido o direito a seu
dote, e de ainda el Rei lhe não ter delle feito mercê,
declarou-se no instrumento de venda: "por quanto nós
lhe éramos obrigado por as rendas, direitos, bens e
terras da coroa de nossos reinos, mandar pagar seu
dote, que lhe era devido... Continua dizendo, que, "visto
seu requerimento, posto que achássemos que, por ser
paia obra tão piedosa, nós podíamos por direito fazer a
dita venda, porem por serem rendas da coroa de nossos
reinos, as quaes somos teúdo conservar e acrescentar
(chama-se a isto mangar com a tropa), quiséssemos sa-
ber quantas as ditas jugadas e rendas eram, e o que
verdadeiramente podiam valer... E ajuntando... as
somas maiores (das avaliações) fazem ao todo em soma
5.833.140 reaes. . . pelos quaes. . . nós vendemos á dita
Senhora Rainha as rendas e direitos em cima declara-
dos ... O qual preço nós confessamos ter recebido
por outro tanto, que ora mandámos descontar á Rainha
do que por nós e pela coroa lhe é devido, a saber:
3.900.000 reaes por dez mil cruzados em que foi contado
o castello e direitos de Lagos, que foi dado a el Rei
D. João em parte de pago do dote do casamento, que
com a dita Senhora houve, com tal condição que,
falecendo elle primeiro, lhe fosse pago e restituído o
dote. . .,-
•v- Chancelaria de D. Manar/, liv. 4. ti. 29.
126 ESTUDOS
Encobrem-se as claras e positivas condições do con-
trato de casamento, para dar, a estes verdadeiros presentes
de dinheiro, nina certa aparência de pagamento de di-
vidas.
Na carta diz-se mais: que os restantes 1.033.140 reaes,
que faltam para complemento do preço das rendas de
Óbidos e Merceana, se encontraram no que das arras
ainda se devia á Rainha ; mas não é verdade, porque
numa apostila, rejistada em seguida á carta, declara-se
ter a D. Leonor sido descontada naquella divida a quantia
de 1.578.100 reaes, por conta da valia das jóias do seu
dote. L, quanto ao saldo de 354.980 reaes ainda em
divida, pela carta de 29 de agosto de 1504 sabemos que
também foi levado em conta na restituição do dote ;,:!.
I). Leonor tinha perdido o direito a seu dote. Foi-lhe
elle comtudo integralmente pago na importância total
de 13.610.220 reaes, quantia a que se tiraram 5.833.140
reaes para a dotação do hospital das Caldas, a qual foi
por tanto paga pelo Estado, sobrando ainda á Rainha
7.777.080 reaes que embolsou.
Caridades destas, todos as farão, Dêem-me trezentos
e oitenta contos, que largarei com todo o prazer cento
e setenta á Assistência dos Tuberculosos, e irei para a
China com o resto.
Não quero porem exajerar. Acabe-se com a lenda das
jóias empenhadas para dotar o hospital das Caldas, mas
reconheça-se qne a beneficência não consiste somente
em dar dinheiro do nosso bolso. A concepção e reali-
zação de uma obra de tanto préstimo e caridade, como
foi a daquelle hospital, são conceitos e actos beneméritos,
dignos de grande louvor que não regatearei á viuva de
í). João II.
,; Chancelaria de D. Mauui, liv. 10.°, fl. 30 v.
RAINHA D. I EONOR 127
V
Herculano disse algures, ao começar a transcrever
uma velha noticia, que o faria "sem nos cingirm
todavia á extravagante ortografia daquella época, não
tendo ainda acertado a saber para que sirva conserva-la
na publicação de antigos inéditos, se não é para dificul-
tar a leitura destes»».
Plenamente de acordo tenho seguido quasi sempre
esta pratica '', e não me desviarei agora delia ao tran-
screver a carta que constitue o doe. 73 do mac. 14."
da l.a parte do Corpo cronolojico, e que é assinada de
chancela pela Rainha D. Leonor.
"Senhor. — Depois de sabermos o falecimento de
D. João de Sousa, pelo Secretario fizemos saber a V. A.
que os dinheiros que houve pelos direitos da judiaria,
mouraria e foros dos próprios da nossa villa de Farão,
por sua vaga vinham a nós d'aqui em diante. Ao que
nos respondeu, que V. A. havia por bem que lhe man-
dássemos nossa doação pêra a ver, e quem requeresse
nosso direito, crendo que nada delle se nos tiraria, com
outras virtuosas palavras, que de V. A. esperamos com
obras. E porque, Senhor, temos esta cousa por tão certa,
como a rezão e direito obriga, peço a Y. A. que per si
queira este caso ver, e resguardar a tenção dei Rei meu
Senhor, a que Santa Groria haja, e a perda que recebe-
mos nas rendas das vilas que lhe demos polas que
temos, o que foi mais por lhe aprazer e servir, que por
proveito que disso tirássemos, com toda a esperança,
1 Aqui, nestes estudos; é claro que, quando no Arch. hist. tran-
screvo um doe, me cinjo rigorosamente á sua grafia.
128 ESTUDOS
que per palavra e doação nos ficou, de havermos todo
o que vagasse; nos outorgue estes dinheiros sem de-
manda, que não Scão tantos, nem por tantos annos,
segundo nossa desposição, que danefiquem vossa fa-
zenda. E por nos tirar da paixão que nos daria sobre
cousa tão leve se mover, em que se falasse, lho torna-
mos a pedir muito por mercê, que depois de todo ver,
nollo outorgue desta maneira, no que comprirá com sua
conciencia, e fará seu serviço, e a nós grande mercê; e
assi em crer Fernão Nunez, nosso contador, o que de
nossa parte lhe disser sobre este caso, e algumas outras
cousas. A nosso Senhor peço que a vida e real estado
de V. A. por muitos annos acrecente a seu serviço. De
Lixboa, a 21 de Janeiro de 1514. Rainha.
Coitada! era uma pobresinha a Rainha D. Leonor e
faziam-lhe muita falta aquelles dinheiros! O leitor vai ver.
Lograva ella neste tempo as rendas e direitos reaes
da cidade de Silves, e das villas de Faro, Óbidos,
Alemquer, Sintra, Aldeia Galega e Aldeia Gavinha, des-
frutando também, se não todos, alguns dos direitos reaes
de Vila Franca de Xira, Castanheira, Azambuja e Cas-
caes; e, afora isto tudo, recebia annualmente, em
dinheiro, de varias proveniências, quatro contos cento
e vinte e tantos mil reaes.
Não é talvez possível calcular a quanto subiria o ren-
dimento de todas aquellas povoações; mas, só o valor
intrínseco daquelles dinheiros equivalia hoje a cento e
quinze contos de réis. '- Quem avaliar a totalidade da
dotação animal da Rainha D. Leonor em duzentos con-
to-, da nossa moeda, estará unicamente arriscado a errar
para menos.
5:' Cinji-me ás tabelas apresentadas pelo sr. Costa Lobo na sua
nte chia. Historia da sociedade em Portugal no século XV,
p. 417 e 418.
RAINHA D. LEONOR 129
Nestas condições, tão rica, não é para causar pasmo,
e tédio até. ver uma mulher de cincoenta e seis annos,
doente, viuva, órfã de seu único filho, retirada do mundo,
fazendo quasi vida de freira, uma sorte de samiimonia-
lis da idade média, ameaçar o irmão, a quem tanto
devia, com demandas? e declarar-lhe que entrará em
paixão por causa de umas relativamente insignificantes
rendas?
Os taes dinheiros, que haviam vagado por morte de
D. João de Sousa, consistiam numa tença de cento e
trinta e tanto mil reaes, que lhe havia sido dada por
carta de 26 de setembro de 1497 em satisfação das ren-
das das suprimidas judiaria e moiraria de Faro. 56
Fazendo-se a esta tença uma conta análoga á acima feita,
vê-se que o seu valor intrínseco era de três contos
seiscentos e tantos mil réis. Bem sei que isto é dinheiro;
mas para quem recebia annualmente duzentos contos,
não tinha família, e levava vida tão recatada, não se
deve atribuir a avidez o fazer tantos escarcéos sobre
coisa relativamente tão pequena?
Encontra-se, transcrita a paj. 138 do 2.° vol. dos
Trabalhos náuticos dos portuguezes do dr. Sousa Vi-
terbo, uma carta de 7 de março de 1500 pela qual
D. Manuel fez mercê a sua irmã dos bens confiscados a
um Pêro de Barcellos, cavaleiro da casa dei Rei, que
se não deve confundir com o homónimo companheiro
nas navegações de João Fernandez, lavrador. O Pêro
de Barcellos, cavaleiro, havia sido recebedor das vinte-
nas de Guiné •'", e tinha-se empenhado em quatrocentos
e trinta mil reaes. Por este motivo haviam-lhe sido
sequestrados os bens; e a requerimento da Rainha
t; Chancelaria de D. Manuel, liv. 28.°, fl. 135.
57 Exercia este oficio em 1492, Cartas de quitação de D. Ala mui,
n.<> 404, no Are/i. hist. port., III, 477.
] I ESTUDOS
I). Leonor fez-llic I). Manuel doação pela referida carta,
de tanta parte da fazenda do alcançado recebedor,
quanto era o valor do débito, "isto pêra que S. A. faça
delia e em ella o que lhe aprouver, como sua cousa
própria...
Aquelle requerimento da Rainha I). Leonor seria
efeito da sua cobiça? ou, pelo contrario, será uma prova
da sua caridade? Não o posso decidir, por ignorar
o destino dado pela Rainha áquelles bens, talvez resti-
tuídos á família do culpado, a qual, provavelmente,
ficara na miséria. Se assim sucedeu, bemdita seja a me-
moria da Rainha D. Leonor, e esta caridade feita sem
alardo sirva para lhe atenuar algumas faltas.
Continuo fazendo a dilijencia por ser justo, e estou
chegando ao fim das minhas considerações.
Completados os sessenta e sete annos, morreu a
Rainha D. Leonor, em Lisboa, a 17 de novembro de
1525.
O seu testamento infelizmente íicão aparece, e delle
só conheço as verbas relativas ao convento da Madre
de Deus ,s, e ás casas de roda do seu paço 59.
Quanto a bens moveis, alguma coisa nos revelam
as cartas de quitação adiante trasladadas, de duas das
quaes devo o conhecimento ao indefesso investigador
dr. Sousa Viterbo, que me tem honrado com a sua ami-
zade e benevolência.
Declara o Cronista franciscano, na paj. SQ, que, dese-
jando estampar o testamento todo, "por mais diligencias,
que se fizeram não foi possível descobri-lo». Não sei até
que ponto Lr. Jerónimo de Belém falaria verdade nesta
asserção. Poucas pajinas antes, na 48, deixara elle escrito,
a propósito da eleição que da Madre de Deus para sua
'Fr. Jerónimo de Belém, Çhronica seráfica, part. Ill, paj 85.
Vide lá adiante no artigo o Camareiro.
RAINHA D. I I ONOR 131
sepultura fizera a Rainha D. Leonor, "que, supposto qui-
zessem trasladar seu corpo para o Convento da Batalha,
onde jaz sepultado o memorável D.João II., seu marido,
taes foram as condições, que para este fim deixou em
seu Testamento, que moralmente seria impossível o
conseguir-se em algum tempo...
Ma única parte do testamento encontrada por Fr. Je-
rónimo de Belém, secundo elle declara, nenhuma refe-
rencia existia ao logar pela testadora escolhido para sua
sepultura. Por tanto, ou o frade inventou as taes con-
dições, ou faltou á verdade quando declarou que
daquelle documento só vira a parte transcrita.
Procurei bem o testamento da Rainha D. Leonor;
mas, infelizmente, repito, não o encontrei. Desejava ver
os termos em que ella se referia ao marido; estimava
conhecer as taes condições que tornaram impossível,
mesmo depois de mortos, a aprossimação dos que em
vida foram consortes desavindos.
No compromisso dado pela Rainha, em 8 de março
de 1512, ao hospital das Caldas, em cujo arquivo ainda
hoje se guarda, determinou ella que se cumpram as
obras de misericórdia espirituaes e corporaes, no mesmo
documento especificadas, "pela alma dei Rei D. João
meu senhor, e minha, e do Príncipe D. Afonso, nosso
filho.,.
Estas palavras, breves e frias, tabelioas por assim dizer,
pouco nos esclarecem acerca dos sentimentos professa-
dos pela Rainha com respeito á memoria do marido.
Até, se eu quisesse carregar talvez o quadro, podia,
combinando a secura daquella frase com os ditos vagos
do cronista seráfico, concluir que subsistiu até final a
aversão de D. Leonor por D. João II.
Ódio ao marido, é possível que persistisse sempre;
amor ás letras e sobretudo ás bellas artes, é certo haver
inflamado o coração de D. Leonor, que bastantes e
132 ESTUDOS
valiosas provas do seu génio artistico e bom gosto nos
deixou.
Viu ella os calamitosos últimos annos de D. Afonso V,
a resurreição e massimo vigor da pátria no reinado do
Príncipe Perfeito, as magnificências encobridoras já da
decadência no tempo de D. Manuel, e ainda o começo
dos apuros de D. João III. Passou nos primeiros tempos
lembrada, depois afastada, e por ultimo já esquecida, e
assim ficaria, se os historiadores monásticos e oficiaes a
não tivessem recordado. Os primeiros, por gratidão ; os
segundos, por lisonja; uns, pagando á sua memoria o
que lhe deviam em fundações pias, os outros, exaltan-
do-a para desfazerem na gloria de D. João II por adula-
ção á casa reinante.
O ponto a que estes chegaram é espantoso! Houve
quem forjasse uma falsa confissão, na qual D. João II
se acusava de assassínios e doutros crimes! Houve, no
meio do xvm século, quem se atrevesse a estampar este
papel como documento ! Pois olhem que a declinação
de Portugal começou no reinado de D. Manuel, o pri-
meiro príncipe com sangue de Bragança que se sentou
no trono.
Viu D. Leonor tudo aquillo. e a mim afigura-se-me
ver a Rainha, atravessando tantos e tão desvairados
sucessos, altiva, adoentada, triste, inacessível, absorta em
seus cuidosos pensamentos. Saudades? Remorsos? Ella
o sabia.
Aldeia, setembro-oitubro dé 1901.
APÊNDICE
Bens moveis e dinheiros da Rainha D. Leonor
Não me é possível inventaria-los ; entre tanto, para se
ter delles uma aprossimada noção, transcreverei a seguir
varias cartas de quitação concedidas a diversas pessoas
por elles responsáveis. Apesar da certeza de não haver
encontrado todos os documentos análogos relativos á
herança da Rainha, até porque alguns deixariam de ser
rejistados na Chancelaria, estou bem persuadido que,
mesmo incompleta, a colecção será julgada de subido
interesse.
Dom Joliam etc. A quamtos esta minha carta de quytaçam virem
faço saber que eu mandey tomar conta a Lourenço de Freytas, the-
soúreiro que foy da Senhora Rainha minha tia que santa grorya aja,
de cymquo annos que teve o dito careguo, a saber: de 521, 22,23.
24 e o de 525, da qual se fez recadaçã per a qual se mostra que
a dita Senhora lhe mandou que arrecadase das pesoas abaixo de-
claradas 38.954:982 reaes, a saber: 5.170:000 de Fernãodalvarez,
thesoureiro moor. Item 661:665 reaes do almoxarife dallfamdega de
Lixboa, a rezam de 132.333 reaes que a dita Senhora tinha per
carta jerall em cada hum anno na dita casa. Item 15.589:308 reaes
de Joam Guago, thesoureiro da Casa da Mina. Item 4.724:000 reaes
de Pêro Lopez, thesoureiro da Casa da índia. Item 80:000 rs. de
João de Saa, thesoureiro da especearya da Casa da índia, dos 20:000
reaes que a dita Senhora na dita Casa tynha em cada hum anno
em droguas, porque os 20:000 rs. que falecem recebeo nelas e vam
lhe em recepta. Item 263:333 rs. dEstevam Beyço, almoxarife da
134 ESTUDOS
dita Senhora em Sylves. Item 3.467:174 rs. dEstevam Lourenço,
almoxarife da dita Senhora em luram, [tem 1.960:000 rs. de Pedro
Alvaav, almoxarife da dita Senhora na dita villa de taram. Item
220:000 rs. de Vasco Gonçalvez, almoxarife da dita Senhora em
Alamquer. Item 20:000 rs. que delle mays recebeo per venda du-
mas casas de Femamdalvarez que foy almoxarife na dita villa. E
1.480:000 rs. dAlvaro Paez que foy almoxarife da dita Senhora na
dita villa. Item 1.421:000 rs. de Joam Guago, almoxarife da dita
Senhora em Symtra. Item 40:01)0 rs. dAlvaro 1 eruaiule/ que foy
esmoler da dita Senhora. Item 4t3:(i7 I rs. que recebeo per vendas
de cousas que lhe vão em despesa na dita recadaçã. Item 195:000 rs.
que recebeo de Jorge Mendez de Sarrea que foy almoxarife da dita
Senhora em Faram os annos atras desta comta. Item 479:09S rs. que
lhe foram dados que arrecadase de Garcia Ribeiro que foy thesou-
reiro e recebedor da dita Senhora na dita cydade de Sylves. Item
2.563:870 rs. que recebeo do rendimento dos atuns das armações da
dita Senhora, a saber: 1.251:574 rs. per Cosmo Bernaldez que os de
la trouxe o anno de quinhentos vinte e dons ; 682:686 reaes per
Pêro dAbreu do anno de vinte e três; 630:000 reaes per Francisco
Cardoso o anno de quinhentos e vinte e quatro. Item 115:000 rs. de
Diogo de Bairos, almoxarife da dita Senhora em Sylves. Item 50:000rs:
que recebeo de dona Margarida Amrriquez que os tinha cm guarda
da dita Senhora. E hum anel douro que tem hum diamaam e huma
çafyra e hum roby; e hum relicayro douro que pesa quatro cruza-
dos j e 364 marcos, 3 onças, 2 oytavas mea de prata lavrada em
muitas peças, que recebeo de mintas pesoas e per compra e feytio,
como se conthem na dita recadaçã ; e 4 almofreyxes; e 417 arrobas,
17 arrates daçuquar; e 26 arquas; e 2 almaticas de veludo e cetym
preto ; e 20 almofadas de sortes ; e 1263 covodos dalbys ; e 03 covo-
dos de pano dantona; e 194 abytos de sortes; e 3 azemalas; e 6
alquelhas dolanda; e 70 covodos de pano daull ; e 6 arrobas de
beyjoym ; e 69 covodos meo de borcados de sortes , e 13 arrobas de
cobre lavrado ; e 5 quyntaes de canella ; e 10 arrobas de cravo ; e 4
arrobas, 13 arrates de cana fistolla ; e 75 covodos hum quarto de
cetys; e 66 covodos de chamalote ; e 5 capas, a saber, 2 de borcado
roxo e 2 de damasquo, todas com seus capelos e savastros ele sortes,
e hum de três; e 5 colchas dolanda; e 20 cobertores de sortes; e
huma cortyna dalltar de damasquo. Item 140 covodos de damasquo
de solteys; e 13 arrobas demeemso ; e 2 arrobas, IS arrates desto-
raque; e 34 covodos destamenha de Frolemça; e 4 frontaes pêra altar,
a saber: hum de pano douro, e outro de borcado razo roxo, e outro
de cetym e damasquo, e outro de damasquo; e 428 covodos e meo
de Fustam ; e 309 fraldilhas de surtes; e 10 arrobas de gemgyvere; e
71 varas de gardalate. Item 101 covodos meo dipre; e 3566 varas de
lemço da terra; e 669 varas de lemços de Bretanha. Item 531 varas
de canhamaso. Item 1763 varas de lemço de Ruam. Item 205 covodos
e terça de Londres. Item 314 lobas de cortes. Item 15 arrobas, 26
arrates de maças. Item 15 arrobas, 24 arrates meo de malagueta.
Item 13 arrobas e mea de nos mosquada. Item 1537 varas mea
dolamda. Item 7 quyntaes, 3 arrobas, 29 arrates e quarta de pimenta.
Item 1360 COVOdOS de panos de Covilhã. Item 12.545 covodos de
panos de Castella baixos; e 208 covodos de Ruam ele Parys. Item
RAINHA I». ! I ONOR 135
274 covodos meo e huma peça inteyrâ de solva. E 130 covodos de
veludo. Item 848 varas de panos deles. Do qual dinheiro, ouro, e
prata, e mercadaryas, e cousas acyma espritâs, e outras muyt
claradas na dita arrecadaçam de sua conta, que aquy nam vam nesta
quytaçam por brevidade, que todo asy recebeò nos ditos cymquo
annos, nos deu muyto booa conta com emtrega sem ficar devendo
cousa alguma. E por tanto o dou por quite e lyvre deste dia pêra
todo sempre, a elle e a todos seus erdeiros, que nunca pelas ditas
cousas e dinheiros, prata, ouro seyam requerydos, nem demandados,
em Contos, nem fora delles, por quanto o dou por quyte e lyvre,
como dito lie. Notefico asy as pesoas a que pertemçe, e mando que
esta minha carta de quitaçam se guarde em todo, como se nella
conthem, sem duvida nem enbargo que a ello seya posto. Feita em
Lixboa, a nove de setembro, Fernam Nunez, comtador, a fez, anuo
do nacimento de nosso Senhor Jhesu Christo de mvll quinhentos
trinta três annos. E posto que digua que o dito Lourenço de Freitas
nam ficou devendo cousa alguma, ficou devendo 73:091 reaes, dos
quaes fiz quyta e esmola aos erdeiros do dito Louremço de Freytas
pela alma da dita Senhora Rainha minha tya, e delo pasey mandado
meu pêra Fernam Nunez, contador, lhes levar em conta os ditos
73:091 reaes, como de feito levou e entram nesta quytaçam. Chan-
celaria de D.João III, liv. 46.° de Doações, fl. 87 v.
II
Dom Joham efe. A quamtos esta minha carta de quytaçam virem
faço saber, que eu mandey tomar comta a Lourenço de Freytas,
cavaleiro fydalguo da casa da Rainha minha tia, que santa glorya
aja, e recebedor da sua chancelaria, dos deradevros onze meses do
anno de 511 e anuo de 512, 13, 14, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22,
23, 24, 25, de que se fez duas recadacões da dita comta, per as quaes
se mostra ele receber, em todos os ditos annos, per os lyvros feytos
per seus esprivães e per que os que lhe vam em receita no ençara-
mento da comta, que deu do thesoureiro, que nã yam nos ditos
lyvros, 858:704 reaes, dos quaes dinheiros ele deo muy boaa comta,
sem ficar devendo cousa alguma, como se contem nas recadacões da
dita comta. E asy lhe mandey tomar outra comta da ucharia da dita
Senhora, porque também hera seu uchaão dos annos, a saber: os de-
radeiros cinco meses do anno de 497 e o anno de 98 ate fim de ja-
neiro do anno de 526, dos quaes annos se fizera duas recadacões,
per as quaes se mostra que elle recebeo, em todos os ditos annos,
100 marcos, 4 onças, 5 oytavas de prata lavrada, em escudelas e
bacyos de cozinha que servem na dita úcharya, a qual recebeo dos
thesoureiros que foram no dito tempo; e bem asy recebeo 8 peças
de cobre, e 42:917 arrobas mea de carnes, e muytos toucynhos, e ou-
136 ESTUDOS
tras muytas sortes decarnes, e aves, e caças, e pescados, e outras mur-
tas cousas semelhantes que saiu ordenadas a servirem no dito oficio,
as quaes cousas se aquynom decrararam por brevidade, e porem todas
se (.ontem nas recadações das ditas comtas, com suas decrarações
necessaryas. Da qual prata e cousas ele deu muy boaa comia com
entregua, sem ficar devendo cousa alguma, e por tamto o dou por
e lyvre de tudo o aquy decrarado.e asy dos pescados e cousas
que fica nas recadações da comta da dita ucharya, deste dia pêra
todo sempre, a elle e a todos seus erdeiros, que nunca por ello
seyam requerydos nem demandados em Contos nem fora delles,
por quanto o dou por quyte e lyvre, como dito he. Notefico o asy
as pesoas a que pertence, e mando que esta minha carta de quytaçã
se guarde, como se nella conthem, sem duvida nem embargo que
a elo seva posto. Fernara Nunez, contador, a fez em Lixboa a nove
ile setembro do anuo de nosso Senhor Jhesu Christo de myll qui-
nhentos trinta e três. Chancelaria de D.João III, liv. 4(>.° de Doa-
ções, fl. S7 v.
III
Dom Joham etc. A quãtos esta minha carta de quitação virem,
faço saber que eu mandey tomar cota a Lianor Alvarez, criada da
Rainha minha tia, que Sanita glorya haja, que tynha cargo da guarda
das cousas do seu oratório. È mostrou-se pela recadação da cota
que lhe foy tomada, que recebera: quorenta peças de prata que pe-
saram cinquoemta e quatro marcos, cimquo omças, seis oytavas; e
quatro peças douro que pesarão sete omças, sete oytavas e huum
quarto; e quinze fromtaes de brocado e seda, e de sortes outras; e
quimze cortinas de seda e outras sortes; e vinte e nove corrediças; e
quatro estamtes; e oito vestimentas douro e brocado, e outras sortes;
e quatorze arcas emeouradas, e doutras sortes; e oyto toalhas; e
vinte e oyto fronhas de livros; e duzemtos trimta e huum livros de
soites; e sete poeiras de marfym ; e quatro escriptorios; c nove cru-
ze- de soites; e quinze peças de metal; e duas portas pazes; e quatro
alqnatifas; e duas guardaportas ; e huma almofada de pano douro;
e quatro covados, duas terças de brocado; e trinta e sete retavolos;
e duas almatiquas de brocado; e outras muitas cousas de que se aqui
nom faz memção, como se mais compridamente contem na dita
arecadação. Y. posto que todas as ditas peças de prata e ouro, e cou-
sas outras despemdese per emtregua que delas fez, com outras mui-
: is que se pela dita recadação mostra mais despemder, alem das so-
breditas; e por sobre a dita lianor Alvarez nom serem earegadas
em recepta; e, pella emformação que (.lesto houve, foy pêra as tra-
zerem de serviço á dita senhora, e assi como lhe vinha, as mandava
emtregar no dito seu oratório, sem se delas fazer recepta; e por
humas e outras serem todas emtregues, como dito he, [á] Abadessa e
RAINHA I). LEONOR 137
Freiras do mosteiro da Madre de Deus, omde as a dita senhora leixou
per verba de seu testamento, com outras muitas alem tias do orato-
reo, como se no dito testamento [e] recadações das contas decrara, e
asy per outros mandados tia dita senhora; e por a dita l.ianor Alva-
rez ter de tudo dado boa conta com emtrega, segundo se comteiu
em o parecer asvnado pellos meus deputados da mesa da comcyem-
cia, a que tenho cometido os despachos ái) descargo dalma da dita
senhora, d^ qual o trelado he este seguinte: "Visto este relatório
e asy ouvido Amtonio Amriquez, contador, que deu rolação de
como Fernão Nunez, seu pay, tomou a comta á dita l.ianor Alvarez
per mandado dei Rey noso senhor e dixe, que seu pay tomara a
dita comta per hum emventario quejoam Alvarez, que Foy escripvão
da fazenda da Rainha dona l.ianor que Deus tem, ha muitos anos a
Pêro da Alcáçova, que foi escripvão da fazenda dei Rey dom Joam
que Samta Gloria haja; e asy per huuns itens a Bastião da Costa,
que foi escripvão da reposta da Rainha, e de Pêro Dia/., seu cape-
lão; e por ahy não haver nem se achar outro alguum livro de rece-
pta nem despesa, e por yso se não pode tomar mais certa comta,
que per o dito inventario e cadernos, e per algumas verbas dos
livros dos escripvães e thesoureiros ; e por tãoto parece, que a dita
Lionor Alvarez deve aver sua quitação, e mandam ao dito contador
que lha faça segundo ordenança dos comtos. Em Lixboa a 2 dias
dabril de 1538.» — E por tãoto a dou por quyte e livre de toda a dita
prata e ouro e cousas doutras sortes e calidades. etc. Dada em a minha
cydade de Lixboa, a 20 dias de mayo, Amtonio Amriquez a fez, de
1538 anos.- Chancelaria de D. João III, liv. 44.° de Doações, fl. 68.
IV
Dom Joam etc. A quamtos esta minha carta de quytaçam virem,
faço saber que mandey tomar conta a Francisco Cardoso, cavaleiro
de minha casa, thesoureiro que foy do dinheiro dos descargos dalma
da Rainha dona Lionor, minha tia que Samta Gloria haja. E pella
relaçam de sua conta se mostra receber treze comtos quatro cemtos
oitemta cimquo mil cemto e setemta e dous reaes, a saber: 10.531.1S9
rs. de Fernãd Alvarez, thesoureiro mor, e de Joham de Bairos
(o grande historiador da índia) e Joham Gonçalvez, thesoureiros da
Casa da Imdia, e de Fernã Rodriguez de Palma, recebedor do
dinheiro do regno, e outras pesoas; e 2.053.566 rs. que recebeo per
vemda da prata que recebeo de Lianor de Moraes, guarda roupa, e
de Fernã Diaz, mantyeiro, Gaspar Gonçalvez, homem da copa,
Joam Murzelo, guarda reposta; e de Lourenço de Freitas, thesou-
reiro e hucham, 635.365 rs. per vemda de cousas da casa; e os
265.052 rs. que recebeo per venda de certas peças douro. E asy re-
cebeo mais: hunia cruz de prata, que pesou satemta e dous marcos,
138 ESTUDOS
sete omças, sete oitavas e mea, com a estorça da prisani de nosso
Senhor; e cemto e quatro covodos, dez dozãos de borcado de sortes,
per muitos pedaços; e sete savastros de borcado, de sortes; e duas
cortinas de borcado minhoto; è hum manto de borcado; e dez cor-
rediças de tafetá; e duas capas de borcado; e hum palco de damas-
quo; e hum frontal de borcado; e asy mais outras cousas que rece-
beo Dada em Lixboa, a 3 dias de junho, Gaspar Godinho
a fez, ano. . . de 1540. E alem deste recebimento, que se comtem
nesta quitaçam, tem outra COmta por cerrar do dinheiro, que o dito
Francisco Cardoso tinha em seu poder, que recebeo do rendimento
dos atuuns dos anos de 24, 25; e asy doutro dinheiro, que lhe ora
he carreguado em recepta per Ámrique da Mota, que ora escreve a
recepta e despesa de seu cargo. Chancelaria cie D.João III, liv. õ0.'>
de Doações, fl. 187.
VI
TRASLADAÇÕES MA BATALHA
Sei pelos jornaes que vão ser trasladados para a
capella do Fundador na igreja da Batalha os restos
de D. Afonso V, da Rainha D. Isabel sua mulher, de
D. João II seu filho, e do Príncipe D. Afonso seu neto.
Os monumentos em que estes ossos vão ser encerra-
dos, são cópia fiel daquelles outros onde lá se guardam
os corpos dos quatro infantes filhos de D. João I. Pelo
lado artístico não ha por tanto nada a observar.
Também não são infrinjidas em coisa nenhuma, é
certo, as ultimas vontades dos mortos, as quaes sempre,
e em todos os casos, devem ser respeitadas.
No seu testamento autorizou D. João I a sepultura
na sua capella, em alto ou no chão, aos reis deste reino,
e "pelos jazigos das paredes todas em quadra-, se pu-
derão lançar filhos e netos de reis. D. Afonso V decla-
rou que lhe "prazeria,, ser sepultado na capella, que na
Batalha mandou fazer seu pai, em qualquer das "ca-
pellas» (jazigos) da mesma. A Rainha D. Isabel deixou
á escolha do marido, ou o convento de Nossa Senhora
da Victoria, ou o de S. João de Xabregas. D. João II es-
colheu a Batalha, no logar que a seu testamenteiro me-
lhor parecer. O Príncipe D. Afonso não fez testamento.
Temos por tanto: D. João I, autorizando a sepultura
1 U ESTUDOS
na sua capella aos reis, e aos filhos de reis; D. Afonso V,
designando para seu enterro a capella começada por
seu pai, as chamadas Capellas Imperfeitas; mas, como
estas nunca se concluíram, mão se torna estranhavel
deposita-lo agora na capella do Fundador, a qual, se
não foi começada, foi acabada por D. Duarte. Temos
depois a Rainha D. Isabel, delegando a escolha do logar
no marido, que a quereria perto de si; D. João II, outor-
gando análogo poder ao seu testamenteiro, que havia
de ser o futuro Rei de Portugal, hoje por tanto o Go-
verno da nação; e finalmente o Príncipe D. Afonso,
que, nada tendo determinado, decerto estimaria ter sua
ultima morada junto do pai.
Pelo respeito devido aos mortos, não ha pois nenhum
desacato nas trasladações. Pelo lado histórico é que
muitas considerações ocorrem.
Dentro das quatro paredes daquella capella vão-se
reunir quasi todas as recordações do que mais puro e
nobre, mais grandioso e memorável, existe na historia
de Portugal. Fora d'ali ficarão as raças dejeneradas e.
bastardas. Só é pena que da capella mór não possa ser
trazido para ao pé dos seus o austero, o melancólico
"rei Eduarte».
D. João I, o Defensor! D. Afonso V, o Cavaleiro!
D. João II, o Rei! E mais o Infante D. Pedro, cujas vir-
tudes e acções a Historia tanto comemora; e os Infan-
tes D. João e D. Fernando, que ambos foram bons, e
não deslustram a companhia, apesar de vultos mais
apagados.
E as duas Rainhas? D. Filipa, a grande mãe, e
D. Isabel, a meiga esposa, não condizem com o resto?
Que gente! Nós, raça dejenerada, nem somos dignos
de apreciar sequer a grandeza de taes maiores.
.Mas, de entre todos aquelles vultos, o que mais se
TRASLADAÇÕES NA BATALHA 141
nos impõe na actual conjuntura, é o de D. João II, o
Rei que foi
anuir dos bons: dos maus terror e espanto.
O Rei que bem amou seu povo; o Rei que era o
primeiro a dar o exemplo de obediência á Lei, "da
qual se fazia logo servo», e da qual, "sem excepção de
pessoas de baixa e alta condição, foi mui inteiro exe-
cutor.., O Rôi que, como nenhum outro, sabia a obri-
gação imposta pelo acaso do nascimento, e transformou
o seu oficio de reinar num culto sagrado.
Todos os negócios públicos, até os de somenos im-
portância, lhe eram conhecidos; os actos dos seus mi-
nistros, patentes; os segredos das cortes estranjeiras,
desvendados. Tudo alcançava com estudo, aplicação,
perspicácia e agudeza, e porque tinha olhos para ver, e
ouvidos para ouvir. Validos, não admitia, e, se algum dos
seus mais chegados se adiantava, de pronto D. João II
lhe dava para traz, como sucedeu ao Prior do Crato,
D. Diogo de Almeida, falando uma vez sem ser autori-
zado diante dei Rei, que logo lhe disse: "Isso, será
querer mostrar que tendes comigo valia?.,
E note-se que não tratava seus criados por tu; res-
peitava-se demais, a si e a elles, para o fazer. Ministros
culpados, castigava de caminho, como fez ao Prove-
dor de Évora Gomes de Figueiredo. E até os bons e
leaes servidores, quando por acaso se desviavam um
pouco do recto proceder, com uma repreensão os fazia
entrar logo na ordem. O Vedor da Fazenda D. Marti-
nho de Castelbranco podia dizel-o, elle que uma vez
quis antepor o despacho dos requerimentos de seu irmão
ao dos de outras partes.
Apesar de bem solicito nos negócios públicos, sobrava
comtudo a D. João II tempo para folgar. As festas da
corte no seu reinado foram repetidas, ricas, grandiosas,
142 ESTUDOS
e algumas até magnificentes, como as de Évora de 1490
que deixaram nomeada.
Nos saraus e banquetes do paço, bailava-se, canta-
va-se, tocava-se, havia entremêses e momos, faziam-se e
recitavam-se versos, tudo com luzimento, boa ordem e
temperança. E mão era só nos salões á noite; também
no campo se exercitavam e entretinham com jogos de
canas, justas e lutas.
As donas, donzelas, fidalgos e cavaleiros da corte,
guiados por D. João II, procuravam divertimentos no-
bres que recreassem, instruíssem e exaltassem. Hoje
parte da chamada melhor sociedade canta o fado, toca
guitarra e joga a malha.
Quando D. João II convidada estranjeiros para as
suas festas, apresentava-se sempre como rei, como o
primeiro, ostentando não só o seu poder e riqueza, mas
também, se havia jogos, a sua perícia e destreza. Não o
viam em publico com trajos ridículos, nem se deixava
derrotar nos torneios em que entrava.
Houve homens que nasceram reis: D. João II em
Portugal, Luiz XIV em França. Houve outros que se
fizeram reis: D. Afonso IV em Portugal; Frederico II na
Prússia. A este, bastou a perspicácia e sagacidade pró-
prias; o outro, precisou ouvir e seguir os conselhos
de seus ministros. Pela pertinácia, um, pela circumspee-
ção, o outro, bem mereceram ambos das suas pátrias,
e a Historia aos dois exalta, guardando a enorme dis-
tancia que vai de um génio a um bom rei. Outros sobe-
ranos tem havido, que nem nasceram, nem se fizeram
reis. Aplicação ao estudo da administração publica, não
cultivaram; conselhos de ministros ou amigos, não ouvi-
ram, ou lhes faltaram, porque ha reis tão desgraçados
que não teem amigos verdadeiros e discretos, ousando
arriscar o valimento, como fizeram os de I). Afonso IV,
para lhes dizerem verdades.
IkWSI ADAÇ< )l S NA BATA1 HA 143
Ao Príncipe Perfeito não sucedeu isso. Teve amigos
sinceros e dedicados, a quem ouvia e atendia, e até
premiava por lhe dizerem a verdade.
"Sabeis por que dei o oficio de mordomor mói" a
D. João de Meneses? — Dei-lho porque sempre me fala
verdade, ainda que me nisso não faça a vontade..,
A maior virtude porem de D. João II, o Rei que nunca
mentiu, foi o entranhado afecto que consagrou a seu
povo, a quem livrou das opressões dos grandes, a quem
deu justiça recta, por quem padeceu ódios, trabalhos e
vinganças empeçonhadas. Pagaram-lhe bem comtudo
"no novo, tão grande e geral amor que a elle, e sua
memoria, por todos depois de sua morte sobreveio. ,,
Assim o escreveu, já no reinado de D. Manuel, o
cronista contemporâneo Rui de Pina.
Deixou D. João II o reino rico, prospero, respeitado
e temido. Junto do seu ataúde não deverão comparecer
os governantes destes últimos tempos, que trouxeram a
nação ao estado vilipendioso em que se encontra, e que
não merece l.
Aldeia, 1.° de novembro de 1901.
1 Em todo este artigo as alusões são claras aos factos, que na-
quelle tempo se passavam em Portugal e por muitos presenciados
com pasmo e tédio.
Vil
DESCENDÊNCIA DE D. JOÃO II
É bem sabido de todos haver D. João II tido dois
filhos: um, lejitimo, o Príncipe D. Afonso que o prece-
deu no tumulo; o outro, ilejitimo, o Mestre D. Jorje
que lhe sobreviveu muito.
O Príncipe nasceu a 18 de maio de 1475, casou a 23
de novembro de 1400, e morreu desastradamente a 13
de julho de 1401, não deixando geração.
As suas dezaseis primaveras que prometiam? Nada
se pode afirmar. Foi talvez uma felicidade para a sua
memoria ter elle tido tão curta vida. Filho de D.João II,
se tivesse chegado a cinjir a coroa, dificultosamente
poderiam suas acções ombrear com as de seu pai. Foi
feliz ! Morreu sem o sentir, na hora mais venturosa da
sua vida, chorado sinceramente por todos.
Sua viuva, a Princesa D. Isabel, filha dos Reis Cató-
licos, regressou para Castella, d'onde ainda voltou a
Portugal, em setembro de 1407, para casar com el Rei
I). Manuel. A Espanha tornou em 1408, sendo lá, em
Toledo, jurada princesa herdeira de Castella a 20 de
abril; e em Saragoça, no dia 14 de junho, foi apresen-
tada, como princesa de Aragão, ás Cortes deste reino,
que só bastante tempo depois a juraram. Logo a seguir,
ainda em Saragoça, faleceu a 24 de agosto, deixando
um filho que pouco viveu.
10
! i ESTUDOS
O Príncipe D. Afonso tinha tido, antes de casar, uma
paixoneta, amores de criança, por uma I). Branca, e,
quando ella casou, disse o Prior de Santa Cruz, D.João
de Noronha, pelo Príncipe:
Lloran mys ojos,
y my coraçon
con mucha razon '.
Esta menina era certamente D. Branca Coutinha a
quem D. Martinho da Silveira, quando ella estava já
casada, dedicou umas trovas que começam :
Dó na corte, polo serdes,
tomaram mil corações
que namorastes,
por lembrar, e por saberdes,
quantas penas e paixões
lhe cá leixastes 2.
Deu que fazer este casamento! Também a elle se
referiu Pedro Homem, então estribeiro mór do Duque,
mimas coplas que abrem por esta quadra:
Poys a todos, se casaes,
o viver será tão caro ;
lembre-vos o desempato,
Senhora, que nos leixaes 3.
O noivo seria Jorje de Mello, o Lajéo, capitão dona-
tário de Mazagão.
Não estranhe o leitor as minhas duvidas e hesitações
em identificar alguma? pessoas nomeadas no Cancio-
neiro de Resende. É dificil, muita vez, para homens; é
dificílimo, quasi sempre, para senhoras. Isto para quem
trabalha com estudo e concieneia.
1 Cancioneiro geral. fl. 16S, col. 6a
■-' ibidem, fl. 57, col. 3a
■ ibidem, fl. V). col. 2a
DESCENDÊNCIA DE D. JOÃO II 147
Feita esta advertência, continuarei com a minha supo-
sição muito fundamentada.
Vasco Ternandez Coutinho, filho segundo de Fernão
Coutinho, senhor de Celorico de Basto e irmão do
l.o Conde de Marialva, foi morrer, segundo declara
D. Afonso V, "em meu serviço, em minha presença, no
combate e filhada da villa de Sete Igrejas,, ''. Faleceu
por tanto nos principios da guerra da invasão de Cas-
tella, provavelmente ainda em 1475, tendo casado, pouco
havia, com D. Maria de Lima, cujo pai, durante aquella
mesma campanha, foi, em Toro, criado visconde de Vila
Nova da Cerveira
Para o casamento de Vasco Fernandez Coutinho havia
a Infanta D. Beatriz, mãe e tutora do Duque de Viseu
D. Diogo, dotado áquelle, em nome deste, duas mil
coroas por carta de S de novembro de 1474 •'. Do ma-
trimonio nasceram três filhos, e um delles foi D. Branca
Coutinha.
Eram pois, o Príncipe D. Afonso e a sua amada, quasi
da mesma idade, talvez nascidos no mesmo anno.
O casamento delia devia ter tido logar muito pouco
antes do do seu servidor; no próprio anno de 1490 em
que este casou, é possivel. O marido foi, como já disse,
Jorje de Mello, Anadel mór dos besteiros de cavalo ,;,
senhor e capitão da praça de Mazagão por carta de 21
de maio de 1505 7. Foi feita esta mercê ao Anadel mór
e seus descendentes, em atenção a pretender elle edificar
lá, á sua custa, uma fortaleza. Foi infeliz a tentativa,
porque a 7 de oitubro do mesmo anno de 1505 já o
' Carta de 5 de agosto de 1476, segurando o direito que Fernão
Coutinho, filho de Vasco Fernandez, tinha aos bens de seus avós.
Chancelaria de D. Afonso V, liv. 32.<\ fl. 16.
5 Chancelaria de D.João III, liv. 38.° de Doações, fl. 74 v.
6 Por carta de 23 de abril de 1490. Chancelaria de D. João II,
liv. 12.o, fl. 159 v.
Chancelaria de D. Manuel, liv. 42.<\ fl. 2õ.
14S ESTUDOS
capitão tinha morrido ás mãos dos Moiros, como declara
a carta de mercê do seu oficio com a tença de quarenta
e três mil e duzentos reaes a seu filho Martím Afonso
de Mello s.
Sobreviveu D. Branca muitos annos a seu marido, e
encontro menção delia em vários documentos até 11
de fevereiro de 1524 '■'. Morou em Santarém, onde, a 28
de setembro de 1518, assinou o recibo de uma tença de
cinco moios de trigo, escrevendo dona brãca em letra
garrafal "'.
Naquella vila morreu em sexta feira de Lazaro, 11 de
março de 1530, e foi sepultada no mosteiro de S. Fran-
cisco ".
Mais nada sei da amada do Príncipe D. Afonso, senão
que teve numerosa prole.
O filho lejitimo de D. João II teve amores juvenis,
o ilejitimo teve-os senis.
D. Jorje, o futuro Duque de Coimbra, nasceu em
Abrantes, no mês de agosto de 1481. Sua mãe foi
D. Ana de Mendoça, Donzella da Casa da Excelente
Senhora.
Era D. Ana fidalga de nobre geração por ser filha
de Nuno Furtado de Mendoça, Aposentador mór de
I). Afonso V e chefe da família dos Mendoças portu-
gueses, e de sua mulher D. Leonor da Silva. De D. Ana
foi prima direita D. Joana de Mendoça, Duquesa de
Bragança, celebre pela sua formosura.
8 Chancelaria de D.João III, liv. 37.» de Doações, fl. 112 v.
9 Ibidem.
10 Corpo cronolojico, part. 2.a, mac, 76, doe. 3.
11 P. Luis Montês Matoso, Memorias sepulchraes, fl. 54, tns. em
poder do falecido conselheiro Venâncio Deslandes. O P. Inácio da
Piedade e Vasconcellos, a paj. 202 do vol. II da Historia de Santa-
rém, e outros, trazem esta data errada. Âdvirta-se também, que no
epitáfio se declara ter Vasco Fernandez Coutinho morrido na batalha
de Toro, o que não é exacto, segundo se vê do doe. acima citado.
DESCENDÊNCIA DE D. JOÃO I! 14Q
Também não faltava este dote a D. Ana, "molher
muito fidalga, e moça fermosa de mui nobre geraçam,, '-.
Apesar disso, duraram pouco os seus réjios amores,
por quanto D. João II sucedeu na coroa ainda no mesmo
mes de agosto, em que D. Jorje nasceu, e "acerca de
mulheres, depois de ser rei, foi sobre todos mais con-
tinente.» ,:l.
Não lhe bastou pois a formosura, nem a estrema mo-
cidade, para, conservar o amor dei Rei que se não es-
queceu delia comtudo.
Nas Alcáçovas, a 24 de setembro de 1495, assinou
D. João 11 uma carta pela qual fazia mercê a D. Ana de
Mendoça, "madre de D. Jorje, meu muito prezado e
amado filho», de uma tença de duzentos mil reaes ''.
E a esta pensão se tornou a referir quatro dias depois no
seu testamento, no qual a confirma, ordenando que, no
caso de a quererem tirar a D. Ana, lhe dêem primeiro
trinta mil coroas de cento e vinte reaes, "pêra soportar
sua honra, ou pêra seu casamento.. ' '.
Não era por tanto D. Ana ainda freira neste tempo;
estaria talvez já recolhida no mosteiro de Santos, com
sua tia a Comendadeira D. Violante Nogueira, mas não
posso assegura-lo.
D. Manuel, subindo ao trono, confirmou a D. Ana os
duzentos mil reaes, usando de palavras corteses: "visto
por nós seu pedir, intenção e boa vontade com que
lhos deu o dito Rei, meu Senhor, e nós que não
menos o assi desejamos e queremos, etc. Foi pas-
12 Resende, Vida de D.João II, cap. 112, fl. 04 v.
13 Pina. Chronica de D.João II, cap. 82, paj. 197.— A asserção do
cronista é confirmada pelo dr. Diogo Pinheiro no sen Manifesto da
inocência do Duque de Bragança. Vide o artigo seguinte.
11 Transcrita na carta de confirmação de 18 de janeiro de 1496.
Chancelaria de D. Manuel, liv. 32.o, fl. 82 v.
15 Sousa, Provas da 11 ist. genealógica, vol. II, paj. 174.
150 ESTUDOS
sada a carta em Montemor o Novo a IS de janeiro
de 1496 "'.
Neste documento, e ainda noutros dos annos seguin-
tes até 6 de setembro de 1504, na carta de uma tença
de oito moios de trigo 17, é apenas designada D. Ana
de Mendoça como "madre de D. Jorje,,, ou "madre do
Duque de Coimbra,.. Não ha referencia nenhuma a ser
ella dona no Mosteiro de Santos.
Por estes tempos era Comendadeira neste notável
convento D. Violante Nogueira, tia paterna de D. Ana
de Mendoça. Vivia D. Violante ainda em 31 de janeiro
de 1508 ,s; era porem já falecida em 31 de março do
mesmo anuo. como se declara na carta do Mestre
D. Jorje pela qual determinou que no mosteiro não
houvesse mais de dezoito donas l9_
Estava então vago o cargo de comendadeira, o qual,
provavelmente por esses tempos, proveu o Mestre em
sua mãe, que já aparece governando a comunidade em
documento de 19 de fevereiro de 1509 -".
Duvido que D. Ana de Mendoça tivesse professado
muito antes de receber a sucessão de sua tia, porque nos
documentos do tempo desta Comendadeira que vi. e
foram bastantes, em nenhum encontrei a sobrinha D. Ana
nomeada entre as Donas discretas do convento ; a
111 Chancelaria de D. Manuel, liv. 23.", fl. 82 v.
i: Chancelaria de D.João III, liv. 37." de Doações, fl. 1 lo.
|s Documentos do Mosteiro de Santos, n.o 6S9, na Torre do
Tombo.
19 Ibidem, n.o 61.
'-'" Ibidem, n.o 690. Kr. Agostinho de Santa Alaria, a paj. 431 da
Historia tripartita, referindo-se á entrada de D. Ana como comen-
dadeira de Santos, diz: "entendo vivia no Convento em companhia
dr sua tia, a quem suecedeo no cargo, sem embargo de que por
outra noticia acho, que no mesmo dia, em que entrara no Con-
vento nesse mesmo professara, e que fora em dia de Ramos (16 dl
abril) do anuo de 1508, poucos tempos depois da morte da Comen-
dadeira sua tia.,, Pelo que declaro no texto, parece-me mais pro-
vável esta segunda hipótese.
DESCI NDENCIA DE D. JOÃO II 151
sobrinha D. Joana de Mendoça, aparece; mas D. Ana,
sua irmã, não. Se nelle habitava, era como recolhida, e
não como freira.
Durou muitos annos o governo de D. Ana, que em
1536 -' traspassou a sua tença de duzentos mil reaes
em D. Helena de Lancastre sua neta, filha do Mestre
D. Jorje --, a favor da qual, por instrumento de 5 de
junho de 1542, desistiu do cargo de comendadeira -:!.
Continuou porem D. Ana com o governo ainda por
uns poucos de annos, apesar do Mestre, no dia seguinte
ao da desistência, ter assinado a carta de comendadeira
a D. Helena -'.
Era de boa e resistente fibra a velhinha. Encontro-a
"mal disposta em uma cama,,, no dia 3 de setembro de
1548 -:i; mas ainda passou alem de 5 de novembro
desse anno, dia em que deu a posse do seu cargo ao
Bispo de Ceuta D. Jaime, procurador de D. Helena â6.
Tinha-se porem finado antes de 3 de abril de 1549, em
que a neta tomou pessoalmente a posse -'.
Supondo a D. Ana de Mendoça dezoito annos quando
teve a D. Jorje, veio ella a morrer com oitenta e seis.
D. Jorje foi mandado criar a Aveiro, sendo entregue
'-" Em 1530 havia mandado levantar no sen mosteiro a sepultura
de seu pai, segundo declara o epitáfio nella posto: Nesta sepultura
jaz Nuno Furtado de Mendoça, filho de Afonso Furtado de Men-
doça, o qual morreu nas guerras de Castclla e mandou trazer de lá
sua ossada dona Anna de Mendoça, sua filha, Comendadeira deste
Mosteiro de Santos, e lhe mandou fazer esta eapel/a e sepultura.
Anno de 1530. D. Ant. Caet. de Sonsa, Memorias sepuíchraes,
fl. 141, ms. em poder do falecido conselheiro Venâncio Deslandes.
'-'-' Instrumento de 7 de janeiro e carta de padrão de 12 de março
de 1536. Chancelaria de D.João III, liv. 21. o de Doações, fl. S5 v.
'-1 Doe. de Santos, n.° 1642.
» Ibidem.
-■' Ibidem, n.° 205.
» Ibidem, n.o 1642.
r Ibidem.
152 ESTUDOS
a sua tia a Infanta I). Joana, que lhe deu por amo a
João Alvarez, a quem, por cartas de 30 de julho e 3 de
agosto de 1490, se recompensaram os serviços com
uma tença de oito mil reaes, e os privilejios de
vassalo -\
Já então, mas pouco antes, a 12 de maio, tinha
morrido a Infanta, e este acontecimento fizera com que
D. João I! mandasse vir o filho para a corte, em Évora,
onde entrou solenemente a 15 de junho. Foi tão bem
aceito de todos, que até a Rainha D. Leonor, esquecidas
antigas afrontas, não só recebeu afectuosamente o bas-
tardo do marido, como quis agasalha-lo em sua casa
para acabar de o criar.
As alegrias breve findaram ; e a morte do Príncipe,
d'ali a pouco mais de um anno sucedida, assim como
mudou tudo em tristezas, também avivou apagados zelos.
Saiu I). Jorje da corte, sendo entregue ao Conde de
Abrantes em cuja guarda permaneceu até 12 de abril
de 1492, dia em que lhe foi dada obediência, como
mestre das ordens de Santiago e de Avis, na igreja de
S. Domingos de Lisboa. Lntão seu pai lhe pôs casa,
nomeando seu aio a D. Diogo de Almeida, já então
eleito Prior do Crato, alto cargo que assumiu naquelle
mesmo anno -'•'.
São conhecidos os ardentes desejos que D. João II
teve de nomear a coroa em D. Jorje. Desistiu porem
desse propósito, mas no seu testamento tratou de segu-
rar ao menos uma boa casa a seu filho. Doou-lhe a
cidade de Coimbra em ducado, as vilas de Montemor
o Velho, Penela, Vila Nova de Anços, Buarcos, Aveiro,
os logares de Pereira, Abiul, Condeixa, Tentúgal, Sega-
dães, Recardães, Lousã, Casal de Álvaro e Ílhavo, os re-
28 Chancelaria de D.João II, liv. 16.°, fl. 35 «.' 50.
'■' Pina, Chronica de I). João II, cap. 55, paj. 1 1 >.
DESCENDÊNCIA DE D. JOÃO II 153
guengos de Campores, Rabaçal e Anobra, e muitas outras
terras e logares que haviam constituído todo o ducado
de Coimbra outrora possuído pelo Infante D. Pedro, avô
dei Rei. Deixa-lhe tudo "com a benção de Deus e minha
e de todos seus avós, e quero que elle os haja (os bens)
paia si e para todos seus herdeiros e sucessores, que
delle descenderem por linha direita e transversal . . .
para a qual cousa hei por revogada a Lei Mental . . . E ao
Duque, meij primo, rogo, encomendo, e mando, que
todas estas cousas . . . por meu falecimento as cumpra
logo todas.,, Recomendou também muito a D. Manuel
que provesse o mestrado de Cristo em D. Jorje, e o
casasse, vindo a ter filhas, com a mais velha 30.
D. Manuel nem se apressou em cumprir as determi-
nações do seu antecessor, nem a todas deu execução.
Nem o mestrado de Cristo, nem a cidade de Coimbra,
nem todos es logares que haviam sido da casa de Bra-
gança, e eram muitos, Tentúgal, Buarcos, etc, nada
disto deu a D. Jorje. Foi mais liberal com D. Jaime; foi
mais apressado em restituir ao reino e aos bens a D. Ál-
varo de Ataíde, a favor de quem se não pode alegar
haver sido simplesmente filho de culpado, como se fez
para o Duque de Bragança, porque D. Álvaro, na cons-
piração do Duque de Viseu, "era o próprio criminoso,
ou um delles; e o caso foi tão provado, que custa a
salvar decorosamente esta restituição 31„. Não são pa-
lavras minhas, para não dizerem que sou sempre par-
cial contra D. Manuel; é frase do erudito, austero,
mas benévolo, Cardeal D. Fr. Francisco de S. Luis '"-'.
3" Testamento de D. João II nas Provas da Hist. gen ca lógica, II,
167.
:!l A sentença condenatória de D. Álvaro de Ataíde está publi-
cada no Arch. hist. port., II, 27b.
32 "Destes (os compreendidos na conspiração do Dnqne de Viseu)
veio restituído ao reino e aos seus bens, D. Álvaro de Athaide, irmão
do Conde de Atouguia. Dizem alguns, que el-Rei D. Manoel, quando
154 ESTUDOS
É a minha esperança; não tenho eu forças para isso;
mas justiça completa ainda ha de ser feita tanto a
D. João II, o Cirande, como a D. Manuel, o Pequeno.
Em 1500 começou este a tratar de dar cumprimento
ás determinações de seu predecessor. No dia 25 de maio
declarou a D. Jorje duque de Coimbra í!, e dois dias
depois fez-lhe doação da casa :!i.
É notável este documento. Ha nelle expressões real-
mente honrosas para I ). Manuel, e em prova da
minha imparcialidade transcreverei o seguinte trecho:
"Considerando nós o amor e afeição com que el Rei
D. João, meu primo, que Santa Gloria haja, nos criou,
e como, assim nisso, como em todas as cousas, nos tra-
tou como próprio filho, e as mercês de acrescentamento
que delle recebemos, pelo qual somos em muita obri-
gação de a suas cousas sempre o conhecermos; lem-
brando-nos, como delle não ficou outro filho senão
D. Jorje, Duque de Coimbra, meu muito amado e pre-
sado sobrinho, o qual nos elle deixou muito encomen-
dado; e, por satisfazermos a obrigação que por todos
estes respeitos temos, folgámos sempre de criarmos, e
tratarmos, e honrarmos o dito D. Jorje seu filho, meu
sobrinho, com muito amor e afeição como era razão. E
agora, porque elle é já de idade para lhe devermos de
quiz restituir os Senhores de Bragança, affirmára aos do seu Conse-
lli", que estava persuadido que os filhos não devido padecer pelas
culpas de seus pais. Estaria : mas nem p<»r isso no seu código ficarão
abolidas as penas dos crimes de leza-magestade, cujo effeito recahe
sobre OS filhos dos criminosos: e o próprio principio (alias verda-
deiro e muito humano) tem suas limitações na applicação como
todos -abem. Mas o I). Álvaro de Athaide, de que falamos, não era
filho; era o próprio criminoso, ou hum delles; e o caso foi tão pro-
vado, que custa a salvar decorosamente esta restituição.» Obrascom-
pletas do Cardeal Saraiva, vol. III, paj. 353.
Góes, Chronica de I). Manuel, l.1 part., cap. 45, fl. 33.
'•■ Chancelaria de D.João III. liv. 71." de Doações, fl. 309; Pro-
vas ila Hist. genealógica, vol. VI, paj. 1.
DESCENDÊNCIA DE D. JOÃO 1! 155
dar casa e fazenda, em que elle se possa manter e ser-
vir-nos como quem é; e porque nelle, e nos que delle
descenderem, dure a memoria de cujo filho é; e como
por respeito de suas muitas virtudes e grandes mereci-
mentos (de D. João II), e pelos serviços que delle temos
recebidos, e pela divida em que estes reinos lhe são
PELA MANEIRA EM QUE OS GOVERNOU E DEFENDEU, ASSIM
EM LHES ADMINISTRAR JUSTIÇA, COMO EM TODAS AS OU-
TRAS COUSAS,, QUE A BEM DESTES REINOS PERTENCIAM,
pelas quaes cousas é muita razão acrescentarmos o dito
seu filho, e dotarmos em maneira que a todos pareça,
que satisfazemos a divida que por respeito das sobre-
ditas cousas lhe temos, etc.„
Em palavras não se pode pedir melhor; as obras é
que não corresponderam completamente. Análogas ex-
pressões se encontram na carta de duque de Coimbra,
a qual foi bastante posterior á investidura no ducado,
pois só foi passada a 16 de março de 1509 3o.
Anteriormente á doação da casa, por esses tempos,
tinha D. Manuel escolhido noiva para o Mestre D. Jorje,
mostrando politica análoga á seguida perto de dois sé-
culos depois pelo Marquês de Pombal. Casou este um
dos filhos na familia dos Tavoras; deu aquelle por mu-
lher ao filho de D. João II uma senhora da casa de Bra-
gança.
Casou o Duque de Coimbra a 31 de maio 1500 com
D. Brites de Vilhena, filha do senhor D. Álvaro, como
lhe chamavam, ou D. Álvaro de Portugal, como em
alguns documentos é nomeado, irmão do justiçado Du-
que D. Fernando :;".
D. Jorje enviuvou em 1535, e veio a apaixonar-se em
'" Chancelaria de D.João III, liv. 24. o de Doações, ti. 73; Provas
da Hist. genealógica, vol. VI, paj. S.
3li Liv. 2.i dos Brasões de Cintra, paj. 42S.
156 ESTUDOS
1 ^48, aos sessenta e sete annos, por D. Maria Manuel :iT.
Toda a historia destes amores, bem como a vida do
Mestre, é interessante, mas não devo alongar desmesu-
radamente este artigo; talvez fique para outro.
Morreu o Duque de Coimbra a 22 de julho de 1550,
e foi sepultado na igreja do castello de Palmella. A sua
sepultura encontra-se hoje violada, e os seus ossos dis-
persos !
Alguns dão ao Mestre D. Jorje o apelido de Lancas-
tre, e o mesmo fazem ás Rainhas D. Isabel e D. Leonor,
mãe e mulher de D. João II. E porem completo des-
acerto, porque nenhum delles usou jamais de apelido.
Foi invenção de genealojista, seguida sem critério nem
averiguação. O primeiro Lancastre foi D. João, Duque
de Aveiro, filho maior do Duque de Coimbra.
Deixou este filhos e descendência, que se poderá ver
na seguinte arvore de geração, na qual serão unicamente
nomeados os varões que formaram linha, ou represen-
taram casa, e as fêmeas para cuja descendência aquellas
linhas passaram.
Foram seis os ramos da família de Lancastre. O pri-
meiro foi o dos Duques de Aveiro, que passaram para
Espanha; o segundo o dos Duques de Abrantes, que
também por lá ficaram, tendo ambos os ramos perdido
a varonia ha muito; o terceiro o dos Comendadores
mores de Avis, Marqueses de Abrantes com a varonia
de Távora; o quarto o dos Comendadores de Coruche,
Marqueses das Minas com a varonia de Noronha, extin-
ctos; o quinto o dos Alcaides mores da Figueira, Con-
des das Alcáçovas com a varonia de Vasconcellos; e o
sexto o dos Condes da Lousã, que conservam a varonia.
São portanto hoje os únicos descendentes por linha
!' Liv. 3." dos Brasões de Cintra, paj. 2S'>.
arvore: da geração varonil
D.João II, Rei de Portugal
em 1481. f 14y5-
Casou em 1472 com D. Leo-
nor, sua prima, f 1525.
Era sua amante em 14S1 D.
Ana de Mendoça, Co-
meu d a d eira de Santos
em 1508, ou 9. f 1548
ou 49.
I
D. Afonso, Príncipe, f 1491
S. O.
Casou em 1490 com D. Isa-
bel, Infanta de Castella e
Aragão, Rainha de Por-
tugal em 1407. f 1498.
D. João de Lancastre, 1.»
Duque de Aveiro já em
1535. f 1571.
Casou em 1547 com D.
Juliana de Lara. f 1570.
D. Afonso de Lancastre,
Comendador tnúr de San-
tiago.
Casou com D. Violante Hen-
riquez.
D. Jorje de Lancastre, 2.o
Duque de Aveiro em 1571.
f 1578.
Casou antes de 1571 com
D. Madalena Qiron, que
lhe sobreviveu.
D. Álvaro de Lancastre, 3.°
Duque de Aveiro em 15SS.
f 1626.
Casou em 1588 com sua so-
brinha D. juliana de
Lancastre. + 1636.
I). Juliana de Lancastre, 3.a
Duquesa de Aveiro em
15SS t 1636.
Casou em 15SS com seu tio
D. Álvaro.
D. Jorje de Lancastre, l.o
Duque de Torres Novas,
em 1504. -;- 1632.
Casou l.o, em 1610, com a
Princesa Ana Dória, f
1620. S. O.
Casou 2.o com D. Ana
Manrique de Cardenas. +
1660.
D. Afonso de Lancastre,
Marques de Porto Segu-
ro em 1627, Duque de
Abrantes depois de 1640.
t 1654.
Casou em 1627 com D. Ana
de Sande, Marquesa de
Vai de Fuentes. f 1650.
D. Pedro de Lancastre, 5.°
Duquede Aveiroem 166S,
Inquisidor geral em 1671.
•;■ 1673. S. Q.
D. Maria de Lancastre, Mar-
quesa de Gouveia.
Casou em 1625 com D. Man-
rique da Silva, l.o Mar-
quês de Gouveia, y 1648.
Foram bisavós do sétimo
Duque de Aveiro, justi-
çado em 1 750.
D. Raimundo de Lancastre,
4.o Duque de Aveiro em
1637, Duque de Ciudad
Real e de Maqueda em
Espanha, f 1666.
Casou com a Princesa Luisa
Clara de Ligne. S. G.
D. Maria da Guadalupe de
Lancastre, Duquesa de
Ciudad Real e de Maque-
da em 1666, 6.a Duquesa
de Aveiro em 1681. "f
1715.
Casou em 1665 com o 6.o
Duque de Arcos. C. G.
D. Agostinho de Lancastre,
2.o Duque de Abrantes.
f 1720.
Casou com D. Joana de
Noronha, filha do 1.° Du-
que de Linhares.
D. Fernando de Lancastre,
4.o Duque de Linhares,
jantes de 1720.
Casou em 1626 com D. Leo-
nor da Silva. S fi
D. João Manuel cie Lancas-
tre, l.o Duque de Abran-
tes e 5.o de Linhares, Pa-
triarca das índias, v 17 1 1,
s n
D. Josefa de 1 ancastre
Condessa de Enj
t asou em 1686 com D. Ber-
nardino de Carvajal e
ERAÇÃO VARONIL. DEI D. JOÃO
D. [oão II, Rei de Portugal
cm 1481. f 1495.
Casou em 1472 com D. Leo-
nor, sua prima, f 1525.
Era sua amante em 14S1 D.
Ana de Mendoça, Co-
menda d eira de Santos
em 1508, ou 9. v 1548
ou 49.
I
D. Jorje, Mestre de San-
tiago e de Avis, Duque de
Coimbra em 1500. +1550
Casou em 1500 com D. 1:
triz de Vilhena, f 1533
ifonso de Lancastre,
rquês de Porto Segu-
em 1627, Duque de
rantes depois de 1640.
1.34.
i em 1027 com D.Ana
Sande, Marquesa de
de Fuentes. + 1650.
D. 'edro de Lancastre, 5.o
I ique de Aveiro em 1658,
Inquisidor geral em 1671.
1 I673. S. Q.
D. Maria de Lancastre, Mar-
quesa de Gouveia.
Casou em 1625 com D.Man-
rique da Silva, l.o Mar-
quês de Gouveia, -j- 1648.
Foram bisavós do sétimo
Duque de Aveiro, justi-
çado em 1 750.
D. Luis de Lancastre, Co-
mendador mór de Avis
em 1574. f 1613.
Casou em 1548 com D. Fi-
lipa de Meneses, + 1621.
D. Francisco Luis de Lan-
castre, Comendador mór
de Avis, Conde de Al-
canede em Espanha. f
1667.
Casou em 1604 com D. Fi-
lipa de Mendoça. f 1651.
D. Luis de Lancastre, Co-
omendador mór de Avis,
Embaixadora*
1568. v 1574.
Casou em 1540 com D. Ma-
dalena de Granada.
D. João de Lancastre, Co-
mendador de Coruche. f
1614.
Casou l.o com D. Paulada
Silva. C. G.
Casou 2.o com D. Filipa de
Castro, S. G.
D. Lourenço de Lancastre,
Comendador de I
Casou com D. Inês de No-
. ouha. y 1651.
gostinho de Lancastre,
Duque de Abrantes.
720.
1 ">iii I). Joana de
ronha, filhado l.o Du-
de Linhares.
rnando de Lancastre,
Duque de Linhares.
tites de 1720.
1 m I626i om D. 1 co-
da Silva. S. G.
D. João Manuel de Lancas-
ie, 3.o Duque de Abran-
- e 5.o de Linhares, Pa-
riarca das índias. + 1733
S. G.
D. Josefa de Lancastre,
' ondessa de Enjarada.
Casou em 1080 com D Ber-
nardino de Carvajal e
Sande, 2.» Conde de En-
D. Pedro de Lancastre, 2.o
Conde de Figueiró em
1654. f 1658.
Casou em 1630 com D. Ma-
d dena de Lancastre. +
1649.
1D40
D. Lu
iir-l- r ,--
|_uis de Lancastre, 4.o
< bnde de Vila Nova de
Pfcrtimão em 1688. +1704.
Casou em 1694, com D. Ma-
d lena Teresa de Noro-
D. Lourenço de Lancastre
Comendador de Coru-
che, f 1715.
Casou com D. Isabel de
Meneses.
D. Rodrigo de 1 ancastre,
Comendador 1
che. y 1657.
Casou com D. Inês de No-
ronha.
1 > |oão de i ancastre, l io
vernadoí do Bi tsil 1 m
1694, e do Algarve em
1704. + 1707.
r»<inii ,-,,m 1). Maria Teresa
Casou em 1621 cora D. \iu
de SaiuU . Marquesa de
Vai de Fuentes I 1650
Forain bisavós do sétimo
Duque de Aveiro, justi-
çado era 1 ?59.
Casou em M» com u. 1 i-
lipa de Mendoça. f 1651.
inho de I ancastre,
i que de Abrantes.
V 1720.
Casou com D. Joana de
Noronha, rilhado l.o Du-
que de Linhares.
D. Fernando de Lancastre,
4." Duque de Linhares.
■'; antes de 1720.
Casou em 1626 com D. Leo-
nor da Silva. S. Q.
I '). loão Manuel de Lancas-
IrA l.o Duque de Abran-
- e 5.o de Linhares, Pa-
triarca Jas Índias, f 1733.
S O.
D. Josefa de Lancastre,
Condessa de Enjarada.
Casou era 1686 com D. Ber-
nardino de Carvajal e
Sande, 2.o Conde de En-
jarada. C. O.
D. Pedro de Lancastre, 2.o
Conde de Figueiró em
1654. f 1658.
Casou em 1630 com D. Ma-
dalena de Lancastre. f
U. lo
D. I uis de Lancastre, 4.°
Cpnde de Vila Nova de
Portimão em 1 688. f 1704.
Casíu em 1694, com D. Ma-
d lena Teresa de Noro-
nha, f 1701.
D. Lourenço de Lancastre,
Comendador de Coru-
che, f 1715.
Casou com D. Isabel de
Meneses.
I). Rodrigo li i nu
Comendad i >
che. v I
Casou com D. Inês de No-
ronha.
D. João de Lancastre, Go-
vernador do Brasil era
1694, e do Algarve em
1704. v 1707.
( ..i-.Mii , om D. Maria Teresa
de Portugal, f 1703.
VI
D. ?edro de Lancastre, 5.°
Conde de Vila Nova de
Portimão em 1 704. f 1752.
Casou em 1711 com D. Ma-
ria Sofia de Lancastre, fi-
lha dos l.os Marqueses
d I Abrantes.
D. Isabel de Lancastre, lier-
díjjm, t 1742.
Casifc com Manuel de la-
Q.
dera, v
si con
j
D. Rodrigo de Lancastre,
Comendador de Coru-
che, f 1724.
Casou l.o com D. Vicencia
de Meneses, f 1703. CO.
Casou 2.o em 1720 com
D. Ana de Vasconcel-
los. S. G.
D. Guiomar de Lancastre,
sr.a da casa, -j- 1734.
Casou em 1725 com D.
Afonso de Noronha, f
1752. C. G.
D. Pedro de Baltasar de
Almeida e Lancastre, Al-
caide mór da Figueira, -j-
1740.
Casou em 1714 com D. Inês
Josefa de Távora, -j- 1718.
D. José de Lancastre, Al-
caide mór da Figueira, f
.793.
Casou em 1746 com D. Leo-
nor Henriquez, sr.a das
Alcáçovas, j 1808.
D. Rodrigo de Lancastre, ca-
pitão de cavalos, f 1755.
Casou em 1713 com D. Isa-
bel de Castro.
D. João Xavier de Lancas-
tre, l.o Conde da Lousã
em 1765, Vice-Rei da ín-
dia em 1765. f na viajem.
Casou em 1749 com D. Ma-
riana Joaquina de Basto
Barem.
D. Caetano de Lancastre,
sr. das Alcáçovas, f 1 822.
Casou em 1785 com D. Ma-
ria Domingas de Castro.
D. Teresa de Lancastre,
herdeira, f 1821.
Casou em 1808 com Luis
de Vasconcellos e Sousa,
Par do reino. + 1843.
C. G.
D. Luis de Lancastre, 2°
Conde da Lousã, f 1830.
Casou l.o, em 1770, com D.
Maria Rosa de Saldanha.
f 17S6.
Casou 2.o, em 1820, com D.
Francisca de Saldanha da
Gama.
D. João de Lancastre (do 2.o
casamento), 4.° Conde da
Lousã, f 1883.
Casou l.o, em 1842, com D.
Maria Joana de Sá Pe-
reira, f 1842.
Casou 2.o, em 1S48, com
D. Carlota luess já |.
D. Luis de Lancastre, nasceu
em 1840, 5.» Conde da
Lousã, t 1907, deixando
vários filhose irmãos, úni-
cos descendentes por va-
ronia de D. João II.
D. Raimundo de Lancastre,
4.o Duque de Aveiro em
1637, Duque de Ciudad
Real e de Maqueda em
Espanha, f 1666.
Casou com a Princesa Luisa
Clara de Ligne. S. O.
D. Maria da Guadalupe de
Lancastre, Duquesa de
Ciudad Real ode Maque-
da em 1666, 6.a Duquesa
de Aveiro em 1681. f
1715.
Casou em 1665 com o 6."
Duque de Arcos. C. O.
D. Agostinho de Lancastre,
2." Duque de Abrantes.
V 1720.
Casou com D. Joana de
Noronha, filhado l.o Du-
que de Linhares.
D. Fernando de Lancastre,
4.o Duque de Linhares.
V antes de 1720.
Casou em 1626 com D. Leo-
nor da Silva. S. O.
D. João Manuel de Lancas-
"". i.o Duque de Abran-
tes e 5.o de Linhares. Pa-
triarca das índias. -;- 1733.
S.G.
D. |osefa de lancastre,
Condessa de Lnjarada.
Casou em 1686 1 om D. Ber-
nardino de Carvajal e
Sande, 2." Conde de En-
jarada. C. G.
)
"
dilena de Lai
IMQ.
D
Pxtíms
Casou cm 1604, com D. Ma-
d lena Teresa
nha. + 1701.
D. iJedro de Lancastre, 5.o
Onde de Vila
P' .rt i mão em 1 704. 7 1 752.
Casou em 1711 com D. Ma-
ria Sofia de Lai
Ira dos l.<» Marqueses
d . Abrantes.
D. Isabel de Lancastre, her-
duja. 7 1742.
Cas<A Yom Manuel de Ta-
Z. G.
ABREVIATURAS
C. G.
S. G.
com geração,
sem geração.
DESCI NDENCIA DE D. JOÃO II 157
varonil de D. João II, o Conde da Lousã, já agora (1909)
falecido, seus filhos, irmãos e sobrinhos.
Advertirei por ultimo, que algumas das datas trans-
critas na arvore de geração, são minhas, e por cilas
fico; outras são da Historia genealógica e das Resenhas,
e não as garanto.
Aldeia, 24 de novembro de 1901.
VI
A AMANTE
No precedente artigo, referi-me a D. Ana de Men-
doça, e poucos mais dados biográficos a seu respeito
poderia agora acrescentar, se de tal curasse. Não penso
nisso porem, e quasi exclusivamente me ocuparei do
seu trato com D. João II. Tanto será assim, que deveria
talvez substituir a epigrafe acima pela de Amores ; mas,
já agora, ficará a que primeiro me ocorreu.
O que me levou a compor este artigo, foi a leitura do
que acerca daquella senhora escreveram Camilo Castello
Branco nos Narcóticos, e Barros Gomes, colijindo os
apontamentos de Oliveira Martins, no prefacio do Prín-
cipe perfeito. Ambos elles, e por ventura todos três, acre-
ditavam na duração dos réjios amores. Este facto obri-
ga-me a voltar ao assunto, não só por no outro artigo
o não ter deixado tão esclarecido como devera, mas
porque elle me interessa. Interessa-me, porque desejo ir
pouco a pouco debuxando em pequenos quadros as
pessoas e sucessos dos tempos de D. João II, preparan-
do-me para a obra que projecto. Não pretendo fazer
uma historia daquelle Rei; a minha vaidade, se tenho
disso, não me impede conhecer que as minhas forças
não são para taes cometimentos. Será apenas um grande
painel da vida, uso e custumes da gente do tempo, compo-
sição formada do ajuntamento destes e doutros esboços.
1Ó0 IMTDOS
I >iz a tradição que em Toro, nos fins de janeiro de
147o, quando' a D. Afonso V lá se foi juntar o Prín-
cipe D. João, é que elle pela primeira vez viu a D. Ana
de Mendoça, ou, para melhor dizer, lhe notou a for-
mosura. Servia ella então como donzella em casa da
Rainha I). Joana, a desposada de D. Afonso V.
A permanência do Príncipe na cidade foi curta após
a chegada, porque d'ali a quinze dias, elle e seu pai,
estavam sobre Samora, d'onde comtudo regressaram
ambos no primeiro de março, ferindo-se á tarde a bata-
lha de Castro Queimado. No dia seguinte entrou D. João
outra vez em Toro, onde se conservou até á Semana
Maior, que foi de 7 a 13 de abril, partindo nella de volta
para Portugal, e passando a Páscoa, 14 de abril, já no
reino, em Miranda do Doiro.
Estas são as indicações de Rui de Pina, a quem irei
seguindo por ser o melhor piloto desses tempos, o que
menos arrisca o meu batel a dar nos cachopos dos do-
cumentos.
Se os galanteios começaram em Toro, como dizem, foi
depois da batalha, quando o Príncipe realçava a flor dos
seus vinte e um annos com a aureola da victoria. É
certo porem, que, assim como o combate campal não foi
'decisivo, também o amoroso não passou de escaramuça,
e que, nem a Marte nem a Vénus, se deveu sacrifício.
D. Afonso V e D. Joana pouco mais tempo se demo-
raram em Castella, e vieram passar a festa do Corpo de
Deus, 13 de junho, a Portugal, também a Miranda do
Doiro, d'onde a Rainha se dirijiu á Guarda na compa-
nhia do Conde de Vila Real e do Bispo de Viseu. Da
pátria de Rui de Pina, do seu futuro cronista, seguiu a
Beltraneja para Coimbra, onde o Príncipe com ella se
veio juntar para a acompanhar até Abrantes, a fim de a
entregar á guarda do seu Mordomo mór D. Lopo de
Almeida, Conde, Senhor e Alcaide mór daquella vila.
A AMANTE 161
Que diferença entre o modo de viajar cTentão, e o
de hoje!
Agora, metem-nos num comboio, e despacham-nos
como um fardo sem arbítrio próprio, fechado numa
caixa, incomunicável com o exterior.
Então, pelos caminhos fora, em breves jornadas, des-
frutando a paisajem; convivendo com os companheiros,
com os mais viajantes que se topavam, com os mora-
dores das te/ras que se atravessavam; ouvindo o cantar
dos camponeses nas suas tristes melopeias; encontrando
inesperados episódios; parando aqui á sombra de uma
copada arvore, alem junto a uma fresca fonte, ia-se
gozando da vida no seio da natureza.
Bem sei que alguns contras havia, mas a verdade é
ter a poesia das viajens acabado.
Pelas assombradas estradas da Beira, através dos oli-
vaes e sobraes da alta Estremadura, iam caminhando
direito a Abrantes a Rainha e o Príncipe com as suas
comitivas. Quantas vezes se não deixaria ficar o man-
cebo um pouco para trás na cavalgada, misturando o
seu ginete fogoso com as pacatas mulinhas em que as
donas e donzellas seguiam sua ama? Quantos olhares
apaixonados, quantos galanteios disfarçados se não foram
trocando naquelles dias, que tão breves pareceram aos
dois amantes?
.Melhor é experimenta-lo que julga-lo,
Alas julgue-o quem mão pode experimenta-lo.
Esta jornada comtudo foi apenas um lampejo, um
clarão suave, nos amores do Príncipe e da donzella.
Chegados a Abrantes, logo elle se despediu, e retroce-
deu caminho direito ao Porto, onde estava convocado
por seu pai para se resolverem negócios políticos im-
portantes.
Foi aí que se decidiu a desgraçada e ridícula ida a
li
162 ESTUDOS
França, para onde D. Afonso V partiu de Lisboa em
o ainda daqnelle anno de 1476, deixando o go-
verno do reino a sen filho.
Então houve interpolação nos amores.
A rejencia do reino ocnpon completamente o tempo
e o espirito do joven Príncipe. A campanha do Alem-
tejo, na qual se recuperaram as praças de Alegrete, á
força de armas, e a de Noudar, por preitesia, e se to-
maram as fortalezas de Zagaia e Pedra Boa; as Cortes
de Montemor o Novo; a aclamação em Santarém; o
regresso de D. Afonso V; a entrega do governo; e, de-
pois delia, o levantamento de Moura; a expedição de-
sastrosa do Bispo de Évora a Castella; os tratos e con-
clusão das pazes com os Reis Católicos, todos estes
sucessivos acontecimentos trouxeram o Príncipe arre-
dado da sua dama, que permanecia em Abrantes junto
de D. Joana.
Começaram depois as peregrinações da ex-Rainha de
Castella, que a 6 de oitubro de 1479 largou os titulos,
ficou sendo apenas a Excelente Senhora, e entrou como
noviça no mosteiro de Santa Clara de Santarém. Ali
permaneceu até ao começo do anno seguinte, em que
foi transferida para o mosteiro de idêntica invocação
em Évora, d'onde, por causa da peste, foi levada para
o Vimieiro. A esta vila veio ter o Príncipe.
Tornaram-se pois a avistar os dois amantes, e cTaqui
em diante precipitaram-se os acontecimentos.
Do Vimieiro foi conduzida a pobre Princesa com a
sua corte para o convento de Santa Clara de Coimbra,
onde, terminado o anno que pelo tratado ella tinha para
escolher o seu destino, professou a 15 de novembro
de 1480.
Foi então, nesta estada de D. Joana em Coimbra, que
tiveram logar os encontros do Príncipe com D. Ana nos
bosques de Cernaclie do Bom Jardim, se é verdadeira
A AMANTE 163
a tradição conservada por Miguel Leitão de Andrada ',
que afirma ter sido ali gerado o Mestre D. Jorje, nas-
cido nove meses depois, em agosto de 1481.
Esta vai á conta de Miguel Leitão, em quem me fio
muito mais, quando me narra casos sucedidos em Âlca-
cerquibir, onde ficou prisioneiro, do que quando me
revela segredos passados século e meio antes.
Mas, confesso-o, ainda acredito muito mais no devoto
de Nossa Senhora da Luz do Pedrógão, quando elle
me conta' a historia de um seu lacaio, que, embria-
gando-se na Outra Banda num dia de festa, no regresso
para Lisboa se atirou tantas vezes ao mar, que tiveram
de o atar na barca. E, preguntando-se-lhe depois que
mania era aquella, respondeu :
— Quero ser peixe, que me enfado já de ser
carne !
Esta, é verdadeira com certeza.
Cada bêbado tem a sua tineta ; deixemo-los em paz,
e voltemos a coisas sérias.
Não ha duvida, quer o caso se passasse em Cernache
ou noutra parte, que foi em novembro de 1480, quando
a miseranda D. Joana entrou violentada para a clausura,
que o Príncipe alcançou a massima ventura em seus
amores. Não ha documento para o certificar, mas apa-
rece a prova viva nove meses depois na pessoa de
D. Jorje.
Rui de Pina e Resende, sem outros pormenores, di-
zem haver elle nascido em agosto de 1481 2. Lopo de Fi-
gueiredo, no seu Tratado 3, marca c dia de sábado 6 de
1 Miscellanea, paj. 632 da ed. de 1629.
2 Chronica de D. João II, eap. 43, paj. 107; Vido de D. João II,
cap. 112, fl. 64 v.
3 Tratado de Lopo de Figueiredo, em que se contem algumas car-
tas e outras cousas, que tocão ao caso do Duque de Bragança, no
vol. I. dos Annacs das sciencias e letras da Academia, paj. 412.
104 ESTUDOS
agosto; mas pelo menos numa das duas indicações se
enganou: o bastardo ou não nasceu num sábado, ou
não teve logar o sucesso no dia ó de agosto, que foi
segunda feira. Damião de Góes, na Chronica do príncipe
D. João', põe o nascimento em Abrantes, no dia de
Santa Clara, e por tanto a 12 de agosto, que em 1481
caiu ao domingo. Mas isto são minúcias insignificantes
para o caso, porque o essencial é ter D. Jorje nascido
em agosto. Neste ponto estão todos concordes, e isso é
que me serve para poder fazer coincidir o tempo da
concepção de D. Ana com o da profissão de D. Joana
em Coimbra, dando assim alguma plausibilidade á lenda
dos bosques de Cernache, por Miguel Leitão conser-
vada.
Um bocado de poesia não prejudica esta historia de
amores, tão violentos quanto efémeros.
É este, a pouca duração dos amores do Príncipe, o
ponto principal do presente estudo. Já no artigo a Des-
cendência de D. João II, para onde remeto o leitor
curioso de saber os mais dados biográficos de D. Ana
de Mendoça, mencionei o facto; toquei-lhe porem
levemente de mais, e por isso a elle torno.
Os amores de D. João e D. Ana cessaram pouco de-
pois delle subir ao trono.
Diz Rui de Pina, e no citado artigo já transcrevi as
suas palavras, que D. João II "no auto da carne ácerqua
de molheres, despois de ser Rey, foi sobre todos mais
continente,, '.
O mesmo, quasi por idêntica forma, repete Resende:
"E sendo em príncipe muyto amigo de molheres: de-
pois que foy rey, foy nisso tam temperado e casto; que
■> Cap. 104, paj. 269, da ed. de 1905.
5 Chronica de D.João II, paj. 197.
A AMANTE 165
se afirma nunca mais conhecer outra mollier senam
a sua-; ".
Contesta Camilo estas palavras do cronista, dizendo
que o próprio Rei as desmentiu, "quando em anciãs de
morte deixou cair a penna com que assignava uma
tença para D. Anna de Mendonça, e desatou a cho-
rar.-
"Perguntam-lhe, continua o romancista, o que tem, e
sua real senhoria responde: que era tamanha a sua fra-
gilidade no sexto mandamento, que ao mais leve aceno
que lhe fizessem acudia logo a offender a Deus,,1. O itá-
lico é de Camilo, que por esta forma indicou transcri-
ção de palavras textuaes s.
Trasladarei agora o respectivo trecho de Resende
para se ver como Camilo fazia historia: "E dando-lhe
a assinar hum padrão de certa renda que deixou a dona
Ana de Mendoça, mãy do senhor dom Jorge seu filho,
tendo a pena na mão pêra o assinar a deyxou cayr, e
começou de chorar muito : e porque o confortavam
disse. Nã me conforteis, que eu fuy tã mao bicho que
nunca me acenaram que nã mordesse,, '*.
Compare-se.
Acrescentarei que este caso da assinatura do padrão
de D. Ana é uma historieta de Resende, omitida pelo
cronista Rui de Pina e pelo próprio documento des-
mentida.
Garcia conta o caso como sucedido em Alvor no dia
25 de oitubro de 1495, no próprio em que, poucas ho-
6 Vida de D.foão II, no cap. preliminar.
7 Narcóticos, vol. I, paj. 32.
8 E são palavras textuaes, como descobri depois disto escrito ;
mas não de nenhum dos cronistas. Camilo encontrou-as a paj. 341
da Vida de D. João II de D. Agostinho Manuel de Vasconcellos.
Este por tanto é que alterou os dizeres de Resende.
9 Vida de D.João II, cap. 211, fl. 121 v.
1 66 ESTUDOS
ras depois, D.João II faleceu. Pois a carta de padrão da
tal renda a D. Ana foi assinada nas Alcáçovas, um mes
antes, a 24 de setembro '".
Et voilà comment on écrit Vhistoirel
Os amores de D. João II com D. Ana de Mendoça
terminaram, repito, pouco depois da elevação delle ao
trono. Assim o declaram os cronistas. Podem elles po-
rem parecer suspeitos, sobretudo Garcia de Resende;
mas existe outro testemunho, o qual, concordando com
o delles, faz prova completa.
Este testemunho decisivo é o de um contemporâneo,
amigo de D. Manuel, amigo do Duque de Bragança,
amigo, em suma, de todos os inimigos de D. João II.
É elle o dr. Diogo Pinheiro, posteriormente Bispo do
Funchal.
As suas palavras no Manifesto em que se mostra a
innocencia do duque de Bragança são estas: "E quanto
ao que se escrevia á cerca de Donna Anua para se aver
dapartar DelRey, quem pode dizer senom, que isto era
grande virtude. Cá sabido está, que nunca EIRey, que
Deos aja se pôde apartar delia, posto que por EIRey
Dom Affonso, seu Padre, e por Confessores, e outros
muytos lhe fosse desdito; salvo á instancia da Rainha
de Castella, per cuja cauza e respeito a elle lei-
XOUm ll.
Só durante as terçarias, findas em maio de 1483, é
que D. João II atenderia aos rogos de D. Isabel de Cas-
tella. Depois delias, quando já tinha o filho outra vez
em seu poder, não se importaria muito com os pedidos
da Rainha Católica, sobretudo sendo elles contrários ao
seu gosto.
'" A carta de padrão encontra-se transcrita na de confirmação, dada
em Montemor o Novo a 18 de janeiro de 1496, a qual está rejistada
a fl. 82 v. do liv. 32.° da Chancelaria de í). Manuel.
11 Provas da Historia genealógica, vol. III, paj. 648.
A AMAN I I 167
Não o comoveram as suplicas de ninguém; e nem
sequer as lagrimas e paixão de sua mulher a Rainha
D. Leonor, que tanto sentiu a infidelidade do marido, o
enterneceram. Nada disto o demoveu; só a politica, a
que tudo sacrificava, pôde vencer o amor.
E depois do rompimento, que foi feito de D. Ana?-
É difícil responder.
Tiraram-lhe o filho, é certo; e certo também parece
ter cila deixado o serviço da Excelente Senhora. Pelo
menos não conheço documento nem livro digno de fé,
que asseverem o contrario.
Então, que destino teve ella?
Dois alvitres me ocorrem, mas por nenhum me posso
decidir por falta de prova: ou ficou entregue á Con-
dessa de Abrantes D. Brites da Silva, Camareira mor que
fora de D. Joana; ou foi logo recolhida no mosteiro de
Santos, onde então já devia ser Comendadeira D.Vio-
lante Nogueira, tia de D. Ana.
D. João II depositava a massima confiança nos Almei-
das Condes de Abrantes. Ao l.o Conde, D. Lopo, entre-
gara a guarda da Excelente Senhora; ao 2. o Conde,
D. João, Vedor da Fazenda durante todo o seu reinado,
confiou o Mestre D. Jorje, quando em 1491 teve de o
tirar do paço. Não é pois para admirar ter ficado D. Ana
em Abrantes, onde já lhe nascera o filho, conforme asse-
vera Damião de Góes, até entrar para o mosteiro de
Santos, ou em 1502, como recolhida depois da morte da
Condessa '* ou em 1508, gozando já do predicamento
de comendadeira. E tanto menos é isto para admirar,
quanto é certo haver entre ella e os Almeidas umas re-
motas relações pelos Nogueiras.
Este ponto é duvidoso; o da quebra porem é certo.
Pois crêem que, se as relações com D. Ana tivessem
12 Livro 3.o dos Brasões de Cintra, paj. 277.
168 ESTUDOS
continuado, os bastardos ficariam só em D. Jorje?
Nada.
D. João II não era D. Manuel, que foi rei num país
meridional em tempos da Renascença, e nunca se lhe
conheceu amante l::!
Aldeia, 12 de fevereiro de 1902.
13 Numa nota, na paj. 53 do Bernardim Ribeiro e o Bucolismo
do dr. Teófilo Braga, lê-se: "Em uma indicação do snr. Visconde de
Sanches de Baena encontrámos: "Ha já bastantes annos que li num
•velho Martuscripto, sem lhe ligar importância: que o rei D. Manuel
tivera uma filha líuma dama alemtejana, a qual veia morrer a
Cintra. A filha que o dito rei li ouve na tal dama, foi mandada pelo
mesmo rei e pae para o convento de Odivellas. ■ ■
E pura fantasia de genealojista, sem base nenhuma, nem sequer
em lenda, fantasia a que nenhuma importância se deveria ligar e
pena foi que o ilustre Professor, não só a tal patranha se referisse,
mas ainda se detivesse a querer identificar aquella suposta filha bas-
tarda de D. .Manuel, com a mulher muito moça sepultada no mos-
teiro de Odivellas a quem Borjes de Figueiredo, na sua muito con-
cienciosamente elaborada monografia, O mosteiro de Odivellas, se
refere no cap. XII, paj. 193-208. Pode talvez a tal mulher muito moça
não haver sido Maria Afonso, filha bastarda de I). Dinis, com quem
Borjes de Figueiredo, muito judiciosamente a meu ver, a identificou:
pode não ser, mas certamente não foi filha nem contemporânea de
filhos de D. Manuel. Basta reparar para o aspecto, disposição e
ornamentação d i tumulo, basta ver a inequívoca forma e lavrado
dos escudos tias armas, para se adquirir logo a certeza de ter diante
dos olhos um monumento medievo, de séculos anteriores ao xvi.
1 5tOU persuadido que o dr. Teófilo Braga não vio a estampado
tumulo, a qual, não sei por que motivo, em vez de estar entre as
pajinas daquelle capitulo, se encontra muito mais adiante, em frente
da pajina 300; estou disso persuadido, porque, se o ilustre Professor
a tivesse visto, de certo se não deixaria arrastar pela fantasia genealo-
jica.
Vem tudo isto para confirmação da minha asserção do texto, de
a D. Manuel nunca se ter conhecido amante.
IX
MA BATALHA
Na terça feira, 26 de novembro de 1901, pelas quatro
horas da tarde, chegou á igreja do extincto convento
de Santa Maria da Victoria, na vila da Batalha, o Go-
vernador civil do districto de Leiria, dr. José dos Santos
Pereira Jardim. Aguardavam-n-o varias pessoas, e com
ellas se encaminhou logo para a primeira capella do
lado da epistola, no cruzeiro do templo, na qual se
guardavam provisoriamente, havia séculos, apenas com
um breve intervalo anterior a 1840, dentro de uma sin-
gela eça feita de taboas pintadas de preto, os restos de
D. João II.
Mandou a autoridade levantar a tampa da eça, e de
baixo delia apareceu uma caixa de madeira, tosca,
completamente lisa, sem letreiro nem sinal nenhum.
O receptáculo, de muito menor comprimento do
que a estatura de um homem, denotava ter a primi-
tiva urna desaparecido, e haver esta sido feita, ou apro-
veitada, para guardar os ossos de D. João II, quando
já o cadáver estava em parte desmembrado.
Aberta a caixa, apareceu a triste múmia do grande Rei.
Estava ella deitada de costas, conhecendo-se que era
de varão, mas existindo apenas desde o maxilar inferior
até aos joelhos. Os braços, separados do tronco, viam-
se deitados a seu lado; o esquerdo, descarnado no
170 F.STUDOS
umero, e faltando-lhe os dedos da mão; o direito, tra-
zendo agarrado o omoplata, e conservando a mão toda,
menos a ultima falanje do dedo médio. As pernas, pega-
das ao iliaco e seguras ao tronco pelos tecidos, estavam
descarnadas para a banda dos joelhos, onde a múmia
findava. (3 tronco, de peito alto, era por diante ainda
todo revestido de pelle, faltando-lhe esta apenas por
de traz, ao longo da espinha, completa até ao axis. Pelo
arrancamento, que o desaparecido craneo padecera, o
maxilar inferior ficara descarnado desde os condilos
até prossimo do queixo, onde ainda existe penujem.
Na caixa encontravam-se: uma tíbia, uma rotula, e ou-
tros ossos pequenos por elia dispersos; vestijios de rou-
pas não havia.
Pedi ao Governador civil para consentir que se tiras-
sem algumas medidas áquelles restos, e essa operação
foi feita com o massimo respeito e toda a veneração,
áquellas relíquias devidos, pelo meu amigo o Major de
artilharia António Bernardo de Figueiredo ', que, junta-
mente com D. Jorje de Mello, foi meu companheiro
nesta piedosa peregrinação.
O fémur media 513 milímetros, desde a espinha iliaca
até á sua base inferior; a tibia, entre topos, 370; o umero
esquerdo, 317; o antebraço do mesmo lado, 260; a mão
direita até á penúltima falanje do dedo médio, 153. Da
estremidade superior do sterno até á sinfise púbica, me-
diram-se 523 milímetros ; da estremidade exterior da
clavícula á espinha iliaca, 454. A circumferencia torá-
cica, na altura da ponta do sterno, deu 714 milímetros;
a abertura da bacia iliaca, 240; a distancia entre as es-
tremidades exteriores das clavículas, 294; e entre as
1 Faleceu este distinctissimo oficial cTali a quatro meses, a 29
de março de l1)!)'^, chorado por todos os seus amigos, que eram
muitos.
NA BATALHA 171
estrem idades exteriores dos omoplatas, 342, sendo o
comprimento destes, 137.
O maxilar inferior, nnico existente, tem um só dente,
que está são, e é o segundo molar esquerdo. Medidas
no maxilar: distancia entre os pontos exteriores dos con-
dilos, 110 milímetros; em esquadria: catéto vertical
do rebordo alveolar, 84 milímetros; catéto horizontal
dos condilos, 109.
Estas foram as medidas que eu ia assentando, ao passo
que o meu referido amigo as tirava. São de certo defi-
cientes, digo isto sem receio de ofender a memoria do
medidor, porque elle não era antropolojista, e o Gover-
nador civil, apesar de medico e de nos ter auxiliado
muito, não o pôde fazer comtudo, tanto quanto desejaria,
distraído pelas suas funções. Alem da nossa ignorância,
faltavam-nos também os aparelhos próprios e indispen-
sáveis para rigorosas medições daquellas, os quaes, nem
adivinhando a sua necessidade, encontraríamos facil-
mente á venda para os podermos levar. Por isso não
se mediram os dois ângulos do maxilar inferior, aos
quaes os compêndios de antropolojia tamanha impor-
tância ligam.
Parece que os altos poderes do Estado não deveriam
ter perdido esta ocasião, única talvez, de mandar estu-
dar por especialistas aquelles restos de D. João II e dos
outros príncipes, procurando arrancar-lhes o seu segre-
do. Não o fizeram comtudo, e não deverei eu condena-
los por essa omissão, que outros acharão imperdoável,
mas que me proporcionou a enorme satisfação de ter
podido, por iniciativa própria, até certo ponto remediar
a falta.
Terminada a medição, colocaram-se com todo o res-
peito, a múmia e os ossos desunidos, na nova urna de
madeira, nada magnifica, destinada a guardar as pre-
ciosas relíquias no seu definitivo jazigo. Então o Oo-
172 ESTUDOS
vernador civil, com uma delicadeza pela qual lhe ficarei
sempre gratíssimo, entregou-me a chave para fechar a
caixa. Teve pois, a mão que está escrevendo estas li-
nhas, a honra suprema de ter fechado a urna em que
estão encerrados os restos do REI!
Em seguida pegaram nas argolas da urna e levaram-
na para a sacristia as seis pessoas seguintes: o Gover-
nador civil do districto de Leiria, dr. José dos Santos
Pereira Jardim ; o Presidente da Camará Municipal da
Batalha, Joaquim de Sales Simões Carreira; D. Jorje
de Mello, Oficial mor da Casa Real ; António Bernardo
de Figueiredo, Major de artilharia; Júlio Mardel, Vogal
da Comissão dos Monumentos Nacionaes; e eu *-'.
De toda esta ceremonia nenhum auto se lavrou, por-
que o Governo para tal não deu ordens. D, João II,
mesmo em múmia assarapanta-o.
Da sacristia passámos para a Casa do Capitulo, onde,
em duas eças semelhantes á que continha os restos de
D. João II, se guardavam os ossos de seus pais e de seu
filho.
Começou-se pela que tinha a indicação de encerrar a
ossada de D. Afonso V. Afastada a cubertura, encon-
trou-se uma caixa de madeira com duas tampas de
'-' Dias depois, contaram os jornaes todos, quando se celebraram
as solenes trasladações dos réjíos despojos para a capella do Funda-
dor, na presença da família real, membros do governo e da corte, e
muitas mais pessoas, pegaram ás argolas ela frente da urna com os
de D. Joio II, á direita o Príncipe Real, á esquerda o Infante
I ). Manuel.
Voltas que o mundo dá! o Príncipe era então o Duque de Bra-
gança; o Infante o Duque de Beja. Vieram por tanto, quatro séculos
depois, os representantes dos dois duques por D.João II justiçados
por contra sua vida terem conspirado, a conduzir em triunfo as suas
relíquias!
Se no outro mundo alguma coisa se soubesse dô que neste ocorre,
Iiunjentissi mas recordações acudiriam por certo ao espirito de D. João II.
Advertirei, apesar de quasi desnecessário, que o Duque de Viseu
de 1484, também era Duque de Beja.
NA BATALHA 173
pedra, uma mais alta do que a outra. Naquella leu-se
esta inscrição:
Aqui jaz a ossada do seireiss~io Sor
el Rey dõ a° qujnto:
Na tampa mais baixa estava este letreiro:
Aquy Jaz lia Sor" Raynlia dona yssabell
molher dei Rey dõ afonso ho qtíyto q a"s aja
Ambas em letra gótica desses tempos.
A caixa de madeira estava dividida ao meio por uma
taboa, os ossos porem achavam-se misturados num e
noutro compartimento, e não se encontraram só os dos
dois conjujes, também lá se viam o sterno, o maxilar
inferior, e outros ossos de uma criança, provavelmente
aquella que ao nascer tirou a vida a sua mãe.
Todos estes restos foram reunidos dentro noutra
urna de madeira, parecida com a que serviu para os
de D. João II, mas mais pequena.
Fechada esta caixa, procedeu-se á exhumação dos
ossos do Príncipe D. Afonso.
Apareceram elles dentro de um pequeno baú de pe-
dra, tendo numa das faces da tampa esta mutilada ins-
eri pção :
Aqy Jaz a ossada do ilhisf Sor . . . o pincipe d . . .
hõso Sor el Rey dõ Joã seg
O craneo encontrado nesta caixa, é grande e lindo,
e pelo dilaceramento dos tecidos parece ter sido arran-
cado. Encontra-se separado do maxilar inferior, tendo
sido portanto desarraigado pela mesma parte por onde
174 ESTUDOS
o foi o craneo de D. João II. A coincidência feria por
tal forma, que António Bernardo de Figueiredo, ao pegar
na lúgubre relíquia, exclamou: "Aqui temos o craneo
de D. João II !„ Não nos atrevemos a leval-o, a ver se
ajustava na mutilada múmia dei Rei; não nos achávamos
autorizados para tal, c pareceu-nos até que seria desres-
peito pelos mortos.
Que falta não fizeram aqui os antropologistas? Mas
elles ficaram na Universidade, ou em suas casas, porque
o Governo os não convocou, e o amor pela ciência os
não estimulou.
Encerrados os despojos do Príncipe noutra urna igual
á de seus avós, pegaram quatro pessoas em cada uma
delias e transferiram-nas para a sacristia também. A dos
Reis foi levada por D. Jorje de Mello, António de Fi-
gueiredo, Mardel, e eu ; a do Príncipe pelo Governador
civil, Presidente da camará, e outros dois indivíduos
cujos nomes ignoro.
Era noite fechada quando saímos da sacristia. A nave
da igreja parecia um abismo de trevas. Fomos descendo
alumiados pela luz amarelada de duas ou três velas,
ténue claridade que ainda mais fazia destacar o negrume
dos lonjes daquelle quadro profundamente melancólico!
Entrámos na capella do Fundador, levados lá, uns para
me mostrarem umas coisas, outros, e eu com esses, para
saudarmos á despedida o dono da casa.
Na capella do Fundador mostrei, por dois motivos,
concordar com as observações que me foram feitas:
primeiro, porque detesto prelecções em publico; segun-
do, porque minúcias históricas não se tratam de impro-
viso. Agora, aqui, socegadamente, farei as considerações
que entendo, c que se referirão aos emblemas esculpi-
dos nos frontaes das novas sepulturas.
Começarei pelo de D. Afonso V.
NA BATALHA 175
Pelo meio de uma elegante e muito ornada folhajem
de hera, vêeifi-se três escudos.
O do centro tem uma cruz, e circumdando-o um
listão com a divisa Honni soit qui mal y pense.
O da direita, esquerda do espectador, é partido: o I
das armas do reino com os escudetes das quinas, os
dos flancos apontados ao do meio, e na bordadura dez
castellos dispostos entre as quatro pontas de uma cruz
florida; o II, esquartelado: no l.o e 4.°, as armas do
reino, como as precedentes, diferençadas porem por
um banco de pinchar de três pendentes; no 2.° e 3.°,
três leopardos sotopostos em pala.
O escudo da esquerda, finalmente, tem as armas do
reino inteiras, como se vêem na primeira pala do pre-
cedente, tirante a diferença.
O escudo do meio é a insígnia da Ordem da Jarre-
teira, o da direita tem as armas da Rainha D. Isabel e
o da esquerda as de D. Afonso V.
Notarei primeiro, por ser o menos importante, a dis-
posição dos escudos. Atendeu- se para ella á análoga
ordem que se encontra na sepultura do Infante D. Pe-
dro, na qual se vê no centro o escudo da Jarreteira, á
direita o da Infanta D. Isabel, e só á esquerda é que
estão as próprias armas de D. Pedro. Não se reparou
que no tumulo do Infante D. João a colocação dos
escudos é bem diferente, vendo-se no meio as armas
de sua mulher, e aos lados, á direita, as da Ordem de
Santiago, e á esquerda, as do Infante. Já por aqui se
devia ter percebido que não presidiu um sistema idên-
tico para a disposição dos escudos nos jazigos dos dois
Infantes casados, que estão na capella do Fundador.
Não se reparou nisto, mas sobretudo não se reflectiu
que eram filhos segundos aquelles Infantes, ao passo
que D. Afonso V era o Rei, o chefe da família, devendo
por tanto as suas armas preferir a todas, e para ellas se
17Ó ESTUDOS
havia de reservar o centro, o primeiro logar. Isto, os
menos versados em heráldica sabem.
Mas, peor do que tudo é o seguinte.
Deslocaram do seu próprio logar as armas do Rei
para as substituir pelas da Ordem da Jarreteira, da qual
D. Afonso V não foi companheiro!
Este facto é que deve obrigar a uma imediata subs-
tituição do frontal da sepultura de D. Afonso V; e então
ponham-lhe no meio as armas do reino, á direita as da
Rainha, e á esquerda a empresa dei Rei, se quiserem,
ou o escudo das armas de que elle usou no tempo' em
que se intitulava Rei de Castella, as quaes encontrarão
na gravura de um selo no IV vol. da Historia ge-
nealógica.
O indispensável, é tirar d'ali as insígnias da Ordem
da jarreteira.
Não se encontram vestijios nenhuns de ter D. Afonso V
sido companheiro daquella celebre Ordem. Não se en-
contram vestijios nem nos documento portugueses, nem
nos ingleses.
Nos nossos nunca vi nenhum em que a tal facto haja
referencia; mas isso, olhando á minha insuficiência,
pouco valerá. Nos documentos ingleses consultados pelo
Visconde de Santarém, cuja autoridade está solidamente
assente, também nada aparece. No XIV vol. do Quadro
dementar teve o seu ilustre autor o cuidado de indicar
sempre todas as referencias, que a investiduaras de ca-
valeiros portugueses na Ordem da Jarreteira, encontrou.
Lá nos aponta elle el Rei D. Duarte no anno de 1435
(paj. 1S2); o Infante D. Pedro, em 1436 (paj. 186); o In-
fante D. Henrique, pelos annos de 1444 (paj. cliii); Ál-
varo de Almada, em 1445 (paj. 203); D. João II, em
1490 (paj. clxxii e 236).
No catalogo dos cavaleiros da Ordem da Jarreteira,
introduzido por Joseph Edmondson no seu livro A
NA BATALHA 177
complete body of fieraldry, também se não encontra
I ). Afonso V nomeado '.
Não sei quem deu o risco para a ornamentação do
frontal da sepultura deste rei; mas foi pena que tivesse
tão pouco estudado o caso.
Segue-se o tumulo de D. João II.
A ornamentação é feita com a folhajem de uma
espécie de caniços. É severa, mas por isso me agrada
a escolha para tal pessoa. Ao meio está um escudo das
armas do reino com os cinco escudetes das quinas, todos
direitos em cruz, e com os sete castellos na bordadura,
tal qual hoje se vêem em toda a parte. Á direita do
escudo, o celebre pelicano; á esquerda, o não menos
celebre, mas mais misterioso, camaroeiro, ou covo de
rede.
Aqui a disposição está boa. As armas do Rei, do chefe
da família, no meio. Pena é comtudo que ellas não
estejam correctas.
Sei d'onde proveio o engano.
Garcia de Resende no capitulo 58 da Vida de D.João II,
descrevendo as mudanças mandadas fazer por el Rei em
1487 nas armas reaes, arremata dizendo, terem el
ficado "da maneira em que agora andam,,. Quem fez o
desenho para o frontal não lhe ocorreu que era o do
tempo de Resende o agora da crónica, e não o do
xix século.
Olharia talvez para documentos coevos, mas nesse
caso só viu as moedas, nas quaes se adoptou efectiva-
mente o numero de sete castellos; mas esqueceu-se de
reparar para outros monumentos.
Nos selos reaes (vem um na Historia genealógica,
J Çnrita nos Analcs de Aragon, vol. IV, fl. 241 v., referindo-se a
D. Afonso V, diz: "el. Rey de Portugal trava la empresa de los Reyes
de Inglaterra de la Jarretea,,. Mas nem Pulgar, nem Rui de Pina men-
cionam o facto nas suas crónicas.
12
17S ESTUDOS
vol. IV, estampa X, n." lxvi) encontram-se dez castellos
na bordadura; no Livro dos Copos, mandado fazer por
I). João II, vê-se por baixo do seu retrato o escudo com
treze castellos; no Mestre das sentenças de Pedro Lom-
bardo, mandado fazer em 1494 por D. Jocão II para o
Duque de Beja, são nove os castellos; na fl. 42 do Li-
vro do Amieiro mór, acabado em 1509, são treze cas-
tellos; no Livro da nobreza perfeiçam das armas, ete., o
famoso livro de armaria guardado na Torre do Tombo,
o qual foi mandado fazer por D. Manuel a António Go-
dinho expressamente para emendar e acertar as armas
das Iinhajeris do reino, vêem-se as dei Rei com oito cas-
tellos na' bordadura.
Muitos outros padrões coevos hão de existir, que me
não ocorrem agora, pelos quaes se provará também
que as armas do reino, depois da reforma ordenada por
D. João II, não ficaram reduzidas a sete castellos na
bordadura, mas que nesta o numero daquellas peças
foi muito variável.
Observar-me-hão que, tendo-se adoptado para as
moedas o numero dos sete castellos, se acertou esco-
lhendo este para as armas do tumulo de D. João II. Eu
porem direi, que não me conformo com essa opinião,
não só porque dou muito mais valor ao selo pessoal
dei Rei e aos livros por elle mandados fazer, mas
até porque nas moedas as armas do reino encontram-se
com muita variedade. Umas com a bordadura dos sete
castellos; outras só com as quinas, sem a bordadura; e
finalmente nalgumas as quinas misturadas com quatro
castellos. Alem disto, em questões de heráldica nesses
tempos, é indiscutível a autoridade dos livros de arma-
ria; e esses são ambos conformes em porem mais de
sete castellos na bordadura das armas do Rei.
O certo, por tanto, é que o numero de castellos era
arbitrário, mas atendia-se a uma coisa, que tinha então
NA BATA! HA 179
grande valia, á arte. Aquelle escudo que está na Bata-
lha, em vez de ter na bordadura os pobres sete castel-
los, perdidos uns dos outros, deixando enormes lisos
entre elles, ficaria muito mais elegante e artístico, muito
mais ornado e rico, se o numero de castellos fosse
maior. E mão só mais ornado, mas mais correcto tam-
bém.
Talvez que o leitor ache estas coisas mínimas; pois
creia que não ha minúcias exajeradas, quando se trata
de restabelecer a verdade em assuntos historios.
Passarei ao terceiro tumulo, o do Príncipe D. Afonso.
Neste, por entre a ornamentação de rosas, a menos
feliz de todas, vêem-se três escudos iguaes, tendo escul-
pidas as armas do reino como as de D. João II, dife-
rençadas apenas por um banco de pinchar de três pen-
dentes. É monótono, e deveriam substituir-se as armas
dos escudos lateraes pelas das Ordens de Santiago, á
direita, e de Avis, á esquerda, por isso que o Príncipe
foi mestre dambas ellas.
Aqui porei ponto nas minhas considerações, que terão
talvez a desgraça de não agradar a ninguém.
Aldeia, 28 de novembro de 1901.
APÊNDICE
Autto de remoção dos despojos mortaes do Snr. D.Joam 2.<~> Rey
de Portuga/ e dos Algarves etc.
Anuo do Nascimento de Nosso Senhor Jczus Cliristo de mil oitto
centos, e quarenta em o primeiro dia do mez de Junho em o Templo
de Nossa Senhora da Victoria, hoje Matriz desta Freguezia da villa
da Batalha com o Orago Santa Cruz — onde eu Escrivam vim com
d Admenistrador do Concelho desta villa Joam Rodrigues Antunes,
ahi perante o Reverendo Parodio da mesma o Padre António Pe-
reira das Neves pelo Conselheiro Inspector Geral das obras publicas
do Reino o Excellentissimo Luiz da Siva Mozinho e Albuquerque
foi mandada fazer remoçam dos despojos mortaes do Senhor Dom
Joam Segundo Rey de Portugal, e Algarves, da Capella Real, onde
jaz o fundador do mesmo Templo o Senhor Dom Joam o primeiro,
e onde decente e provizoriamente estavam emquanto se reconstruio
o novo tumulo, para este, que se acha situado na parte direita do
cruzeiro do mesmo Templo na Capella de Nossa Senhora da Pie-
dade immediata á Capella Mór, e ahi metidos em hum ataúde de
madeira de fora em forma de caixa fexada com chave de metal
amarei lo foram postos em sima do novo tumulo, e por sima de tudo
hua campa de madeira pintada, com o Epitáfio - Hic jacet. Ioannes
Secundus Portugaliae, et Algarbiorum Rex onde tudo ficou: rece-
bendo a chave respectiva o ditto Excellentissimo Conselheiro Ins-
pector, que disse a remettia para a Secretaria dos Negócios do Reino.
De tudo para constar elle Administrador mandou fazer este Autto,
em que comigo, ditto Parodio, e Conselheiro Inspector asinou sendo
testemunhas prezentes a todo este acto, que também asinaram Eugé-
nio Luiz Marques Secretario do mesmo Inspector, e José Augusto
Midoens da cidade de Leiria. E eu José Maria Bello dos Reis Escri-
vam do Admenistrador do Concelho que o escrevi. José Maria
Bello dos Reis. O Administrador do Concelho João Rodrigues An-
tunes. O Vigário Encomendado António Pereira das Neves. Luiz
da Silva Mousinho de Albuquerque Inspector G. de O. P. do Rei/to.—
tugenio Luiz Marques Gomes.- M.Jozé Augusto Midoens '.
1 Torre do Tombo, Gaveta XVI, mac. 3, n.° 19.
X
O MARRAMflQUE
Nós, os Portugueses, não inventámos a pólvora; é
certo. Por um triz que não enjenhámos os balões, di-
zem; mas descobrimos agora, não ha duvida, o romance
histórico com citações e notas '.
Toda a Europa culta nos inveja; e breve seguirá na
nossa trilha!
Nós somos de certo o povo que mais ignora a
sua historia, e onde ella menos se estuda. Por isso,
para acabar de a deturpar, creámos, e aceitamos de
boa mente, esta caturreira do romance histórico ano-
tado.
1 Pois não ha tal, nem isto descobrimos!
Encontro agora em Balzac (Oeuvres completes, ed. de 1879,
vol. XXIII, p. 595) esta graciosa e mordaz critica aos romances his-
tóricos de Eujenio Sue :
"Comment M. Sue veut-il que nous puissipns croire à ce que
disent ses personnages? De loin en loin, il críble ses pages dasté-
risques qui vous renvoient à de petittes notes ou il vous cite les
auteurs auxquels il emprunte íeurs discours. Une note est le coup
d epingle qui desenfie le bailou du romancier. Avec sa note, un
auteur ressemble à un conteur qui, après avoír fait plusieurs histoi-
res, au dessert, vous dit: Ce que je vais vous raconter est vrai.
La note du romancier est la parole d 'honneur du Qascon.»
Bem apanhado !
182 ESTUDOS
Um sujeito faz um figurão diante dos basbaques,
oferecendo-lhes, com molho de sua invenção, vários
acepipes, ocos, balofos, vol-au-vent indijestos, que apre-
senta como bons pratos de resistência aprendidos nos
manuaes culinários dos mais acreditados vateis. Com a
citação dos mestres esbugalha os olhos do leitor, que
não sabe que nuns casos os taes mestres nada valem,
noutros as citações estão erradas ou mal entendidas pelo
romancista, que vai no entretanto colhendo as palmas
apetecidas, e arrecadando os cobres do publico, por fim
de contas, a sua principal pretensão.
Tem porem inconvenientes.
Ainda noutro dia vimos um jornalista experto, e tão
felizardo que paga andainas de fato por trinta mil réis,
cair extactico perante a afirmativa, com citação corres-
pondente, de nos tempos de D. João II se fazer um par
de calças por vinte réis, e um gibão por trinta. E olhe
que ainda esqueceu ao romancista declarar, que se faziam
botinas de mulher por trinta e cinco, provavelmente por
causa dos patacos falsos.
Pois tudo isto está bem lonje da verdade.
O documento citado pelo romancista, para prova de
serem aquelles então os preços do feitio das referidas
peças de roupa, é o chamado Livro vermelho que foi
estampado no III vol. dos Inéditos de historia portugiiezci.
Ora naquelle livro não ha referencia nenhuma a réis;
a unidade monetária é o real, e por esses tempos o real
de compra valia vinte dinheiros, ou vinte réis, como
depois se lhe veio a chamar. Já por tanto sobe o preço
do feitio de um par de calças a quatrocentos réis; mas,
o interessante, é saber que o valor correspondente em
moeda de hoje ao real d'então anda muito perto de
cincoenta réis, e que por tanto os taes vinte reaes de
feitio de umas calças no XV século equivalem aprossi-
madamente a mil réis do xx. Não creio que seja bara-
O MARRAMAQUE 183
teza para espantar, mas confesso não poder bem ajui-
za-lo, porque nunca paguei feitio de calças.
Vou avizando, por causa dos espertos, que em vários
sitios do Livro vermelho imprimiram réis, provavelmente
por já assim encontrarem esta errada leitura na cópia
aproveitada para a impressão. No xv século porem a
abreviatura rs. indicava reaes, e não réis.
No mesmo romance com anotações a que me venho
referindo, do qual apenas por ora li o prologo, e ao
qual o autor, o sr. Artur Lobo de Ávila, pôs o titulo
de Amores do Príncipe Perfeito, transcreve-se, citando-se
o III vol. das Provas da Historia Genealógica, onde tal
coisa não encontro, o pregão sobre a forma das me-
najens, que se diz ter D: João II mandado afixar em
1481. Segundo esta versão começa o documento assim :
"D. João, por graça de Deus Rei de Portugal e dos
Algarves, d'aquem e d'alem mar em Africa, Senhor de
Guiné, etc.„ O titulo de Senhor de Guiné foi introdu-
zido no dictado por D. João II só em 1485 -. O tal pre-
gão, ou se refere por tanto a um caso posterior ao das
menajens, ou foi inventado.
É claro que eu não notaria estas minúcias a um ro-
mancista que unicamente como tal se oferecesse. Os
romancistas, como os poetas, teem amplas liberdades,
podem inventar o que quiserem; mas, quando sob capa
de romance, pretendem apresentar historia, tem a critica
o pleno direito de notar as mostras de falta de estudo, ou
de inciencia que manifestarem.
No prologo dos Amores do Príncipe Perfeito são ellas
repetidas.
Umas das mais engraçadas é vermos Garcia de
2 João Pedro Ribeiro, Dissertações, vol. II, paj. 204. Advertirei que
já em 1483 usava D. João II do titulo de senhor de Guiné. Vide
Archivo histórico portuguez, vol. I, paj. 393.
1S4 ESTUDOS
Resende ém 148.1, com onze ou doze airnos, a dar sen-
tenças pelas ruas de Lisboa, quando elle estava, coitado,
em casa do tio, em Évora, a fazer travessuras nas ho-
ras não dedicadas aos estudos, que lhe não toma-
riam muito tempo. Mas, mais divertido ainda, é quando
o sr. Lobo de Ávila nos apresenta o mesmo Garcia de
Resende, o filho do criado do Bispo de Évora, como
um fidalgo, e o Marramaque, o chefe da linhajem dos
Pereiras, o senhor de Cabeceiras de Basto, Lamegal,
Lumiares, etc, como "o mais plebeu dos palacianos,,!
Onde o romancista foi desencantar isto não sei. Em
tempos conjecturei que houvesse sido nos Poetas pala-
cianos do dr. Teófilo Braga, mas não foi.
João Rodriguez Pereira, o Marramaque, 4.° senhor de
Cabeceiras de Basto, dos coutos de Lamegal e de Lu-
miares, tudo de juro e herdade com as jurisdições, deverá
ter nascido pelos annos de 1452 ou 1453.
Seu pai, João Rodriguez Pereira, 3.° senhor de Cabe-
ceiras de Basto, fidalgo da casa de D. Afonso V e de-
pois do seu Conselho, teve aprovação dei Rei para o
seu contrato de casamento em 16 de junho de 1443 ,!.
Não se efeituou elle comtudo então, porque João
Rodriguez e seu escudeiro João Alvarez de Faria assas-
sinaram a Rui Nogueira' morgado de S. Lourenço
de Lisboa '. Por este motivo andou o fidalgo homiziado
fora do reino muito tempo, até que foi perdoado com
a condição de ir servir quatro annos a Ceuta. Estando
lá a cumprir o degredo, interveio em seu favor a
1 Chancelaria de D. Afonso V, liv. 34.<\ fl. 19" v.
1 Damião de Góes, na minha copia do seu Nobiliário, enganan-
do-se no nome da victima, conta o caso assim: "Guomez Nogueira
(irmão do verdadeiro assassinado) filho '3.<> de Afonso Eanes Noguei-
ra, não lhe ficou geração, que se saiba, matOU-Ó em Torres João
Rodriguez Pereira por numa bofetada que lhe dera sendo moço. Foi
no palanque de Tanger cõ os Infantes».
O MARRAMAQUE 185
Rainha de Castella, e a seu requerimento foram releva-
dos dois annos do desterro. Terminado este, teve João
Rodriguez Pereira carta de perdão em 16 de novembro
de 1440 ".
Então regressou ao reino, e tornou D. Afonso V, por
carta de 10 de junho de 1450, a aprovar e confirmar
o precedente contrato de casamento 6. Por estes tempos
se efeituou o matrimonio, sendo a noiva D. Leonor de
Castro, Donzella da casa da Rainha D. Isabel, e filha
de D. Pedro de Castro, senhor de Bemviver, Sul e Re-
riz, e capitão da armada que fora com os Infantes aco-
meter a Tanjer.
João Rodriguez Pereira morreu em 1470 ', deixando
primogénito a Diogo Pereira, que muito novo pouco
sobreviveu a seu pai; e segundogenito a João Rodri-
guez Pereira, o Mauramaque.
Por varias cartas de fevereiro de 1473 foi confirmada
toda a casa do falecido João Rodriguez Pereira, 3."
senhor de Cabeceiras de Basto, etc, a seu filho do
mesmo nome, que veio a ser o 4.° senhor daquellas
terras s. Estes Pereiras descendiam de Vasco Pereira,
senhor de Paiva e Baltar, filho primogénito do Conde
•' Chancelaria de D. Afonso V, liv. 34.<\ fl. 10 v.
6 Ibidem, liv. 2Q.o, fl. 67 v.
7 Consta do seguinte: A João Rodriguez Pereira havia sido dada,
por carta de 13 de fevereiro de 1459, uma tença de catorze mil reaes
em satisfação das terras de Unhão e outras, que seu irmão Marfim
Afonso de Berredo possuirá, e que então haviam sido doadas a Fer-
não Tellez, marido de D. Maria de Vilhena possuidora doutra tença
de vinte e quatro mil reaes, da qual foram tirados os referidos ca-
torze mil, com a condição de, por morte de João Rodriguez, regres-
sarem a D. Maria. Ora a esta, por falecimento daquelle, foram
restituidos os catorze mil reaes por carta de 25 de março de 1471,
para os haver desde o janeiro precedente. Chancelaria de D.João III,
liv. 51.° de Doações, fl. 54.
s Chancelaria de D. Afonso V, liv. 33.<\ fi. 63 v., 64 v. e 11 1 v.
Urna (Hitra carta de confirmação do senhorio de Basto a João Ro-
driguez Pereira, dada em Lisboa a 2 de oitubro de 1501, encontra-se
impressa pelo sr. Aires de Sá no seu Frei Gonçalo Velho, 1, 287.
1SÓ ESTUDOS
D. Gonçalo de Pereira, e irmão do Arcebispo de Braga
D. Gonçalo, avô do Condestavel D. Nuno Alvarez Pe-
reira. Eram por tanto os chefes da linhajem dos Perei-
ras. E é ao representante destes no reinado de D. João II,
ao Marramaque, que o sr. Lobo de Ávila chama "o
mais plebeu dos palacianos!,,
Foi elle alegre, jovial, galhofeiro. Prestava-se, ao que
parece, á caturreira, coisa muito nossa, muito dos paços
dos reis e fidalgos, onde se tem conservado até nossos
dias, e tanto que eu, se quisesse, podia nomear o Mar-
ramaque d'agora, também fidalgo de alto coturno, a quem
todavia ninguém lhe passou jamais pela cabeça alcunhar
de bobo. Estes marramaques, bem aceitos dos soberanos,
com a sua conversação livre e ditos picantes, iam muita
vez de mistura propondo verdades, que nem sempre
agradariam, mas que se desculpavam.
Ao Marramaque se refere Resende, quando nomeia
as pessoas que em 1498 acompanharam D. Manuel e
D. Isabel aos juramentos de Castella. As palavras do
cronista tiradas da primeira edição do seu Livro das
obras, onde vem correcta a pontuação, são estas:
". . . e dõ Anrrique Coutinho, Anrrique de Sousa: e
Joam Rodriguez Pereira o Marramaque que lua cõ
el rey duas ou três jornadas bem doente pêra acabar hum
requerimento: e a raynha folgou tãto cõ ele que el rey
lhe deu dinheiro pêra a yda e o levou assi consigo. E
outros muytos nobres fidalgos e caualleyros. . . „ 9
Destes dizeres apenas se deverá concluir, que o Mar-
ramaque não era muito rico, e os senhorios da Beira
e Minho valiam mais em honra do que em proveito.
Em todos os tempos, é certo, os fidalgos com o maior
11 A entrada de! rey dom Manoel em Castella, fl. 129 do Livro das
obras de Garoa de Resende, que trata da vida . . . de dom João
o segundo . . . com outras obras . . .
O MARRAMAQUE 187
despejo peckm, e aceitam dinheiro dei Rei; nada ha
pois a estranhar no procedimento do Senhor de Cabe-
ceiras de Basto.
Nam se deva ver por mal
Marramaque ir a ( bastilha '",
diz de cá Jorje de Agniar numas coplas dirijidas de
Saragoça sobre o caso das ceroilas de chamalote por
Manuel de Noronha mandadas fazer.
Não era só apodado nas trovas palacianas; também
João Rodrignez metia a sua colherada de vez em quando.
Vosso arreyo vay inteyro;
bem yreys, a Deos prazendo,
e eu douvos hum pandeyro
alcancareyro,
que leveys na mão tangendo.
E douvos huma erespina
de chaparia de latam,
porque soys dama muy fina,
e bem dyna
pêra mays do que vos dam ".
Com estas coplas vai João Rodriguez em ajuda a Nuno
Pereira, quando este, em setembro de 1481, dizia por
mangação a uma dama como lhe guarneceria a mula,
em que havia de ir á Batalha ás exéquias de D. Afonso V.
Mas, para castigo, logo vem Francisco da Silveira, o fu-
turo Coudel mor, e entre outras coisas diz á tal senhora:
aquisto ssoo vos falece:
Oo pescoço campaynha,
por servidor Marramaque '-'.
Ainda outras trovas do mesmo João Rodriguez Pereira
10 Cancioneiro geral, fl. 163, col. l.a
11 Ibidem, fl. 157, col. 4.a
12 Ibidem, col. 5.a
188 ESTUDOS
nos conservou o Cancioneiro. Foram ellas dirijidas a
Pêro de Sousa Ribeiro, em paga doutras por este es-
critas apodando vários casados que andavam de amo-
res . As de Jocão Rodriguez foram estas:
Vejo o paço alvoraçado,
vejo-os todos rremexer;
dizey: que fostes fazer,
cunhado ja pousentado?
Dou-m'oo demo todo inteiro
CO trovar ja de fumeyro,
que quisestes rrenovar;
porque days em que falar,
Pêro de Sousa Ribeyro.
1 ota, capelhar vermelho,
tahyly e hum terçado,
nuuma mula, c um espelho
na mão, dyz que foy achado,
em Vagos, cerca d'Aveyro,
aa ssombra dum çastanheyro;
ysto nam vay por palrrar,
mas por pena nam pàguar
Pêro de Sousa Rihevro.
Não alcançamos hoje muito bem o espirito destes gra-
cejos e doutros desses tempos, mas elles lá o entendiam
e apreciavam.
Intervieram uns poucos na contenda poética, e toda
esta versalhada foi escrita no período que decorreu de
12 de dezembro de 1499 a 30 de setembro de 1506.
Apuram-se estas datas da seguinte maneira. Numa das
coplas diz Pêro de Sousa:
O Conde de Borba tem
tanta graça neste feito
A primitiva carta do titulo de conde de Borba é de 3
1 Cancioneiro gemi, ele fl. 1/1, col. (>.', a íl. 1.73, çol. ÕA
O MARRAMAQI l 180
dc fevereiro de 1485 14; começou per tanto o certame
depois disto.
Nas respostas dos apodados, diz o Barão de Alvito:
Mandou el rrey na fazenda
riscar tenças e padram
A carta de vedor da fazenda foi dada a D. Diogo
Lobo em 23 de março de 1490 ''; elle porem só suce-
deu na baronia em 1499, entre 12 de agosto e 4 de
setembro "', e nos versos, que lhe dedica, escreveu Pêro
de Sousa.
Gpardava per'oo Barani
Era por tanto D. Diogo Lobo já Barão de Alvito neste
tempo, o que traz os apodos para setembro de 1499.
Logo no principio dellés, porem, diz o poeta:
O primeyro entremes,
em que quero começar,
seraa o senhor Marquês
O único marquesado então existente era o de Vila
Real, e, sendo os versos dirijidos a homens casados, a
referencia só pode atinjir o 2.° Marquês, já em 1496
casado com D. Maria Freire 17, visto que o 1.° enviuvara
em 1491 1S. D. Fernando de Meneses, 2.° Marquês de
Vila Real, sucedeu no titulo por morte de seu pai,
n Chancelaria dc D.João II, liv. l.o, fl. 59.
lj Chancelaria de D. Manuel, liv. 26.", fl. 105 v.
16 Ibidem, liv. 41. o, fl. 104 e 110.
17 Chancelaria de D.João III, liv. 50. o de Doações, fl. 36 v., na
carta do condado de Alcoutim aí transcrita.
1S Pina, Chronica de D. João, II, paj. 130.
!' ESTUDOS
pouco antes de 12 de dezembro de 1490 '''. Só depois
desta data, por tanto, é que foram escritos os versos.
Uma das entidades que responderam, foram as Don-
zellas da Infanta. Por esses tempos só vivia a Infanta
D. Beatriz, que morreu a 30 de setembro de 1506 "20;
logo, o certame poético foi anterior a esta data.
Perdôe-me o leitor a digressão enfadonha, para a qual
tive dois fins em vista: primeiro, mostrar-lhe a maneira
como procedo nas minhas averiguações históricas, para
lhe incutir confiança, quando não faça citações; segundo,
para ensinar, a quem já tenha obrigação de saber, a única
e verdadeira forma, hoje admissível, de investigar os su-
cessos passados. Não é agarrado a nobiliários, vastos
repositórios de mentiras; não é apoiado em obras edifi-
cadas no ar, que se escreve historia; é sobre documen-
tos pacientemente procurados, estudados e confrontados.
Yale muito mais fazer um único livro bom, do que so-
brecarregar estantes de volumes maus. Arvers com o
seu celebre soneto passou á posteridade; quantos poetas-
tros, depois de encherem volumes, ficaram no esqueci-
mento?
Tornemos porem ao Marramaque.
Nos princípios do anuo de 1473, como já fica dito,
sucedeu João Rodriguez Pereira por morte de seu irmão
primogénito, que muito pouco sobrevivera a seu pai, na
casa deste, que lhe foi confirmada por cartas dadas no
mês de fevereiro, já também citadas. Veio por tanto a
ser o 4.° senhor de Cabeceiras de Basto, dos coutos de
Lamegal e de Lumiares, e de vários outros bens na
Beira e Alinho.
1 ' Chancela ria de D.João III, liv. 50.° de Doações, fl. 33, na carta
do condado de Valença.
iusa, Hist. genealógica, vol. II, paj. 50S.
O MARRAMAQUE 1()1
No julgado de Cabeceiras de Basto existia então o
famoso mosteiro de S. Miguel de Refoios, do qual desde
14Ó2 era abade comendatario D. Diogo Borjes, de uma
família que durante cento e vinte e cinco annos suces-
sivos disfrutou a abadia; "por herança de tio em sobri-
nho», declara canonicamente o cronista da Ordem -';
algumas vezes por sucessão de filho a pai, asseveram
os nobiliários.
Motivo de mim ignorado, questão de interesses prova-
velmente, levou o Senhor de Cabeceiras de Basto a des-
avir-se com o Abade e os monjes de Refoios, e não
esteve lá com meias razões.
Juntou João Rodriguez Pereira a sua gente, com ella
marchou direito ao mosteiro, pôs-lhe cerco, e, não o
podendo entrar, deitou-lhe fogo. Chegou a arder uma
casa, e nesta "assuada e poimento de fogo foram mor-
tos dois homens da sua parte,,. Sem gloria, nem pro-
veito, retirou João Rodriguez para Castella com a sua
tropa, entre a qual se levantou no caminho um motim,
onde outro homem pereceu.
Passaram-se estes sucessos em 1475, nos princípios
do anno. Em maio invadiu D. Afonso V os reinos de
Castella, encetando aquella sua empresa de reivindica-
ção da coroa, que na loucura e resultado tanto se asse-
melha á assomada do Marramaque contra Refoios. En-
tão este, que andava por lá escondido, apresentou-se,
alistou-se, inscrevendo-se no livro dos homiziados que
el Rei mandara fazer, e serviu até ao fim da campanha.
Terminada esta, regressou para Portugal com D. Afonso V,
que lhe deu um alvará para dentro de seis meses alcan-
çar o perdão das partes, os parentes dos três mortos, o
que elle obteve em agosto de 147o. Então, com estes
-' Fr. Leão de Santo Tomás, Bcncdictina lusitana, I, 49S.
192 ESTUDOS
instrumentos, e aproveitandp o perdão geral por el Rei
decretado a favor dos homiziados que fossem servir
naquella guerra, alcançou João Rodriguez Pereira carta
de perdão passada em Lisboa a 16 deoitubro de 1476 -.
Decorreram alguns annos, e no principio de 1495
estava João Rodriguez Pereira, fidalgo da casa dei Rei,
ajustado a casar com D. Maria da Silva.
A carta, pela qual D. João II aprovou o contrato deste
casamento, existe trasladada na de confirmação de D. Ma-
nuel -'•'', onde aparece com a data de 29 de fevereiro
de 1495; data evidentemente errada, por isso que não
foi bissexto aquelle anuo. Os annos bissextos no reinado
de D. João II foram os de 1484, S8 e 92. Suponho
porem que o erro seria no numero do dia do mês, e
não no do anuo, porque em dezembro de 1517 ainda
os filhos de João Rodriguez Pereira não tinham vinte
annos u, e por tanto não convém atrazar muito a data do
casamento do pai.
Sua mulher, D. Maria da Silva, era filha de Rui Men-
dez de Vasconcellos, 4.° senhor de Figueiró e Pedrógão,
e foi dotada com dez mil coroas de cento e vinte reaes,
assegurando-lhe o marido de arras o terço do dote, ga-
rantidas pelas rendas e direitos de Cabeceiras de Basto,
na comarca de Guimarães, e de Paços de Ferreira, na
do Porto, terras que trazia da coroa, e que em cada
anno rendiam trinta mil reaes.
Reparando agora melhor para outro documento, vejo
que em 13 de julho de 1496 ainda o Marramaque não
era casado. Nesta data autoriza-o el Rei a obrigar o seu
logar do Carregal, no termo de Pinhel, que rendia vinte
cinco mil reaes, á segurança do dote de D. Maria da
-'-' Chancelaria de D. Afonso V, liv. 7.°, fl. 68 v,
23 Chancelaria de D. Manuel, liv. 21.°, fl. 6.
-' Ibidem, liv. 10.", fl. 135.
O MARRAM A(,> 11 193
Silva, "por quanto elle não podia tomar sua casa até lhe
segurar o dote,, -■'.
Em 22 de dezembro de 1517 já era finado João Ro-
driguez Pereira Mârramaque, e pouco antes morreria.
Naquella data foi dada a sua viuva, D. Maria da Silva,
uma tença de quarenta mil reaes, a começar no janeiro
seguinte, para criação de seus filhos até o segundo del-
les ser de vinte annos -".
A João Ro^riguez sucedeu na casa seu filho António
Pereira -', nos filhos deste porem se eistinguiu a geração
do galhofeiro Mârramaque, e os seus bens passaram a
seu parente colateral D. Manuel Pereira, por quem vie-
ram a herda-los os Camarás Condes da Taipa.
António Pereira, filho do Mârramaque, é o amigo de
Sá de Miranda; é o possuidor da quinta da Taipa, onde
vivia nas suas "casas fortes, com muro e torre28».
A casa antiga e á torre
se refere o poeta numa sua carta ao amigo -'•', na qual
também recorda um retiro solitário e aprazível que lá
havia :
A vossa fonte tam fria
Da Barroca em julho e agosto
(Inda me é presente o gosto)
Quam bem que nos i sabia
Quanto na mesa era posto !
- ' Chancelaria de D. Manuel, liv. 3S.°, fl. 79 v.
« Ibidem, liv. 10.», fl. 135.
-: Por cartas de confirmação de agosto de 1519, fevereiro e de-
zembro de 1520. Chancelaria de D. Manuel, liv. 37.», fl. 94, 94 v.,
95 e 95 v.
2i "Ha mais o concelho e terra de Cabeceiras de Basto, e é mui
fragosa e montanhosa, e senhor delia António Pereira, e não tem
vila nem castello, salvo as casas da Taipa delle António Pereira,
fortes, com muro e torre ...» Povoação de Entre Doiro e Minho,
em 1527, no Arch. hist. port., Ill, 255.
29 Poesias de Francisco de Sá de Miranda, paj. 237 da monumen-
tal edição da Senhora D. Carolina Michaélis de Vasconcellos.
13
194 ESTUDOS
Ali não mordia a graça,
Eram iguais os juizes.
Não vinha nada da praça,
Ali da vossa cachaça,
Ali das vossas perdizes!
Gaspar Alvarez de Lousada nos seus Sumários da
Torre do Tombo " transcreveu umas inscrições sepul-
craes existentes na capella de S. Pedro, na igreja do
mosteiro de S. Domingos de Guimarães, onde elle as
vira sobrepujadas pelo escudo da cruz florida e vazia
dos Pereiras. Alem daquellas, também lá estava o se-
guinte letreiro:
Esta capella é dos chefes dos Pereiras. Jazem aqui do
tempo dei rei D. Fernando, que os atraz jazem em Lan-
dim, que o edificaram. D. Maria de Berredo, molher de
Rui Vaz Pereira, fez parte deste mosteiro, tem missa
quotidiana e cinco cantadas; Gonçalo Pereira tem três
missas cada semana ; e D. Maria da Silva e António
Pereira, seu filho, teem outra quotidiana e sete cantadas.
:t Parte 2.a, fl. 419 v. mihi - Destes cartapacios existem três vo-
lumes na Biblioteca Nacional de Lisboa, os quaes pertenceram a
Manuel Severim de Faria, de quem tem o ex-libris com as armas, e
depois passaram para a mão de D. António Caetano de Sousa, como
elle próprio declara numa advertência anteposta ao primeiro volume.
A colecção era formada por vinte livros, segundo afirma Barbosa
Machado na Bibliotheca Lusitana, vol. II, paj. 331, onde também se
refere aos três possuídos então por D. António Caetano de Sousa.
Destes é que foi tirada a minha copia.
Sei bem o pouco credito justificadamente merecido por Lousada;
mas nestes Sumários, francamente, conferindo os extractos nelles
existentes com os orijinaes na Torre do Tombo, ainda não encon-
trei discrepância, a não ser nalgum erro evidentemente de copia. En-
tretanto é certo não ter eu conferido nem a decima parte dos extractos.
Nos catálogos da Biblioteca Nacional anda atribuída a obra a
Manuel Severim de Faria, que foi apenas possuidor dos tomos. Fiado
nisso, e sem ter procedido a averiguação, infelizmente indispensável
em quasi todo o referente á historia pátria, tenho até ha pouco citado
sempre a Severim como autor dos Sumários da Torre do Tombo;
acuso porem novamente o erro já apontado em 1904, no Ardi. hist.,
II, 481, e lastimo não o ter conhecido a tempo de o poder emendar
nos dois primeiros livros dos Brasões de Cintra.
O MARRAMAQU1 105
Este A/i to/iio Parira refez esta eapella de novo, e man-
dou aqui pôr esta memoria. An/io 1553.
Agora podem os romancistas históricos continuar a
dizer que o Marramaque foi "o mais plebeu dos pala-
cianos, u
Não lhes levarei nada por isso; mas vão também no-
tando que elle checou a ser do Conselho de D. Manuel,
como se declara na carta de 13 de abril de 1504, de
confirmação ,dos coutos de Lamegal e Lumiares; e olhem
que nesses tempos nem todo o bicho careta era conse-
lheiro.
A palavra marramaque não se encontra no Vocabulá-
rio de Bluteau, nem no Elucidário de Viterbo, nem nas
primeiras edições do Diccionario de Moraes.
Posteriormente, na sexta edição deste livro, escreve-
ram: "Marramaque; significação incerta. Cancioneiro,
f. 157 v. "por servidor marramaque. » Pouco adianta.
A sr.a D. Carolina Michaèlis de Vasconcellos, a paj. 800,
das suas notas ás Poesias de Francisco de Sá de Miran-
da, julga poder derivar do árabe a etimolojia daquelle
vocábulo, e, apresentando as suas razões, conclue assim:
"Se esta explicação é legitima, a alcunha de João Rodri-
gues teria por origem o seu excessivo luxo no trajar...
Por não acreditar nesta orijem para a alcunha, nunca
tive muita fé na derivação arábica da palavra marrama-
que, apesar de ficar sempre estarrecido quando me fa-
lam línguas que não entendo.
Os dicionários modernos, inclusive o do sr. Cândido
de Figueiredo, tornaram a suprimir o vocábulo.
Estava nisto, quando um dia, á porta da Imprensa
1Q6 ESTUDOS
Nacional, me apareceu o meu já hoje falecido amigo
José Ferrão de Castello Branco, que eu sabia instruído
no árabe, apesar delle dissimular a sua ciência como se
fosse um aleijão, e me preguntou de chofre:
Você sabe a etimolojia de marramaque?
— É árabe! — acudi eu logo.
— Qual árabe! É, mas é inglês. Procure, e talvez en-
contre.
Procurei, e achei.
Fui ao International dictionary of the English lan-
guage de Webster, e de lá transcrevo:
Merry-maker, noun. One who makes merriment or indulges in con-
viviality; a jovial comrade.
Merriment, noun. Gayety with laughter; mirth; frolic.
Querem-n-o mais claro?
O merry-maker é um companheiro jovial, um folga-
zão que produz merriment, isto é, alegres gargalhadas.
É o caso de João Rodriguez Pereira, e a alcunha de mer-
ry-maker, aportuguesada em marramaque, é exactamente
a que lhe cabe.
Como veio a palavra para cá?
Ou em 13S1, se não foi antes disso, com as tropas
auxiliares do comando do Conde de Cambridge, ou
em 13S7 com o exercito do Duque de Lancastre na
malograda invasão de Castella.
Por esta ocasião ficou em Portugal a Rainha D. Fi-
lipa de Lancastre, e as relações com Inglaterra aper-
taram-se ainda mais, tendo daquella corte vindo para
a nossa muitos usos e custumes.
Nalguma das referidas expedições, e mais provavel-
mente na segunda, na qual João de Gante trouxe nume-
rosa e luzida corte, que não desdizia do titulo por elle
tomado de rei de Castella; nalguma delias, repito, viria
um fidalgo alegre, jovial, galhofeiro, a quem tinham
O MARRAMAQU1 197
posto a alcunha do merry-maker. Os cavaleiros portu-
gueses, que lidavam com a gente do séquito do pre-
tendente, começaram a chamar ao tal Inglês o Merrima-
que, e d'aí a impor a mesma alcunha a algum Português
também folgazão; e a palavra ficou na corte, onde um
século depois se achava transformada em marramaque.
Agora, já que tornei a falar nelle, darei mais algumas
notas para a> biografia do nosso Marramaque, João Ro-
driguez Pereira, senhor de Basto.
Começarei por dizer que em nenhum documento, meu
conhecido, se lhe dá a alcunha. Não teve ella por tanto
foros oficiaes, como sucedeu, por exemplo, á de Vasco
Martinz de Sousa, que nalgumas cartas réjias desses
tempos é chamado "o nosso Chichorro,,. É comtudo
certo que já no reinado de D. Afonso V era João Ro-
driguez Pereira designado cóm a alcunha de Marrama-
que. Provam-n-o as coplas de Francisco da Silveira lá
acima transcritas.
Aquelle rei tomou a João Rodriguez para sua casa
como moço fidalgo, e com este foro se encontra na
lista de 1469 com mil e quatrocentos reaes de mora-
dia :!l. Na carta de 10 de fevereiro de 1473, peia qual
foram confirmadas a João Rodriguez Pereira as jurisdi-
ções das suas terras de Canavezes e couto de Tuias, no
almoxarifado de Vila Real, ainda elle é intitulado moço
fidalgo 3\ Poucos dias depois, a 22 de março, na carta
em forma de privilejios de fidalgo para as comarcas de
Trás os Montes e Entre Doiro e Minho, já nos apa-
rece nomeado "fidalgo da nossa casa-, :í:!. Devia ter então
uns vinte annos de idade.
11 Provas da Hist. genealógica, vol. II, paj. 43.
:i- Chancelaria de D. Afonso V, liv. 33.°, ti. 64 v.
" Ibidem, fl. 92 v.
19$ ESTUDOS
Neste tempo já era João Rodriguez senhor da casa, e
passou então a viver nas suas terras, onde lhe sucedeu
o caso já contado com os monjes de Refoios. Fujiu
para Castella; serviu na campanha de 1475-76; e voltou
para a corte, onde, pelo menos em 1481, quando foram
as exéquias de D. Affonso V, assistia.
Depois, no reinado de D. João I!, tornou o Marra-
maque a residir lonje da corte, nas suas terras do Mi-
nho.
Nesta província eram donatários da coroa, e lá viviam
então, entre outros, os quatro seguintes fidalgos: D. Lio-
nel de Lima, Visconde de Vila Nova da Cerveira, alcaide
mór de Ponte de Lima, senhor de Fraião, Coura, casa
de Giela, etc. ; Pêro da Cunha, senhor de Celorico de
Basto, Montelongo e outras terras : João Rodriguez Pe-
reira, senhor de Cabeceiras de Basto e Paços de Ferrei-
ra; e Diogo de Azevedo, senhor de Aguiar, S. João de
Rei e Parada de Boiro.
Nas terras delles, apesar de lá entrarem as justiças
dei Rei, acoitavam-se nesses tempos mais malfeitores,
segundo afirma o dr. Diogo Pinheiro, do que em todas
as terras do Duque de Bragança, ainda que não corres-
pondesse, a totalidade daquellas, ao* terço destas 34.
Nos fins do reinado de D.João II tornou o Marramaque
para a corte, ajustando-se então o seu casamento com
D. Maria da Silva, o qual só veio a efeituar-se comtudo
nos primeiros annos de D. Manuel, sendo o noivo já de
mais de quarenta. Parece ter desde esse tempo o Senhor
de Basto aturado no paço, tendo seguido a D. Manuel
em 1498 na sua ida a Castella. Da sua permanência na
corte existe a prova nos apodos, no outro capitulo já
citados, por João Rodriguez dirijidos, nos primeiros
31 Manifesto do dr. Diogo Pinheiro, vol. III das Provas da Hist.
ge/tealogíca, paj. ô5 '>.
O MARRAMAQU1 19Q
annos do xvi século, a Pêro de Sousa Ribeiro; e da sua
assistência junto a el Rei resultou a nomeação para o
Conselho.
As terras que da coroa, como donatário, João Rodri-
guez Pereira trazia, eram estas: Cabeceiras de Basto,
Paços de Ferreira, Lamegal, Lumiares, Canavezes, Tuias,
Carregal, e varias quintas e logares pequenos nomeados
nas cartas réjias. De tudo isto era senhor e pacifico pos-
suidor, disfrutando por inteiro todas as rendas desde o
anuo de 1473, sem interpolação.
Não é fácil calcular os reditos de todas aquellas
terras; mas pode-se conjecturar serem avultados, por
isso que um diploma dá de rendimento a Paços de
Ferreira e Cabeceiras de Basto trinta mil reaes, e outro
vinte a vinte cinco mil reaes para o Carregal. Por tanto
só destas três terras o rendimento equivaleria hoje a
mais de dois contos de réis.
Havendo ainda a acrescentar a esta receita o rendi-
mento das mais terras da coroa, e o dos morgados e bens
patrimoniaes, não se pode duvidar de ter João Rodri-
guez Pereira, o Marramaque, sido homem rico, vivendo
sempre como tal á lei da nobreza, tanto nas suas terras,
como na corte, onde somente assistiu nos primeiros e
últimos tempos da sua vida, que pouco mais de sessenta
annos contou, de 1453 a 1517, pontos estremos.
Aldeia, dezembro de 1901 e janeiro de 1902.
APÊNDICE
No "Jornal do Commercio,, de 28 de dezembro de
1901 lia-se:
Do sr. Arthur Lobo d'Avila recebemos unia carta em resposta á
critica feita pelo nosso collaborador Silex ao seu romance em publi-
cação no Diário de Noticias e intitulado Os Amores do Príncipe
Perfeito.
Como só hoje concluímos a publicação da referida critica, e, dé
mais a mais, lucíamos com falta de espaço, amanhã daremos cabida
á carta do sr. Lobo d' Ávila.
A' ultima hora, recebemos segunda carta do sr. Lobo d'Avila
sobre o mesmo assumpto. Fica também para amanhã.
Efectivamente, no numero do dia seguinte apareceram
as duas cartas, para aqui trasladadas.
Sr. director do Jornal do Commercio.
No seu conceituado jornal, firmada por Silex, vem hoje, sob a
epigraphe : Ma ira ma que, uma acerada critica a vários pontos do
prologo do meu romance: Os Amores do Príncipe Perfeito, cm pu-
blicação no Diário de Noticias.
Acataria sem replicar essa apreciação, se cila não fosse errónea e
phantasista. Silex começa por inculcar que eu, romancista, me apre-
sento com pruridos de historiador. Tal não ha. LUe é que o diz. Por
que razão?
Porque, apresentando notas ao texto, cu tenho apenas em vista
mostrar ao leitor menos erudito o que é de origem histórica, discri-
minando-o do que é por mim creado?
Será titulo a boa fé lideraria, mas não a filáucias de historiador.
Depois, verbera a minha citação do preço d umas calças por eu
escrever reis. A este respeito, direi a Silex que eu não pretendo com
tal citação fazer estudo económico comparativo dos preços d'entãO
com os dT.oje. Pela curiosidade do assumpto, indiquei ao leitor o
Livro Vermelho em que vem os preços estabelecidos no reinado de
D. Affonso V. Mais nada.
Pelo que respeita ao termo rãs, envio unicamente Silex para os
diccionanos de portuguez em que encontrará: Real, S. m. Base da
da portugueza, pi. Réis.
O MARRAMAQUE 201
Lm seguida, esquece que eu sou romancista, e que posso,
sem grave culpa, encabeçar na forma das menagens decretada por
D. [oão II (e que vem nas Provas da Historia Genealógica, apezar
d'elle a não ter achado) as palavras sacramentaes, mais ou menos
conhecidas, do pregão. Ora, a minha nota não se refere ao pregão,
mas á forma das menagens que é histórica, e vem nas Provas.
E' possível que eu errasse o numero no volume, e não posso agora
averigual-o, porque a obra por mim consultada é a tia Bibliotneca
Nacional, e não a tenho agora ã mão. Mas o que garanto a Silex, é
que a forma das menagens lá vem.
Passa depois a fazer grande hulha com o facto de eu chamar a
Marramaque : "o mais plebeu dos palacianos,,.
Perde-o ainda d'esta vez a Sikx o seu processo de fazer critica
seja como fôr, tomando a nuvem por Juno.
Direi a Silex que o termo plebeu está ali com a mesma proprie-
dade com que a í). Luiz 1.", que era rei, chamaram: o Popular.
Com a mesma propriedade com que ainda ha dias todos os jornaes
de Lisboa, e provavelmente entre elles o Jornal do Commercio, cha-
maram typo popular a um dos mais nobres fidalgos portuguezes,
o fallecido marquez d'Angeja.
O termo popular ou plebeu, empregado nesta accepção, designa
uma feição moral da personagem e não um dado genealógico. E se
Silex não fosse tão apaixonado na sua critica, teria facilmente perce-
bido que justamente a alliança feita por mim dos termos: plebeu e
palaciano, tinha em vista indicar a dualidade observada no typo de
Marramaque, fidalgo pelo berço e pelo meio em que vivia, plebeu
ou popular pelo coração, como o era o próprio rei D. João II, sem
isso querer dizer nada moralmente deprimente, mas pelo contrario
elevando-o. Silex devia ter notado que apesar de Marramaque ter
decahido em bobo, o que é histórico, e talvez pelos azares suecedidos
aos seus antepassados, eu o apresento como um intellectual, e um
homem de elevado coração. E não lhe contestei os pergaminhos.
Finalmente, pelo que se refere á idade e empregos de Garcia de
Rezende, os cálculos foram feitos á vista dos dados biographicos do
poeta publicados por Castilho no Resumo dos Excerptos do Can-
cioneiro.
Agradecendo-lhe, sr. director, a publicação d'esta carta, sou com
toda a consideração.
De V., etc.
Amigo, venerador e obrigado
S C. 27 12/1901. Arthur Lobo d' A vila.
27 de dezembro 1901.
Sr. director do Jornal do Commercio.
Torno a escrever a v. em additamento á minha carta d'esta tarde
com dois fins:
1.° para levantar uma insinuação gratuita feita por Silex na sua
critica ao meu trabalho litterario quando escreve: . . . "e arrecadando
os cobres do publico que é por fim de contas a sua principal pre-
tensão.,,
202 ESTUDOS
Não sei quem é Silex, e estou certo que me não conhece. De
contrario, saberia que a questão de interesses materiaes nunca foi o
meu principal objectivo. E eu sinto que o Jornal do Commercio, de
que fui por bastante tempo collaborador, e que sabe como eu pedi
para serem considerados fora da minha collaboração retribuída os
artigos de polemica litteraria que ahi publiquei, não fizesse reparo
a esse período em que naturalmente o autor me avalia por si.
2.0— Para rectificar que a forma das Menagens não vem nas Pro-
vas da Historia Genealógica, mas sim na Chronica de Garcia de
Rezende, capítulos xxvi e XXVIII. E' este o único livro que ainda
tenho em meu poder, dos que pedi á Bibliotheca para escrever o
meu romance. — Relendo-o agora dei com o engano. -Vejo também
dos apontamentos com que fiquei para as notas, que nas Provas
vem documentos a que ainda tive de me referir, posteriores ás me-
nagens. Do engano na copia d'um d'elles procedeu a inclusão do
Senhorio de Guiné, á data das Cortes d'Evora.
Com toda a consideração.
De V. etc.
Arthur Lobo a" Ávila.
A isto apenas repliquei o seguinte:
Com ruins defuntos não se gasta cera.
A minha critica, toda firmada em documentos, apesar
do sr. Lobo de Ávila lhe chamar phantasista, fica de
pé, impávida.
O pregão foi inventado; não vem nas Provas da
Historia genealógica, e acrescentarei, que também não
se encontra na Chronica de Resende, citada agora pelo
romancista histórico; o Marramaque foi um fidalgo ga-
lhofeiro, nunca um plebeu nem um bobo; Resende,
nascido em 1470, ou ainda depois, era em 1481 criança
e estava em Évora; o real era a moeda naquelles tem-
pos corrente, muito diferente dos nossos réis. Veja-se
o Diccionario do Moraes.
Foram estes os pontos criticados. Ficaram todos de
pé; e ficarão, porque não é o sr. Lobo de Ávila, nem
neste caso ninguém, que os poderá derruir.
Aqui ponho ponto final. Unicamente prometo ao
sr. Lobo de Ávila uma dúzia de pasteis do Cócó, se
fôr capaz de me indicar o documento onde encontrou
o selo real de D. João II, que traz no folhetim n.° 3.
O MARRAMAQUE 203
Olhe que falo em selo; não queira fujir para outra
coisa, como pretende na referencia ao pregão.
Nova carta do sr. Lobo de Ávila.
Sr. director do Jornal do Commercio.
Na minha resposta a Silex declarei lealmente:
l.o Que a minha nota se não referia ao pregão que, como roman-
cista, dera a forma que vem no folhetim, mas ás menagens, cuja
forma e substancia são históricas, e devidas a D. João II, rei de Por-
tugal.
2.° Que esse documento histórico vem na Chronica de Garcia
de Rezende.
Depois d'isto, Silex insiste hoje escrevendo: "O pregão foi inven-
tado e não vem nas Provas cia Historia Genealógica, e também não
se encontra na Chronica de Rezende que é citada pelo romancista
histórico».
Ora muito bem: aparte a questão de lana caprina da. insistência
caturra em não ser o pregão integralmente histórico na forma, o que
subsiste como ponto importante para acrítica, é se é ou não histórica
a sua essência, que é a tias menagens, e se estas vem ou não na Chro-
nica de Garcia de Rezende.
Silex implicitamente contesta isto que eu affirmo.
3.o -Se no ultimo destes capítulos não vem a forma das mena-
gens decretada por D. João II, e no penúltimo e no primeiro vem ou
não relatada a circumstancia de estar o alcaide de joelhos ante el-rei,
com as suas mãos mettidas nas do monarcha.
Esta circumstancia histórica, que é na verdade aquella em que se
resume todo o alcance histórico do facto, aquella a que uma critica
judiciosa devia tomar contas ao romancista se a tivesse inventado, é
a que eu liguei como disse, ás palavras sacramentaes do pregão.
A technica do romance não me permittia pôr na bocca do pre-
goeiro toda a formula das menagens, e por isso ella vem, com as
palavras textuaes, e quasi na intrega, na carta que é affixada e que
depois Marramaque lê ao povo.
Aqui tem Silex qual o processo que eu segui como romancista.
Uma critica bem orientada não poderá deixar de o julgar de com-
pleta probidade litteraria.
Silex termina a sua resposta, de escape, ás minhas contestações
fazendo-me uma pergunta de algibeira e promettendo-me uma dúzia
de pasteis do Cócó se lhe responder. A pergunta é: Onde encontrei
o sello real de D. João II ?
Resposta: Na Historia de Portugal de Pinheiro Chagas, e no
Príncipe Perfeito de Oliveira Martins.
Estes autores são fallecidos, mas vivem os illustradores, os distin-
ctos artistas Roque Gameiro e Casanova, a quem Silex se pode
dirigir.
Creio ter ganho os pastellinhos, mas relevo Silex de m'os enviar.
Caso, porém, o Cócó, ou algum outro pastelleiro, lhe poder obter
204 ESTUDOS
um bocadinho de critica, como ella deve ser feita, agradeço-lh'a sin-
ceramente. Porque a critica que S/Ycr faz, parecc-se terrivelmente,
nos seus processos, com a rabulice do frade que perguntando-lhe o
aguazil se vira passar um preso que ia fugido, respondeu mettendo
a mão pela manga: Por aqui não passou! Por aqui não passou!
Li' o que Siltx fa/ agarrando«-se á questão de palavras, quando o
espirito e O alcance histórico é o que importa.
Se Silex me contesta o direito de compor na forma, com palavras
sacramentaes, o pregão, que na essência é fundamentalmente histó-
rico, como esse pregão é uma parte do romance, e o todo se compõe
de varias partes, a lógica da sua critica conduz necessariamente a
esta aberração: contestar a um romancista o direito de fazer o seu
romance.
Agradecendo-lhe a publicação d'esta carta e as declarações que
lhe pedi, sou com toda a consideração
De v. etc,
29-12 1.
Arthur Lobo a" A vila,
P. S. Informações que pedi a um bibliographo autorisado dizem-
me que o sello de D. João II bem como o do rainha D. Leonorvem
na edição da Vita Chrísti de Ludolpho de Saxonia feita em Lisboa
pelos impressores Valentim de Moravia e Nicolau de Saxonia, no
tempo do mesmo rei.
O sello de D. Leonor está até invertido, tendo a rede emblemática
para cima.
E' possível que também venham nó vol. respectivo das Provas da
Historia Genealógica.
Foi decerto nestas origens que o colheram para as suas obras os
historiadores Pinheiro Chagas e Oliveira Martins.
A. L. tf A.
For the very last, last time.
Isto devia ir tudo em tom de gracejo; mas, por atenção
ao leitor, irá meio sério. Afirmo porem, que poderá o
sr. Lobo de Ávila continuar a fazer gemer os' prelos
com as suas epistolas, em prosa oti em verso, no próprio
"Jornal do Commercio»», ou noutra qualquer folha, que
mais reclame ao seu romance me não apanha.
Recapitularei a questão; mas confesso que me custa
entrar nella. É um tanto ridículo para mim discutir
critica histórica com uma pessoa tão alheia da matéria,
como se revela o sr. Lobo de Ávila; seja porem em des-
conto dos meus peccados.
No meu artigo acerca do Marramaque notei que no
O MARRAMAQUE 205
prologo dos Amores do Príncipe Perfeito se inventava o
pregão das menajens, atribuindo-o erradamente ás Pro-
vas da Historia Genealógica ; se confundia real com
réis; se ignorava a idade de Garcia de Resende; e final-
mente se fazia do Marramaque um plebeu e um bobo,
mostrando-se completo desconhecimento de quem elle
havia sido.
Estes foram os pontos.
Principiarei agora pelo pregão.
No folhetim n.° 3 publicado no Diário de Noticias
de 17 de dezembro, na 3.a coluna, na 13.-1 linha,
começa a transcrição do pregão por estas palavras:
"D. João, por graça de Deus...,, Continua o pregão,
que toma nove linhas, e na nona termina assim : " . . . para
constar,,. Em seguida á palavra constar vê-se este
signal: (1), indicativo de citação, e na nota correspon-
dente, no fim da coluna, lêem-se estas palavras para
aqui textualmente trasladadas: "(1) Provas da H.a Gen.
da Casa Real Port.a por D. António Caetano de Sousa,
T. III.,,
Quando o sr. Lobo de Ávila nega ter posto nota ao
pregão, não fala verdade, inconscientemente, ou desme-
moriado, estou persuadido, e tanto que ainda com elle
discuto; mas o facto dá-se.
Agora entenda-me bem (elle entende-me perfeita-
mente, mas não lhe faz conta): nunca me referi á forma
das menajens, falei sempre unicamente no pregão. Se
elle estivesse certo, não iria verificar a citação; mas tra-
zendo um erro palmar, que logo salta á vista, tive curio-
sidade de averiguar se D. António Caetano de Sousa
caíra em tal.
Não caiu, honra lhe seja: a gloria da invenção e do
desacerto cabe inteira ao sr. Lobo de Ávila.
Eu fiz então de notário, que nas escrituras zela os
direitos dos ausentes, e pugnei pela critica histórica do
206 ESTUDOS
Teatino. Se o sr. Lobo de Ávila apresentasse o pregão
sem o querer autorizar com a citação das Provas, nem
para elle repararia. Lira invenção de romancista, não fazia
mal a ninguém. Mas inventa-lo, erra-lo, e depois dizer
que era obra de um autor conspicuo, que da cova não
pôde reclamar, isso é que me pareceu feio; mas talvez
seja arte nova.
Na segunda epistola pretende o sr. Lobo de Ávila
rectificar a citação que fez das Provas, mas, fujindo da
matéria da minha impugnação, diz não ter sido lá que
encontrou a forma das menajens (assunto de que se
não trata), mas que a achou na Chronica de Resende.
Disse-lhe, torno a dizer-lhe, e repetir-lhe-hei até á con-
sumação dos séculos: a forma das menajens pode
estar onde quiser, a ella não fiz nunca objecção nenhu-
ma; o pregão não se encontra nas Provas da Historia
Genealógica, não está na Chronica de Resende, só existe
no romance pseudo-historico Os amores do Príncipe
Perfeito.
Mais nada.
Segundo ponto: o real.
Xa sua primeira epistola diz o sr. Lobo de Ávila que
nos dicionários portugueses encontrou: "Real, s. ///.
Base da moeda portugueza, pi. Réis.,,
Tenho aqui o Diccionario do Moraes, nelle acho:
"Real, s. m. Moeda antiga Portugueza,,, e por ali abaixo
um interessante artigo. No Diccionario contemporâneo :
"Real, adj... — s. m., antiga moeda portugueza, etc.„
No Diccionario do Constâncio: "Real, s. m., moeda an-
tiga portugueza, etc, No Roquette: "Real, adj . . . s. ///.,
moeda antiga (plural réis),,, o que parece desacerto,
porque o plural de real, moeda antiga, é reaes. No Vo-
cabulário de Bluteau: "Real. Moeda baixa, que em Por-
tugal foi batida em differentes tempos, composta de
O MARRÀMAQU1 207
rjifferentes nietaes, e tem differentes preços, etc, etc»
No Elucidaria de Viterbo: "Real. Moeda de oiro, prata
e cobre. O Real de oiro é dos princípios deste Reino, etc-,
Não vou aos livros numismáticos, porque nelles me
não fala o romancista, e na minha livraria não tenho
mais dicionários. É a primeira vez que sinto falta delles,
porque desejava saber onde foi que o sr. Lobo de Axila
encontrou aquella definição de real. Provalmente seria
no dicionário, do triz-triz, pratos quebrados.
Repito-lhe para que aprenda: em tempos de D. Afon-
so V e de D. João II não se sabia o que eram réis;
conhecia-se o real, e os reaes. No reinado de D. Manuel
encontro a fl. 29 do liv. 4.° da sua Chancelaria uma
carta de 10 de setembro de 1502, na qual se diz: "ava-
liaram o milheiro dos reaes brancos de seis ceitis o real
de compra em vinte mil réis,, '. É a mais antiga indica-
ção de réis, de que me lembro agora, o que não quer
dizer que não possa haver outras; mas neste caso escre-
viam a palavra réis por extenso, guardando a abrevia-
tura rs. para reaes.
Para avaliar a idade de Garcia de Resende, diz o
sr. Lobo de Ávila, que "os cálculos foram feitos á vista dos
dados biographicos publicados por Castilho no resumo
dos excertos do Cancioneiro,,.
Aqui vão as palavras de Castilho para o leitor ver e
apreçar o valor das citações e cálculos do roman-
cista.
"Em incertos dia, mez e armo, nasceu de honrada
geração, na cidade de Évora, Garcia de Rezende. Foram
1 Não é exacta a afirmação do texto. No documentei apontado não
se encontra a palavra réis, como posteriormente verifiquei; o que lá
está é a abreviatura de reaes, em vez de rs., forma usual, res. O mi-
lheiro de reaes brancos foi avaliado em vinte mil reaes dos pretos.
20S ESTUDOS
seus pais Francisco de Rezende, cavalleiro no tempo de
Afonso V, e D. Brites Botto.
"Passarão-o de mui tenra idade, de moço da camará
d'el-Rei D. João II, para o serviço do príncipe D. Afonso,
seu filho, quando a este se pôz casa no anno de 1490..,
Sobre estas bases fez o sr. Lobo de Ávila os seus
cálculos, e depois de muito cojitar resolveu-os, afir-
mando que um individuo de mui tenra idade em 1490,
podia em 1481, nove annos antes, ser "um philosopho
e um bom caracter encaixados na figura anafada e gor-
díssima do mais fino illustrado e espirituoso cortezão».
(Folhetim n.° 4, 3.'1 col., ultima linha e primeiras da 4.»
col. É preciso citação minuciosa, para ser incontroversa.)
O quarto ponto contestado, o principal, foi que o
Marramaque não era plebeu nem bobo, como o sr.
Lobo de Ávila afirma; mas sim um fidalgo que chegou
a ser do Conselho de D. Manuel.
O romancista na sua defeza diz que o termo plebeu
está aplicado ao Marramaqne, no mesmo sentido com
que foi dado o epíteto de Popular a el Rei D. Luis I,
e com que os jornaes, ha pouco, designaram o Marquês
de Angeja por tipo popular. Diz mais, que "o termo po-
pular ou plebeu, empregado n'esta accepção, designa
uma feição moral da personagem, e não um dado ge-
nealógico»,.
Elle nem se lembra do que deixou escrito no romance!
Lu notei unicamente a bem clara frase: "o mais ple-
beu dos palacianos,;. É esta que elle pretende explicar;
mas, alem delia, encontram-se outras, provando clara-
mente que o sr. Lobo de Ávila tinha o Marramaque na
conta de um plebeu de sangue. Já disto está dissuadido
em vista da minha critica, que tanto o magoa, mas com
a qual sempre vai aprendendo alguma coisa.
No folhetim n.° 4, na 6.a coluna, na 25.a linha e
O MARRAMAQUE 209
seguintes, lê-se isto: "Em presença de terceiros, moteja-
vam-se (Marramaque e Resende), na familiaridade que
aos truões era licito usarem com toda a gente. A sós
consideravam-se, observando a distancia que os sepa-
rava. Assim, apenas saídos do arco, caminhando pela
rua Nova, Marramaque conservava-se um pouco atraz
do joven poeta, como quem segue um superior, ao passo
que este se lhe dirigia com benevolente dedicação.,,
E verdade. Separava-os uma grande distancia, mas ao
inverso do que o romancista cuida. Resende, o moço
da camará, encolhia-se todo ao pé do Senhor de Basto,
do fidalgo da casa dei Rei e ultimamente do seu Con-
selho, quando na corte o topava.
No alto da 8.:1 col. do mesmo folhetim n.° 4, para
tirar todas as duvidas, põe o romancista na boca de
Resende, dirijindo-se ao Marramaque, estas palavras:
"Mestre Pedro está como todos vós os do povo, empe-
nhado, etc.„
Ora agora venha para cá o sr. Lobo de Ávila dizer,
que apresenta o Marramaque "como um intellectual, e
um homem de elevado coração. E não lhe contestei os
pergaminhos.,; (Epistola n.° 1)
Na mesma carta, um pouco acima, lê-se: "apesar de
Marramaque ter decahido em bobo, o que é histó-
rico.,,
Deve ser isso, deve. Estou mesmo d'aqui a ver el Rei
D. Manuel a nomear para o seu Conselho o antigo bobo
de D. João II. Estou mesmo a ve-lo!
Como referi no meu artigo, no fim do primeiro capi-
tulo, na carta de confirmação dos coutos do Lamegal e
de Lumiares, dada em 13 de abril de 1504, é o Marra-
maque intitulado "fidalgo da nossa casa e do nosso
Conselho.,, Não declarei onde existe o documento, mas
para descanço do sr. Lobo de Ávila dir-lhe-hei que elle se
encontra a fl. 94 v. do liv. 37.° da Chancelaria de D. Ma-
14
210 ESTUDOS
nuel, transcrito na carta de 1 de agosto de 1519 de con-
firmação dos referidos coutos a António Pereira.
Fique pois o sr. Lobo de Ávila sabendo, que João
Rodriguez Pereira Marramaque foi um fidalgo tão con-
siderado, apesar do seu génio alegre e folgazão que
el Rei D. Manuel o fez do seu Conselho. E fique também
entendendo que elle nunca foi um bobo.
Também me parece estar d'aqui a ver Rui Mendez
de Vasconcellos, senhor do Figueiró, a ajustar em 1495
o casamento da filha com o bobo dei Rei!
A verdade, quer o romancista a confesse, quer não, é
que elle ignorava absolutamente, antes dos meus artigos,
quem tivesse sido o Marramaque.
Prometi ao sr. Lobo de Ávila uma dúzia de pasteis,
se fosse capaz de me indicar o documento onde encon-
trou o tal selo real de D. João II, que estava na "placa
de chumbo presa á carta por grossa mecha de retroz.,,
(Folhetim n.° 4, 2.» col., linha 21.*)
Sabe o leitor que documentos cita o sr. Lobo de Ávila
na epistola de hoje? A Historia de Portugal de Pinheiro
Chagas, o Príncipe perfeito de Oliveira Martins, e de
reforço, por indicação de um amigo bibliófilo, uma
Vita Christi!
Estas citações são provas exuberantes para se ajuizar
da critica, conhecimentos diplomáticos, e proficiência
histórica do sr. Lobo de Ávila. Então livros como
aquelles são documentos? Onde viu isso? Documentos
com selo são diplomas; isto é, cartas réjias, padrões,
patentes, mandados, e outros pergaminhos ou papeis
que levam o selo, do soberano para o nosso caso. Isso
é que são documentos; isso, ou quando os orijinaes
nos faltem, a sua reprodução em livros autorizados e
especiaes. Agora alegar, que vinhetas de livros (a que
lhe serviu encontra-se na encadernação!) são selos de
O MARRAMAQUE 21 1
documentos, nem o rapaz a semana passada matriculado
na aula de diplomática era já capaz de dizer!
O pelicano foi a empresa de D. João II, nunca o seu
selo. Mandou-a debuxar em livros e monumentos,
nunca a trouxe no seu sinete. No IV vol. da Historia
genealógica, na estampa N, encontram-se reproduzidos
sob n.os 66 e 67, dois selos de D. Jocão II um anterior,
o outro posterior á reforma das armas reaes, que é o
que nelles se, vê, e não o pelicano.
Surriada, não ganhou os pasteis.
Se estivesse com paciência para lhe dar mais trela,
apontaria ao sr. Lobo de Ávila o facto de haver logo
no principio do primeiro folhetim errado a data dos
sucessos, que vai narrar. A profissão da Excelente Se-
nhora foi em novembro de 1480 e não em 1481 (l.a
col., 4.a linha). Em novembro deste anno já D. Afonso V
estava morto.
Dir-lhe-hia, que nem sequer sabe o verdadeiro nome
da sua heroina, da amante de D. João II, a qual nunca se
chamou D. Ana de Mendonça, mas sim D. Ana de
Mendoça, o que faz uma enorme diferença. Pregunte-o,
se me não quer crer, ao Duque de Loulé e ao Conde
da Azambuja.
Dir-lhe-hia... Mas não lhe digo mais nada, porque
a paciência acabou.
O sr. Lobo de Ávila é um ingrato!
Devia estar reconhecido pelos meus artigos de critica,
destinados, evidentemente, a não ficarem dispersos por
jornaes e a formarem, com outros já publicados (de mui-
tos dos quaes me atrevo a recomendar-lhe a leitura, que
lhe deverá ser instruetiva para os tempos de D.João II),
um livro, no qual o seu nome e o seu romance serão
lembrados. Devia-me estar agradecido por isso ; mas
212 ESTUDOS
não, zanga-se. Pois faz mal, porque a ingratidão é feia,
e também porque mostra esqueeer-se do velho prolo-
quio, o calado é o melhor. Poupava-se a si, a mim, e
ao pobre leitor que não tem culpa.
Aldeia, ao derradeiro de dezembro de 1901.
P. S. - Este artigo foi publicado no dia 1 de janeiro de 1902,
pois logo no folhetim do Diário de Noticias do dia 6 passou o
Marramaque a ser fidalgo e cavaleiro, e a contar os seus feitos e os
de seu pai por mim narrados. O sr. Lobo de Ávila não se emendou
de fazer citações, continuou com ellas até ao fim do romance; mas
castigou-me, não me citando. Esqueceu-se daquella sentença de Plí-
nio : E st mim benignum, et plenum ingenui pudoris, faterí per quos
profeceris.
XI
LIVROS
Os Jesuítas no Grão-Pará, suas missões e a colonisação, porj. Lúcio
ele Azevedo. Lisboa, 1901.
A Ordem de Chrísto, por J. Vieira da S. Guimarães. Lisboa, 1901.
Culpa confessada está meio perdoada.
Confesso pois que, se fosse preciso, escreveria com
parcialidade acerca destes dois Jivros; mas não careço
de ser benévolo para os louvar, porque elles são bons.
Escreveria parcialmente, porque elles representam,
como logo se conhece, estudo aturado, dilijencia de
acertar, e honestidade no modo de investigar. Obras
com estes predicados são sempre simpáticas em todos
os ramos de literatura, e mais ainda quando o assunto
se liga á historia.
Assim como livros históricos feitos sobre ruins bases,
sem estudo nem critério, aborrecem a todos, e a mim
chegam até a fazer ferver o sangue e perder a paciên-
cia, quando áquelles defeitos juntam filáucias nos auto-
res; assim pelo contrario merece-me o melhor agrado
qualquer modesta tentativa, laboriosa e honestamente
estudada. Não é especialidade minha: deve ser este o
modo de pensar de todo o critico desapaixonado.
Ora os dois livros acima apontados, tanto os Jesuítas
no Grão Pará, como a Ordem de Chrísto, não são ten-
214 ESTUDOS
tativas; são obras completas, deixando os assuntos de que
tintam esgotados, tanto quanto possível em casos históri-
cos. Porque devemos perder as ilusões, se alguns dos que
trabalhamos em historia ainda as temos: assuntos esgo-
tados nesta matéria, não os pode haver por ora entre
nós, e nem sei quando os haverá. Qualquer documento
inesperado vem alterar, superficialmente nuns casos,
profundamente noutros, o que tanto trabalho de inves-
tigação nos custou.
Entre nós é preciso paciência de anjo, e por tanto so-
brehumana, para se procurarem os documentos históri-
cos; é preciso a sorte do dr. Fausto, para que o diabo
nos mostre a Margarida por que suspiramos, quasi sem-
pre um bem carcomido pergaminho.
Ninguém pensa, ninguém se importa com a Historia
entre nós! Os altos poderes do Estado ainda são os
peores!
Homens competentes não são postos á frente dos
arquivos e bibliotecas nacionaes; escolhem-se para esses
logares aquelles que a mesquinha e reles politica impõe.
Felizmente a Torre do Tombo tem um director digno
do massimo respeito e da veneração de todos os estu-
diosos, e que professa pelo arquivo um verdadeiro
culto, já tradicional na sua familia. Refiro-me ao sr. José
Manuel da Costa Basto. Na Biblioteca Nacional de Lis-
boa está outro director, o sr. Gabriel Pereira, ilustrado,
inteligente, activo, trabalhador, afeiçoado aos livros, que
conhece por dentro e por fora; é por tanto um bom
empregado. Na Biblioteca Eborense, se não fosse o
sr. António Francisco Barata, não estava lá ninguém.
Na Biblioteca Publica de Braga, quem passa os recibos
dos livros rejistados para lá enviados, é a sr.a Leopol-
dina de Sousa, e numa certidão do correio, passada a
meu requerimento em 28 de agosto de 1901, declara-se
"que esta senhora é cunhada de Henrique Rouffe, em-
LIVROS 215
pregado na Bibliotheca e por elle autorizada a receber
a correspondência.. !
A Biblioteca da Universidade, e a Municipal do
Porto, estão mais fora da perniciosa influencia politica,
e bem entregues. Outras bibliotecas publicas, por aí
existentes, podem estar ótimas; não sei porem o que lá
se passa.
Parece que havendo bons empregados em alguns dos
referidos estabelecimentos, o mal não será grande, pelo
menos para esses; mas tal não sucede. Os empregados
subalternos, com os escaços recursos de que dispõem,
pouco podem fazer para melhorar as condições dos ar-
quivos e bibliotecas, para facilitar por meio de catálo-
gos, e boa disposição de livros e documentos, as buscas
e investigações dos estudiosos. Precisavam, corno todas
as colectividades, de um chefe, que soubesse e quisesse
dirijir os trabalhos; que junto do governo pedisse^ até
alcançar, as indispensáveis dotações, neste malfadado
país só regateadas ao que é justo e bom. Precisavam
também de estabilidade, de estar livres de repetidas
reorganizações que vão sempre de mal para peor.
Esta ultima chamada reforma das bibliotecas e arqui-
vos, assinada pelo Ministro do Reino, sem a ler, é pos-
sível, sem a compreender, é certo, só se desculpa por
vir de um homem a quem a monomania da persegui-
ção toldou de repente a intelijencia. As fartas janeiras
á custa do esgotado Tesouro distribuídas agora a torto
e a direito, mais a torto do que a direito, para conservar
a união nos restos das desordenadas fileiras do partido
rejenerador, mostram-nos um Pipelet aflicto diante do
seu Cabrion.
Deixemos isso porem para outra ocasião; não é aqui
logar azado para analizar a tal reforma, que virá por
ventura a agravar ainda mais a existente desordem.
Quantos preciosíssimos documentos não existem na
216 ESTUDOS
Torre do Tombo com os quaes só por acaso se pôde
dar? Que base tão firme e grandiosa para a historia
vivida de Portugal se mão encontra naquelles trinta e
seis mil processos da Inquisição? Pois delles apenas
existe uma lista alfabética pelos nomes dos réos! Livros,
pergaminhos, documentos vários, de mosteiros e igrejas,
para lá estão metidos em gavetas, sem se saber o que
conteem !
Colecções existem catalogadas ; mas de que servem
esses catálogos, se alguns não são de confiança, outros
faltos de dizeres, e nenhum impresso, todos aferrolha-
dos lá no arquivo? Havendo catálogos bem feitos e im-
pressos, poderia o estudioso em sua casa apontar os
documentos que lhe conviria examinar, e só teria na
Torre de os pedir e estudar. Numa semana, num mês,
conseguiria colijir documentos, que pela forma como
elles agora jazem, se arrisca a não encontrar nem em
cincoenta annos de buscas, porque necessita muita vez
de um favorável acaso.
Para pôr á frente dos nossos arquivos e bibliotecas
precisava-se um homem de provada especial capa-
cidade para tal logar, e que de alma, vida e coração
se dedicasse a desempenha-lo. Um organizador paciente,
que se não metesse em metafísicas, mas praticamente,
sem presunções de fazer ótimo serviço, o fosse fazendo
bom e continuado, e directamente por si próprio diri-
jido.
António Ennes por duas vezes foi á Torre do Tom-
bo: ao tomar posse; e ultimamente num dia cm que
S. M. a Rainha visitou o arquivo. O sr. José de Azevedo
Castello Branco não sei quantas vezes lá irá. Receio que
sejam poucas; mas é sinceramente, do fundo do coração,
que desejo enganar-me, e que espero me dê Deus a sufi-
ciente vida para ainda poder rasgadamente tecer os mais
merecidos louvores á inteligente, dedicada e activa soli-
LIVROS 217
citude, com que desempenhará o seu cargo o novo Bi-
bliotecário mòr. Oxalá!
Nestas condições devemos, todos que nos interessa-
mos pela historia pátria, saudar com entusiasmo o
aparecimento de livros fundados em documentos, como
são os dos srs. Vieira Guimarães e Lúcio de Azevedo.
No deste senhor, o que mais directamente talvez nos
interessa, são os pormenores ministrados acerca da
vida do padre António Vieira. Não quero dizer com
isto que as particularidades a respeito da conquista e
colonização do Grão Pará, que se lêem com agrado, nos
não importem; mas a ellas, para mim pelo menos, so-
brelevam os dados biográficos do grande Jesuita.
Todos os capítulos relativos a Vieira, e são uns pou-
cos, prendem a atenção, e o leitor chega ao cabo delles,
com pena de tão cedo findar o deleite que experimen-
tava. O capitulo IV sobretudo, no qual o sr. Lúcio de
Azevedo nos conta com sobriedade, que não impede
comtudo certa largueza, a vida do Jesuita na volta do
Pará, aqui em Portugal e lá em Roma, é talvez o mais
interessante, por ser o mais ligado á historia geral do
país.
Com agrado disse acima, e repito, se lê a volumosa
historia dos Jesuítas no Pará, porque á boa linguajem
reúne a desafectação no estilo. Outro tanto não sucede
ás vezes na Ordem de Christo. É uma pequena mancha
existente neste livro, mas da qual muito facilmente o
autor se pode livrar nos futuros escritos que nos pro-
mete, e que venham quanto antes para satisfação das
letras pátrias.
A eloquência é um dote natural, que facilmente se
não adquire. Não a possuindo, melhor procederemos
não tentando devaneios de estilo, sempre prejudiciaes ao
contexto da obra. Em assuntos históricos basta a clareza,
218 ISITDOS
simplicidade e precisão na linguajem, correcta até onde
pudermos.
Apesar da minha já confessada parcialidade, tenho de
deixai- assinalada uma grave omissão que se nota na
Ordem de Christo. Refiro-me á ausência de citações.
O autor cuidou talvez preenchei- a falta com o apên-
dice estampado no fim do livro, debaixo da epigrafe
Bibliografia, e no qual apresenta a lista das fontes con-
sultadas, catalogo incompleto me parece. Nelle, por
exemplo, não vejo citado João Pedro Ribeiro, e julgo
que o autor se socorreu algumas vezes das suas obras,
e, se o não fez, tanto peior. Ninguém pode escrever
historia documentada dos primeiros tempos da monar-
quia, sem o auxilio daquelle mestre, confirmado patriarca
da nossa diplomática.
A tal Bibliografia não supre de modo nenhum a falta
das citações nos logares competentes.
Para o provar ao sr. Vieira Guimarães, transcreverei
um dos artigos da sua lista: "Documentos — Nos ma-
nuscriptos da Torre do Tombo que sob o nome de
Christo existem neste riquíssimo archivo, e varias chan-
cellarias de diversos reis.,,
E nas Gavetas? e no Corpo cronolojico? não encon-
trou nada? E, quando se refere a um documento, como
quer que o leitor saiba onde o achou? O leitor em geral
não se importa com isso; mas o estudioso austero pre-
cisa sabe-lo, porque a citação autentica a proveniência
do documento; e, não só por isso, mas porque facilita
em caso de duvida o exame, do qual deverá sair a con-
firmação dos dizeres do historiador.
Sabe o sr. Vieira Guimarães o resultado da falta de
citações no seu livro? E que este não poderá em muitos
casos ser por seu turno citado sem resalva; é que eu
agora poderia afirmar aqui, ter-se o autor desenvenci-
lhado com acerto daquelle dédalo de documentos, e
LIVROS 219
correspondentes datas, dos princípios da Ordem do
Templo, e assim não o posso fazer. Parece-me que sim;
mas assegura-lo não ouso, e para o poder avaliar não
hei de ir estudar de propósito a historia das Ordenado
Templo e de Cristo, como se tivesse de a escrever.
Por isso lhe suplicarei em breves palavras, brevis
oratio penetrai avios : Nas suas futuras obras cite, cite
sempre; mão receie neste ponto as perissolojias.
Aldeia, 12 de janeiro de 1902.
XI
EMVEriENADO
Não me restam duvidas; D. João II morreu de peço-
nha.
Quando, num precedente estudo, tratei da Rainha
D. Leonor, referi-me a um artigo, que não lograra ainda
ver, no qual, conforme as informações alcançadas, eu
supunha ter o dr. Manuel Bento de Sousa atribuído a
morte de D. João II á hidropesia, afastando a presunção
do veneno.
Estava absolutamente enganado.
Encontrei o tal artigo, que, por sinal, não é artigo, é
uma carta, ou para melhor dizer, são duas cartas. Es-
tampou-as Barros Gomes no prefacio do Príncipe per-
feito de Oliveira Martins.
Entretendo-me eu no estudo dos tempos de D. João II,
parece que devia ter sempre presente aquelle livro
macrocefalo, mas, francamente, elle é dos taes que não
servem para consulta, e que, depois de lidos, se poisam
na estante. Agora porem tive de lhe mexer á procura
de uns bonecos, e topei com as preciosas cartas.
No que digo acima não ha desrespeito nenhum pelos
mortos. Oliveira Martins, que se ia aperfeiçoando cada
dia mais, apenas escreveu um capitulo do livro; e Barros
Gomes, que não tinha presunções de historiador, limi-
222 i mudos
tou-se, quasi unicamente, no extenso prefacio, a colijir
os apontamentos pelo historiador deixados.
Voltando á questão. No meu primeiro artigo acerca
da Rainha D. Leonor deixei dito, que me parecia
possuir já as provas bastantes para poder afirmar, que
D. João II morrera efectivamente envenenado. Influía
ainda então no meu espirito para duvidar um pouco,
a crença de ser contraria á minha opinão a de Manuel
Bento de Sousa. Hoje, porem, conhecendo a delle e en-
contrando-a conforme com a minha, não me restam
duvidas: D. João II morreu envenenado.
Compreende o leitor perfeitamente o peso enorme,
que para mim tinha o parecer de um medico da ciên-
cia, ilustração e intelijencia de Manuel Bento. Desde
que elle achasse no processo da doença de D. João II
sintomas diversos, dos que a acção da peçonha deveria
produzir, eu teria sempre, apesar das provas por mim
descubertas, de duvidar do envenenamento. Com isto
não desmerecia na valia delias, realmente muito grande,
mas que, ainda assim, em absoluto não é cabal, como
só o poderia ser o auto da analise das visceras, a con-
fissão do envenenador, etc. Documentos desta qualidade
não se encontrarão jamais, e teremos por tanto de recor-
rer sempre ao raciocínio para concluir.
Afirma o dr. Manuel Bento, fundando-se nos seguin-
tes argumentos, que D. João II foi envenenado:
"1.° Considerando as pessoas, os factos, e a época;
deve ter-se dado o envenenamento.
"2.° Os sintomas e outras circunstancias do primeiro
ataque da ultima doença, levam a acreditar no envene-
namento. Os sintomas podiam até ser os de uma indi-
gestão. É certo ; mas certo é também, que sendo quatro
os casos e havendo três mortes, são mortes de mais para
indigestões. Do mesmo modo, quatro casos de anciãs,
vómitos e outros fluxos, dando três mortes, e não sendo
ENVENENADO 223
seguidos de outros casos e outras mortes no séquito
real, são de menos para epidemia, são de mais para
doença esporádica, e bastantes para envenenamento.
' v " A morte de D. João, admittida a primeira propi-
nação de peçonha, e falando-se em outras seguintes
ainda comprova o envenenamento.
"4." Successos posteriores ã morte de D.João II refor-
çam a hipothese do envenenamento. »
O 1.° e 4.° argumentos são geraes; o 2.° e 3.° são
técnicos. Deixarei aquelles por ora, e aproveitarei estes.
Diz Manuel Bento, em corolário do 3.° argumento :
"A descri pção dos últimos soffrimentos, embora lacónica,
é sufficiente para se ver que o Rei succumbiu a uma
anasarcha com perturbações cardíacas. A acção do arsé-
nico, e, análogos, em doses lentas ou repetidas, causa a
degeneração gorda do. coração e outras vísceras, sobre-
vindo-lhe a anasarcha.,,
Ficamos por tanto sabendo, que os terríveis padeci-
mentos de Alvor pelos cronistas descritos, não foram
resultado de simples hidropesia, classificação então dada
pelos físicos á moléstia dei Rei, mas de anasarcha, e que
o arsénico e outros venenos conjeneres a podem produzir.
No 2.° argumento, o pelas minhas provas reforçado
singularmente, diz o ilustre Professor, que quatro casos,
dando três mortes, são mortes de mais para indijestão, de
menos para epidemia, e bastantes para envenenamento.
As mortes não foram três; foram quatro, porque ao
mesmo tempo que os três criados também D. João II
morreu. Este facto ignorava Manuel Bento, por não
conhecer os documentos a que já no meu acima citado
artigo me referi '.
1 Os documentos são três: um alvará de 24 de oitubro de 1495,
véspera da morte de D. João II, confirmando a casa de Fernão de
Lima a seu filho (Chancelaria de D.João III, liv. 41.", íl. 72) ; e duas
cartas de quitação dadas ás viuvas e herdeiros de Estevão de Se-
224 ESTUDOS
Manuel Bento argumentava unicamente com os dize-
res dos cronistas, mais nenhuma prova tinha; e num
caso tão grave como este, as conjecturas de Pina e de
Resende não seriam para mim prova suficiente, se os
documentos as não viessem confirmar. Alem disto, su-
punha o ilustre medico terem os três criados morrido
na occasião do primeiro envenenamento, havendo então
el Rei escapado. Não foi porem isso o que sucedeu:
Fernão de Lima, Copeiro mor, Estevão de Sequeira,
Copeiro pequeno, e Afonso Fidalgo, homem da Copa,
morreram todos três no anuo de 1495, no mesmo em que
D. João II sucumbiu. Não foram por tanto só três casos
fataes; foram-n-o todos quatro. Aquelle argumento de
Manuel Bento é o principal, o que fica extraordinaria-
mente corroborado com os três documentos por mim
achados.
Manuel Bento fundou-se em suspeitas de cronistas ;
os documentos provam que as suspeitas foram ver-
dadeiras. Manuel Bento supunha haverem sido então
apenas três os casos fataes ; os documentos mostram que
foram quatro, incluindo o da principal victima.
Ainda no outro dia, quando foi da trasladação, se
poderia ter procedido á analise dos ossos de D. João II,
e talvez delia se colhesse a prova irrefragavel, caso o
envenenamento tivesse sido pelo arsénico, ou outro
análogo, e não por meio de tóxicos vegetaes.
Quem propinou o veneno?
Mestre João da Paz, admite Manuel Bento; mestre
queira e Afonso Fidalgo (Arch. hist. port., I, 164 e II, 77). Fernão
foi um fidalgo muito aceito a D. João II, que não demoraria a con-
firmarão da casa ao filho muitos dias depois da morte do pai; Es-
tevão faleceu sendo copeiro de D. João II, que não chegou a substi-
tui-lo no oficio: e Afonso ainda viveu parte do anno de 1495, no
qual se finou.
ENVENENADO 225
João do Porto, depois chamado mestre João da Paz,
medico da Rainha D. Leonor, proclama Camilo Castello
Branco no 1.° vol. dos Narcóticos.
Por ordem de quem?
Do Duque de Bragança, de quem possuía cartas com-
prometedoras, e com a aprovação, se não complici-
dade, da Rainha e de D. Manuel, que, subindo ao trono,
deu logo ao fisico o premio do seu crime; indicam
ambos os escritores apontados.
Parece-me todavia haver muito que contrariar nestas
alegações.
Manuel Bento deixa-se levar um tanto pela escrita de
Camilo, apesar de duvidar, em virtude da sua apurada
critica, dalgumas das afirmações deste.
Camilo, em historia, merece pouca confiança. É pre-
ciso lê-lo com cuidado, e aceita-lo quasi sempre com
resalva. Elle estava lonje dos documentos, e fiava-se de
mais em nobiliários e outros manuscritos. Jurava por
elles, como não juraria pelos evangelhos.
Alem disto, quanto a médicos, guiou-se pela Nobiliar-
chia medica de Martins Bastos, folheto sem nenhuma
autoridade, escrito sobre muito ruins bases.
Eu só me fio absolutamente em documentos; mas
vamos por partes.
Diz Camilo que mestre João, cristão novo, natural
de Mazagão, e afilhado de D. João II, era em 1492, com
o nome de mestre João do Porto, fisico da Rainha
D. Leonor.
No reinado de D. João II não existiu no reino
nenhum fisico, nem cirurjião, denominado mestre João
do Porto.
Tenho noticias de vários Joões do Porto, desde 1433
até 1522 "-'.
2 Vide no fim deste artigo o Apêndice, 1.
15
226 ESTUDOS
O mais antigo encontrado dentro deste período, era
escrivão das sisas dos panos e herdades de Lisboa,
e foi dispensado, por carta de 6 de dezembro de 1433,
de ter cavalo.
Achei um João do Porto, inglês, mercador, morador
na vila de Bristol, a quem se deu, em 5 de oitubro de
1451, carta de seguro para a sua nau Gabriel. Outro,
escudeiro do Infante D. Fernando Duque de Viseu, teve.
por causa de mulheres, vários embaraços com as justi-
ças réjias, como atestam algumas cartas de perdão.
Ainda outro, "nosso cantor,,, de D. João II, teve em
1484 uma tença de quatro moios de trigo, e foi nomeado
escrivão da Casa do Civel em 1488, e em 1490 escrivão
da Correição da Corte. Sobreviveu a seu protector, e
continuou na casa de D. Manuel, de quem outrosim foi
cantor, e que lhe confirmou a referida tença por carta
de 28 de fevereiro de 1497.
Também viveu por esses tempos um clérigo, que
chegou a chamar-se D. João do Porto, e a ser Bispo
de Targa, dignidade em que já estava investido no anno
de 1514.
De todos, porem, o mais conhecido, e que mais lidou
na corte, foi escudeiro dei Rei, escrivão da sua fazenda
e seu comprador. Começou a servir neste oficio em
1468, e, com breves interpolações, o desempenhou até
14S4 inclusive, recebendo em todo este período para
compras dei Rei a importante quantia de onze milhões
novecentos e trinta mil cento e noventa reaes, da qual
se lhe deu carta de quitação em 15 de maio de 1486.
Depois serviu até fim do anno de 1493 de almoxarife
•dos escravos que vinham de Guiné, e á sua viuva e
herdeiros foi dada quitação por carta de 27 de fevereiro
de 1500.
Outros vários Joões do Porto existem nomeados em
documentos, mas nenhum fisico, e somente aparece um
ENVENENADO 227
que foi barbeiro e depois cirurjião; morava porem na
ilha da Madeira, como declaram documentos de 1477
e 1478 respectivos á administração de uma capella :i.
Bem fundado motivo tinha por tanto Manuel Bento,
para julgar confusão de Camilo a existência na corte
de um fisico, ou cirurjião, chamado mestre João do
Porto, no reinado de D. João II.
Fica pois destruída a primeira asserção do roman-
cista: a Rainjia D. Leonor nunca teve nenhum medico
chamado mestre João do Porto.
Teve porem a Rainha, ainda em vida de seu marido,
algum fisico ou cirurjião que por nome fosse mestre
João?
íi possivel, mas não se pode afirmar.
Mxaminei sessenta e nove documentos respectivos a
vários mestres Joões, abranjendo os annos de 1436 a
1521, e em nenhum se declara haver qualquer daquelles
indivíduos sido fisico ou cirurjião de D. Leonor.
Seria de certo interessante, e proveitoso até, relacio-
nar aqui os apontamentos extraídos de todos aquelles
documentos, e não deixaria de o fazer, pelo menos
em nota, se estes artigos fossem de critica histórica a
sério. Elles porem são compostos unicamente à lusage
cies gens du monde, para ver se comsigo arranjar meia
dúzia de leitores; preciso por tanto de os amimar, não
lhes pregando maçadas, para que me não fujam ''.
Não se pode afirmar, repito, ter tido a Rainha
D. Leonor durante a vida de seu marido nenhum me-
dico chamado mestre João; mas é certo que na sua
• Chancelarias de D. Afonso V, liv. 18.o, fl. 103 v. ; e de D.João II,
liv. 19.o, fl. 51 v.
1 Agora, que este artigo sai em livro, porei rio fim delle os
apontamentos extraídos dos documentos relativos a Mestre João. Vide
o Apêndice, II.
'228 ESTUDOS
casa, ao tempo do seu falecimento, existia um mestre
João. Este mestre João, "morador em minha cidade do
Porto e cirurgião que foi da Rainha D. Leonor minha
tia.., teve, por carta de 13 de julho de 1527, licença
para andar em mula '. Alem disto, a 6 do mesmo mês
do anno antecedente, havia-lhe D. João III mandado
dar uma tença de dezaseis mil e vinte reaes, outro
tanto como recebia de ordenado em casa da Rainha.
Não era porem ainda a este tempo morador no Porto;
pelo menos na carta nenhuma referencia a isso existe c.
Fique já assente não ser este mestre João o mestre
João da Paz, a quem Martins Bastos, Camilo e Manuel
Bento se referem, e de quem logo darei as noticias que
pude alcançar. Fique isso assente, e irei respigar nos
documentos as poucas indicações que se poderão referir
ao mestre João, cirurjião da Rainha D. Leonor.
No Porto vivia em 1521 um mestre João, biscainho,
a quem, depois de examinado por mestre Gil, Fisico e
Cirurjião mór dei Rei, foi dada carta de cirurjia a 26
de janeiro '. Não creio haver sido este o que depois
serviu em casa da Rainha.
Naquella mesma cidade morava em 1501 outro mes-
tre João, também cirurjião, o qual era filho de Nuno
Afonso. Consta a sua existência de uma carta de 27 de
setembro daquelle anno, pela qual el Rei lhe fez mercê
de certos bens litijiosos s. Se este foi o cirurjião da
Rainha, é forçoso concluir que só posteriormente áquella
data entrou para o seu serviço, porque não faltaria no
instrumento a indicação dessa circumstancia.
•"' Chancelaria de D. Iodo III, liv. 2. o de Doações, fl. S4, doe. im-
presso pelo dr. Sousa Viterbo nas Noticias sobre alguns médicos
portuguezes, sob n.o 59.
6 Ibidem, liv. 36.o, fl. 125, incluído também nas referidas Noticias.
'■ Chancelaria de D. Manuel, liv. 37. o, fl. 106 v.
8 Ibidem, liv. 17.o, fl. 96.
ENVENENAI)'' 229
E mais nenhum cirurjião nem fisico encontrei, que
se chamasse mestre João sem mais apelido, e fosse mo-
rador no Porto no largo período acima referido.
Em 1498 existia um mestre João, fisico de D. Manuel,
que nesse anno, por carta de 22 de oitubro, lhe deu
consentimento e licença para comprar o foro de uma
quinta em Carnide, o qual lhe confirmou pelo mesmo
documento 9. Se nesta carta se declarasse ser mestre João
cirurjião dei Rei, e não seu fisico, pouca duvida teria em
supor haver elle sido o cirurjião da Rainha D. Leonor
referido no documento de 1527, mas não me atrevo, em
vista daquella discordância.
Repetirei pois: a Rainha D. Leonor teve um cirurjião
chamado mestre João, é certo ; mas é provável haver
elle começado a servi-la só depois de viuva.
Também é certo não ter este mestre João sido o mes-
tre João da Paz, como o leitor verá no capitulo seguinte.
II
Foi mestre João da Paz que envenenou D. João II,
afirma Camilo Castello Branco, podendo-se resumir a
sua prova nestes três argumentos :
1.° D. João II morreu a 25 de oitubro de 1495, e
D. Manuel, apenas decorridos três meses, por carta de
24 de janeiro de 1496, deu a mestre João o foro de
fidalgo com cota de armas e o apelido de Paz.
2.° Mestre João da Paz não aparece nas listas dos
fisicos de D. Manuel que o afidalgou e lhe permitiu
vincular os bens, mas não lhe quis as receitas.
9 Chancelaria de D. Manuel, liv. 31.°, fl. 113.
230 ESTUDOS
3.° Mestre João da Paz conservou muitos annos cor-
respondência melindrosa com o Duque de Bragança,
sabedor do envenenamento na Fonte Cuberta, talvez
aliado no delito, e certamente escritor de uma carta
denunciadora, que Duarte da Paz, filho do fisico, rou-
bou a seu pai e enviou de Roma a D. João III.
Estes são os indícios que levaram Camilo a acusar
mestre João da Paz de ter propinado a peçonha.
Na aparência são elles bem fortes. O 1.° mostra o
premio do maleficio; o 2.° revela o receio da repetição
do delito; e o 3.° denuncia a cabeça dirijente.
Por isso Manuel Bento, não duvidando delles, achou-os
esmagadores, e admitiu a prova. A mim pareceu-me ne-
cessário exame antes de concluir, e bem procedi.
Os dois primeiros argumentos são completa e abso-
lutamente destruídos pelos documentos; o terceiro, depois
de breves minutos de ponderação, cai por terra. Só
admira não haver Manuel Bento reparado para a sua
frajilidade; mas isso mostra que a intelijencia, por mais
vasta que seja, nem sempre supre o método adquirido
com o estudo especial. Valha-me isso.
O Duque de Bragança nasceu em 1479; o envenena-
mento na Fonte Cuberta foi em 1491. Quem poderá
acreditar que um arteiro Judeu fosse arriscar a pelle,
e os haveres, perpetrando um crime de lesa majestade
ao mando de urna criança de doze annos? Ninguém, e
nessa não caía certamente mestre João.
Por tanto a tal carta do Duque de Bragança, da exis-
tência da qual se não pode duvidar por vir men-
cionada em documentos, referia-se a assunto diverso do
envenenamento de D. João II. Direi mais: não é preciso
ir a Castella procurar o instigador do crime; na corte,
aos lados dei Rei, é que elle devia estar.
Mostrada a inanidade da terceira prova, irei tratar das
outras duas.
ENVENENADO 231
Antes porem afirmarei não ter empenho nenhum em
rehabilitar a memoria de mestre João da Paz; é-me isso
indiferente; unicamente desejo apurar a verdade. Já no
final do primeiro capitulo acerca da Rainha D. Leonor
eu disse que o assunto do envenenamento de D.João II
é tão interessante quanto enredado; e é certo. Com do-
cumentos, e o auxilio de Manuel Bento, provei o crime,
com documentos também, vou absolver um dos supos-
tos criminosos.
Mãos á obra.
"D. João II morreu em 25 de oitubro de 1495, e antes
de completos três meses, a 24 de janeiro de 1496, el
Rei D. Manuel deu foro de fidalgo com cota de armas
a mestre João com appellido de Paz.,; São palavras de
Camilo, citando para prova o Thesouro da nobreza de
Portugal de Fr. Manuel, de Santo António.
A citação está certa; o erro não é de Camilo, é do
Paulista.
Na paj. seguinte, a 51, continua o romancista: "Mas
— curioso reparo! — mestre João da Paz não apparece
na lista dos fisicos de D. Manuel! Elle deu-lhe brasão,
afidalgou-o com cota de armas, permittiu-lhe que vin-
culasse os seus bens na província de Entre Douro e
Minho, mas não lhe quiz as receitas...
Desta vez não ha citação, mas a lista a que o escritor
se refere é a dada por Martins Bastos na sua Nobiliar-
chia medica.
Agora oiçamos os documentos.
Em 26 de oitubro de 1497 foi confirmada a carta de
fisico a "mestre João da Paz, fisico e nosso cirurgião,
morador em Guimarães,,, que fora examinado, haveria
quinze annos e por tanto em 1482, pelo dr. mestre Ro-
drigo, Fisico mór l0.
10 Chancelaria de D. Manuel, liv. 30.o, fl. 22 v.
232 ESTUDOS
Em 6 de agosto de 1400 foi confirmada a carta de
cirurjia a "mestre João da Paz, nosso fisico e cirurgião,
morador em Guimarães,,, que fora examinado, haveria
dezaseíe aimos, e por tanto também em 1482 pelo
dr. mestre Fernando, Cirurjião mor".
Referem-se ambas as cartas ao mesmo individuo,
no mesmo anuo examinado em fisica pelo Fisico
mór, e em cirurjia pelo Cirujião mór. Não ha discor-
dância nenhuma, e este era o uso.
Aquelles dois documentos são bastantes para derruir
toda a argumentação de Camilo.
Se a carta de 24 de janeiro de 1496, a de fidalguia e
brasão de armas, fosse uma realidade, e não uma inven-
ção de genealojista, nos documentos acima citados de
1497 e 1499 não esqueceria por caso nenhum a decla-
ração do foro de mestre João da Paz. Isso esquecia lá!
Seria mais fácil hoje em dia, num diploma relativo a
uma pessoa do Conselho dei Rei, omitir-se esta cir-
cumstancia, do que naquelles tempos deixar de se de-
clarar que o agraciado era cavaleiro da casa dei Rei.
ou seu fidalgo, se este, o que não é crivei, houvesse
sido o foro dado.
Por tanto, ou a carta de brasão e fidalguia de mestre
João da Paz, que se não encontra rejistada, é apócrifa;
ou foi dada pelo menos quatro annos depois da morte
de D. João II, não tendo havido pressa de premiar os
serviços do fisico. Disto não se pode fujir.
Também não ha duvida, em contrario da afirmação
de Camilo, que mestre João da Paz foi fisico e cirur-
jião da casa de D. Manuel. Lá o assevera a carta
de 1497 nas palavras "fisico e nosso cirurgião,,, e mais
claramente ainda a de 1499, onde se lê "nosso fisico e
cirurgião».
11 Chancelaria de D. Manuel, liv. 11.", II. 55.
.Vi XI NADO
Não lhe receou por tanto D. Manuel as receitas.
Fique pois, em quanto não aparecer mais prova, ili-
bada do crime de envenenamento a memoria de mestre
João da Paz.
Camilo, fundado nalgum nobiliário que não cita,
ura ter sftlo aquelle mestre João da Paz o pai do
famoso tratante Duarte da Paz.
Tenho muitas duvidas a tal respeito.
Recorri ao Santo Oficio, onde a prOva é sempre de
desenganar, mas nada lá encontrei relativo a estes Pa-
zes, e nem sequer ao caturra do Infante D. Duarte, que
André de Resende chama Paz, e que Camilo por sua
conta baptizou em Fernão da Paz. Pois nem a respeito
deste, apesar de mestre André nos dizer que elle fora
preso, e se suicidara no cárcere, ou lá o mandaram en-
venenar os parentes receosos de suas revelações '-. Te-
nho por tanto de seguir outro rumo.
Herculano, que também se não fiava em nobiliários
e que viu documentos, apenas diz haver sido Duarte
da Paz um cristão novo de obscura orijem, que exer-
ceu um cargo de certa importância, de justiça ou admi-
nistração, e que foi cavaleiro da Ordem de Cristo,
tendo alcançado o habito por serviços em Africa, onde,
parece, perdera um olho l:!.
Camilo conjectura, "sem grande receio de errar.,, que
Duarte da Paz era um dos contadores da camará de
D. João III. Pois, apesar do pouco receio, errou.
Duarte da Paz, ou para melhor dizer Duarte de Paz,
nome que lhe é dado nos documentos réjios e desta
aparente subtileza logo tirarei partido; Duarte de Paz,
repito, havia sido nomeado feitor da alfandega, sisa
12 André de Resende, Vida do Infante D. Duarte, paj. 35.
13 Herculano, Origem da Inquisição em Portugal, 1, 258.
234 ESTUDOS
dos panos, marcaria e herdades da cidade do Porto, por
carta de 23 de julho de 1529 ''.
Depois, por instrumento de 30 de setembro de 1531,
passou aquelle oficio a seu irmão Diogo de Paz, que
só nelle foi confirmado por carta de 22 de junho de 1532 ' ',
nas prossimidades da partida de Duarte para Roma, onde
foi atraiçoar todos, intrujando (perdoem-me o termo)
papa, cardeaes, rei de Portugal e seus ministros, e até
os próprios Judeus de quem era delegado.
Não era comtudo o cartório da feitoria da alfandega
do Porto, aquelle a que o cristão novo se refere na sua
carta a D. João 111 citada por Herculano e Camilo; era
o da recebedoria, que a seu cargo estivera na corte, da
meia dizima, meia sisa e direitos das sedas de Castella,
de que prestou contas seu irmão Diogo de Paz, pas-
sando-se-lhe a carta de quitação, em Évora, a 23 de fe-
vereiro de 1534 ,(p. Este é que era o cartório, e não
outro qualquer da contadoria réjia.
Suponho, seja dito em ar de parêntesis, haver sido
aquelle Diogo de Paz o mesmo que nos annos de
1516, 17 e 18 serviu de recebedor do almoxarifado do
Porto, e nesses mesmos annos e mais no de 1515, fora
também recebedor da sisa dos panos da referida cida-
de '". Estes ofícios são os mesmos concedidos em
1529, com o titulo de feitor, a Duarte de Paz, como
acima disse, e seria coincidência demasiada terem ocu-
pado, nesses tempos, idênticos cargos, em períodos
sucessivos, sujeitos do mesmo nome, sem serem a
mesma pessoa ou parentes muito chegados. Se o Diogo
de Paz de 1516 não era o irmão de Duarte de Paz,
''' Chancele ria de D. João III, liv. 48.° de Doações, fl. 41.
1 ■■■ Ibidem, liv. 16.<\ fl. 97.
111 Ibidem, liv. 20.o, fl. 39 v.
17 Teve cartas de quitação em 14 e 16 de abril de 1520 (Arch hist,
port., I, 406 e 407).
ENVENENADO 235
seria então seu tio, ou, quem sabe? seu pai, destruindo
assim as suposições de Camilo. Como não aparecem
documentos elucidativos, tenho de fechar o parêntesis
deixando subsistir a duvida.
Voltando á filiação de Duarte de Paz, direi que ne-
nhuma prova da que lhe supoz nos apresenta Camilo.
Refere-se ao breve de isenção concedido em 1536 ao
pai, mãe, irmãos e filhos de Duarte de Paz; mas não
os nomeia, porque não viu o documento, nem hoje será
possível encontra-lo, e só delle teve noticia por uma
carta de D. João III ao Cardeal Santiquatro. Refere-se
também ao outro breve de 28 de oitubro de 1542 de
revogação do primeiro, mas também não o viu, ou pelo
menos não o extractou.
Nelle se declara que pelo anterior fora defeso o pro-
cedimento por parte da Inquisição contra Duarte, ou
João de Paz, já finado 1S, e Diogo, também de Paz, e
Rui Mendez, e outros muitos ali nomeados, mas não
se mencionam os laços do parentesco que entre si os
ligava l9.
Este documento é comtudo importante para a averi-
guação da filiação de Duarte de Paz, por declarar que
um João de Paz já era falecido em 28 de oitubro de
1542, e saber-se que o pai de Diogo de Paz, e por tanto
também de Duarte, havia morrido antes de 12 de junho
desse anno. Quem mo diz, é uma carta de Diogo a
el Rei. É datada do Porto a 12 de junho de 1542, e nella
amargamente se queixa do desterro para fora do reino
dentro de trinta dias, que lhe é imposto unicamente por
ser irmão de Duarte de Paz, pois que outro crime não
commeteu.
1S O breve diz: ant quondam Joannc de Paz, e Du Cange no
glossário explica : Quondam . . . Nade usurpatur pro Defunctus, at
nostrum Gallicum Feu.
19 Corpo diplomático português, V, 123.
236 F.STUDOS
Da carta transcreverei este trecho elucidativo para a
presente questão: "meu pai e minha mãe conheceram
o engano que herdaram dos seus, e mudaram sua vida
com tanto prazer e gosto dei Rei de santa memoria,
vosso pai, e tamanha honra; e nella perseveraram até sua
morte, e nella morreram, segundo é notório nesta terra
pelas obras que nella fizeram, por que mostraram bem
claramente quão bem se tiraram da obrigação em que
nasceram» -".
De todo o exposto conclue-se: que é certo ter o pai
de Duarte de Paz vivido no Porto, e bem possível ser
exacta a tradição, conservada nos nobiliários, daquelle
se haver chamado João de Paz.
Aceito isto; e direi mais que também me parece pro-
vável, conforme a tradição, haver elle sido medico, por-
que encontro uma carta de medicina, dada em 23 de
dezembro de 1497 a mestre João de Paz, castelhano "21.
Bem sei que no documento se diz ser elle então mora-
dor em Elvas, mas é facto que nesses tempos muitos Ju-
deus castelhanos passaram para Portugal, e é bem pos-
sivel que mestre João de Paz se estabelecesse primeiro
junto da fronteira, e só depois, por qualquer circums-
tancia, passasse para o Porto.
Os documentos muita vez destroem, mas outras con-
firmam ou explicam a tradição. Parece-me estarmos
neste ultimo caso.
No trecho da carta de Diogo de Paz, acima trans-
crito, ha referencia clara ao facto do pai se ter conver-
tido ao cristianismo, "com tanto prazer e gosto dei
Rei (D. Manuel), e tamanha honra,,. Que outra podia
i tamanha honra naquella ocasião, se não a dei Rei
lhe ter servido de padrinho no acto do baptismo? Ne-
-" Corpo cronolojico, part. I, mac. 72, doe. 13.
21 Chancelaria de í). Manuel, liv. 28.o, fl. SI v.
ENVENENADO 237
nliuina outra; e, admitida cila, ficam cm parte explica-
das as confusões da tradição, e dos autores que só por
ella se guiaram.
Conclusões finaes:
1.° Existiram c foram contemporâneos um mestre
João da Pa/, fisico c cirurjião de D. Manuel, e mora-
dor em Guimarães; e um mestre João de Paz, castelhano,
medico, morador no Porto, afilhado de D. Manuel, por
elle talvez ngbilitado depois de 1497, e pai de Duarte
de Paz.
2.o Nenhum delles se chamou primeiro mestre João
do Porto, nem foi medico da Rainha D. Leonor, nem
afilhado e envenenador de D. João II.
O técnico, que por ordem da Rainha e do Duque de
Beja se prestou a preparar, e talvez propinar o veneno,
ainda não fica desta vez conhecido. Não desisto por
ora de o encontrar; é preciso porem paciência e exame.
Aldeia, fevereiro de 1902.
APEMDICE
Extractos de documentos relativos a João do Porto
1 - D. Eduarte, etc. Diogo Gonçalvez de Castelbranco, coudel em
Lisboa, não constranjaes a João do Porto, nosso escrivão das sisas
dos panos e herdades em Lisboa, que tenha cavalo, nem armas, nem
pareça em alardo, etc. Santarém, 6 de dezembro de 1433. Chance-
laria de D. Afonso V, liv. 19.°, fl. 1 v.
2- D. Duarte, etc. Bartolomeu Gomez, provedor das nossas ren-
das em Lisboa, que João do Porto, escrivão das nossas sisas das her-
dades e panos de linho em a dita cidade, haja licença e lugar para
em três meses do anno poder pôr um escrivão, que por elle sirva o
dito oficio. Lisboa, 17 de novembro de 1436. Confirmada a João
Afonso em Lisboa, a 24 de fevereiro de 1439. Ibidem, liv. IS. o,
fl. 83 v.
3 João do Porto apresentou a carta de 6 de dezembro de 1433,
e foi-fhe confirmada em Lisboa, a 10 de manro de 1439. Ibidem,
liv. 19.", fl. 1 v.
! João do Porto, barqueiro, morador em Lisboa, disse que em
este mes de abril, vinde elle de Santarém em um seu barco com
sáveis, para a dita cidade, ficara em seco em Xabregas, e alugara hi
uma besta, em que os levou para não perder sua venda, etc. Carta
de perdão por falta de pagamento de direitos. Sintra, 26 de abril de
1441. Ibidem, liv. 20." fl. 11.
5 D. Afonso . . . e que estando elle dito João do Porto, aos 2 de
setembro que ora passou, em audiência perante os diteis juizes, que
o dito almoxarife lhe dera a ler a dita carta de citação, que a hou-
vesse de ler e publicar eemprazar os sobreditos vereadores e procura-
rador em cila conteúdos, que presentes estavam ; e como assim fora
lida, que os ditos juizes de suas próprias vontades, e a requerimento
dos ditos vereadores e procurador, o suspendessem do dito oficio
do tabeliado, etc. < larta mandando revogar a suspensão. Coimbra,
9 de novembro de 1 143. Ibidem, liv. 35.° fl. 20 v.
6 João d<> Porto, barbeiro, morador em Lisboa, carta de besteiro
de cavalo. Lisboa, 1 \ de julho de 1449. Ibidem, liv. 15.°, fl. 167.
7 João do Porto, morador nesta cidade, por quanto é porteiro
e sacador do 1 studo delia, licença paia trazer anuas. I isboa, 11 de
junho de 1450. Ibidem, liv. 34.°, fl. 137 v.
ENVENENAI)! > 239
S [oão do Porto, inglês, mercador, morador em a vila de Bristol,
enviou dizer que tem uma sua nau chamada Graviel, que era está
auto a nossa cidade de Lisboa, e por quanto se temia de lhe ser na
sua nau e mercadorias feita alguma tomada, etc. < arta de seguro.
I isboa, 5 de oitubro de 1 151. Ibidem, liv. 35.°, íl. l>5 v.
9 [oão do Porto, escudeiro do Infante meu irmão, enviou dizer
que Recharte Paim e Violante Lopez, sua molher, querelaram delle,
dizendo que vivendo elle com elles e tendo em sua casa uma Isabel
sua criada, moça virjem, que elle dormira com ella em sua cisa e
em outras partes; e que, depois que assim com ella dormira, se Fora
a casa de Roberto Paim, onde estava uma Brites, irmã da dita Isabel,
e se casara com ella sem licenc,a e autoridade do dito Roberto Paim,
e que, sendo elle assim casado com a dita Brites, tornara a dormir
com a dita Isabel, tendo-a elles já esposado com um (oão da Arruda,
que por causa da dita Isabel acutilara um Álvaro, criado dos ditos
querelosos, e lhe dera uma ferida pela mão esquerda, de que ficara
manco de um dedo, o qual isso mesmo querelara delle que lhe dera
outra ferida; por a qual razão elle fora degradado para Ceuta por
um anuo, e fora preso por as ditas querelas, e que as partes a que
a acção pertencia o não querem acusar e leixaram o feito da jus-
tiça, etc. E que depois, jazendo preso na prisão de Lisboa, fujira.
Carta de perdão, com tanto que vá estar por todo a nossa cidade de
Ceuta dez annos. Santarém, 29 de setembro de 1455. Chancelaria
de Afonso V, liv. 15.°, fl. 86 v.
10 -João do Porto, escudeiro do Infante D. Fernando meu ir-
mão, morador em Lisboa, enviou dizer que Richarte Paim querelara
delle dizendo, que vivendo com elle e tendo elle em sua casa Isabel
sua moça, virjem, que dormira com ella em sua casa e em outras
partes; e que, depois que com ella dormira, se fora a casa de Re-
charte (sic) Paim, onde estava uma Beatriz, irmã da dita Isabel, e
casara com ella sem licença do dito Richarte Paim; e que, sendo
assim casado com a dita Beatriz, tornara a dormir com a dita Isabel,
tendo-a elle já esposado com João de Arruda; e por causa da dita
Isabel um Álvaro seu criado houvera uma ferida, que lhe dera pela
mão sestra de que ficou aleijado de um dedo, querelando delle.
Pelas quaes querelas fora preso e acusado por parte da justiça, por
quanto os querelosos o não quiseram acusar; e que, prolongando-se o
feito, fujira da prisão; e que depois lhe perdoáramos com tanto tine
estivesse dez annos em Ceuta, como consta da carta de perdão que
lhe tora notificada por sua mulher, e não a quisera aceitar por ser
grão pena, a qual não entendia comprir por ser pobre, pelo que
andava amorado. Pede, por bem do perdão geral que ora fazemos
por razão da nossa ida contra os Turcos, etc. Carta de perdão com
tanto que fosse estar a Ceuta três annos. Lisboa, 15 de dezembro de
1456. Ibidem, liv. 13.<\ fl. 71.
11 João do Porto, escudeiro do Infante D. Fernando, enviou
dizer que Richarte Paim, que foi nosso sobre juiz em Lisboa, que-
relara delle dizendo, que vivendo com elle e estando em sua casa
Isabel, sua moça, virjem, que dormira com ella em sua casa e em
outros logares, e que, depois que com ella dormira, se fora a casa
de Roberto Paim, onde estava uma Beatriz, irmã da dita Isabel, e
casara com ella sem licença do dito Roberto Paim; e que, sendo
240 ESTUDOS
m casado com a dita Beatriz, irmã da dita Isabel, tornara a dor-
mir com a dita Isabel, tendo-a elle já esposado com um |oão da
Arruda; e que, por causa da dita Isabel, um Álvaro seu criado hou-
vera uma ferida, que lhe dera pela mão sestra, de que ficara aleijado
de um dedo, querelando delle. Pelas quaes querelas fora preso e
acusado por parte da justiça, pov quanto os quei não qui-
seram acusar; e proseguindo o feito contra elle, fujira da prisão,
e andando amorado, lhe perdoáramos com tanto que fosse estar em
Ceuta dez ânuos, o qual lhe fora notificado por sua molher, e não
quisera aceitar o degredo; e em guira o perdão que fize-
mos para a ida do Turco, e então lhe perdoáramos, comtanto que
fosse estar a Ceuta três annos compridos, o qual por algumas ocupa-
ções que lhe sobrevieram não pudera seguir; e que, quando ora
fizemos armada para a filhada de Alcácer, elle nos fora servir na
armada e filhada da dita vila, e em cila ficara por nosso mandado e
por nos fazer serviço, até que de todo os Mouros se daí foram; e
depois que viera, fora ocupado em cousas de nosso serviço, de guisa
que não pudera vir tirar seu livramento ao tempo devido, etc. Carta
pela qual, sem embargo do tempo ser passado, lhe foi relevado o
dito degredo. Évora, 10 de marco de 1459. Chancelaria de D. Afonso V,
liv. 36.", fl. 248.
12 João do Porto, escudeiro de João Rodriguez de Sá, filho de
Gil Lourenço, clérigo de missa e abade de S. Martinho de Fajões,
bispado do Porto, e de Constança Gonçalvez, molher solteira, carta
de lejitimação. Lisboa, 2 de junho de 1459 (?). Ibidem, fl. lio \.
13 João do Porto e outros, moradores em Portalegre, carta de
perdão por uma assuada em que entraram em Marvão contra Pêro
Caldeira, fidalgo da casa e alcaide mór de Marvão. Avis, 30 de ja-
neiro de 14ó9. Ibidem, liv. 31.°, fl. 6 v.
14 -João do Porto, porteiro t sacador do Estudo de Lisboa, licença
para trazer na dita cidade, de noite e de dia, um punhal, ou uma
arma desta sorte da grandeza de dois palmos, pouco mais ou menos.
Lisboa, 29 de maio de 1469. Ibidem, fl. 53 v.
1 5 João do Porto, morador em Castello de Vide, carta de per-
dão. Lisboa, 21 de dezembro de 1471. Ibidem, liv. 17. o, fl. 23 v.
16— João do Porto, cunhado de Diogo de Oliveira, barbeiro, mo-
rador no Porto, enviou dizer que, estando elle em casa do dito
Diogo de Oliveira, se levantaram ambos em razões, sobre as quaes
lhe elle dito João do Porto dera com três feridas, etc. Carta de per-
dão. Coimbra, 28 de agosto de 1472. Ibidem, liv. 29.<\ fl. 131 v.
17 -João do Porto, lavrador, morador na Agualva, termo de Pal-
mella, carta de perdão. Évora, 12 de março de 147 ']. Ibidem, liv. 33. o,
fl. 79.
18- Perante nós pareceu Gil Gonçalvez, escudeiro, morador na
ilha da Madeira, sobrinho que foi de Clara Estevez, e João do Porto,
borzeguieiro, morador em Lisboa; pelos quaes foi dito, que a dita
Clara Estevez, morador que foi na dita ilha, fizera uma capella na
igreja de Santa Maria a Maior da dita ilha, á qual leixara certos
bens, a administração da qual leixara a um João do Porto, barbeiro,
morador na dita ilha, e a Pêro Gonçalvez seu marido, em quanto
elle não casasse, os quaes perderam a administração por não cum-
prirem as condições do testamento; e por ello nós fizemos delia
ENVENENADO 241
mercê a Fr. Afonso de Noronha, frade da Ordem de S. Francisco,
o qual, por sentir poso de conciencia e por não poder administra-la,
a leixou ao dito Gil Gonçalvez por ser sobrinho, filho de irmã, e
parente mais chegado de Clara Estevez, etc. Considerando porem <»
dito Gil Gonçalvez, que não pode administrar a capella por mitras
ocupações que tem, e considerando da bondade do dito João do
Porto, borzeguieiro, pediu para darmos a administração ao dito
João do Porto, etc. Carta a este. Santarém, 29 de oitubro de 1477.
Chancelaria de D. Afonso V, liv. 18.", íl. 103 v.
19 João do Porto, prior da igreja de I 'almas do bispado de
Coimbra, licença para poder lançar um asno a éguas. Viana d'apar
de Alvito, 14 de março de 1480. ibidem, liv. 32.o, fl. 31 v.
20 João do Porto, tabelião do eivei e crime na cidade do Porto,
havemos por escusado de trazer farpas, segundo é obrigado (Ord.
Af., liv. I, tit. II, § 12), sem embargo das Ordenações, etc. de Vila
Viçosa, 13 de junho de 1480. Ibidem, fl. 168 v.
21— João do Porto, que ora tem cargo de escrivão pelo chance-
ler da correição da Estremadura, carta de tabelião geral naquella
correição. Santarém, 9 de maio de 1481. Ibidem, liv. 26.o, fl. 15 v.
22 João do Porto, bacharel em a Sé de Évora, licença para com-
prar bens de raiz. Óbidos, 6 de agosto de 1481. Ibidem, fl. 135 v.
23 João do Porto, criado que foi do dr. João Pereira, carta de
porteiro dante o correjedor da corte. Montemor o Novo, 13 de
fevereiro de 14S2. Chancelaria do D.João II, liv. 6. o, fl. 12 v.
24 -João do Porto, escudeiro de João Rodriguez de Sá, do nosso
conselho e alcaide mór do Porto, morador em essa cidade, carta de
tabelião nessa mesma. Montemor o Novo, 1 de março de 1482.
Ibidem, fl. 26 v.
25 — João do Porto, carta de tabelião nesta comarca e correição.
Évora, 4 de maio de 1482. Ibidem, fl. 39.
26-João do Porto, nosso cantor, tença de quatro moios de trigo,
em quanto nossa mercê fôr, a começar do l.o de janeiro passado.
Setúbal, 16 de agosto de 1484. Ibidem, liv. 22.o, fl. 68.
27 Mandámos ora tomar conta a João do Porto, escudeiro da
nossa casa e nosso comprador, de 11.930.190 reaes, que de nós rece-
beu para despesa de seu oficio por esta guisa, a saber: 179.329 rs.
e meio, o anuo de 46S que começou a servir o dito oficio ; e 327.814 rs.
e 3 pretos, o anuo de 69; e 350.801 rs. e 9 pretos, o anuo de 70; e
381.803 e 8 pretos, o anuo de 71 ; e 426.464 rs. e meio, o anno de 72;
e 633:000 rs., o anno de 73; e 631:000 rs., de dez meses do anno 74,
porque os outros dois meses comprou Pêro de Cubellos, nosso bes-
teiro de cavalo, por nosso mandado; e 734. S96 rs. o anno de iò;
e 530.413 rs. o anno de 76; e 69.620 rs. para as dividas do dito anno;
e 882.105 rs., o anno de 77; e 866.000 rs., o anno de 78; e 860.000 rs.,
o anno de 79; e 850.000 rs., o anno de 80; e 1.054.945 rs., o anno
de 81 ; e 1.29S.000 rs., de sete meses derradeiros do anno de 83,
porque o anno de 82 e os cinco meses primeiros de 83 serviu o dito
oficio Álvaro Rodriguez por nosso mandado; e 1.860.000 rs., o
anno de 84. Dos quaes 11.930.190 rs., nos ficou devendo 14.305 rs.
pelo encerramento da dita conta, que lhe foi tomada por Antão
Gonçalvez, contador da nossa casa, e por João Ereire, escrivão dos
contos delia; dos quaes 14.305 rs. nos entregou 4.305 rs., e dos
16
242 ESTUDOS
10.000 rs. lhe fazemos mercê. Carta de quitação. Santarém, 13 de
maio de 1 186, Chancelaria de D. João II, liv. 4.", fl. 20.
28 Clara Estevez, viuva de Pêro Gonçalvez, morador na ilha da
Madeira da parte do Funchal, fez um instrumento pelo qual deixou
sua alma por universal herdeira; e da capella que instituiu nomeou
administrador a João do Porto, cirurjião, morador em a dita ilha,
ordenando-lhe por seu trabalho, para tudo cumprir, vinte mil reaes,
não declarando bem se os havia de haver cada anno; o qual João do
Porto ha catorze annos que administra a dita capella e bens, no
qual tempo elle fez tanta bemfeitoria, e acrescentou em os bens e
rendas delles, que os fez render mais as três quartas partes, que onde
rendiam vinte, vinte e cinco, até trinta mil íeaes, rendem agora cem
mil, etc. Nós lhe mandámos tomar a conta por Rui Gome/, de Aze-
vedo, fidalgo da nossa casa e provedor mór da rendição dos cativos,
o qual nos delia fez relação, e achámos que o dito João do Porto o
fez assim bem no dito tempo, como compria a serviço de Deus e
nosso e vontade da alma da dita finada, pelo qual havemos por bem
que elle tenha a dita administração, e cumpra todo o que lhe pela
dita defunta é mandado, etc. Arbitra-lhe os vinte mil reaes por anuo
pelo seu trabalho; e manda que o dinheiro, que na conformidade
da vontade da finada ha de cada anno ser destinado para remissão
de cativos, seja pelo administrador remetido annualmente para Lis-
boa ao tesoureiro da rendição dos cativos, para daquelle dinheiro
fazer as rendições de cativos pobres, e manda-los á ilha para faze-
rem oração, e lhes darem de vestir, e se irem em boa ora, segundo
pela dita finada é mandado; e o administrador não dará mais di-
nheiro daqui em diante a nenhumas pessoas, salvo como dito é, etc.
Santarém, 18 de fevereiro de 1487. Ibidem, liv. 19.°, fl. õl v.
29 |oão do Porto, escudeiro, morador em Coimbra, carta de ta-
belião nessa cidade. Santarém, 30 de abril de 1487. Ibidem, liv.20.°,
fl. IS v.
30 João do Porto, carta de inquiridor das juradas de Coimbra.
Santarém, 30 de abril de 1487. Ibidem.
31 - João do Porto, escudeiro, morador no julgado de Pena, carta
de tabelião nesse julgado. Santarém, 23 de agosto de 1487. Ibidem,
liv. 20.o, fl. 187.
32 [oão do Porto, escudeiro de Diogo de Azevedo, fidalgo de
nossa casa, carta de escrivão das sisas do julgado de Pena, termo de
Vila Real. Santarém, 30 de agosto de 1487. Ibidem, fl. 205.
33 -João do Porto, nosso cantor, carta de escrivão dante os juizes
Lsa do Civel, como foi até ora Pêro Rebello, que ora se finou.
Setúbal, 0 de novembro, el Rei o mandou pelo dr. Diogo de Lu-
cena, do seu conselho, que ora tem cargo de chanceler mór, Duarte
Borjes por Pêro Borjes a fez, anno de 1488. Ibidem, liv. 14.".
fl. 94 v.
\\ João do Porto, nosso cantor, carta de escrivão perante os
dores da corte. Lvora, 15 de março de 1490. Ibidem, liv. 12.",
fl. 23.
35- João do Porto, nosso escudeiro, morador em Guimarães,
carta de privilejio em forma. Lisboa, 19 de novembo de 1491. Chan-
celaria de D. Manuel, liv. 29.", fl. 52 v.
'>!> [oão do Porto, escudeiro de nossa casa e recebedor dos
ENVENENADO 243
nossos escravos em esta cidade, carta de privilejios para a comarca
da Estremadura. Lisboa, 28 de junho de 1 192. Chancelaria de
D.João II, liv. 7.o, ti. 130.
37 João do Porto, morador em Guimarães, cana de tabelião
nessa vila. Alcochete, 27 de setembro de 14l)2. Ibidem, fl. 68 v.
58 \oao do Porto, cana de cónego na colejiada de Santa Maria
de Ourem. Lisboa, 30 de novembro de 1 192. Ibidem, fl. 122.
3(i João do Porto, nosso escudeiro,, carta de escrivão d'ante os
correjedores da corte, como o até ora Foi por carta de D.João II.
Montemor o Novo, 20 de Fevereiro de 1496. Chancelaria de D. Ma-
nuel, liv. 32.o, fl. lio.
40 Lm 1496, a 1() de março, em Montemor o Novo, nas casas
onde poisa a senhora D. Maria de Noronha, Condessa de Paro, diW
ella que tinha a vila de Aveiro, com todo o seu termo e jurisdição,
de juro e herdade, no qual termo estava uma ilha junto com Vila-
rinho, a qual se chama da Testada, a qual a aforou a João do
Porto, escudeiro dei Rei e escrivão da sua fazenda. Chancelaria de
D.João III, liv. 30. o, fl. 71. Neste documento ha dizeres que se
não entendem. D. Maria de Noronha, quando casou com D. Afonso
futuro Conde de Laro, recebeu em dote a vila de Aveiro, que
D. Afonso V, por carta de 15 de junho de 1465, confirmou a ella e
a seu marido em suas vidas. Depois, por outra carta de 20 de maio
de 1467, fez o mesmo Rei doação de Aveiro para o filho varão que
nascer dos ditos D. Afonso e D. Maria (Liv. 3.° dos Brasões de Cin-
tra, paj. 274). Por aqui se vê que não existe, pelo menos rejistada,
doação da vila de Aveiro de juro e herdade á Condessa de Laro;
mas ha mais. Ella sobreviveu a seu filho o 2. o Conde de Laro, que
em documentos de 1504, 1509 e 1513 é intitulado senhor de Aveiro
(Ibidem, paj. 276), pelo que se vê ter elle possuído aquelle senhorio
em virtude da segunda vida concedida na carta de 1407, acima
apontada. E tanto os Faros não tinham o senhorio de Aveiro de
juro e herdade, que D. Manuel, por carta de 27 de maio de 1500,
doou aquella vila ao Duque de Coimbra, para a haver por morte
daquelle que então delia era donatário. Liça pois sbsistindo o que
escrevi acerca do senhorio de Aveiro no citado liv. dos Brasões de
Cintra, acrescentando-se unicamente que a Condessa de Laro, pos-
suiu aquelle senhorio depois da morte de D.João II, sendo comtudo
provável que ella apenas o administrasse durante a expatriação do
filho, ou simplesmente na sua menoridade.
41 João do Porto, escudeiro, morador em Coimbra, carta de inqui-
ridor dos feitos das jugadas de Coimbra e termo, como até aqui
o foi por carta de D. João II. Palmella, 28 de maio, el Rei o mandou
pelo dr. Rui Boto, do conselho e chanceler mór, Fernand 'Alvarez,
escrivão de Pêro Borjes, fidalgo da casa e escrivão da chancela-
ria, a fez, anno de 1496. Chancelaria de D. Manuel, liv. 31.",
fl. 132 v.
42 João do Porto, nosso cantor, apresentou a carta de 10 de agosto
de 14S4, e foi-lhe confirmada em Évora, a 28 de fevereiro de 1497.
Ibidem, liv. 30.c, fl. 59 v.
43 João do Porto, nosso escudeiro, morador em Guimarães, apre-
sentou a carta de 19 de novembro de 1491, e foi-lhe confirmada em
Évora, a 16 de abril de 1497. Ibidem, liv. 29.°, fl. 52 v.
244 ESTUDOS
-14 João do Porto, escudeiro de nossa casa, apresentou o instru-
mento de aforamento de 10 de março de 1400. Confirina-o el Rei ao
dito João do Porto, a quem D. João II já havia aforado a referida
ilha da Testada no termo de Aveiro. Lisboa, 15 de março de 14(»s.
t >ficiaes da chancelaria, mandamos-vos que passeis por ella esta
carta, posto que o tempo seja passado. Lisboa, 14 de julho de 1530.
Chancelaria de D.João III, liv. 39.0, fl. 71.
45 João do Porto, morador em Coimbra, carta de tabelião do
eivei e judicial em Coimbra, como até ora o foi Henrique Vaz, que
<> renunciou. Lisboa, 20 de novembro, pelo dr. Rui Boto, chanceler
mór, etc, anno de 1498. Chancelaria de D. Manuel, liv. 31.", fl. 13.
46 Mandámos tomar conta á mulher e herdeiros de João do Porto,
escudeiro de nossa casa, de todo o que recebeu e despendeu desde 15
de junho de 1486 até fim do anuo de 1493, que foi almoxarife dos
nossos escravos que vêem de Guiné nesta cidade de Lisboa; e bem
assim do que recebeu e despendeu nas armadas, a saber: na armada
do socorro da cidade de Ceuta, e na armada.de Larache e Mamora;
e do que recebeu e despendeu nas casas da Tanoaria que mandou
fazer, etc. Lisboa, 27 de fevereiro de 1500. Arch. hist port. III, 477.
47- João do Porto, escudeiro, morador em terras de Paiva, carta de
escrivão dos órfãos nessas terras. Lisboa, 8 de novembro de 1503.
Chancelaria de D. Manuel, liv. 35.", fl. 55.
IS João do Porto, escudeiro, criado de Pêro de Sousa, carta de
juiz das sisas de Chaves. Lisboa, 20 de dezembro de 1504. Ibidem,
liv. 23." fl. 40.
49 João do Porto, aio que foi de Pêro de Sousa Ribeiro, apre-
sentou certidão de D. João de Meneses, camareiro mór do Príncipe
meu filho, em que certificava como fizera cavaleiro o dito João do
Porto pelo merecer, e ser dos primeiros que saíram em Arzila, quando
a tomaram e decercaram aos Moiros, pedindo que lhe mandássemos
guardar as liberdades dos cavaleiros, etc. Outorga, em Almeirim, 11 de
junho de 1510. Ibidem, liv, 3.", fl. 22.
50 João do Porto, cavaleiro de nossa casa, carta de contador dos
nossos contos da casa e do reino, com o mantimento de trinta mil
reaes a contar de janeiro que passou. Lisboa, 20 de maio de 1522.
Chancelaria de D.João Hl, liv. 51." fl. 120.
II
Extractos de does. relativos a Mestre João
1 —Mestre Joanne nos mostrou carta Mestre Joanne disse que fora
culpado na morte de João Valente, morador que foi em Lagos, pela
qual razão foi preso e acuzado, e depois solto; apelaram porem
ENVENENADO 245
para el Rei, mas a sentença foi confirmada. Diz, que, não embar-
gando tudo isto, teme-se dos parentes e amigos do morto o mata-
rem, ou acutilarem, por não ousar trazer suas armas por guarda e
defensão do seu corpo, etc. Carta para poder tra/er armas. Estremo/,
9 de maio de 1436. Confirmada em Lisboa a 29 de agosto de 1439.
Chancelaria de D. Afonso V, liv. 19.o, fl. 106 v.
2-Mestre João, morador em Montemor o Novo, carta de cirurjia.
Alcácer, 28 de fevereiro (por .Mestre Martinho, cirurjião mordei Rei)
de 1442. Ibidem, liv. 35.<\ fl. 53.
5 Mestre Joanne, natural de Proença, físico, morador em Coim-
bra, carta de fisica, e escusado de pagar peitas, fintas, etc. em quanto
naquella cidade morar. Examinado por Mestre Aires, fisico dei Rei.
Lisboa. 14 de abril de 1443. Ibidem, fl. 23.
4 Mestre Joanne, cónego da Sé de Lisboa, fisico que foi do
Infante D. João meu tio, licença para andar em besta muar. Lisboa,
27 de oitubro de 1444. Ibidem, liv. 25.o, fl. V) v.
5 Mestre Joanne, morador em Beja, carta de cirurjia por Mestre
Gil, cirurjião mor dei Rei. Évora, 21 de maio de 1450. Ibidem,
liv. 34.0 fl. 93.
6 -Mestre Joanne, cirurjião, criado de Mestre Gil, nosso cirurjião
mór, morador em Montemor o Velho, como quer que com o Infante
D. Pedro viesse á batalha da Alfarrobeira, que contra nossa pessoa
e real estado houve, por quanto fomos certificado por uma inqui-
rição, que a petitório mandámos tirar, que elle veio com o dito
Infante por força e contra sua vontade, etc. Não se entenda com elle
na conformidade das cartas expedidas contra os que foram naquella
batalha. Santarém, 10 de novembro de 1450. Ibidem, fl. 213.
7 -Mestre João, morador em Viana de Caminha, carta de isenção
de encargos, servidões e contribuições do concelho. Tentúgal, 30
de setembro da 1459. Ibidem, liv. 36.Q, fl. 242 v.
S Mestre João, criado de Mestre Pêro de Vilanova, carta de
cirurjia, examinado por Mestre Gil, cavaleiro de nossa casa e nosso
cirurjião mór. Estremoz, 31 de dezembro (por Mestre Gil, etc.)
de 144o. Ibidem, liv. S.o, fl. 36 v.
9 — Mestre Joanne da Grécia disse como elle viera ora a estes nossos
reinos, e que sabia bem de fisica. Carta de fisico, havendo sido exa-
minado pelo dr. Mestre Afonso Madeira, nosso fisico mór. El Rei
o mandou pelo dito dr. Mestre Afonso Madeira, seu fisico mór e
examinador de todos os fisicos de seus reinos e senhorios. Palmella,
27 de novembro de 1465. Ibidem liv. 14.° fl. 47.
10 Mestre João, francês, pedreiro, morador no Porto, por ser
estranjeiro e por o dr. Fernand^lvarez Baldaia, nosso escudeiro,
morador na dita cidade, que no-lo por elle pediu, etc. Carta de
isenção de encargos, servidões e contribuições do concelho. Porto,
28 de janeiro de 1466. Ibidem, liv. 14.<>, fl. 26.
11 Mestre João, catalão, estranjeiro, carta de cirurjia. Examinado
por Mestre Gil, nosso cirurjião mór. Santarém, 2 de maio de 1466.
Ibidem, fl. 37 v.
12 Mestre João, morador em Coimbra, carta de requeredor das
sisas de Coimbra. Santarém, 15 de janeiro de 146S. Ibidem, liv. 35/',
fl. 49.
13 -Mestre Joanne, criado de Mestre Afonso, morador em Lisboa,
24 Ô ESTUDOS
carta de cirurjia. Examinado por Mestre Gil, ciruíjião do Duque
D. João, nieu sobrinho, a que dêmos cargo de examinar pelo bacha-
rel Mestre Fernando. Lisboa. 1 de novembro (pelo dito Mestre Gil)
de 1471. Chancelaria de D. Affonso V, liv. 22.", fl. 101 v.,
14 Mestre João, morador em Portalegre, carta de cirurjia. Exa-
minado por Mestre Gil, cirurjião do Duque D. João, meu sobrinho,
a que temos dado cargo de examinar pelo bacharel Mestre Fernando.
Lisboa, 4 de dezembro (pelo dito Mestre Gil) de 1471 . Ibidem, liv. 17.",
ti. 15.
15 -Mestre Joanne, morador em Montemor o Velho, nosso vas-
salo, carta de aposentado apesar de ainda não ter a idade. Sintra,
10 de fevereiro de 1472. Ibidem, liv. 29.», fl. 90.
lò Mestre Joanne, morador em Montemor o Velho, carta de
privilejio de vassalo para a comarca da Estremadura. Coimbra, 27
de agosto de 1472. Ibidem, fl. 168.
17 Mestre Joanne, boticário, morador em Tomar, carta de fisica.
Examinado pelo Eisico mór. Lisboa, 1 1 de julho (pelo dr. Mestre
Afonso, fisico mór) de 1473. Ibidem, liv. 33.", fl. 141.
18 Mestre João, morador em Vila Real, carta de cirurjia. San-
tarém, 22 de fevereiro (por mestre Fernando, fisico e cirurjião mór)
de 1481. Ibidem, liv. 26.o fl. 22 v.
10 Mestre Joanne, filho de Mestre Fernando, morador em Lisboa,
licença para usar de cirurjia. Examinado pelo dito Mestre Fernando.
Beja, 20 de junho (el rei o mandou pelo dito Mestre Fernando)
de 1481. Chancelaria de D.João II, liv. 3.o, fl. 3.
20-Majister Joannes, nosso capellão, carta de apresentação na
igreja de Santa Maria da diocese de Viseu. Évora, 17 de janeiro
de 1482. Ibidem, liv. 2.", fl. 5 v.
21— Mestre Joanne, morador em Montemor, carta de escrivão dos
órfãos na dita vila, pela guisa por que o elle até aqui foi por carta de
D. Afonso V. Évora, 23 de maio de 1482. Ibidem, liv. 6.", fl. 55 v.
22 Mestre João de Lisboa, morador em Tarouca, licença para
usar da arte de cirurjia, por quanto somos certo pelo dr. Mestre
Fernando, nosso fisico e cirurjião mór, a que o mandamos exami-
nar, que era idonio e pertencente para usar da dita arte. Évora, 5 de
agosto, el Rei o mandou pelo dr. Mestre Fernando, de 1483. Ibidem,
liv. 24.", fl. 35 v.
23 Mestre João, morador na vila de Torres Novas, cirurjião,
licença e logar que use e possa obrar de cirurjião por todos nossos
reinos, por quanto somos certo pelo dr. Mestre Fernando, nosso
fisico e nosso cirurjião, a que o nós mandámos examinar, e porque
elle era idonio e pertencente para usar da dita ciência . . . (Sem
data; está entre uma carta de Torres Novas, a 14 de novembro
de 14S3, e outra de Seia a 22 de oitubro de 1483.) Ibidem, liv. 25.",
Fl. 04 v.
24 -Mestre Joanne, bombardeiro, e nos serve em fazer tiros de
fogo, etc. Carta de privilejios para a comarca de Entre Doiro e
Minho. Lisboa, 15 de novembro de 1480. Ibidem, liv. 8.", fl. 108.
25 Mestre João, bombardeiro, o filhamos ora por nosso bom-
bardeiro com a tença de 10:000 reaes a começar no l.° de janeiro
deste anno de 1490, com todas as honras, fanquezas e liberdades
que temos dadas e outorgadas aos outros nossos bombardeiros.
ENVENENADO 247
Évora, lo de fevereiro dé moo. Chancellaría de D.João II, liv. 13.",
fl. 142 V.
26 Pêro Babilão, nós el Rei, etc. Carta para Mestre João, por
em Tanjer não haver tísico nem cirurjião, ir como tal para lá, com
5:000 reaes de ordenado de fisico e3:000de cirurjião, e dois homens
que comsigo leva assentados nos nossos ordenados, etc. Évora, 14
de abril de 1491. Chancelaria de D. Manuel, liv. 32.°, fl. 91 v.
27 Mestre João, morador em Trancoso, por sermos certo pelo
dr. Mestre António, etc. Carta de cirurjia. Santarém, S de julho,
el Rei o mandou pelo dr. Mestre António, cavaleiro de sua casa e
sen fisico e cirurjião mor, de 1491. Chancelaria de D.João II, liv, 10.',
fl. 140 v.
28 -Mestre J/oanne, cirurjião, morador em Aveiro, a requeri-
mento dos oficiaes e homens bons da dita vila que no-lo por elle
mandaram requerer, temos por bem, que em quanto na dita vila
viver, etc. Carta de escusado de feitos, etc. Mosteiro do Varatojo, 5
de junho de 1493. Chancelaria de D. Manuel, liv. 27.o, fl. 2
29 Mestre Joanne, fisico e cirurjião, morador em Tanjer, apre-
sentou a carta de 14 de abril de 1491. Confirma em Montemor
o Novo a 1 de fevereiro de 1496. Ibidem, liv. 32. o, fl. 01 v.
30 - Mestre Joanne apresentou a carta de 1 5 de novembro de 14S6.
Confirma em Santarém a S de novembro de 1496. Ibidem, liv. 27.o,
fl. 30.
31 Mestre Joanne, cirurjião, morador em Aveiro, apresentou a
carta de 5 de junho de 1493. Confirma em Évora a 8 de março
de 1497. Ibidem, fl. 2.
32 Mestre João, castelhano, morador em Évora, carta de cirurjia.
Examinado pelo cirurjião mór. Évora, 26 de oitubro (por Mestre Gil,
cirurjião mór) de 1497. Chancelaria de D. Manuel, liv. 28.°, fl. 32.
33 Mestre João, castelhano, morador em Évora, carta de medicina.
Examinado pelo dr. Mestre António de Lucena, nosso fisico mór.
Évora, 9 de novembro (pelo dr. Mestre António, etc.) de 1497. Ibidem.
34 Mestre João, morador em Vila do Conde, havia dezasete
annos, pouco mais ou menos, que fora examinado pelo dr. Mestre
Rodrigo e houvera carta. Carta de fisica. Examinado pelo dr. Mes-
tre António de Lucena, fisico mór. Lisboa, 22 de maio (pelo dr. Mes-
tre António, etc.) de 1498. Ibidem, liv. 44.o, fl, 2 v.
35- Mestre João, morador em Punhete, carta de cirurjia. Exami-
nado por Mestre Gil, fisico e cirurjião mór. Lisboa, 19 de julho
(por Mestre Qil, etc.) de 1498. Ibidem, liv. 31. o, fi. 134 v.
36 —D. Leonor de Sousa, mulher que foi de Diogo Gil Moniz,
apresentou uma carta de 13 de fevereiro de 1492 de confirmação de
vários bens e entre elles os quartos do Lumiar e o foro de uma
quinta em Carnide, e uma procuração por ella feita a seu filho Pêro
Moniz, em Odemira a 12 de abril de 1498, para poder vender os
referidos quartos. Pede a el Rei, por se ter concertado com Mestre
João, nosso fisico, sobre o foro da quinta de Carnide, que lhe dê
seu consentimento e licença. Carta de aprovação e confirmação a
Mestre João. Lisboa, 22 de oitubro de 1408. Ibidem, fl. 113.
37 — Mestre João, morador em termo de Silves, onde chamam a
Lagoa. Carta de cirurjia. Lisboa, 6 de novembro (por Mestre Gil,
fisico e cirurjião mór) de 1498. Ibidem, fl. 142.
248 ESTUDOS
58 Mestre |oão, morador em Rebordão, termo de Bragança. Carta
de cirurjia. Examinado por Mestre Gil, fisico e cirurjião mór. Lisboa,
14 de dezembro (por Mestre Gil, etc.) de 1 498. Chancelaria de D. Ma-
nuel, liv. 31.°, ti 131.
39 Mestre João, morador na vila de Santa Marinha, disse haver
dezaseis annos pouco mais ou menos, que fora examinado pelo
dr. Mestre Rodrigo, nosso fisico mór que foi, e houvera carta em
forma. Carta de medicina. Examinado pelo dr. Mestre António. Lis-
boa, IS de marc,o (pelo dr. Mestre António de Lucena, fisico mór)
de 1449. Ibidem,\w. 14.'», fl. 21 v.
40 Mestre João de Badajoz, morador em Serpa, carta de medi-
cina. Examinado pelo dr. Mestre António de Lucena, fisico mór.
Lisboa, 21 de janeiro (pelo dr. Mestre António, etc.) de 1500. Ibi-
dem, fl. S3.
41 Mestre Joanne, filho de João Afonso, morador em Monsanto,
carta de cirurjia. Examinado por Mestre Gil, nosso fisico e cirurjião
mór. Lisboa, 20 de julho (por Mestre Gil, etc.) de 1500. Ibidem,
liv. 12.o, fl. 5S.
42 Mestre João, morador em Sousel, carta de fisico. Examinado
pelo dr. Mestre António de Lucena, nosso fisico mór. Lisboa, 10 de
novembro (pelo dr. Mestre António, etc) de 1500. Ibidem, fl, 52 v.
43 Mestre Joanne, morador em Viseu, disse que havia já dez
annos pouco mais ou menos, que fora examinado pelo dr. Mestre
António, nosso cirurjião mór, e que houvera sua carta em forma, e
que queria ser confirmado. Examinado por Mestre Gil, nosso fisico
e cirurjião mór. Carta de cirurjia. Lisboa, 24 de novembro (por Mes-
tre Gil, etc.) de 1500. Ibidem, liv. 12.o, fl. 50 v.
44 -Mestre João, morador em Coimbra, enviou dizer que apren-
dera muitos tempos da ciência e arte de cirurjia, e que havia já seis
annos pouco mais ou menos, que fora examinado pelo dr. Mestre
António, nosso cirurjião mór, e que houvera sua carta em forma,
etc. Confirmado por ter sido certificado por Mestre Gil, nosso fisico
e cirurjião mór, por quem foi examinado, que era idóneo, etc. Lis-
boa, 24 de março (por mestre Gil, etc.) de 1501. Ibidem, liv. 1.", fl. 12 v.
45 Jorje, filho de Mestre João, que Deus haja, morador que foi
em Lisboa, e de Margarida Eernandez, mulher solteira, carta de leji-
timação. Lisboa, 2 de abril de 1501. Ibidem, liv. 17.", fl. 26 v.
46 Mestre João, cirurjião, morador na cidade do Porto, disse que
Nuno Afonso seu pai em sua vida vendera certos bens de raiz a um
Vasco Martinz, morador em Penaverde, os quaes são em Figueiró
da Granja. A venda foi a retro, suscitaram-se duvidas, e el Rei fez
mercê dos bens a Mestre João. Lisboa, 27 de setembro de 1501.
Ibidem, fl. 96.
47 Mestre João, cirurjião, morador em Viseu, mandou dizer que
vendera um rocim a um Lopo Mendez, mercador, morador na dita
cidade, seu primo com irmão, e por elle suplicante pedir algum
dinheiro que lhe o dito Lopo Mendez ainda ficara devendo da venda
do dito rocim sem lho querer pagar, elle lhe mandara tomar o dito
rocim de uma casa donde o elle tinha, por um seu mocinho por
nome Gabriel, por bem do qual o dito Lopo Mendez querelara e
denunciara delle, dizendo que lhe furtara o dito rocim, por bem do
qual andava amorado. Apresentou perdão da parte. Carta de perdão,
ENVENENADO 249
pagando trezentos reaes para piedade, os quaes recebeu D. Fran-
cisco, Bispo de Fez, que ora por especial mandado tem cargo de
esmoler em ausência de Álvaro rernandez, nosso capellão. Lisboa, 27
de novembro de 1501. Chancelaria de D. Manuel, tiv. 37.o, fl. 36.
48 Mestre João, fisico castelhano, morador na Vidigueira, carta
de fisico Examinado pelo dr. Mestre António de Lucena, nosso fisico
mór. Lisboa, 3 de fevereiro (pelo dr. Mestre António, etc.) de 1502.
Ibidem, liv. 2.o, fl. 8 v.
4() Mestre João, fisico, morador em Castello de Vide, carta de
fisico, tendo sido examinado pelo dr. Mestre António de Lucena,
nosso fisico mór. Lisboa, 28 de abril, el Rei o mandou pelo dr. Mes-
tre António, seu fisico mór, Mestre Rodrigo a fez, de 1502. Ibidem,
fl. 26.
50 Mestre João, cirurjião, morador em Castello de Vide, carta
de cirurjião, tendo sido examinado por Mestre Gil, nosso cirurjião
mór. Lisboa, 2 de maio, el Rei o mandou por Mestre Gil, seu cirur-
jião mór, Diogo de Lucena a fez, de 1502. Ibidem.
51 Mestre João, boticário do Duque de Bragança, carta de cirur-
jia. Examinado por Mestre Gil, fisico e cirurjião mór. Lisboa, 8 de
novembro (por Mestre Gil, etc.) de 1503. Ibidem, liv. 35.", fl. 54 v.
52 Mestre João, "jenoes-,, criado de Mestre Martinho, licença
para curar de hérnias, a saber: de tirar pedras, e curar de quebra-
dos e potrosos por todos nossos reinos, etc. Examinado por Mestre
Gil, nosso fisico e cirurjião mór. Lisboa, 7 de novembro (por Mestre
Gil, etc.) de 1504. Ibidem, liv. 23.°, fl. 36.
53 Mestre João Sanchez, de nação galego, morador em Cangas,
carta de cirurjião. Examinado por Mestre Gil, nosso fisico e cirur-
jião mór. Lisboa, 23 de janeiro (por Mestre Gil, etc.) de 1505. Ibi-
dem, fl. 51 v.
54 -Mestre João, recebedor do almoxarifado de Guimarães o anno
de 1507, carta de quitação. Évora, 5 de julho de 1509. Arch. hist. port.,
III, 238, fl. 29.
55 Mestre João, rendeiro e recebedor dos portos de Trás os
Montes nos annos de 1508 e 1509, carta de quitação. Lisboa, 4 de
junho de 1511. Ibidem, 239.
56 -Mestre João de Torres Vedras, barbeiro, morador em Setúbal,
licença para curar de boubas e chagas delias, e postemas, e a sangrar
e tirar dentes, pôr ventosas. Lisboa, 6 de julho, el Rei o mandou por
Mestre Gil, seu fisico e cirurjião mór, de 1511. Chancelaria de
D. Manuel, liv. S.°, fl. 70 v.
57 Mestre João de Ribadescrir (?), castelhano, morador em Setú-
bal, carta de cirujia. Examinado por Mestre Gil, nosso fisico e cirur-
jião mór. Lisboa, 3 de julho de 1511. Ibidem.
58- Mestre João de Buetes (?), bacharel em medicina, morador
na Pedreneira, carta de cirurjia. Examinado pelo dr. Diogo de Faria,
fisico e cirurjião mór. Lisboa, 18 de setembro (pelo dr. Diogo de
Faria, etc.) de 1513. Ibidem, liv. 42.o, fl. 104 v.
59 -Mestre João, "estrolico,, tenha do l.o de janeiro que virá
de 1514, em quanto nossa mercê for e nos delle servirmos nesta
cidade, 12:000 reaes de tença assentados no almazem da índia por
só esta carta. Lisboa, 22 de oitubro de 1513. Ibidem, liv. 15.", fl. 172.
60 Mestre João, morador em Vila Nova de Portimão, carta de
250 ESTUDOS
cirurjia. Examinado pelo dr. Diogo de Faria, nosso cirurjião mor.
Lisboa, (• de novembro (pelo dr. Diogo de Faria, etc.) de 1513.
Chancelaria de D. Manurl, livro 15.", fl. 52 v.
ol Mestre João, morador em Guimarães, rendeiro e recebedor
que foi o anuo de 1510 da sisa e dizima dos portos de Trás os Mon-
tes, carta de quitação. Lisboa, 12 de maio de 1514. Arch. hist. port.,
III, 239.
62 Mestre João, morador em Messejana, carta de cirurjia. Exa-
minado pelo dr. Diogo de Faria, nosso cirurjião mór ... 2 de
novembro (pelo dr. Diogo de Faria, etc.) de 1514. Chancelaria de
D. Manuel, liv. 15.°, fl. 155 v.
63 Mestre João, morador em Lisboa, carta de cirurjia. Examinado
pelo dr. Diogo de Faria, nosso cirurjião mór. Lisboa, 24 de julho
(pelo dr. Diogo de Faria, etc.) de 1515. Ibidem, liv. 24. o, fl. 88.
64 Mestre João de Riba de Ser, fisico, morador em Setúbal, disse
que havia muitos annos que usava e praticava física, e por bem do
rejimento que ora tínhamos dado ao dr. Mestre Afonso, nosso fisico
mór, elle não podia usar menos que, segundo nossa ordenança, fosse
examinado; e vendo nós seu dizer e pedir, mandámos ao fisico mór
que o examinasse segundo a ordem e instrução de seu rejimento;
o qual com o dr. Mestre Gil e com Mestre Diogo, nossos físicos,
o examinaram, assim na theorica como na pratica, levando-o o nosso
fisico mór três vezes comsigo por esta nossa cidade a visitar seus
enfermos; e por a todas três, em a elle fisico mór no modo de visi-
tar dar mui boa conta, e alem disso fazer auto por prova suficiente
e bastante, que havia oito ou nove annos que usava e praticava como
fisico do Mestre de Santiago e de Avis, Duque de Coimbra, meu
muito amado e prezado sobrinho, e com outros fisicos, e por assim
o achar, etc. Carta de fisica. Lisboa, 24 de de agosto (pelo dr. Mestre
Afonso, fisico mór) de 1515. Ibidem, fl. 100 v.
65 -Mestre João, morador na vila do Crato, licença para curar
de boubas e dores delias, e chagas, e de todo o que procede delias,
e assim daquellas coisas de cirurjia, a saber: apostemas, e feridas
pequenas, e mais não. Examinado pelo dr. Diogo de Faria, nosso
cirurjião mór. Lisboa, 20 de fevereiro, el Rei o mandou pelo
dr. Diogo de Faria, seu cirurjião mór em todos os seus reinos,
de 1516. Ibidem, liv. 25.°, fl. 7.
66 Mestre João, filho de Mestre António de Beja, morador em
Fstremoz, carta de cirurjia. Examinado pelo dr. Mestre Gil, cirurjião
mór. Évora, 14 de novembro (pelo dr. Mestre Gil) de 1520. Ibidem,
liv. 36.o, fl. Ho.
67 Mestre João, biscainho, morador em o Porto, carta de cirurjia.
Examinado por mestre Gil, nosso fisico e cirurjião mór. Lisboa, 26
de janeiro (por Mestre Gil, etc.) de 1521. Ibidem, liv. 37.o, fl. 106 v.
(iS Mestre João, morador em Veiros, carta de cirurjia. Exami-
nado por dr. Mestre Gil, nosso fisico e cirurjião mór. Lisboa, 28 de
agosto (pelo dr. Mestre Gil, etc.) de 1521. Ibidem, liv. 18.", fl. 5 v.
69 Mestre João haja de mantimento com o oficio de avaliador
da pedraria, aljôfar, âmbar, e almíscar, e cousas outras da Casa da
índia, 4:000 reaes em cada anno, do l.o de janeiro que passou
de 1521. Lisboa, 14 de fevereiro de 1522 (sic, mas deve ser 1521,
porque a carta é de D. Manuel). Ibidem, liv. 39.°, fl. 5.
XI
' O CAMAREIRO
Estava Lisboa apertada pelo assedio, que desde fins
de fevereiro de 1373 lhe puzera D. Henrique II de Cas-
tella, quando um dos seus capitães, o Adiantado de
Galiza Pedro Rodriguez Sarmiento, com os fidalgos e
homens de armas daquelle reino invadiu o Minho e
avançou até Barcellos.
Naquella província, onde era muito herdado, encon-
trava-se então Henrique Manuel, tio materno dei Rei
D. Fernando e posteriormente conde de Seia. Juntou-
se elle a outros fidalgos da comarca, e á testa das suas
gentes de guerra, e da peonajem dos concelhos do
Porto e Guimarães, foi oferecer batalha aos Galegos,
que a aceitaram, e derrotaram as tropas minhotas.
"O bom escudeiro,, Nuno Gonçalvez, que tinha o cas-
tello de Faria desde 1367, vendo do alto dos seus mu-
ros passar a hoste portuguesa, deliberou sair com os
seus e dar de súbito nos invasores, carregando-os de
flanco, para maior ser o seu destroço. Chegou porem
tarde, porque a victoria já era dos inimigos, que o des-
barataram e aprisionaram.
252 ESTUDOS
No seu castello, suprindo as suas vezes, deixara o Al-
caide um seu filho ' que poderia não ter o suficiente
animo, para ruão entregar a fortaleza, se os Castelhanos,
ao pé das muralhas, á sua vista, fossem sujeitar o pai a
tratos, agravados com ameaças de suplicio. Receoso
desta possível fraqueza, desculpável num filho mancebo
ainda, resolveu Nuno Gonçalvez praticar um acto de
heroicidade comparável com alguns dos mais celebrados
feitos dos antigos Gregos e Romanos. Dirijiu-se o Al-
caide ao Adiantado Pedro RodriguezSarmiento, pedindo
para ser levado junto da barbacan do castello de Faria,
a fim de cá de baixo ordenar ao filho que abrisse as
portas.
Anuiu o Adiantado, e no meio de uma escolta lá foi
levado o Alcaide, que, apenas viu o filho entre as ameias,
lhe exclamou:
— Filho! Bem sabes que esse castello me foi dado por
el Rei D. Fernando, e lhe fiz por elle menajem. Tra-
zem-me aqui seus inimigos para te ordenar que lho en-
tregues; eu porem, guardando a minha lealdade, te
mando, sob pena de minha benção, que tal não faças,
e que, ainda que á tua vista me despedacem, só entre -
1 Não ha certeza nenhuma do nome deste filho. Chamei-lheMartim
Gonçalvez, fiando-me num nobiliário, por saber que o Gonçalo Nu-
nêz de Faria, senhor de Fão, não podia ter sido, como quer Manuel de
Faria e Sousa nas suas Notas ai Nobiliário dei Conde D. Pedro, o
que ficara defendendo o castello de Faria. O senhor de Fão era se-
cular no tempo de D. João I ; e o filho do Alcaide de Faria fizera-se
padre ainda no reinado de D. Fernando, segundo na Chronica da-
quelle rei assevera Fernão Lopez, única autoridade que temos para
nos garantir o caso do castello de Faria. Descobri depois (no artigo
/■árias lá mais adiante se verá isso) que foram contemporâneos dois
Gonçalos Nunez de Faria; o senhor de Fão, e outro, abade de Rio
Covo. Poderia pois supor ter sido este o filho do valoroso Nuno
Gonçalvez, se encontrasse autor de confiança, anterior a Faria e
Sousa, confirmando a tradição; mas como não aparece, e tendo
aquelle inventado tanta coisa acerca dos Farias, julgo mais prudente,
seguindo a Fernão l.opez, Duarte Nunez do Lião e outros antigos
dar nome ao filho do heróico Alcaide.
O CAMAREIRO 253
guês o castello a cl Rei, meu senhor, ou a quem elle
por seu certo recado to mandar entregar.
Palavras não eram ditas, caiu o valoroso Alcaide
traspassado de golpes, regando com o mais puro e leal
sangue a terra da sua pátria.
O digno filho do heroe, executando á risca a sua ul-
tima vontade, resistiu com o castello, do qual os inimi-
gos se não puderam apoderar. Passados annos, tendo
ainda por vezes dado mostras do seu valor, mas não
se lhe podendo apagar no coração a imajem da horrí-
vel trajedia, foi procurar conforto na relijião, orde-
nando-se. "E depois lhe deu el Rei um mui honrado
beneficio, por quanto lhe prouve escolher vida de clé-
rigo» -.
De Nuno Gonçalvez, o glorioso alcaide do castello
de Faria, pretendem os genealojistas derivar os Farias
que nos tempos de D. Afonso V e D. João II se prin-
cipiaram a ilustrar. Sem base documental, sem critica
sequer, começaram aquelles ilustres escrevinhadores,
que geralmente se não prendem com bagatellas, a de-
duzir uma caprichosa descendência, chegando á perfei-
ção de fazerem pai e filho a dois rapazes, Lourenço e
Antão, nomeados em 1468 e 69 para o serviço do Prín-
cipe, sob cujas ordens combateram em Toro, e que
morreram com quatro annos de intervalo, em 1511 um,
em 1515 o outro!
Na segunda metade do xv século viviam na corte
estes Farias: Álvaro, comendador de Moura e do
Casal na Ordem de Avis; outro Álvaro, cavaleiro da
casa dei Rei ; Garcia, Lourenço e Antão, criados do Prín-
cipe. Um pouco depois, em 1475, aparece, João de Faria,
uchão, que nesse anno entregou ao Camareiro do Prin-
2 Fernão Lopez, Chronica de D. Fernando, cap. LXXIX.
254 ESTUDOS
cipe vinte e nove marcos e seis reaes de prata por seis
bacios de cozinha, dois prateis da mantiaria, duas taças e
dois saleiros, e mais vinte mil reaes em dinheiro \
E impossível, me parece, averiguar, excepto para os
três criados do Príncipe, o parentesco, se o havia, que
ligava todos estes indivíduos. Não se pode recorrer aos
nobiliários, porque os bons desses tempos, os de Xisto
Tavares e Damião de Ooes, não se referem á família de
Faria, que não era fidalga; e nos mais modernos não
ha que fiar, como já disse.
Nenhum daquelles Farias foi fidalgo. Sabe-se isto
pelos oficios que primeiro ocuparam, e pelos casamen-
tos que contraíram. Elevaram-se pelo réjio valimento,
sobretudo Antão de Faria, e deste proveio geração de
fidalgos, é certo, mas elle não o foi.
Tia uma diferença enorme entre o fidalgo e o nobre,
diferença tão grande que o rei só pode fazer nobres,
porque a fidalguia procede unicamente do nascimento ''.
Ainda hoje se conhece isto. Ha por aí marqueses e
condes, a quem ninguém, nem mesmo os criados delles,
se lembrará de chamar fidalgos. É verdade que os títu-
los em Portugal valem agora tanto como uma pitada
de esturro.
Entenda-se bem por tanto: podem Antão de Faria, os
Figueiredos (Henrique, Gomes e Lopo), Afonso Garcês,
Afonso Fernandez de Montarroio, os Pinas, Garcia de
Resende, Rui de Sande, Álvaro da Costa, e outros desses
tempos; podem, repito, aparecer em documentos com
o titulo de fidalgo, que isso apenas mostra haverem sido
1 Chancelaria de D.João II, liv. 3.", fl. 14 v., numa carta de qui-
tação a Antão de Faria.
1 No Espejo de verdadera nobleza, escrito nos últimos annos do
egundo quartel do século xv, cita Diego de Valera o proloquio
popular: "puede el Rey fazer cavallero, masnofijo-dalgo.» Sr. Gama
Barros, Hist. da administração, II. 391.
O CAMAREIRO 255
nobilitados pelo rei com aquelle foro na sua casa; mas
nunca servirá de prova de haverem nascido fidalgos,
nem de como taes serem considerados na corte. Eram
nobres, concordo, mas fidalgos não, porque o rei só
pode fazer fidalgos procriando bastardos.
Insisto nesta distinção entre o fidalgo e o nobre,
porque ella era enorme no xv século, e foi muito grande
até ha bem pouco tempo ainda, menos de um século;
e porque hoje já poucos a notam, mostrando, quando
escrevem de tempos antigos, bem extraordinária igno-
rância dos usos passados. O fidalgo, do alto dos seus
pergaminhos, tratava o nobre com a massima arrogân-
cia, ainda que este tivesse subido ás culminancias do
poder e valimento. Repare-se para o Marquês de Pom-
bal que é de hontem.
Voltemos aos Farias acima nomeados.
Álvaro de Faria, que já era comendador do Casal
em 1453 ', serviu em Africa em 1459 e 60 sob as ordens
do Conde D. Duarte de Meneses capitão de Alcácer, e
desaparece depois de 147Ó, anno em que, por duas car-
tas, ambas de 2Q de agosto, lhe foram lejitimadas as
filhas Caterina e Beatriz, e lhe foi relevado o pagamento
do foro imposto num casal, no paul de Ota, e numas
casas em Lisboa, no Rocio, junto dos Estaus li. É pro-
vável comtudo que este Álvaro de Faria seja o "fidalgo
de nossa casa morador em Lisboa,,, a quem foi dada,
em Santarém, a 10 de maio de 1487, carta de privilejios
de fidalgo para a comarca da Estremadura e cidade de
Lisboa '.
Ao outro Álvaro de Faria, cavaleiro da casa dei Rei,
0 Consta da carta de 23 de janeiro de 1453, pela qual um seu
escudeiro foi nomeado coudel do Casal. Chancelaria de D. Afonso V,
liv. 3.o, fl. 5 v.
" Ibidem, liv. 7/\ fl. 53 v., e liv. 0.", fl. 45.
Chancelaria de D. João //, liv. 9.°, fl. 63 v.
256 íístudos
encontro, numa carta de 18 de novembro de 14ó6 pela
qual foi nomeado coudel de Alemquer por três annosj
intitulado ainda estribeiro mor, apesar delle haver já
largado o oficio, no qual, por carta de 5 de junho de
1464, havia sido provido seu sobrinho Pêro Feo s. O
oficio de estribeiro mór não tinha então a estimação
alcançada depois, como declara o próprio autor da His-
toria genealógica, e acrescentarei, que o primeiro fidalgo
nelle certamente investido foi Álvaro da Cunha no rei-
nado de D. João II.
Este Álvaro de Faria, ou outro, também cavaleiro da
casa dei Rei, foi filho de Maria Fernandez de Faria,
moradora em Torres Vedras, que em 10 de oitubro de
1491 fez escritura de aforamento em três vidas de umas
casas sobradadas, junto com o hospital dos Meninos,
situado em Lisboa á porta de S. Vicente na freguesia
de Santa Justa, e doutras casas térreas, junto ao poço do
Borratem, ambas pertencentes ao referido hospital. Afo-
rou as casas, porque delias "ha mister para viver nellas,
quando a esta cidade vier,, ; mas pouco depois nomeou
no filho a segunda vida. A este foi confirmada a no-
meação por escritura de 10 de abril de 1497, feita no
hospital de S. Vicente dos Romeiros, perante Estevão
Martinz, cónego mestre escola da sé de Lisboa, prove-
dor mór e juiz dos hospitaes, albergarias, capellas e con-
frarias daquella cidade. Finalmente foi tudo confirmado
por carta réjia de 7 de fevereiro de 1498 9. Por ultimo
consta-me ter-se expedido, a 6 de setembro de 1519,
um alvará ordenando ao Recebedor da Chancelaria da
Corte, que entregasse aos herdeiros de Álvaro de Faria,
quarenta mil reaes devidos da sua tença de trinta mil '".
* Chancelaria de D.João II, liv. 35.o, PI. 8 v., e liv. 8.", fl. 98 v.
" Chancelaria de I). Mamwl, liv. 31.o, fl. 14.
"' Corpo cronolojieo, parte l.a, mac. 25, doe. 30, apud Cardeal
Saraiva, Obras completas, IV, 327.
O CAMAREIRO 257
Continuando com os Farias existentes na corte na
segunda metade do século xv, temos mais o uchão João
de Faria. Foi elle pessoa muito da confiança de D.João II,
que por cartas de 23 de setembro e 6 de oitubro de 1483,
dadas em Abrantes pouco depois da execução em estatua
do Marquês de Montemor, fez a João de Faria alcaide
mór, capitão e fronteiro do castello e vila de Portel "
anteriormente possuido pelo Duque de Bragança. Ao
novo Alcaide, no anuo seguinte, depois da morte do Du-
que de Viseu, entregou el Rei a criação de D. Afonso,
filho batsardo do Duque, e posteriormente Condestavel
do reino. F, já agora, notarei o engano de Damião de Góes
no capitulo 45.° da 1.» parte da Chronica de D. Manuel,
onde diz ter sido D. Afonso posto na guarda de Antão
de Faria, Camareiro dei Rei e Alcaide mór de Portel.
Antão de Faria foi alcaide mór de Palmella e de Évora
Monte; e o Alcaide mór de Portel, a quem foi confiado
o bastardo do Duque de Viseu, era João de Faria. Consta
positivamente da carta de vinte mil reaes de tença, dada
por D. Manuel, em Setúbal, a 20 de abril de 1496, a
João de Faria, fidalgo da sua casa e alcaide mór de
Portel, pelos serviços feitos "a D. Afonso, meu sobrinho,
em sua criação,, '-.
Garcia de Faria era escudeiro da casa de D. Afonso V,
que, por carta dada em Santarém a 23 de fevereiro
de 1468, o nomeou estribeiro mór do Principe D. João
no logar de Rui Velho, cavaleiro da ordem de Cristo,
a quem o oficio fora outorgado, mas que o renunciara ' ;.
Ignoro se Garcia de Faria chegou a ser estribeiro mór
de D. João depois de rei, mas sei, que em 15 de novem-
bro de 14S7 já tinha aquelle oficio Álvaro da Cunha,
11 Chancelaria de D.João II, liv. 26.0, fl. 13 e 110.
12 Chancelaria de D. Manuel, liv. 43.", fl. 79 v.
13 Chancelaria de D. Afonso V, liv. 16. <\ fl. 87.
17
258 ESTUDOS
que por duas cartas dessa data teve a mercê dos senho-
rios de Oestaçô e Penajoia. Garcia de Faria já era fale-
cido em 1504.
Lourenço de Faria era também escudeiro da casa de
D. Afonso V, quando este o nomeou para a do Príncipe,
dando-lhe neila, por carta passada em Lisboa a 22 de
março de 1468, o oficio de mantieiro l4. Acompanhou
seu amo a Castella, e com elle, em 1 de março de 1476,
entrou na batalha de Toro, levando o seu estandarte, e
do seu arrojo no combate dão prova evidente as muito
notáveis palavras, já por mim algures impressas 1:', da
carta de doação dos casaes de Belide, Figueira e outros
no termo de Montemor o Velho. Exerceu Lourenço de
Faria nessa jornada o perigoso posto de porta bandeira
do Príncipe, não ha duvida, apesar da carta de alferes
do seu estandarte ser só passada em Évora a 17 de
fevereiro de 1479, se esta data está certa, pois que da
carta orijinal se não encontra o rejisto l6.
Morou Lourenço de Faria em Lisboa, na freguesia da
Sé, não muito lonje da porta de Alfofa, por isso que as
suas casas, a que pertencia um lanço do muro velho da
cidade com uma torre, confrontavam por esta parte com
outro pedaço de muro aforado a D. Mecia da Cunha,
mulher de D. João de Abranches 17. No pedaço da mu-
ralha da cerca moira de Lisboa, então pertencente
áquella fidalga, existia uma torre chamada de D. João
de Abranches, com a qual também partiam as casas de
Antão de Faria, as quaes, segundo um documento lá
adiante citado, ficavam junto á porta de Alfofa. As casas
14 Chancelaria de D. Afonso V, liv. 16.°, fl. ')").
15 Liv. 2.° dos Brasões de Cintra, paj. 67.
16 Está trasladada na de confirmação de D. Manuel, a qual foi
dada em Évora, a 17 de maio de 1-W7. Chancelaria de D. Manuel
liv. 30.o, fl. 85.
r Consta da escritura de aforamento de 15 de julho de 1502, no
liv. o." da Chancelaria de D. Manuel, fl. Sõ v.
O CAMAREIRO 259
de D. Mecia da Cunha separavam por tanto as de Lou-
renço, e de Antão de Faria.
Lourenço de Faria morreu no anuo de 1511, depois
de 13 de maio, data do seu testamento is; antes porem de
21 de agosto, como consta da carta de padrão de uma
tença de dez mil reaes vaga por seu falecimento, e
naquella data confirmada a seu filho Simão de Faria,
para a receber, comtudo, só do primeiro de janeiro
de 1512 em diante l9.
Garcia, Lourenço e Antão de Faria eram irmãos, filhos
todos três de João de Faria, coudel de Évora L".
Dos Farias existentes na corte, meado já o xv século,
e lá atrás nomeados, só me falta aludir a Antão de
Faria, que foi camareiro de D. João II, seu muito pres-
tante criado e leal amigo. Delle tratarei nos capítulos
seguintes, por ser elle o objecto principal deste estudo.
Ainda estavam em Abrantes, entregues á guarda de
Lopo de Almeida, os ossos do desditoso vencido da
Alfarrobeira, quando em Lisboa nasceu a 3 de maio de
1455 seu neto, e futuro vingador, o Príncipe D. João,
d'ali a sete meses órfão de sua mãe.
A criação e educação de seus dois filhos confiou
D. Afonso V a D. Beatriz de Meneses, que também já
fora aia da falecida Rainha D. Isabel, e a Diogo Soa-
|s Graça de Lisboa, mac. 16, n.° 40-15, na Torre do Tombo.
19 Chancelaria de D. Manuel, liv. 8.°, fl. 85 v.
-" No capitulo IX veremos a prova desta filiação; eu aqui escre-
vera primitivamente: "Seriam elles, Lourenço e Antão de Faria,
irmãos? — Não sei; mas pai e filho, como querem os nobiliários, é
que de certo não foram.,,
260 ESTUDOS
rez de Albergaria, que "por sua fidalguia, bondades e
grande saber,,, escolheu para governador do Prín-
cipe '.
I). Beatriz de Meneses era já enteio viuva de Aires
Gomez da Silva, fidalgo muito afeiçoado ao Infante
D. Pedro, que o armara cavaleiro em Ceuta após a
conquista da cidade, e que o nomeara Rejedor da Casa
do Civel por carta de 7 de julho de 1441. Companheiro
do Infante, com elle entrou na batalha da Alfarrobeira no
triste dia 20 de maio de 1449, e por esse facto lhe foram
confiscados os bens e tirado o oficio. Pouco sobreviveu
á sua mina, vindo a falecer a 25 de maio de 1454.
Apesar dos rigores havidos com o marido, não expe-
rimentou quebra a estima a D. Beatriz tributada por
D. Afonso V que, empregando palavras afectuosas, fez
doação, por carta de lo de agosto de 1454, da terra de
Azurara e outros bens ao filho da antiga Aia da Rainha,
a referida D. Beatriz de Meneses, ainda não encontrada
por mim em nenhum documento com o titulo de cama-
reira mór, que os genealojistas lhe dão. Não creio pois
que exercesse este cargo, mas o de aia do Príncipe
D. João tenho a certeza de o haver desempenhado,
porque aparece com elle na carta de 21 de março
de 1459, pela qual seu filho João da Silva foi nomeado
camareiro mór daquelle Príncipe-.
Em 1462 recolheu-se D. Beatriz de Meneses ao con-
vento de S. Marcos :!, e sucedeu-lhe, no cargo de aia
do Príncipe, D. Beatriz de Vilhena, sua madrinha de
baptismo e mulher do seu Governador. Consta de uma
carta, dada em Lisboa a 4 de novembro de 1462, de
1 Pina, Chronica de D. Affonso V, paj. 462.
2 Chancelaria de D. Affonso \\ liv. 36.o, !l. 112 v.
1 Acerca de D. Beatriz de Meneses veja-se lã adiante o estudo in-
titulado San Marcos.
O CAMAREIRO 261
confirmação de certos bens áquella senhora no do-
cumento intitulada "Aia de meus filhos,, ''.
Diogo Soarez de Albergaria, o Governador do Prín-
cipe, ao inverso do marido da sua primeira Aia, havia
sido dos partidários da Rainha D. Leonor contra o In-
fante D. Pedro, com quem comtudo se congraçou, pois
que em 1447 foi um dos fidalgos companheiros do
Condestavel I). Pedro, filho do Rejente, no escusado
socorro enviado a Castella contra os Infantes de Ara-
gão.
Encontram-se a cada passo inconstancias destas nos
fidalgos daquelles tempos. Ora os vemos a ferro e fogo
num partido, como logo depois os topamos militando
no adverso.
Diogo Soarez de Albergaria, sendo do Conselho dei
Rei e Governador de seus filhos, foi nomeado mordomo
mór do Príncipe por carta de 15 de dezembro de 1462 '.
Neste honroso e espinhoso cargo permaneceu o neto do
Bispo de Viseu D. Gonçalo de Figueiredo até morrer,
sucesso ocorrido no anno de 1472 antes de 18 de agos-
to, apesar do epitáfio da sua sepultura em S. Marcos
junto a Coimbra lhe pôr o falecimento, dizem, em 1473.
Por carta da data acima referida havia sido dada a
D. João Galvão, Bispo de Coimbra e Conde de Santa
Comba, a védoria mór das obras da Beira a qual fora
de Diogo Soarez de Albergaria, "que se ora finou,, 6.
Sua viuva D. Beatriz de Vilhena, acreditando agora no
epitáfio, é que morreria em 1473.
Quando lhe faleceram os velhos aios, já o Príncipe
D. João contava dezasete para dezoito annos, já era
casado, já fora armado cavaleiro sobre as ruínas fume-
' Chancelaria de D. Afonso V, liv. Q.n, fl. lõl v.
' Ibidem.
" Ibidem, liv. 29/', fl. 206.
262 ESTUDOS
gantes de Arzila, já, em suma, nelle se divisava o
homem que havia de vir a ser.
Quis por tanto deixar nomeados, reparando a ingra-
tidão dos historiadores, aquelles que formaram o espi-
rito juvenil do Príncipe Perfeito, que lhe desenvol-
veram a razão, que lhe incutiram no animo a vonta-
de, reflexão e ponderação que tanto o caracterisaram,
que lhe ensinaram, entre outras virtudes, a de nunca
mentir.
A casa do Príncipe compunha-se unicamente do
Governador e da Aia, quando em 1459, ainda não
completos os quatro annos de idade, lhe foi dado para
camareiro mór, pela carta já acima citada de 21 de
março, a João da Silva, 4.° senhor de Vagos.
João da Silva foi o que teve o combate singular junto
a Ouguella com D. Martim Oalindo. Ficou este logo no
primeiro encontro morto no campo, deixando porem
seu adversário tão mal ferido que apenas vinte e um
dias lhe sobreviveu. Assim o conta o epitáfio de João
da Silva em S. Marcos junto a Coimbra, e o confirma
em parte um alvará dado pelo Príncipe em Estremoz
a 22 de agosto de 1475, pelo qual fez mercê ao seu
Camareiro mór, "se fôr vontade de nosso Senhor vos
levar pêra si desta ferida que por nosso serviço houves-
tes em a villa de Ouguella,,, de toda a casa e do oficio
para seu filho Aires de Silva ', d'ali a dias, a 8 de setem-
bro, investido já no cargo de camareiro mór.
Pouco depois da nomeação de João da Silva, a 29
e 30 de janeiro do anno seguinte, o de 1460, foi au-
mentada a casa do Príncipe com dois novos oficiaes:
: Chancelaria de D. João III, liv. 16.°, de Doações, fl. 44, com a
data certa, e com ella errada na Chancelaria de D. Manuel, liv. 32.<>,
fl. 28.
O CAMAREIRO 263
João Escudeiro, fidalgo cavaleiro da casa dei Rei, e
Rui Velho, cavaleiro da do Príncipe, nomeados respe-
ctivamente seu guarda e estribeiro s.
Durante uns poucos de annos ficou a casa de D. João
composta apenas de mordomo mór, Diogo Soarez de
Albergaria, de camareiro mór, João da Silva, de guarda,
João Escudeiro, e de estribeiro, Rui Velho; e deviam
chegar bem para o serviço de uma criança. Depois, em
1468 e 69, quando elle já estava de treze para catorze
annos, e já tinha o casamento ajustado, nomearam-se
mais alguns criados: estribeiro mór, Garcia de Faria,
por carta de 23 de fevereiro de 1468; mantieiro, Lou-
renço de Faria, por outra de 22 do mês seguinte, ambas
já citadas; camareiro e guarda-roupa, Antão de Faria,
por consentimento e a requerimento do Camareiro mór,
como declara a carta de nomeação dada em Lisboa a
2 de junho de 1469 '■'; e finalmente, a 30 de julho, Pêro
Borjes, cavaleiro da casa dei Rei, teve carta de vedor
da do Príncipe 1".
Estes, e mais Fernão de Lima, nomeado copeiro mór
por carta de 15 de janeiro de 1471 u, são os únicos
oficiaes da casa do Príncipe, que teem as suas cartas
de nomeação rejistadas.
Outros teve elle ; não posso porem determinar o
tempo em que o começaram a servir. Em 1475 era
o dr. João Fernandez da Silveira escrivão da puridade,
chanceler mór e vedor da fazenda do Príncipe, como
declara a carta de barão de Alvito dada em Portalegre
a 24 de abril. No mesmo anno, em 8 de setembro ou
pouco antes, começou Aires da Silva a servir de eama-
8 Chancelaria de D. Afonso V, liv. 36.°, fl. 228 v., e liv. 1.°,
fl. 27 v.
!l Ibidem, liv. 16,o, fl. 86 v.
10 Ibidem, liv. 31.o, fl. 83 v.
11 Liv. de Extras, fl. 38 v.
264 ESTUDOS
reiro mór, sendo já por esses tempos mordomo mor
D. Pedro de Noronha; e em fins de dezembro tinha
Antão de Faria, alem do oficio de camareiro, os de
cevadeiro mór e armador mór. Em 1476, era Fernão
Martinz Mascarenhas capitão mór dos ginetes do Prín-
cipe, e D. Henrique Henriquez seu aposentador mór.
No anno seguinte servia-lhe de meirinho mór Rui de
Sousa, senhor de Sagres.
Basta. Não devo alongar esta lista, para me não des-
viar mais do assunto principal.
Antão de Faria caiu logo nas boas graças do Prín-
cipe, que imediatamente começou a dar-lhe provas da
sua afeição.
Em 1475, tendo D. João a rejencia do reino que
seu pai lhe deixara quando invadiu a Castella, e
estando ainda em Estremoz, para onde havia ido vijiar
a fronteira alemtejana, e d'onde havia mandado recu-
perar a praça de Ouguella da qual por um golpe
de mão ousado os Castelhanos se haviam apoderado,
mandou o Príncipe dar carta de privilejios ao seu Ca-
mareiro. Foi o diploma, no qual se refere ao serviço
continuadamente feito pelo seu criado, passado em 29
de dezembro, e não é elle a simples e trivial conces-
são de privilejios e imunidades bastante vulgar então.
Abranje não só a isenção para Antão de Faria do paga-
mento de serviços, pedidos, empréstimos, fintas, etc,
quer sejam lançados pelo rei, quer pelos concelhos
onde o Camareiro tiver bens ; mas também os privile-
jios usualmente outorgados aos caseiros, lavradores,
mordomos e paniguados dos fidalgos; e ainda mais
lhe concede, e isso é o principal, que em quanto elle
fôr seu oficial, ou em sua casa andar, ou servir sua
fazenda, ou fôr a algum logar por mandado seu ou dei
Rei seu pai, não possa ser citado, nem acusado, nem
O CAMAREIRO 265
demandado civil ou criminalmente, senão perante o
Correjedor da Corte '-.
Pouco depois entrava o Príncipe em Castella com o
seu pequeno exercito, levando com sigo a sua casa, pelo
menos parte delia, inclusive o Camareiro que já na
expedição de Arzila em 1471 o acompanhara também.
Na batalha de Toro mão teve Antão de Faria parte tão
notável como seu irmão, o Alferes do estandarte Lou-
renço de Favia, e, comtudo, devido ao valimento, mere-
ceu o seu serviço galardão muito superior ao daquelle.
Por carta dada em Lisboa a 15 de junho de 147Ó,
atendendo aos muitos e estremados serviços de Antão
de Faria, assim no reino, como nas partes de Africa,
como nos reinos de Castella, e considerando como até
então o havia servido muito lealmente em todas as
coisas de que o encarregara, pelo que lhe estava em
muita obrigação de lhe fazer acrescentamento e mercê,
lhe deu o Principe a alcaidaria mór do castello de
Palmella com todas as rendas, direitos e foros, e com
todas as honras, privilejios e liberdades, como fora
possuída por Nuno da Cunha, que se então finara l:i.
Este Nuno da Cunha, seja dito entre parenthesis, era
o dono da casa em Setúbal, onde depois o Duque de
Viseu encontrou a morte.
Na pessoa de Antão de Faria o cargo de camareiro
não foi meramente um oficio de corte, foi um cargo
preponderante, tanto na politica como na fazenda real.
Para se ajuizar da importância delle neste segundo
ponto, extractarei a carta de quitação que se lhe deu rela-
tiva aos annos de 1474 a 1478, quando D. João ainda
•'- Chancelaria de D. Afonso V, liv. 30.", fl. 142 v.
13 Ibidem, liv. i.<\ fl. 111, com o final apagado, só se podendo ler
da data a palavra Lisboa ; mas extractada por Lousada a fl. 606 v.
da parte l.a dos seus Sumários da Torre do Tombo, quando o
documento era ainda todo lejivel.
266 ESTUDOS
não havia subido ao trono. For ella se verá a con-
tundi já então outorgada pelo Príncipe ao seu criado.
No anno de 1474 recebeu Antão de Faria 2:090 cru-
zados de oiro de Fernão Qomez da Mina e de Guede-
lha Palaçano.
No de 1475 recebeu 1.010.3Ó7 reaes e 1.370 cruzados
das seguintes pessoas : Afonso Fernandez de Montarroio,
tesoureiro dei rei, Luis Alvarez, copeiro, Lopo Afonso
dos Coiros, Vasco d'Antas, Fernão Gomez da Mina,
Afonso Carvalho, almoxarife de Pernes, João de Faria,
uchão, e do Recebedor do almoxarifado de Abrantes.
Da ucharia recebeu vinte e nove marcos e seis reaes
de prata por peças de cozinha e mantiaria; e do Arce-
bispo de Braga D. Luis, um retabolo e dois castiçaes
de prata, a que se não tomou o peso. O judeu Palaçano
entregou três ardeis •* de oiro, os quaes o Príncipe man-
dou lavrar, gastando-se no feitio 117.300 reaes, pagos
pelo Camareiro. Alem disto tudo, adquiriu, também para
a camará do Principe, um garnimento (jaezes) de oiro,
do peso de quatro marcos, quatro onças e seis oitavas.
Em 1476 recebeu 536.123 reaes de varias pessoas,
principalmente de Judeus, entrando 50.000 reaes de
Lopo Diaz, então tesoureiro do Principe. Recebeu tam-
bém trezentos e cincoenta covados e meio de pano
de branqueia (estofo de lan) de Castella, entregue pelo
Recebedor do porto de Almeida; e mais setenta e um
marcos e cinco reaes de prata marcadoira, das mãos de
João Pestana, tesoureiro mór, e de Álvaro Rodriguez,
escudeiro do Principe.
No anno de 1477 recebeu em reaes: 248.889 de Diogo
Rodriguez, moço da estribeira; 115.000 de Vasco Leite;
75.000 de Diogo Gonçalvez, "nosso çapateiro,,; 8.000
11 "Argolas possas em que se funde o oiro, para não virem pó e
girar no comercio», explica o .Morais.
O CAMAR1 IRO 267
de João Afonso, contador de Évora; 1.300 de João Go-
niez, moço da estribeira; 30.587 de Marti m Afonso,
almoxarife de Borba; e 1.175.479 de l.nis Alvarez,
copeiro; ao todo 1.654.255 reaes. Recebeu, alem disto,
10.075 cruzados do dito Copeiro, e 3.323 de António de
Aguiar e Agostinho Caldeira, moços da camará. Entre-
gou também, o referido Luis Alvarez, copeiro, mais 50
ducados e meio, e 81 henriques de Leão, 84 henriques
e 2 coroas /de França, 4 reaes de oiro, 250 dobras de
banda, 6 frolins (florins) e 236 escudos de oiro de Por-
tugal '•'. E por ultimo deu o Camareiro outrosim conta,
neste anno, de 170 cruzados e dois terços, gastos no Li-
vramento de um baraço de oiro que no guarda-roupa
do Príncipe andava.
Finalmente, em 1478 recebeu, alem de 100 reaes bran-
cos, mais 480 cruzados, sendo 270 de Álvaro Gomez,
cavaleiro, morador em Tavira, e os restantes 210 de
cinco mercadores, dos quaes três Judeus de Lisboa,
Moussem (Moisés) Faião, Moussem Sacon, e Nacim
Faiom.
Recebeu por tanto nos cinco referidos annos de 1474
a 1478, só em reaes e cruzados, calculados cada um
destes em 324 daquelles, conforme a lei de 16 de se-
tembro de 1472, a quantia de 7.Q26.000 reaes corres-
pondente a perto de trezentos contos da moeda de
hoje "'.
De todo este oiro, prata e dinheiros foi dada quitação
a Antão de Faria, fidalgo da casa dei Rei, seu camareiro
15 De todas estas moedas e dos seus valores aprossimados, nos
dá noticia o sr. Costa Lobo no cap. IV da sua preciosa Hist. da
sociedade em Portugal no século xv, só me parece não encontrar lá
referencia aos henriques, os quaes, conforme uma escritura de
18 de novembro de 1471, valiam então, os velhos, quatrocentos
reaes cada um (Arch. hist. port., VI, 442).
16 Faço o calculo pelas tabeliãs do citado livro do sr. Costa Lobo,
p. 417 e 418.
268 ESTUDOS
e cevadeiro mor, por carta passada em Évora a 25 de
julho de 14S2, feita por João de Lisboa, amo da Rainha
D. Leonor '".
Da confiança já naquelle tempo posta pelo Príncipe
em Antão de Faria, tenho mais uma prova na missão
de que o encarregou junto a seu pai, em França, no
anuo de 1477.
Neste armo, a 28 de abril, havia-se reunido no con-
vento do Espinheiro, junto a Évora, um conselho con-
vocado pelo Príncipe Rejente, afim de nelle se resolver
acerca do remédio a dar ao estado desgraçado em que
o reino se encontrava. Sem justiça, sem defesa, sem
dinheiro, estava elle prestes a perder-se, não se lhe
acudindo logo com determinações salutares e reforma-
doras. A fazenda real "era assim diminuída e apoquen-
tada, que a despesa sobejava pela receita bem dez mi-
lhões, os quaes já este anno ficavam de fora, sem se
poderem pagar, afora todalas dividas e quebras do
anno passado,; 1S. Para atalhar o mal resolveram, o Prín-
cipe com os do conselho, convocar Cortes em Santarém
para 8 de setembro, e "de estas coisas assim todas enviar
dizer por uma pessoa fiel a el Rei seu pai,, l9.
Do documento citado não consta quem foi a "pessoa
fiel,,; mas dos dizeres de Rui de Pina se ha de entender
ter sido Antão de Faria, que a França "era ido com
visitação e outras coisas entre o pai e filho secretas,, -°.
Em França estava o Camareiro quando D. Afonso V
desapareceu em fins de setembro de 1477, deixando
cm cartas ordenado ao Príncipe que se fizesse pro-
clamar rei, e aos Estados do reino que o reconheces-
17 Chancelaria de D. João II, liv. 3.°, fl. 14 v.
Is Auto do Conselho havido no Espinheiro em 1 177, no Arch.
hist. port., I, 199.
19 Ibi.
-" Chronica de D. Affonso V, cap. CCII.
O CAMAREIRO 269
sem como tal. De as trazer a Portugal foi incumbido
Antão de Faria, que se apressou em desempenhar a sua
missão, da qual resultou a aclamação de 10 de novem-
bro no alpendre de S. Francisco de Santarém.
Durou poucos dias esta realeza, mas menos de quatro
annos depois, a 28 de agosto de 1481, subiu definitiva-
mente o Principe D. João ao trono.
III
"El Rei, meu senhor, que Santa Gloria haja, me dei-
xou em muito trabalho e perigo,,.
Com esta frase respondeu D. João II ao confessor do
preso Duque de Bragança, o padre Paulo, cónego secu-
lar de S. João Evanjelista, que lhe dissera: "Senhor,
perdoe Deus a el Rei vosso padre, que assim creou
estes senhores de Portugal tanto em suas vontades, e
lhes deu tanto favor que lhes fez muito dano; e, não
sei por que juizo, vejo-vos ser tão desviado e tão desse-
melhante da sua nação e condição, que é necessário
que muitos quebrem por meio-, '.
As palavras do Loio definem exactamente a situação
em que D. João II se encontrou ao subir para o trono.
As brilhantes qualidades de D. Afonso V, a sua va-
lentia, bondade, desinteresse e honestidade, que o tor-
naram um modelo de cavaleiros, eram obscurecidas
pela prodigalidade, simpleza, facilidade e despreocupa-
ção, defeitos que delle fizeram um máu rei. Procedendo
muita vez influenciado pelas sujestões daquelles a
1 Breve Tratado que escreveo o Padre Paulo sobre a morte do
Duque de Bragança, paj. 7S0 do vol. III das Provas da Hist. genea-
lógica.
270 rsrrnos
quem era inclinado, que o adulavam e aconselhavam
ao sabor dos seus desejos, achou-se o Africano, por
tendência e indolência, quasi completamente dominado
pela camarilha. Convivendo familiarmente de mais com
os fidalgos que nas suas empresas o seguiam, e na
corte o acompanhavam, era para elles benévolo em
extremo, não lhes regateando mercês, honras e isenções,
que recaíam com pesados encargos e vexames sobre
o povo do reino. E tanto mais insuportáveis se tornavam
os gravames e opressões, quanto é certo que os senho-
res abusavam da frouxidão de D. Afonso V, impotente
para lhes coibir os desmandos.
Estava pois á sua morte o reino dividido em dois cam-
pos: um, restricto em numero, constituído pela fidalguia
opressora; outro, a grande maioria, pelo povo opri-
mido.
Chegou D. João 11, e viram-n-o "tão desviado e tão
dessemelhante da nação e condição de seu pai,,, que a
luta se exasperou por forma, que, se a momentânea
victoria pertenceu a el Rei, foi não só devido á tenaci-
dade do seu caracter e ao seu valor pessoal, mas tam-
bém, e sobretudo, á dissimulação precursora da presteza
na execução.
Não nos iludamos. D. João II para vencer precisava
tinjir, por isso que só quasi comsigo podia contar.
A doblez politica no Rei, a soberbía estulta nos Bra-
ganças, facilitaram o golpe, que estoirou como um raio,
tomando todos tão de surpresa, que o encarceramento
do Duque D. Fernando, e a expatriação de seus irmãos,
se realizaram sem haver uma revolta no reino, sem que
nenhum dos muitos castellos por elles possuídos ousasse
fechar as portas aos enviados do Soberano.
"El Rei era tão pesado e tão curto em seu saber,,, que
dificilmente tomaria resolução. Isto, bem iludido, escre-
via D. Álvaro de Portugal a seu irmão D. Fernando,
O CAMAREIRO 271
quando já a coruja estava ensaiando o vôo, para, trans-
formada em falcão, deixar-se cair sobre a presa, agar-
rando no chefe da conspiração e encerrando-o nos
sótãos do castello velho de Évora.
"Tempos ha para usar de coruja, e outros para usar
como falcão!.. J
Logo que começaram as delações de Lopo de Figuei-
redo, isto é, e,m fins de 1481, depois das Cortes de Évora
e antes da ceremonia das menajens, a única pessoa
a quem talvez D. João II comunicasse a noticia, seria
ao seu camareiro Antão de Faria, "de que muito con-
fiava, e a quem descubria seus segredos.,; :!
Foi elle, segundo dizem os cronistas, o encarregado
por el Rei de copiar os primeiros documentos trazi-
dos pelo Escrivão da fazenda do Duque de Bragança; e
também foi elle, que por ordem de seu amo se foi avis-
tar, na quaresma de 1483, a um casal prossimo de San-
tarém, com Gaspar Jusarte, o segundo delator. Final-
nal mente, á guarda do Camareiro mor Aires da Silva,
e do Camareiro Antão de Faria, foi entregue a pessoa
do Duque de Bragança, quando el Rei o prendeu nos
paços do Conde de Olivença, onde então poisava, na
tarde da sexta feira depois do Corpo de Deus, no dia
30 de maio de 1483 ''.
Da herança do Duque levou Antão de Faria "um
bom quinhão,,, diz o dr. Diogo Pinheiro no seu Mani-
2 Palavras de D. João II a Lopo de Figueiredo depois da execu-
ção do Duque de Bragança. Tratado de Lopo de Figueiredo, paj.
561 do I vol. dos Annaes das sciencias e lettras.
3 Resende, Vida de D.João II, cap. 27, fl. 16.
'' Esta data vem errada em todos os autores coevos por não con-
cordarem o dia do mês com a féria, pondo a sexta feira a 29 quando
ella foi a 30. Análogo engano sucedeu a alguns com a data da ba-
talha de Toro, que marcaram na sexta feira 2 de março de 1476, tendo
ella caído no dia 1.
272 ESTUDOS
festo; e é certo, e não foi só do Duque, porque também
houve bens que haviam sido de seu irmão D. Álvaro.
Não existe rejistada a carta de doação delles, mas
encontra-se a da satisfação ao antigo Camareiro dada
por D. Manuel para restituir os bens aos Braganças,
naquella sua faina tão pouco politica, económica, e até
decorosa, de os repor no primitivo estado.
D. João II, alem da pensão dos tabeliães de Faro,
fizera doação a Antão de Faria, em sua vida e na do
filho mais velho que lhe sobrevivesse, do senhorio e
alcaidaría mór da vila de Évora Monte, que fora do
Duque D. Fernando, e dos direitos do genesim e sisa
judenga das vilas de Santiago e Sines e seus termos, e
da sisa judenga de Mertola e de todas as outras vilas
e logares do campo de Ourique, tudo outrora pos-
suído por D. Álvaro. D. Manuel, por carta passada em
Lisboa a 20 de março de 1498, confirmou a Antão de
Paria a pensão dos tabeliães e em contentamento dos
outros direitos e rendas, arbitrou-lhe, em duas vidas,
uma tença de cento e setenta mil reaes; mas não ficou
ainda por aqui, porque, "havendo respeito a seus mere-
cimentos, e bons serviços que a nós tem feito,,, estendeu
aquella mercê a um neto e binesto, dando-lhe por tanto
a tença em quatro vidas'.
Não se pode estranhar demasiadamente o reconheci-
mento de D. Manuel a Antão de Faria, que se afirma
ter contribuído para clle ficar nomeado herdeiro da co-
roa no testamento de D. João II, e que não concorrera
directamente para a ruina e morte dos Duques de Bra-
gança e de Viseu.
Custa níais a entender a benignidade desmemo-
riada de que o Rei Venturoso usou com os dela-
tores de seu cunhado Bragança e de seu irmão Viseu.
5 Chancelaria de D. Manuel, liv. 31. °, fl. 75 v.
O CAMAR] IR< > 273
Aquelles, apesar de terem com as suas denuncias levan-
tado o cadafalso de Évora e aguçado o punhal de
Setúbal, encontraram, mais ou menos, benévolo animo
no novo soberano.
Lopo de Figueiredo, o primeiro delator do Duque
D. Fernando, foi cavaleiro da easa de D. Manuel, que
em Estremoz, a 10 de janeiro de 1497, lhe confirmou a
tença dada por D. João II em paga da delação, como
claramente [\or estas palavras o diz a primitiva carta:
"esguardando nós a um grande e assignado serviço
que Lopo de Figueiredo, escudeiro de nossa casa, nos
tem feito,.1'.
Gaspar Jusarte, o que se avistara com Antão de
Faria no casal prossimo de Santarém, no intento de fa-
cilitar a denuncia de seu irmão Pêro, conservou D. Ma-
nuel no seu Conselho, e confirmou-lhe, em Setúbal,
seis meses depois de ser rei, a 27 de abril de 1496, o
premio por D. João II outorgado em satisfação do seu
serviço ~.
Pêro Jusarte, o cavaleiro da privança do Duque
D. Fernando, o mensajeiro dos seus avisos a Castella,
a principal testemunha de acusação, a única repetidas
vezes nomeada nos considerandos da sentença s, foi
fidalgo da casa e do Conselho de D. Manuel, que em
6 A Lopo de Figueiredo mandou D.João II assentar 50.000 rs. de
tença em sua vida, sendo 33.826 por uma carta de padrão, e os res-
tantes 16.174 por outra dada em Santarém a 11 de abril de 14S4.
Chancelaria de D. João 11, liv. 23.o, fl. 38. A carta de D. Manuel
de confirmação desta está rejistada no liv. 21. o da sua Chancelaria,
a fl. 13.
" Chancelaria de D. Manuel, liv. 40.°, fl. 105. O prémio conce-
dido a Gaspar Jusarte havia sido, por carta dada em Abrantes a 9 de
setembro de 1483, uma tença de 100.000 reaes brancos, sendo 35.000
pagos pelas rendas e direitos da alcaidaria mór de Setúbal, que lhe
fora doada em vida, 32.500 pela dizima do pescado da mesma vila,
e os outros 32.500 em dinheiro. Chancelaria de D.João II, liv. 25.»,
fl. 9S v.
8 Impressa no Arch. Hist. Port., vol. I, paj. 393.
IS
2/4 ESTUDOS
Estremoz, a 12 de janeiro de 1497, lhe confirmou os
cento e quatro mil reaes de tença, os quaes, com o
senhorio e alcaidaria mor de Arraiolos, avaliados em
noventa e seis mil, perfaziam os duzentos mil reaes
líc renda, prémio da traição'1. E ainda mais: quando
el Rei tratou de satisfazer a Pêro Jusarte os direitos
de Arraiolos, que lhe tirava para restituir ao Duque
D. Jaime, deu-lhe, entre outras coisas, os direitos
reaes da Sortelha, e na carta desta doação, feita em
Évora a 23 de maio de 1497, declara D. Manuel
fazer-lha, "havendo respeito aos muitos serviços que
Pêro Jusarte, do nosso Conselho, tem feitos a el Rei
meu Senhor (D. João II), e esperamos que ao diante a
nós faça,, l0.
O Conde de Borba, D. Vasco Coutinho, que levado
pela sua extremada lealdade não duvidara arriscar a vida
de seu irmão para descubrir a D. João II toda a trama
do Duque de Viseu, continuou a receber bom agasalho
de D. Manuel, que entre outras provas da sua benevo-
9 "Esguaridando os muitos e extremados serviços, que nos tem
feitos com grande lealdade Pêro Jusarte, fidalgo de nossa casa, e espe-
cialmente em nos descobrir cousas grandes, que se contra nossa pes-
soa, estado e reinos tratavam, a que, com a graça de Deus, por nos
elle assim avisar, remediámos,., fa/.-lhe D. João II doação em duas
vidas do senhorio e jurisdição da vila de Arraiolos, por carta dada
em Évora a 7 de julho de 1483. (Chancelaria de D.João II, liv.24.o,
fl. 74). O senhorio foi dado em parte de 200.000 reaes de renda, e
tendo elle depois sido avaliado em 96.000 rs., passou-se carta de
padrão dos 104.000 rs. que faltavam, em Montemor, a 5 de janeiro
de 1 185. Esta carta encontra-se transcrita na de confirmação de
I). .Manuel, apontada no texto, e trasladada no liv. l.o dos Místicos,
a fl. 57 v., com a data errada. Efectivamente o escrivão datou o
documento de Estremoz, a 12 de janeiro de 1486, anuo em que
I). Manuel ainda estava lonje do trono; deverá ser porem 1497,
porque os princípios deste anuo passou D. Manuel em Estremo/.
Consta, não só do que diz Damião de (iões nos cap. XVIII, XIX
e XX da I parte da Ghronica de D. Manuel, mas é plenamente con-
fimado pela carta de confirmação do oficio de anadel mor dos bés-
teiros, concedido a Rui Gil Magro em Estremoz, a IS de janeiro
de 1497. Vide Liv. 3.° dos Brasões de Cintra, paj. 247.
10 Chancelaria de I). Manuel, liv. 27." fl. 98.
O CAMARF1RO 275
lencia deu a de acudir ao perdulário Conde com a carta
de 12 de julho de 1500, destinada a suavizar as sentenças
contra as suas rendas lançadas ".
Dir-me-hão que D. Manuel, conservando-se benigno,
ou premiando os bons servidores de seu antecessor,
mantinha o prestijio da realeza, prestando a elle e á
memoria de D. João II um assinalado serviço, pois que
por esta forma confessava haverem sido as conspirações
um facto provado, e por tanto justo o procedimento do
Príncipe Perfeito.
Isto seria efectivamente assim, se outros actos por
D. Manuel praticados logo depois da sua exaltação ao
trono, não viessem demonstrar a pequena consideração
por elle na verdade ligada ao prestijio da realeza.
Como podia D. Manuel invocar para a restituição da
casa ao Duque de Bragança D. Jaime o salutar principio,
de que os filhos não deviam padecer pelos crimes dos
pais, se elle nas suas Ordenações manteve para o crime
de lesa majestade penas que recaíam sobre os filhos
dos criminosos? Como podia elle explicar a imediata
repatriação de D. Álvaro de Portugal, a quem mandou
regressar ao reino por uma carta muito amigável que
lhe dirijiu em 2 de abril de 1496 '-, tendo aquelle fidalgo
sido, não só complice de seus irmãos Bragança e Mon-
temor, como declara a sentença de 9 de agosto de 1485 IJ,
mas também escritor de uma carta a D. João II, tão
ofensiva que ella por si só constituía crime de lesa
majestade ''? Como, sobretudo, se poderá D. Manuel
lavar da nódoa do chamamento de D. Álvaro de Ataíde
e restituição dos seus bens e dignidades, quando este
11 Impressa pelo dr. Sousa Viterbo a paj. 35 da Batalha de Toro.
'- Góes, Chronica de D. Manuel, part. l.a, cap. XIII.
I! Arch. H/st. Port., vol. II, paj. 273.
" Provas da H/st. genealógica, vol. V, paj. 492, e Annaes das
scienciãs e lettras, vol. II, paj. 104.
276 ESTUDOS
havia sido condenado á morte e confiscação por sen-
tença de 9 de agosto de 1485 l5, a qual el Rei nunca
se atreveu a revogar?
Este perdão orijinou um facto extremamente singular
e humoral.
Em maio de 1497 começou D. Manuel a confirmar
a casa a D. Álvaro de Ataíde já então do seu Conse-
lho "', e elle viveu até ás prossimidades de 30 de abri!
de 1509 em que já era falecido 17.
Durante uma dúzia de annos deu-se por tanto o
extraordinário caso, único talvez na historia, de tomar
parte nos conselhos da coroa um homem condenado por
sentença publica, nunca revogada, a pena capital!
Não quero crer, que D. Manuel fosse tão generoso
para os implicados nas duas conspirações, por no fundo
da sua alma, tanto aos conspiradores, como aos delato-
res, agradecer o terem-lhe facilitado o advento ao trono,
do qual tão lonje nascera. Não quero supor isso, mas
realmente os filhos dos Infantes D. Fernando e D. Brites,
se fisicamente se não resentiram todos da dejeneração
resultante dos repetidos enlaces entre prossimos paren-
tes, parece terem moralmente enfermado de qualquer
eiva orijinaria.
O mais velho, D. João, 3.° Duque de Viseu, foi sem-
pre enfezado, e constantemente se lhe receou a morte,
que o levou, com menos de vinte e cinco annos, em
1472, depois de 3 de julho. O segundo, D. Diogo, 4.°
Duque de Viseu, bastantes provas de insensatez e mau
caracter deu. O terceiro, D. Duarte, morreu moço,
tendo-lhe talvez apressado a morte o cunhado Bra-
gança, conforme as suspeitas de D. João II que o
l;' Árch. Hist. Por/., vol. II, paj. 276.
Ifi Chancelaria de D. Manuel, liv. 26.<\ fl. 84.
17 Chancelaria de D.João III, livro 6.o de Doações, fl. 36 v.
O CAMAREIRO 27 I
padre Paulo nos conservou ls. Alem destes houve mais
dois rapazes e uma rapariga, todos falecidos na infân-
cia, e D. Manuel que foi rei, e cujo caracter ainda
precisa mais estudado. Mais velhas do que elle foram
suas irmãs, a Rainha D. Leonor, cujas acções e Índole
já são conhecidas dos meus leitores, se os tenho; e
D. Isabel, Duquesa de Bragança, mulher do Duque
degolado em Évora, "a única figura suave, boa e com-
passiva,/, na frase de Manuel Bento de Sousa ''■'.
Esta senhora, "suave, boa e compassiva», tinha a seu
cargo uma criança de sete para doze annos, desposada
de seu filho o Duque D. Jaime. Tão bem velava pela
honra da criança, que, na ocasião em que aquelle
doido perverso fujiu de Portel, uma das razões por
D. Manuel alegadas ao Papa, para elle não consen-
tir na profissão do sobrinho, era, haverem-se passado
entre os esposados, apesar. da consumação por falta de
idade não ter ainda tido logar, "outras algumas cousas
de que ella não ficaria tão limpa e fora de pejo, que
mui grande inconveniente se não seguisse!,,"20
A criança precocemente depravada pelo seu futuro
marido, foi a Duquesa D. Leonor de Mendoça,que doze
annos depois, por ser a amante do pajem António
Alcoforado, foi assassinada pelo Duque, esquecido de
haver sido elle próprio quem lançara a semente da
corrupção.
Para acabar com horrores, direi que no caso do Du-
que de Viseu teve Antão de Faria pequena parte,
havendo apenas servido, segundo parece, para media-
|s Breve Tratado que escreveo o Padre Paulo efe., impresso no
vol III das Provas da H/st. genealógica, onde, a paj. 786, se encontra
a referencia á morte de D. Duarte.
19 Carta de 15 de fevereiro de 1894 a Oliveira Martins, impressa
a paj. 174 do Príncipe perfeito.
20 Corpo diplomático portuguez, vol. XI, paj. 17,
278 ESTUDOS
neiro entre Diogo Tinoco, o primeiro denunciante, e
el Rei; e depois para receber de D. Vasco Coutinho o
pedido de conferencia com D. João II.
Os casos Bragança e Viseu, mal ficam agora aponta-
dos; continuarei porem com as noticias de Antão de
Faria.
IV
Do pouco acima dito acerca das conspirações dos
Duques de Bragança e de Viseu, apuram-se ainda assim
dois pontos : primeiro, que Antão de Faria teve naquel-
les casos pequena parte; segundo, que era muito grande
a confiança no seu Camareiro depositada pelo Soberano.
Deste segundo facto, de sucessos anteriores já pre-
suposto e por outros posteriores confirmado, colheram
consequências conforme a suas premissas os escritores
que de D. João II, seja qual fôr o motivo, formam juizo
muito diferente do verdadeiro. Aquelles que o conside-
ram perverso e hipócrita como Luis XI de França, po-
liticamente também um grande rei, e a elle o com-
param, levam a perfeição do paralelo ao ponto de
arranjar para D. João II um Olivier le Dain na pessoa
de Antão de Faria. Não repararam que, pelo menos em
três pontos capitães, se diferençam absolutamente os
dois reis e os dois criados. D. João II encubriu a ver-
dade só em quanto precisou dissimular; Luiz XI faltou
em toda a vida aos mais solenes protestos e jura-
mentos. O Barbeiro do Rei de França foi enforcado, se
não por ordem, pelo menos com assentimento de seu
sucessor; o Camareiro do Rei de Portugal foi pelo
herdeiro deste mantido em todos os bens, honras e pri-
vilejios, incluindo até os extraordinários de só respon-
O CAMAREIRO 279
der em feitos eiveis e crimes perante o Correjedor da
Corte. Olivier le Dain, homem de baixa extracção e
cujo único mérito era a dedicação pelo monarca, foi
desprezado pelos seus contemporâneos, franceses e es-
tranjeiros; Antão de Faria, apesar de não ser fidalgo ',
foi estimado de todos que com elle praticaram, durante
o valimento e depois da morte de I). João II.
O único ponto em que acertam todos que de Antão
de Faria tee,m tratado, é quando rejistam a ilimitada
confiança no seu Camareiro depositada por D. João II.
Neste facto não pode haver duvidas.
São poucos os documentos, rejistados nas chance-
larias, passados por E). João II depois de rei a Antão
de Faria. Alem da carta de quitação de 25 de julho
de 1482, já num precedente capitulo citada, e de ou-
tra análoga de 19 de janeiro de 1490, relativa ao
exercicio do oficio de cevadeiro mor nos onze an-
nos decorridos de 1479 a 89. nos quaes recebeu três
mil trezentos e noventa e sete moios e quarenta e
1 As lerias dos genealojistas acerca dos Farias, ás quaes ninguém
que tenha estudo e san critica dá fé, apesar de antigas e já im-
pressas desde 1646 pelo menos, o que lhes tira todo o aspecto de
novidade, não destroem absolutamente em coisa nenhuma a minha
asserção. Antão de Faria, cujo pai não é nomeado em nenhum docu-
mento nem livro coevo, não. foi fidalgo, nem podia ser filho de Lou-
renço de Faria, que foi seu contemporâneo e aprossimadamente da
mesma idade, como sobejamente o provam os documentos já por
mim citados.
Para se avaliarem as trapalhices dos genealojistas, transcreverei
de um delles o seguinte trecho, que teve agora a immerecida honra
da impressão: "Lourenço de Faria foi alferes mór do príncipe
D. João na batalha de Toro, aonde se distinguiu notavelmente,
alcaide mór de Portel, senhor de Évora Monte, monteiro mor.
Casou com D . . . tiveram .....
Agora eu.
Tudo quanto fica transcrito é mentira, excepto a estada em Toro.
Lourenço de Faria não foi, nem alferes mór do Príncipe D. João
em Toro (o alferes mór era então o Conde de Loulé, que no
sucedera em 1464 a seu pai em virtude de uma carta de 20 de julho
de 1452 para aquelle efeito), mas simplesmente alferes do seu estan-
280 ESTUDOS
três alqueires de cevada -, só lá encontrei mais estes
diplomas: uma carta dada em Sintra a 9 de janeiro de
1486 de doarão de todos os bens moveis e de raiz
de mestre Isac Zarco, morador em Santarém, a quem
haviam sido confiscados por meter no reino panos de
Castella sem selo !; outra, datada de Santarém a 2 de
maio do mesmo anno, pela qual D. João II lhe confirma
a de privilejios que, sendo Príncipe, lhe outorgara4;
outra, na mesma villa, a 2 também de maio de 1486, de
darte, como declara a carta de nomeação já por mim citada; nem
alcaide mór de Portel, alcaidaria qne era do Duque de Bragança, e
foi dada depois da sua execução a João de Faria por carta de 23 de
setembro de 1483, já por mim apontada; nem foi senhor de Évora
Monte, senhorio possuído depois da morte do referido Duque unica-
mente por Antão de Faria, como deixei provado por um documento
citado; nem foi monteiro mór, oficio que, como consta de muitos
diplomas, exerceram, no reinado de D.João II, desde 1482, D. Diogo
Fernandez de Almeida, que também é nomeado D. Diogo de Almeida
em documentos; e no reinado de D. Manuel, D. Álvaro e D. João
de Lima até 1516, anno em que já Lourenço de Faria era morto, como
declarei. Este foi simples e modestamente, como pertencia a quem
nã( i era Fidalgo, mantieiro da corte, uma espécie de criado de mesa, ou
maitre (Vhotã na antiga acepção da palavra. O oficio foi-lhe dado por
cuia de 22 de março de 1468, também já citada, e posteriormente
teve o foro de fidalgo da casa dei Rei. Daqui, desta relativamente
humilde graduação, nunca passou.
Basta aquelle rosário de disparates, acima transcrito, para se aqui-
latar o critério dos genealojistas, que, alem de varias outras coisas,
inventaram também, neste caso, uma carta de brasão dada per el Rei
D. Fernando aos Farias, quando o mais antigo diploma existente
daquella espécie, é de dois meses anterior ao reinado de D. Afonso V.
As asserções dos genealojistas portugueses, bem como as das cartas
de brasão posteriores ao XVI século, só raríssimas vezes teem alguma
valia. Aquelles sujeitos são "mentirosos por índole e oficio, ou por
vaidade; são parvos geralmente de nascença.., Nelles não confio
ilutamente nada, e os meus únicos oráculos em estudos históricos
i is documentos, monumentos e escritos coevos, tudo, ainda assim.
bem ponderado.
Com estas palavras, já demasiado longas para a insignificância do
assunto, e só com ellas, porque não tenho tempo para perder por
bujiarias, respondo a uma pseudo-critica do género presunçoso-
qui me i dirijida no jornal do Porto, A Palavra, do dia 17
deste mês (abril de 1902), hontem recebido.
'-' Chancelaria de I). João II, liv. 17." ti. 11.
'■ Ibidem, liv. 8.-, fl. 150.
Ibidem, fl. lo"-, v.
O CAMAREIRO 281
doação de uns bens junto á sua quinta dos Olivaes,
bens por seu sogro João Gonçalvez comprados a
um Moiro forro'1; e finalmente, ainda outra do mesmo
anuo, datada porem de Lisboa a 25 de oitubro, de pri-
vilejios para os réus rendeiros '"'.
Apenas isto lá existe dentro do período apontado;
mas, ainda assim, o primeiro documento tem impor-
tância, por nos revelar que já em 9 de janeiro de 1486
era Antão de, Faria do Conselho dei Rei.
É pois certo não se poder atestar pelos rejistos da
chancelaria o valimento havido junto do Soberano pelo
seu Camareiro ; mas da privança se encontra a prova em
autores contemporâneos, e sobretudo no testamento de
D. João II e em alguns diplomas de D. Manuel.
Rui de Pina, historiador sóbrio e geralmente pouco
encarecedor, limita-se a declarar-nos na sua Chronica a
pequena parte que o Camareiro teve nos casos das
conspirações dos Duques; acrescenta porem, que D.
João II deixara nas Alcáçovas, onde o fizera, o seu tes-
tamento entregue a Antão de Faria, e esta prova de
confiança é muito grande '. O dr. Diogo Pinheiro, no
Manifesto, também se refere a terem sido os documen-
tos comprovativos da traição do Bragança confiados
para os copiar a Antão de Faria, "que desta herança
levou um bom quinhão,,*. Lopo de Figueiredo, no Tra-
tado, apenas nomeia confusamente o Camareiro, repor-
tando-se a uma carta de D. Álvaro a seu irmão o Duque
D. Fernando, na qual "lhe recontava as cousas que el Rei
então fazia, e como el Rei provera do arcebispado de
Braga ao Bispo de Coimbra (fins de 1482, princípios de
' Chancelaria de D.João II, liv. 4. o, fl. /.
6 Chancelaria de D. Manuel, liv. 3().<\ fl. 129 v.
' Chronica de D.João II, paj. 21, 36, 43, 57, 58 e 191.
s Provas da Hist. genealógica, vol. III, paj. 638.
282 ESTUDOS
1483). . . e o Bispo de Coimbra com pensão de um mi-
lhão, e balada a fana,,''.
Com efeito encontro no anno de 1484 algumas car-
tas, relativas a besteiros da camará, mandadas executar
por Antão de Faria, que nellas se intitula comendador
de Santa Maria de Valada (na Ordem de Cristo). Exer-
cia elle então interinamente o cargo de anadel mor da-
quelles besteiros, pelo proprietário do oficio, Francisco
de Porto Carreiro :tl.
Quem nos ministra mais pormenores acerca do vali-
mento de Antão de Faria, é Garcia de Resende nas suas
anecdotas, tão depreciadas por Alexandre Herculano.
Conta-nos o cronista vários casos que todos servem
para mostrar a confiança de D. João II no seu Cama-
reiro, não só confidente e tesoureiro do bolsinho dei Rei,
mas até executor dos castigos por elle ordenados, quando
recaíam em crianças.
D. João II, D. Manuel, e outros reis, antes e depois
delles, formavam da sua corte uma sorte de vasta fa-
mília, no seio da qual exerciam funções de chefe,
para não dizer de pai. D. João II cercava-se durante o
jantar de moços fidalgos, que aos seis e oito se sentavam
no chão a seus pés, ou de baixo da mesa, alem de mais
dois que em pé a seus lados, com leques de seda lhe
enxotavam as moscas. Com elles praticava, e entre elles
repartia o primeiro prato de fruta que lhe serviam ".
Em 1490 era pajem dei Rei D. Jorje de Castro, irmão
do futuro 3.° Conde de Monsanto, "moço muito for-
moso e gentil homem,,, como diz Resende, acrescentando
n Annaes das sciencias e lettras, vol. I, paj. 553.
111 Chancela ria de D.João II, livro 22.o, íí. 10 e liv. 23.o II 95 v.
11 Viaje de Nicolas de Popielovo, paj. 32 da colecção de Viajes de
extranjeros por Espana y Portugal en los siglos XV, XVI y XVII.
Coleccion de Javier Liske. . . traducidos. . . por /'. R. Madrid, s.
d. Nicolaus von Popplau, nobre polaco, esteve em Portugal no verão
de 1 184.
O CAMAREIRO 283
que nas festas de Évora elle se apresentara ricamente
armado com muitos doirados e pedrarias, e na cabeça
uma "guirlandaH de pedraria terminada por um penna-
cho de pennas de «arca. Três annos depois já era pajem
dei Rei outro D. Jorje, este de Meneses e filho do 1 o
Conde de Cantanhede, o qual também el Rei trazia ri-
camente trajado. Por um mandado, passado em Torres
Vedras a 3 de julho de 14Q3, ordenou el Rei que ao
seu Pajem íqsse dado um tabardo, um pelote e umas
calças de lila (Lille), um jubão de veludo nergo dobrado,
e um barrete; pouco tempo depois, em Lisboa, a 21 de
novembro, nova andaina de roupa para D. Jorje de Me-
neses, e esta rica a valer: um balandram (balandrau) de
escarlata de Londres, acairelado de retroz carmezim, com
suas borlas e perilhas de oiro e carmezim, um pelote
da dita escarlata, um gibão de setim roxo, e uma cara-
puça de veludo preto dobrado. E não ficou só por
aqui, porque um mês certo depois, ainda em Lisboa,
lhe mandou dar mais uma loba, capelo e pelote de
roles '- e um gibão de solia 1:!. Era um casquilho, o
pajem !
Este D. Jorje de Meneses, como todos os fidalgos da
sua linhajem, era já galanteador com as damas, apesar
de meio fedelho ainda, e isso rendeu-lhe ser castigado
em publico por D. João II. Passou-se o caso em Alco-
chete, indo el Rei a pé com a Rainha e a corte e encon-
trando na rua um toiro que arrombara a cancella do
corro. Todos fujiram menos el Rei, que se pôs diante
da Rainha com a capa num braço e a espada na mão ;
mas, para a desembainhar, tivera de esperar pelo seu
12 Roles era unia fazenda de proveniência e fabricação irlandesa.
Roles e rolos de Galvei ou Galveu (Galway) encontram-se mencio-
nados em varias Cartas de quitarão de D. Manuel, n.os 23
442, etc.
13 Corpo eronolojico, parte l.a niac. 2.o, doe. 28, 93, e 106.
284 ESTUDOS
Pajem da lança, entretido atrás em conversação com
as Donzellas da Rainha. Apesar do perigo qnasi imi-
nente, teve ainda assim I). João II enerjia e tempo para
arrepelar o moço, antes de pegar na arma '''.
O trajo dos moços fidalgos também era rico e vis-
toso. A um do senhor D. Jorje mandou el Rei dar para
sen vestido, em Torres Vedras, a 30 de julho de 14Q3,
um capuz, pelote e calças de Londres, jubão de setim
e barrete preto dobrado; e outra andaina de fato mais
encorpado, e que se compunha de capuz, pelote e cal-
ças de menim (Meenen), e jubão de veludo negro do-
brado; tudo isto alem de seis camisas de olanda. Pouco
depois, em Lisboa, a 12 de dezembro, mandou el Rei dar
a seis moços fidalgos também de D. Jorje, a cada um,
gibão de setim roxo e calças de menim, afora, para a
brincadeira, um saio de momos de mytaão (Mitau?) com
seus pendentes de lata de Flandres. A Lionel de Lima e
sen irmão Diogo Lopez, moços fidalgos dei Rei, man-
dou-lhes este dar, em Sintra a 13 de oitubro de 1493, a
cada um, capuz e pelote de vintém, isto é, creio en, do
preço por covado de um vintém, moeda de prata do
valor de vinte reaes brancos; e mais um gibão de setim e
calças de ipry (Ypres). Aparece também o vestuário para
um moço fidalgo francês '', que fora pajem de "monseor
11 Resende, Vida cie D.João II, cap. 70, fl. 4S v.
') nome deste moço fidalgo francês leu [oão Pedro Ribeiro,.no
vol. V das Dissertações, por esta forma: João de binf; a mim, salvo
íeito devido ao Mestre, parece-me dever ler-se biuf; mas julgo
avermos ambos nós, e desculpem-me a ousadia da camarada-
jem, entendido bem o nome que o escrivão da camará quis pôr no
mandado. () meu estudioso amigo e distinctissimo paleógrafo Pedro
A. de Azevedo, consultado por mim, interpreta a leitura daquelle
nome por esta maneira: João de biu f, isto e João de biu francês.
Admitindo o muito possível caso do ponto no i aparecer deslocado,
posto sobre a primeira perna em seguida ao />, quando devia
estar na terceira, era bui que se havia de ler, confirmando esta leitura
outro mandado passado pouco depois, a 17 de setembro, ainda em
forres Vedras. Nelle ordenou el Rei a Rui (iil que desse a João
O CAMAREIRO 285
de Leam,,, René de Chateaubriand, senhor chi Lyon d'An-
gers, criado conde de Ouazava em Africa por D.João II,
por carta de 11 de agosto de 1493, passada em Torres
Vedras no dia seguinte áquelle em que mandara vestir
0 moço fidalgo. Por este mandado consta que lhe deram
um jubão de setim preto, pelote de veludo preto do-
brado, carapuça do mesmo veludo, calças de menim,
outro gibão de comtrai (Courtray) frisado, e um par de
camisas de olanda "'.
Todos estes fatos eram dados "feitos e tirados da
costura,/, e os mandados todos passados áquelle Rui
Gil, que era Rui Gil Magro, cavaleiro da casa dei Rei,
e Anadel mor dos besteiros da camará por carta de 20
de abril de 14Q1, confirmada por D. Manuel em 18 de
janeiro de 1497 17. Então, em 1493, exercia Rui Gil o
cargo de recebedor do tesouro dei Rei, a quem hon-
rada e dedicadamente serviu.
Voltemos aos moços fidalgos.
D. João II não só os vestia, mas mandava-os também
estudar, para o que lhes assinava tenças com que se
pudessem manter no estudo. Isto mesmo já D. Afonso V
praticara, e bastarão para o provar as três cartas dadas
a António do Sem, uma de seis mil reaes brancos a
1 de abril de 1450, para seu mantimento com que
aprenda no estudo, outra de 3 de março de 1452 na
qual se lhe acrescentam mais mil reaes á pensão, e
finalmente a terceira, em 18 de março de 1455, de mais
sete mil e quatrocentos reaes 1S.
de Buy, francês, um capuz, pelote, e calças de menim, um jubão de
setim com meias mangas e colar de veludo preto dobrado, e um
barrete preto dobrado (Corpo cronolojico, parte I, mac. 2.o, doe. 60).
Ui Corpo cronolojico, parte I, mac. 2.°, doe. 41, 108, 69 e 15.
11 Chancelaria de D.João II, liv. 10.°, fl. 29 v., e Chancelaria de
D. Manuel, liv. 21. o, fl. 14 v.
18 Chancelaria de D. Afonso V, liv. 34.o, fl. 61, liv. 12.o, fl. 22, e
liv. 15.o, fl. 21.
286 ESTUDOS
No meio daquella rapaziada toda, surjiam ás vezes
desordens mesmo no paço, as qnaes el Rei precisava
reprimir com castigo, para evitar as repetições.
Uma vez dois moços fidalgos desavieram-se dentro
no paço, e lá mesmo se esgatanharam e arrepela-
ram. El Rei soube-o, e mandou-os chamar para os cas-
tigar como crianças, apesar delles já serem granditos.
Um apareceu, e foi logo relaxado a Antão de Faria
para lhe dar um gibão, mas de açoites; o outro não
houve ve-lo, porque os parentes esconderam-n-o. Então
D. João II ordenou ao Correjedor da corte, que publi-
casse uma sentença na qual o delinquente era con-
denado a dez annos de degredo em Ceuta. Acudiram
logo os parentes todos, aflictissimos com tão severo
castigo, e el Rei lhes disse: "Pois não quisestes que o
castigasse como moço, castiguei-o como homem.,;
Trouxeram-lho, e elle, apesar de andar bem doente,
por suas próprias mãos, não delegou então no Cama-
reiro, "o tomou pelos cabelos e o espancou bem,,,
com um pau, diante de todos l9.
Mas não era só em lhe entregar o castigo dos moços
fidalgos, que D. João II mostrava a confiança deposta
em Antão de Faria. Outros casos mais significativos
nos conservou Garcia de Resende.
V
O que fica dito no precedente capitulo mostra já em
parte, que efectivamente no xv século o rei de Portu-
gal era na realidade o chefe de uma numerosa família.
I!l Resende, Vicia de D.João II, cap. 192, ti 111
O CAMAREIRO 287
Nos tempos de D. Afonso V constaria cila somente de
gente dá corte; nos de D. João II estendia-se também a
muitos do povo.
Logo de pequenos tomava el Rei conta de vários
súbditos seus, aos quaes, conforme a classe a que per-
tenciam, dava moradias na casa real para seu manti-
mento e educação. Depois outorgava-lhes o chamado
casamento, certo dote em dinheiro, do qual, se nem
sempre pagava tudo, entregava todavia armualmente,
por meio de um padrão de tença, a graça arbitrada,
isto é, o juro correspondente, e as prestações por
esta forma pagas nunca eram abatidas no princi-
pal, quando este era satisfeito. Finalmente, confirmava
quasi sempre ás viuvas e filhos dos moradores da sua
casa as tenças a elles concedidas em sua vida, e muitas
vezes criava outras de novo, se os serviços do fale-
cido, ou as circumstancias dos sobreviventes, a isso o
levavam.
Isto era o usual ; mas muitos extraordinários havia.
Donativos de dinheiro em tempos de D. João II, como
prémio de bom serviço ou proceder, eram frequentes;
dadivas de vestuário, ou de prendas ricas, também eram
vulgares, mesmo a pessoas de alta jerarchia. Nos pre-
ciosos cento e sete mandados dirijidos a Rui Gil Ma-
gro, os quaes se guardam no maço 2.° da l.a parte do
Corpo cronolojico, e a alguns dos quaes já me referi, en-
contram-se exemplos destes dons de toda a sorte, a in-
dividuos de todas as classes, apesar das ordens abranje-
rem o bem curto periodo decorrido de 22 de janeiro a
13 de dezembro de 1493, de se terem de certo perdido
muitas, e de se referirem só á repartição da recebedo-
ria do tesouro dei Rei.
A "Excelente Senhora, minha prima,;, mandou dar
vinte varas de olanda e oito covados de pano preto
de vintém, ou de outro de sua sorte, em Torres Vedras
288 F.STUDOS
a 1 de abril1; e cm Lisboa, a 5 de dezembro, uma
murça de lila píeta forrada de arminhos, um manto de
frisa, meia onça de almíscar, e outra meia de âmbar'-. A
D. Isabel de Abranches, filha do 2° Conde, D. Fernando
de Almada, vinte espadins de oiro, em 17 de maio3. Ao
Rabi Abraão "estrolico» (astrólogo), dez espadins de oiro,
em 9 de julho''; ao famoso dr. Cataldo, um mantão,
pelote e calças de menim, jubão de setim, e um barre-
te, a 12 de julho"; ao outro não menos famoso doutor,
o dr. Vasco Fernandez de Lucena, pano preto para um
pelote e uma opa, tosado ou aparelhado, e pano de
setim preto para um gibão, com seus forramentos. Or-
dena que a toda a pressa lhe mandem logo estas fazen-
das para Torres Vedras por um homem do tesouro,
"para se fazer esta noite,, 6. Foi o mandado passado
naquella vila em 10 de julho, e a pressa seria motivada
pela recepção publica que então se fez a M. du Lyon
d'Angers, que dirijiu uma fala a el Rei, á qual prova-
velmente o dr. Vasco Fernandez, do Desembargo, Cro-
nista e Guarda mor da Torre do Tombo, e bom la-
tino, respondeu.
Ainda outras dadivas, interessantes para o meu caso,
aparecem. Por exemplo: dez covados de veludo preto
dobrado e doze de setim preto fino, mandados dar em
17 de agosto a D. Francisco de Almeida, o futuro Vice
Rei da Índia7; uns bons estribos prateados de cavalo
da gineta, em 30 de novembro, a D. Garcia de Castro s,
o senhor do paul do Boquilobo; ao carpinteiro Heahea,
1 Corpo crônolofico, part. l.a, mac. 2." doe. 12.
'-' Ibidem, doe. 100.
;! Ibidem, (.Inc. 10.
1 Ibidem, doe. 18.
1 Ibidem, doe. 31.
6 Ibidem, doe. t6.
Ibidem, doe. 1'».
Ibidem, doe. 97.
O CAMAREIRO 289
moiro, em 29 de julho, um capuz, pelote, calças, e ca-
rapuça de antona, jubão de fustão preto, e um par de
camisas de pano da terra'1; ao besteiro Pedr'Afonso,
em 21 de oitubro, um capote, saio curto, e calças de
antona verde, jubão de fustão, e calções de pardo por
meia coxa '"; a mestre Pedro, fundidor de ferro, em 13 de
novembro, um saio bastardo francês, umas calças de
Londres de preço de quatrocentos reaes o covado, um
jubão de chamalote com meias mangas e colar de ve-
ludo preto, e uma carapuça do dito veludo". E mais
exemplos ainda se encontrariam, sem sair dos mandados
adereçados a Rui Gil, recebedor do tesouro dei Rei,
mas não paga a pena indica-los.
Para se poder avaliar o enorme movimento de di-
nheiro e objectos variadissimos, desde os mais preciosos
até aos mais ordinários, desde os mais delicados aos mais
grosseiros, que no tesouro privativo do Rei entravam e
saíam, não resisto a transcrever, apesar de longa, a carta
de quitação dada por D. Manuel a Rui Gil Magro, dos
quatro annos que foi recebedor do tesouro de D. João II.
O leitor frívolo salte todo o resto deste capitulo, bem
mais interessante, de certo, para o estudioso do que o
meu aranzel.
Aqui vai o documento, advertindo que as palavras
em itálico são algumas das variantes da leitura nova
do diploma, nas copias ordenadas por D. Manuel.
A Rui Gil Magro, recebedor do tesouro e pagador das moradias,
quitação de todo o dinheiro, ouro, prata, e muitas outras cousas que
rccebeo e despendeo, etc.
D. Manoel... mandámos ora tomar conta a Rui G ir Magro, ca-
valeiro de nossa casa, de todo o que espendeo e recebeo os annos
9 Corpo croiwlojico, part. l.a, mac. 2.°, doe. 40.
10 Ibidem, doe. 75.
11 Ibidem, doe. 90.
19
200 ESTUDOS
de 491 ''-', e de 92, e de 93, e de 94, que foi recebedor do nosso
tizouro e pagador das nossas moradias. E per a recadaçam de sua
conta se mostra recebei-, em os ditos quatro annos, 70.183.750 reaes,
contando nesta soma 1.049.757 rs. que valeo o ouro e prata, jóias,
borcados, veludos e sedas, e panos de lan e de linho e detodasorte,
e outras muitas mercadorias e cousas que o dito Rui Gil ficou de-
vendo no primeiro ensaramento dela, em que lhe foram avaliadas
per nosso mandado, segundo mui decraradamente se contem em a
dita arrecadaram. E bem assi se mostra receber mais o dito Rui Gil
26 anés de ouro; e de aljofre 2 marcos, 4 onças, e 4 oitavas e mea,
e 106 grãos; e 1 alenterna de prata; e 6 albarradas douradas e lavra-
dras; e 9 agomis de prata; e liumas alcaladas de prata; e 1 apito de
prata; e 1 alifante de prata; e 2 barris de prata; e 10 bacios de prata
de agoa ás mãos; e 10 bacios de ter fruyta; e \b bucetas de prata; e
32 bacios de prata de servir de cozinha; e 2 bocaes de prata; e 1 ba-
cia de mijar: e 2 colares de ouro riquos, com pedraria; e 2 cestos de
ouro; e 0 cadeas de ouro; e de castonu-s (castões)át ouro, 7; e 3 cru-
ze^ de ouro; e 1 de prata; e 1 coroa de ouro com cem perlas; e
3 cambainhas (campainhas) de ouro da Mina; e 48 colheres de prata;
e 4 qualez, hum deles de ouro; e S quastiçaçs de prata; e 21 marcos,
6 onças e 4 outavas de chaparia de prata; e 2 sintas de prata; e 3 cal-
deiras de prata; e 1 caldeiram de prata; e 2 cacetasde prata; e 1 chy-
melaa de prata; e 2 canas de prata de ter folhas de livros; e 20 es-
cudelas de prata; e 1 escalfador de prata; e 6 confeiteiras de prata;
e IS copos de prata; e 11 copas de prata; e 33 cabeçadas de prata;
e 1 barcelete de ouro; e 2 cadeas de prata; e 20 diamães e 40 esme-
raldas todas encastoadas e os diamães, em ouro; e 6 escudos de prata ;
e 3 estatuías de prata; e 4 especieiros de prata; e 13 firmaesde ouro;
e 3 fontes de prata; e 1 ferrada de prata; e 2 fonisde prata; e 60 gar-
fos de prata; e 8 galetas (galhetas) de prata; e 2 garas (jarras) de
prata; e 0 gaspas e 9 gaezas de ouro e prata; e o ilhós de ouro; e
1 mea coroa com cinquo diamães; e (> maças de prata; e 40 momos
de prata; e 3 marquos e 1 honça e 7 outavas de prata em moeda de
fora do reino; e 3 medidas de prata; e 1 maça de ouro per âmbar;
e 3 marquos e 2 honças e 1 hoitava de ouro da Mina; e 3 cruzados
e } quartos de ouro batido; e 1SS cruzados e 45 gramos (grãos) de
ouro fino de cruzado; e 48 gramos de ouro fino ele primeiro emsães;
e 69 gramos de ouro fino de' três emsães; e 24 gramos ele ouro da
Mina; e 0 ouveiros de prata; e 2 pedras estopaes; e 110 per las; e
9 piches de prata, lavrados e dourados; e 2 portaz.es; e 2õ panes
(pratas) de prata de mantearia; e 2 privados de prata; e 2 pretuma-
doiros de prata; e 598 marquos e 5 honças e 1 houtava e mea ele
prata marcadoira; e 26 robis; e uma roza de prata; e 1 rebicairo
(relicário) de ouro; e 1 rede de ouro; e 1 relógio de inata; e 12 ser-
pes de ouro com lyomes (liões) esmaltados; e 5 sinetes de ouro; e
10 saleiros de prata; e 10 salseirinhas de prata; e 4 tornes de ouro;
e 2 tanores de prata: e o taças de desvairadas feiçomes (feições) e
preço; e 2 taboas de prata de cavalgar; e 2 tisouras de prata de es-
12 \o rejisto está b LRj (591), masfoi engano do escrivão, evi-
dente, até porque a data da carta é de 1514.
O CAMAREIRO 291
pivitar; e 2 tribulos de prata dourados; e 6 thelis, 4 de prata; e 1 ta-
voa cie ouro, maneira de retavolo; e i marqui - e I hi nças e 5 lion-
ças (aliás, outavas) e mea de prata batida; e 3 caixas de ouro; e 66
presas de ouro; e 29 balaises; e 71 botees (botões) de ouro esmal-
tados, e 30 deles cheos de ambre; e 6 brochas de prata; e 2 penas
de prata pêra escrever; e 1 punho de prata; e 7. onças, 3 quartos de
outava de prata tirada per fieira; e 2 sostentenentes (sostenentes) de
prata; e H> marquos, 5 honças e l outava de pano de ouro partido;
e ()3 covodos de borcado de pelo; e 46 covodos, 1 do/ao (dozavo)
de borcado raso; e 258 covodos e 5 dozaãos de borcado apedrado;
e 7 outavas de borcado colhocha; e 36 covodos e meo de borcadi-
Iho; e 71 covodos e 1 do/ao de veludo aviotado (avelutado) crime-
sim; e 106 covodos e 8 dozavos de veludo crimisim; e 1857 covodos
e 3 dozavos g'meo de veludo dobrado, de cores; e 214 covodos e
5 dozavos e meo de veludo sinjelo; e 32 covodos, 5 dozavos de
cetim aliitado (avelutado) crimisim; e 315 covados e 1 sesma de ce-
tim cremesim; e Ml covados e terça de cetim avelutado de cores; e
6575 covados e 1 sesma de catis (çatins) e demasquins de cores; e
1171 covados e terça de tafetá; e 1358 covados e 7 dozaãos de ar-
mentim; e 475 covados de balarte; e 3598 covados e 5 dozavos de
bristol; e 17 covados e quarta de burel de Aragão; e 18S covados e
meo de bruges; e 372 varas, 7 outavas de besuarta; e 1200 varas
quoartas (e quarta) de burel; e 91 covados e 7 dozavos de pano
busto; e 49 varas 2 terças de caduel (cadavcl); e 150 covados e 3 oi-
tavas de condado; e 653 covados e 2 oitavas de contrai; e 27 cova-
dos de cordinõ; e 180 covados, 5 dozavos e meo de danão; e 340
covados e 1 dozavo de zeochim; e 974 covados e 5 dozavos e meo
de ezcalatra (escarlata); e 179 covados e 1 oitava de estamenha; e 2276
covados e 7 dozavos e meo de espinete; e 873 varas de estopa; e 121
varas e quarta de escorcia; 815 covados e 5 seismas de frorentim; e
177 covados e 7 dozavos e meo de frorete; e 14.940 covados e 5 do-
zavos de fustão; e 120 covados e 1 sesma de finamarca; e 1157 co-
vados de grãa; e 634 varas e quarta de goardalate; e 72 varas e quoarta
de gualez (galez); e 17 varas e mea de cacheira; e 3 covados de gante;
e 1923 covados e 1 dozavo de hypre; e 378 covados de yprytum; e
273 varas e 11 dozavos de irlanda; e 3042 varas e 3 dozavos e meo
de lenço da terra; e 5996 covados e 1 oitavo de londres; 972 cova-
dos quarta de li Ia ; e 31 covados e sesma de lemeste (lemiste) ; e 1878
varas e 3 dozavos e meo de lenço francês; e 2099 varas e 2 terças
de lenço de Bretanha; e 217 varas de lona; e 500 varas e 3 quoartas
de gualvem; e 6499 varas e 7 dozavos de ligitimot; e 853 varas,
5 seysmas de luyto; e 1174 varas e mea de lenço nabal; e 3 varas de
lenço de Barbante; e 10 covados, e 7 dozavos de mea graã; e 1271
co\ados e cinco dozavos de menim; 1440 covados, 5 dozavos de
mitão; 1250 varas e mea de olanda; e 3949 covados de marca; e
514S varas, 7 dozavos de olanda; e IS covados e sesma de olam ; e
14. 822 covados, 11 dozavos de pardo de Castela; e 21.601 covados,
2 terças de pano de Castela; e 53 covados, 1 terça de pano de Fran-
ça; e 60 covados, três quartas de panos pretos aselados; e 10 cova-
dos e meo de pano de bedem; e 134 covados de pano mourisquo;
e 68 covados de picote; e 290 covados de pano papalvo; e 303 cova-
dos e 2 terças de perpenhão; e 42 covados e meo de ruão; e 1191
202 ESTUDOS
covados, 9 dozavos e meo de role; e r>2 covados e meo de sarja
de Veneza; e 1255 cevados e sesma de sarja; e 27 covados, 7 doza-
vos de sinabafa; e 707 covados de solia; e 672 varas e 11 dozavos e
nico de toalhas pêra mesa; e 60 covados de pano tum (tuunt); e 27
varas de tanaby; e 2150 varas, 3 oitavas de pano de varas; e 247
varas e 11 do/avos e nico de varas de londres; e 310 covados e meo
de vinta dousem; e 182 covados, 1 terça de vintém; e 141 almofa-
das de borcado e seda e sortes; e 11 alcatifas; e 46 lençoes de mui-
tas sortes; e 3 cubrecamas de ras; e 3 céos de figuras pêra cama; e 3
costaneiras com ouro, riquas; e 10 paramentos de cama de seda, e
doutras sortes; e 15 corrediças; e 80 guarda portas de brocado de
feguras e de muitas sortes; e 6 dorcees de borcado riquo, com for-
cadura; e 6 panos papul preto, de borquado e veludo; e 137 panos
de armar, de borquado e de seda, de muitas sortes; e 10 panos de
cadeira, de veludo e de seda, de sortes desvairadas; e 9 panos pêra
portapaz de borcado e seda, de muitas sortes; e 5 panos pêra estante,
de seda de toda sorte; e 2 sarjas; e 19 tapetes cie muitas sortes; e
2 tapizes de Levante; e 1 testeira de ras; e 9 colhelhas (colchas) de
seda e olanda; e 2 terçadas de espinete; e 46 corchões de olanda e
lenço; e 5 espaves de olanda e lenço; e 82fronhas pêra almofadas; e 33
fronhas pêra traveseiro, de olanda e fustão; e 12 almatequasdepanode
ouro, de borcado e veludo e seda, de toda sorte; e 43 alvas de olanda e
lenço; e 17 visti mentas e mantos de borcado e seda, de muitas sortes; e
6 cortinas de altar, de borcado e veludo e seda ; e 14 capas pêra a capela,
de borcado e veludo e seda, com savastros capelos; e 14 frontaes de
borcado e veludo e outra seda; e 17 fundas pêra livros; e 30 godo-
mecis (guadamecis) ; e 2 grinuaes (grimiaes) de borcado e damasquo;
e 21 alambel de toda sorte; e 109 lenções de olanda e mea olanda e
lenço; e 400 covados de lenço de Paris; e 17 cobertores de toda
sorte; e 344 onças de cravo; e 120 onças de canela; e 23 anates
de açafrão; e 1720 nosquadas (nozeadas); e 327 berneos; e 50 mesas
de toalhas de Paris; e 32 covados de meos eques; e 457 onças de
prata fiada e 6 marquos de Levante; e 355 covados, duas terças de
ourilhado ; e 23 panos pêra cima da sela, antretalhados de seda ; e 1 pa-
leo de borcado de pello, baixo; e 67 onças e mea de ruibarbo; e
147 reposteiros; e 1037 onças, 7 oitavos de retrós de cores; e 17õ
onças e 3 oitavos de retrós cremisim; e 83 sobrepelizias; e 25 selas
de muitas sortes; e 423 covados de tecidos de ouro e seda; e 22 teci-
dos de cingir; e 2 felizes pintados; e 6 trombetas; e 1 terçado; e 6
velas de tafetá; e 15 veiros; e 48 cotees de cordeiras; e 2 manteos
de gatos cervaes; e 55() arminhos; e 419 toalhas de olanda; e 2 ramaes
de alambres; e 14 alquices; e 5 arquei lias de seda; e 19 anates, 3 on-
ças de alacar; e 222 peças de almafega; e 23 abetos de pano de laã
de muitas cal idades; e 8 aljubetas de pano de laã; e 679 barretes de
laã, dobrados e singelos; e 13ò barretes e carapuças de seda; e 6 be-
quas de veludo e pano; e 11 balandrões de pano; e 590 calças; e
687 capuzes; e 1185 camisas; e 36 capelos de vistir; e 55 capa-; <.■
21 capotis; e 10 capelhares; e 241 gibões de cetim; e 1 gibom de
borcado raso; e 5 gibões de damasco; e 311 lobas e mahtões;
amarelotas (mariolas); e 1') mongis; e (» opas e 9 pelotes de seda; e
1204 pelotes de pano de laã; e () bastardos; e 2 tabardos de chama-
lote e damasquo; e 42 tabardos; e 69 caraminhelas ; e 103 cintos
O CAM \K'l IRO 293
lavrados de fio de ouro partido e de Fio; e 13 cordões pêra cavalos;
e 37 carapazões de borcado f veludo e seda, de sortes; e 15 espadas
riquas e goarnecidas; e 2 estoques; e 23 escravos, machos e fêmeas,
brancos e pretos, e (» forros; e l>74 varas de fita; e 37 goarnições; e
4() livros; e 3 punhaes; e 1 I gibanetes; e mitras muitas mercadorias,
panos, vistidos, assi de omens como molheres, e outras muitas cou-
sas, que por serem em grande cantidade, se nõ espreverão aqui, que
mui decraradamente na dita recadação são nomeadas. Dos quaes
70.183:750 reaes, com toda a dita prata, ouro e jóias, panos e cou-
sas, aqui e na dita recadação declaradas, que assi recebeo, nos deu
conta com entrega sem falecer cousa alguma. E por nos assi dar
conta. . . damos. .. a ele dito Rui Gil e a todo. -eus herdeiros por
quites e livres. . . Dada em Lixboa, a 13 dias dn mes de oytubro de
1514. E bem as^i quis e aprouve, etc. t3
O tesouro dei Rei era uma botica! Havia lá de tudo!
Não me espraiarei em considerações que seriam inter-
mináveis; notarei simplesmente que o documento trans-
crito revela-nos bem o viver da corte de D. João II, na
qual o seu Camareiro tinha, em resultado do valimento,
preponderância muito grande, infinitamente superior á
correspondente ao seu modesto oficio.
Antão de Faria era uma espécie de poder oculto,
tanto quanto seria possível se-lo com um soberano que
nem na aparência sequer admitia validos. Não me
pareceu, por tanto, fora de propósito a inclusão da carta
de quitação neste estudo acerca do Camareiro, ao qual
vou voltar, protestando fazer a dilijencia por não tornar
a divagar muito.
VI
Três homens notáveis, que me lembre agora, merece-
ram, apesar de apenas nobres, a massima confiança a
D. João II. Dois, Antão de Faria e Pêro da Alcáçova, con-
servaram-n-a todo o tempo ; o outro, António Carneiro,
perdeu-a em 1491. Serviram elles ao Rei nos negócios
13 Chancelaria de D. Manuel, liv. 11.", fl. 1 15; Iiv. 6." de Místicos,
fl. 137. Já foi impressa no Arcfi. hist. port. V, 442.
204 ESTUDOS
públicos, é certo, sobretudo o ultimo; mas era princi-
palmente nos seus negócios particulares, pessoaes, que
D. João !! os empregava de preferencia.
António Carneiro, sobrinho de Vasco Carneiro, cida-
dão do Porto, era um rapaz, que já desde 1482, pelo
menos, exercia o oficio de escrivão da camará dei Rei l,
não tendo alcançado porem carta de nomeação em forma
antes de 4 de fevereiro de 1490 -. A sua aptidão e
talento eram todavia de tal ordem, que, apesar da pouca
idade, mereceram completa confiança em negócios polí-
ticos e administrativos a D. João II, como claramente
o revela a relação dos livros e documentos, alguns
bem particulares e importantes, entregues pelo Escrivão
da camará por ordem dei Rei em 22 e 29 de setembro
de 1491, em Alemquer, para onde parece ter ido des-
terrado, quando caiu no desagrado do soberano ::.
1 Carta de 23 de maio de 1482 nomeando recebedor das sisas de
Tomar a [oão de Marecos. < Chancelaria de D. João II, liv. (>.",
fl. 4S v.).
2 Chancelaria de D.João II, liv. 1 /.°, fl. 43.
Rol dos papeis entregues por António Carneiro quando foi preso,
vol. II do Arch. Ilist. Perl., paj. 63. O caso, que motivou a prisão
de António Carneiro, havia de se ter passado entre 15 e 21 de setem-
bro de 1491. Na primeira data ainda elle fez um alvará, que se
em - ntra transcrito na confirmação de uma doação de D. Gonçalo
de Castelbranco aos Franciscanos de Xabregas (liv. 1 1." de D.João II,
fl. <)7); na segunda fui assinada no Varatojo a provisão ordenando
a entrega dos papeis. Quando terminou a pena imposta a António
Carneiro, não posso dizer ao certo; mas advertirei que na Dedacção
chwnologica, parte 2.;», demonstração 6.a, § 12, encontra-se um alvará
que se diz feito por António Carneiro em -1 de fevereiro de 1495,
parecendo indicar ter elle sido restituído ao seu oficio de escrivão
da camará ainda no reinado de D. João II. Não se pode porem daqui
colher a certeza do facto, porque a data do alvará não é aquella,
como já advertiu J. P. Ribeiro nos Additamentos á Synopsis chro-
nologica, paj. 157 e 296; a verdadeira é 4 de fevereiro de 1490, e
com el la se encontra o documento transcrito a fl. 57 do Livro das
Extravagantes de Duarte Nunez do Lião, na Torre do Tombo, e a
paj. õ74 do III vol. dos Inéditos de historia portuguesa.
Inclino-me porem a crer que tivesse sido perdoado ainda por
D. foão II, fundando-me no preambulo da carta de doação da ilha
do Príncipe, no qual se diz: "lembrando-nos db muito serviço que
O CAMAREIRO 295
Pêro da Alcáçova já não era novo, pois servira a
D. Afonso V, que em 1470 o nomeara escrivão da sua
Fazenda '', e no anuo seguinte o armara cavaleiro na
tomada de Arzila, para a qual elle muito concorrera
com as informações trazidas da missão em que fora en-
Antonio Carneiro, cavaleiro de nossa casa e escrivão da nossa camará,
fez a el Rei D. João, e como das cousas em que o encarregou, lhe
deu de si sempre mui boa coma e recado, polo qual sabemos que o
dito senhor tinJia vontade de lhe fazer mercê e acrescentamento; e
esguardando isso mesmo ao muito e mui continuado serviço que
depois até ora delle recebemos e nos faz», etc. Foi a carta passada
em Lisboa, a 7 de abril de 1500, e por ella fez D. Manuel doação
perpetua a António Carneiro, e a todos seus descendentes por linha
direita lejitima masculina, da capitania da ilha do Príncipe, "que
também se chama de Santo António, que é rio mar do nosso senho-
rio de Guiné» (Chancelaria de D. Manuel, liv. 21.", ti. IS v).
Mas, se não chegou a readquirir as boas graças de D. João II, é
comtudo certo, que logo no principio do reinado de D. Manuel
já António Carneiro estava outra vez servindo na corte. No inven-
tario da Torre do Tombo feito em 1532 diz-ze, que um alvará
de D. Manuel, de 17 de junho de 149o, fora expedido "com um
conhecimento (recibo) do Secretario António Carneiro,, (Arch. Hist.
Po/i., 111, 2QS). Parece por tanto estar elle já naquella data resti-
tuído ao seu antigo oficio de escrivão da camará; não era porem
ainda então secretario, como o intitulam na citada nota, explicando-se
o anacronismo por ella ser escrita em documento muito posterior.
António Carneiro foi nomeado secretario por carta de 16 de abril
de 1509 (Trigoso, Memoria sobre os secretários, na 2.a serie das Me/n.
da Academia, tom. I part. I, paj. 41), sucedendo no oficio a Jorje
Garcês, já finado em oitubro^ de 150S (Sepulturas do Espinheiro,
paj. 65).
Quanto ao motivo que deu causa á prisão de António Carneiro,
é caso ainda por averiguar, parecendo-me ter muita parte de romance
o geralmente propalado. No desterro para a ilha do Príncipe, fran-
camente não acredito; mas não darei as minhas razões para não
alongar mais esta nota, ja indisculpavelmente longa, se não se tratasse
de um ministro tão notável como foi o Secretario de D. Manuel e
D. João III.
1 Por carta dada em Palmella a 1 1 de agosto de 1470, declara D.
Afonso V ter então nomeado escrivão da fazenda a Pêro da Alcá-
çova, que era escrivão da fazenda de Guiné, e manda que dali para
o futuro esta escrevaninha da fazenda de Guiné se incorpore na da
fazenda de todo o reino, de que Pêro da Alcáçova e Henrique de
Figueiredo eram ao tempo os escrivães (Chancelaria de D. Afonso V,
liv. 16.°, fl. 57). Não encontrei a carta de nomeação de escrivão da
fazenda de Guiné, mas da carta de mercê de oito Moiros e seus
bens feita a Pêro da Alcáçova, consta elle já possuir aquella escreva-
ninha em 2 de novembro de 1404 (Ibidem, liv. S.°, fl. 17S).
296 kstudos
viado ao Rei de Fez3. Conservou-o D. João II naescreva-
ninlia da sua fazenda, e no seu testamento declara que
delia elle tinha o principal cargo.
Antão de Faria, homem novo, vivia mais junto do
soberano, que, se para a fazenda real tinha por admi-
nistrador e guardador a Pêro da Alcáçova, depositava
comtudo os dinheiros do seu bolsinho nas mãos do
Camareiro.
Querendo D. João II premiar o desassombro do Vigário
de Tomar, o dr. Pêro Vaz, desembargador que num
pleito havia sido o primeiro dos juizes a sentenciar
contra el Rei, por não lhe achar justiça, mandou-o ir
ter com Antão de Faria para lhe dar duzentos cruzados.
A um homem, que perdera duzentos mil reaes em vir-
tude de um alvará fundado em falsas informações, o
qual D. João II não queria revogar por outro a fim de
manter o prestijio da autoridade, encaminhou secreta-
mente para o Camareiro, com ordem de lhe entregar
os duzentos mil reaes, em oiro ''.
Todos, cônscios da privança de Antão de Faria; o
procuravam, quando alguma pretensão tinham dei Rei.
Já vimos Gaspar Jusarte, Diogo Tinoco e D. Vasco
Coutinho, dirijirem-se ao Camareiro, quando quiseram
denunciar as conspirações dos Duques de Bragança e
de Viseu; agora vamos ver um velho fidalgo, cheio de
serviços, jazendo no leito da agonia, aproveitar-se tam-
bém do valido para endereçar ao soberano uma suplica,
muda, mas intensa.
D. Pedro de Eça, alcaide mór de Moura, valente sol-
dado de Africa, e tanto da confiança de D. João II
que fora um dos três assistentes á execução do Duque
5 Carta de brasão de 14 de janeiro de 1490, no liv. u." da Chan-
celaria de D. João II, fl. 104, impressa a paj. 12 da Armei ria portu-
guesa, em apêndice ao Arch. Iiist. port.
" Resende, Vida de D.João II, ti. 58 v. e 02.
O CAMAR] IRO 207
de Viseu, estava á morte em Santarém, vila onde então
el Rei se encontrava. Mandou o fidalgo chamar Antão
de Faria a sua casa, e lhe rogou que dissesse a el Rei
como o achara, e lhe entregasse as chaves da fortaleza
de Moura, que lhe havia sido dada em sua vida somente.
Voltou o Camareiro com o recado para o paço, e
I). João II lhe disse, "que logo tornasse as chaves a
D. Pedro de Eça, e lhe dissesse, que aos taes cavalei-
ros, como elle era, não custumava tirar o seu a seus
filhos, mas antes lhe fazer muitas mercês; que tomasse
as chaves, e que a fortaleza, e quanto delle tinha, re-
partisse por seus filhos á sua vontade, como cousa sua
própria, e mandasse fazer os despachos,, '.
Esta cena afectuosa havia de se ter passado no ve-
rão de 1491 , anno em que D. João II residiu em San-
tarém, ou nas suas vizinhanças, desde meado maio até
meado setembro s; e onde não tornou antes de 30 de
oitubro de 1492, quando já D. Pedro de Eça era fale-
cido 9.
Assim como D. João II, quando se irritava, incutia
terror no aspecto, nos olhos injectados de sangue, e na
tremula e fanhosa voz, que ainda mais então lhe tar-
dava; assim pelo contrario, quando não tinha preo-
cupações que o desgostassem, era a sua presença agra-
dável, e folgava de se divertir na sua brilhante corte, a
mais luzida que houveram reis portugueses.
Faziam-se caçadas, montearias, toiradas, corridas de
cavalos, porfias de lutadores, justas, e outros jogos, nos
: Resende, Vida de D.João //, ti 89 v.
M/r//, fiist. port., II, 342.
9 Na referida data foi passada uma carta de doação da portajem
e direitos da moiraria e judiaria de Moura a D. Rodrigo de Eça,
filho de D. Pedro, já então falecido. Chancelaria de D. João //,
liv. 7.o, fl. 101 v.
208 ESTUDOS
quaes tomavam parte el Rei e os fidalgos; mas não se
pensava só nos exercícios físicos. Com elles entreme-
tiam os do espirito, ás noites, nos serões, nos quaes,
alternando com as dansas dos cortesãos, se escutavam
as trovas dos poetas, se viam os entremêses, se gozava
da musica dos ministreis, se aplaudiam os bailos dos
Moiros e Moiras, se admiravam as retortas moiriscas nas
quaes as Donzellas do paço, invencionadas em riquíssi-
mos e bem apropriados trajos musulmanos, excitavam
com sua formosura e gentis meneios o mais vivo en-
tusiasmo, e faziam pular no peito os corações dos
fidalgos e nobres da corte.
Pêro que tenha jurado
de me nunca namorar,
por vossa fylha balhar,
meu juramento he quebrado.
E, se nam fossa revolta
que disto se seguiria,
loguoje deprenderia
a fazer mourisca volta.
Eu quero ser vosso genrro
antros outros servidores,
porque sam hum omem tenrro,
na ydade dos amores '".
Estas trovas, depois de ter assistido a uma retorta
moirisca no paço, endereçava Diogo de Pedrosa ao
Coudel mor, que julgo ser Fernão da Silveira, o qual,
apesar de
huma aguea temorosa,
de quatro pedras cercada,
no meo doutra assentada,
por armas oos de Pedrosa
antiguamente ser dada ",
correu, também em verso, com o presunçoso galante.
10 Cancioneiro geral, fl. 57, col. 5.
11 Ibidem, fl. 116, col. 4.
O CAMAREIRO 290
I >oce baylo de mourisca
mil sentidos faz perder,
e lá mete numa tal trisca,
que é iiuiv má de guoarecei .
Quer sejays dure, quer tenrro,
procuray vossos favores;
mas sobre conpadre, jenrro,
duvydam nyss'os doutores12.
E assim, D. João II e os cortesãos, se divertiam ale-
gremente nos salões, ao passo que lá dentro, nou-
tra camará Afastada, socegadamente, D. Diogo Ortiz,
Bispo de Tanjer, o Calçadilha como lhe chamavam
até em documentos oíiciaes, e os Judeus mestres
Rodrigo e Josepe, "a quem el Rei cometia estas cousas
da cosmografia e seus descobrimentos » 1:!, estudavam
com outros sobre os tratados, mapas, e instrumen-
tos, a melhor forma de proseguir nas navegações, e
de alcançar os descobrimentos por que D. João II ali-
ciava.
Era um rei, este homem!
Aos saraus do paço concorria o Camareiro, que tam-
bém as vezes versejava.
Garcia de Resende conservou-nos no Cancioneiro
umas trovas de Antão de Faria, que por poeta se não
distinguiu, valha a verdade, as quaes são comtudo pos-
teriores á morte de D. João II, pois foram feitas a pro-
pósito de uma "grande carapuça de veludo, que os
Castelhanos chamam gangorra,,, com a qual no verão
de 1406, antes de agosto, veio de Castella o aio do
Duque de Bragança D. Jaime, Lopo de Sousa, que de-
pois foi senhor do Prado, e era filho da neta de mestre
João e da Moira, aquella
12 Cancioneiro geral, fl. 57, col, 6.
11 Ásia dcjoain de Barros, l.a década, fl. 37 v.
JOO ESTUDOS
. . . Maria Pinheira.
mãe tia mãe daquelle Conde,
que é < )onde da ( Castanheira ' '.
As trovas de Antão de Faria, provocadas por uma
alusão de D. Garcia de Castro, que também apodara a
gangorra, são estas:
Se nam fosse por pendença,
eu certo nam na traria,
peso com que dom Garcia
nunca fará reverença;
porque mais leve seria
o morrião,
com quele foy ter o chão ' '.
Num dos taes saraus, em Setúbal, aí por 1488, mais
anuo menos anno, se leram aquelles Porquês, sátira
anónima aparecida no paço, que tanto brado então
daria, e pela qual se patenteou mais uma vez, que nos
livre Deus dos oficiaes do nosso oficio. Lá preguntam
as trovas:
Porque Pêro de Bayam
diz mal d'Antam de Paria?"'
Por quê? —Porque Pêro de Baião havia sido no-
meado, por carta de 23 de maio de 1486, camareiro e
guarda roupa do Príncipe D. Afonso, "pela guisa por
que o Antão de Faria é nosso., ''. O Camareiro, que
estava no chão, não podia ver sem inveja o outro que
poisava no poleiro. Eram dois galos; com a diferença
porem, de um só ter piado nas intrigas da corte, ao
passo que o outro ainda hoje canta na historia.
Mais vestijios da presença de Antão de Faria nos
n Existe uma variante para o ultimo verso, que ás vezes se encon-
tra substituído por este: e sua avó verdadeira.
15 Cancioneiro geral, fl. 160, col. 5.a
"' Ibidem, foi. 175, col. 2.a
r Chancelaria de D.João II, liv. 19.", fl 36 V.
O (AM \k'l [RO 301
serões e divertimentos do paço não me ocorrem, e são
tão poucos os encontrados que só quasi por ilacção me
permitem determinar a sua comparência naquclles fol-
guedos.
Depois veio a morte do Príncipe, e pararam por al-
gum tempo as festas. Voltaram porem, não tão brilhan-
tes, mas tornaram, porque o terrível golpe não despe-
daçou completamente o coração de D. João II, que no
filho, "de car^a inglesa.. |s, e génio brando como seu avô
D. Afonso V, não via um sucessor enerjico, capaz de
seguir e manter a sua politica; e isto foi, no dizer de
Resende, a causa que suavizou a tremenda dor. Sobre-
vieram porem os padecimentos da doença, as angus-
tias do prossimo fim, e em todo este tempo teve
D. joão II por companheiro a Antão de Faria, seu fiel
amigo, dedicado criado, e leal conselheiro, que lhe não
regateou desvelos, carinhos e avisos.
VII
Recuperara a Rainha a saúde, perdida em maio de
1494 em Setúbal, onde adoecera gravemente, e reco-
meçara entre os réjios esposos a terrível porfia ori-
jinada na nomeação do sucessor á coroa, contenda
feroz já esboçada no meu estudo acerca da Rainha
D. Leonor, quando, ainda no verão desse anno, os
padecimentos de D. João II se agravaram terrivelmente,
e os médicos classificaram a sua moléstia de "clara e
mortal hidropesia,,. Apesar porem do precário estado
fisico, conservava-se o espirito tão são e desembara-
18 Viaje de Nico/as de Popielovo, já cit., paj. 27.
302 ESTUDOS
çado, que permitia a el Rei pensar nos negócios do
listado e desvelar-se pela sua defensão.
Neste tempo, lá em Setúbal, D. João II, "que sabia
muito de artilharias, cuidando muito nisso para melhor
guardar sua costa „, inventou e adoptou o sistema de
montar em pequenas caravelas grandes bombardas, ati-
rando tão rasteiras, que as balas, correndo quasi á flor
da agua, iam ferir as embarcações inimigas na linha de
fluetuação. Foi este invento que durante muito tempo,
no parecer de Resende, tornou tão temidas no mar as
nossas esguias e lijeiras caravelas, ás quaes, por facil-
mente se safarem, não podiam as naus grossas causar
prejuízo com seus tiros '.
Também por esses tempos mandou el Rei levantar
uma torre em Cascaes; ordenou a construção da fortaleza
de Caparica, depois chamada a Torre Velha; e planeou
a edificação doutra torre fronteira a esta, em Belém,
para a qual Resende deu o desenho -, obra posterior-
mente realisada por D. Manuel, sobre outro projecto, e
que ainda hoje vemos, mas toda enfarruscada de pó e
fumo de carvão, como jóia mal estimada.
Estas foram quasi as ultimas centelhas do grande
espirito.
No principio do inverno, por o ar umido do mar
lhe não convir, passou D. João II para Évora, onde a
doença ainda recrudesceu,, e o prostrou por forma, a
obriga-lo a nomear uma espécie de conselho de rejen-
cia para despachar os negócios públicos', e a começar
a assinar de chancela os diplomas. Em julho entrou
naquella cidade a peste, e, fujindo a ella, dirijiu-se el
1 Resende, Vida de D. João II, cap. ISO, fl. 109 v.
- Ibidem.
'■ tina das pessoas, em quem D.João II delegou os seus pi »de-
res, foi D. Rodrigo de Castro, "assistente por S. A. nas comarcas de
Entre Tejo e Odiana, e reino do AlgarveH (Areh. hist. port., IV ](>S).
O CAMAREIRO 303
Rei com a Rainha e alguns, poucos, cortesãos para as
Alcáçovas, onde permaneceu até ao começo de oitubro,
seguindo então para o Algarve.
Durante a estada nas Alcáçovas teve logar a defini-
tiva victoria da Rainha e da lejitimidade; lá dictou
[). João II o seu testamento, em 29 de setembro de
1405, tendo-se encerrado na sua camará com seu con-
fessor o padre Fr. João da Povoa, que foi quem escre-
veu todo o documento. Níio ha, não pode haver duvi-
das; o próprio testador o declara: "e porque com
minhas grandes ocupações eu não pude escrever por
minha mão todo este meu testamento, encomendei e
mandei ao padre Fr. João da Povoa, meu confessor, que
mo escrevesse por sua mão, como o elle mui verdadei-
ramente fez,/'.
O testamento ainda não tinha sido impresso, que eu
saiba, mas existia na Torre do Tombo, onde ainda hoje
se guarda, quando em 1639 D. Agostinho Manuel de
Vasconcellos mandou estampar em Madrid a sua Vida
y acciones dei Rey D. Juan èl Segundo. Este historiador,
que escreveu lonje dos documentos ou pelo menos sem
os consultar, declara na paj. 331, dando certo credito
a lendas de família, haver encontrado entre alguns
cavalheiros descendentes de Antão de Faria a tradi-
ção de ter o testamento sido escrito pelo próprio Ca-
mareiro, o qual, segundo ella, exercia então o oficio
de escrivão da puridade. A seguir acrescenta: "i por-
que las noticias que se fundan en alguna probabilidad
enriquecer! las Historias, i es justo entregarias a los
curiosos, diré puntualmente lo que tengo oido, sin
aprovado, ni condenarlo.,, Como em Portugal, infeliz-
mente, quasi só curiosos tem havido em Historia, foi
4 Testamento de D.João 11, impresso, com muitas incorrecções,,
advertirei, no II vol. das Provas da Hist. genealógica, paj. 167.
304 ESTUDOS
a tradição, apesar de falsa, adoptada por muitos até ao
presente.
Dizia cila, que, chegando o testamento á altura do
testador designar o herdeiro da coroa, dictara D.João II
o nome de seu filho bastardo D. Jorje, e que então o
Camareiro poisara a penna, negando-se a escrever tal
coisa, e ponderara enerjicamente a el Rei os inconvenien-
tes de tão desastrada nomeação. Agastou-se D. João II
ao principio, mas por fim, reconhecendo os bons argu-
mentos de Antão de Paria, cedeu, e ordenou-lhe que
assentasse no testamento por sucessor da coroa ao
Duque D. Manuel.
Se a tradição fosse verdadeira, apresentava-nos ella
um facto de certo muitíssimo honroso, tanto para a pru-
dência do Rei, como para a ousada lealdade do amigo;
mas tal caso não sucedeu, pelo menos na ocasião e
na forma apresentada por D. Agostinho Manuel. Alguma
coisa houve naquelle sentido, estou disso persuadido,
mas passou-se antes da feitura do testamento, porque,
quando a ella se procedeu, já a resolução dei Rei a
respeito da sucessão da coroa estava tomada. A prova
disto existe no facto, já por mim apontado quando tratei
da Rainha D. Leonor, de D. João II ter consentido em que
ella, antes do testamento escrito, fosse a Viana de Alvito
ter com sua mãe e sua irmã, a dar-lhes parte do tão
desejado desfecho.
Estou porem persuadido, repito, de haver Antão de
Faria com seus conselhos, e nessa parte tem algum fun-
damento a tradição, concorrido eficazmente para resolver
el Rei a nomear a coroa no Duque de Beja, e deste o
ter sabido, encontrando a prova de tudo nalgumas muito
notáveis palavras, que documentos de D. Manuel, já
Rei, nos conservaram.
Numa carta passada em Évora, a 24 de maio de 1407,
de cento e vinte mil reaes de tença, sendo cincoenta e
O CAMAREIRO 305
nove mil quinhentos e sessenta e quatro em satisfação
do oficio de cevadeiro mór, e sessenta mil e quatro-
centos e trinta e seis pelo de camareiro, na razão de
cincoenta e um mil quatrocentos e trinta e dois reaes,
equivalente á moradia de conselheiro, e de nove mil
e quatro reaes para arredondar a conta; na tal carta,
repito, diz D. Manuel: "Havendo nós respeito aos muitos
e muito continuados serviços que Antão de Faria, do
nosso Conselho, tem feitos a el Rei D. João, e espera-
mos que ao diante nos faça, e querendo-lhe fazer graça,
e mercê, etc.n •'.
Estas palavras, já significativas na boca de D. Manuel
a respeito do antigo confidente e servidor de D.João II,
são ainda muito excedidas pelas seguintes, realmente
memoráveis, e que constituem um completo e insus-
peito panejirico das acções de Antão de Faria: "El Rei
D. João, havendo respeito á muita criação que Antão
de Faria, do nosso Conselho, e seu camareiro e ceva-
deiro mór, tinha recebido dei Rei D. Afonso, e aos
grandes e continuados serviços de longo tempo e de
muita fiança, que delle tinha recebidos, que a sua pessoa
e estado tocavam, e assim outros que nestes reinos e
fora delles, nas guerras de Castella e partes de Africa,
onde o sempre em tudo bem e grandemente serviu,
por onde lhe era em obrigação de fazer acrescenta-
mento e mercê, e assim aos que delle descendessem 6,
e querendo-lhe em alguma parte galardoar os ditos ser-
viços, lhe fez mercê, etc E havendo nós respeito a
seus merecimentos, e bons serviços que a nós tem feitos,
'■' Chancelaria de D. Manuel, liv. 31. o, fl. 70.
6 Se precisasse de mais prova da não fidalguia de Antão de Faria,
encontrava-a frisante neste documento. Em nenhum análogo desses
tempos, passado a fidalgo, se deixou, entre os mais considerandos,
de fazer referencia aos serviços daquelles de quem o agraciado des-
cendia. Esta era até, pouco mais ou menos, a formula oficial.
20
30Ò ESTUDOS
e ao diante esperamos que faça, e querendo-lhe fazer
graça e mercê,;, confirma-lhe, em Lisboa, a 20 de março
de 1498, a pensão dos tabeliães de Faro, e dá-lhe cento
e setenta mil reaes de tença, em quatro vidas, pelos
direitos de Évora Monte e outros bens que haviam per-
tencido ao Duque de Bragança e a seu irmão D. Álvaro ".
E bons serviços que a nós tem feitos ?— Quaes eram
esses serviços?— Nenhuns outros podiam ser, alem dos
prestados no caso da sucessão da coroa; porque na
carta passada em Setúbal, a 27 de abril de 1496, de
confirmação a Antão de Faria de todos os grandes pri-
vilejios a elle outorgados por D. João II, declara
D. Manuel terminantemente, confirmar-lhos, "posto que
agora não seja nosso oficial, nem ande na nossa corte,, s.
Não sendo seu oficial, nem andando na sua corte,
não pudera Antão de Faria haver servido a D. Manuel
como rei; mas havia-lhe prestado valiosíssimos obsé-
quios antes, em quanto Duque de Beja e lejitimo su-
cessor da coroa, e foram esses que D. Manuel, ainda
então não ingrato, se não esqueceu de premiar.
D. Agostinho Manuel, continuando no logar citado
a referir-se ao Camareiro, escreveu vários desacertos por
não conhecer os documentos; e lá vem também com a
sabida cantata, muito repetida em casos análogos, de
não ter D. João II premiado condignamente os serviços
do seu fiel servidor. Antão de Faria foi um homem de
bem, que se não aproveitou da confiança do soberano
para o defraudar nos seus haveres, nem do seu vali-
mento politico para se enriquecer. Nesses tempos, antes
do descobrimento da índia, raríssimas vezes, se as houve,
serviu a politica para adquirir meios, mais ou menos
: Chancelaria de I). Manuel, liv. 31. o, fl. 75 v.
s Ibidem, liv. vi.", fl. 33 V.
O CAMAREIRO 307
licitamente. Depois de nos termos transformado em
tratantes do comercio oriental, começou ella a servir
de escala para o saque, e o uso, para este fim delia
feito, foi sempre crescendo, generalizando-se hoje por
forma, que, infelizmente, quasi só para isso e por
isso é procurada. Da índia pouco resta; o mais domínio
ultramarino ir-se-ha; mas a traficancia politica perma-
neceu, e medrará.
Antão de Faria não foi muito rico, mas os seus ser-
viços foram bem premiados por seu amo, que o nobi-
litou, dando-lhe senhorios de terras, alcaidarias mores,
comendas e ofícios, que não eram só honoríficos,
mas também rendosos. Quando o antigo Camareiro
morreu, possuía não só alguns bens próprios, casas em
Lisboa, quintas e prédios nos Olivaes, uns adquiridos,
outros herdados de seu. sogro, como também percebia
rendimentos importantes da coroa. Desfrutava elle, alem
das pensões dos tabeliães de Faro, e dos direitos da
alcaidaria mór de Palmella e da comenda de Valada
na Ordem de Cristo '', duas tenças na importância
total de duzentos e noventa mil reaes, quantia bem
considerável para o tempo, e mais doze mil reaes da
graça ordenada ás mil e duzentas coroas, de cento
e vinte reaes cada uma, do seu casamento. E tudo isto,
por especial deferência de D. Manuel para com elle, lhe
era pago no almoxarifado de Setúbal por carta geral
dada em Lisboa, a ó de março de 1499, e pela qual
el Rei ordenou ao Almoxarife daquella vila, que apar-
tasse annualmente para pagamento de Antão de Faria
todo o rendimento das sisas de Palmella, sem delle
9 Não ha duvida de ter Antão de Faria desfrutado a comenda
de Valada, como atrás fica dito; o que não sei comtudo, por terem
desaparecido os livros antigos da Ordem de Cristo, é se elle até
ao fim da vida esteve de posse da comenda.
30S ESTUDOS
distrair qualquer quantia antes do antigo Camareiro
estar inteiramente satisfeito ;".
Feito o testamento, foi aprovado no dia 30 de setem-
bro, servindo de notário Rui de Pina, e ficou "posto em
mão de Antão de Faria,,, como no próprio documento
se lê. Deste facto já tirei uma conclusão, a da confiança
do Rei no seu Camareiro; agora vou tirar outra, a
de que este sabia a principal disposição exarada no
documento, a da designação do sucessor da coroa.
Depois seguiu-se a triste peregrinação pelo Algarve,
aquella via sacra de martírios físicos e moraes, na qual
o Camareiro acompanhou o Soberano, e com elle,
quando veio o descanço com a morte, estava em Alvor,
apesar dos cronistas o não nomearem; mas consta,
porque alguns documentos então lá passados foram
escritos por Antão de Faria, e porque o testamento,
a elle confiado, foi aberto logo que D. João exalou o
ultimo suspiro.
Nelle, no testamento, apareceram as derradeiras pro-
vas da estima e confiança, que a el Rei merecia o seu
Camareiro.
VIII
Aberto o testamento de D. João II, encontraram-se lá
estas referencias a Antão de Faria :
"Item, logo como fôr meu fallecimento, mando que
se digam por minha alma três mil missas . . . e aos que
ouverem de dizer estas missas lhes será feyta esmola
'" Chancelaria de D. Manuel, liv. !(>.", fl. 36.
O CAMAREIRO 309
de tres mil reaes de prata desta moeda ora corrente de
ley de onze dinheiros, que cento e dezasete peças fazem
hum marco, os quaes sam em poder de Antam de Faria,
que pêra esto tenho apartados.
"Item, porque tenho muita devaçõ nas obras da
caridade, que sam muito acceptas a nosso Senhor e pro-
veitosas pêra as almas dos que as fazem, e hedificam e
consolam os próximos, mando que se despendam mil
e quinhentos e xx justos douro da moeda que ora
corre de triinta e biij" peças em marco de ley de viinte
e dous quirates, em esta maneira que se segue, a saber:
a quorenta e huma orfaãs pêra ajuda de seu casamento,
a cada huuma delias, vinte justos; e pêra ajuda de tira-
rem quorenta e hum cativos portugueses, os mais des-
emparados que se acharem, outros viinte justos a cada
hum. Os quaes justos, com este meu testamento, tenho
postos em maão de Antam de Faria, meu camareyro e
do meu conselho, e lhe tenho mandado que delles nõ
se faça outra nenhuma despesa; e porque já destes di-
nheiros mandei despender alguuma parte, e cada dia
se despendem nas sobredittas cousas, quero, e me praz,
que lhe seja levado em despesa todo o que mostrar ter
despeso por meos alvaraaes.
"Item, estabelleço, e ordeno, e escolho por meu tes-
tamenteiro o dito Duque, meu primo (D. Manuel), . . .
e todo o que a descargo de minha concientia e salvaçõ
de minha alma comprir de fazer, ordene com o conselho
do bispo de Tanger dom Diego Ortiz, e do doutor
Fernã Rodriguez, adayam de Coymbra, e do padre
frey Joam da Povoa, meu confessor, e de dom Diego
d'Almeida, prior do Crato, e de dom Álvaro de Crasto,
meu veedor da fazenda, e de Antam de Faria, meu ca-
mareiro e do meu conselho; e queria que Pêro da Al-
cáçova escrevesse em qual quer cousa que for necessa-
310 ESTUDOS
ria de se escrever pêra o comprimento deste meu testa-
mento. F queria, quando estes todos podessem ser
presentes em estas cousas, se fezessem todas com elles:
E em caso que alguuns sejam absentes, se façam com
quem o dito Duque, meu primo, ouver por bem l.»
Pertenceu por tanto Antão de Faria ao conselho testa-
mentario nomeado por D. João II; mas não foi seu
testamenteiro, como diz Manuel de Faria e Sousa,
o inventor, ou pelo menos o divulgador pela imprensa
da fantástica genealojia dos Farias -. Creio porem, que
poucas vezes se reuniu aquelle conselho; não atribuo
por tanto a isso o facto de ter Antão de Faria seguido
ainda algum tempo a corte, apesar de nella não andar,
nem servir mais desde a morte de seu bemfeitor, o que
já ficou provado por um documento passado seis meses
depois, e o tornará a ser por outro a que logo me refe-
rirei. A causa foi diversa. Cumpriu porem satisfactoria-
mente as obrigações que o testamento lhe impuzera a
respeito das missas e dos dotes e resgates, como declara
a respectiva carta de quitação, dada em Lisboa, a 30 de
junho de 1502 :!.
Nella declara D. Manuel haver Antão de Faria, do seu
Conselho, recebido, em vida de D. João II, novecentos
e setenta e dois mil reaes, sendo novecentos e doze mil
para casar órfãs e tirar cativos, e sessenta mil para se
dizerem três mil missas, os quaes dinheiros todos dis-
pendeu "por seus mandados e nossos,..
Existe porem um erro de conta nestes dinheiros, o
1 Gaveta XVI, mac. 1.". n.o 16 D.João II escolheu quarenta e
um órfãos e quarenta e um cativos por esse numero corresponder
á sua idade.
2 Notas ai Nobiliário dcl Conde D. Pedro, paj. 675 da edição de
Madrid, e Europa portuguesa, vol. II, paj. 466.
3 Cartas de quitação dei Rei D. Manuel, n.o 90, Are/i. Hist. Port.,
vol. I, paj. 287.
O CAMAREIRO 311
qual eu não sei bem explicar. Mandou D. João II no
testamento que se gastassem mil quinhentos e vinte
justos em dotes e resgates, e desta quantia foi passada
a quitação, por isso que, valendo o justo seiscentos
reaes brancos, os novecentos e doze mil reaes corres-
pondem aos mil e quinhentos e vinte justos. Não está
aqui o engano; nem no dinheiro das missas, porque os
três mil reaes de prata equivaliam aos sessenta mil
brancos da carta de quitação; o erro está no testamento.
Nelle declara o testador, que os dotes serão quarenta e
um, e os resgates outros tantos, tudo a vinte justos por
cabeça; ora vinte vezes oitenta e dois são mil seiscentos
e quarenta, e não mil quinhentos e vinte; que aplicação
tiveram por tanto os cento e vinte justos, ou setenta e
dois mil reaes, que faltam? Provavelmente estariam
gastos quando o testamento foi feito, pois que nelle se
alude a algumas despesas já realisadas relativas aos taes
dotes e resgates.
Este não é agora o*caso; mas não me surpreendem
muito erros de conta em cartas de quitação. Tenho-os
encontrado frequentes vezes, e só se podem explicar, ou
pela falta de designação nos reaes serem de prata, ou
pretos, e não brancos, que eram a moeda corrente,
ou então por erro de cópia dos escrivães encarregados
de passar as cartas orijinaes para os cadernos do rejisto.
Existem mais três cartas de quitação dadas a Antão
de Faria.
A primeira foi passada em Lisboa a 17 de junho de
14Q6, e diz respeito a certos dinheiros recebidos por
ordem de D. João II; mas infelizmente não designa a
aplicação a elles dada. Por não omitirem esta parte,
são muito mais interessantes as cartas de quitação de
D. Afonso V. Os taes dinheiros, pelo Camareiro arre-
cadados, foram quarenta mil dobras de oiro de S. Jorje
312 ESTUDOS
e mil e sessenta cruzados, tudo entregue por Fernão Lou-
renço, tesoureiro de Guiné; quatro mil e oitocentos e um
cruzados, recebidos de António Pirez Bode; e um conto
e vinte mil reaes de Lopo Mendez, feitor da Casa de
Guiné. Também na mesma carta se deu quitação a An-
tão de Faria de vinte e quatro mil setecentos e qua-
renta e nove cruzados, gastos no lavramento de vinte
e urna mil duzentas e dezanove dobras de oiro de
S. Jorge '.
A segunda refere-se ao exercício do oficio de ceva-
deiro mór nos annos de 1490 a 1495, nos quaes recebeu
cento e vinte e oito moios, vinte e três alqueires, e três
quartas de trigo, e dois mil duzentos e setenta e seis
moios, catorze alqueires e quarta de cevada. Foi passada
em Lisboa, a 8 de fevereiro de 1498 '.
A terceira, finalmente, diz o seguinte: "Fazemos saber,
que, por falecimento dei Rei D. João, Antão de Faria,
do nosso Conselho, e camareiro e seu guarda-roupa,
entregou por nosso mandado a Fernão Lopez Correia,
nosso guarda-roupa, todalas cousas que tinha recebidas
da garda-roupa do dito Senhor, e, por assim ter entre-
gue, o damos por quite, etc, Foi passada em Lisboa,
a 30 de junho de 1502 6.
Por esta ultima carta claramente se vê ter Antão de
Faria largado imediatamente o oficio de camareiro, e
não haver sido, como alguns pretendem, convidado para
o continuar a servir pelo novo soberano, que lhe deu
ordem para tudo entregar ao seu Guarda-roupa, o qual,
comtudo, não era o nomeado na posterior carta de qui-
tação. Por isto mais uma vez se confirma não ter nunca
Antão de Faria servido na corte de D. Manuel, da qual
' Cortas de quitação dei Rei D. Manuel, xifl 87!
1 I liidcm, n." 88.
'' Ibidem, n.° 89.
O CAMAREIRO 313
se afastou, assim que pôde, para viver sdcegadamente
na sua casa em Lisboa.
O apartamento não foi logo em seguida á morte de
D. João II, nem podia ter sido, não só por causa dos
negócios do testamento, mas sobretudo por ter de fazer
a entrega dos variados e valiosos objectos da camará e
guarda-roupa do falecido monarca. Ao novo soberano
acompanhou pois Antão de Faria algum tempo, mas
sem o servjr. Com elle se encontrava em Setúbal,
quando para lá transferiu a corte em princípios de
abril de 1406, seguindo-o no verão para Lisboa. Em
Évora estava na primavera do seguinte armo, no fim do
qual com el Rei tornou para a capital, onde parece ter
então assentado definitivamente a sua residência.
Não posso asseverar que tudo, sem discrepância, se
passasse por esta forma, apesar de me ter guiado pelas
datas dos documentos dados a Antão de Faria, muitos
dos quaes já estão citados.
Em Setúbal, na primavera de 149ó, estava elle com
certeza, o que consta, não só pelas datas de duas cartas,
mas também pelas trovas por esses tempos compostas
naquella villa, e já do Cancioneiro transcritas noutro
capitulo.
Lá viu elle, e Deus sabe com que magoa, a obra
politica do seu rei começada a destruir. Lá viu a en-
trada festiva e victoriosa dos maiores inimigos do Prín-
cipe Perfeito, os Braganças. Lá ouviu os vitupérios dos
seus criados, falas tão publicas e deshonestas, que D. Ma-
nuel teve de as mandar reprimir. . .
Precisou fujir. A saudade pelo amigo, a admiração
pelo rei, a pena pela querida memoria tão desrespei-
tada, tudo levava Antão de Faria a desaparecer, a viver
da recordação do passado. Encerrou-se o Camareiro nas
suas casas da porta da Alfôfa, e aqui, ou na sua quinta
dos Olivaes, viveu obscuramente, afastado de tudo.
314 ESTUDOS
Nos seguintes capítulos referir-me-hei ás suas casas
de Lisboa, e ao que puder apurar da sua família e vida
particular.
IX
Antão, Lourenço e Garcia de Faria eram irmãos, e
todos três filhos de João de Faria e de Mór Vaz.
Em 1504, em Évora, sendo Antão casado com Leo-
nor Gonçalvez de Oliveira, e Lourenço com Maria da
Agua, celebrou-se entre ambos, por falecimento de Gar-
cia, uma escritura de concerto sobre a partilha dos bens
de seus pais. Pelo mesmo instrumento também consta
serem os três Farias meios irmãos de um Nuno da Sil-
veira marido de Ana Metello '.
Aquelle documento, que se diz ter existido no car-
tório do cabido de Évora, onde o não encontrei, susci-
tou-me alguma duvida, quanto á sua autenticidade,
por nelle o nome da mulher de Antão de Faria não
condizer com o que se lê no instrumento de 4 de feve-
reiro de 1511 de instituição de vinculo, onde ella se
1 "No cartório deste cabido (de Evóra) está o concerto que fizeram
Antão de Faria e sua mulher Leonor Gonçalves de Oliveira por morte
de seu irmão Garcia de Faria, Estribeiro mór dei Rei D.João II, com
seu irmão Lourenço de Faria e sua mulher Maria da Agua, nas par-
tilhas de seus pais João de Faria e Mór Vaz, e se declara serem os
ditos meios irmãos de Nuno da Silveira, marido de Anna Metello.
Évora, 1^04... Sr. José de Azevedo e Meneses, Ninharias, artigo no
Jornal do Coinnurcio, de Lisboa, no numero de 22 de maio de 1902.
Em outro artigo, no numero de 22 de julho seguinte, acrescentou
o autor: "A descoberta de tal filiação (de Antão, Lourenço e Garcia
de Faria) é de Sebastião Leite de Faria e Sousa, que viveu no sé-
culo XVIII, e foi deputado do Santo Officio em Évora, aonde viu no
cartório do Cabido o citado concerto de partilhas feito em lõ()4 . . .
Sebastião Leite. . . deu a noticia do achado a João Alvares, Abbade
de I smeriz, e autor do meu nobiliário manuscrito em cinco grossos
volumes, etc.»
O CAMAREIRO 31 5
encontra nomeada Leonor Gonçalvez somente'-. No
contrato porem de instituição de capella; celebrado
a S de julho de 1504, declara-se estarem presentes
"Antão de Faria e Leonor Gonçalvez de Oliveira sua
molhei*.. :í. Fica pois desvanecida a duvida, tanto quanto
é possível a respeito de um documento desapare-
cido e unicamente apontado por genealojistas; mas
aceito-o, não só por elle vir destruir as primitivas asser-
ções daquelas escritores quanto á filiação e fidalguia do
Camareiro, confirmando as indubitáveis ilacções tiradas
de todos os outros documentos meus conhecidos; como
também, por explicar dois pontos, que me davam que
pensar. Primeiro, a coincidência de três rapazes Farias
serem nomeados quasi sucessivamente, em menos de
anno e meio, para oficios menores da casa do Príncipe;
segundo, o motivo da escolha de gente tão nova na
corte.
Ambos os pontos ficam esclarecidos: os rapazes eram
irmãos; os serviços do pai, e a simpatia que elle me-
recera ao Infante D. Pedro, determinaram a escolha.
Do parentesco existente entre os três Farias, já eu
desconfiava, e tanto, que a respeito de Antão e de Lou-
renço logo no primeiro capitulo o dera a entender; da
razão porem, que motivara a eleição, é que não suspei-
tava.
João de Faria, pai dos três, era um modesto peão,
natural talvez de Évora, a quem, não sendo ainda nem
sequer escudeiro, foi dada em Lisboa, a 17 de fevereiro
de 1439, carta de coudel de Évora e seu termo, e do
logar de Montoito, por cinco annos, contados do 1.° do
mês de março precedente. No documento declara-se
- Chancelaria de D. Manuel, liv. 15.°, fl. 57 v.
:i Liv. l.o das Escrituras do Convento da Graça de Lisboa, fl. 33,
na Torre do Tombo.
316 ESTUDOS
ser elle nomeado, "sem embargo que ora seja orde-
nado de tirar todolos coudeis como acabarem de ser-
vir os cinco annos, por que tinham as coudelarias,
por quanto os homens bons da dita cidade mandaram
pedir nas Cortes de Leiria (janeiro de 1438), que fosse
tirado de coudel, e el Rei respondeu que não queria,
porque o havia por bom coudel,, '. Quem, á data da
carta, respondeu pela boca de D. Afonso V, então criança
ainda, foi o Rejente do reino, o Infante D. Pedro.
Não desmereceu comtudo, apesar da amisade do
Infante, o antigo Coudel de Évora no conceito dei Rei,
que lhe tornou a dar a mesma coudelaria, por outros
cinco annos, por carta passada naquella cidade a 3 de
março de 1450, sendo João de Faria a esse tempo
escudeiro, vassalo, e morador na capital alemtejana 5.
Por lá se deixou ficar, e chegou a ser vereador da
camará, cargo que exercia no anno de 1464 6.
Nenhumas outras noticias tenho de João de Faria ",
falecido provavelmente pouco tempo depois, visto que
em 1504 tinha um enteado já casado.
Aquelle que merecera ao Infante D. Pedro uma elei-
ção contraria ao voto dos procuradores ás Cortes, estava
de certo na memoria do Príncipe D. João, ou pelo
menos na da Senhora D. Filipa, sua tia, que lhe apon-
taria o dever de premiar os serviços do antigo Coudel
de Évora, e a conveniência de trazer para casa pes-
soas seguras. As nomeações dos três Farias fizeram-se,
quando já os pedidos do filho se começavam a impor
ao pai, tendo talvez para ellas também concorrido o
,1 Chancelaria de D. Afonso V, liv. 1(J.", ti. 72.
■"■ Ibidem, liv. 34.°, fl. 57 v.
"'Corpo cronolojico, part. l.a, niac. 1.", doe. 24, impresso pelo
sr. Gabriel I Vieira a paj. ()7 do vol. II dos Documentos de Évora.
Não é bem exaeto, depois encontrei outras, como se verá no
eap. v do estudo sobre os Farias.
O CAMAREIRO 317
patrocínio de mestre Gil, fisico e cirurjião mór de
D. Afonso V, e marido de uma Guiomar de Faria, que
pode muito bem ter sido destes, irmã, ou antes, prima
de João de Faria.
A escolha foi acertada. Os rapazes eram valentes, e
foram dedicados a seu amo; afirmação que só posso
fazer comtudo a respeito de Lourenço e Antão, porque
de Garcia mais nada me consta, e julgo até ter elle muito
cedo saído do serviço do Príncipe. Encontro efectiva-
mente um Garcia de Faria escudeiro dei Rei, foro idên-
tico ao que tinha o Estribeiro mór do Príncipe, nomeado
tabelião de Évora, por carta dada naquella cidade a 12
de novembro de 1472 s. Não posso asseverar ser este
o mesmo, mas tudo me leva a crer que sim, até o facto
de D. João II ter escolhido para seu estribeiro mór a
um fidalgo, que já exercia o oficio em 1487 com cer-
teza, e por tanto muitos annos antes da morte de Garcia.
Do valor de Antão e de Lourenço dão fé documentos
já citados; da dedicação do Camareiro por D. João II
acham-se neste bosquejo histórico provas que fartem;
da do Mantieiro darão testemunho algumas palavras do
seu testamento.
Lourenço de Faria, fidalgo da casa dei Rei, encon-
trava-se em Samuel, no termo de Montemor o Velho,
onde eram situados os casaes que lhe haviam sido doa-
dos como prémio do seu esforço na batalha de Toro,
quando, sentindo-se doente, resolveu, em 13 de maio
de 1511, determinar as suas ultimas vontades. Entre
outras coisas declarou o seguinte: "Que emprestara em
amor e em graça, sobre um penhor, a seu filho João
de Faria trezentos cruzados para serviço do sr. Mestre
(D. Jorjc, filho de D. João II); manda e quer, que, se
se achar que o dito seu filho algum interesse tem levado
s Chancelaria cie D. Afonso V, liv. 29.°, fl. 218 v,
318 F.STUDOS
ao dito sr. Mestre, que por descargo de sua alma, e da
do dito seu filho, que se tornem ao dito sr. Mestre,
achando-se que por direito se deve tornar e a isso é
obrigado, e isto de todo a cama (de todo o monte)
Qe manda a seu filho Simão de Faria, sob pena de sua
benção e maldição, que se torne para o sr. Mestre, e
que pede por mercê a el Rei. nosso senhor, que o não
haja por mal» ''. Quem tão dedicado se mostrava pelo
filho, havia de ter sido bom servidor do pai.
No seu testamento mandou Lourenço de Faria edificar
uma capella em Santa Maria da Graça de Lisboa, na qual
para seu jazigo "será feito um moimento honrado, com
uns cães de baixo, e postas as suas armas nella, na
maneira que parecer melhor a seus filhos,,. Destes no-
meia mais, alem dos dois acima, a Garcia, Francisco,.
Mor e Joana de Faria. Manda dar seis mil reaes em
cumprimento do seu casamento a Branca da Agua, tal-
vez irmã de sua mulher, a quem, provavelmente por
ser já falecida, não ha referencia no documento. Declara
possuir uma quinta nos Olivaes, e viver em Lisboa nas
suas casas "que estão junto da Sé, que são foreiras ao
mosteiro de Santa Clara da dita cidade.,, Etc.
Pouco tempo depois, neste mesmo anno de 1511,
antes de 21 de agosto, como já lá acima ficou referido,
faleceu Lourenço de Faria "'.
Parece terem vizinhado muito os dois irmãos, Lourenço
e Antão. Ambos possuíram quintas nos Olivaes, ambos
moraram em Lisboa em casas muito prossimas, ambos
procuraram a mesma igreja para jazigo dos seus restos.
' (irava de Lisboa, mac. 16, ii.° 40-15, na Torre do Tombo.
10 O Cardeal Saraiva, nos extractos do Corpo cronolojico publica-
dos nas suas Obras completas, IV ', 1'M, enganou-se ao lera assina-
tura de uma carta de 11 de abril de 1513 (doe. n.o 23), a qual não
Foi endereçada a D. Manuel por Lourenço de Faria, mas sim por
João de Faria. Naquella data havia perto de três ânuos que Lourenço
falecera.
O CAMAREIRO 31<)
Antão de Faria casou antes de 1478 com Leonor
Oonçalvez, filha de João Gonçalvez, dos Olivaes ", e de
sua mulher Alaria Estevez; e para este casamento deu
D. Afonso V ao Camareiro de seu filho um alvará de
mil e duzentas coroas, de cento e vinte reaes cada uma '\
O nome do sogro consta de um documento atrás citado,
e de uma carta de doação passada a favor do genro em
20 de fevereiro de 1478, sendo João Gonçalvez já então
falecido 1!; o nome da mulher deste encontra-se na
escritura de 26 de abril de 1455, de compra de certos
bens na do Facão, termo de Sintra ''.
Leonor Gonçalvez é nomeada Leonor Gonçalvez de
Oliveira, sempre sem o dona, em dois documentos,
alem do instrumento de partilha de 1504 atrás aponta-
do i:i, sendo um daquelles posterior á morte delia. O
apelido, acrescentado, provavelmente, para satisfação
de vaidades, proveio da designação dos Olivaes com a
qual era seguido o nome de seu pai, para o diferençar
de vários contemporâneos homónimos. De João Gon-
çalvez pouco mais sei ao certo, e apenas posso conje-
cturar a custo, haver elle sido um, entre aquelles todos,
que foi escrivão dos livros do Infante D. Pedro, com quem
entrou na batalha da Alfarrobeira, pelo que lhe foram con-
fiscados os bens, dos quaes D. Afonso V depois lhe res-
tituiu umas casas em Lisboa, por carta de 1 1 de novem-
bro de 1451, dada naquella cidade "'.
Se este João Gonçalvez foi o dos Olivaes, as casas a
elle tornadas eram no topo de um beco, com entrada pela
11 Na carta de doação abaixo citada nomeia-se "João Gonçalvez,
dos Olivaes, sogro delle dito Antão de Faria.,.
12 Chancelaria de D.João III, liv. 36.o de Doações, fl. 16, onde se
alude ao alvará sem lhe declarar a data.
13 Liv. 7.o da Estremadura, fl. 139.
'■ Graça de Lisboa, mac. 16, n.o 16-12.
1 ' Vide paj. 314, nota 1.
16 Chancelaria de D. Afonso V, liv. 37.°, fl. 45 v.
320 ESTUDOS
rua direita que ia da fonte dos Cavalos (chafariz de
Dentro) para a porta da Cru/. Com o tal beco e rua
direita confrontava o "palheiro dei Rei», também desi-
gnado por "estrebaria das azemalas que está alem do
chafariz dos Cavalos», prédio de que foi doado o ar,
isto é, os altos, para nelles edificar, a Antão de Faria.
pela carta de 20 de fevereiro de 1478 lá acima citada.
Do prédio veio elle também a possuir os baixos, por
troca feita com D. Afonso V, a quem deu por elles
uma casa na Alcáçova, junto á porta de Santa Cruz,
sendo a respectiva escritura celebrada em Lisboa, no
Almazem, a 24 de agosto de 1479, e confirmada por
el Rei a 21 de janeiro seguinte ''.
A quinta nos Olivaes possuída por João Oonçalvez,
e que serviu para a denominação de seu proprietário,
era junto á igreja de Santa Maria, e creio ser hoje a
chamada do Mortorio, ou alguma pegada com cila.
Leonor Oonçalvez, a mulher do Camareiro, houve a
dita quinta na sua lejitima, e depois delia ainda a pos-
suiu seu filho Francisco de Faria, que no seu testamento,
datado de 9 de novembro de 1554, a deixou a seu neto
Diogo da Silva, filho do seu falecido filho Aires da
Silva 1S. Diogo não teve descendência lejitima, parte da
sua casa passaria aos Aguiares, seus sobrinhos, e delles
aos Camarás que estão hoje no Visconde da Asseca, e
por isso a quinta, que não sei a quem actualmente per-
tence, saiu para fora da família e o falecido 2.° Conde
das Alcáçovas possuía apenas um domínio directo, de
dois mil e duzentos réis e duas galinhas, imposto nuns
prédios junto á quinta, aforados por escritura de 4 de
dezembro de 1553 ''•'.
■' Chancelaria de D. Afonso V, liv. 32.", fl. 140.
18 Cartório do Conde das Alcáçovas.
1 ' ibi.
O CAMAREIRO 321
l stando na sua quinta dos Olivaes, instituiu Antão de
Faria, em 1511, o morgado das suas casas á porta eia
Alfôfa; mas, para seguir a ordem chronolojica, referir-
me-hei primeiro á fundação da capella.
No dia S de julho de 1504, em Lisboa, nas casas de
morada de Antão de Faria, fidalgo da casa de! rei e do
seu Conselho, estando elle presente, e Leonor Gonçal-
vez de Oliveira sua mulher, e bem assim o P. M.
Rodrigo, Prior do mosteiro de Nossa Senhora da Graça
da Ordem de Santo Agostinho em Lisboa, foi Lurado
o compromisso da capella ordenada por aquelles no
referido convento.
Disseram os primeiros outorgantes, que por sua devo-
ção, e por serviço de Deus e de nossa Senhora, haviam
edificado no convento da Graça uma capella, que lá
teem, na qual esperam de sepultar seus corpos. Deseja-
vam porem que nella os frades lhes digam em cada
semana para sempre um anniversario por suas almas,
com nocturno de três lições, missa e responso, tudo
cantado, e para isso lhes doam um casal no termo de
Sintra, onde chamam a do Facão, o qual ao tempo
rendia três moios de pão meado, de sessenta e quatro
alqueires o moio, e mais um carneiro e dois frangos.
Aceita o Prior o contrato em nome da comunidade,
que o ratifica no dia seguinte, e toma posse do casal
logo a 12 de agosto -".
Esta capella, na qual efectivamente, como declara
o já citado testamento de Francisco de Faria, foram
sepultados os fundadores, desapareceu na reconstru-
ção da igreja, em 1556; ou veio a perecer no terre-
moto de 1755. Da capella creio não haver hoje ves-
tijios.
-■' Liv. l.o das Escrituras do convento da Graça de Lisboa, fl. 33,
na Torre do Tombo.
21
322 ESTUDOS
Das "suas casas que tem em Lisboa junto com a
porta da Alfôfa», é que Antão de Faria instituiu morgado.
Onde eram ellas? — Vou dize-lo. Antes, porem, citarei
os documentos que me guiarão.
O primeiro é o instrumento de 3 de julho de 1501,
pelo qual o Alcaide mór de Palmella reconheceu a
el Rei como senhorio directo da "barbacan do muro
velho, com um chão que ora é feito em quintal, com
uma cisterna, com seus muros de uma parte e da outra ,,,
tudo pertencente e pegado ás casas compradas por elle,
Antão de Faria, ao Conde de Penamacor, que por troca
as houvera da Sé de Lisboa -'.
O segundo é a escritura de doação e instituição de
morgado. Foi feita a 4 de fevereiro de 1511, no termo
de Lisboa, na freguesia de Santa Maria dos Olivaes, na
quinta do sr. Antão de Faria, do Conselho dei Rei,
estando elle presente e bem assim sua mulher, a sr.a
Leonor Gonçalvez. Pela referida escritura doaram os
conjujes as suas casas da porta da Alfôfa a seu filho Fran-
cisco de Faria, vinculando-as a elle e a seus descenden-
tes na linha primogénita lejitima, com preferencia do
varão á fêmea, com exclusão dos bastardos, e com a
obrigação do apelido de Faria; e logo lhe transmitiram
a posse, com a condição de ambos os instituidores
viverem nas ditas casas até á hora das suas mortes 22.
listes documentos são os principaes; algum outro a
que me refira, cita-lo-hei.
Alem dos documentos, também me auxiliaram muito
dois óptimos livros, que, por assim dizer, se completam:
a Lisboa antiga do sr. Visconde Júlio de Castilho, e a
Cerca moura de Lisboa, do sr. Augusto Vieira da Silva.
-1 Chancelaria de D. Manuel, liv. 17.", fl. 60 v.f transcrito na
carta réjia de confirmação de 9 cio mesmo mês.
-'-' Ibidem, liv. li.", fl. õ7 v., transcrita na carta réjia de confirma-
ção, dada a Francisco de Faria em 26 de abril de 1514.
O CAMAREIRO 323
Ambos investigadores pacientes, críticos apurados, teem
escrito sobre o mesmo assunto por bem diversa maneira
comtndo. Castilho, poeta, dá vida á velha cidade; Vieira
da Silva, enjenheiro, esquadrinha-lhe os vestijios. Um,
conta-nos a historia da antiga Lisboa; o outro, mede-
lhe o rasto.
Pelos documentos vê-se que a propriedade do Cama-
reiro de D. João II, apesar de constituir um todo con-
tíguo, compreendia comtudo dois prédios de natureza
diversa: um, alodial; o outro, fateusim. Aquelle, era
formado pelas casas; este, pelo quintal que pagava seis
reaes de prata de foro ao "Almazem dei Rei,,.
Mas, para exórdio já basta.
As casas de Antão de Faria ficavam sobranceiras á
"Calçada que vai de baixo pêra os paços dei Rei,,, a
qual então "subia da porta do Ferro pêra a da Alfôfa,,,
e á qual se começou a dar o nome de calçada de
S. Crispim no ultimo quartel do século xvi, depois dos
sapateiros de Lisboa haverem fundado a capella da invo-
cação daquelle santo. Em frente das casas do Alcaide
mór de Palmella estendia-se o quintal até ao adarbe da
ameada muralha moira, da qual ainda hoje lá se vêem
uns restos por cima dos telhados de umas casas baixas,
á direita de quem sobe as escadinhas de S. Crispim.
Os restos da muralha, e as casas que hoje substituem
as antigas, aparecem reproduzidos numa estampa, na
paj. 25 do citado livro do sr. Vieira da Silva.
Pelo norte chegavam as casas de Antão de Faria até
á "rua do Arco da Porta da Alfôfa», no fim da actual
rua do Milagre de santo António, quando ella desem-
boca no largo dos Lóios; e por este lado partiam tam-
bém "com as casas pequenas que fez Pêro da Alcáçova,
que ora (1501) são da Condessa de Penamacor, que es-
tão á porta da Alfôfa quando entram á mão direita,,,
32 l ESTUDOS
casas que em 1511 eram "do Secretario António Car-
neiro»;. Passadas estas, galgavam as de Antão de Faria
por cima de uni arco a rua depois chamada do Arco
do Mira, "ate entestarem com casas da senhora Rainha
D. Leonor, da banda do norte,,; daqui corriam direi-
tas ao sul, "partindo com Santo Eloi, da banda do
levante,,. Depois, fazendo volta para o poente, confron-
tavam pelo sul com "uma azinhaga estreita que è serven-
tia de goteiras. ., a qual ia desde as casas de Santo Eloi,
em que entestava pelo nascente, até á mesma rua poste-
riormente chamada do Arco do Mira, hoje de todo des-
aparecida creio eu, e enteio situada entre as trazeiras dos
prédios da actual rua da Saudade e as dos das escadi-
nhas de S. Crispim. Chegadas as casas de Antão de
Faria á tal rua do Arco, tornavam a passar sobre ella, e
iam confrontando, sempre pelo sul, com casas "do
Caiado, cónego da Sé de Lisboa,., com a torre que foi
de D. João de Abranches, e com casas de Dinis Eanes
clérigo, até entestarem outra vez na Calçada com a
qual partiam pelo poente.
Destas confrontações "para dentro é todo do dito
assento, sem se aí meter cousa alguma alheia, somente
a dita rua que é serventia publica, que passa por baixo
dos arcos das mesmas casas,-.
Já agora recordarei algumas memorias, que me trazem
á lembrança as confrontações da propriedade de Antão
de Faria.
X
Era muito interessante o bairro de Lisboa, onde esta-
vam situadas as casas de Antão de Faria.
Naquelles sitios moravam pessoas reaes, a rainha
EXPLICAÇÕES Á PLANTA .-O norte fica na ,,„ ,
Rainha D. eZ , 1 ít Vi ■ !" """""" *"* ™°° *» ^onsecas no XV, secai ÒZ ' " V-7 "™* " Condessa <" Penamacor , ea, 1511 o Secretario António
- amo fJo, - o, „,„ mic esislin o hosiiital <le Smto E;ltroiiia°:i;^dc ™zr ■ "'*" ""ww"rt" " ""■* "* Sfl
-íM, i
O CAMAR1 [RO 325
D. Leonor, viuva de D. João II; fidalgos, I). João de
Abranches, o ('onde cie Penella, a Condessa de Pena-
macor; homens notáveis, António ('arneiro, na Historia,
Gil Vicente, na Arte e nas Letras. Ali ao pé, nos vastos
eirados, de larga e aprazível vista, do convento de Santo
Eloi, passeavam os seus ócios os cónegos de S. João
Evangelista, os Lóios, como geralmente lhes chamavam,
e que deram com os seus hábitos o nome a uma cor, o
azuloio. Ao^pé delles, no hospital de Santo Eutropio,
albergavarri-se "os quatro pobres envergonhados;; da
pia instituição do Bispo de Silves.
Era um bairro fidalgo e quieto. O grande movimento
da cidade nova para os paços dei Rei, na Alcáçova, fa-
zia-se pela Calçada e rua das Portas da Alfôfa, deixando
á direita os pacatos sitios da freguesia de S. Bartolo-
meu. O silencio só era cortado pela "suave e alegre
consonância dos sete sinos de Santo Eloi», repicando
ao desafio com os não sei quantos de S. Bartolomeu.
Havia comtndo ocasiões em que os ermos se povoa-
vam. Era quando as Cortes estavam convocadas, porque
no convento se reunia o braço da nobreza. Pouco tempo
porem durava o bulício; breve caía tudo no primitivo
socego.
Para cumprir com o prometido no final do prece-
cedente capitulo, isto é, para reviver as memorias sujeri-
das pelas confrontações das casas de Antão de Faria, tenho
de recorrer, para melhor intelijencia do leitor, á planta
que lhe vou apresentar. Para ella tive á vista a de João
Nunes Tinoco feita em 1650, a de José Valentim de
Freitas, e a vermelha que nos dá o sr. Vieira da Silva
na estampa u da sna Cerca moura de Lisboa. Ambas
estas são posteriores ao terremoto de 1755; apresentãò-
nos porem a cidade anterior á catástrofe. Diferem todas
mais ou menos umas das outras, e em partes, facto
mais grave, nenhuma condiz com as medições do Tombo
$26 ESTUDOS
da cidade de Lisboa, feito em 1771 e guardado na
loire do Tombo.
Na planta apresentada pelo sr. Vieira da Silva ha uma
parte propriamente sua, a do muro da cerca moira. Essa
parte aproveitei toda, porque creio dever cila inspirar
confiança aos mais escrupulosos. Das outras plantas ado-
ptei o que pude, cinjindo-me ás medições marcadas no
Tombo da cidade, ás designadas nalguns documentos, e
a outras informações nestes colhidas. Sobre estas bases
fiz a planta, para a qual peço a benevolência do leitor,
lembrando-lhe ser ella obra de curioso.
Agora, mais facilmente poderei começar o meu passeio
de roda das casas do antigo Camareiro.
Onde está a letra A na planta, eram as casas de Dinis
Eanes, clérigo de missa, que em 1502 possuia um bene-
ficio na igreja da Madalena. A 14 de junho desse anno
fez elle no Almazem escritura de aforamento, pelo foro
de noventa e um reaes de prata, de um bocado de chão,
em parte do qual havia já edificado casas, e que ficava
entre o muro e a barbacan, nas costas do prédio de
D. João de Abranches, que lhe havia cedido o terreno,
julgando pertencer-lhe.
Confrontava a propriedade de Dinis Eanes, da parte
de cima, isto é, do nascente, com o quintal de Antão
de Faria (D), e com uma torre aforada á mulher do dito
D. João (B); e da outra parte, do poente, com chão
dei Rei emprasado a João Lourenço; por de trás, com
o muro aforado á referida senhora (B); e por diante,
com a Calçada que vai para o Paço '.
O chão pegado ao de Dinis Eanes e aforado a João
Lourenço, era também sobre a Calçada, e ficava defronte
das casas de D. Fernando de Ataíde, ('orno ainda a ellas
1 Chancelaria de D. Manuel, liv. (>.", fl. 80.
O CAMAREIRO 327
me hei de referir, quero deixar-lhes o sitio indicado.
Consta a vizinhança de uma escritura de aforamento
feita em 6 de março de 1513, tempo em que já nem
Dinis Eanes, nem João Lourenço, viviam "-'.
Em B estavam situados o muro, torre e casas de D. João
de Abranches.
As casas, ou pertenciam ao morgado instituído em
1383 por seu bisavô Vasco Lourenço de Almada, ou
áquelle vinculo haviam sido anexadas em 1408 por
João Vasquez de Almada, "cidadão de Lisboa, mui hon-
rado cavaleiro-, e avô de D. João. Eram ellas situadas
na freguesia da Sé, e tinham nas costas um lanço do
muro da cerca velha com uma torre, do qual, tanto
D. João, como seus antecessores, donos das casas, sem-
pre por muitos annos se haviam servido. Apesar disso,
para maior descanço, a viuva de D. João, D. Mecia da
Cunha, fez, em 15 de março de 1502, escritura de reco-
nhecimento do foro de cinco reaes de prata a el Rei,
declarando-se confrontarem então, o lanço do muro e
a torre, de uma parte, com outro lanço do mesmo muro
que servia umas casas pertencentes á Sé (C); e da outra
parte, com outro lanço que trazia Lourenço de Faria :!.
O lanço do muro que trazia Lourenço de Faria, irmão
de Antão, também tinha uma torre, e estava por de trás
das suas casas de morada, na freguesia da Sé, foreiras
a Santa Clara. Do lanço do muro tinha elle feito escri-
tura de aforamento a 15 de julho de 1502, já por mim
citada, e por ella constam as confrontações do praso,
2 Liv. 13.o da Estremadura, fl. 39 v.
1 Chancelaria de D. Manuel, liv. 6.°, fl. 37. No principio do
rejisto desta carta escreveu-se por engano D. João de Abrantes, em
vez de Abranches. O mesmo erro se encontra também na leitura
nova dalguns documentos, e daqui passou para o cit. livro do
sr. Vieira da Silva.
328 ESTUDOS
as quaes eram: "de uma parte, com outro muro que traz
D. Mecia da Cunha, mulher de D. João de Abranches,
que é de trás das casas do dito D. João; e da outra, com
umas casas da Sé que ora traz aforadas Afonso Vaz,
clérigo; e da parte de fora com umas casas do dito
Senhor (el Rei), que traz Rui Fragoso, contador,,.
Da torre de D. João de Abranches ainda existem
restos. São os encontrados pelo sr. Vieira da Silva "no
jardim do prédio construído no local da primitiva ermida
de S. Crispim.» E fácil prova-lo.
Por morte de D. João de Abranches as suas casas,
por serem de morgado, seguiram para seu filho D. Álvaro
de Abranches; a torre e o muro ficaram a sua viuva
D. Alceia da Cunha, que em 1502 fez a citada escritura
de reconhecimento. Depois, por alvará de 28 de janeiro
de 1513, foi autorizado D. Álvaro, então mestre sala dei
Rei, a subrogar ao Conde de Penella as taes casas do
seu morgado; e porque na venda "entra o assento da
torre e muro que D. Mecia de nós traz enfatiota., e
porque ella, sua mãe, deu o seu consentimento ao con-
trato, concede el Rei a necessária licença para o praso
poder passar para o Conde \ Decorridos annos, em
1563, sendo já o Conde falecido, seu filho e sucessor
D. Afonso de Meneses doou á irmandade dos sapateiros
o terreno prossimo á sua torre, no qual elles edificaram
a primitiva ermida de S. Crispim, como logo direi em
chegando á letra E.
D. João de Abranches era o filho mais velho do valo-
roso e desditoso D. Álvaro de Almada, cavaleiro da
Jarreteira, e Conde de Avranches na Normandia por
carta de 4 de agosto de 1445, dada em Westminster
por Henrique VI rei de Inglaterra. Álvaro Vasquez de
Almada (tal era o nome do Conde ao tempo em que
1 I.iv. 13.o da Estremadura, íl. 54 v.
l I CAMAR] IRO 329
de sua primeira mulher, D. Isabel da Cunha, lhe nasceu
o filho João) foi capitão mór da Frota, por carta de 23
de junho de 1423, e alcaide mór do castello de Lisboa,
por outra de 9 ele abril de 1440. Morreu na batalha ela
Alfarrobeira, a 20 de maio ele 1440, ao lado do Infante
D. Pedro, e os seus bens foram confiscados e doados,
por carta de 25 de agosto do mesmo anuo, a Álvaro
Pirez de Távora, seu concunhado, marido de uma irmã
de D. Isabel. Da confiscação escapou todavia, como a
própria carta de 25 de agosto declara, o morgado insti-
tuído por Vasco Loure:ie;o, avô do Conde, passando os
bens vinculados ao filho deste, o referido D.João de Abran-
ches. Todos estes documentos já tive ocasião de citar '.
Com D. João praticou-se, comtudo, uma daciuellas
injustiças de corte bem vulgares nesses tempos. Seu pai
tornara a casar com D. Caterina de Castro, e delia
tivera um único flho. D. Fernando de Almada. Como a
Condessa de Abranches (á portuguesa) contraísse novo
casamento com o Conde da Atouguia, e fosse irmã do
Conde de Monsanto, fidalgos de muita valia no paço,
ao filho delia foram confirmados, em detrimento de seu
irmão primogénito, os bens da coroa que seu pai hou-
vera, e foi-lhe dado o titulo de conde de Abranches,
em 147Ó ou 77.
Não sei se D. João afinaria com o caso, mas calculo
que sim, e que por isso andaria na corte de cabeça
levantada, impertigado e insolente.
Porque Abranches dom Joã
senbrida como guayteiro?
pregunta lá o dos Porquês de Setúbal 6.
Gaspar Alvarez de Lousada, nos seus Sumários da
5 Liv. 2.o, dos Brasões de Cintra, paj. 365 e seg.
,; Cancioneiro de Resende, ti. 174, col. òa
330 ESTUDOS
Torre do Tombo, diz ter encontrado, nuns autos de contas
da capella administrada pelos Abranches, a data da
morte de D. João no dia de santo Antão (17 de janeiro)
de 1504. Daquelle manuscrito só conheço cópias, e por
tanto julgo haver erro na designação do armo. rim
1502 fez I). Mecia da Cunha a citada escritura de reco-
nhecimento, e ainda que nella se não declare positiva-
mente ser aquella senhora viuva, não parece provável,
se o marido ainda vivesse, aparecer ella, sósinha, outor-
gando no contrato sem autorização delle.
Passemos ás casas da Sé situadas onde na planta se
vê a letra C.
A ellas pertencia também um lanço da muralha da
cerca moira, o qual confrontava da banda de baixo,
como já disse, com o outro possuído por D.João de Abran-
ches, e da banda de cima com o aforado a Antão de
Faria, segundo declara a escritura de emprasamento de
3 de julho de 1501, já citada.
Nesta data trazia as casas aforadas D. Martim Vaz,
'•que ora é Arcebispo desta cidade.,,
Era Martim Vaz, que depois de arcebispo passou
a chamar-se D. Martinho da Costa, de uma raça de
bispos. Foi meio irmão do Cardeal D. Jorje da Costa,
Bispo de Évora, Arcebispo de Lisboa e de Braga, e
irmão inteiro de outro D. Jorje da Costa, Arcebispo
também de Braga. Alem disso teve dois sobrinhos,
I). Diogo e D. Pedro da Costa, que foram ambos Bispos
do Porto.
O autor de toda a assombrosa fortuna da família era,
nos princípios do reinado de D. Afonso V, um modesto
clérigo, natural de Alpedrinha, nascido "de gente mui
baixa, popular e pobre,,, como declara Damião de Góes.
Foi elle o licenciado Jorje Martinz, homem muito inte-
lijente, sabedor, ambicioso, astucioso, e pertinaz, a quem
O CAMAREIRO 331
quaesquer escrúpulos não desviaram nunca de seguir
o seu caminho de açambarcador de honras, proventos
e riquezas.
Conta-se, que pregando um dia em Santarém diante
da corte, na presença da Infanta D. Caterina, esta se
agradara tanto da doutrina do sermão, que pedira o
pregador para seu mestre e capellão.
Abriu a nomeação a entrada no paço ajorje Martinz, que
desta facilidade se aproveitou para ser dentro em pouco
confessor e inseparável conselheiro de D. Afonso V, em
cujo animo se insinuou por forma, que logo em 1463
o nomeou bispo de Évora, e no anno seguinte o trans-
feriu para o arcebispado de Lisboa. Eleito bispo, mudou
de nome, e ficou-se chamando D. Jorje da Costa, ape-
lido tomado não se sabe ao certo d'onde, parecendo
mais plausível te-lo adoptado de sua madrasta. Depois,
em 1476, foi feito cardeal, contando já setenta annos.
Á rápida e inesperada medrança do pobre clérigo
beirão se referiu com espanto Garcia de Resende nestes
versos da Miscellanca:
Um clérigo, natural
da vila de Alpedrinha,
vimos cá ser Cardeal
em pouco tempo, e asinha
Cardeal de Portugal.
Teve dous arcebispados,
abadias e bispados;
fez dous irmãos arcebispos,
parentes, amigos, bispos,
e criados mui honrados.
Com D. João II não fazia farinha o ambicioso prelado,
e por isso se ausentou para Roma, onde continuou
gozando dos enormes rendimentos eclesiásticos adqui-
ridos em Portugal, e dos que foi granjeando lá por
fora. Na Cúria dispoz sempre de enorme valimento junto
dos papas Alexandre VI e Júlio II.
D. Manuel, na ideia nefasta de seguir politica diferente
332 ESTUDOS
da de seu glorioso predecessor, tornou a servir-se do
Cardeal, que lhe pagou, e foi muito bem feito, com um
tremendo coice, metendo-se em 1501, pelas suas intri-
gas na Cúria, no arcebispado de Braga, vago por morte
de seu meio irmão, o outro D.. Jorje da Costa. Nesta
ocasião o Cardeal escreveu de Roma, a 2 de setembro,
a el Rei, uma carta, perfeita no género hipócrita, a qual
se acha hoje impressa \
Morreu D. Jorje da Costa em Roma no anno de 1508,
com cento e dois annos. Até nisto foi feliz.
Seu irmão D. Martinho da Costa, em quem elle renun-
ciara em 1501 o arcebispado de Lisboa, a ocultas de D. Ma-
nuel e contra sua vontade, chegou também a estar eleito
cardeal em 1512, ao que el Rei por meio dos seus
ajentes em Roma comtudo obstou. Morreu o Arcebispo
em 1521, com oitenta e sete annos.
Muito antes, já em 1511, pertenciam as casas junto
á torre de D. João de Abranches a uru Caiado, cónego
da Sé de Lisboa, que não sei quem fosse.
Com a letra D estão marcados na planta os sitios
onde eram o quintal, muralha e casas de Antão de Faria.
Corpo diplomático portuguez, vol. 1, paj. S. A carta merece
transcrição:
"Senhor. Depoys de encomendar a deos vossa alteza o a mim
encomendar em merece daquella, nom screvo a vossa alteza pello
meude porque ha calidade da cousa e payxam nom me da lugar de
a sinhyficar mais largamente a vossa Senhoria, ha quall sayba que
sem meu Requirimento aprouve a Nosso Senhor lio papa e colegeo
prover me, per morte do arcebispo meu Irmaão, da Igreja de braga
e dos outros benefícios, de que cu sabe deos que gOStey pouco nem
o, mas por me parecer que com elles se poderám satisfazer car-
gos de criados e outra- muytas cousas tocantes a sua alma ho aceptey:
terey cm mercê ha vossa alteza aver por bem ysto, e mandar me dar
ha posse poys minha pesoa e todo será a serviço de vossa Senhoria.
Senhor se hy otivera lugar de sperar vossa vontade eu hasperara,
pêro foy feito sem ho eu saber como dicto he, e creo Isto mays ser
en iço que fazer se per outra maneyra.
i ho segundo dya de setenbro de 1501.
De vossa alteza orador c servidor. Cardeal.»
O CAMAREIRO 333
O quintal era em baixo, junto á torre de D. João de
Abranches, entre a muralha velha da eidade e o chão
onde depois se edificou a primitiva ermida de S. Cris-
pim. Um pedaço do muro do quintal deitava sobre a
Calçada, e ficava fronteiro ao terreno ocupado posterior-
mente pelo seminário de S. Patrício. No quintal havia
uma cisterna, a qual, como declara a carta de afora-
mento de 3 de julho de 1501, "Antão de Faria fizera á
sua custa.,- >
Apoderou-se a lenda desta vulgar cisterna, tornando-a
de fantástica grandeza e de misteriosa orijem.
O divulgador da novela foi Fr. Joaquim de Santa
Rita na sua Academia dos humildes e ignorantes, onde,
a paj. 14 do 1 vol., impresso em 1750, diz o seguinte:
"Defronte da porta do Castello de Lisboa, chamada de
Alfôfa estão umas casas, que foram do desembargador
Manuel Pinto de Mira . . . , estas casas teem um quintal
com parreiras, e muro para a parte do seminário de
S. Patrício, e nelle uma pequena estrebaria, na qual tem
uma cisterna, que tal não é nem foi, nem será fácil
saber-se o seu principio, e o que hoje é . . . „
Entre parêntesis, para acabar de identificar o quintal
quinhentista com o do xvm século, vou já anunciando
ter sido aquelle Desembargador a pessoa que em 1703
comprou, á representante de Antão de Faria, as suas
velhas casas. Logo se verá.
Continuando Fr. Joaquim com a descrição da cis-
terna, vai-nos impinjindo, entre outras patranhas, estas:
o éco, gritando-se uma palavra no bocal, repete-a inteira
e clara quasi um quarto de hora; a grandeza do edifício
é tal que ocupa por baixo todo o Castello e a maior
parte da cidade até ao mar; colunas monstruosas supor-
tam a abobada; escadas grandes existem debaixo da
agua, não se sabendo d'onde ella vem, mas fazendo
lá dentro tal sussurro como de caudaloso rio ; um búzio
334 ESTUDOS
(mergulhador) andara nella um dia inteiro á procura de
um moço que lá caíra. Apesar da sua imensidade, no
inverno trasbordava com as aguas da chuva! é o frade
que o diz. "Muitos cuidam, acrescenta elle, que isto foi
o mais celebre templo do gentilismo na Lusitânia, ou-
tros que a primeira e mais decantada mesquita, e que a
entrada era pela rua de S. Chrispim. Ignoro o dano que
lhe fez o terremoto; mas julgo ser a fabrica mais digna
da averiguação dos curiosos deste reino, e calo o mais
que delia contam os que moraram nestas casas!,;
Mete medo! Mal pensava Antão de Faria, quando
mandou construir a sua cisterna, apercebendo-se caute-
losamente para as faltas de agua, os contos para que
ella havia de dar.
Castilho em 1S38, para não cair no logro, foi falarão
bocal da cisterna, e nenhuma voz lhe respondeu. Elle
próprio o conta, acrescentando que um seu amigo
mandara descer exploradores, e averiguou ser tudo falso,
não tendo nunca lá existido senão uma vulgar cisterna s.
Pegando em baixo com o quintal, subia, quasi direito
ao norte, o lanço do muro da cerca velha, aforado a
Antão de Faria pela já muita vez citada escritura de 3
de julho de 1501. Estendia-se a barbacan do Alcaide
mor de Palmella em frente das suas casas, confrontando,
ella e o quintal, "de uma parte com casas pequenas que
fez Pêro da Alcáçova, que ora são da Condessa de
Penamacor, que estão á porta da Álfôfa quando entram
á mão direita; e vai de longo entestar em umas casas
da Sé, que trazia D. Marfim Vaz, que ora é Arcebispo
desta cidade; e corre de longo (agora é o quintal) pelo
muro velho até á torre que ora tem D. João de Abran-
ches, e d'ali vai da outra parte de baixo, como diz
H Quadros históricos, paj. 41.
O CAMAREIRO 335
o muro da barreira atrieado ao longo da Calçada, até
á porta da Alfôfa e casas da dita Condessa.»
O comprimento do muro encontrava-se no desapa-
recido Tombo velho das propriedades foreiras ao Alma-
zem do Reino, livro começado em 1515, onde, a fl. 75 v.f
se lia o seguinte assento: "Mais adiante tem o dito Se-
nhor (el Rei) uma barbacan em que vão dois quintaes
e uma cisterna, e tem de longo, da rua até á porta da
Alfôfa, noventa covados (59'",40); tra-la Francisco de
Faria-, 9.
Onde era o segundo quintal não sei dizer, porque só
neste assento o encontro mencionado.
Por de trás da muralha, dominando-a, levantavam-se
sobre arcos, por baixo dos quaes passava uma rua publica,
as casas de Antão de Faria.
Haviam ellas sido do Conde de Penamacor, que as
adquirira por troca feita com a Sé de Lisboa, em cuja
posse estavam. Comprou-as Antão de Faria antes de 3
de julho de 1501, mas não sei se directamente ao Conde,
se á coroa depois da confiscação dos bens daquelle
fidalgo, um dos conspiradores de 1484. O prédio, vasto
e nobre, era residência própria para um grande senhor,
e o curioso é ter passado do Camareiro mór muito
valido de D. Afonso V, para o Camareiro menor muito
aceito a D. João II.
Tinham as casas uma renque de dez janellas de sacada,
e pela sua grandeza e bella aparência mereceram ser
incluídas numa lista, feita pelos annos de 1566, de vinte
9 Cartório do Conde das Alcáçovas. -Ao apontamento transcrito
no texto segue-se no mesmo papel mais isto: "Outro assento que
está no dito livro, fl. 76. Outra torre e lanço de muro trazem os her-
deiros de Lourenço de Faria. E não dizem mais os ditos assentos, e
os que estão no dito livro antes delles dizem, que as casas nelles
declaradas estão na rua que vai da porta do Ferro para os paços
pela calçada acima,,.
336 ESTUDOS
e um palácios de Lisboa. Nella são mencionadas entre
o do Contador mór (D. Dinis de Almeida) á porta da
Alfôfa "', e o de D. Garcia de Noronha em frente de
S. Crispim ", por estas palavras: "Item — Francisci de
Faria, in quo habitavit 111.""'"" D. Cardinalis Infans Por-
tugalliae»i '-'.
Aquelle Cardeal Infante seria D. Afonso falecido em
1540, on D. Henrique purpurado em 1545? — A lista
dos palácios, apesar de nella vir, ainda em seu nome, o
de Francisco de Faria falecido em 1554, não pôde ser
comtudo muito anterior a 1566, porque nella ha refe-
rencia á ermida de S. Crispim começada a edificar em
1563. Pode pois ter sido qualquer dos cardeaes o ilustre
inquilino da casa dos Farias; creio porem que dos dois
irmãos o lá morador foi o mais velho. Fundo-me em pala-
vras do próprio autor do rol dos palácios. Referindo-se elle
ao do Conde de Tentúgal junto á igreja de Santiago,
diz: "in quo habitavit \\\.mu* Dominas meus Cardinalis
Infans Portugalliae,,. Este é que havia de ter sido o Car-
deal D. Henrique, meu senhor, para quem a lista foi
organizada. Alem disto, também sei por documentos que
vi, ter aquelle Francisco de Faria, I do nome, residido
mais em Palmella, onde se mandou sepultar, do que em
Lisboa.
As casas de Antão de Faria em 1511 não chegavam
até á rua de Jerusalém, como se vê na planta. Elias então
partiam do nascente com Santo Eloi, "até entestarem
com casas da Senhora Rainha D. Leonor da banda do
norte, e vai partindo com ellas, e toma a dita rua que
te palácio do Contador mór era situado ao norte cia porta da
Alfôfa, e em 1771, como logo direi, pertencia ao Duque de Cadaval.
11 No palácio de D. Garcia de Nor< nha fundou-se depois o semi-
nário de S. Patrício.
'-' Visconde Júlio do Castilho, Lisloa antiga, part. 2.a, vol. VI I
paj. 466.
O CAMAREIRO 337
vai por baixo d^> arco (a do Arco do Mira), etc.« l:.
Consta-me porem que no morgado de Palmella, ins-
tituído em 1572 por Antão cie Faria, neto do Camareiro,
se compreendia uma casa ria rua de Jerusalém. Consta-
me também que Francisco de Faria, II do nome, neto
daquelle Antão, comprara em 1Ó3S umas casas na tra-
vessa "que vai para Santo Eloi.,, a qtial era a referida
rua; e, finalmente, que uma neta de Francisco, D. Joana
Micaella de Meneses, adquirira mais duas casas junto
cás grandes e as unira ao morgado da sua familia '''. Foi
depois destas aquisições, que o prédio alcançou pelo
norte a confrontação com a rua de Jerusalém.
O certo é terem-se encontrado em 1771 no bairro do
Castello, na freguesia de S. Bartolomeu, "umas casas,
que também estão arruinadas pelo terremoto, que foram
do Desembargador Manuel Pinto de Mira, e depois de
seu filho o Desembargador José Falcão de Sousa, e
depois dos Padres da congregação do Oratório de
S. Filippe Neri, e por se compensar a estes o chão delias,
para o seu convento do Espirito Santo, na rua Nova do
Almada, ficou o dito chão (o do Mira) pertencendo á
Inspecção (a da reedificação de Lisboa); cujas casas são
por de trás do convento dos Lóios, com frente na rua
que vai das portas da Alfôfa para a rua dos Cóne-
gos, e tinham arcos na frente ... A frente das ditas casas
pela dita rua chamada do Arco do Mira, que desce para
a dos Cónegos, se achou ter duzentos e vinte e dois
palmos (48m,84); e pela rua de Jerusalém, oitenta
(17m,ó0); e de fundo, pelo lado do nascente opposto á
frente do arco do Mira, quarenta e três e meio (9m 57);
mais de resalto até ao convento dos Lóios, vinte e cinco
(5m,50); contando ao fundo, vinte (4m,40); resalto para
13 Escritura de 4 de fevereiro de 1511, já citada.
11 Documentos do cartório do Conde das Alcáçovas.
22
338 ESTUDOS
dentro do mesmo chão da dita propriedade, quarenta e
três (9m,46); continua ao fundo, vinte e seis (5m,72); de
resalto para os Lóios, doze (2»\64); e continua mais ao
fundo com setenta e nove (17m,3S); e de resalto para
dentro do chão, cinco (1"\10); fecha pelo sul com qua-
renta e cinco,, (Q'",90) i:i.
Falta-me declarar onde fui saber o numero de janel-
las que tinham as casas de Antão de Faria, e a ocasião
em que ellas saíram para fora da família. Vamos a isso.
Francisco de Faria, o II do nome, terceiro neto do
Camareiro de D. João II, fez em 1612 obras de repara-
ção na casa do seu morgado, como consta dos dois
seguintes recibos, ambos guardados no cartório do
Conde das Alcáçovas.
"Digo eu, João Fidalgo, mestre pedreiro, que é ver-
dade que eu estou pago e satisfeito de toda a obra que
fiz ao sr. Francisco de Faria para as suas casas da porta
da Alfôfa, em que o dito sr. mora em Lisboa, e por
assim passar na verdade assinei este em Lisboa, hoje
3 de Julho de 612 annos, e declaro que a dita obra são
uns dez janellas de pedraria, as quaes me obriguei a
dar lavradas á porta das mesmas casas da porta da
Alfôfa. Eu, Constantino de Abreu, fiz este e me assinei
aqui.,,
"Digo eu, Gonçalo Carvalho, que estou pago de toda
a obra que fiz ao sr. Francisco de Faria, alcaide mór de
Palmella, para as suas casas da porta da Alfôfa, a qual
obra foram dez grades de sacada, e mais sessenta e cinco
arráteis que também entraram na dita obra, e por me
não ficar devendo nada pedi a Constantino de Abreu
que este fizesse para o eu assinar, em Lisboa, hoje 9 de
acosto de 612...
'' Tombo da cidade de Lisboa, liv. 1.°. Castello, fl. 19 v., na Torre
do Tombo.
O CAMAREIRO 339
De uns apontamentos da letra de Francisco de Faria
consta, que as dez grades custaram sessenta mil réis; e
a "linha de ferro para a sala (os taes sessenta e cinco
arráteis a mais?), oito mil réis.»
O ultimo Faria, possuidor das casas da porta da
Alfôfa, foi D. Antão de Faria da Silva, Prior mor de
Palmella, filho deste Francisco de Faria acima mencio-
nado. Morou o D. Prior por vezes naquellas casas, das
quaes pagava oito mil réis de decima (felizes tempos!);
mas foi em Palmella, segundo parece, que elle morreu
no dia 12 de junho de 1675 l6.
A elle sucedeu no vinculo sua sobrinha D. Maria
Luisa Pereira de Meneses e Faria, filha de sua irmã
D. Juliana de Meneses e de Brás Pereira de Miranda,
fidalgo do Porto. Casou D. Maria Luisa com D. Hen-
rique Henriquez, senhor das Alcáçovas, e, sendo já viuva
e tendo o consentimento de seu filho e imediato su-
cessor D, Jorje Henriquez, senhor da mesma vila, pediu
a el Rei autorização para vender as casas da porta da
Alfôfa, "que estavam summamente arruinadas, promet-
tendo ruina pela sua muita antiguidade,,, pelo preço de
dez mil cruzados, obrigando-se a subrogar aquella quan-
tia nas casas de Santa Caterina, que D. Jorje comprara
por sessenta mil cruzados, "que eram nobilissimas e
novas,». Foi concedida a licença por provisão de 15 de
junho de 1703 i:.
Aquellas casas de Santa Caterina, arrasadas pelo ter-
remoto e hoje substituídas pelos prédios do pateo do
Lancastre, haviam sido compradas por D. Jorje Henri-
quez, antes de 4 de julho de 1699, a Gonçalo José
de Carvalho Patalim l8, como declara o documento cita-
16 Cartório do Conde das Alcáçovas.
'" Doações de D. Pedro II, liv. 45.o, fl. 169 v.
1S Ibidem, liv. 53.o, fl. ISO v.
340 ESTUDOS
do; mas seria aos seus herdeiros, porque aquelle fidalgo,
que foi provedor das obras dos paços e casas reaes,
parece ter morrido a 30 de agosto de 1698 ' '.
O comprador das casas da porta da Alfôfa foi o ba-
charel Manuel Pinto de Mira, nomeado correjedor do
crime do bairro Alto por carta de 12 de maio de 1705,
"pelo bem que me serviu na commissão da condução,
que se lhe encarregou, de conduzir as equipagens da
corte dei Rei Catholico (o pretendente, depois o impe-
rador Carlos VI) na campanha passada, e á despesa que
fez na jornada-.
Para desempenhar comissões daquellas era preciso
ser-se abonado, e delias resultava geralmente ficar-se
rico. Outro tanto provavelmente sucedeu ao Mira, pos-
teriormente promovido a desembargador de agravos da
Casa da Suplicação, por carta de 18 de janeiro de 1725.
Delle tomou o nome a rua que passava por baixo das
suas casas.
Estas ainda pertenceram a seu filho, o desembargador
osé Falcão de Sousa, a respeito do qual, chamando-lhe
osé Pinto de Mira Falcão, declara em 1759 o autor da
Academia dos humildes, que morrera na Congregação do
Oratório. A ella, provavelmente em testamento, deixou as
suas casas da porta da Alfôfa, pelo chão das quaes, como
mostra a parte lá acima transcrita de um documento, se
deu aos Oratorianos, depois do terremoto, compensação
em terrenos na rua Nova do Almada, junto ao seu con-
vento do Espirito Santo. Ficaram, em virtude desta troca,
á Inspecção das Obras da Cidade as minas das casas de
Antão de Faria, das quaes ella dispôz, e hoje encontra-
se tudo ocupado por modestos prédios, entre as esca-
dinhas de S. Crispim e a rua da Saudade, aberta ao
fundo dos terrenos das casas do Camareiro de D. João II.
111 Sousa, Hisí. Genealógica, vol. XI, paj. 238.
O CAMAREIR< I 341
O chão marcado na planta com a letra 1; vicia a
pertencer, como já fica dito, a D. Afonso de Meneses,
filho primogénito do 2.° Conde de Penella, D. Jofio de
Vasconcellos e de Meneses, a quem D. Afonso suce-
deu na casa pelos annos de 1541 ou 42. Já então era
Arcebispo de Lisboa o irmão do Conde, D. Fernando
de Vasconcellos e de Meneses, que morreu em 1564.
Durante o episcopado de seu tio, em 17 de oitubro
de 1563, doou D. Afonso de Meneses aos sapateiros da
confraria de S. Crispim aquelle chão, no qual "estava
uma amoreira», e do qual elle não era bem certo de ser
o lejitimo possuidor.
D. Afonso, bem como D. João de Abranches seu an-
tecessor na posse da torre e casas marcadas na planta
em B, ia chamando seu a tudo quanto ficava de roda
delias; acautelou-se porem D. Afonso neste caso, sujei-
tando a doação á aprovação da Camará de Lisboa, para
lhe não suceder como a D. João que dera a Dinis Eanes .
um chão ali ao pé (A), o qual depois se reconheceu não
pertencer ao doador.
A medição do terreno foi feita em 15 de novembro,
e encontraram-lhe setenta palmos (15m,40) de comprido
pelo nascente, partindo com barbacan da cidade per-
tencente a Antão de Faria, o Ií do nome; pelo sul, cin-
coenta e sete palmos (12nl,54), confrontando com chão
do mesmo Antão de Faria. Do poente, a correr com rua
publica, que seguia para a porta da Alfôfa (a Calçada,
que em toda a testada do chão tinha trinta e quatro
palmos, 7ra,48, de largo), mediram oitenta e dois pal-
mos (18m,04). Todo o chão era da forma de uma espé-
cie de triangulo :,).
No chão doado edificaram os sapateiros de Lisboa a
20 Visconde Júlio de Castilho, Lisboa antiga, part. 2.;>, vol. VI,
paj. 141c 142, citando os livros da irmandade de S. Crispim.
342 ESTUDOS
primitiva ermida de S. Crispim, a qual, depois de ar-
ruinada pelo terremoto, foi reconstruída noutro sitio, um
pouco mais abaixo.
Onde na planta se vê a letra F, haviam de ter sido
"as casas pequenas que fez Pêro da Alcáçova, que ora
são da Condessa de Penamacor, que estão á porta da
Alfôfa quando entram á mão direita.,, E certo por tanto
terem aquellas casas existido naquelle sitio; mas também
é certo, não haver eu encontrado campo para ellas em
nenhum dos mapas que vi. Ha referencias a ellas nou-
tros documentos, nenhumas porem são de molde a re-
solverem o caso.
Encontrei-as, já depois disto composto; e confesso
ter já para ellas reparado no Tombo da cidade, mas pu-
las de parte levianamente, por me não ocorrer que o mo-
desto Pêro da Alcáçova tivesse sido ascendente de uma
Duquesa de Cadaval 21. A introdução das casas na minha
21 No já citado liv. l.o do Tombo da cidade de Lisboa encontra-se,
na fl. 10 v., a medição, feita a 10 de agosto de 1771, de umas casas
do Duque de Cadaval.
Confrontavam pelo norte com casas de D. Inês de Salasar, ou de
seus herdeiros; pelo poente, com sequeiro do desembargador José Ri-
calde Pereira de Castro; pelo sul, com arco das portas de Alfôfa; e
pelo nascente, com a rua que vai para o Castello. Medição: "de fren-
te, até ao angulo, cincoenta e sete palmos e meio (12™, 05), e delle,
até ao fim do arco, tem mais de frente cincoenta e um palmos (llm,22);
e pelo lado do norte tem de fundo sessenta e três (13m, 80), resalto
para dentro das casas, vinte e quatro (5m,28), continua maisaofuudo
com vinte e oito (O»1, 10); lado opposto á frente, cem (22"1); continua
o lado que serve de quintal, sessenta e nove e meio (15m,29); lado do
fundo do quintal, sessenta e cinco (14»i,30); resalto para dentro do
quintal e produzido por detraz da muralha do castello, cincoenta
(11'") por trinta e dois (7>», 04) das casas; e mede ao fundo do dito
quintal, por de traz da muralha, cento e oito (23m,7õ). E sua figura
mostra a letra E.
"Tem mais unia casa por cima do arco das portas de Alfôfa, tendo
passadiço por cima delia paia a rua que vai para o arco do Mira,
que tem por esta rua, de frente, trinta e três palmos (7™,26) juntos
com o vão do arco; e de fundo, no arco, doze (2m.64); e de frente
O CAMAREIRO 343
planta altera-a alguma coisa, nada porem que possa in-
fluir no meu arrazoado. Com elle irei continuando, re-
conhecendo mais uma vez quanto este género de estu-
dos está sujeito a muitas e variadas continjencias.
Não ha duvida de por aquelles arredores da porta
da Alfôfa haverem vivido, e tido casas, as três filhas do
Escrivão da fazenda de D. João II.
Em 1511, nas casas á porta da Alfôfa, que confronta-
vam com as de Antão de Faria, vivia o Secretario An-
tónio Carneiro, já então senhor da ilha do Príncipe e
marido de D. Beatriz da Alcáçova. João da Fonseca,
escrivão da fazenda, senhor das ilhas de Santo Antão,
Flores e Corvo, e marido de Margarida da Alcáçova,
tinha casas para esses sitios, visto declarar-se em do-
cumentos haver uma rua que ia das portas da Alfôfa
para as casas delle. Em chegando á letra H explicarei.
Francisco de Matos, marido de Isabel da Alcáçova, a
terceira filha de Pêro da Alcáçova, também por aí
morava, como consta do que vou transcrever.
"As casas da Rainha, nossa Senhora, que Santa Glo-
ria haja (a Rainha D. Leonor), teem um cano que vem
da sua cozinha, e vem ter abaixo da porta da Alfôfa, e
neste cano teem serventia o Secretario, e Francisco de
Matos, e João da Fonseca» --. Este cano só podia seguir
pela rua da Amargura, como logo direi, e por tanto as
casas dos três cunhados ficavam nessa rua e na sua pro-
longação até á porta da Alfôfa.
para a dita rua do Arco do Mira, cincoenta e três palmos (11»', 66);
de fundo, vinte e três (5™, 06),,.
Estas segundas casas é que eram "as pequenas que fez Pêro da
Alcáçova á porta de Alfôfa, quando entram á mão direita...
Todo o prédio formava pelos annos de 1566 o palácio do Conta-
por niór, a que já lá atrás aludi.
-Vide uma lista dos canos de Lisboa publicada pelosr. Freire de
Oliveira a paj. 549 do I vol. dos Elementos para a historia do mu-
nicípio de Lisboa.
344 ESTUDOS
A viuva de João da Fonseca, Margarida da Alcáçova,
foi confirmada, por carta de 0 de agosto de 1525, a posse
do corredoiro do muro, que está nas suas casas em Lis-
boa, pela maneira por que o tinha seu marido -"'. Estas ca-
sas e lanço da muralha eram porem situadas ao norte da
porta da Alfôfa, junto á porta de S. Jorje. Vou mostra-lo.
Por escritura de 5 de março de 1499 aforou a cidade
a João da Fonseca um chão por cincoenta reaes. Em
1522, por falecimento do foreiro, passou o chão a seu
filho António (aliás Antão) da Fonseca, e deste o her-
dou sua viuva D. Leonor de Miranda. Na posse desta
senhora estava o tal chão em 1573, quando foi medido
e confrontado, como consta do seguinte assento: "Um
chão em que está feito um laranjal e parreiral em Alcá-
çova, junto da porta de S. Jorge, antes de chegar, e
está á mão esquerda indo para o eastello, pegando com
o muro, e de trás das casas de D. Leonor de Miranda,
o qual está ladrilhado e cercado de parede alta...
Da banda do norte parte com muro da cidade, e ao
longo delle tem de comprimento vinte e três varas; da
banda de levante parte com casa de D. Leonor de Mi-
randa, e tem de largo oito varas; do sul, com quintal
de D. Joana, viuva, molher do Contador mór que Deos
haja, e da dita banda, ao longo da parede que vai entre
um e outro, tem de comprimento outras vinte e três
varas; do poente, com o dito quintal delia D. Joana e
com um miradoiro da dita D. Leonor, e da dita banda,
ao longo da parede, outras oito varas,, 24.
Aquella D. Joana, viuva do Contador mór, também
descendia de Pêro da Alcáçova. Chamava-se D. Joana
da Silveira, e era filha de seu neto o Secretario Fran-
( hancelaria de D.João 111, Mv. 8.o de Doações, El. 101.
-' Liv. 2.o do Tombo das propriedades foreiras á Camará . . . colli-
gidas... pelo licenciado Luiz Lourenço, íl. 295 v. Está no arquivo
da Camará Municipal de Lisboa.
O CAMAREIRO 345
cisco Carneiro, 2." senhor da ilha do Príncipe, primo
com irmão de Antão da Fonseca, marido de D. Leonor
de Miranda, dona do chão confrontado. Por aqui se
prova mais nina vez que todos, ou quasi todos, os pros-
simos descendentes do Escrivão da Fazenda de I K João il
viveram nas vizinhanças da porta da Alfôfa. Era um
bairro da família. O Contador mor, de quem D. Joana
da Silveira era viuva, chamou-se D. Dinis de Almeida
e de uma sua neta e herdeira é que descendeu a Du-
quesa de Cadaval, a que acima aludi.
As casas pequenas á porta da Alfôfa feitas por Pêro da
Alcáçova, as quaes em 1501, segundo resa a muito ci-
tada carta de aforamento, eram da Condessa de Pena-
macor, e em 1511 do Secretario António Carneiro,
acham-se ligadas a uns poucos de nomes conhecidos
na historia de Portugal.
O edificador, Pêro da Alcáçova, foi o escrivão da
fazenda de D. Afonso V e D. João II já neste estudo, lá
muito atrás, mencionado. Não creio que tivesse nunca
vendido as suas casas á Condessa de Penamacor, fidalga
pobre; suponho simplesmente haver ella lá habitado por
aluguer. Confirma esta suposição o facto do prédio em
1511, sendo ainda a Condessa viva, pertencer a António
Carneiro, genro de Pêro da Alcáçova. Este já era fale-
cido em 8 de junho de 1509 -', e por sua morte passa-
riam as casas da porta da Alfôfa a sua filha D. Beatriz
da Alcáçova, mulher do Secretario. Nellas, segundo Bar-
bosa Machado que numa coisa se enganou -''', nasceu
num dia 29 de junho, o filho segundo de António
23 Data da carta de confirmação por seu falecimento do paul de
Ota a seu filho Fernão da Alcáçova. Chancelaria de D. Jauo III,
liv. 6.o de Doações, fl. 140.
28 Bib. lusitana, III, 547. O engano do douto Abade de Seve
consiste em dizer que as casas da porta da Alfôfa, onde Pêro da Alcá-
çova Carneiro nasceu, pertenciam a seu tio materno Pêro da Alcá-
çova; avô materno é que elle era. Talvez fosse erro de impressão
346 ESTUDOS
Carneiro, o celebre Secretario de Estado Pêro da Alcá-
çova Carneiro, Conde da Idanha a Nova por alvará de
lembrança de 1 de novembro de 1581, confirmado por
carta de 2 de janeiro de 1584 -".
A Condessa de Penamacor, D. Leonor de Noronha,
quando em 1501 habitava nas casas á porta da Alfôfa,
era viuva havia uns oito annos. Seu marido, Lopo de
Albuquerque, camareiro mór muito aceito a D. Afonso V,
fora, junto dos descontentes fidalgos castelhanos, talvez
o principal negociador do casamento dei Rei com a
Beltraneja e da desastrosa invasão de Castella. Por isso,
logo que em Placencia se celebraram os desposorios de
D. Afonso V com a Princesa D. Joana, quando tudo
ainda corria auspiciosamente, deu el Rei, nos últimos
dias de maio de 1475, ao seu Camareiro mór, em galar-
dão dos seus serviços, o titulo de conde de Penamacor,
e seguidamente fez-lhe muitas outras mercês. D. João II
porem, sucedendo na coroa, tirou ao Conde a rejedoria
da Casa do Civel de Lisboa, e, ainda que lha pagou
com uma tença de duzentos mil reaes, não deixou satis-
feito a D. Lopo, que por este, e talvez outros motivos,
se alistou em 1484 na conspiração do Duque de Viseu.
Descoberta ella, teve o Conde finalmente de fujir do
reino, decaindo de todas as grandezas, e depois de va-
rias aventuras foi morrer a Sevilha "2S.
Estes successos ficaram na memoria de Duarte da
Gama, um dos poetas do Cancioneiro :
Lembra me Penamacor
como foy já prosperado,
e depoys foy desterrado
do reyno com tanta dor -"'.
27 Doações de D. Filipe I, liv. 4.°, fl. 266 v.
28 Liv. 2." dos Brasões de Cintra, paj. 392.
■•':l Cancioneiro geral, ti. H4, col, 3.a.
O CAMAREIRO 347
D. Leonor de Noronha, Condessa de Penamacor, era
filha do turbulento Arcebispo de Lisboa D. Pedro de
Noronha, bisneta dos Reis D. Henrique II de Castella e
D. Fernando de Portugal, irmã da Marquesa de Monte-
mor e da Condessa de Abrantes, e sobrinha dos Con-
des de Vila Real e de Odemira e da Duquesa de Bra-
gança D. Constança. Apesar de toda a sua altíssima
fidalguia padeceu D. Leonor privações lá fora e até cá
no reino, para onde regressou por morte de D. João II,
valendo-lhe D. Manuel com algumas tenças. A Condessa,
que foi um vivo exemplo das "monstruosidades do tempo
e da fortuna,,, encontrou a morte num dos annos de
1518 a 1520.
No Cancioneiro geral aparece ella designada, numas
trovas de João Gomez de Abreu escritas em 1498, por
uma forma absolutamente inintelijivel para mim:
Fylhos dons Penamacor
da Condesa de liçeyra,
o pequeno que é mayor,
tem Macedo por terceyra ''.
Liceira, que nem chego a saber se é nome de terra
(existe um logar de Liceiras na freguesia de Asmes), se-
ria apenas palavra inventada pelo poetastro para rimar
com terceira? ou nella existirá alguma alusão? Não sei.
E charada por ora indecifrável para mim, como aliás
varias outras da compilação de Resende.
A porta da Alfôfa está marcada na planta em G.
Defronte delia existiam em 1771 umas casas velhas,
denominadas o Monturo. Do cunhal destas casas até á
porta mediram de comprimento vinte e dois palmos;
:!l' Cancioneiro geral, fl. 191. col. l.a
34S ESTUDOS
de largura da porta, trinta c um; e quarenta e cinco de
comprimento da mesma M.
Antes de entrar a porta via-se na parede do lado di-
reito nma cruz, chamada a Cruz da porta da Alíôfa.
Aquella parede, que continuava para o poente a da
estrema norte da propriedade de Antão de Faria, vedava
um chão da cidade que em 1573 andava aforado a
Pedr'Eannes, ourives; chão que tinha quasi a forma de
um triangulo, no vértice do qual se fazia a voita da
Calçada para a porta da Alfôfa '"'-.
Sobre a porta, da banda de dentro, havia em 1750
um nicho com uma imajem de santo António; e na
parede da esquerda, olhando para a imajem, estava um
painel de azulejos no qual se representava o milagre do
santo, quando foi livrar o pai da forca :{:!. A parede, onde
o quadro se via, era a das casas que haviam sido de
Pêro da Alcáçova, e não a das de Antão de Faria que
não chegavam até lá tanto acima.
O sitio da porta da Alfôfa correspondia aprossimada-
mente á actual esquina das ruas do Milagre de Santo
António e de S. Bartolomeu, um pouco mais ao poente.
Todo o chão marcado na planta com a letra H per-
tencia em 1771 a José António Freire de Andrada,
2.° Conde de Bobadella por carta de 9 de maio de 1763,
em sucessão ao 1.° Conde seu irmão, o tenente general
Gomes Freire de Andrada, notável governador e capi-
tão general que havia sido do Rio de Janeiro e Minas.
No chão existiam, arruinadas pelo terremoto, umas
casas grandes com a frente para a rua das Portas da
31 Tombo da cidade de Lisboa, liv. l.q, Castcllo, fl. .4 v.
:i- Cit. liv. 2.° do Tombo das propriedades forciras á Camará, fl.
yi Fr. Apolinário da Conceição, Demonstraçam histórica, paj.
1S7.
O CAMAREIRO 349
Alfôfa, para onde mediam duzentos e quarenta e quatro
palmos (53m,68), desde a esquina do beco ou rua da
Amargura para cima. Voltavam depois para esta rua, que
tomavam toda, medindo de comprimento cento e qua-
renta e cinco palmos (31"\90); chegadas ao fim da rua,
tinham de frente para o largo de S. Bartolomeu qua-
renta e quatro palmos (9"\68) até ao angulo reintrante,
e delle seguiam com trinta e nove palmos e meio (8m,ó9)
entrando na pia por de trás da igreja ;'.
Neste chão existia no século xvi, segundo creio,
a casa dos Fonsecas: João, senhor das ilhas de Santo
Antão, Flores e Corvo, escrivão da fazenda, e marido
de Margarida da Alcáçova; e Antão, seu filho segundo,
também escrivão da fazenda, que sucedeu nas casas a
seu pai, tendo as ilhas ficado ao irmão mais velho, Pêro
da Fonseca.
João da Fonseca parece ter morrido a 22 de agosto
de 1522, como declarava o seu epitáfio na capella de
SanfAna da igreja de S. Bartolomeu :;:i. Ainda vivia
porem, quando D. Leonor, viuva de D. João II, fez o seu
testamento, porque numa verba delle declara a Rainha
possuir varias casas que havia comprado de redor das
de sua morada em Lisboa, umas debaixo do eirado,
outras sob a Casa de Jerusalém, e ainda outras
"ao longo da rua que vai para onde vive João da
Fonseca,;. Posteriormente, numa certidão passada em
1538, por tanto já depois da morte de João da Fon-
seca, afirma-se que uma das taes casas compradas por
34 Tombo da cidade, liv. l.o, Castello, fl. 18 v.
30 Visconde Júlio de Castilho, Lisboa antiga, part. II, vol. VII,
paj. S. - A 29 daquelle mês de agosto já era morto com certeza, como
declara a carta dessa data de confirmação a Antão da Fonseca da
adiça no termo de Almada, vaga por morte de seu pai João da
Fonseca. Liv. 46.« de Doações de D.João III, fl. 160 v., impressa
pelo dr. Sousa Viterbo a paj. 13 das Artes e industrias metallicas
em Portugal. Minas e mineiros.
350 ESTUDOS
D. Leonor de roda das suas, estava na "rua que vai das
portas da Alfôfa para as casas de Antão da Fonseca,, 36.
Aquella rua não podia ser senão a da Amargura, ou a
de Jerusalém, porque entre ellas ficavam os paços da
Rainha. Se a rua fosse a de Jerusalém, era mais provável
designar-se como rua que ia das portas da Alfôfa para
Santo Eloi, forma por que a encontro determinada nal-
guns documentos. Mas ha mais ainda, para prova da
rua ser a da Amargura.
A cozinha dos paços de D. Leonor ficava pegada e
ao norte das casas em I', e por tanto deitava para a rua
da Amargura. Ora eu já apresentei o documento por
onde se prova que da tal cozinha saía um cano de des-
pejos que ia terminar a baixo da porta da Alfôfa. Repare
o leitor para a planta, e verá que esse cano não podia
ter outra directriz a não ser pela rua da Amargura a
baixo até á referida porta. Está convencido? Pois desse
cano também se serviam as casas que até 1522 foram de
João da Fonseca, e depois de seu filho Antão da Fon-
seca.
Viriam as casas provavelmente até ao recanto de
S. Bartolomeu, e da vizinhança com essa igreja resul-
tou escolhe-la João da Fonseca para jazigo seu e de
seus descendentes, fundando lá uma capella á qual vin-
culou, alem doutros rendimentos, é provável, uma
renda de dez mil reaes, da qual se passou carta de padrão
em 24 de março de 1528 :!7.
Passemos agora as casas da Rainha D. Leonor, que
já estou com pressa de lá chegar.
Os paços da viuva de D. João II estão marcado^ na
planta em I e I'.
111 Chancelaria de D. João III, liv. I,.' de Doações, íl. 14í).
;" Lousada, Sumários da Torre do Tombo, part. I, fl. 4 v., mihi.
O CAMAREIRO 351
"Defronte de S. Bartolomeu, que hoje está em mon-
turo, temos (os Lóios) um chão que antigamente foi
praso da Rainha D. Leonor, e depois de vários enfiteutas,
sequestrado por divida real, e depois tornado a restituir
ao Convento por alvará dei Rei de 15 de maio de 1651,
e depois novamente emprasado a D. Antónia Leitão.. \
Logo abaixo continua, transcrevendo agora do Tombo
velho: "Item, o dito Mosteiro, logo junto com a Senhora
Rainha D. Leonor, tem (falta esta palavra) umas casas
(P); rua em meio, que ora traz Inês Vaz e sua filha,
em três pessoas, das quaes ora tem a dita Senhora o ar
emprasado em três vidas, e paga um real de prata, e
partem (as casas de Inês Vaz) da banda do norte com
a dita Senhora e sua cozinha, e da outra parte com rua
publica, e teem as ditas casas em largo oito varas esfor-
çadas (8,m80), e em comprido dez varas menos quarta
(10m,725), com duas lojas, e um patim que tem uma
parreira, e isto em vão; as quaes casas teem um sobrado
com seus repartimentos, tudo dentro desta medida das
varas; e tinha serventia, assim para a rua que vai da
nossa portaria para as portas da Alfôfa, como para a rua
defronte de S. Bartolomeu, sobre que caíam os paços
da Rainha» 39.
A portaria do convento dos Lóios ficava junto ao
canto, perto da casa L na planta, comunicando com o
claustro, situado ao poente da igreja, logo por de trás
delia. Por tanto a rua que ia da portaria de Santo Eloi
para a porta da Alfôfa, era a de Jerusalém, nem podia
ser outra.
Parte dos paços da Rainha ficava sobre umas casas,
que estavam "rua em meio., do convento; logo eram
;;s Tombo de Santo Eloi, íl. 1; liv. 17. o dos daquelle mosteiro na
Torre do Tombo.
•*' Ibidem.
J52 ESTUDOS
cilas do outro lado da rua, a de Jerusalém, e por tanto
os paços da Rainha, visto correrem sobre as taes casas,
estendiam-se ao norte daquella rua.
Caíam os paços sobre "a rua defronte de S. Barto-
lomeu .., a qual não podia ser a rua da Amargura, por-
que a isso se opunha a medição das casas por baixo
das da Rainha, as de Inês Vaz, que não alcançavam
aquella rua, mas tinham serventia, tanto para a rua
de Jerusalém, como para a tal "rua defronte de S. Bar-
tolomeu sobre que caíam os paços da Rainha,,.
Esta rua, que durou até depois de 1541, sei onde era,
mas não a marquei na planta por não ter dados positi-
vos para o fazer, e não querer pôr-me a inventar. Partia
ella da portaria do convento de Santo Eloi, e subia até
ao adro de S. Bartolomeu, porque o largo dos Lóios
ainda não existia. Aí eram casas nos tempos da Rainha
D. Leonor. Lá adiante, em chegando á letra O, ficará
isso provado; aqui bastará dizer agora mais o seguinte.
No chão do tal largo dos Lóios existiram dois prédios
de casas, metendo-se talvez uma rua entre elles e o
convento. Ambas aquellas casas compraram os frades
de Santo Eloi para arrasar, e fazer o terreiro defronte
do seu convento. Uma delias era propriedade particu-
lar; não sei quando foi vendida. A outra era de capella,
e nella estava estabelecido o hospital de Santo Eutropio,
o qual, só depois da bula de 20 de abril de 1541 de
autorização para a sua transferencia, é' que pôde ser
mudado para poço do Borratem. É certo pois ter elle,
até áquella data permanecido no seu antigo logar na
freguesia de S. Bartolomeu. Não ha duvida, em vista
do documento transcrito, de que a casa de Inês Vaz,
marcada I' na planta, tinha serventia para duas ruas, a de
Jerusalém e a defronte de S. Bartolomeu. Esta havia de
ser por tanto a que partia de Santo Eloi direito ao adro
de S. Bartolomeu, tendo ao poente as casas de Inês
O CAMAREIRO 353
Vaz por baixo das cia Rainha, e ao nascente o hospital
de Santo Eutropio, ou o outro prédio a elle mistico.
Creio ter explicado bem o caso.
Dava por tanto a frontariâ dos paços da Rainha, parte,
sobre o adro de S. Bartolomeu, e o resto para a tal
rua que de lá descia para a portaria de Santo Eloi. Não
me restam duvidas; mas, para desvanecer alguma ainda
existente no espirito do leitor, vou apresentar-lhe outra
prova. t
As casas da Rainha davam para a rua de Jerusalém,
já vimos isso, e chegavam até á rua da Amargura, como
logo provarei, mas não cubriam todo o quadrilátero
marcado na planta com a letra I. Sabe-se por isto.
De uma certidão junta a uma verba do testamento
da Rainha D. Leonor, certidão e verba adiante transcri-
tas, consta que outras casas de baixo das da Rainha,
nas quaes morava Diogo Alvarez a quem ella as legou,
confrontavam do nascente e sul com o paço e quintal
da Rainha, do norte com a rua da Amargura, e do
poente com casas de Simão da Fonseca. Tomavam por
tanto as casas deste Simão da Fonseca (um capellão
fidalgo, filho também do já por vezes nomeado João da
Fonseca), provavelmente todo o lado curto do quadrilá-
tero, desde a rua da Amargura até á de Jerusalém.
Ora el Rei D. Manuel não se contentou somente em
doar a sua irmã, por carta de 29 de abril de 1496, "as
nossas casas que estão em Lisboa junto com Santo Floi,
que são do nosso património e as houvemos por com-
pra de D. Fernando, marichal de nossos reinos,, "; mas
quis também que essas casas ficassem desafrontadas.
Para esse efeito, "mandámos derribar á porta da Alfôfà
desta cidade umas casas do mosteiro de Santo Eloi para
ficarem em terreiro as casas da Rainha, minha Senhora
í" Liv. l.o de Reis, fl. 96 v.
23
354 ESTUDOS
irmã.. ''. Ao norte tinham os paços de D. Leonor a rua
da Amargura, ao sul, a de Jerusalém, ao poente, as casas
de Simão da Fonseca, e por nenhum destes lados podiam
elles ser afrontados por casas de Santo Eloi. Ficava só
a frente para o adro de S. Bartolomeu, e aí, pouco
mais ou menos em J, haviam de ter sido as casas manda-
das derrubar para as da Rainha "ficarem em terreiro».
Não faça duvida dizer-se no documento serem as
casas derrubadas "á porta da Alfôfa», e eu pô-las na
planta tão lonje. As portas da Alfôfa era designação
lata, quasi de bairro.
A verba do testamento da Rainha D. Leonor, a que
acima aludi, diz isto: "Alando que todas as outras ca-
sas que mandei comprar, que estão de redor das casas
sobreditas em que vivo em Lisboa, assim como são as
que estão de baixo do eirado, e as que estão de sob a
Casa de Jerusalém, com todalas outras que estão ao
longo da rua que vai para onde vive João da Fonseca,
e as em que vivia Gil Vicente que estão da outra parte,
todas se vendam, ou, se alguns meus criados ou criadas
as quiserem tomar em desconto do que de mim houverem
de haver, que lhas dêem naquelle preço que valerem,
tirando as casas em que está Diogo Alvarez e sua mu-
lher Leonor Alvarez, aos quaes faço delias mercê,, '-.
"A rua que vai para onde vive João da Fonseca,,, já
mostrei que havia de ser a posteriormente chamada da
Amargura. Chegavam por tanto os paços da Rainha,
" Carta de 16 de agosto de 1502, dando ao convento outras casas
em satisfação das derrubadas. Chancelaria de D. Manuel, liv. 4.",
ti. 31.
V! Chancele ria de D.João III, liv. 44.° de Doações, fl. 146, trans-
crita a verba na carta de 29 de janeiro de 153S pela qual D.João III
confirmou aos referidos Diogo Alvarez e Leonor Alvarez a doação a
elies feita pela Rainha D. Leonor. Este documento encontra-se hoje
impresso na integra sob n.° \vn, a paj. 1()(> do Gil Vicente do
General Brito Rebello, que para ilustrar o texto reproduziu parte
da planta junta a este meu estudo.
O CAMAREIRO
por si, ou pelas casas por cila adquiridas ele roda delles,
á rua da Amargura com a qual partiam pelo norte, para
a qual dava a cozinha, e pela qual corria o cano dos
despejos até á porta da Alfôfa.
As casas "em que vivia Gil Vicente que estão da
outra parte,,, ficavam, é evidente, fronteiras ás da Rai-
nha, do outro lado de uma rua, que era a de Jerusalém,
como lá adiante direi, na letra K.
Agora, a / Casa de Jerusalém pegada com a da
Rainha, e que deu o nome á rua, é que não sei onde
fosse, nem a que pertencesse. Nem em livros, nem em
documentos encontrei referencia clara a semelhante casa.
Preguntei ao Visconde de Castilho, ao General Brito
Rebello, ao sr. Freire de Oliveira, e nenhum delles sabia
a tal respeito mais do que eu. Era pertença da Ordem
militar de S. João de Jerusalém? Relacionava-se com a
Ordem monástica da Trindade pela redenção dos cati-
vos? Não sei. Outro mais feliz desvendará o mistério.
No II vol. dos Elementos para a historia do municí-
pio de Lisboa apresenta o sr. Freire de Oliveira, a
paj. 325, um rol, fundado em documentos, das esmo-
las, ordinárias lhes chamavam, dadas pela Camará em
princípios do xvn século. Na lista encontra-se: "Ao
Commissario da Terra Santa de Jerusalém, 4$000.„
No mesmo documento já citado, no qual vem trans-
crita a referida verba do testamento da Rainha D. Leo-
nor, traslada-se mais abaixo uma certidão, também
interessante. Diz ella: "A quantos esta certidão virem,
Francisco Cardoso, que ora tem cargo das cousas dos
descargos da alma da Rainha D. Leonor, que Santa
Gloria haja, e João Machado, escrivão do dito cargo,
fazemos saber que as casas em que morava Diogo Al-
varez e Leonor Alvarez sua molher, em vida da dita
Senhora, estão na rua que vai da porta da Alfôfa para
as casas de Antão da Fonseca, e são três casas sobra-
356 imidos
dadas, com trcs lojas, e uma delias tem outro sobrado
das casas que foram da dita Senhora em cima, e as
duas de telha vau; e partem da banda de baixo com
casas da dita Senhora, e das costas com quintal das ca-
sas da dita Senhora, e da banda de cima com casas de
Simão da Fonseca, e com a dita rua ; c por certeza
disto passamos esta certidão . . . em Lisboa, a 24 de ja-
neiro de 1538».
Todos os esclarecimentos ministrados por esta certi-
dão já aproveitei, e transcrevi-a unicamente para funda-
mentar o que disse nella fundado. Notarei ainda assim
mais uma coisa. É que da descrição nella feita das ca-
sas de Diogo Alvarez, combinada com a das de Inês
Vaz, já lá acima mencionada, se mostra serem os paços
da rainha altos. Tinham elles por baixo, alem de lojas, um
sobrado, isto é, um andar, e sobre este é que corriam.
As transcritas verba e certidão foram apresentadas
pelo referido Diogo Alvarez, cavaleiro da ordem de
Santiago, a el Rei, pedindo lhe mandasse dar a posse
das casas que a Rainha D. Leonor lhe doara. D. João III
defere, manda que Diogo Alvarez, Leonor Alvarez sua
mulher, e todos seus herdeiros, hajam e possuam as três
lojas e três casas sobradadas que a Rainha lhes doara,
"porem a casa sobradada que está em cima de uma das
ditas casas, ficará com a herança das outras casas que
foram da dita Senhora Rainha, que ora são minhas, por
quanto a dita Senhora lhe não fez doação delia».
Foi a carta passada cm Lisboa a 29 de janeiro de
1538, e por ella ficámos ultimamente sabendo haver
D. João III herdado de sua tia, a Rainha D. Leonor, os
seus paços de S. Bartolomeu.
Encontrei a medição do quadrilátero dentro do qual
ficavam os paços da Rainha; diz assim: "Um grande
pedaço de chão, que está entre a rua da Amargura e
da de Jerusalém, sobre si, e está defronte das ditas
O CAMAREIRO 357
casas do Conde de Bobadella (II), que se disse ser
também do mesmo (onde. Tem de frente para a rua
das Portas da Alfôfa vinte e um palmos (4m,62); pela
rua de Jerusalém, cento e cincoenta (33m); pela da
Amargura, cento e quarenta e cinco (31m,90); e de frente
para o largo 011 adro de S. Bartholomeu, oitenta e seis
palmos (18m,92), cujo chão está como baldio., ' '.
Nenhuns restos existem pois dos paços de S. Barto-
lomeu, onde , a Rainha D. Leonor morou e morreu.
Também encontrei a medição das ruas da Amargura
e de Jerusalém. Aquella, que ia das portas da Alfôfa
para S. Bartolomeu, tinha de comprimento cento e
vinte e quatro palmos (27m,2S), e de largura sete pal-
mos (1"\54). Era realmente um beco. A outra, a de
Jerusalém, tinha de comprimento cento e sessenta pal-
mos (35m,2), e de largo dezasete (3m,74). Também não
era nenhuma avenida '".
Por ultimo, aproveitando a planta do sr. Vieira da
Silva, direi que os paços da Rainha D. Leonor tomavam
aprossimadamente metade do actual largo dos Lóios,
desde a esquina ocidental da rua de S. Bartolomeu,
passando em frente da desembocadura da rua da Sau-
dade, e ocupavam ainda uma parte do chão dos pré-
dios que deitam para o lado norte do largo dos Lóios,
desde a esquina oriental da rua de S. Bartolomeu ''.
í3 Tombo da cidade de Lisboa, liv. 1.°, Castello, fl. 19.
11 Ibidem, fl. 4 v.
' No Jornal do Commercio de S de julho de 1902 lê-se o seguinte:
"Do sr. Visconde Júlio de Castilho acabamos de receber a seguinte
carta acerca do estudo histórico sobre Antão de Faria
Sr. Redactor.
Acabo de ler os três últimos artigos de Silex, que fazem parte do
seu erudito e complexo estudo sobre O Camareiro. Averigua-se, a po-
der de insano trabalho e interessantíssimas pesquizas, o sitio onde
358 ESTUDOS
No ponto J da planta, ou por aí perto, estavam as
casas por IX Manuel mandadas derrubar para as da
Rainha sua irmã ficarem em terreiro. Já a ellas me
referi.
Em K existiam casas compradas pela Rainha D. Leo-
nor de roda dos paços em que habitava. Eram as que
"estavam da outra parte,,, aquellas "em que Gil Vicente
vivia»; e a razão por que eram essas, parece-me simples.
As casas de Antão de Faria iam correndo pelo nas-
cente ao lado do convento de Santo Eloi, "até entesta-
rem em casas da Senhora Rainha D. Leonor da banda
do norte,,. Não ha por tanto duvida de que ao sul da
rua de Jerusalém também a Rainha possuiu casas. Ella,
na citada verba do seu testamento, manda vender "todas
as outras casas . . . que estão de redor,, dos seus paços,
excepto umas, as doadas a Diogo Alvarez. Para descrimi-
nar aquellas, declara serem ellas "as que estão de baixo
do eirado, e as que estão de sob a casa de Jerusalém,
com todalas outras que estão ao longo da rua que vai
para onde vive João da Fonseca,, ; todas estas são pega-
das aos paços. Depois continua: "e as em que vivia
Gil Vicente, que são da outra parte.,,
ficava no século xvi o paço da Rainha D. Leonor, mulher del-Rei
D. João II. A argumentação de Silex, irrespondivel, e baseada em
alicerces de primeira ordem, vem destruir completamente o que a
respeito d'esse mesmo paço eu disse na minha Lisboa antiga. O que
sinto é que o autor d'esta série de admiráveis quadros o não dissesse,
para esclarecimento de leitores pouco attentos. Nestas matérias his-
tórica--, tão difficeis, não deve haver melindres demasiados; a ver-
dade, embora nua e crua, nunca escandaliza a quem só deseja acertar.
Entendo dever de lealdade esta declaração; e felicitando a v. pela
publicação tias instruetivas obras de Silex, que tanto nome teem (.lado
rev< i-me
I )e v. etc.
Lumiar, 7 de julho de 1902.
Júlio de Castilho.
Esta carta., acrescentarei agora, honrosissima para tinem a escre-
veu, não devia ficar perdida nas colunas dum periódico.
O CAM \U\ [RO 359
A primeira vista parece que estas ficavam alem, ao
norte, da rua tia Amargura, "a rua que vai para onde
vive João da Fonseca», mas não pôde ser, porque é
positivo ter a Rainha possuído casas pegadas com as de
Antão de Faria, e essas só podiam seráquem, ao sul, da
rua de Jerusalém.
Era pois aí, ao sul da rua de Jerusalém, junto ás
casas de Antão de Faria, que viveu Gil Vicente, o ouri-
ves trovador.
O Planto português, como apregoaram agora meia
dúzia de vozes por ocasião da chocha comemoração
que lhe fizeram. Tão* insignificante, que bem fez el Rei
pondo-se ao largo.
Ainda assim, salva-la-ha de completo esquecimento a
excelente biografia do poeta, que o General Brito Rebello
tem pronta a sair do prelo para celebrar dignamente o
quarto centenário da auspiciosa estreia cénica de Gil
Vicente ''''.
Nos sitios marcados na planta com as letras L, M e N,
eram situadas umas casas, arruinadas pelo terremoto, per-
tencentes aos Lóios, das quaes encontrei as medições no
Tombo da cidade'"; e mais o convento e a igreja de
Santo Eloi.
O ponto marcado em O é mais interessante.
Era ali, no largo dos Lóios de 1755, com cento
e doze palmos (24m,64) de comprimento e oitenta e
cinco (18m,7) de largo ',s, que havia existido o antigo
hospital de Santo Eutropio. Revelou-me o facto um
assento do Tombo de Santo Eloi.
"Todo o chão d'ante a porta travessa de S. Bartolo-
"; Apareceu no próprio mês de julho de 1902 cm que eu escrevia
estas coisas no Jornal do Cominaria.
1 Liv. 1.", Castello, fl. 20.
1 ' Ibidem, fl. 4 v.
360 ESTUDOS
meu, assim como parte com o adro, até á porta de
Santo Eloi, que Foram casas compradas a Lourenço de
Guimarães, e casas que foram hospital de Santo Eutro-
pio, que pertence ao morgado de S. Mateus, e foram
escambadas por outras de Santo Eloi« ''•'; todo aquelle
chão era de Santo Eloi, pelos frades mandado arrasar
para desafrontar o seu convento.
Por instrumento de 31 de agosto de 130S instituiu
D. João, Bispo de Silves, como elle se nomeia e intitula
nesta escritura, ou D. João Soarez Alão, como lhe cha-
mam os historiadores, um hospital e capella °.
A capella ordenou-se na igreja de S. Bartolomeu
sob a invocação de Santo Eutropio, e o hospital nas
casas do Bispo situadas naquella freguesia. A esta insti-
tuição vinculou elle todos os seus bens moveis, semo-
ventes e de raiz, e nomeou para a administrar, por morte
do Bispo D. Domingos Jardo (o fundador do contíguo
hospital de Santo Eloi), a seu neto, do Bispo instituidor,
Gonçalo Mendez, e depois deste ao clérigo seu parente
mais prossimo. Na falta de parente clérigo sucederá na
administração quem pelo dito seu neto for nomeado.
Os encargos eram a manutenção de dois clérigos para
celebrarem os oficios divinos na capella, e a de qua-
tro pobres envergonhados, assim homens como mu-
lheres.
Manda dar diariamente aos dois sacerdotes, alem de
pão e vinho, um arrátel de carne cozida, e aos domin-
gos e quintas-feiras mais um, assado. Nos dias de jejum
terão um pescado, e ás quintas e domingos dois. Os
quatro pobres terão para todos a mesma ração de carne
ou de peixe, que se der aos dois clérigos. Todos seis rece-
1 Foral de 1117 a 1507, fl. 59, liv, n." IS de Santo Eloi na- Torre
t!<> Tombo.
0 Provas da Hist genealógica, vol. VI, paj. 140 e 142.
O CAMAR1 [RI > 3Ó1
berão remédios e tratamento necessários, quando enfer-
mem; e cada um terá seu leito com "um colchão, e
um chumaço com pentia, dois lençoes, uma colcha, e
cubertor.H Haverá um dormitório e refeitório comuns,
e serão servidos pelas pessoas necessárias. Receberão,
alem disso, para vestuário: os clérigos, "ele/aseis cova-
dos de sarja com dois pares de calças de estamenha ou
de brugia, e quatro libras e meia a cada um delles para
pennasw, e mais o calçado; os pobres, terão "onze cova-
dos de estamenha ou de brugia, dois pares de camisas
e de çapatos, os quaes çapatos se sollem quando fôr ne-
cessário.,,
Meado o xiv século era Lopo Soarez de Albergaria
senhor da albergaria de Paio Delgado, também insti-
tuída na freguesia de S. Bartolomeu, e mais do hos-
pital de Santo Eutropio 51. A albergaria herdara por
sucessão de seus maiores, e o hospital por ser parente
do neto do Bispo instituidor, Gonçalo Mendez, que em
Lopo Soarez, ou em seu pai, nomeara a administração.
Por morte de Lopo Soarez, ou de seu filho Afonso
Soarez, sucedeu naquelles bens Diogo Soarez de Alber-
garia, irmão de Lopo. Foi Diogo Soarez alcaide mor de
Arronches por carta de 10 de oitubro de 1369 '-, e delle
se encontram varias memorias na chancelaria de D. Fer-
nando. A Diogo Soarez sucedeu sua filha Caterina Soa-
rez, a quem, por motivo de passar para Castella com
sua mãe Urraca Fernandez, foram os bens confiscados,
e doados a Martim Vasquez da Cunha por cartas de 20
de setembro e 14 de oitubro de 1386 ,!.
Fra Martim Vasquez realmente o representante da
antiga família dos Albergarias, por ser filho de Brites
A Sentença de 17 de março da era de 1427 (1389 da era vulgar)
impressa a paj. 14S do vol. VI das Provas da Hist. genealógica.
•'- Chancelaria de D. Fernando, liv. 1. " fl. 46 v.
;,i Chancelaria de D.João I, liv. l.° fl. 177 e 185.
362 ESTUDOS
Lopez de Albergaria, e como tal lhe foram setenceados
os morgados em 17 de março de 1389 '.
Martim Vasquez da Cunha, alem de ser um dos maio-
res senhores de Portugal, era um dos mais ricos, não só
pelos seus imensos bens próprios, como pelos de sua
mulher, D. Maria Giron, senhora da casa de Giron e
das vilas de Tarouca e Valdijem. A todos estes bens se
havia de juntar a grande casa de seu pai, Vasco Martinz
da Cunha, senhor da Taboa, Ànjeja, Pinheiro, Pereira
etc. lira pois para apetecer o casamento com qualquer
das suas filhas, não só pelo lustre da aliança, como pela
opulência do dote. Foi pois, como prémio de seus ser-
viços, que D. João I casou, em Coimbra, no mês de julho
de 1389, o dr. João das Regras com uma das filhas do
futuro Conde de Valência de Campos.
Efeituado o casamento, e havendo Martim Vasquez
passado para Castella, onde foi criado conde, fez el Rei
doação, por carta de 22 de julho da era de 1435 (1397
e. v.), dos hospitaes e albergarias de Paio Delgado,
Santa Barbara e Santo Eutropio ao genro do Conde, o
dr. João das Regras ''. Veio por tanto o hospital de
Sinto Eutropio, com os outros, a pertencer áquelle
celebre jurisconsulto, que o transmitiu a seus descen-
dentes, os Marqueses de Cascaes, e depois os de Nisa.
Quando João das Regras tomou posse da administra-
ção do hospital de Santo Eutropio, não era elle tão im-
portante, como se tornou pela anexação, que o privado
de D. João I posteriormente lhe fez, do morgado de
S. Mateus por elle fundado.
O hospital de Santo Eutropio foi, como fica dito, insti-
tuído pelo Bispo D. João Alão com obrigação de sustentar
dois capellães e quatro mercieiros. O hospital de S. Ma-
:,í Cit. sentença de 1 / de março da era de 1427.
- Provas da H/st. genealógica, vol. VI, paj. lôl
„ O CAMAREIRO 303
teus, instituído e anexado por João das Regras ao prece-
dente, tinha o encargo da manutenção de um capellão
e de dezaseis mercieiros 86. Ficaram pois os dois hos-
pitaes obrigados a sustentar três capellães e vinte mer-
cieiros.
Para acommodar esta gente alcançou D. Luis de Castro,
administrador daquelles hospitaes, uma bula, passada
a 29 de abril de 1541, pela qual se lhe facultou a aqui-
sição de um espaçoso prédio situado nas vizinhanças do
poço do Borratem, e foreiro em vidas á paroquia de
S. Nicolau. Juntou elle este prédio ao seu morgado, e
para lá transferiu o hospital i;. Por este documento se
prova ter até então permanecido o hospital na freguesia
de S. Bartolomeu, onde primitivamente fora instituído, e
só pelos annos de 1541 é que, passando para o poço
do Borratem, veio a pertencer á freguesia de Santa Justa,
onde já estava em 1552 '\
Parece pois poder-se d'aqui concluir que João das
Regras não morou nunca ao poço do Borratem, como
alguns autores supozeram. Com efeito elle habitou,
mas foi "nos paços e casas. . . na cidade de Lisboa a
par de Santa Marinha.., cuja acquisição lhe foi confir-
mada por D. João I por carta dada em Santarém a 25 de
setembro de 1390 "''', e nelles, em 29 de junho de 1403,
5e Cartório do hospital de S. José, Âppenso 2." aos Autos do pro-
cesso intentado pelo Hospital contra os Marquezes de Nisa, autos
designados pelo n.° 7Sb do maço 93, n." 4.
;,: Cit. Autos.
:,s Estatística de Lisboa do anno de 1552, ms. da Biblioteca Na-
cional, B-ll-10, do qual encontrei a noticia no III vol. da 2.a parte
da Lisboa antiga do Visconde Júlio de Castilho.
59 Chancelaria de D.João I, liv. 2.", fl. 49 v. — Carta de confirma-
ção da permutação feita entre o dr. João das Regras, do nosso con-
selho, e D. Beatriz de Castro, filha" do Conde D. Álvaro Pire/ de
Castro, pela qual o dr. adquiriu delia "huuns paaços e casas que
forom do dito seu padre com todas suas pertenças os quaaes som
na cidade de Lixboa apar de sãta Marinha..; e de doação do direito
real que podesse haver sobre os ditos prédios, outorgando-lhe "que
3Ó4 ESTUDOS
isto é, dez meses antes da sua morte, persistia ainda:
"em que elle ora mora., ''".
Mas, se eu me ponho a falar em João das Regras,
está o leitor bem servido. Nada, voltemos ao assunto.
Em P era a igreja de S. Bartolomeu, arruinada pelo
terremoto, a qual tinha sessenta e quatro palmos (14m,0S)
de frente, e cem (22111) de fundo (il.
Dava para um pequeno largo, chamado o adro de
S. Bartolomeu, o qual tinha cincoenta e um palmos
(li111, 22) de comprimento, e cincoenta e três (llm,66) de
largura ' -. Da parte de cima do adro havia outro largo-
sito, designado pelo nome de recanto de S. Bartolo-
meu, com quarenta e seis palmos (10in,12) de comprido,
por quarenta e um (9'»,02) de largo (i;;.
Aqui findará o meu passeio de roda das casas de
Antão de Faria. Quem me dera entrar lá dentro!
Veremos no seguinte capitulo.
X!
Já, demoradamente de mais talvez, dei volta pela parte
de fora ás casas de Antão de Faria. Quem me dera en-
trar lá dentro! Torno a dize-lo.
aja o bayrro dos ditos paaços e que lhe seja privilegiado e coutado
per a guisa que o cia cm tempo do dito Conde I). Álvaro Pirez e
dos outros cujos os ditos paaços forom atite dei.»
''" Instrumento tia referida data encontrado 110 almario 7." do
cartório do convento de S. Vicente de 1 ora por Gaspar Alvarez de
Lousada, que o extratou na parte II dos seus Sumários da Torre
do Tombo, fl. 184 v. mirii.
" Cit. Tombo da Cidade, liv. 1.', Castello, fl. 5.
'■ Ibidem, fl. 4 v.
' ' Ibidem, fl. 5.
O CAMAREIRO 365
Falta-me comtudo o principal: um documento que
me abra a porta.
Não tenho chave? Recorrerei á gazúa, e com cila, no
dia 30 de janeiro de 148é, atrás ele Afonso Alvarez,
juiz dos feitos da Mina, me introduzirei numas casas
fronteiras ás do Camareiro, do outro lado da calçada que
ia para as portas da Alfôfa.
As casas eram no chão onde depois se fundou o se-
minário de ,S. Patrício, e pertenciam então, ou, para
melhor dizer, haviam pertencido a D. Álvaro de Ataíde,
que fora condenado, por sentença de 9 de agosto de
1485, como réo do crime de lesa majestade, á pena de
morte e confiscação. São ellas as mesmas a que já de
passajem me referi no principio do capitulo precedente,
as possuídas em 1513 por D. Fernando de Ataíde, filho
do conspirador, a quem D. Manuel as havia tornado.
D. João II mandara expedir um alvará, em Sintra, a
29 de novembro de 1485, ordenando a Afonso Alvarez
que arrolasse os moveis de D. Álvaro existentes na sua
casa de Lisboa, e os entregasse a sua mulher D. Leonor
de Noronha. A generosidade dei Rei para com esta se-
nhora proviera delia ser filha do falecido Conde da
Atalaia, Rejedor que fora da Casa do Cível de Lisboa.
No tal dia 30 de janeiro de 1486, o juiz dos feitos
da Mina, para dar cumprimento á ordem dei Rei, diri-
jiu-se á casa de D. .Álvaro e abrindo a porta entrou para
lá com o seu escrivão. Atrás delles vou eu agora, e,
curioso como sou destas coisas, darei fé de tudo quanto
lá encontraram. Não ficarei sabendo, é certo, qual o re-
cheio que poucos annos depois tinha Antão de Faria na
casa fronteira a esta, agora também abandonada em vir-
tude do homizio em que se via obrigado a andar o seu
ultimo proprietário, o Conde de Penamacor; não o ficarei
sabendo, repito, mas por analojia poderei formar ideia
muito aprossimada.
J66 ESTUDOS
Vamos ver a mobília que no reinado de D. João II
guarnecia uma casa fidalga.
Transcreverei o inventario, para me não alongar em
considerações intermináveis; elle falará por si:
"Recebeo D. Leonor estas coisas adiante nomeadas e
avaliadas: um pano de armar, grande, de setenta e cinco
covados, usado, da historia de Abraão, avaliado em treze
mil reaes; outro pano de armar, grande, de sessenta co-
vados, usado, da historia de Roboão, avaliado em sete
mil reaes; uma cobricama, usada, de ervagens, de trinta
e quatro covados, avaliada em três mil e quinhentos
reaes; uma colcha de tafetá carmezim forrada de pano
de linho, de trinta covados, avaliada em quatro mil
reaes; um bancai de banco, velho, de ervagens, avaliado
em quinhentos reaes; um bancai de mesa, velho, de er-
vagem, avaliado em mil e quinhentos reaes; três guarda-
portas de arvoredo, todas usadas, e avaliadas todas em
três mil e quinhentos reaes; um pano detrás copa, de
ervagem, velho, avaliado em oitocentos reaes; umas cor-
tinas brancas de fio, em peça, novas, avaliadas em seis
mil reaes ; uma caixa em que estas cousas estão, avalia-
da em mil e quinhentos reaes; dentro nella dois ban-
caes de arvoredo, usados, de bancos, avaliados em dois
mil reaes; oito coxins usados, avaliados em três mil
reaes; uma alcatifa grande, de Castella, usada, avaliada
em três mil reaes; a caixa em que estão estas cousas,
avaliada em mil e quinhentos reaes; um retabolo de
nosso Senhor, avaliado em três mil reaes; uma manta ca-
cheira, usada, avaliada em oitocentos reaes; umas cor-
tinas velhas, vermelhas, com suas corrediças e cobricama,
avaliadas em quatro mil reaes; uma colcha branca velha,
pequena, avaliada em quinhentos reaes; um cobertor
gordelate usado, avaliado em mil e duzentos reaes; um
cobertor de grã, usado, avaliado em quatro mil reaes;
cinco alcatifas pequenas, delias novas e delias usadas, ava-
O CAMAR] [RO 367
liadas em cinco mil reaes; outra alcatifa castellã, grande,
usada, avaliada em mil e quinhentos reaes; um livro
missal de papel, de forma (impresso), avaliado em oito-
centos reaes; uma vestimenta de veludo roxo com sua
alva, avaliada em dois mil reaes; outra caixa, avaliada
em mil e quinhentos reaes; dois cofres grandes, de Le-
vante, avaliados em dois mil reaes; dois arquibancos,
avaliados em dois mil reaes; duas arcas encoiradas, ve-
lhas, avaliadas ambas em seiscentos reaes; cinco cofres
de Levante, velhos, avaliados em mil reaes; cinco fro-
nhas de coxins, velhas, avaliadas em duzentos e cin-
coenta reaes; no sótão, outra caixa, avaliada em mil e
quinhentos reaes; uma taceira (por onde se vê não
serem só os ourives que as usavam, como diz o Moraes),
avaliada em mil reaes; duas cadeiras e um arquibanco,
avaliados em mil reaes; dois esteios de mármore, pe-
quenos, avaliados em quinhentos reaes,, '.
É muito interessante esta pequena lista para quem qui-
ser estudar a maneira por que viviam os nossos maiores.
Antão de Faria era vivo com certeza em S de março
de 1514 -, e creio mesmo que ainda não tinha morrido a
1 Corpo cronolojico, part. l.a, mac. l.o, doe. 36. — Alem dos obje-
ctos mencionados no texto recebeu D. Leonor de Noronha mais o
declarado na seguinte verba:
E depois disto, no dito dia, cidade e casas, a sr.a D. Leonor disse
que recebera, alem das sobreditas cousas, da mão dei Rei "estas
escravas, escravo, todo avaliado nos preços adiante escritos . . . : pri-
meiramente Lianor Alvarez, molher de trinta e cinco annos, avaliada
em dezoito mil reaes; Isabel Alvarez, de quinze annos, avaliada em
riezaseis mil reaes; Joana Alvarez, de doze annos, em catorze mil
reaes; Lianor, negra, de dezoito annos, em dez mil reaes; Maria,
baça, de cincoenta annos, em seis mil reaes; Jorje . . . , que cila diz
que lhe el Rei mandou entregar, de quarenta annos, em sete mil
reaes; das quaes escravas e escravo, se cila deu por entregue etc.„ Re-
cebeu mais no mesmo dia um coral encastoado de ouro no pé, que
todo vale três cruzados de ouro, etc.
- Data da carta de padrão de sessenta mil reaes de tença, resto de
cento e vinte mil, de que Antão de Faria doara os outros sessenta a
seu filho Francisco. Chancelaria de D. Manuel, li v. 1t.", il. 20 v.
$68 ESTUDOS
26 do seguinte mês de abril, apesar de nessa data ter
sido confirmado o morgado a seu filho Francisco de
Faria ;. No documento citado não se declara ser o antigo
( amareiro já falecido, e não admira que ainda em sua
vida tivesse tido logar a confirmação do morgado ao
filho, visto que delle lhe fizera doação imediata, como
se declara na instituição. Tinha porem deixado já de
existir a 16 de agosto de 1515 ''.
Sua viuva, Leonor Gonçalvez de Oliveira, sobreviveu-
lhe uns dez annos, pois que só veio a morrer no de
1525. É o que se ha de induzir da carta de 20 de
janeiro de 1526, pela qual foram confirmadas a seu
filho Francisco de Faria as mil e duzentas coroas do
casamento de sua falecida mãe ;i.
Antão de Faria teve a satisfação, antes de morrer, de
deixar seu filho primogénito aliado a uma das melho-
res casas do reino, e uma sua neta casada com um
fidalgo da casa de Bragança, imediato sucessor do con-
dado de Odemira.
Estas alianças foram para elle de tanta satisfação,
como para seu antigo amo, D.João II, o enlace do Prín-
cipe com a primogénita dos Reis Católicos.
Chamava-se D. Maria de Ataíde aquella neta do
Alcaide mor de Palmella, e era filha herdeira de
D. Joana de Faria e do valoroso capitão de Safim
Nuno Fernandez de Ataíde, senhor de Penacova e
alcaide mór de Alvor, onde possuía as casas que haviam
sido a ultima morada do Príncipe Perfeito, a cuja morte
assistira. Fez-se o contrato do casamento de D. Maria
de Ataíde com D. Afonso, filho primogénito e herdeiro
3 Ibidem, fl. 57 v.
1 I>.it;i .la caria de confirmação ela tença de cento e sessenta mil
Francisco de Faria por morte de seu pai, Antão. Ibidem, liv. 24.»,
fl. KU.
5 Chancelaria de D. João III, liv. 3o." de Doações, fl. 16.
O CAMAREIRO 369
de D. Sancho, Conde de Faro e de Odemira, a 28 de
maio de 1513, em Lisboa, nos paços do "mui ilustre c
excelente senhor, o sr. D. jaime, Duque de Bragança e
de Guimarães», procurador de seu primo o Conde de
Odemira, outorgando como representante do pai da
noiva Álvaro da Costa, camareiro e armador mór de
D. Manuel, outro parvenu, que foi, guardadas as pro-
porções em ambos, o Antão de Faria daquelle rei. A ó
de junho, na mesma cidade, nas casas de Antão de
Faria, aprovou o contrato sua filha I). Joana de Faria,
mãe da noiva e irmã de uma das testemunhas, Francisco
de Faria, fidalgo da casa dei Rei 6.
Foi um dia de inefável alegria nas casas da porta da
Alfôfa, aquelle em que o filho do modestíssimo Coudel
de Évora viu sua neta prestes a enlaçar-se a uma famí-
lia quasi de príncipes.
Caiu em breve, mas, felizmente para Antão de Faria,
depois da sua morte, a desgraça sobre sua joven neta,
que no mesmo fatal dia 19 de maio de 1516 perdeu ás
mãos dos Moiros seu pai e seu marido! Ficou-lhe porem
um filho, que ella ainda viu conde de Odemira em 1556.
Francisco de Faria, filho primogénito de Antão, casou
em 1513 ' com D. Joana de Castro, filha do Rejedor
Aires da Silva, camareiro mór que fora de D. João II.
Este casamento prova a amizade e consideração mere-
cida pelo Camareiro ao seu superior hierárquico, que
aplaudiu, apesar do enubio, o enlace de sua filha com
o herdeiro do seu antigo subordinado.
Aqui findarei o meu estudo acerca do Camareiro de
D. João II.
(i Chancelaria de D. Manuel, liv. 42.", fl. 55 v.
Por provisão de 20 de maio de 1513 foi mandado pagar a
Francisco de Faria o primeiro terço dos 271.639 reaes de moto do
sen casamento. Corpo cronolojico, part. 2.a, mac. 38, doe. 130.
24
370 ESTUDOS
Antão de Faria era uma figura esbatida no fundo do
grande painel da vida daquelle Rei. Trouxe-o para o pri-
meiro plano, onde é o seu logar, não por acções bri-
lhantes praticadas, mas pela dedicação, lealdade e dis-
crição com que sempre procedeu, serviu e aconselhou.
D. João II não desmereceu o epiteto de Príncipe
Perfeito, com que é honrado pela Historia, em nenhuma
das vezes que se guiou pelo parecer do seu Camareiro.
Esta é a maior gloria de Antão de Faria, assim como a
melhor prova do seu bom caracter está no retraimento
em que viveu depois da morte de seu bemfeitor.
Muitos esqueceram; o Camareiro porem não foi
desses. No seu espirito conservou-se sempre, nitida e
venerada, a memoria do grande Rei.
Homens sinceros e honestos como Antão de Faria é
que hoje nos faltam na governação do Estado.
O seu sangue não seria azulado; tinha porem a ver-
melhidão intensa do que nesses tempos girava nas veias
do povo português, e que era bem diferente da desso-
rada aguadilha d'agora.
Aldeia, março-julho de 1002.
FIM DO PRIMPJRO VOLUME
ÍNDICE alfabético
Abiul, Senhorio de, 152.
Ahraào. Rabi, astrólogo, 288.
Ibranehes, I>. Álvaro de, mestre sala
de D, Manuel, J28.
Abranches. Conde de, 1.". vide Mun-
da. 1). Álvaro; 2.°, vide Limada,
D. Fernando.
viiraiiciics. Condessa de, vide (astro.
D. < 'atenua.
Abranches. 1». [sabei de, filha do 2.°
C nde, 288.
kbranehee, 1». João de, filho do 1."
Conde, 328, 329, 330.— Sua torre
. r;«;is nu Lisboa, 258, 324, 326,
327, 328, 332, :i;i:i. :!:i4, 341.
Abrantes, 3, lli. — I.á foi a primeira
sepultura do Infante 1). Pedro,
259. — Residência da Excelente Se-
nhora, 160, 161. — Nasce lá o filho
'iastardo de D. João II, 1 IS, (64.
— Diplomas de lá datados, 257,
'273. — Aleaide mór do eastello,
160. — Recebedor do almoxarifado.
'266. — Senhor da vila, 160.
Mirantes. Conde de, 1 .", vide Almei-
da, D. Lopo; '2.". vide Almeida.
D. João.
Mirantes. ( ondessade,347.— lú/c sil-
va, D. Brites.
Abrantes, Duques de, ramo da famí-
lia de Lancastre, 156.
Altrantes. Marqueses de, ramo da fa-
mília de Lancastre, 156.
Abreu, Constantino de, 3.38.
Abreu, João Comez de, poeta do
Cancioneiro, 25, 347.
Abreu, Pêro de, 1.34.
Afonso. D., Cardeal Infante, cavaleiro
fidalgo da sua casa, 84. — Seu pa-
lácio em Lishoa, 336.
Afonso. D., 1.» Conde de Faro, 243.
Afonso. D., Condestavel, 257.
Afonso, D., filho herdeiro do 3.°
Conde de Odemira, 368. 369.
Afonso. Mestre, físico mór de
D. Afonso V, 24(i. Vide Madeira.
Mestre Afonso.
Afonso, Mestre, físico mór de D. Ma-
nuel. 250.
Afonso. D., Príncipe, filho de D. João
II, 18, 22, 33, 34, 131, 208. Seu
nascimento e casamento, 1 15.
Seus amores ;uveiu<, 146, 147.
148. — Suas armas, 179. — Foi mes-
tre 'las ( Irdens de Santiago e d<
\\is, 17!). — Sua morte. 99, [00,
102, 106, 145, 152, 301.— Seu tu-
mulo provisório na casa do capi-
tulo da Batalha, 173. — Por que
não foi tão sentida a sua morte
pelo pai comei era de prever, 301.
— Valor da lejitima que pertenceu
a sua mãe, 1 lii. — Seus restos trans-
portados para a capella do Funda-
dor no referido convento. 13!*,
140, 173, 174. — Frontal do seu
novo tumulo, 179. — Seu cama-
reiro e guarda roupa, vide Baião,
Pêro, — Governador da sua casa,
vide Meneses. 1). .loão.
Afonso I. 1»., Rei de Portugal. 17. —
Doação sua á Ordem de Santiago.
1.3.
Afonso IV, D., Lei de Portugal, 142.
— Defende a independência da
<>rdem de Santiago, 15.
Afonso V. D.. Lei de Portugal, l(i.
18, 35, 74, lis, [32, 147, 185,207,
208, 211, 243, 253, 287, 316, 319.
— Pessoas a quem entregou a cria-
ção e educação de seus filhos. 259,
260, 261, 262. — Suas empresas
africanas. 2, 3, 4, 5. — Reconhece
os serviços do Conde de Viana. 5,
ti, 7, 8, 11. — Decreta um perdão
geral, 192, 239, 240.— Concede
cartas de perdão, 239. — Invade
Castella, 191, 340. — Desposa-se
com a Princesa D. Joana, 34fi. —
Junta-se-lhe o Príncipe em Toro
160. — Decide a ida a França, 161
— Parte para la, 162. — Estando lá,
envia-lhe o Príncipe um mensa-
geiro, 268, 269. — Regressa de lá,
Pi'2. — Pretende afastar o Príncipe
da amante, ltiti. — Suas qualidades
e defeitos, 1, 269, 270, 301. —
Acessos de pavor a que era sujei-
372
[NDICl AIIABLTICO
to, 3. I '.i\ n tenças o moços fidal-
andarcm no estudo, I8.r» .
- armas, I 75. Sen tumulo
|)ro\ isorio no Batalha, na casa do
tulo, 1 ~i .'. 17.;. Suas exe-
-. 187, 198. Seus restos trans-
is t i a-, í 7 4 .
I rasladados para :i capella < I o Fun-
dador, 139, 1 10. Frontal da sua
]!..\ a sepultura, 174a 1 77.—
oticios da casa e reino: alferes
mór, vide Meneses. 1). Duarte, e
l>. Henrique; apnsentador mór,
Furtado de Hendoça, Nuno; cama-
reiro mor, Albuquerque, ] ). Lopo ;
sua casa, 263 ; cirur-
lor, Mestre Fernando, Mes-
Gil, i Martinho :
. < nsta. I >. Jorje ; <!" 3eu ei mse-
lho, 184, 261 ; copeiro, Alvarez,
l.nis; escrivão 'la Fazenda, alcá-
çova, Pêro, Figueiredo, Henrique;
escudeiros da 3ua casa, 257, 258;
estribeiro mor. Faria. Álvaro, Feo,
Pêro; físico, 245; físico mor, Ma-
deira, Mestre Afonso, Mestre Ro-
drigo; moço fidalgo da sua casa
197; tesoureiro, Montarroio, Afonso
Fernandez; tesoureiro mor, Pes-
tana. João.
Afonso, João, contador de 1"\ ora, 267.
Afonso, 1). Maria, (ilha bastarda de
I ). 1 >inis sepultada em < Idivellas,
168.
Afonso. Martim, almoxarife de Bor-
ba, 267.
Afonso. Nuno. 228, 248,
Afonso, Pedro, besteiro, i89.
Africa, Condado de Guazava, 285.
— Empresas de I>. Afonso V, õ.
— Do Infante D. Fernando, 1, \!.
— Serviço lá, 255, 305, — Merc» do
habito de Cristo por esse facto,
Agua, Branca 'la. 318.
Agua, Maria 'la. mulher de Lourenço
de I ária. 314.
Agualva, termo d'- Palmella, 240,
Aguiar, Senhor de, 198.
\i-iiiar. Aátenio '1''. moço 'la camará
do Príncipe I'. João, 267.
Aguiar, Este; a.. 'Ir, 51 .
Aguiar, Jorje de, poeta 'lo Cancio-
neiro, 187.
Aia- de D: JoãÒ li. Vide Meneses.
D Beatriz, e Vilhena. J i. Beatriz,
Ures. Mestre, tísico <\<- D. Afon-
. 245-
\ião. D João Soarez, vide Joio, I»..
:
Albergaria, Afonso Soarez de, sr. da
ergaria \> Paio Delgado ■ ■ do
hospital de Santo Eutropio, 161 .
albergaria, Brites Lopez de. mulher
de Vafco Martin/ da Cunha, 361-
362.
albergaria, Caterina Soarez de. sr."
da referida albergaria e hospital,
361,
Albergaria, Diogo Soarez de. gover-
nador do Principe I'. João, 259-
260, '-'iil . - Seu mordomo mor,
261, 263.
Llbergaria, Diogo Soarez de. sr. dos
referidos hospital e albergaria, e
alcaide mor de Arronches, 361.
Albergaria, Lopo Soarez de. sr. dos
referidos hospital e albergaria,
361.
Albuquerque, I'. Lopo de, Conde de
Penamacor, camareiro mor de
i>. Afonso V, 335, .'ííii. — Sua&ca-
sas em Lisboa, 322, 335, 365.
Albuquerque, Teresa de, mulher de
um desconhecido Garcia de l£e-
. 88.
Alcácer do Sal, doada á Ordem de
Santiago, 13, 14. — lá recebeu a
Rainha D. Leonor e sen irmão
J). Manuel a noticia da morte de
l>. João II. 112. — Lá é aclamado
rei D. Manuel, 1 1 3.
Alcácer Seguer, Tomada de. 240.
Estada lá de Afonso Y, .'!. — Cer-
cos postos pelo Bei de Fez, •"> -
Capitães, r/í/e Meneses. I>. Duarte,
e D. Henrique.
:erquibir, Batalha de, 163.
Alcáçova, D. Beatriz da. mulher do
Secretario António Carneiro, iii.i,
! 1 1 õ .
Alcáçova, Francisco da, Br. d" paul
i »ta, 345.
Alcáçova. Isabel da. mulher de Fran-
cisco de Matos, 343. '
Alcáçova, Margarida da, mulher de
João da Fonseca, 343. 34 i, 349\
Alcáçova, Pêro da, escrivão da fa-
zenda de D. Afonso V. 295; dê
D. João II. 137, 293, 296. Escri-
vão da testamentária de D.João II.
309. — Suas casas em Lisboa, 32$,
334, 342, 345, 348. -Suas filhas e
s, 343, 344, 345.
Ucaçou Carneiro, Pêro da.. Secreta-
rio de Estado e I 'onde da Idanhn
a Nova, 345, 34.6.
Alcáçovas residência temporária de
D.' João II, 110) 149, 166. l á
ta/ o sen testamento, 111, 281,
ixnicr \i i ABi rico
373
Diploma ile lá datado, 100.
Srs. da vila, 23, 339.
Alcáçovas, • ond< 3 d.i^. 1 56 Seu
cartório, 320, 335, 337, 3
Alcochete, caso IA sucedido a I > . , l . . ;* . .
II. 283. Diploma lá assinado, '243.
Alcoforado, António, pajem e amante
da I uiquesa de Bragança, .'77.
Alcoutim, Carta do condado de, 180.
Alcunhas com foros oficiaes, vide
Calçadlllia, Olilcliorro.
aldeia (jalega da Merceana, as suas
rendas e d Lreitos reaes pertenciam
ú Rainha D. Li •, I 13, 118, 1 18.
\- jugadas, rendas de pão e
vinho, foros e outros direitos Bão
doados ao hospital das Caldas da
Rainha, 124, 125, 126.
Aldeia < .'avinha, as suas rendas e di-
reitos reaes pertenciam á Rainha
D. Leonor, 113, 118, 128.
Alegrete, Recuperação de, IO'.'.
Uemquer, as suas rendas e direitos
reaes pertenciam á Rainha D. Leo-
nor, I 13, I 18, 128. Lara lá foi
desterrado António ( larneir
— Almoxarifes da Rainha na vila,
134. — Coudel, 256.
Alemtejo, < lamparina sustentada pelo
Príncipe J». João no, 162. Pré-
dios lá designados por quintas, 64.
Alexandre III. papa. 1 3.
Alexaudre VI. papa, 122, 331.
Alfaias diversas, 108, 109,134,290,
292, 366, 367.- De igreja, 134, Lis.
Àlfajar de Pena, doado á Ordem de
Santiago, 1 í.
Alfarrobeira, Batalha da, 259, 260,
319, 329. — Carta de perdão por
ter lá estado, 245.
Alferes do estandarte do Principe
1). João em Toro. vide Faria, Lou-
renço.
Alferes mor de D. Afonso N . oide
Meneses, 1>. Duarte, e J>. Henrique.
—De D. João III. Meneses, D. João,
Algarve, lá morre I>. João II, 99,
308. — Dinheiros dos atuns das
armações da RainhaD. Leonor, 1 3 ! .
138.— Assistente por 1). doão II
naquella comarca, 302
Alguns documentos... da Torre do
Tombo acerca das navegações e con-
quistas portuguezãs publicados. . .
ao celèbrar-se u vommemorat ão qua-
dricentenaria <lo descobrimento >la
America, Lisboa, 1.892, — 7. 77.
Aljubarrota, Batalha de, 31.
Ajustrel, doado á Ordem de Santia-
go, I L
\ Imada, doada á ' Irdem do Santia-
go, 1 3. \di.a do seu terim
Umada, D. Álvaro de, I . ' I ionde de
da Jarretei-
ra, capitão niór da frota,
mor de Lisboa, I 76, 3 28,
.Morri- na I. atalha da alfarrobeira e
seus bens Bão conl i sca o
Limada, Álvaro Vasquez de,
precedente.
limada, 1 ' I ernando d
de Abran
Limada, D Isabel de, 91.
Almada, João \ asquez de,
de Lisboa, 327
Almada. 1». 1 eonor de, nu;,
André Falcão de Resende, 91 .
Almada, \ asco 1 .ourenço
dor de um \ inculo, 327, 329.
Almeida, Recebedor do porto
Almeida, D. Dinis de, contador mor,
34 ', 345.- -Seu palácio em Lisboa,
336, 3í 1.
Almeida. D. Diogo de, Li ior -
to. 25, I '1 1 , 152. — Monteiro mor
de D. João II, 280.— Do -■
selho testamentario, 309.
Almeida. 1>. DiogO I «niaiide/. de,
oide o precedente.
Almeida. 1 >. Francisco de, \ ice Rei
da Índia. 288.
Almeida, D. João de, 2.° < londe de
Abrantes, vedor da fazenda de
D. João 11, 167. — Esti
lhe o rilho bastardo para acabar
de o criar, 152, 167.
Almeida. D. Lopo de, I." Conde de
Abrantes, são-lhe entregues
tos do Infante 1» Pedro, .
Mordomo mor da Excelente v'--
nhora, ficando-lhe confiada
guarda, 160, 167.
Almeida, 1>. Maria de, mulher de
Manuel Coelho da Silva, 57.
Almeirim, diploma de lá data d
Alpedrinha, de lá era natural o i lar-
deal 1>. Jorje da ( !osta, 33l
Alpedrinha, Cardeal de, vide Costa,
D. Jorje.
Alvaiázere, as rendas reaes perten-
ciam á Rainha I). Leonor, 118. —
< lom seu consentimento «...
das á Princesa D. Isabel, (18.
Alvarez. Afonso, Juiz dos feitos da
Mina, 365.
Alvares, Diogo, cavaleiro da '
de Santiago, 356. I »eixa-lhe a
Rainha ]>. Leonor umas casas sob
os seus paços, 353, 354, 355, 356,
358.
374
INDICF. alfabético
Uvarez, Fernando, almoxarife 'ia
Rainha 1» Leonor em Alemquer,
Alvarez, Fernando, escrivãoda Chan-
celaria, 243.
Alvarez, Fernando, tesoureiro mor de
D. João III, 133, 137.
Alvarez, João,, abade de Esmeriz, au-
tor ile um nobiliário, 31 í.
Alvarez, .Ioãi>. amo do Mestre I ». Jor-
je, 152.
Uvarez, João, escrivão da fazenda
da Kainha 1>. Leonor, 137.
Alvarez, Leonor, guarda do oratório
da Eíainha 1). Leonor, é-lhe dada
carta de quitação, 136. — A cila
e ao marido, Diogo Alvarez, deixa
a Rainha umas casas, 354, 355,
356.
Alvarez. Luis, copeiro de 1>. Afon-
so V, 260, 267.
Alvarez. Pedro, almoxarife da Rainha
1>. Leonor em Faro. 134.
Aharo. 1)., ridr Portugal, D. Álvaro.
Alvito, liarão de, I. , vide Silveira.
• loào Fernandez; '!.", vide Lobo.
1». Diogo; 3", ride Lobo, D. lio-
drigo.
Alvor, lá morre D. João II, 36, 112,
165, 223, 308, .'U.S. — A casa onde
morreu é visitada por D. Sebas-
tião, 11"'. — População da vila, 1 12
— Sen alcaide mor, 112, 368
A nadei mor, vide em besteiros,
les, 1 lerda. le <los, 64.
Ancs. D. Lourenço, Comendador mor
e depois Mestre da < Irdem de San-
tiago, 15.
. Senhor de, 362.
Anjeja, Marquês de, o ultimo, 208.
Annaes das sciencias e lettras, publi-
cados debaixo dos auspícios da
Icademia Real das Scienciax. Lis-
boa, 1857-1858, 2 vols/, 163, 271,
275, 282.
Anobra, Doação 'lo senhorio de, 153.
Anrlquez, vide Henriques*
Anta, Herdade e quinta da, i3, •">•'>.
63, 64. — Nella institue Garcia de
Resende um morgado, i3, 59, 64,
66, 70.
Antas. Vasco de, 266.
Antona. Pano de, 134, 289
António, Mestre, vide Lucena, Mestre
António.
Aposentador mor de I». Afonso V,
ride Furtado de Hendoça, Nuno. —
De I > João 1 1 . vide Henrlnuez,
1». Henrique.
:i\ iado contra os
Infantes de, 261.— Burel, 291
Candeias para resar, 109. — Prin-
cesa herdeira, 106, 14Ô.
Archivo histórico portuauez. Lisboa,
1903-1909, 7 vols., 34, 37, 19, 85,
87, 88, 89, 91, 92, 93, 94, 103, 109,
llii, 129, 153, 183, 193, 194, 234,
244, 249, 250, 267, 268, 273, 275,
276, 293, 294, 295, 296, 297, 302,
310
Arguim, pensões pagas pelos capi-
tães e escrivães dos navios que
para !ã se armavam em Lisboa, ou
de lã para os rios de Guiné, i2.
Armador mor de I>. João II, vide Ka-
ria. Antão. — De 1». Manuel, vide
fusta, Álvaro.
Armaria portuguesa, apêndice ao Ar-
chivo histórico portuguez, 296.
Armas, licenças para as trazer, 75,
240, 245.
Armas do reino modificadas por
D. João II. 124, 177. 178.
Arraiolos, Senhorio e alcaidaria mor
de, 274,
Arraiolos. Conde de, vide (astro,
1>. Aharo Pirez.
Arronches, Alcaide mor de, 361.
Arruda, doada ã < >rdem de Santia-
go, 13.
Arruda. João da, 239, 240.
Arvers. autor de um celebre soneto,
190.
Arzila, Tomada de, 3, 262,265,295.
— Recuperação, 244. — Adail, vide
Resende, Gonçalo. — Capitão, vide
.Meneses. 1). Henriípie, e 1>. -1 •
Astrólogo, MO. — Vide Estrolico.
Ataíde. 1). Al varo de, um dos cons-
piradores contra 1>. João 11, é con-
denado por sentença nunca revo-
gada, 153, 276.— 1>. Manuel inde-
corosamente restitue-lhe os bens,
153, 154, 275, 276. — Sua casa em
Lisboa, 365. — Recheio delia, 366,
367.
Ataíde. 1). rernand" de. suas casas
em Lisboa . 326, 365.
Ataíde. I », [nês de. mulher de DÍOgO
< lomez Peixoto, 59.
Ataíde. 1». Maria de, mulher de
I ). Uonsii, filho herdeiro do Conde
de Odemira. 368, 369.
Ataíde. Nuno Fernandez de, capitão
de Safim, sr. de Penacova e alcaide
mor de Alvor, 368, 369.
Atalaia. I onde da, 365,
Atouiruia. 2.° Conde da, 3, 153,329
Aveiro, 188. — E' lá criado o filho
bastardo de 1>. João II, 151. —
índice ai i abi rico
375
< irurjião lá morador, 247. — Se-
nhorio da vila, 152, 243. So Beu
termo <->t.i\a a ilha da Testada,
junte de Vilarinho, ','íi 244.
Aveiro, Duque de, I. . i'íde Lanoas-
tr.-. D. João; ■.'.'. 93, 94 Os du-
ques eram oa chefes da família de
Lancastre, 15G.
Avis, < arta datada de, 240. < irdem
militar, vide < Irdem de A\ is.
Urranehea, Conde de, na Normandia,
328.
Ayamonte, doado á < Irdem d<
tia^ro. 14.
Azambuja, os seus direitos reaes per-
tenciam á (tainha 1». Leonor, 119,
128.
A/.anil>iijii. Conde da, actual. 211.
Lzevedo, Diogo de, fidalgo da casa
de D. João 11. 242. — Sr. de Aguiar,
S. loão de liei, etc., 198.
izevedo, ./. Lúcio de, Os Jesuítas no
Grão-Pard, suas missões e o colo-
nizarão. Lisboa, 1901. — Criticaa
este 'livro. 213, 2 I í. 217.
Izevedo, Pedro de, 1.° conservador
na Torre do Tombo, 112, 284.
Azevedo, Pedro de. Sebastião de Ma-
cedo, o moço. artigo no I vol. do
Arch. Iiist. port.. 91 .
AzeuMld. Rui Gomez de, provedor
mór da rendição dos cativos, 242.
Lzeredo Castello Branco. Jos
Bibliotecário mor, 216.
Azeredo de Meneses, José de, Ninha-
rias. O camareiro Antão de Faria
e os seus ascendente*, artigos no
Jornal do Commercio, de 22 de
maio e 22 de inibo de 1902 -
314.
Azurara, Doação da terra de, 200.
Azurara, nomes Eanes de, Chronica
do Conde D. Duarte de Meu, ses
no 111 tom. dos Inéditos de histo-
ria portugueza .. . Lisboa, 1793
3, l, G.
Rabilão, 1'ero, "J 1 7 .
Badajoz, Mestre João de, medico em
Serpa, 248.
Baiio, Pêro de, camareiro e guarda-
roupa do Príncipe 1». Afonso, 300.
llairos. ride Barrnv
Baldai*, l>r. Fernando Alvarez, mo-
rador no Porto. 245.
Baleisão, herdade no termo de Beja,
12, 72.
Raltar, Senhor de, 185.
Balzttc. II. ile. OEuvres completes.
XXJIJ OEuvres direrses. Septième
partie. Estais historiques et poli-
tiques. Paris, < alinann Lè\ v, edl-
teur, 1879. -181
Barata, António Francisco, conser-
vador na Bib. publica de IA ora .
214.
tíarata, intonio Francisco, André de
Hesende e não Lúcio André de Re-
sende, artigo no III vol. do Ire/».
hist. port., 85. — breve memoria his-
tórica do mosteiro de Sossa S
do Espinheiro extramuros rfi I
ra. Évora, 1900, 39.- I Itima ver-
ba. André de Resende, Lúcio ' Re
posta e addit amento a um artigo da
Senhoril D. ( aiotina Mirhaelis de
Vasconcellos incerto no vol. 3.° do
Archivo Histórico. Évora, 1905,
52, 5G, 84, 91.
Barbeiro, ('arta de cirurjia dada a
um, 249.
Barbosa, Jorje, morador em Évora,
51.
Barbosa Machado, Diogo, Bibliotheca
Lusitana Historiai. Critica e t ro-
nologica... Lisboa, 1741-1759, \
vols., G9, 78, 80, 90, 194, 345.
Barcellos, 25 1 .
Barcellos, ( Sondes de, 9.
Barcellos, Peru de, recebedor das
vintenas de Guiné, 129.
Barreira, João de, impressor, 78.
Barros, Beatriz de, mulher de <íil
de Resende, 7 'i . 75.
Barros, Diogo de. almoxarife ria
Rainha 1>. Leonor em Silves, 134.
Barros, Filipa de, filha de 'íonealo
Nunez de Barros, 7 ! .
Barros, ' ionçalo Nane/ de, 7 1.
liarros. -loão de, historiador, 73, 7li,
77, 78, 79, 80, 137.
liarros. Joam de, Ásia ile — , rfos fr-
eios Que os Portugueses fizeram no
descobrimento e conquista dos ma-
res e terras do Oriente. Impressa
per Germão Galharde em Lisboa:
a. xxviij. de Junho auno de. m.
v.' li j . 299. — Década terceira da
Asm ,ti — Dos feitos etc. Lisboa,
1628, 74, 77, 80, 81.— Quarta
denota da Ásia de — DOS feitos
etc. Lisboa, 1615, 78. — Compila-
ção de varias obras do insigne Por-
tuguez João de liarros. Contem a
Ropica pnefma, c o Dialogo com
dons filhos seus sobre preceitos
moraes... Feita esta reimpressão
por diligencias e cuidado do Vis-
conde I -• lo. Porto, 1869, 73,
77. 78, 80. — Crónica do empera-
rador Clarimumlo etc., 1 .a ed..
376
ÍNDICE Al I ABETICO
Lisboa, 1522, 77, 78 ; -'. ' ed.,
i loimbra, 1555, 78.
Barros Gomas, Henrique de, Prefacio
tio Príncipe perfeito de < 'liveira
Martins, 1 Í3boa, 18! 6, 159, 221.
Barros de Vasconcellos, .João de, co-
mendador de < Iristo, 7 1.
Basto, Senhorio de, wrie ' 'elorico
de Basto.
Batalha, administrador do concelho,
180.— 1'aroco, 180. — Presidente da
Camará, 17'.'. 174.
Batalha, < lonvento da, capi lias
imperfeitas, 140. — Exéquias de
I >. Afonso V, 187. Sepultura de
D. João II. 131, 169.— Auto da
trasladação dos seus restos para a
capella da Piedade, 180. Trasla-
dações de D. Afonso Y, Rainha
1). [sabei '■ Príncipe I '. Afonso, da
casa do capitulo para a capella do
Fundador, 139, 140, 172, 17.'!.— De
D. João II da capella da Piedade
para a do Fundador, 1 39, I 40,
169, 171), l71.^Frontaes das no-
vas sepulturas nesta ultima capei?
la, 174 a 179.
Beatriz, I>.. Infanta, tutora do filho
1). Diogo^ 147.— Iíecebe a noticia
de 1). João II haver nomeado a
coroa em seu outro filho D. Ma-
nuel, 111. — Domina-o, 31, ILr>.
— Donzellas da sua casa, 190.
Beiço, Estevão, almoxarife da Rainha
D. Leonor em Silves, 133-134.
leira. 161. — 1'rivilejio de fidalgo
para a comarca, 75, - Senhorios na
c área. 186, 190. — Védoria moí-
das (j liras, 261 .
Beja, .Morador em, 245. — Diploma
de lá datado, 'J'i(i. — Herdade no
seu termo, 5 1, 72.
Beja, Duque de, vide Diogo, D., e
Manuel. D.
Beja, Infante D. Manuel. Duque de,
nas argolas da urna com os
restos de D. J.oão II, na solene
trasladação na Batalha, 17"'.
Belém, Torre de, 37, 302.
Belém, Fr. Jerónimo de, Chronica será-
fica da Santa Provinda dos ligar-
ia fíegvlar Obse> vancia de. . .
s. Francisco, parte terceira...
Lisboa, 1755. 130, 131.
Bemvi\ er, Senhor de, 185.
Benacofú, Expedição á Berra de, 3, i
Benafilé, freguesia do termo de Évo-
ra, herdades lá situadas, 12, 16.
— A sua ribeira, 12.
Benamarim, Terra de, em Africa, 7.
Bernaldez, I osmo, 134.
Berredo, l>. .Maria de, mulher di
Bui Vaz Pereira, 194.
Berredo, Marti m Afonso de, sr. de
Unhão, 185.
Besteiro, Vestuário para um, 289.
Besteiros da camará, 282. Seu
anadel mor, 27 1, 282, 285.
Besteiros de cai alo, Í38, Í41. Seu
a 1 1 a d i d mor, 1 i 7 , 1 48.
Bíblia dos Jerónimos, códice ms. da
Torre do I ombo, 124.
Bibliotecas publicas, seu pessoal,
21 'i. 215. Reformas desgraçadas,
215! — Bibliotecários mures, 216,
217.
Biscainho, cirurj ião, morador no Por-
to, 228, 250. '
Bluteau, /'." D. Rafael, Vocabulário
portugiiez e latino... Coimbra e
Lisboa, 1712-1721. 8 vols. Sup-
plemento ao I ocabulario . . . I
1727-1728. 2. vols., 195, 206.
Boa Fé, freguesia do concelho de
Évora, cide Benafilé
Bobadella, Condes de, vide Freire
de ladrada, Gomes e José Antó-
nio.
Bode, António 1'ire/, 312.
Boletim de bibliographia portugueza
sob <i direcção de Annibal Fernan-
des Thomaz, ■ ■ < 'oimhra, 1879-
1882, '.! vols., o 2.° incompleto,
84, 85.
Boletim da Sociedade de Geographia
de Lisboa, fundada em 1875. 25.*
Serie, 1907. 85.
Bombardeiro, carta de privilejios a
um que faz tiros de fogo, 246.
Carta de 10.000 rs. de tença. 146.
Bonifácio VIII. papa, 1 'i.
Boquilobo, Senhor do paul de, 288.
Borba, Almoxarife de, 247. — Satis-
fação pelo senhorio da vila, HG.
Borba, Conde de, vide Coutinho,
I). Vasco.
Borjes, 1». Diogo, abade comendata-
rio de líefoios, 191.
Borjes, Duarte, escrivão da Chance-
laria, 242.
Borjes, Pêro, escrivão da Chancela-
ria, 240, Í43.
Borjes, Pêro, vedor da casa do Prín-
cipe D. -loão, 263.
Borjes de Figueiredo, A, C, 0 mo -
teiro de Odivellas. Casos de rei»
r memorias de fieiras. \
1889, 168.
Bota, Beatriz, mulher de Francisco
de Resende, 34, '-'(is.
[NDK l Al I AB] riCO
377
Bota, < laterina, >l , 5 .'.
Bota, Filipa, mãe de Leonor, 51, 52.
Bota, Filipa, mulher de I ranci 3C0 de
Resende,
Bota, I eonor, freira de S I 'rancis-
co, .M
Bota, Maria, filha do dr. Duarte de
Pina, ."i| .
Boticário, 246.- ( » do Duque de Bra-
gança, 249.
Boto, orijem do ápel idó, 3 'i
Boto, António, possuidor de um
moinho em I isboa, a Val\ erde,
35,
Boto, João, morador em Évora, 15.
Boto, Martim, morador em Évora,
51.
Boto, Dr. 1,'iii. desembargador do
paço, 35 ; chanceler mor de I >. Ma-
nuel, 243, 244.
Boto, Iíui, morador em Évora, 51.
Braamcamp Freire, Anselmo, Bra-
sões da Sala de Cintra, liv. l.°,
2. e 3.° Lisboa, 1899-1905, '.. 7,
8, In, II, 94, 124, 155, 167, 194,
243, 258, 274, 329, 346.- Cartas
de quitarão de D. Manuel publica-
das no Arch. hist. port., 37, 129,
283, 3 I 0.—A Cha nce liaria de
D. João li. no cit. Arch, 109.—
Emmenta da Casa da índia, no vol.
de 1907 do Boletim da Sociedade
de Geographia de Lisboa, 85. — -4
gente do Cancioneiro, no vol. \ da
Revista lusitana, 24. — O livro das
tenças dei liei, no cit. Arch., 1 16.
— As sepulturas do Espinheiro,
Lisboa, 1901. 29, 67, 69, 70, 295.
Rrabante, Lenço de, ,".)l .
Braga, Arcebispado de, 281. — Ar-
cebispo, 15; vide Costa, ]>. Jorje;
outro Costa. I). Jorje ; Luis, D.;
Pereira. 1). Gonçalo. — Biblioteca
publica, 21 í.
Braga, Theophtlo, Bernardim Ribeiro
e o Bucolismo. Porto, 1897. 168. -■
Poetas palacianos. Porto 1871. 184.
Bragança, Logar do termo de. 248.
Bragança, Casa de, melhor rei que
nos deu, !)N. — A declinação de Por-
tugal começa no reinado do pri-
meiro príncipe com sangue desta
casa, 132.
Bragança, Duque de, D. Afonso, 108.
Bragança, Duque de, D. Fernando. 1,
8.
Bragança, Duque de, D. Fernando II.
sua primeira mulher, 10. — '• om n
titulo de Conde de Guimarães
serve em Africa, 2, •!. — Seus de-
latores, 271, ■; ■ ia pri-
são, 270, 271. Sua Bentem
— Degolado em Seus
bens doados :i varies em paga-
mento do sen iços, 1 I 6, ?57 . 272,
280, 281. Malfeitores acoitados
nas suas terras do Minho, 198. —
Acusado da rte do i-Niih.nl'.
D. Duarte, 276. —i > caso da sua
conspiração mal fica apontado,
278. — 1'. Manuel reconheci
ella sído facto provado, 275.
Premiando os seus delaton
\!7.>. — Seu irmão I>. Álvaro, 152.
Si ii .mi ig Ir. Diogo Pinhei-
ro, 1 66. — seu confessor, 269.
Seu escrh ão da fazenda, 271.
Seu represi ntante no seculò \\
pega numa das argolas da uma
com os restos de I ». João II por
ocasião da sua solene trasladará...
Bragança, I >uque de, I '. Jaime, res-
titue-lhe 1 >. Manuel a casa. 1 14,
1 15, 116, 153, 274, 275.— ti
mente acusado de mandar enve-
nar D. doa.. II, 225, 230. Per-
i espi .sã criança ainda. 277.
Nos seu - paços de I .isboa cele-
bra-se um contrato de casamento,
369. Seu aio, 299. - Seu boticá-
rio, 249.
Bragança, Duque de, D. Luis Fili-
pe, pega nas argolas da urna com
os r.-st. is de I >. João 1 1. na oca-
sião da sob ne I rasladação, 1 72.
Bragança, I >uquesa de, I ' I lonstan-
ça, 347.
Bragança, Duquesa de, D.
recebe a noticia da nomeação de
seu irmão D. Manuel para suceder
na coroa. 111. — Sua pouca viji-
lancia pela honra da nora, 277 .
Bragança, Duquesas de, vide Meudoça,
D. Joana, e D. Leonor.
Braganças, instincto de cubica de
todos elles, 106, K>8. — Sua
bia. 270 — Sua expatriarão. 270.
— Sua repatriação e entrada em
Setúbal. 31 '. Restituição das
suas casas. 31, 114, 115, 110,272,
'.'Ti. 275,— Expressamènti
da por D. João II. 106, 110. -
Enerjicamente verberada pi
mião de ( !oes, 114, 115, 1 16. —
I desfalque trazido por ella á
do reino. I 16, 117. 31 6.
Brandão, Fr, António, Terceira parte
da Monarchia I usitana . . . I
1632. 17.
378
INDICF ALFABÉTICO
Brandoa, Maria, mulher de Diogo de
i iões, 89.
Brantdme, escritor francês, 27.
Bretanha, Lenço de, [34, 291.
Bristol, Natural de. 226, 239.
Brito. António de, capitão de Tér-
mite. Tii. 77. ?8.
Brito, .lorje <le, capitão mór da ar-
mada da Índia. 7<i.
Brito. Lourenço <le, copeiro mór de
D. Manuel. 103.
Brito fíebello. Jacinto lanado de.
Ementas históricas II. Gil Vicente.
Estuam. Lisboa, 1902. 354, 359.
1 '.rires, Pano de. 291 .
Buarcos, Doação do senhorio de.
152. — Não continuada. 153.
Buy, João de. moro fidalgo francês,
284-285.
Cabeceiras de Basto, Concelho de,
193. — Senhores delle, 184, 185.
187, 190, L98, 199, 209.— Rendas
e direitos reaes do julgado, 192,
199. — Mosteiro de Befoios lá si-
tuado, 191.
Cabral, Aldonça. mulher de Fernão
Nunez, 73.
< aça, Peças para, 108.
(.'aceres, primeiro assento da Ordem
de Santiago. 13.
Cadaval, Duque de. uma sua casa
em Lisboa, 336, 342.
Cadaval, Duquesa de, 342, J4.">.
faiado, cónego da Sé de Lisboa,
suas casas. 324, 332.
Caix, Honorato de. embaixador de
V rança. 51 .
Calada, Joana, mulher de Honório
Bosado, 91 .
I aldas da Bainha, Vila das, 122, 123.
— Casa dos banhos. 99, 121, L22,
123. — Aposentos para os enfer-
99. — Privilejios aos mora-
dores, 99, 122. — Isenta do julgado
i- sisas de Óbidos, 1U0. — Fun-
dação do hospital, 99, 121, 123.
— Dotarão delle, 120, 121, 124,
125, 126. — Compromisso. 1 II.
Autorizado a possuir 300.000 rs.
de renda em bens próprios. 122.
— Fundarão da igreja de N. Sra.
do Populo, 122, L23, 124.
Caldeira, Agostinho, movo da camará
rio Príncipe I >. João, 267.
Caldeira, Pêro. alcaide mordeMar-
■ 240.
Camareiro, < >. \;õl a 370. Vide Fa-
ria. Antão.
Camareiro do Príncipe D. Afonso,
vide Baiio, Pêro.
( 'amareiro dei Bei 1 '. João II, I ide
Faria. Antão.
Camareiro dei Bei 1*. Manoel, vide
Costa. Álvaro.
• amareiro r do Príncipe D. João,
depoisD. João II. vide Silva, João.
Camareiro mor do Príncipe 1). .loão.
depois I). João 111. Vide Meneses.
D. João.
Camareiro mor dei Bei 1>. Afonso V,
ritlr Vll>iii|iieri|ue. 1). I.opo.
Camareiro mor dei Bei 1>. João II,
vide Silva. Aires.
• amareiro mor dei Bei D. João III.
riiti' Castelbranco, 1'. Francisco.
Cambridge, Conde de, capitão de
tropas auxiliares inglesas, 196.
Camillo Castello Branco, Karcotico»
I. Porto, 1882. 159, 165, 225, -ir,.
228, 229, 230, 231, 232, 233. 234,
235.
< laminha, Senhorio de. 7.
Campores. Doação do reguengo de,
153.
<.'ana\ ezes, jurisdições, Fi7. — Senhor
da terra. 199.
Cancioneiro geral ''mu preuilcgio
Ordenado e emendado por Garcia
de Resende. Lisboa, 1516, .repro-
dução em fac-simile de Archer M
Huntington. 1904. 23, 24, 25, 26,
27. 32, 37. 38. 39, 40, 67, 79, 146,
187, 188, 189, 298, 299, 300, 313,
346, 3'i7. — Dificuldade em iden-
tificar a> pessoas neile nomeadas.
146. — Como se apuram as datas
das suas composições, 188, 18'.'.
190. — O caso das ceroilas de cha-
malote de Manuel de Noronha.
187. —Os Porquês de Setúbal, 300,
329. — As trovas de Pêro de Sousa
Bibeiro aos casados que andavam
de amores, quando foram escritas.
[88, 190. Poetas, vide Abreu,
-loão (lomez : Aguiar, .lorje ; Alvi-
to, liarão; (astro. I). Garcia, e
1). KodrigO; Costa. T.rás ; Faria.
Antão; Gama, Duarte; Guiomar'
!>.; Homem, Pêro; Meneses. I).
João; Noronha, D. João; Pedrosa,
Diogo; Pereira. João Bodriguez,
e Nuno; Resende, Duarte, Garcia,
e Jorje; Silveira, Fernão, Fran-
cisco e I». Martinho; Sonsa Bi;
beiro, PerO ; Sousa tio Sem. Simão ;
Vimioso. Conde. — Raparigas. 21 a
•J7. L46.
( um ioneiro, índices do, de Retinir ,■
da* obras de Gil Vicente. Lisboa.
1900. 21, 27, 28.
INDICI-: Al IAIS1 I ICO
370
< angas, Cirurjião morador em, 24!).
Canha, [gabei de, mulher do segundo
( rareia de Resende, .:i I ,
I Cantanhede, I is Meneses de, í).
Cantanhede, Conde de. 1 "■ 28 '■.
I lantor de I '■ João II e I >. Manuel,
226, 241, 242, 243.
Caparica, A torre velha de, mandada
(■(instruir por D. João 1 1. 37, 302.
— Preço da sua construção, 37.
< Sapellão de 1». Manuel, 24!).
Capitão mor da frota, 329.
Capitão mor doa ginetes do Prín-
cipe D. João, 2G4.
Cardoso, Francisco, 134; cavaleiro
da casa de 1»., João 111 e tesou-
reiro do dinheiro dos legados pios
da Rainha I). Leonor, e-lhe dada
carta de quitação, L>7. — 1'assa
nina certidão. 355.
Cardoso <le Almeida, António, mora-
dor em Elvas 61 .
Cardoso Girão, José, desembargador,
60.
Carlos VI. Imperador, 340.
Carneiro, António, escrivão da cama-
rá, 294. — Homem da confiança de
l>. -loão II, 2!)3. 294. — Sua prisão
e desterro para Âlemquer, 294 —
Quando perdoado, 294, 295. — Doa-
ção da ilha do Príncipe, 294,205.
— Secretario de I>. Manuel. 38,
127, 295, 343. — De D. João lli.
295. — -Suas casas em Lisboa, 324,
325, 345.
{'arneiro. Francisco, secretario. .' °
sr. da ilha do Príncipe. 344-345.
(arneiro. Vasco, cidadão do Porto.
294.
Carnide, Quinta em, 229, 2't7.
Carregal, no termo <le Pinhel, ren-
das e direitos reaes do logar, 192,
199.
Carta de brasão, a mais antiga de
que existe rejisto. 280.
Gartas de escusado, 245, 247. — De
lejitimação, 92, 93, 248 — De per-
dão por usar calções de seda. 86 :
por ferimentos e fujida da prisão;
239; por ter estado na batalhada
Alfarrobeira, \.''C>; por furtar um
rocim, 248. — De quitação dalguns
dos responsáveis pelos bens moveis
e dinheiros da Rainha D. Leonor.
133 a 138; do comprador de
D. .loão II, 241 ; de Antão de Pa-
ria seu camareiro em quanto Prín-
cipe. 265 a 268; do mesmo, dos
dinheiros deixados para legados no
testamento. 310; do mesmo, dou-
i roa dinheiros, 311; do mesmo,
na qualidade de cevadeiro mor,
312 ; do mesmo, pelos valo
guarda-roupa, 312 ; do recebedor
doa cs(Ta\ os de ' iuiné, 24 í .
Cartas de quitação de D. Manuel, no
Arch. hist. port., 37, 129, 283,
310. -Erros de conta em algumas,
311. — As de D. Afonso \ mais
interessantes por mencionarem a
despesa, 311.
Carvalho, Afonso, ai xarife de Per-
nes, 206.
Carvalho, Gonçalo, serralheiro, 338.
Carvalho Patallm, Gonçalo José de,
pro\ sdor das obras dos paços e
casas reaes. 330, 340.
Carvalhosa, Bráa CJonçalvez da, -
rador em L\ ora, '<■>.
Casa Branca, herdade, 'tG. — Entron-
camento, <i't.
('asa de Ceuta, Tesoureiro 78.
('asa doCivel, Escrivão da, 226, 242,
— Iíejedor, 260, 346, 365.
( 'asa de < íuiné, Leitor da, 312.
(asa da índia. Avaliador da pedra-
ria, aljôfar, âmbar e almiscar,
250. — Tesoureiro, 78, 133, 137. —
Tesoureiro da especcaria, 133,
Casa da Mina, Tesoureiro, 132.
Casa da Suplicação, Desembargador,
340.— Lejedor, 26, 3G0.
Casal, Comendador do, 253, 255.—
Coudel, 255.
Casal. Álvaro do, morador em Évo-
ra, 15.
Casal. Filipe do, anuncia a L.doão 11
o casamento do lilbo realisado em
Sevilha, 22.
Casal de Álvaro, Doação do senhorio
de, 153.
i ascaes, os direitos reaes pertenciam
á Rainha D. Leonor, 119, 128. —
Lá manda construir D. .loão II uma
torre, 302.
Cascaes, Marqueses de, 302.
Cascão, Coronista João, fíelaçam da
jornada d'El-Rey D. Sebastião
quando partio da cidade de Évora,
cod. da Torre do Tombo, 112.
Castanheda, Fernã Lovez de, Ho *ci-
timo Urro da historia tio descobri-
mento <■ conquista <l<i índia pelos
Portugueses. Com privilegio Peai.
1554. "78.
Castanheira, os direitos reaes per-
tenciam á Rainha D. Leonor.
119, 128.
Castanheira, < onde da, sátira á sua
ascendência. 300
380
INDICI-: Al I AHIT1CO
Castelbranco, Diogo Gonçalvez de,
conde) de Lisboa, 239.
Castelbranco, l>. Francisco de, ca-
mareiro nua de João 111 , 19.
Castelbrani o, D. l ionoalo de, 29 í .
Castelbranco, D. Martinho de, v.édor
da fazenda de I». João II. 22, 141.
i lastelhanos : cirurj ião, J47, 249 ; ti-
sico, 249 ; judeus, 23G ; med ico,
Z30. Põem cerco ao castello de
Faria, 2o2.
< lastella, ( fuerra da invasão de, I 'i7.
[51, IGO, 191, 198, 2G4, >65, 305,
346. - .luramentos, 25, -iT. 1 15,
[86. Expedição desastrosa do
Bispo de Evòra, 162. — Socorro
lá enviado contra os Infante-; de
Aragão, 261, — Mensajeiro lá en-
viado com avisos pelo I mque de
Bragança, 273. — Portugueses lá
homisiados, 191 . — Outros que para
lá passaram, 361, 362. — Princesa
herdeira, [06, 145. — Panos de lá,
134, 266, 291. — Alcatifas, 366,
367. — Sedas, 86, 234. — Contra-
bando de panos trazidos de lá, 280.
' astello Iíeal, Alcaidaria do, .'!.'(.
Castello de Vide, Morador em, 240.
— Fisico lá residente, 249.
Castilho, intonio Feliciano de, Gar-
cia de Resende, excerptos seguidos
de uma noticia sobre stta vida <•
ohms... i;io de Janeiro, 1865. 111
vol. da «Livraria Clássica», 38,
48, 70, 207. — Quadros históricos
de Portugal... Lisboa, [838. 334.
Castilho, Visconde Júlio de, índices
do Cancioneiro de Resende e das
Obras de Gil Vicente, 27. — Lisboa
antiga. Segunda parte. Rairros
orientacs. Coimbra e Lisboa, 1884-
1890. 7 vols., 322, 323, 336, 341,
349, 363. — Carta sua publicada
no «Jornal do Commercio», 357.
Castro, I>. Álvaro de, vedor da fa-
zenda de 1 '. João II, do sen con -
selho testamentario, 309.
Castro, D. Álvaro Pirez de, Conde
de Arraiolos, 363.
Castro, 1». Beatriz de, possuidora de
uns paços em Lisboa a par de
Santa Marinha. 16 I.
Castro, I». I laterina de, < londessa de
Abranches 11, 329.
• astro. 1>. Fernando de, governador
da '-asa do Infante D. Henrique, Kl.
Castro, I». Garcia de, sr. do paul
do Boquilobo, 288 ; poeta do < aii-
. iro 300.
Castro, D. Guiomar de, donzella do
paço, mulher do Bejedor A ires da
Silva, 26.
(astro. 1 1. [sabei de, * londesss di
Mana. 10, I 1.
rastro, 1). Joana de, mulher de Fran-
cisco de Faria, 369.
rastro. 1). João de, governador da
Índia, escreveu-lhe ^ndré de Be-
sende uma carta, 84, 85.
Castro, 1). .lorje de. pajem de
D João II. 282.
Castro, D. Leonor de, donzella da
casa da Bainha, mulher di
Bodriguez Pereira, 185.
Castro. D. Luis de, administrador
dos hospitaes de s. Mateus, Santo
Eutropio, etc 363.
(astro. 1). Pedro de. sr. de Bemvi-
ver, Sul e Beriz, capitão da arma-
da de Tanjer, 185.
(astro. 1). Bodrigo de, alcaide moí-
da ( 'o\ iihã, 24 ; assistente por
D. João II nas comarcas de Entre
Tejo e Guadiana e Algarve, 302.
(astro. 1). Bodrigo de. poeta do Can-
cioneiro, 26.
Castro Queimado, Batalha.de, 1GH.
< atalão, cirurjião, 245.
Catáldo, Dr., 288.
Catalogo dos manuscriptos da Uiblio-
theca Publica Eborense ordenado
com "s descripções e notas do bv-
bliothecario Joaquim Heliodoro da
Cunha Rivara e com outras pró-
prias por Joaquim António de Sou-
sa Telles de Mattos. Tomo IV. Lis-
boa. 1871. 73.
Caterina, Infanta D., filha de D. Duar-
te. 331.
(aterina. Bainha D., mulher de
1 '. João 111, escudeiro da sua Casa,
86.
Cativos, Provedor mor dos. 242.
Celorico de Basto, Senhores de, 147,
198.
Cenáculo. D. Fr. Manuel do, Arce-
bispo de Évora, 90.
< ernache do Bom Jardim, nos seus
bosques teem logar as entrevistas
do Príncipe D. João com I). Ana
de Mendoça. 162, 163, 164.
Ceuta, 20. —Conquista, 31, 34, 260.
Armada de socorro, 244. — D. Afon-
so \ lá. 2, 3, 'i. — Degradados paia
lá. 184, 239, 240, -.'Mi. — Bispo.
vide Jaime, 1*.. e Joio, IX — Vide
( asa de ( euta.
< 'evadeiro mor de 1>. João II, vide
Caria. Antão. ( arta de quitação,
312.
índice ai fabi rico
381
Ceziínbra doada á Ordem de Santia-
go, li.
Chancelaria de l>. João II muito
mutilada, 100.
< íhanceler mor do Príncipe I >. João,
ii, Ir Silveira, João Fernandez.
Chanceler mor interino dei Rei
I >. João 11. vide Lucena, Di
( íhanceler mor dei liei D. Manuel,
vide Boto, dr. Uni.
Chateaubriand, René de, ( o
i íuazava, 285.
t ha\ es, Juiz das si>as de, .' í í ,
Chichorro, i>. vide Sousa, Vasco Mar-
tin/..
< tcero, tradução* de "liras suas, ;,;,
79.
Cirurjia, < lartas de, 228, 232, 245,
246, 247, 248 249, 250. Exami-
nador de, 24G.
Cirurjião, 245. — Especialista, 249.
— Do Duque de Viseu, 246. — Da
Rainha 1>. Leonor, 227, 228.
Del Rei D. Manuel. 231, 232, 237.
Cirurjião mor de D. Afonso V, vide
Fernando, Mestre; Gil, Mestre-.
Martinho, Mestre. —De I». João II.
Fernando, Mestre; Lucena,' Dr.
mestre António. — De D. João 111.
Gil, Mestre. — De D. Manuel, Fa-
ria, Dr. Diogo; Gil, Mestre ; outro
Gil, Mestre.
< leiuente VI. papa, lõ.
Coelheiros, Torre dos, 22. — Morga-
do, 57.
( oelho, Jorje, dirije-lhe uma carta
André de Resende, ST.
Coelho, Nicolau, escrivão dos órfãos
de Évora, 58, 94.
Coelho <le Figueiredo, Domingi
Coelho «la Silva, Manuel, 57.
Cogominho, Fernão Gonçalvez, mor-
gado da torre dos Coelheiros, 57.
Coimbra, lá casa o dr. João das Re-
gras, 361. — A Excelente Senhora
passa por lá, 160, e depois pro-
fessa no convento de Santa Clara,
ll'p'2. — Livros lá impressos. 73, 78,
79, 80, 90. — Bispado, 241. Bis-
po, ride Galvão, 1). João. — Cirur-
gião lá morador, 248. — Deão da
Sé, 309.. — Diplomas datados de
lá, 238, 240, 246.— Doação do se-
nhorio, 1.V2; não continuada. 153;
— Ducado, 152, 15.1, 154.— .Estu-
dantes na Universidade,- 69, 90. —
Fisico lá morador, 245. — Inqui-
ridor das jugadas, 242, 243. -
Lente de véspera de cânones na
Universidade, 90.— Morador, 242,
Prior de Santa < Iruz , I 16.
Requeredor das sisas, J45 I d
belião, 242, 244. Kib. da I ni
\ ersidade, 215. Com ento do San
Marcos, 260, 261, 262 ; de Santa
( Iruz, i L Mosteiro de Santa < la
ra. [62.
Coimbra, Duque de, vide Jorje, D.
Escudeiro da sua casa. 87, 89.
Coimbra, Duquesa de, vide Vilhena,
D. Brites de.
Coiros, Lopo \ fonso dos. :
Compostela, arcebispo de, lõ. —
[greja de Santiago, I ; .
( lomprador de I '. João 1 1. 226.
( larta de quitação, 24 I .
I i ni . ir .1 pnllinario da, De-
monstraram histórica iin primeira,
e real parochia de Lisboa de </>"'
lir singular Patrona, e Titular
\. S. dos Martyres.'. Liaboa,
L750. 348.
( londado, Pano de, 291 .
< onde Prior, vide Meneses, D. João.
Condeixa, Doação do senhorio de,
152.
Condestavel, r/r/'' 4 fonso, D.; Pe-
dro. 1 1. ; Pereira, D. X uno Alva-
rez.
Confessor de D. Afonso Y. vide tos-
ta. D. Jorje- De D. João 1 1 , i ide
Povoa, Fr. João.
Constâncio, Francisco Solano, Wovo
diccionario c^itú <> e etymologico da
língua portiigueza. . . Paris, 1836.
206.
Contador da camará real, 233. — Da
casa de D. João II. 241. — Dos
< lontos da < -asa e do Reino, 24 t,
328.
Contador mor, riilr almeida, D. Di-
nis.
Contreiras, Fr. Miguel de, fundador
da irmandade da Misericórdia, 97,
98.
( 'opa. Homem da, I 02.
I lopeiro de I >. Afonso \ , vide Alva-
rez. Luis. — De D. João II. vide
Sequeira, Estevão,
Copeiro mor de D. João II, vide
Lima, Fernão. — De D. Manuel,
Vide Brito. Lourenço.
Cordes Brandão, e Ataíde, Simão de,
lente de véspera de cânones na
Universidade de < lóimbra, 90,
( Iprnelhã, Privilejios da, 17.
Corpo diplomático português, cnii-
tendo ou actos e relações politicas
e diplomáticas de, Portugal çovn as
diversas potencias do mundo desde
382
ÍNDICE ALFABÉTICO
o neculo \ 17 até <>s misses dias,
publicado de ordem da ícadcmia
Real das Sciencias de Lisboa por
Luis Augusto fíebello da Silva, To-
mo 1- Relações com a Cúria Hu-
mana. I. isl.ua. 1862. 38, 39, 332.—
< orpo diplomático. ■ ■ /»)>• José du
Silva \I*>ndes Leal. Tomo \ . Lisboa,
1874. 235. — Corpo diplomático. . .
por Jayme Constantino de Freitas
Moniz.' Tomo XI. Lisboa, !898.
Correia, Fernão Lopez. guarda-roupa
de 1>. Manuel, :il2.
Correia, Manuel Mendez, 91.
Corte, Correjedor da. 265. 286.
Escrivão da correição, 226. — Es-
cri\ ão perante os correjedores, 226,
242, 243. — Porteiro d'ante o i or-
rejedor, 241. — Recebedor da chan-
celaria, 256.
< Yirtes. ride em Évora, Leiria, Mon-
r c. \\>\ o e Santarém. — Em
Lisboa o braço da nobreza reuni a-
se em Santo Eloi, 325.
Coruche, Comendadores de, lõb.
Costa. Álvaro da, camareiro e arma-
dor mor de D. Manuel. 369 • não
i-ra fidalgo, 254.
tosta. j;r:\> da. poeta do Cancioneiro,
27.
(osta. Caterina Diaz da. mulher de
António de Resende, '.i">.
Costa, D. Diogo 'la. bispo do Porto,
330.
Costa, D. Jorje da. arcebispo de
Braga, 330, 332.
Costa, I). Jorje da. bispo de Évora,
arcebispo de Lisboa e de Braga,
cardeal, 32, 330, 331, 332. — Carta
raa a 1>. Manuel, XVI.
tosta. Luis da. escrivão da iazenda.
■ »>
Costa, D. Martinho da. arcebispo de
Lisboa. 330, 332, 334.
Costa, I». Pedro da. bispo do Porto.
330.
tosta. Sebastião da, escrivão 'I"
reposte da Rainha D. Leonor. 137.
Costa Basto, JoBé Manuel da. dire-
ctor da Torre 'lo Tombo, 21 í .
Costa Lobo, A. de Sousa Silva, His-
toria iíii sociedade em Portugal no
século XV. Secção l. Lisboa 1903.
128, 267.
Coudel, ride em Alemquer. < asai.
Évora, Li«boa. Montoito.
Coudel mor. ride Silveira, I
i- Silveira, Francisco.
l ourtray, Pano de 285, 291.
Coutinho, D. Beatriz, Condessa do
\ ila Real, 9, 10.
Coutinho, D. Branca, amada do Princi-
peD. Afonso, 1 16, 147. — Casa com
Jorje de Mello, o Lajéo, I 16, I 'i7.
— Enviuva e morre. 148.
Coutinho, Fernão, filho de Vasco
I- ornando/ I 'oiitinho. 1 W.
Coutinho. Fernão, sr. de Celorico de
Basto, 147.
Coutinho, I'. Filipa, desposada do
l.« Conde de \ ila Real, 10.
Coutinho, Gonçalo, 2.° Conde de
Marialva. 2.
Coutinho, Henrique, 186.
Coutinho, D. Isa boi. filhado 1 ."Conde
de \ ila Real. III.
Coutinho. I>. VaSCO, delator do Du-
que de Viseu. 296 ; premio da
delação, 274 ; carta do titulo de
«•onde. 188, 189; Conde de Borba,
278; satisfação que recebeu pe-
las suas terras restituídas aos
Braganças, 116; benevolência de
D. Manuel para elle apesar da de-
lação, 275.
Coutinho. Vasco Fornandez. morto
na guerra da invasão de Castella,
147'. 148.
Covilhã. Alcaide mor da, \!4. — Pa-
nos, 134.
Cozinha. Peças da. 266, 290.
(.'rato. Cirurjião morador no, 250;
— Vide Prior do I rato.
Cristãos novos. 225, 233, '•!■'>•">. — Seu
enviado em Roma. ride Paz. Duar-
te.— Fama de o serem tinham
os Margalhos, de Évora. 00; os
[{esendes, 60 ; os Sandes, de Es-
tremoz. 59.
( ironista mor. 288.
Cronistas de D. João II, 55.
Coura. Senhor de. 198.
Cruzado de oiro. seu valor. 121.
Cubellos, Pêro, besteiro de cavalo. 241
Cunha, Álvaro da. estribeiro mor de
D. João II, 256, 257, 317.
Cunha. D. Isabel da, mulher de Ál-
varo \ asquez de Almada. 329.
Cunha. Martim Vasquez da. sr. da
albergaria de I 'aio Delgado e hos-
pital de Santo F.ntropio e Conde
de Valência de Campos, 361, 362.
(unha. Ib Meei a da. mullier de D. João
de Abranches, suas casas em Lis-
boa, 258, 259, 327, 328, 330.
< unha. Nuno da. alcaide mor de Pal-
mella, 265.
cunha. Pêro da. -r. de Celorico de
Basto, etc, 198.
IND1CI- AI 1 Ali! I K O
383
(unha. 1 ristão da, einbaixadoT ein
Roma, 38, 39.
tunda. Vasco Martin/ «la. sr. da
Taboa, Anjeja. etc., 362.
Cxmha Rivara, .'. //. iln. Extractos
de does. no archivo da Camará de
Évora, 56, 68. — Vide Rivara.
Çurita, Geronymo, Los cinco libros
postreros de la segunda parte de
los Anules de la (<->rona de Aru-
qnii... Turno quarto. Çaragoça,
1610. 177.
Dama do paço, 24 .
lianas. Fernão, tabelião de Évora,
90, 91.
Deduecão chronotogica, e analytica,
parte segunda... Dada á luz pelo
doutor Josepli de Seabra dn Sylva...
Lisboa, 1768 294.
Desembargador, 60, 296, 337, 340,
342. — l>a casa da Suplicação, .'Í40.
— Do Paço, .:."-.
Deslandes, Venâncio, possuidor de
ms. cits.. 148, 151.
Dias. Caterina, proprietária em Lis-
boa. 06.
Dias. Fernão, mantieiro da Rainha,
D. Leonor. Li7.
Dias. Isabel, viuva de Pedro Anes
Pinheiro, 4'2.
Dias. Lopo. tesoureiro do Príncipe
D. João, 266.
Dias. Madalena, viuva de .loão Va-
rella, 42.
Dias. Pêro. capelláo da Rainha
D. Leonor. L!7.
Dicionário contemporâneo da língua
portugueza feito sobre um plano
inteiramente novo. Lisboa, 1881.
•20(3.
Dinis. D., Rei de Portugal, concorre
para o ramo português da Ordem
de Santiago se desligar do tronco
castelhano. 14. 15. — Tem uma
rilha bastarda sepultada em Odi-
vellas. 168.
Diogo. D., 4.° Duque de Viseu. 147; e
3.° de Beja. 17'2. — Foi o chefe de
uma conspiração contra D. .loão II.
153, 17'.! '277. 340. — Seu primeiro
denunciante. '278. — Outros dela-
tores, '290; os quaes encontraram
animo benigno em D. Manuel,
27'2. '273 — Dono da casa de Se-
túbal onde foi morto. '205. — Um
dos que assistiram á sua execu-
ção. 296. — O caso da sua conspi-
ração mal rica apontado, '278. —
Insensatez do seu caracter. 270. —
Sen filho bastardo, '257.
Documento» para a historia da iypo-
graphia portugueza no século \i/
e \i//. Lisboa, 1881. 84.
Domingues, ; . do I 'onde de
\ iana. 10.
Donzellaa da Infanta D. Beatriz,
190 ■ -Do Paço "ii da [tainha, "23,
24, 25, 26, 185, 284, 298.— Da
Princesa D. loana, 160.
Duarte, D., li 11 io do Infante I ». I. r-
nando, parece ter-lhe seu cunhado
o Duque de] Bragança encurtado a
vida. 270
Duarte. D., Infante, filho de 1». Ma-
nuel. 233.
Duarte, D., Rei de Portugal, começa
a construção das capellas imper-
feitas na Batalha e conclue a do
Fundador. 140. — Foi cavaleiro da
Jarreteira, 170.
I)u Cange. Carolo Dufresne domino
Glossarium media el Ínfimos latini-
talis conditum a — < um supplemen-
tis integris monachorum ordinis
S. Benedicti D. \>, Carpenterii,
Adelungii, aliorum, suisque digessit
G. A. ].. Heuxchel. Tomus Quintvs.
Paris, 1845. '235.
Eanes, Dinis, clérigo, suas casas
Lisboa, 324, 326, 327, 341.
Eanes. Pedro, ourives. 348.
Eça, D. Pedro de. alcaide mor de
Moura. 296, 297.
Eça, D. Rodrigo de. seu lilho. '207.
Edmondson, Joseph, A complete bod;/
of Heraldry : containing In
Historical Catalogue o fali ikedif-
ferent Orders of Knighthood, from
the earliest to lhe present Time...
Vol. I. Londres 1780. 170-177.
Elvas. Capitão reformado do reji-
mento de cavalaria de, 03. — Me-
dico castelhano lá morador. '230.
— Olival no termo. 05, 66. — Pes-
soas lá nascidas ou moradoras.
59, 61, 62, 63, 65. — Rua do Tabo-
lado, 63. — Sarjento mor de cava-
laria naquella praça. 01. — Tenente
do dito rejimento, 62.
Elvas, Gomes de. mestre da obra da
torre de Caparica. 37.
Ennes. António, bibliotecário mor.
216.
Entre Doiro e Minho, bens naquella
comarca. 231. — Privilejios para
moradores nella. 107. '2'i0.
Entre Tejo e Guadiana, assistente
por D. João II naquella comarca.
302.
Escócia. Pano de, '201 .
m
ÍNDICE ALFABÉTICO
Escravos, valores dalguns nos fins
do \\ 1 século, 367.
Escrivão da camará, vide Carneiro,
itonio : Plrez, André,
io da fazenda, vide alcáçova,
Pêro; Costa, Luis ; figueiredo,
Henrique; Fonseca, Antão e João;
Pirez, André ; Porto, João; Besen-
<lc. Garcia. — Pequena importância
do ofici segundo quartel do
s iculo \ \ I. 41.- Propinas em es-
aria inerentes ao cargo, 40.
Escrivão da puridade dó Príncipe
D. João, vide Silveira. João I ' i-
nandez.
Escudeiro, João, guarda do Príncipe
D. João, 2C3.
Esmi riz, Abade de, 31 í
Esmoler da Rainha D. Leonor, 134.
— Del Rei D. Manuel. 249.
i sp cearia varia, 292; — ^Tesoureiro
delia na Casa da Índia. 133.
Esperança, Visconde da, manuscritos
da sua biblioteca, 42, NT. 95.
Espinheiro, convento da Ordem de
S. Jerónimo junto a Évora, no
qual em capella própria foi sepul-
tado < 'areia de Resende, 29, 'i I .
14, 16, 52, ;.;;. 61, 62, 67, 70. -
Doações que elle lhe fez 'i 1 . 14,
15, 50, 60. — Lá reúne p Príncipe
1 1. João um conselho, 268.
Espinosa, Gonçalo Gomez de, capi-
tão de uma das naus da expedição
de Fernão de Magalhães, 77. 80.
Estalisna de Lisboa no anrtfl de 1552,
ms. B-l l-Ui na Bib. Xae. de Lis-
363.
Este vez, ('Iara. instituidora de unia
capella na ilha da Madeira, 240,
241, 242.
Estevez, Maria, mulher do João God
çalvez, dos ( llivaes, 319.
Estremadura, Comarca da,, 161. -
Escrivão da sua chancelaria, 241.
— Privilégios para moradores na
comarca, 243, ^''tí>, J.r>.r>. — Tabel-
lião geral delia. 24 1 .
Estremoz, cirurjião lá morador, 250.
— Diplomas de lá datados. 7 'l .
>45, Í62, 273, 274. -Estada lá do
Príncipe D. João, 264. Morado-
res na vila, 63. — Os Sandes de
lá naturaes tinham lama de cris-
l Los novos, 59.
Estribeiro mor do Duque de Peja,
D. Manuel, ridr Homem, Pedro. —
Do Príncipe D. João, vide Faria,
Garcia; e Velho, Rui. — Del Hei
D. Afonso Y, riilr Paria, Ah aro;
e Fco, Pero. — Del liei D. João II,
> ide Cunha, Álvaro. Este cargo
não tinha ao principio a estimação
depois adquirida, 256.
Estrolico, dadiva de dinheiro a um.
288. Tença arbitrada a outro.
249.
Eugénio iv. papa, 16.
Évora: almoxarifado, tença nelle
paira, .V.), lili. — Assentos de livros
lindos das suas freguesias, 50,51.
I lonselho de rejencia lá nomi a-
do por I>. João I I durante a sua
doença, 302. Cortes lá reunidas.
'i!>, '.'7 1 . Diplomas de lá datados,
10, '.."., 67, 79, 99, 234, 240, 241,
242, 243, 245, 246. 247, 250, 258,
274, 304. — Duque de Bragançàlá
justiçado, 273. Entrada solene
do Mestre D. Jorje, lõ\!. —Festas
do casamento do Príncipe I • . Afon-
so, 102, li.'. 283. — lornal «Noti-
cias de Évora», 70. — Pátria e re-
sidencia de ' íarcia de Resendt .
33, 35,202,207. -Peste na cidade,
162, 302. — Keirosijos pela celebra-
ção das bodas do Príncipe D. Afon-
so. 22, 23. —Residência temporária
da corte, i'.l ; de D. João II, I 10;
de D. Manuel, 313.
Évora: almotacé, 59, — Arcebispo,
vide Cenáculo, — Arcediago da Sé,
51-52. — Bacharel na Sé, 241. —
Bispo, vide <'osta. D. Jorje; e
Meneses, D. Garcia. — Cidadão, s.;,
93.— Contador, 267. Coudel, 259,
315, 316, 369.— Deputado do San-
to Oficio, 314. — Escrivão do judi-
cial, 90; dos órfãos, 58, 9"4.— Fa-
mília Falcão, li!) ; (iões, 87. -
Inquisidor, 90. — Juiz dos órfãos,
68, 90, 94.— Meirinho, 86.- Mora-
dores, 15, 51. 52, 56, 59, 63, 71.
8ij v. 94, :i7. Provedor da fa-
zenda, 141.— /Recebedor dos em-
prest imos na cidade o sua comarca,
(»8. — Secretario do Santo Oficio,
88. Tabelião, 42, 87, 90, 91, 2'4t,
317. Vereadores da < amara. 19,
56, 59, 68, 316.
Évora: bairro de S. Mamede. '.I."i. —
Biblioteca Publica, códices lá
guardados', 42, 52, 60, 67, 68, 73,
8.4 . 90 ; ossos de Garcia de Re-
sende lá recolhidos, 55 ; pesscfal
lá empregado, 214.. (amara Mu-
nicipal. í'.i.- -Cartório do Cabido,
3IÍ; da Misericórdia. 51, ~>7. —
Casa de Afonso Gárçês, 21 ; a
chamada de Garcia de Resende,
ÍNDICE ALFABÉTICO
65, 06; a grande de Garcia de
Resende, 16, 66 ; uma junto ao
de S. Mansos. 65. ( asti lio
velho, 271. — Curral do Concelho,
72. — enterros da Misericórdia, 51 .
— Freguesia de S. Mamede, 60,
66; da Sé, 66. — igreja de Santo
Antão. 94. Livros findos de San
Mamede, 51 ; de Santo Intão >0
51, 52, 89, 94 ; da Sé, 52 Mise-
ricórdia, 57, 58. -Mosteiro de S.
Domingos, 9.1, 95; de S. Francis-
co, "iG : de Santa Clara. III.'.
Paços do Conde de Olivença, 271.
— Porta da Mesquita, 72 •. Nova,
52. — Praça, •>,. 22. — Rua das Esta-
lajens, õl ; dos Mercadores (hoje
do Paço), 22 : da Porta Nova. .".1 ;
da Selaria. 23.— Sé. '.!•.!. i2, 91. -
Teatro de < ■'areia de Lesendc. .">.;.
Terreiro de Álvaro Velho, ã
Évora, Termo de: bens, 42. — Fer-
rajiaes junto aos muros. 12, 72. —
Herdade da Fonte Coberta. 7. r.
— Mosteiro do Espinheiro. </. r. —
Prasos foreiros ao Bispo e Cabi-
do. 12, 7'.'. — Quinta da Manisola.
87; de Valbom. 93, 95.— Sitios,
oide Benafilé, S. ilrissos. Valbom,
Varellas.
Évora- Monte. Alcaide mor de. vide
Faria. Antão de. — Doação da alcai-
daria, 272, 280. — Direitoc reaes,
306.
Excelente Senhora, vide Joana, Prin-
cesa D.
Facão, A. do. termo de Sintra, 319,
32 1 .
Faião. Mousem. mercador judeu de
Lisboa. 267.
Fainm. Nacim, mercador judeu de
Lisboa. 267.
Fajões. Abade de S. Martinho de,
240.
,■ Falcão. André, de uns Falcões de
Évora. (i!).
Falcão do Resende, André, poeta, 69,
89, '.hi. ;il.
Falcão de Resende, (.'areia. 90. Vide
Resende Falcão. Garcia.
Falcão de Sousa, .losé, desembarga-
dor, suas casas em Lisboa, 337, .140.
Falcoa, Lucrécia, mulher de Jor^e
de Uesende. li!», '.Hl, 91.
F"alcoa. Teresa, õl .
Fale, Herdade do. 46, ''>.'!. 64.
Fão, Senhor de. 252.
Farão, vide Faro.
Faresoa. Tirites, mulher de Conr-alo
de Uesende. 7">. 7'i.
Faria, alcaide do casti
252, 253.
Faria. Álvaro de, cavaleiro da casa
dei Ri iõ : coudel de Alem-
quer e estribeiro mor de Afo
356.
Faria. Álvaro de, comendador ■ ;•'
Moura c ilo 1 a-al, 253, -'õõ.
Faria. Antão de. camareiro de I'.
loão li. não era fidalgo, 254 ,279
105, 370. Seus pais, 259, 3 1 i.
Seus irmãos, vide Faria. < rareia.
e Lourenço. Entra para o
jo do Príncipe D. João, 253.
Motivo da escolha, 315, 316, -11 T .
— Foi seu camareiro em quanto
Príncipe e depois de Rei, ",!Õ7. 263,
265, J7!b — Também foi seu guar-
da-roupa, 263, 31 .' ; cevadeiro m ir,
264, 268, 312; e armador mor.
264. — Acompanhou-o na tomada
de Arzila, 265; e na batalha de
Toro. 253, 265.— Concede-lhe o
Príncipe uma especial carta de
privilejios, 264, 265, 280; confir-
mada por 1>. Manuel. 278, 306. —
Faz-lhe o Príncipe, mercê da alcai-
daria mor de Palmella, 265. — En-
via-o a seu pai a França, 268.
D. Afonso V doa-lhe umas casas
em Lisboa, .'!'20. — Com o cargo
de camareiro tinha parte de tesou-
reiro do bolsinho do Príncipe,
265. — Destes dinheiros recebe car-
ta de quitação, 265 a 268. — Outra
do oficio de cevadeiro mor, 279.
' — Amizade e confiança que mere-
ceu a D. -loão II, 254, 264, 268,
278, 279, 281, 293, 296, 297.— Parte
que teve nas conspirações, 271,
272, 273, 277, 278, 281.— São-lhe
doados bens dos Braganças, 271,
272, 281. — Doação d.t alcaidaria
mor de Évora Monte, 272, 280 —
Outras mercês de D. .loão II, 271,
272, -isi), 281, 282.— Também teve
a comenda de Valada, 282, 307.
Anadel mor interino dos besteiro-
da camará, 282. — Do Conselho de
D. João II, 289,309.— Tesourei-
ro do seu bolsinho, 'IS'!, -"Jli. —
Executor dos castigos por elle or-
denados, quando recaiam em crian-
ças, 282, 286. — Contribue para
D. Manuel ser nomeado sucessor
da coroa. 272, 304, 306. — Mas não
escreveu o testamento de D. João
II, 303. — O 'jual foi comtud" . -
tregue á sua guarda, 281, 308.-
AcompanLa el liei na sua doença,
25
3S6
índice alfabético
301. -Assiste ;'i sim morte, .>i|S.
— No seu testamento è nomeado
para o conselho testamentario,
309, 310. — I obrigações que no tes-
tamento lhe são impostas, 309,
310; satisfa-las e recebe carta de
quitação, 310. — Ainda seguiu al-
gum tempo a curte, .'!I0, 313. —
1 '(Mia do Cancioneiro. 299, 300.
— Abandona a corte, 306, .'i70. —
Passa a viver nas suas casas de
1 isboa ou na sua quinta dos Oli-
vaes, 313. — Seus serviços foram
condignamente premiados por D.
João II, 30(5, 312, 313.— Defe-
rência de I». Manuel para com elle,
307.— Confirma-lhe os bens <la
coroa e os privilejios, 'J t j J , 278.
— Notáveis palavras nas cartas
destas confirmações, 304, 305, 306.
— Do Conselho de D. Manuel, 305,
310, 312. — Satisfações recebidas
pelos oficios de cevadeiro mor e
camareiro 305; pelos bens dos
Braganças, 272. — São-lhe dadas
cartas de quitação de varies di-
nheiros recebidos de D. doão II,
alem dos consignados no testa-
mento, 311, 312; e outra do oficio
de cevadeiro mor, 312. — Seu ca-
samento, 319. — Sua mulher, riiic
Oliveira. Leonor Gonçalvez de. —
"•cus sogros, 281, 319. — Seus bens
próprios e da coroa. 307. — Sua
quinta nos Olivaes, 281, 307, 313,
320, 321. — Suas casas em Lisboa
á porta da Cruz, 320. — As de mo-
rada á porta da Alfôfa, 258, 259,
307, 313, 314, 321, 322, 323, 324,
325, 326, 330, 332 a 340, 343, 348,
358, 359, 364, 369. — Institue um
morgdo destas suas casas. 314,
321, 322. — Funda uma capella na
Graça de Lisboa, 315, 321.— Últi-
mos tempos da sua vida, 367. —
' asamento de seu filho. 368, 369.
— Sua morte. 368. — Sua sepultu-
ra. 321. — Importância verdadeira
da sua personalidade politica. 370.
Faria, Antão de. II do nome, insti-
tue o morgado de Palmella, 327.
— Possue as casas da poria da
Alfôfa, 341.
Parla, Beatriz de. lilha de Álvaro de
Faria, 255.
Karia, Caterina de, sua irmã, '->r>.
Faria, Dr. ] >ioj;o de, cirurjião mor
de D. Manuel. 249, 250. '
Karia. Francisco de, ti lho do Cama-
reiro, ;ib7. — Doam-lhe os pais. em
sua vida, a> casas da porta da
\liota. em morgado, 322. — Pos-
sue-as, 335, 33o, 368.— Seu ca-
samento, 368, 369. — Viveu e foi
sepidtado em Palmella, 336. —
Seu testamento, 320, 321.
Karia. Francisco de, 11 do nome,
abaide mor de Palmella, possue
as casas da porta da Alfôfa, 338,
339. — Compra outras junto da-
quellas, 337.
Karia. Francisco de, filho de Lou-
renço, 318.
Karia. Francisco de, morador em
Évora, 52.
Faria. Garcia de, estribeira mor do
Príncipe 1). João, 253, 257, 258,
263, 317.— Seus pais. 259, 314. —
Partilha de seus bens, 314. — Tal-
vez tabelião em Évora, .'il7.
Faria. Garcia de, filho de Lourenço.
318.
Karia. Gonçalo Nunez de, abade de
Lio Covo, 252.
Karia. Gonçalo Nunez de, sr. de Fão,
252.
Karia. Guiomar de, mulher do mes-
tre Gil, cirurjião mor, .Hl 7
Faria. Joana de, lilha de Lourenço.
318.
Karia. I>. Joana de, mulher de Nuno
Fernandez de Ataíde, 368, 369.
Faria, doão de, coudel de Évora,
259, 314, 315, 316, 317, 369.
Faria, doão de, filho de Lourenço,
317.
Faria, doão de, uchão de I). doão II,
■.'õ.!. 257, 266. — Alcaide mor de
Portel, 257, 280.
Faria, doão Alvarez de, escudeiro do
sr. de Hasto. 184.
Faria. Lourenço de, mantieiro de
D. João II. antes e depois de rei.
253, 258, 263, 280. — Seu alferes
do estandarte na batalha de Toro.
253, 258, 265, 279, 317. — Seus
pais, ''->'K 314. — Suamulher, 314.
— Suas casas em Lisboa, 258, 259,
318, 327, 328, 335. — Sua morte.
253, 259, 318. — Seu testamento,
317, 318.
Faria. Maria Fernandez de. mora-
dora em Torre* Vedras, 256.
Faria. Mor de, filha de Lourenço.
318.
Faria. Nicolau de. secretario da em-
baixada ao papa l.eao x. 39.
Faria. Simão de. filho de Lourenço,
259, 318.
Faria. 1>. Teresa Losa de. mulher de
índice alfabético
387
Francisco Policarpo Girão de Re-
sende, lil .
Parla da Silva, 1». Antão de, Prior
mor de Palmella, possue as casas
da porta da Alfafa, 339.
Farto y Sousa, Manuel de, Europa
Portuguesa. Lisboa, 1679. 310. —
Notas ai Nobiliário de don Pedro,
Conde de Barcelos, hijo dei Rey
dou Dionis de Portugal, na ed. de
Madrid, de 1646, daquelle Nobiliá-
rio, 252, 310.
Farias: seu possível progenitor, 253 ;
os dos tempos de 1). Afonso V e
D. João II. 253, 255, 257, 259;
não eram fidalgos, 254, 279; erros
dos geneolojistas a seu respeito,
279, 310; suposta carta de brasão
a elles dada, 280.
Faro, Almoxarifes de, 134. — Doação
da vila á Rainha 1). Leonor II!). —
A el!a pertenciam as rendas e di-
reitos reaes, 113, 127, 128 ; os di-
reitos da judiaria e moiraria e
os foros dos próprios, l'27, 129.
— As pensões dos tabeliães per-
tenciam a Antão de Faria. 'i7'.',
306, 307.
Faro, Conde de, I ,°, vide Afonso, D. ;
2.°, vide Sancho. D.
Faro. Condessa de, vide Noronha,
1). Maria.
Fazenda real, vide em Escrivão e
Vedor.
Feo, Pêro, estribeiro mor de I). Afon-
so V, 256.
Fcrnandez, Álvaro, capellão e esmo-
ler de D. Manuel, 249.
Fcrnandez, Álvaro, esmoler da Rainha
D. Leonor, 134
Fcrnandez. Isabel, mulher de Afonso
Garcês, '21 .
Fcrnandez, .João, o Lavrador, navega-
dor, 129.
Fcrnandez, D. João, 1.° Mestre da
Urdem de .Santiago em Portugal,
IL
Fcrnandez, Urraca, mulher de Diogo
Soarez de Albergaria, 361.
Fcrnandez, Vasco, tabelião de Évora,
12.
Femandez Costa, D. Duarte de Me-
neses e D. Isabel de Castro, artigo
no n." de abril de 1901 do Boletim
da Sociedade de Geographia 1. —
Critica a este artigo, 4, 6, 8, 9, 10.
Fernando, o Católico, Rei de Cas-
tella e Aragão, 35, 1 G"2.
Fernando. Mestre, cirurjião mor de
D. Afonso V, 232 246.
Fernando, D., Infante, filho de D.
João l, sepultado na Batalha, 1 10.
Fernando, D., Infante, innao de D.
Afonso Y, Duque de Viseu, '220,
23!). — Seu caracter, I, 2. — Sua
expedição infeliz em Africa, 2. —
Seus filhos, 276, 277.
Fernando, |)., Maricbal, 353
Fernando, Mestre, morador em Lis-
boa, 246.
Fernando li. 1>., Rei de Leão, funda
a ( )rdem de Sanl iago, 1 3.
Fernando, 1).. Kei de Portugal, 194,
252, 280, 347.
Ferrão de Castello Kraneo. José, in-
dica ao autor a etimolojia da pa-
lavra marramaque, 196.
Ferreira, António, morador em EvO-
ra, õl .
Ferreira. D. Caterina, 51.
Ferreira, Rodrigo, sobrinho do mes-
tre André de Resende, 86.
Fez, Bispo de, Vide Francisco, D.
Fez, Rei de, cerca a vila de Alcá-
cer, õ.
Fidalgo, diferença entre elle e o no-
bre, 254, 255.'
Fidalgo, Afonso, homem «la copa de
1). .loão 11, 102, 103, 104, 224.
Fidalgo, João, mestre pedreiro. 338.
Figueira, Alcaide mór da, 156.
Figueiredo, António Bernardo de,
major de artilharia. 17'.!, 174. —
Mede a múmia de D. João II,
170, 171.
Figueiredo, Cândido de, Novo diccio-
nario da língua portuguesa. ■ ■ Lis-
boa, IS!)!). 2 vols. 195.
Figueiredo, bornes de, provedor de
Évora, 141, 254.
Figueiredo, D. Gonçalo de, bispo de
Viseu, '201 .
Figueiredo, Henrique de, escrivão da
fazenda de D. Afonso V, 254, 295.
Figueiredo, Lopo de, escrivão da fa-
zenda do Duque de Bragança, 271.
— Seu delator, 254, 271, 273.—
Prémio da delação confirmado por
D. Manuel, 273.
Figueiredo, Lopo de, Traindo de —
em que se contem algumas carta*
e outras cousa* que tacão ao raso
do Duque de Bragança, publicado
nos Annaes de sciennas e leiras,
163, 164, 271, 281.
Figueiredo, D. l.uisa de, mulher de
Pedro Paulo de Resendi , 58.
Figueiró, Senhor de, 192, '210.
Figueiró da Granja, bens lã situa-
dos, 248.
388
indici: ALFABÉTICO
Filipa, D., filha do Infante 1>. Pedro.
316.
Filipa, 1'.. Rainha de Portugal, 196.
— Sepultada na Batalha, 140.
Fisica, Cartas de, 231, 245,246, 247,
>48, 249, 250.
i isico ile D. Afonso \. 245. — Do
Infante 1>. João, 245.— De 1>. Ma-
nuel, 229, 231, 232.
Físico mor de D. Afonso V, 231,
245, 246,247, 248.— De D. João II.
246, 247.— De D. João III, 228.
— De D. Manuel, 247, 248, 249,
250.
Fisicos, Examinador dos. 245, 250.
Flandres, 1 aia de, «84.
Florença, Estamenha de, 134.
Florentim. pano, 291 .
Fonseca, Antão da, escrivã" da fa-
zenda, sua casa em Lisboa, 344.
345, 349, 350, 355.
Fonseca, Pe Francisco da, Évora glo-
riosa. Epilogo dos quatro tomos da
Évora /Ilustrada, que compoz o R.
I>. M. Manoel Fialho. . . Roma,
1728. 68, 71, 88.
Fonseca, João da, escrivão da fa-
zenda de D. Manuel, sr. das ilhas
de Santo Antão, Flores e Corvo,
34-i, 353. — Suas casas em Lisboa.
343, 344, 349, 350, 354, 358.
Fonseca, Paulo Gomez da, juiz dos
órfãos de Évora. 94.
Fonseca, Pêro da, sr. das ilhas de
Santo Antão, Flores e Corvo, 349.
Fonseca, Simão da, capellão fidalgo,
suas casas á porta da Alfôfa, 353,
354, 356.
Fonte Cuherta, herdade onde
D. .loão II foi envenenado, 120,
230.
Fragoso, Jordão, morador em Évora,
45.
Fragoso, Rui, contador, 328.
Fraião, Senhor de, 198.
França, Embaixador de, õ] . — Moeda,
267. — Pano, 291. — Para lá parte
Afonso V, 160; e lá recebe um
enviado do Príncipe D. João, 208,
269.
I rances: lenço, 291 : moço fidalgo,
284, 285: pedreiro, 245; saio bas-
tardo, "289.
Francisco, !>., Bispo de Fez, esmo-
ler de D. Manuel, 249.
Francisco, D., 1. Conde do Vimio-
so, 24.
I rasto, Brites, mulher de ' I
de Resende, 75, 70.
Frederico li. Rei da Prússia, 142.
Freire, Gomes, fidalgo morto em
Tanjer. 2.
Freire, -loão, escrivão dos contos da
casa de D. João II, 24 1 .
Freire. D. Maria, Marquesa de Vila
Real, 189.
Freire de Andrada, Gomes. l.° Conde
de Bobadella, 348.
Freire <le àndrada, José António. 2.°
Conde de Bobadella, 348. 357.
Freire de Oliveira, Eduardo, Ele-
mentos para a historia do muni-
cípio de Lisboa. ■ . l.a Parte, Vol. 1,
Lisboa, 1882, 343. Vol. II, Lisboa,
1885. 355.
Freitas. José Valentim de, traça
nina planta de Lisboa, .'i"25.
Freitas. Lourenço de, tesoureiro e
ucbáo da Bainha D. Leonor, 137.
— Cartas de quitação, 133, 135.
Funchal, Morador no, 'l\'l.
Fundidor de ferro. "289,
Furtado. João, tabelião em Évora,
42, 87.
Furtado de Mendoça, Afonso, 151.
Furtado de Hendoça, Nuno, aposen-
tador mor de D. Afonso Y, 148,
151,
Galego, cirurjião, 249.
íiago, João, almoxarife de Sintra,
134.
(•aso. João, tesoureiro da Casa da
Mina, 132.
t.airn. Bui. feitor nas Molucas, 77.
Galbarde, Germão, impressor, 73,
78, 79.
(.ali ii do. D. Martim, 262.
Galiza, Adiantado de, 251.
Gallardo, D. Bartolomé José. Ensayo
de una biblioteca espanola de libros
raros y curiosos formado con los
apuntamientos de — , coordinados y
aumentados por D. M. li. /anu
di I Yalle y D. ./. Sancho Rayon. ■ .
Tomo primero. Madrid, 1863. 78.
Galvio, Duarte, 24.
(.aluiu. 1». loão. Bispo de Coimbra
e Conde de Santa Comba, 2I>1,
282. — Arcebispo eleito delirada.
•281.
Galvei, Galveu, -ide o seguinte.
Galway, Pano de, 283, 291.
(•ama. Duarte da, poeta do Cancio-
neiro. 346.
Gama Barros, Henrique da, Historia
da administrarão publica em Por-
tugal nos séculos x:i a xv. Lis-
boa, 1885-1896. 2 vols., 16, 17.
254.
< iante, Pano de, 291 .
índice alfabético
3SQ
Garcês, Afonso, secretario de
D. João II. 21, 22, 254.
<iarrès, Jorje, secretario de I». .Ma-
nuel, 295.
Genealojistas, pequena valia das suas
asserções, 280.
Genovês, cirurgião especialista, 249.
Gestacò, mercê do senhorio, 258,
Gibraltar, lá se encontram Afonso V
e Henri([iie 1\' de Castella, 2, 3.
I liela, Senhor .hi casa «Ir. 198.
Gil, Mestre, cirurjiáo mor de 1).
Afonso Y. 245.
Gil, Mestre, cirurjiáo do Pnque de
Viseu, 246; cirurjiáo mor de D.
Manuel, \!'i7f 248, 249, 317.
Gil, Pr. Mestre, outro cirurjiáo mol-
de D. Manuel, 228, 250.
Ginetes, Capitão mor dos, do Prín-
cipe D. João, 246.
<;irão de Besende, Francisco Poli-
carpo. '.)." administrador do mor-
gado da Anta. 60, 61, 66.
Girou. P. Maria, mulher de Marti m
Vasquez da ( unha. 362.
Goa, Morador em, 85.
Godinho, António, fez o livro das
armas da Torre do Tombo, 17.S.
Godinho, Gaspar, escrivão da cama-
rá, 138.
(íoes. família deste apelido em Évo-
ra, 87.
(•'oes. Angela Leonor de, mãe de
André de Resende, 87.
C.oes, Barnabé de, morador em Evo-
ra, 51, 87.
Góes, Damião de, Chronica do feli-
cissimo Hei/ dom Emanuel. ■ ■ Lis-
boa, 1619. 34, 102, 114, I!."», 154,
\!õ7, '274, 275. — Na primeira edi-
ção, suprimida pela censura, da
primeira parte desta Chronica,
censurava energicamente a resti-
tuição da casa aos Braganças,
115, 116. — Chronica do Príncipe
dom Joam, Rei que foi destes líe-
(jnoít segundo do nome... Coim-
bra. 1905. 164, IGõ. — Nobiliário,
copia ms. em meu poder. 7'i. 184,
254, 330.
Góes, Piogo de, almoxarife dos for-
nos da porta da Cruz, 8í).
<íoes. Piogo de, escudeiro do Puque
' de Coimbra ,87, 89.
ftoes, Piogo de, fidalgo da casa dei
Rei, 89.
<.ne>. Piogo de, morador em Évo-
ra, 51, 89.
(iões, Leonor Vaz, mãe de André
de Resende, 87.
(.oes. Meei a de, mulher de Francisco
de Faria, 52.
Gomes, Uvaro, cavaleiro, morador
em Ta\ ira, 267 ,
(.ume/. Bartolomeu, provedor das
rendas reais de Lisboa, 238.
«.orne/. João, mOQO da estribeira do
Príncipe D. João, '.'(17.
(.ume/ Freire, Luis Garcia, capi
tão, 62.
Gonçalvez, Antão, contador da casa
de I». João II, 241.
Gonçalves, Diogo, sapateiro do Prín-
cipe D. João, 266.
Gonçalves, Diogo, tabelião de Évo-
ra, 12.
Gonçalvez, Gaspar, homem da copa
da Rainha I>. Leonor, 137.
Gonçalves, João. dos Olivaes, sogro
dê Antão de Faria. 281, 319, 320
Gonçalves, João, tesoureiro da Casa
dá Índia, 137.
Gonçalves, Leonor, mulher de Antão
de Faria, vide Oliveira, Leonor
Gonçalvez.
Gonçalves, Nuno, alcaide do castello
de Faria, 251, 252, 253.
Gonçalves, Vasco, almoxarife de
Alemquer, 134.
Governador da casa do Príncipe
D. Afonso, vide Meneses. D. João.
— Pa casa do Príncipe D. João,
vide Albergaria, Piogo Soarez.
'Irão Fará, sua colonização, "217.
Grécia, Mestre Joane da, fisicò, 245.
Guarda, Almoxarife da, 11. — Fassa
por lá a Excelente Senhora, 100.
Guarda do Príncipe P. João, '263.
Guarda mor de D. João 111, 41.
(inania roupa de D. João 11, vide
Faria, Antão. — Pe P. Manuel, vide
Correia. Fernão Lopez.
Gnazava, (onde de, em Africa, '28Õ.
Guimarães, Comarca de, 192. — Físico
lá morador, '231 , 232. — Outros mo-
radores, 242, 243, 250. — Mosteiro
de S. Domingos, 194. — Peonajem
do concelho, 251. — Recebedor do
almoxarifado, 249. — Tabelião, 243.
(iiiiinaràes. Conde de. vide Bragança,
Duque de, D. Fernando II.
Guimarães, Lourenço de, 360.
Guiné, Almoxarife ou recebedor do>
escrai os vindos de, 226, 234,244. —
Escrivão da fazenda, 295. — Feitor
da Casa, 312. — Ilhanomardaquelle
senhorio, 295. — Pensões pagas pe-
los capitães e escrivães dos na\ io^
que para lá se armavam em Lis-
boa e em certas ilhas, 42. — Rece-
390
índice alfabético
bedor 'las vintenas de lá, 129. —
lis.' uni ró, 312. — Titulo do senho-
rio quando introduzido no dictado
real, 183.
Guiomar, 1)., Condessa de Loulé, 8.
Gaiomar, 1)., dama 'I" paço, poetiza
do Cancioneiro, 23, 24.
Guiomare8, \s treh grandes, do Can-
cioneiro, .''i.
Heahea, carpinteiro moiro, 288.
Henrique, !>., Cardeal Infante, seu
camareiro e guarda-roupa, 91. —
Seu capelão fidalga, 90,91. — Fi-
dalgo da sua casa. 91 . — Ralacio em
Lisboa onde residiu. 336.
Henrique, D., Conde de Portugal, 17.
Henrique, I>., Infante, til lio de
1). .loão I, cavaleiro da darr<--
teira. 146. — Dota o Conde de
Viana, II. — Governador da sua
casa. 10-11.
Henrique II. D., Rei de Castella, 23,
250, 347.
Henrique IV. ]>., Rei de Castella, '2.
Henrique VI. Rei de Inglaterra, 328.
Henrique/. António, contador, 1.17.
Henrique/.. ]>. Briolanja, mulher de
Aires de Miranda. "l'.\, 25.
Henriquez, D. Garcia, capitão de
Ternate, 78.
Henriques, Guilherme João Carlos,
Alemquer e seu concelho. • ■ 2.* edi-
ção, correria e augmentada. Par-
te .V. A villa de Alemquer, Lis-
boa, 1902. 91.
Henrique/. 1). Guiomar, donzella do
paço, mulher de Garcia de Mel-
lo, 25.
Henrique/. I). Henrique, aposentador
im.r de D. .loão II. 23, 264.
Henriquez, J>. Henrique, sr. das Al-
cáçovas, 339.
Henrique/. ]). Jorje, sr. das Alcáço-
vas, 339.
Henrique/. I>. .Margarida, apodada
nos Porquês de Setúbal, 25; ca-
mareira mor da Rainha D. Leo-
nor, 134,
Herculano, Alexandre, historiador,
F27.
Herculano, Alexandre, Garcia de Re-
semlr, no Y vol. dos Optisculos.
Lisboa, 1880. 30, 282. — Historia
da origem e estabelecimento da
Inouisição rui Portugal. Lisboa,
1864-1867. 3 vols. 233, 234.—
Historia de Portugal desde o co-
meço iin monarchia até d fim do
reinado 'ir l>. Afonso m Lisboa,
I8<;:t. 4 vois. i;
Historia, U estudo da, despregado
entre DÓS; os altos poderes cio
F.Stado san ns peores ; á testa <los
arquivos e bibliotecas, não Be
põem homens competentes, '21 í.
Homem, Fedro, estribeiro mor do
Duque de Beja, poeta do Cancio-
neiro, I 'i0.
Honorato, embaixador de França.
vide Caix. Honorato de.
Manha a Nova. Conde da, vide Alcá-
çova Carneiro. l'ero.
Ilha 'lo Corvo, Senhor da, 343, 349.
Ilha das Flores, Senhor da, 343, 349.
Ilha da Madeira, barbeiro lá mora-
dor, 240; cirurjião, 242; outros
moradores, 227, 240,242. — [gre b
de Santa Maria a Maior, 240.
Ilha do Príncipe, Doação do senhorio
da, 294, 295. — Senhores delia.
343, 345.
Ilha de San Tomé, pensões pagas
pelos capitães e escrivães dos na-
vios que para lá se armavam em
Lisboa, ou de lá para os rios de
Guiné, 52.
Ilha de Santiago, idênticas pensões, i"2.
Ilha de Santo Antão. Senhor «ia, 343,
349.
Ílhavo, Doação do senhorio de, 152.
Índia. Armadas da, 70,80. — Arma-
zém, 249. — Capitães mores de
armadas, 7U. — Descobrimento, 31.
— Depois delle a politica entre nus
foi -se tornando mercenária, 3IJti,
307. — Tesoureiro da Casa, 78,
133. — Tesoureiro da especearia.
133. — Vice Rei, '2X8.
indires do Cancioneiro de Resende e
itas Obras de Gil Vicente, Lisboa,
1900. 21, "27, -28.
Tneditos, Collecção de Urros, de his-
toria portugueza, dos reinados de
D. João L, D. Duarte, l>. Affon-
so V-. e l>. .loão II., publicados de
ordem da Academia Real das Scien-
cias de LUboa. Por José Corria d"
Serra. Tomo l. Lisboa, 1790; tom.
11. ibi. 1792 ; tom. III. ibi. 1793.
182, 294.
Inglaterra, Relações com. 196.
Inglês. Carta de seguro para a nau
de um, 220.
Inocêncio, Dic. bibliográfico, vide
Silva, Inocêncio Francisco.
Inquisição, breve proibindo-lhe pro-
cedimento contra certos cristaos-
novos, 235. — Dos seu 26:000 pro-
cessos só existi- muito deficiente
catalogo, 216.
INDICl ALFABÉTICO
391
Instituto, 0, jornal identifico e litlr-
rarío. Volume decimo quinto. < loim-
bra, 1872. 19, b't
Ipre, Pano de, vide Ypres.
Irlanda, Lano < [o, 291 .
Irlandês, Pano, 283.
Isabel. D., Princesa, mulher do Prín-
cipe D. Afonso, 22, 145. -Doação
• las vilas de Torres Novas, Torres
Vedras e Alvaiázere, 11S. — Vide,
Isabel, ]>., Rainha, mulher de
D. Manuel.
Isabel, D., Rainha Católica, 162.
Faz com que D. .loão II deixe a
aniant". 166.
Isabel, D., bainha de Portugal, mu-
lher de D. Afonso V. seu tumulo
provisório na casa do capitulo da
Batalha, 17.5. — Seus restos tras-
ladados para a capella do Funda-
dor, 139, 140, 173. -Sua aia, vide
Meneses. 1). Beatriz. — Donzellada
sua casa, 185.
Isabel. 1)., Rainha de Portugal, mu-
lher de D. .Manuel, enviuva do
Príncipe D. Afonso e torna a ca-
sar, 145. — .lurada herdeira de
Castella e Aragão, 106, 145. —
Morre, 14.">. — Vide Isabel. D., Prin-
cesa.
Jaime. D., Bispo de Ceuta, [51.
Jardo, 1). Domingos, Jiispo de Lis-
boa, 360.
Joana. Infanta D., irmã de D João II,
cria o Mestre D. .lorje seu sobri-
nho, 152.
Joana. Princesa D., a Excelente Se-
nhora, desposada de D. Afonso V.
;i40. — Entra com elle em Portu-
gal, 16(1. — Vai residir para Abran-
tes, 160, 161, 162, 167. — Larga os
títulos e entra como noviça no con-
vento de Santa Clara de Santa-
rém, 162. — Passa para o de Santa
• Iara de Évora, 162. — Professa
no de Santa Clara de Coimbra,
162, 164, 211. — Dadivas que lhe
fez D. .loão II. 287, 288.— Sua
camareira mor, 1 (>7. — Donzellada
sua casa. 148, 160, 1 1 >7 . — Seu
mordomo mor, 160.
João. D., Bispo de Ceuta, 16.
Joào. D.. Bispo de Silves, fundador
do hospital de Santo Eutropio em
Lisboa, 325, 360, 362.
João. Mestre, cirurjião biscainho
morador no Porto, 228.
Joào, Mestre, cirurjião da Rainha
D. Leonor, morador no Porto. 228,
229, 248.
Joào. Mestre, cristão-novo, afilhado
de l >. João 11, físico da Rainha
I >. Leonor n o nome de mestre
João do Porto, '.''«'o.
Joào, ]>.. 3.° Duque de \ iseu, tem
curta \ ida, 27o. Seu cirur ião
246.
joào. Mestre, físico de D. Manuel,
229, Z47.
João. D., Infante, filho de D.João
1 10, 175.- Seu físico, 245.
Joào. Mestre, judeu, 299.
João. D., Marquês de Montemor, 3,
257, 275.
João XXII. papa. 15,
Joào. D., Príncipe, nasce em Lis-
boa. 259! — Sua madrinha de ba-
ptismo, 260. — Educação recebida
de seus aios. 262. Âjusta-se o
sen casamento, 263, Armado ca-
valeiro, 261-262. — Contrato do
seu casamento. 117. 125.
cia do reino na ausência do pai
em Castella, 264. — Valimento do
Camareiro, 264,268. -Mercês qne
então lhe faz, 264, 265. — Entra
em Castella, 265. — Em Toro co-
meçam os seus amores com
D. Ana de Mendoça, 160 ' on-
tiuuam durante a viajem da Exce-
lente Senhora para Abrantes. Kit.
— Rejencia do reino durante a au-
sência do pai em França, 162, 268
— Estado do reino, 268. — Convoca
um conselho no mosteiro do Espi-
nheiro, 268. — Envia o Camareiro
a França com recados ao pai. 268.
269. — Primeira aclamação em
Santarém. 162, 269. — Entrega o
governo ao pai, 162. — Pazes com
os Leis Católicos, 1G2. — Recome-
çam os amores no Vimieiro, 162.
— Encontros com D. Ana nos bos-
ques de Cernache. 162. — Em
Coimbra concebe ella o futuro
Mestre D. .lorje, lli.i, 164. Nas-
cimento do filho bastardo, Ki4. —
Sobe ao trono. 269. — Sua casa
em quanto Principe, 262, 263, 264.
— Algumas pessoas que o servi-
ram : aia. vide Meneses. D. Beatriz,
e Vilhena, D. Beatriz; alferes do
seu estandarte em Toro, Faria.
Lourenço; aposentador mor. Hen-
riqnez, D. Henrique ; armador mor,
Faria. Antão; camareiro. Parla,
Antão, e lhe dada carta de quita-
ção. 265 a 268 : camareiro mor.
Silva. Aires, e .loão ; capitai- mor
dos ginetes, Hascarenbas, Fernão
392
ÍNDICE ALFABÉTICO
Martinz ; cevadeiro mor, Parla,
\ ntâo : chanceler mor Silveira,
Femandez ; copeiro mor, i,i-
iii». Fernão ; escrivão da puridade,
Silveira, João Fernandez; estrihei-
ro mor. Parla, '.areia, e Velho,
Rui; governador, Albergaria, Diogo
Soarez; guarda, Escudeiro, João;
guarda-roupa, Parla', Antão; man-
tieiro, Faria, Lourenço; meirinho
i ■, Sonsa, [íui ; mordomo mor,
albergaria, Diogo Soarez-, e Noro-
nha. D. Pedro; sapateiro, "-!iiii;
tesoureiro, Diaz, Lopo; vedor da
sua casa. Borjes, Pêro-; vedor da
sua faznida. Silveira, -loão Fer-
nandez.— Vide João li. 1>.. liei
de Portugal.
Joio, !>.. Príncipe, seu camareiro
mor, 244.— Vide .loa<> III, 1).. liei
de Portugal.
Joio I. D.. Hei de Portugal, 30, 31,
252. — Sua capei la na Batalha,
1 30, 140. — < 'asa <> rir. João das
Regras, 362.
.loão II. 1).. liei de Portugal, 18, 10,
.hl 31, 102, 108, '2D7. '.T.:!.— Es-
tado em que o pai 1 lie deixou o
reino. 200, 270. — Sua castidade
depois de rei, 149, 164. — Duraram
pOUCO OS seus amores. 140, 164,
165, 100, ]li7. 168. — Abandona a
amante. 166, — Doações que 1 lie
fez, 140, 105. IGG. — Conspirações
e conspiradores. 116, 153, '-'7(1.
','71. 272, '277, 278, 281, 296, 335,
346. -Verba do seu testamento
relativa aos conspiradores, 116.-
Absoltrfamente contraria ao re-
gresso dos conspiradores e resti-
tuição das suas casas. I lõ. I 1(1.
— Para a impedir doa a diversos.
em premio de serviços, muitos bens
• ia coroa '■ patrimoniais dos Bra-
ganças, Mo, 257, 272. — Benevo-
lência dispensada á mulber de um
conspiradores, 365. — Prémios
aos delatores, '273. '274. — Confir-
mados por 1). Manuel, .pie por esta
forma reconhece haverem sido as
conspirações facto provado. 275.
Padrinho de casamento da filha
<lo seu Secretario, 21. — Recebe
a noticia de se haverem celebrado
o- desposorios do Príncipe seu
22, 23. — Morte deste. 99,
li"). 100, li.".. 301.— Motivo por
não sentiu tanto, quanto era
de prever, 301. — Discórdias com
sua mulher a Rainha 1 1. Leonor,
99, 101, 106, 1)17. 108.— Mercês
que lhe faz, 00, 100, 108, 109,
I 10, 1 18, 120. — Corre a acompa-
nha-la na doença, 108. — No seu
testamento nem uma BÚ vez a no-
meia, 112. -Ódio que ella até final
lhe consagra. 131. — Deseja deixar
a coroa ao filho bastardo. 101, 106,
1 10. 152, 304.— Luta com a Rainha
sobre a nomeação do sucessor á
coroa, 101, 106, 107, 1 lo, 111.1 12.
— Nomeia-a em 1 >. Manuel. 111. —
Para o que concorre o I lamareiro,
'27'2. — dá doente cuida na defesa
do porto de Lisboa. 37, 302. —
Nomeia um conselho de rejencia,
302. — Faz o seu testamento, III.
281, 303.— E' aprovado, 308.
Entrega-o ao Camareiro, 281, 308.
— Parte para Monchique. 112.- —
Sua doença final, 30, os. 112, 301,
302, 303, :J0,S.— Nella o acompanha
0 Camareiro, 301 . — Na sua camará
dormia Garcia de Resende, 41. —
Fora envenenado na Fonte Cuber-
ta. 230. — Seu envenenador, 224,
^\!f>, 229, 230, 232, \!:i:i. '237.—
Morre em Alvor. 36, 37, 112, 308.
— Casa onde morreu. 112, 368. —
Morreu envenenado, |0|, [02, 103,
lo'.. 221, 222, '.'•.'::. 224, 231.—
Abre-se o testamento. 308. — Ver-
bas delle. ih. ih;. IV.). 153, 303,
308, 300. 310. — Nomeia testa-
menteiro e conselho testamentario,
300. — Quitação de certos dinhei-
ros deixados em legados, 310. —
Seus detractores. 107. 132, 278.—?
Seu caracter, 141. 142, 143. VOO.
'270. — Sua politica. 106, 270,271,
301. — A ella sacrifica a amante,
107. — A sua obra politica come-
çada a destruir por D. Manuel.
1 13. 31;!. — A sua memoria desres-
peitada por elle e pela Rainha,
llõ. — Notáveis palavras de lou-
vor usadas por I>. Manuel a seu
respeito, 154, 155. — Festas e usos
da sua corte. I 'i I . I 12, 282 a
•280. 293, 297 a 301.— Pe?soas da
sua Confiança: os Almeidas, Con-
des de Abrantes. 107; Pêro da
Alcáçova. '203. 295; António Car-
neiro, '203. 204; Garcia de Resen-
de. 33, 35, 36, 37 ; o Camareiro
Antão de Faria. 254, '278. 279,
281, 293,296, 370; doações que lhe
fez. '271. 272, 280, '281, 282 ; era
o tesoureiro do seu bolsinho, 282,
296 ; varias cartas de quitação que
iNPicr \i i \i;i-:ti<:<>
303
este recebe, 179, 311, 312. — Foi
cavaleiro da Jarreteira, 176. —
Decreta alterações nas armas reaee,
124, 177. 178. Sen dictado, 183.
— Seu selo real. 202, 210, 211.
Sua empresa, 177, 211. — Sua
( 'hancelaria muito mutilada, 109,
110. — Variadíssimos objectos que
entravara no seu tesouro, 28a a
293. — Mobília de uma casa fidal-
ga no seu reinado, 3G6, -!G7. —
Sua descendência, 145 a l.*>7. —
Põe casa ao filho bastardo, I 52
Doações que lhe faz em testamen-
to no qual o deixa muito recomen-
dado a D. M/nnuel, 153. — Seus
únicos actuaes desceu lentes por li-
nha varonil, 156. — E' sepultado na
Batalha, 131. — Auto da traslada-
ção dos seus restos para a capella
da Piedade. 180. — Projecta-se a
trasladação para a capella do Fun-
dador, 139, 140. — Abre-se o cai-
xão, 169. — Sua múmia, [69, 170.
171 , 174. — O seu despojo encerrado
numa simples caixa, 171. — E' le-
vado para a sacristia. 17'.!. — Pes-
soas que o transportam, I7"í. —
Pessoas que pegam ás liorlas na
solene trasladação, 17".!. — Frontal
da sua nova sepultura na capella
do Fundador. 177. — Algumas pes-
soas que o serviram: anadel moí-
dos besteiros da camará. Vide
Macro, Uni Gil, e Portocarreiro,
Francisco : anadel mor dos bestei-
ros de cavalo, Mello. Jorje ; apo-
sentador mor. Henrique/. D. Hen-
rique : camareiro. Faria. Antão ;
camareiro mor, Silva. Aires; can-
tor. Porto. .João ; capitão mor dos
ginetes. Mascarenhas, Fernão Mar-
tinz: cevadeiro mor, Faria. An-
tão ; chanceler mor interino, Lu-
cena, Diogo ; cirurjião e físico mor,
Fernando, Mestre, e Lucena. Dr.
Mestre; comprador. Porto, João:
confessor, Povoa. Fr. .loão; do seu
conselho, 241, 281; contador da
casa, '241 ; copeiro mor. Lima,
Fernão; copeiro pequeno, Sequei-
ra, Estevão ; cronista, Martin/..
Antão, e Pina. Uui ; escrivão da
camará, Carneiro, António : escri-
vão ila fazenda, Alcáçova. Fero, e
Porto, .loão ; estribeiro mor. Ca-
nha, Álvaro ; guarda-roupa, Faria.
Antão ; mantieiro, Faria, Louren-
ço', moço da escrevaninha, Resen-
de, Garcia, e Saúde. Uni; monteíro,
mor, Almeida. I>. Diogo; mordomo
mor, Meneses. D. João. e Noronha.
1>. Fedro; pajem, Castro, I». .Jor-
je e Meneses. 1>. Jorje ; provedor
mor da rend i jão doa cal ivos, l i -' ;
recebedor do tesouro, Magro, Rui
Gil; secretario, Oarcên, Afonso
tesoureiro do hol8Ínho, Paria. An-
tão : acbão, Parla, João; \ 'dor da
fazenda, Almeida. D, João, Cm-
telbrnneo, D. Martinho, e (astro.
I». Álvaro. —Vide Joio, I)., 1'rin-
cipe.
Joio iii. D., liei de Portugal, 132,
228, 230, 233, 234, 235. Herda
de sua tia a Rainha D. Leonor os
seus paços de S. Bartolomeu, 350.
— Mercês feitas a Garcia de Re-
sende, iO, 12, 44, i'., 50. — Seu
alferes mor. riilr Meneses. I>. João:
camareiro mor, Castelbranco,
1». Francisco; cirurjião e físico
mor. Gil, Mestre ; escrivão da fa-
zenda. Resende, Garcia; guarda
mor. Silveira. Luis; secretario.
Carneiro, António ; tesoureiro mor.
Alvarez. Fernando. — Vide Joio,
D.. Príncipe.
.loão. Mestre, vários, nenhum porem
físico nem cirurjião da Rainha
D. Leonor. 227, 229, 244 a 250.
Jóias, dizima das que entravam
nas alfandegas do reino. 1U8. —
Varias. 108, 109, L!4.
Jorje. D., filho bastardo de 1). Joãoll.
99, 145, 117. .lis. — Seu nasci-
mento. 148, 149, 163, 164.— -Sua
mãe. ri/lf Mendoça. 1). Ana.
E criado em Aveiro. 151. 152.—
Entrada na corte, 152. — Pomo da
discórdia conjugal de sen pai, 99.
— Sai da corte. 152, 167. — Mes-
tre da Ordem de Santiago, 150,
151, 152. — Seu pai pretende no-
mear nelle a coroa. 101, 100, 110.
152.- — Doações que lhe fez o pai
em seu testamento. 152, 153.—
Nem todas confirmadas por D. Ma-
noel, lõ.i. — Doação da casa e do
titulo de duque de Coimbra,
154, lõõ. — Duque de Coim-
bra, l'i'v. 150. — Doação do se-
nhorio de Aveiro. '„").'!. — Seu ca-
samento. 155. — Seus amores de-
pois de viuvo. 156. — Sua morte
e sepultura. 156. — Sua descen-
dência, 156. — Seu aio. 152. — Seu
amo. 152. — Um escudeiro da sua
casa. 87, 89. — Mocos fidalgos seus.
284.
394
índice alfabético
Jorje, Helena, mulher de Sebastião
.!.■ Macedo, 91.
José, D., Kei de Portugal, 98.
Josepe, Mestre, astrólogo judeu, 299.
Judenga, Sisa, de Lisboa, 113. —
Genesim e sisa de Mertola, Ouri-
que, Santiago, Sines, q. v.
Judeus, sua expulsão, 31. — Atrai-
çoados pelo seu enviado em Roma,
23 \ . — Astrólogos, 299. — Caste-
lhano, 236 — Mercadores em Lis-
boa. 200, 207. — Lendas o direitos
do serviço real e genesim que
pagavam em Lisboa, 1 li).
Judiaria de Faro, 127. — De Moura.
297. — Das terras da Rainha I>. Leo-
nor. 119.
Jnje, ]>. Helena, mulher de Sebas-
tião de Macedo. !)I .
Júlio II. papa, 331.
Jusarte, Gaspar, delator do Duque
de Bragança, 271, 273, 296.
Jusarte, Pêro, delator do Duque de
Bragança, 273, 274.
Lagoa, termo de Silves, cirurjião
lá morador. 2'i7.
Lagos, assassinío lá cometido. 244.
— < »s direitos reaes da vila e do
castello pertenciam á Rainha
D. Leonor. 1 17. 125.
Lamegal, Senhores do couto de. 184,
190, 195, 199, 209, 210.
Lamego. Escrivão do almoxarifado.
75. — luiz dos órfãos. 7(3. — Pes-
soas lá nascidas ou moradores.
70. Tf».
Lancastre, apelido, primeira pessoa
que o usou. 156. — liamos da fa-
mília. 1Õ(J.
Lancastre, Duque de. 196.
Lancastre, D. Filipa de, Rainha de
Portugal. 196.
Lancastre, D. Helena de. comenda-
deira de Santos, I">1 .
Lancastre, I». -loáo de. I.° Duque de
Aveiro. 94, 156.
Landim, Mosteiro de. 194.
Larache, Armada de. 244.
Leam, Monseor de, 284, 285.
Leio \. papa. 38, 39.
I [enriques de, moeda. 267 .
Le Dain. Olivier, barbeiro de Luis X I.
278, 279.
Leiria, Oôrtes de, 316. — Governa-
dor civil do districto, 169, 17",
171. 172, 17'..
I. «-Mio. I). Antónia, proprietária no
século \i das casas que haviam
sido da Rainha I >. Leonor, iõl .
Leitão de Andrada, Miguel, iliscella-
mii do siiin de \. S.« da Luz do
Pedrógão Grande. Apparecimento
de ma Santa Imagem.'. Lisboa,
L629. 163. 104.
Leitão Ferreira, Francisco, Noticias
da vida de André de Resende, no
Arch. hist. port., 34, 87, 92, 94.
Leite, \ asco. 266.
Leite de Kiirin e Sonsa, Sebastião,
deputado do Santo Oficio de Évo-
ra. 314.
Leitura nova. 109.
Leonor, 1».- Rainha de Portugal, mu-
lher de D. Duarte, 261.
Leonor, D. Rainha de Portugal, mu-
lher de D. doão II, seus irmãos,
270. 277. — Contrato do seu ca-
samento. 117. 119, 120, 126.—
Recebe doações de varias vilas.
117. 118. 119. — Sente muito a in-
fidelidade do marido. 107. — Ape-
sar disso, recebe bem o bastardo,
99, 152. — Muda com a morte do
Príncipe e torna-se consorte pou-
co extremosa. 98, 1(11. 112. — Des-
avenças com o marido. 98, 99,
100, 101, 10.".. 106, 107. 108. —
Recebe delle muitas mercês. 99,
IÒ0, 108, 109, 110. 117. 118, 11!'.
— A tudo sobreleva o amor pela
sua família, 98, 99, 100. 115.—
Sustenta porfiadamente o direito
do irmão á sucessão da coroa.
1(11. 107. 110. 111,301,303.— Gra-
ve doença em Setúbal, na qual o
marido a acompanha, 108, 301. —
Recebe em Alcácer do Sal a no-
ticia da morte do marido, a .piem
abandonara na doença. 1 12. —
Complice talvez no seu enve-
nenamento. 101. 225, 2:37. — Tem-
lhe ódio. 131. — Desrespeita a
sua memoria, 11.".. — Funda a
casa dos banhos e o hospital
das Caldas. 99, 121, 122. — Edi-
fica a igreja. 122, 123, .l^L —
Dota o hospital com dinheiros da-
dos por D. Manuel. 120, 121, 124,
125, 126. — É falsa a lenda das
jóias empenhadas para dotar o
hospital. 120. — Dá-lhe compro-
misso, 131. — Sua parte na insti-
tuição da irmandade da Miseri-
córdia. 07. 98. — Valor da lejitima
que herdou do filho, 11!», 120.—
Confirpia-lhe D. Manuel todos os
bens e rendas da coroa. 113, 114,
1 10. — Doa-lbe umas casas a Santo
Lloi. 1 13, 353. nutras doações que
lhe faz, 113, 12(1. 120, 130. — Exa-
índice alfabético
395
jero destas confirmações e doaçi " is,
1 13, 1 19. — Domina o irmão. ;ii ,
115. — Faz • - * > 1 1 1 elle contas, 117.
I 19, 120 121, 125. -Carta sua a
IV Manuel, ameaçando-o com de-
mandas se não lhe satisfaz certas
rendas, 127, 128, L29.- Sua cu-
bica e avidez, 108, 1 15, 121, 130.
- Sua caridade, 1 20, 130. Seu
amor ás letras e bellas artes. Ml.
132. — Suas armas. 123. — Sua
morte, 130. Sepultada na Madre
de Deus, 130, 131.— Verbas do
sen testamento, 130, 131,349,353,
354, 355, 358. Dinheiros da suahe-
rança, 133, I34„135 137. — Alguns
dos seus l>ens moveis, 130, 133, 134,
I;!."). — Pecas da sua ucharia, 135.
— Do seu oratório. 130. — Outras
legadas ao mosteiro da Madre de
Deus, 13G-137. — O despacho dos
seus legados pios cometido á Mesa
da Conbiencia, 137. — Tesourei-
ro do dinheiro para elles aplica-
do. 138. — Importada da sua do-
tação. 128, 129. — Hendas e direitos
que lograva: assentamento. 100,
113, 117, 118, 119, 120, 125; dote,
117, 118, 119, 120, 125, 126; arras.
100, 110, 117. 118, II!!, 126; dí-
zimos das jóias que entravam pe-
las alfandegas do reino. 108. 113;
sisa judenga de Lisboa. 113, 119;
padroado de três igrejas em Lis-
boa e duas em Santarém. 114;
armações de atum no Algarve, 134,
138; drogas na Casa da índia. 133.
— Terras que possuiu: Aldeia
Galega da Merceana, 113, 118;
Aldeia Gavinha, 113, 118; Alem-
quer, 113, 118; Alvaiázere. 118;
Azambuja, II'.); Cascaes, II'.);
Castanheira, 11'.); Faro, 113; La-
ííos. 117. 125; Óbidos, 01). I 13,
I 17, 1 IN. L20; Silves. 113; Sintra,
I 13, 117, 118. 120; Torres Novas.
118; Torres Vedras. 117. 118, 120;
Vila Franca de Xira, 119. — Pri-
vilejios nas jurisdições das suas
terras, 109, 113. — Seus paços em
Lisboa, 113, 324, 325, 336, 343,
350 a .'i57. — Casas de redor delles
30, 349,354,
por ella compradas, 130, 349,354,
355, :;58, 359.— Herda D. doáo III,
os paços, 356. — Algumas pessoas
que a serviram: almoxarifes de
Alemquer, Faro, Silves e Sintra,
134; capellão, 137; cirurjião, 227,
228, 229, '24S; confessor, 98 ; con-
tador, 128; escrivão da fazenda,
137 : escrivão do reposte, I I
moler, 1 3 i ; guarda do oratório
I :t(i ; tísico suposto, V'.'."p, 2 .' i
guarda reposte, 1 37 ; guardt
[ki , I 17 ; homem da copa, 137 ;
mantieiro, Li7 : tesoureiro
135, 137 ; uchão, 135, MT.
Levante, Cofres de. 367, — Prata,
292.- Tapizes, 292.
I.ião, Duarte Nunez do. Primeira
parte das Chronicas dos Reis de
Portugal. . . Lisboa, 1600, 252,—
Livro das extravagantes, que atte
d tempo presente ha mi casa da
Suplicação, Ho i/nnl se lançou mi
Torre do Tombo Ao anno <<<> senhor
de \llil,.\\l... cod. da Torre do
Tombo. 294.
Lille (lila), Pano de. _>,s;;, 288, 191
Lima, D. Álvaro de, monteiro mor
de D. Manuel, '.'NU.
Lima, Diogo l.opez de, 103; moco
fidalgo, 284.
Lima, Fernão de, copeiro mór de
D. .João II, 102, In.!, 104,223, 224,
263.
Lima, D. João de, monteiro mor de
D. Manuel, 280.
Ltma, Lionel de, moço fidalgo, 184.
Lima. 1). Lionel de, 1.° Visconde de
Vila Nova da Cerveira, 117. 198.
Lima. 1). Maria de, mulher de Vasco
Fernandez Coutinho, 147.
Lisboa: Cerco da cidade, 251. — Ca-
samento celebrado nos paços do
Duque de Bragança, 369. — Defeza
da cidade e do seu porto, .'i7. 302.
— Diplomas de lá datados. 7õ. 86,
Liô, 136, 137, 138, 185, 192, 238,
239, 240, 243, 244, 245, 246, 247,
248, 249, 250, 258, 260, 265, 272,
281, 283, 284, 288, 293, 295, 306,
:(07, .110, 312, 315, 356.— Institui-
ção da irmandade da Misericór-
dia, 97, 08. • — Livro lá impresso,
78. — Novas de lá enviadas para
Aragão, 25. — Parte de lá Afon-
so V para França, 162. — Pátria
de D. João II. 259. — Peste, 7'.),
90. — Planta da cidade, 325. — Ke-
cheio de uma casa fidalga nos fins
do século xv, .'ilifj, 367. — Residên-
cia temporária de 1». Afonso V,
.", : de D. .loão II, 109; de D. Ma-
nuel, ;í7, 313. — Toml.o dacidade
feito em 1771. 325-326.
Lisboa : alcaide mor. 329, --Almoxa-
rife da alfandega, 133; dosfornos
da porta da Cruz, 89. — Areei is-
po, vide Costa, D. -lorje: Costa,
300
índice alfabético
l). Martinho; Noronha, 1). Pedro;
fasconcellos e de Meneses, 1). Fer-
nando. ■ - Barbeiro, 238. — Bar-
queiro, '238. — Bispo, vide Jardo,
D. Domingos. — Borzeguieiro,240.
— Gamara Municipal. 341. — Ci-
dadão, 327. — Cónego da Sé, 245,
•„'.'>ii, 324, ■')•!.'. — Correjedor fio
crime do Bairro Alto, .'540. — Cou-
del, 238. — Director da Bibliote-
ca Nacional, 214. — Escrivão da
sisa il<>s panos e herdades, 22G,
239. — Inspecção das obras de re-
edificação <la cidade, .'i.'i7, 340. —
Irmandade dos sapateiros, 323,328,
34 I . — Mercadores judeus, '207. —
Moradores, 239, 245, 246, 248, 250,
255. - Morgado de S. Lourenço,
184. —Padres da congregação do
I Iratorio de S. Filipe Neri, 337,
340; da 'Trindade, 98. — Porteiro
. sacador do Estudo, 238, 240. —
Provedor das rendas reaes, 238.
Provedor mor e juiz dos hospitaes,
albergarias, capellas e confrarias,
Í56. — Recebedor dos escravos
que vinham de Guiné, 226, 242,
243, 244. — Sobre juiz, 239. — Ta-
belião, 92. — Tesoureiro da ren-
dição dos cativos, 242.
Lisboa: foros pagos ao Alniazem,
07, 323, 326, 33Õ. — Pensões pa-
gas pelos capitães e escrivães dos
navios armados para Àrguim,
ilhas de San Tomé e Santiago,
Malagueta, rios e toda Guine, 42 ;
/'í/em dos armados para a Mina
13. -PrivilejioB de fidalgo para
a cidade, 255. — Recebedoria da
meia dizima, meia sisa e direitos
das sedas de Castella, 234. — Ren-
das da cidade aplicadas ao paga-
mento do assentamento da Rainha
D. Leonor, 117. — Lendas e di-
reitos do serviço real e genesim
dos .ludeiis, 119. — Sisa judenga,
113.
Lisboa: adro de S. Bartolomeu, 352,
353, 354, 357, 364. — Albergaria
de Paio Delgado, 361, 362. ■— Al-
mazem, 320; vide Casa do Arma-
zém. — ■ Arco do Mira, 337, 342.
Armazéns e tercenas do reino. 00.
— -Arquivo da (amara Municipal.
344. — Bairro do Castello, 337.
Biblioteca Nacional, 85, 92, L94,
Íl4, 363. — Calçada para os paços
da Alcáçova, 323, 324, 325, 326,
333, :::;:», 341, 365. — Calçada de
1 rispim, 323 . — Cartório do
hospital de S. .los.'-, 363. — I 'asas :
na Alcáçova, 320, 344 ; de D. Al-
var., de Ataíde, 365 ; de Antão .1,
faria, á porta da Alfôfa, 258, 259,
307, 313, 314, 321, 322, 323, 324,
325, 326, 330, 332 a 340,343, 348,
358, 359, 369; do mesmo, á porta
da Cruz, 32Ó; do Armazém, 66,
07; do Aver do Peso, 113; do
Caiado, cónego da Sé, 324, 332;
do ('onde de Penamacor, 322, 335 :
da I ondessa de Penamacor, 323,
325, 334, 335, 342, 345; de Dinis
Eanes, clérigo, 324, 326; do Du-
que de Cadaval, á porta da Alfô-
fa, 3.'i0. 342; dos Fonsecas, a
S. Bartolomeu, 343,344,349,350,
354, 355, 358 ; á fonte dos Cava-
los, 319. 320; d.e Francisco de Ma-
tos, 343; de Garcia de Resende,
66: d.- <;il Vicente, 325, 354,355,
358, 359 : ao hospital dos Meninos.
256; de Jerusalém, 349, 354, 355,
3ÕK ; de João .las Regras, aparde
Santa Marinha. 363; de Lourenço
de Faria, 258, 259, 318, 327, 328,
335; de D. Mecia da Cunha, 258,
259, 327, 328; de Pêro da Alcá-
çova, 323, 334, 342,343,345,348;
da Rainha 1). Leonor, a Santo Eloi,
113, 130, 324, 325, 336, 343, 349,
:t.->0 a 357, 358, 359; no Rocio,
junto aos Estaus, 255; na rua do
Lagar do Cebo, 60; a Santa Ca-
terina, 330; casas da Sé, 322, 327,
328, 330, 334, 335; do Secretario
António Carneiro, 324,325,345;
da Tanoaria. 244. — Castello, 342,
344. — Cerca moira, ou velha, ou
muro \elho, 258, 323, 326, 327,
330, 333, 334. — Chafariz de Den-
tro, 320. — Cisterna misteriosa.
333, 334. — Convento do Espirito
Santo. 337, 340 ; dos Franciscanos
de Xabregas, 294; dos Lóios, vide
Santo Eloi; a San João de Xa-
bregas, 139; de Santa Maria da
Graça, 318, 321; de Santo Eloi,
113, 324, 325, 336, 337, 338, 350.
351, 352, 353, 354, 358, 359, 360.
Cruz da porta da Alfafa, 348.
— Edifício de Santos doado á I tr-
ilem de Santiago, 13. — Ermida
de S. Crispim. 323, 328, 3.!:í. 336,
342. — Escadinhas de S. Crispim,
3-23, 324, 340. — Estrebaria das
a/cnalas. 320. — Estudo, 328, 340
— Fonte dos Cavalos, .32(1. — Fre-
guesia de S. Bartolomeu, 325, 337,
352, 36Q, 361, 363; de Santa Jus-
[NDIC1 ALFABÉTICO
397
ta, 250. 363; do Sé, 258, .lis. 327.
— Hospital dos Meninos, 256; de
San Mateus. 3C0, 3G2; de San Vi-
cente dos Romeiros, 256; de San-
ta Barbara, 362; de Santo Eutro-
pio, 325, 352, 353, 359 a 363. —
Igreja <la Madalena, 114, 32G ; de
s. Bartolomeu, 349, 350, 351, 359,
360, 364; de s. Domingos, 152;
de S. Martinho, 114; de S. Nico-
lau, 114, 303. — Largo dos Lóios,
323, 352, 357, 359; de S. Barto-
lomeu, 34o. — Misericórdia, 97.
— Moeda, 66. — Moinho abaixo
das casas de Valverde, 35, iO. —
Monturo ás portas lia Alfòfa, 347.
— Mosteiro da Madre de Deus,
97, 130, 137; de Santa «Iara. 318,
327; de Santos, 149, 150, 151, 167.
— Paços da Alcáçova, 323, 325,
335; da Rainha I>. Leonor, vide
vasas ; de Santos. 24. — Palácios
em 1566, 336; do Cardeal Infante
1). Afonso, 330: do Cardeal In-
fante D. Henrique, 336; do Conde
de Tentúgal, 336; do Contador
mor. 336, 343; de D. Garcia de
Noronha, 336. — Palheiro dei Rèi,
320. — Pateo do Lancastr.e, 339.
— Poço do Borratem, 256, 352,
363. — Porta da Alfòfa, 258, 313,
323, 333, 334, 335, 336, 337, 340,
342, 343, 344, 345, 346, 347, 348.
350, 351, 353, 354, 355, 357; do
Castello, 333: da Cruz. 89, 320;
do Ferro. 323. 335; da Judiaria,
66; de San Jorje. 344: de San Vi-
cente. '250 : de Santa Cruz, 320. —
Prisão. 239. — Recanto de S. Bar-
tolomeu. 350, 304. — Pua da Amar-
gura, 343, 34!). 350, 352. :'^-\. 354,
355, 350, 357, 359; do Arco do
Mira, 324, 337. 340, ■^■U do Arco
da porta da Alfòfa, 323; dos Có-
negos. 327; defronte de S. Rarto-
lomeu, 351, 352, 353: de Jerusa-
lém, 330, 337, 350, 351, 352. AÕ.',,
354, 355, 350, 357, 358, 350; do
Lagar do Cebo, 00: do Milagre
de Santo António, 323. 348; nova
do Almada. 337. 340; das Portas
da Alfòfa, 325, 348, 357: que vai
das portas da Alfòfa, para a rua
dos Cónegos, 337; de San Barto-
lomeu, 348, 357; de San Crispim,
334; da Saudade, 324, 340, 357;
da Tanoaria, 00. — Seminário de
S. Patrício, 333, 336. 305. — Ta-
noaria. 66. — Termo, vide Olivaes.
— Torre cie 1). João de Abranches,
>58, 324, 326, 327, 328, 332, 333,
I34i 141 l i.i\ essa que \ ai para
Santo Eloi, 337. - Jíal i
Lisboa, VIestri João de, cu
246
Luto fio Arm&iro mor, códice ilumi-
nado descrito no liv. I dos Brasões
de Cintra, paj. xv e segs., 17n.
Livro das cape lias do Espinheiro
ms. da Biblioteca Publica de K fo-
ra, 60, 62.
l.irro da nobreza perfeiçam das ar-
mas dos Reis christãos <■ nobres li-
nhaoes dos reinos e senhorios de
Portugal, coordenado e iluminado
por Lntonio ( fodinho, códice e\ is-
tente na Torre do Tombo, 17n.
Livro vermelho, Trellado do, do tem-
po Del Rey Dom Afonso o Quinto...
no III vol. dos Inéditos de histo-
ria portugueza, 182, 183.
Lobo. António, fidalgo da casa
dei Rei, 89.
Lobo, 1>. Diogo, 2." liarão de
to, vedor da fazenda, poeta do
Cancioneiro, 189.
Lobo, Duarte, morador na Vila Nova,
51.
Lobo. 1). Filipe, neto do 1." Marão
de Alvito, 50, 51.
Lobo. D. João, genro de D. Rodrigo
de Castro, 24.
Lobo. 1). Rodrigo, 3.° Barão de Al-
vito, 50-51.
Lobo de Ávila, Artur, Amores do
Príncipe Perfeito, romance histó-
rico começado a publicar no Diá-
rio de noticias, em dezembro de
1901. — Critica ao romance. 183,
186, 202,21)4 a 212.— Cartas do seu
autor publicadas no Jornal do
Commercio, 200, 201, 203,
Londres, Calcas de. 289. — Escarla-
ta, 283. — Pano. 134, 284, 291,
292.
Lopez, Fernão, cronista. 30 31, 32.
Lopez, Fernão, Chronica do Senh •■■
liei l>. Fernando, nono Hei de Por-
tugal, publicada no 1Y vol. dos
Inéditos de historia portuguesa,
252, 253.
Lopez. Pêro. tesoureiro da Casa da
Índia, 133.
Loulé, Condado de, 7.
Loulé. Conde de. vide Meneses,
I). Henrique.
Loulé. Condessa «le. ride (.iiiumar. ].).
Loulé, Duque de, 211.
Lourenço. Estevão, almoxarife em
Faro, 134.
3QS
índice alfabético
Lourenço, Fernão, tesoureiro de Qui-
ne, 312.
Lourenço, João, proprietário em Lis-
boa, 326, 327.
Lousã, Doação do senhorio da, 152.
Lousft, Condes da, 156, 157.
Lousada, Gaspar Alvarez de. Sumá-
rios ihi Torre da Tombo. ins. em
.; vol. na Bib. Nac. de Lisboa, 89,
194, 265, 329, 350, 364.
Lucena, Dr. Mestre António de, fí-
sico e cirurjião*mor de D. João II,
247; de D. Manuel, 247, 248,
249.
Lucena, Diogo de, chanceler mor
interino de D. João II, 242.
Lucena, Diogo de, íisico de D. Ma-
nuel, 249.
Lucena, Dr. Nasço Fernandez de,
cronista mor e guarda mor da
Torre do lombo, 288.
i.uis. D., Arcebispo de Braga, 266.
Luia XI. liei de França, 278.
I.uis XIV. liei de França, 142.
Luis I. D., Lei de Portugal, 208.
Lumiar, Quartos do, 247,
1. umiares, .Senhores do couto de,
184, 190, L95, 199, 209, 210.
Lyon, d'Angers, Senhor du, 285, 288.
Macedo. Sebastião tle, camareiro c
guarda-roupa do Cardeal Infante
1). Henrique, Hl .
Machado, João, escrivão dos legados
pios da Rainha D. Leonor, 355.
Madeira, Mestre Afonso, tísico mor
de D. Afonso V, 245. Vide Afonso.
Mestre.
Madureira, Álvaro de, morador em
Évora, 51.
Magalhães, Fernão de, uma das naus
da sua armada arriba ás Molucas,
i / .
Magro, Rui Gil, anadel mor dos bes-
teiros da camará, 274; recebedor
• bi tesouro de D. João II, 284, 285,
287, 289 ; carta de quitarão, 289 a
293.
Malagueta, pensões pagas pelos ca-
pitães c escrivães dos navios que
para lã se armavam cm Lisboa,
OU cm certas ilhas, 42.
Malhorca, arriba lã a nau da embai-
xada de 1). Manuel a Leão X, 39.
Mamora, Armada da, 244.
Hancata, Eujenia, mulher de Bar-
nabé de Resende, 94.
Mantearia, Peças da, 254, 266.
Manteeiro de I'. João II, vide Faria.
Lourençi i.
Manuel, D., Duque de Beja, 22. —
Seus irmãos, 276,277. — Sua irmã
a Rainha D. Leonor defende o
seu direito ao trono, 101, 107.
Ill), 111. — E1 nomeado por
D. .loão II sucessor da coroa e seu
testamenteiro, 111, :!()!, :S0!>. —
— Recebe em Alcácer do Sal a
noticia da sua morte, 112. — Oom-
plice no envenenamento de
D. doão II, 225, 237. — Suas armas,
178; postas no fecho da abobada
da igreja do hospital das Cabias,
123, 124. — Seu aio, 23. — Seu es-
tribe iro mor, 146. — Vide Manual, D.,
Rei de Portugal.
Manuel, D., Infante, vide Beja, Du-
que.
Manuel, D., Rei de Portugal, 53,31,
75, 100, 132, 166, 192, 198, 207.
281. — É aclamado em Alcácer
do Sal, 1 13. — Passa a Montemor o
Novo onde logo começa a destruir
a obra de D. doão 11," 113, 313.
Segue politica diversa da delle.
331, 332. — Prove em criados seus
alguns dos ofícios mores do reino.
103. — Dominado pela mãe e irmã
D. Leonor, 31, 115. — Restitue as
casas aos liraganças contra a ex-
pressa determinação de D. João 11,
31, 153, 272. — Ilegal e extraordi-
nária liberalidade, 114, 115,275. —
Enerjicamente verberada por Da-
mião de <íoes, 114, 115, 116. —
Desfalque por ella trazida ãs ren-
das do reino, 31, 116, 117. — Res-
titue ao reino e aos bens a D. Ál-
varo de Ataíde, outro conspira-
dor, 153, 275, 270. — Censura-o
pelo acto o Cardeal D. Fr. Fran-
cisco de S. Luis, 153, 154. — Re-
sultado extraordinário desta res-
tituição, 270. — Em contradição
com estes factos, usa de benigni-
dade com os delatores das cons-
pirações, 272, 273, 274, 275, 270.
— Causa possivel do seu reconhe-
cimento a elles, 276. — Premian-
do-08, reconhece haverem sido
verdadeiras as delações, 275.—
Notáveis palavras dalguns seus do-
cumentos em louvorde D. João II.
154, 155. — Deixa-lhe este o filho
bastardo muito recomendado, elle
porem não satisfaz, todas as re-
comendações, 153, 154. — Mas con-
tinua integralmente a tença doada
a sua mãe, 149. — Seu primeiro
casamento, 145. — Vai aos jura-
mentos de Castella, 25, .17, 145,
índice alfabético
399
186. — Embaixador que tratou do
seu segundo casamento, 35, 34.
Confirma todaa as doações de sua
irmã a Rainha l>. 1 <•< •, 1 13,
114, — Doa-lhe amas casas em Lis-
boa, 113, 353. — Outras doações e
mercês que lhe faz, 114, 129, 130.
— Exajero destas doações e confir-
mações, 113, 119, 125. — Faz con-
tas com dia. 119, 120, 121.— Das
quaes resulta dar-lhe <> dinheiro
com que cila dota o hospital 'las
Caldas, 125, 126. — Apesar de tudo
é ]mr cila ameaçado com deman-
das, 127, 128, 129. — Confirmações
a Lntão de Faria, 272. — Mani-
festa-Ihe reconhecimento, talvez
por cllc ter contribuído para su-
ceder na coroa, 272, 304, 305, 306,
J07. — Premeia o suposto envene-
nador de D. João 11, 229, 236,
237. — Premeia a pessoa que ha-
via criado seu sobrinho, '257. —
Doa a ilha do Príncipe a António
I arneiro, 295. — Manda construir a
torre de Belém, .'57, 302. — Manda
fazer o livro das armas da Torre
do Tombo, 178. — Envia uma em-
baixada a Leão X, 38, 39. — Não
se lhe conhece amante, 168. —
Suposta filha sua natural, 168. —
Seu caracter precisa mais estuda-
do, '277. — No seu reinado começa
a declinação de Portugal, 132. —
Algumas pessoas que o serviram:
alferes mor, vide Meneses, D. João;
anadel mor dos besteiros da ca-
mará, Mairro. Rui Gil; armador
mor, Costa, Álvaro; camareiro,
Costa, Álvaro; cantor, Porto, João;
capellão, Fernandez, Álvaro ; chan-
celer mor, Hoto. Rui ; cirurjião,
231, 232, "2.57 ; cirurjião mor, Fa-
ria, Diogo; (íil, Mestre; e oiitro
Gil, Mestre ; do seu conselho, 195,
L99, 208, 209, 210, 243, 27;;, 274,
276, 305, 310, 312, 321 ; copeiro
mór, lírito, Lourenço; esmoler,
Francisco. D.; tísico, 229, 231, 232,
237 ; tísico mor Afonso. Mestre,
Lucena, Dr. mestre António : guar-
da-roupa, Correia. Fernão Lopez;
mestre sala, Abranches. D. Álvaro;
monteiro mor, Lima, D. Álvaro, e
]). João; mordomo mor, Meneses.
D. João; secretario, Carneiro. An-
tónio, e Garcês, Jorje; vedor da
fazenda, Lobo, D. Diogo.
Manuel. D. Henrique, (onde de Seia,
251.
.Manuel. I> Maria, por quem se apai-
xona <> velho I luque de < 'oimora,
156.
Manuel i Vasconcellos, l>. Áugustin,
Vida de don Duarte de Meneses,
tercero Conde de Viana, y sucessos
notable* de Portugal en su tiempo
Lisboa, I(i27. í. — Vida y acciones
dei Hcij don .hum el Segundo,
Decimotercío de Portugal... Ma-
drid, 1639. 165 303, 304, 306.
Hardel, Júlio, vogal da Comissão
dos Monumentos Nacionaes, 172,
174
Harecos, João de, recebedor das si-
sas de Tomar, 249.
Hargallio Geraldo, Dr. Pedro, insti-
tuidor de um morgado em Evo-
ra, li(), 65, lili.
Hartralhos, Os, de Évora, tinham
lama de cristãos novos, (il), til.
Marialva. Conde de, 1.", 74, 147;
2", nide Coutinho, 1». Gonçalo.
Marialva, Condessa de. vide Sousa,
D. Maria.
Marichal do reino, .'!.">.'!.
Nariz, Pedro de, historiador, 17.
Marquesado, o único existente nos
fins do século sv, 189.
Marramaque, O, 181 a 212. — Vide
Pereira, João Rodriguez.
Marramaque, derivação etimolojica
da palavra, 1'.)."), 196, 197.
Martinho. Mestre, cirurjião mor de
D. Afonso \ ', 24.
Martin/., Antão, clérigo, cronista de
1». João II, 55.
Martin/.. Estevão, mestre escola da
Sé e provedor mor e juiz dos hos-
pitaes, albergarias, etc, de Lis-
boa, 256.
Martin/.. Licenciado Jorje, clérigo,
natural de Alpedrinha, 330.
Martin/, Vasco, morador em Pena-
verde, 248.
Martins Bastos, Francisco António,
Nobiliarchia medica. Noticia dos
médicos e cirurgiões <la lirtti Ca-
mará, dos phyncos mores, e cirur-
giões mores do reino. . . . Lisboa,
1858. 225, 228, 231.
Marvão, Alcaide mor de, 240.
Mascarenhas. Fernão Martinz, capi-
tão mor dos ginetes de 1). João 11 ,
264.
Hata, Roque da, escrivão do judicia!
em Évora, 90.
Miitos. Francisco de, sua casa em
Lisboa, 343.
Mazagão, Capitão donatário de, 146,
400
ÍNDICE ALFABÉTICO
| ',7. i ristão novo de lá natu-
ral. 225.
Medicina, Carta de, 236, 247, 248.
Medico castelhano, 236.
Meenen, Pano de, 284, 285, 288,
291.
Meirinho mor do Príncipe 1>. João,
264.
Meliapor, Soldado em, 57, 58.
Mello. Garcia de, o Braseiro, 25.
Mello. Jorje di - o Lajéo, capitão do-
natário de Mazagão, anadel mor
■ los besteiros de cavalo, 146, 147,
148
Mello. D. Jorje de, oficial mor da
casa real. 170, 17'.'. 174.
Mello, Martim Afonso de. anadel
nmr dos besteiros de cavalo,
148.
Memorial das sepulturas que estão
mi convento do Espinheiro, ms.
de 1645 na Bib. Pub. de Évora,
67.
Memorias, Historia c da Academia
Real das Sciencias de Lisboa. 2.»
Serie. Tomo I, Parte I. Lisboa,
1843. Z95.
Merjcoveiro, Herdade de, 91.
Hendez, Gonçalo, 1." administrador
.].. hospital de Santo Eutropio,
360, 361.
Mendez, Lopo, feitor da Casa de
Guiné, 312.
Mendez. Lopo. mercador em Viseu.
>48.
Mendez. Rui, cristão novo, 235.
Hendoça, D. Ana de, donzella da
Excelente Senhora, • 148, 160. —
Amante de 1'. .João II, 14», 159,
211. — Em Toro começaram os
amores, 100. — Continuam duran-
te a viajem da Excelente Senhora
para Abrantes. 161. — Acompa-
nha-a nas suas peregrinações, 162.
Recomeçam os amores no Vimiei-
ro, 162. — Vai para Coimbra e lá,
ou nos bosques de Cernache, con-
cebe o filho, D. dorje, 162, 163,
104. — Duraram pouco os amores,
164, 165, 1GG, 107. — Tiram-
lhe o tílho e sai do serviço da
Excelente Senhora, 167.— Ficou em
Abrantes, onde o filho nascera, ou
foi recolhida para o convento de
Santos, 167. — Talvez já lá esti-
vesse quando D. João 11 lhe fez
nercê de uma tença, 140, 165, 166,
• '. - A qual D. Manuel continua.
i ■ — I lomendadeira de Santos,
[51, 107. — Sua mort<
Hendoça, 1». Joana de, dona no
convento de Santos, 151.
Hendoça, D. Joana de, Duquesa de
Bragança, 1 18
Hendoça, 1». Leonor de, Duquesa
de Bragança, '^77.
Hendonça e Faria, Inocêncio dose de,
sarjento mor de cavalaria na praça,
de Elvas, 61 , 65.
Meneses, I >. Afonso de, filho e suces-
sor do (onde de. 1'enella, .'V28, 341.
Meneses, D. Beatriz de, '2 a Condessa
de Vila Ural, 0.
Meneses. D. Beatriz de, mulher de
Aires Gomez da Silva,'.). — Aia da
Bainha D. Isabel e do Príncipe
D. João seu filho, 259, 260.
Meneses, D. Duarte de, Conde de
\ iana, capitão de Alcácer, alfe-
res mor de D. Afonso V, 1, 2,
255. — Seus serviços em Africa.
5, 6, 7. — Sua morte, 3, 4. — Seu
tumulo, 9, 10. — Seus pais, 10.—
Sua mulher, 10, 1 1 . — Seus filhos,
8, 11.
Meneses, D. Fernando de, degolado
em Setúbal, 8, 11.
Meneses. D. Fernando de, 2.° Mar-
quês de Vila Real, 116, 189.
Meneses. D. Carcia de, Bispo de
Évora, 8, 11. 35, 162.
Meneses. D. 'íuiomar de, donzella
do paço, 25.
Meneses. D. Guiomar de, donzella do
paço, filha de Duarte Galvão, 24,
25.
Meneses, D. Henrique de, Conde de
Viana, depois de Valença e por
ultimo de Loulé, capitão de Al-
cácer e de Arzila, alferes mor de
D. Afonso V, 4, 6, 7, 11, '-'70.
Meneses. D. -loana Micaela de, com-
pra umas casas em Lisboa, .'i-17.
Meneses. D. doão de, camareiro mor
do Príncipe D. João, 244.
Meneses. D. doáo de, Conde de Ta-
rouca, capitão de Arzila e de Tan-
jer, governador da casa do Prin-
cipe D. Afonso, mordomo mor
de I». -loão II e 1). Manuel, Prior
do Crato, alferes mor, 8, 11, 38,
39, 143..
Meneses. D. -loão de, poeta do Can-
cioneiro, 25.
Meneses, D. Joije de, capitão de
Ternate, 78.
Meneses. D. dorje de, pajem de
D. João II, 283.
Meneses. D. Juliana de, mulher de
Brás Pereira de Miranda, 339.
ÍNDICE Al I ABI IKii
101
■eiiegeN, D. Leonor tle, mulher de
1). Fernando, depois 3." I >uque
de liraganra, í).
Meneses, D. Pedro de, I.1 Conde de
Vila Real e 2." de \ iana, :'. 10.
Meneses. I Is, de i antanhede, 9. Os
dos Condes de \ iana, 9.
Menim, vide M< ener .
Mertola, doada á < Irdem de San-
i iago, I 'i . Sua sisa judenga, 272.
Mesa da Conciencia, aos seus depu-
tados foi cometido o despacho dos
legados pios da Rainha D. Leo-
nor, 137.
Messejana, cirurjião lá morador,
250. ' » ."
Mestre sala de D. Manuel, 328.
Mestre das sentenças de Pedro Lom-
bardo, códice da Torre do I ombo,
124, 178.
Hetello, Ana. mulher de Nuno da
Silveira. 31 'i .
Michaelis de Vasconcellos, D. < aro-
lina, Lticius Anãreas Resendius Lu-
sitanus, artigo no UI vol. do Arch.
hist. fiirt.. 87-88. — Poesias de
Francisco de Sá de Miranda. Edição
feita sobre cinco manuscriptos iné-
ditos... acompanhada ■ /<' um es-
tudo sobre o poeta, variantes, no-
tas,... Halle, 1885. 193, 195.
Mina. Campainhas de oiro da, 290.
— Juiz dos feitos, 305. — Oiro de
lá proveniente, 311, 312.— Pensões
pagas pelos capitães e escrivães
dos na\ ios que para lá se armavam
em Lisboa, ou ile lá para cá, 13.
— Tesoureiro da (asa. TN. 133.
Mina, Fernão Gomez da, .'lib.
Minas. Capitão general de, ; 1 'i S .
Mimis, Marqueses das, 150.
Minho, Invasão do, 251. — Senhorios
lá existentes. 1 SI», 190. — Nas ter-
ras ile certos donatários acoita-
'vam-se muitos malfeitores, 198.
Mira', /'.'' José Lopes de, Genealogia
de liesendes, ms. da Bib. Pub. de
Évora, 08, 84. -Outro eoilice na
bib. ilo Visconde <la Esperança, 88,
89, 94, 95.
Mh-amla. Aires de, alcaide mor de
Vila Viçosa, '23.
Miranda. D. Leonor de, mulher i !<•
Antão ila Fonseca. 344, -" "> 't r> .
Miranda. I). Margarida de, Condessa
de Vila Kcal, 9, 10.
Miranda do Doiro, estada lá de
D. Afonso V e do Príncipe D. João,
100.
Mitan. Pano de, 284, 291 .
Monos da camará, 33, 84, 20!l
Uguns faziam n guarda di
D. .1 II. il.
\\<« og da eacret aninha de I >. João li .
33, 34, 35, 11.
Mooos da estribeira de l>. João II.
200, 207.
Mooos fidalgos na corte de D. João II.
282, 284, 285, 280. A algm
gava-se paia estudarefti, 285.
Moedas, varias, >G7, 284, 288, 31 1.
312. - Arma- |)08tas índias em
tempo de I >. .loao II. 1 77 . 178.
Moiraria de Paro, 127, 129. — De
Moura, 297.
Moirisca, Retorta, 298.
Moirisco, Pano, 29 1 .
Moiro, < larpinteiro, 288-28'.).
Moiros. Bailos de. 298. Expulsão
delles. 31.
Molucas, ilhas. /d. — Escrivão da sua
feitoria, 77. — Feitor, 77.
Momos de mitão, 284. De prata,
290.
Monchique, Cairias de, 104. -Nellas
se trata I >. João II. III. Vai
I ). Sebastião \ è-las, I 1 2.
Moniz. I>itig(. Gil, ,''i7.
Moniz, )'ero, 247.
Monsanto, morador nesta vila, 248.
Monsanto. I ionde de, I .". 3, II. 329;
2.°, 282.
Montarroto, Afonso Femandez de,
254; tesoureiro de D. Afonso V,
200.
Monteiro, Afonso, moço da camará
de D. Sehastião, 84.
Monteiro. Monçalo, almoxarife da
Guarda, 1 1 .
Monteiro. 1 >r. Rodrigo, õl .
Monteiro mor de l>. João II. 280.
Monteiro mor de D. Manuel. 280.
Montelongo, Senhor de, L98.
Montemor. Escrivão dos órfãos de,
240.
Montemor. Marquês de, vide Jofto, D.
Montemor, Marquesa de, 347.
Montemor o Novo, Concelho de. 43.
i lôrtes, 102. Diplomas de lá da-
tados, 13, 150, 100, 241, 243, 247,
274. -Pessoas lá moradores, ",'iõ.
— Reside lá D. Manuel. 113.
Termo da \ ila. 50.
Montemor o Velho, casaes no termo,
258, 317. — Doação do senhorio.
152.— Moradores lá. 245, ,"iii.
Montês Matoso, Fr. Luis, Memorias
Sepulrhrat» que existem nos Con-
ventos e Mosteiros desta Província
dos Menores Observantes de Porlu-
26
402 INDH I Al I- MU I ico
i/nl tinidas dos próprios fv gares Nogueira, D. Violante, comendadeira
aonde agora existem... inno de de Santos, 149, 150, 167.
I7s7. Ms. iiii poder do falecido Noronha, Fr. Afonso de, frade da
conselheiro Venâncio Dcsiandes, Ordem de S. Francisco, 241.
148. Noronha, D. < ■ a i-<-i;i de, sen palácio
Montoito. Coudel de, 315. em Lisboa, 330.
Moraes, I eonor de, guarda roupa <la Noronha. I'. João de, prior de Santa
Cainha D. Leonor, 137. Cruz, poeta do Cancioneiro-, I 'iti.
tíoraes <■ Silva, intonio de, Diccio- Noronha. D. Leonor de, ' ondessa de
nano da fingua portugueza reco- Penamacor, oiti. ." í '#- "7 . — Suas casas
pilado de todos os impressos até o em Lisboa, 323, 325, 334, 335,
presente; 2.* ed. Lisboa, L813. 342, 345.
195,202,200,260,367. \i.aedição Noronha. D. Leonor de, mulher de
melhorada e muito acerescentada D. Álvaro de Ataíde, 365, 360,
pelo iics.1' Agostinho de Mendonça 3G7.
/•Ví/fí/r» . . . I isboa, 1858. 195. Noronha. Manuel de, apodado no
Mordomo mor do Príncipe D. João, Cancioneiro, 187.
vide Albergaria, Diogo Soarez; Noronha, D. Maria de, • ondessa de
Noronha. 1 1 Pedro. Faro, 243.
Mordomo mor de D. João II. vide Noronha, I). Pedro de, Arcebispo de
.Meneses. D. João. Lisboa, '!47.
Mordomo mor de D. Manuel. vide Noronha. I>. Pedro de, mordomo mor
Menezes, D. João. de D. João 11. 2G4.
Morenas. Herdade das, 63. Noronha, D. Sancho de, I " Conde
Mota. Henrique da, escrivão. 138. de Odemira, 2, í.
Mota Cortesão. Pêro da, testamen- Noudar, Recuperação de, 102.
teiro de Garcia de Resende, 50. Nnnez, Fernão, cavaleiro da casa de
Moura. Alcaidaria do castello de, D. João III. morador em Silves,
297. - Comendador, 253.-— I tirei- 7'-'. 73.
ioS da moira ri a e judiaria, 297. Nunez, Fernão, contador da Rainha
Levantamento do Alcaide mor, l>. Leonor, 128, 135, 130, 137.
102. Óbidos, diploma de lá datado. 241 .
Mousinho <le Albuquerque, Luis da — As jugadas, rendas, foros e di-
Silva, inspector geral das Obras reitos reaes da vila doados ao hos-
Publicas, 180. pitai das Caldas da líainha, 124,
Mnr/.elo. João, guarda-repostl da 1 -ti. -As rendas e direitos reaes
Rainha L>. Leonor. L17. pertenciam á Rainha D. Leonor.
Nau Gabriel pertencente a um In- 99, 113, 117. 118, 120, 128.— Xo
glês, 220, 239. seu termo estavam as Caldas, 99,
Nau Trindade, uma das tia armada MUI. 122.
de Magalhães, 77. Obras Publicas, Inspector geral das,
Savnrrete, i> Martin Fernandez de, 1 80.
Coleccion de los viages ydescubri- Odemira, Morador em. 247.
mientos, que hicieron por mar los Odemira. Conde de. I.". vide Noro-
Kspaholes . . . Tomo IV. Expedido.- nha, IX Sancho; .'! ". ride Sancho,
nes de Maluco. Viage de MagaUar- D.: 4.°, 112, .'!<>'••.
nes y de Elcano. Madrid, Is. 17. 77. Odivellas, Sepultura no convento de,
Navio S. Pantaleao, 78. 168.
Sebrixa Intonio de, Chronica de los Oiro, Peças de. 266, 267, 290, .".'I.
rfi/es Católicos, vide 1'ulgar, Her- Olanda, Pano de, 7<i, 134. 287, 291.
nando. - Objectos feitos delle 134 284,
Nicolau IV. papa. 14. 292.
Nicolau V, papa. 10. Olivaes, termo do Lisboa, -Vil. —
Nisa, Marqueses de, 302. <Juinta de Antão de Faria lá si-
Nogueira, Herdade da, '.ti. 64. tuada, 281, 307, 313, 320, 321,
Nogueira, Afonso Lanes. 184. 322. — Quinta de Lourenço de Fa-
Nou-ueira. Gomes, Boldado em Tan- ria. MS, Quinta d" Mortorio,
jer, 184 120.
Nogueira, Rui morgado de S, Lou- Oliveira, Morgado de. tis.
renvo d.- Lisboa. 184. olheira. Leonor Goncalvez de, mu-
indici \i i aiíi nco
K)3
lher de Antão de Faria, 81 >. 315
Jl!), 320, 321, 322, 168
Oliveira Martins, O Príncipe Perfei-
to, prece lido de uma inlroducção
acerca do complemento e piano ge-
ral il<i obra por Henrique de Bar-
ros Comes. I ÍRboa, 1896. 150, 210.
221, 277.
Olivença, i londe de, 27 1 .
Oratório, Peças do, da bainha I». Leo-
nor, 136.
< Irdem de Avis, < lomcndador • Ca
sal na, 253, 255 ; de Monra, 253
i loinendadores mores, 1 56.
Mestre, ride Lfonso, I».. e «Forje,
D. A cruz ttella mandada tirar
itas armas do reino. 124
< Irdein do ( larmo, Provincial da,
16.
< irdein de » iristo, < ía \ aleiro da, 38,
233, 257. Uoinenda de Valada,
282, 307. — Comendador, 74.
Historia delia, 213, 219. Mercê
do habito, 60,61. -Mestrado, 153.
Ordem da Jarreteira, Cavaleiros por-
tugueses da, 17-!. — Sen escudo de
armas, 175, 176.
Urdem de San Francisco. Frade da,
52, 241.
Ordem de San Jerónimo, vide Espi-
nheiro.
Urdem de San .João de Jerusalém,
Urdem de Santiago, seu estabeleci-
mento e desenvolvimento em Por-
tugal, 13 a 17. — Administrador
do mestrado, 18.— Cavaleiro, 356.
— Comendador mor, 14, 15. —Es-
cudo «las suas anuas. 175. 1 ivro
de seus rejistos, 13, 19. — Mestre,
riih' Afonso, 1 1. : Anes, 1 ourenço ;
Fernandes, D. João; Jorje, D.—
Os Treze, li.
< Irdem do Templo, 219.
i Irdem da Trindade, 355.
Ortiz, 1). Diogo, o Calçadilha, Bis-
po de Tanjer, 299 ; do conselho
testarrentario de 1 >. João II, 309
Ota, Casal no paul de, 255. -Merci
do paul, 345.
Ouguella, Combate singular junto a.
266. — Recuperação da praça, 264
Uurem, Cónego da colèjiada de.
243. — Satisfação pelo senhorio da
vila, 116.
Ourique, Campo de, sis;1 judenga
las vilas e togares delle, .'7'.'.
Paços de Ferreira, Senhor de, 198,
199. Seus d íreitos e remias. 198,
199.
Pm'/. Ah aro, almoxarife em Mem ■
quer, 134.
Palm, U ichnrte, iolin i em I is-
boa, 239.
ruim, Roberto
l';ii\ a, Kscrn ào 'l"~ orl íoí L44
Senhor <la vila, 185.
Pajem de D, João II, vide Castro,
1 1, Jorje ; Henesés, 1 1 J,o
Palaçano. < !ued< lha, judeu, 266.
Palma, Fernão líodriguez de, rece-
hedor do dinheiro do reino, I ■'•] .
Palmas, Prior de, no bispado de
Coimbra, 241.
Palmella, Castello de, 8. I loado &
Ordem do Santiago, 13, 14. — Al-
cai daria mor, mercê delia, 265.
Seus direitos, 301 Ucaide mor,
Hde Canha, Nuno ; Paria, Antão ;
hnr i:i. Francisco. Igreja 'I" cas-
tello. 156. - Diplomas de lá data-
dos, 243, 245, 295. Prior mor.
339. -Sisas da vila, 107. — Seu
termo, 240. Morgado instituído
em bens nelle situados, 337.
Panos e tecidos \ arios, 76, 86, 108,
109, 134, 138, 234, 266. 283, 284,
285. 287, 288, 289, 290, 291, 292.
293, 306, 167.
Parada de Bjoiro, Senhor <1 <-, 198.
Pariiz, Bernardim, arcediago do ba-
go da Sé dê I \ ora, 51 .
I':iris. Lenço de, 292. Pano Ituam.
134.- Toalhas, 292.
Pnrnlz, vide Paritz
Parteiras, do custume de serem ma-
drinhas de baptismo se derivou o
uso de lhes chamar comadres, 51
Paulo, /'.". Breve í miado, queescre-
veo o sobre a morte do Duque de
Bragança D. Fernando o Segun-
do. ■ . Impresso no III vol. das
Provas da Hisl. genealógica, 269.
277.
Paulo, I'.". confessi ir do Duqui
Bragança, 269.
Pavia, doação do senhorio, 116.
Paz. caturra do Infante D. Duarte,
233.
Paz. Diogo de, cristão novo, feitor
da alfandega e recebedor das ren-
das reaes no Porto, 234. — Carta
sua a D. -loão III, 235, 236.
Paz. Dnatrte de, cristão novo, filho
do mestre João de Paz, 233, 235,
237. — Feitor da alfandi ga 'I" Por-
to e recebedor de rendas n
e na corte, 233, 234. Enviado
ilos Cristãos m>\ os em L' orna, 230,
404
[NDICE Al I ABI riCO
Pax, I riu. ih da, 233.
Paz, Mestre João da, fisico <■ cirur-
iãu de I >. Manuel morador em
Guimarães, 231, 232, 233, 237.—
Suposto medico da [tainha I». Leo-
nor e em enenador de 1». .Toâo il.
224. 225, 228, 229, 230, 231, 233.
1'n/. João de, cristão novo, pai de
Diogo e Duarte de Paz, 235,
236.
Pu/. Mestre João de, medico caste-
lhano, 236. Morador no Porto,
237, Afilhado de D. Manuel, J37.
Pedra Hoa, Tomada de, 162.
Pedreiro, Mestre, 338.
Pedreiro francês, 245.
Pedreneira, cirnrjião lá morador,
249.
Pedro. 1»., Conde, vide Meneses,
]). Pedro.
Pedro, I).. Condestavel, "241.
Pedro, Mestre, fundidor de ferro,
289.
Pedro, D., Infante, 261. — Na con-
quista ile Ceuta, 260. — Cavaleiro
da -1 arrete ira, I7<>. — Terras de
que se '•(impunha o ducado de
Coimbra por elle possuido, 152,
l.").'i. — Kejente do reino. 315, 316.
— Morre na batalha da Alfarro-
beira, 259, 329.— Recolhidos os
seus restos em Abrantes, 259. —
Sepultados na Batalha, 140, 175.
Escrivão dos seus livros, 319.
Carta de perdão ao seu cirur-
jião, 245.
Pedrógão, Nossa Senhora da Luz
do, 163. —Senhor da vila, 192.
Pedrosa, Diogo de, poeta do Can-
cioneiro, 298.
Peixoto, Diogo Gomez, morador em
Évora, 59.
Peixoto «V Faria. Fernando. 58.
Peixoto de Queiroz e Vasconcellos,
António, Mobiliário das famílias
de Portugal, ms. em muitos vols.
existente na Torre do Tombo, hl.
Pena, termo de Vila Real, escrivão
■ las sisas e tabelião no julgado.
242.
Penaco\ a, Senhor de, 368.
Penajoia, Senhorio de. }r>H.
Penamacor, Conde de, vide Alim-
I|UITI|UC. l.OpO.
Penamacor, Condessa de, vide Noro-
nha, D. Leonor.
Penaverde, Morador em, 248.
Penella, Doação do senhorio de, 152.
Pendia, Conde de, vide Vasconcellos
e fie Meneses. I > João.
Perdão geral aos que fossem servir
na guerra de I lastella, 192. \"s
que fossem servir contra os Tur-
cos, 239, 240.
Pereira, Doação do senhorio de, 152.
— Senhor da terra. 362.
Pereira, António, sr. de Rasto, ami-
go de Sá de Miranda. 193, 194.
195, 210.
Pereira, Gabriel, director da Bib.
Nac. de Lisboa, 21 í.
Pereira, Gabriel, Documentos históri-
cos da cidade iie Évora. Segunda
parte, Évora, 1887. 316. —Estudos
eborense* ... o Arehivo da Sinta
i asa da Misericórdia de Évora,
1.* Parte ■ ■ ■ Évora, 1888. 57, 58.
Pereira, Gonçalo, 194.
Pereira, D. Gonçalo, arcebispo dé
Braga, 186.
Pereira, 1 >r. João, 24 1 .
Pereira, João Rodriguez, .'!." sr. de
Cabeceiras de Basto, do conselho
de D. Afonso \ . comete um as-
sassínio r ('• degradado para < lenta,
184. — E' perdoado. 185.
Pereira. João Rodriguez, o Marra-
maque, 'i " sr. de ' labeceiras de
Basto, seu nascimento, I8'i — Seus
pais. 184, 185.— Moço fidalgo e
depois fidalgo da casa de i». Afon-
so V, 1'dT. — Sucede no '-asa por
morte do irmão, 185, 190, 1 * * T - -
icomete e lança fogo ao mosteiro
de Refoios, 191, 198.— Honiizia-
se e serve na guerra da invasão
de Castella, 191, 198. É perdoa-
do, 192. -1'oeta do Cancioneiro,
187, 1<SS. 198. — Seu casamento,
1 02. - Foi aos juramentos de I las-
tella, 186, 187, 188, 198. -Era do
conselho de D. Manuel, 195, 199,
Í08, 209, 210.- -Terras que trazia
de coroa. 199. -Nas do Minho se
itavam malfeitores, 198. — Sua
morte. l!»õ. — Foi um fidalgo ale-
gn- e galhofeiro. 186, 202, 210.—
Nunca um plebeu nem um bqbo,
205, 208, 209, 210. -Orijem da
alcunha. 195, 196. lá lhe estava
posta em tempos de D. Afonso V.
Í97.
Pereira, D. Manuel, sr. da casa da
Taipa. 193.
Pereira. Nuno. poeta do Cancioneiro,
1X7
Pereira. 1». Nuno Alvarez. Condes-
tavel, IMO.
Pereira. Rui. morador em Évora, 15.
Pereira. Rui Vaz. 194.
ÍNDICE \l l mu rico
[05
I). Maris
I lenriqui
António, |>
Pereira, \ asco, sr. de Paiva e Bal-
tar, 185
Pi relra *t <■ < ast ro, I >cs.' José líi-
calde, .;'. »
Pereira de Meneses >■ Parla,
Luísa, mulher de 1>.
Benriquez, I IU
Pereira de Miranda, Brás, ti d ali
Porto, 339.
Pereira das Neves,
roço da Batalha, 180.
Pereiras, suas armas, 194. Chefe
da liuhajein, 184, I8C, 194.
Pi mes, Almoxarife de, 266,
Perpinhâo, Pano de, 291 .
Pestana, João, tesoureiro mor de
D. Afonso V. 26G
Piedade e Yasconcellos, /'.•' Tgnacio
(In. Historia de Santarém edifica-
da ■ ■ ■ Seg mi d a parte- Lisboa,
1740. 148. '
Pina, I >r. 1 marte de, morador em
Évora, ôl.
Pina. Rui ile. cronista, sua pátria.
161). VIercê de duas tem as, 5 i
Sen <• de notário na apro\ qi ãi
do testamento de I». João II, 308.
Foi plajiado por < rareia de Re-
sende, 54.
Pinii. fíui ile. Chronica do Senhor
li: i/ D. Afonso I'. no 1 vol. da Col-
leceão de Urros inéditos da histo-
ria portuguesa, í, 5, G, 15, IGO,
2 c.n . 268 . — Ch ro a iro de I Rei
dom João II. no M vol. da mesma
:i,o. 54, 99, 101, 102, 108,
III. m, 149, 152, 163, 164, 165,
224, 281.
Pinas, Os, não eram fidalgos, 254.
Pinheira, Maria. 300.
Pinheiro, herdade, 64.
Pinheiro, Senhor do, 362.
Pinheiro, António, tabelião em Lis-
boa, 92.
Pinheiro, Dr. Diogo, Manifesto... cm
que mostra a innocencia do Duque
de Bragança D. Fernando II. a falta
<lc prova, e a nullidade da Senten-
ça porque foicondemnado, impres-
so no vol. 111. 'las Provas da llisi .
genealógica, 149, 166, 198, 271,
281.
Pinheiro, Pedro Anes, lavrador, V.'.
Pinhel, Termo de, 192.
Pinto de Mira, lios."1 Manuel, sua
casa era Lisboa, 333, 337, 340.
PintO de Mira Falcão. José, 340.
Pintos Herdade 'los. 'iii.
Pirez, \ ndré, escrii ão da fazi mia.
cia, 346.
Plínio, sentença aua, 212.
Pombal, i Quinta unto b
Pombal, Vlarquèa de, ministro di
D. -losé, 98, 155 ! i i
Ponte de 1 ima, Ucaide mor de, l! 8.
Popplau, Nicolaus von, nobre pola-
co, esteve em Portugal, 282.
Portalegre, carta de lá datada, Í6 I
Moradores na \ ila, 240. 24G.
Portel, Alcaidaria de, 280. Alcaide
mor, 257. I >e lá fujiu o I tuque
I». Jaime, 2Ti .
Porto, lá se resoh e a ida de Afon-
so > a França, 101. \ Icaide mor
da cidade, '.''i 1 . Barbeiro lá mo-
rador, 240. Biblioteca munici
pui, 315.— Bispado, 240. Bispo,
(lista. D. DiogO, '■ Insta.
I». Pedro. — ( larta r< ia li lá da-
tada, 245. l lidadào, 294 . — • < i-
" lá morador, 228, 229, 248.
• lomarca, 192. — Feitor da
alfandega, sisa dos panos, mar-
caria '■ herdades, 233-234. — Fi-
da Igo lá morador, 339. - Medico,
237. Moradores, outros, 235, 236,
24 1 . 245. - Peonajem do concelho,
.'■ 1 1 Receber! or do almoxari Fado
c ila sisa dos panos, 234.
Porto, 1 K João do, Bispo de I arga,
226.
Porto, -João do, cantor de D. .João II
e de I). Manuel, escrh ão la Casti
do Civ el e da correição da < lôrte,
226, 241, 242, 243.
Po rto, João do, compra
D. -João II. 226, 243; carta de
quitação, 241. Escrivão da Fa-
zenda de D. João II. 226, 243.
edi r dos escrai os de Guiné
em Lisboa, 226, 242 ; carta de
quitação, 244.
Porto, João do, i n\ enenador suposto
de D. João II. 225, 227, 237.
Porto, João do, escrivão .las sisas
'los panos e herdades de I is oa,
226, 239.
Porto, João do, escudeiro do In-
fante D. Fei u cartas de per-
dão, 226, 239.
Porto, João 'i". inglês, mercador,
morador em Bristol, 226, 239.
Porto, João do, \ arios oul n
íilimu fisico nem cirurgião
226, 238 a 244.
Porto Carreiro, Francisco de, ana-
del mor dos - cie camará.
!82.
1'urt nuai. 1 1 Alva ro de, irmão do
406
i\DK I \i I ABI riGO
justiçado Duque de Bragança, es-
crei e-lhe uma carta, .'Tu. ,'s| .
>. e outra a I '. João II. muito
jiva, '275. Sentença que o
.• lenou, 275. Bens seua doa-
dos a oul ros, 2.72. Restituído ao
reino e á cosa, 275. Casa-lhe
D. Manuel uma (ilha. 155.
Povoa, I r. João da, confessor de
I >. João 1 1. escre\ e q --cu 1 1 sta-
mento, III. 303. ■ É nomeado
para o seu conselho testamenta-
rio, 309.
Povoação de Entre Doiro e Minho no
\ l / século, 'loe. publicado no
III vol. do Irch. hist. port., 193.
Trata, Peças varias de, 290, 291.
Prado, Senhor do, 299.
Príncipe Real, ride Bragança, Duque
de.
Prior <l<> (ruiu. 3, -Outros, vide VI-
meida, l>. Diogo; Meneses, D.
• loão.
Proença, Natural de, '245.
Provedor das obras dos paços e ca-
sas reaes, 340.
Provedor mor da rendição dos ca-
ti\ os, 242.
Pulgar, Hernando de, Chronica de
los... reyes Catholicos don Fer-
nando y dofia Ysabel de gloriosa
memoria. . . Compuesta por el maes-
tro António de Nebrixa. . . Valha-
dolide, 1565. (Apesar de impressa
em nome de Nebrixa, o seu ver-
dadeiro autor, como é sabido, foi
Pulgar), 177.
Panhete, cirurjião lá morador. 247.
Rabaçal, doação do senhorio. 153.
Raparigas do Cancioneiro, 21 a 27.
Raposo, Baltasar, feitor em Ternate,
78.
i : ,i -.'■• ies, I Lerdade nos, 16.
Real, moeda, i02, 205, 206, 207.
Seu valor, 182.
Rebelo, Pêro, escrivão da Casa do
. 242.
Rebordão, cirurjião lá morador, 248.
Recardães, doação do senhorio, 1 52.
Redondo, doação do senhorio, I 16.
Refoios, Mosteiro de, é acometido
e incendiado pelo Sr. de Basto,
191.
Rego, Beatriz do, >l .
Regras, Dr. João das. seu casamento,
362. I' unda o hospital de S. Ma-
teus, 362, 363. Elabita em Lis-
boa a Santa Marinha, 363, 364 .
Reis Católicos, vide Fernanda e Isa-
bel.
Rejedor da < asa do < livel, 200, 346,
365.
Rejedor da Casa da Suplicação, .'li,
369.
Reriz, Senhor de, 185.
Resende, Mestre Vndré de, 29. Seu
pai suposto. fiN. — Seu pai verda-
deiro, 91, 92. veu avô paterno.
92. — Sua mãe, 86, 87, 88. — Não
era irmão do cronista < !arcia de
Resende, 34. 18,82,83. — Seus ir-
mãos, 84 . 85, 86. - < arta sua a
1 1. loão de Castro. 84, 85. Pa-
drinho de um filho de André fal-
cão de Resende, 91. — Sua quinta
de Valbom, 93, !iõ. — Verbas do seu
testamento. 83, 93, 94. Seu filho,
92, 93, 94. -Seu neto. 94, 95.—
Sua biografia escrita por Leitão
ferreira, 34, 87, 92.
fíesende, Westre André de, Historia
da antiguidade da cidade de Évo-
ra... Évora, 1553, 82. —Vida do
Infante dom Ditai te . . . mandada
publicar pela Academia Urdi <l<is
Sciencias. Lisboa, 1789. 233. ffa
sumiu vida e religiosa conversão
de Fr. Pedro Portt iro de Sancto
Domingos de Évora, na Vida de
Indrè de fíesende, de Leitão Fer-
reira. 8(í.
Resende, André Lúcio de, ultimo re-
presentante do cronista (rareia,
62, 63, 65, ?0.
Resende, André Vaz de, pai do mes-
tre \ndré, 91 . 92.
Resende, Antónia de, mulher de
Afonso Monteiro. 84.
Resende, António de, filho do cro-
nista < rareia, i7. 57<
Resende, Lntonio de, neto do mestre
André. 94, 95.
Resende. Barnabé de, filho do mes-
tre \ndrr. 52. 83, 87, 92, 93, 94,
95.
Resende, Beatriz de neta do cronista
» !arcia, 51 . foi freira. 52.
Resende, Fr. Brás de, dominicano,
escritor, 69, 90.
Resende, I>. Brites de, 5." adminis-
tradora do morgado da Anta. mu-
lher de fernando Peixoto de Fa-
ria. 58, 59.
Resende, I >. Brites de, filha de Jorje,
69, 90.
Resende, Caterina de, mulher de
Duarte Lobo, õl .
Resende, ' Iristina de, sobrinha do
mestre André, mulher de Brás Ro-
drisuez Ribeiro, 83, 84. 85
INDK 1 ALI ABE flCO
407
Resende, I •uarte ili , primo
com irmão 'I" cronista • Jurem . 'i .' .
14, 71. 72, 7:;.
Resende, Duarte de, escritor, 29, 71,
7.'!. — Seus pais, 74, (5, ?0. farte
para a índia, 70. Escrivão da
feitoria das Molucas, 7 i
cm Temate, 73, 7C, Í7, 78, 7!).
Volta para o reino, 78, 79. I >e-
dica-lhe João de liarrosa Ropica-
pnefma,' 7.'i. 78. Seus escritos
em prosa e verso, 79, 80. — Seu
falecimento, 8 1 .
Resende,
K \ ora.
Resende
90.
Resende,
Fernão de.
51.
1>. Filipa de,
irje,
l'ranoisi
filho .In cro-
nista Garcia, 17, 83. — l.° admi-
nistrador do morgado instituído
pelo pai, 55. — Seu casamento, 50.
— Foi condenado ;i degredo por
um ferimento, 56. — Foi vereador
• la ('amara de Évora, 56. — Sua
morte e sepultura, õii. ">7.
Resende, Francisco de. filho de for
ie, 69, 90.
Resende, Francisco de, pai do cro-
nista '-.'areia. 34, 35, 91 . 92, 208.
Resende, Rareia de, 5.° administra-
dor do morgado da \nta. 59.
Resende, Garcia de, cronista, 28, 91 ,
183, ]Ni. — Seu nascimento, 33. 34,
'202, 205. 207.— Seus pais. 34, 91 .
92. — Sen avô paterno. 92. — Não
era irmão do mestre André, 34,
18, 82, 83, 85, 87. — Vivia em
Évora com um tio, 35, 202.
Moço da camará de I >. -João li.
33, 209. — Seu moço da escrevani-
nhã. 33, 34, 35. — Nesta qualidade
recebe dei Rei muitas prot as de
confiança e afeição, 35, 30, 37. —
Retribue-lhas com sincera amiza-
de, -!7. —Secretario da embaixada
ao papa I .eão V 38, 39. Na via-
jem para Koma, arriba a Malhorca,
•'!'.). — E' cavaleiro da Ordem de
Cristo. .17, 38. — 17' nomeado es-
crivão da fazenda do Príncipe I».
João, 39, 89. — No mesmo oficio
continua a servi-lo depois de rei,
40, 11, 12, 72,87, 88, 89.— Faz-lhe
1 ». João 1 II doação das pensões dos
capitães e escrivães dos navios
que se armavam para Arguim,
rios de Guiné e ilhas, 12, 13. —
Recebia análogas pensões (los na-
vios armados para a Mina. 13. —
Foi padrinho em haptisados, õl
I 'rimo i i rmão de I I
de Resende, 12, 44, 71, 72 0
outro dedica-lhe uma tradu ão
de * licero, 80. I >oa n tença
ao com dito do I Ispinhe iro II
\a -mu cerca edifica uma ca
pella para sua sepultura, e dota-a,
II, 14, 15, 16, 50, 52, i ■ I
\ sua capei hi e in porada na
coroa, tii . <0. aquisições de pré-
dios. 12, 87 Possue um moinho
em Lisboa, '>'■<■ 10.- I ma
na mesma cidade, 66, 67 < lutras
em E\ ora, 16, 66 São lhe per-
tenceram a- que hoje são lá co-
nhecidas com o seu nome, tio. liii.
i (moine a Vida de i> João 1 1
18, 19. -Seus ultimou annos, 19.
1 artas -nas destes tempos, 19,
50 Escreve o Sermão dos três
lieis Uagos, 50. Sua morte, 50,
ol . 52. Sua sepultura. 52, 53.
Seu testamento, 15, 16, i7. 52,
82. -Institue nelle um morgado,
1 1 , i.'i. 15, 16, W . liens de que
elle se compunha, 'i 1 , 12, 'di, 63,
64. Sua moradia. 11. Ni:h ar-
mas, 'li. 'i7. 52.— Não era com
tudo fidalgo, 254. Sua assina-
tura, 10.— Sua índole alegre, 32.
- -Foi desenhador, 36, 37, 102.
Também musii poeta. 30.
Privilejios para a impressão das
suas obras, 50. I.'' impressa a
Vida de D. João Tl, ■">.;. 54. -Acu-
sado de plaiiario de Rui 'Ie Pina,
54, 55.— O historiador. 111. 31, 12
administradores do seu morga-
do, iò a 63. o seu representante é
em I7'i7 recusado para familiar
do Santo Oficio por ler sangue de
crista. ( uo\ O, 60, 61. O seu ulti-
mo representante i"i um idiota.
62. — Km Exora levantam-lbe um
monumento, mas deixam andar ..s
SeUS restes insepultos, 53.
Resende, (.ureia de, Cancioneiro ge-
ral, q. v. Versos seus lá impres-
sos. 25, 3(f, 18, 39. índice delle,
21, .'7. 28. t entrada dei fíeydom
Manoel cm Castclla, 186. Livro
das oliriis de Garcia de Resende
que trata da vida e grandíssimas
virtudes. . . do príncipe el Rey dom
João o segundo. . . Lisboa, 1545.
.!.;. 35, :7^ 18, 19, 50, 53, 99, 101,
102, 107, 108, 149, 163, 164, 165,
166, 177. 186, 202. 206, 224, 271,
282, 284, 286, 296, 297, 302.
\fiscellania de Garcia de Resende.
408
INDIC1 M 1 MHTICO
e variedade de historias, costumes
vasos v cousas que em teu tempo
acontecerão, no dm da ed. de 1622
da Chrnnica de. . . dom João li.
331.- i ida de D. João 11 \ ide
Livro das obras.
Resende, < ■areia de, filho de Jorje,
:.l. 52, 69, 90.
Besende, < iarcia de, oul ro, s^
Besende, dil de, escudeiro de l.a-
mego, 7 'i. 75,
Besende, Gonçalo de, adail d
zila, 7 í. 75, 7 ti.
Resende, D. Guiomar de, filha de
Jorje, 69, 90.
Besende, D. Jeronima, 2." adminis-
tradora iln morgado do cronista
1 Iarcia, mulher de I 'ernão I lonçal-
v ez < ogominho, 57, 58
Besende, Jorje de, único irmão do
cronista Garcia, 29, 12, 18, 51,
32, 83, 91, 92 Vereador da Ca-
mará de Évora, i9, 68. — Fidalgo
da casa de- D. João III.
Poeta do Cancioneiro, 53, 67. —
Tutor de seu sobrinho Francisco,
56, 68. — Fez imprimir a crónica
de seu irmão, 53, 54 , 68.- -Pos-
suiu mi) exemplar <lella. 54,68.—
Sua assinatura, fiS. — Suas armas.
07. Sua morte, 53, 69. Sua se-
pultura, 44, t'>7. — Sua mulher, 69,
90.— Seus filhos, 52, li!», 70,
— Inventarii i de seus bens, i3, 90.
Besende, Lucrécia de, neta materna
do cronista ' iarcia, 51 . 52.
Besende, Manuel \ az de, morador
em K\ i ira, 84, s"'. 86.
Besende, Maria de, filha do cronista
1 iarcia. mulher de seu primo Gar-
cia de Kesende, (7. 51 . 52, 69.
Resende, Maria de, pobre desampa-
rada, 51 .
Besende, 1>. Maria Bosa Gertrudes
de, 10. ° administradora do mor-
ido da \uta, 61.
Resende, Martim \ az de, avô do
cronista Garcia e do hum
dré, 92.
Besende, I' Micaela Arcanjela Ber-
narda de, 8." administradora do
morgado da Anta, 60, 66.
Besende, Pedro Paulo de, 3.° adminis-
trador do morgado da Anta. 57. 58.
Resende, Pedro Vaz de, juiz 'I"- ór-
fãos de K\ ora, 68
Resende, Sebastião de, filho d
nista < ■areia. 'i7. Ii7.
Resende, Sebastião de, frade de
S. Francisco,
Resende Paleio, António de, soldado
em Meliapor. 57, -r^. 69, 70, 90.
Resende Paleio, '.areia de, 52.
Resende Pelo, Francisco (nacio de,
de Évora, 63.
Resende Mendonça Parla Vasconcellos
Sande <;irão. André José de, 62.
Resende e Sande, André Lúcio de, 62.
Besende ■■ Vasconcellos, André Lúcio
le, 62, 65.
Resende e Vasc sellos, Diogo de,
(i." administrador do morgado da
Anta. 59.
Besende e Vasconcellos, D. Inês Ha-
ria de, 7.;| administradora do mor-
gado da Vnta, 59, 60, 66.
Resende e Vasconcellos, Tomás José
de, bacharel, 62.
Resposta aos quesitos <l<> í//.mfl /<',//,■
de Véspera de Cânones mi ' niver-
sidade de Coimbra, o sr. Simão de
Cordes Brandão e Ataide, ms. da
Bib. Pub. de Évora, 89-90.
Revista Lusitana, irchivo de estudos
philologicos e etimológicos relativos
a Portugal, publicado. . . poi J
Leite de Vasconcellos. Vol. X. Lis-
I I 8. 24.
Riba de Ser. Mestre João de, físico.
250.
Ribeira de Alitem, quinta junto a
Pombal, 73.
Ribeiro, liras Bodriguez, cidadão de
Evoraj 83, 84, 93.
Bibeiro, Garcia, tesoureiro i
dor da Bainha 1 '. Leonor em Sil-
ves, 134.
Ribeiro, João Pedro, Additamentos, <■
retoques «' Synopse Chronologica.
Lisboa, 1829.294 Dissertações
chronclogicas e criticas sobre <i
historia e jurisprudência ecclesias-
tica e civil de Portugal, Tomo II.
a, L857. 17, 183. Tomo \ .
1 isboa, 1836. 284.
Ribeiro, Joàò Pedro, patriarca da
nossa diplomática, 218.
Bibeiro Pestana de r.rito. José Ma-
ria, denunciante da capella de
< iarcia de Besende, 6 ;-
Bio i "\ o, A bade de, Í52.
Bio de rlaneiro, < apitão general do,
348.
Bivara, escritor, 88. — Vide Cunha
Rivara. J. II.
Rodrigo, Mestre, J99.
Rodrigo, Mestre, lisico di D. Ma-
nuel, 249.
Rodrigo, Mestre, lisico mor de D.
ifonso \ . ,'.il. 247, 248.
1X1)1(1 Al I AIII I [< O
109
Rodrigo, 1*. M. prior do convento
da i ■ ra <a de I isboa, 32 1 .
Rodrigues, Alva r " , escudeiro do
Príncipe 1 1 loão, Í66 ; comprador
de I». João II. 241.
Rodrigues, Bento, morador em I vo-
ra, 51.
Rodrigues, Diogo, moço da estri-
beira 'I" Príncipe I >. .loão, 266
Rodrigues, Dr. Fernão, deão de * ' i > i 1 1 1 -
l>ra, do conselho testamentario de
D. ,Ioão 11. 309.
Rodrigues, .loão, morador em Goa,
irmão de indré de liesende, 85.
Rodrigues kntunes, .João adminis-
trador 'I" cO»ic< llio da Batalha,
180.
Rodrigues da i osta . João
Prefacio do folheto Ordem de San-
tiago, li. 19.
Rodrigues Raposo, Baltasar, feitor
em Ternate. 78.
Roma, lá assiste <■ morre o l
1). Jorje da Costa. 331,332. — Em-
baixador de 1 1. Afonso, \ . 16.
De D. Manuel. 38. Enviado
do- Cristãos novos lá residente.
230, 233.
Romau, Fr Jerónimo, historiador, 17.
Romances, Critica a..s. históricos
anotados. 181 a 184, 195,
204, 212.
Roquette, /.-/., Diccionario da lín-
gua porlugueza, de José <ln Fon-
scc i. feito inteiramente de novo e
; leravel mente augmentado. I 'a-
ris, 1856. 206.
Roquette, Muniu/ Xavier Trindadt .
Ordens militares porttiguezas. 1
n de Santiago. Leiria, 1901 .
13. < Iritica a este folheto, 16 a 19.
Rosado, Bonorio, !il .
Rouffe, Henriqut, empregado da Bib.
Pnb. de Braga, 214.
Ruão. Lenço de, 134. — Pano, 134,
291,
Sá, Ayres de, Frei Gonçalo Velho,
Vol. I. Lisboa, 1899. 185.
Sá, io de, tesoureiro da especiaria
da < asa da índia, 133
s«. João Kodriguez <le. do conselho,
alcaide mor do Porto, 240, '.!'( I .
s;i de Miranda, I rancisco de, poeta,
193.
Saconi, Mousem, mercador judeu de
Lisboa, 267.
Safim, ( lapitão de,
i, Senhor de, 23, 264 .
Salasar, l>. Inês de. sua casa em
Lisboa, 342.
Siihs Sim deu Carreira, Joaquim de,
presidente da • 'amara M iin icipa
da Batalha, 172, 174.
Salva ij Uallen, D. Pedro, Catálogo
de la biblioteca ilr sn/ru.. To-
mo II. \ ulencia, 187 .'. 78.
Samuel, termo de Monti mor o \ elho,
.117.
San Brissos, freguesia, 12,43,63,64
San .1 i de Bei, Senhoi de, l!>fc
San Jor e, uí te Mina.
San Luis, ('ar. leal 1). Fr. Francisco
de, \ ide Saraiva, ( lardeal .
s.-in Hartin, An. ir. de, astrolo
Sanches, Mestre .João, cirurjiao ga-
lego, 249.
Sanchez de Baeua, Viscoí
oealojista, 168.
Sanchez de Friai I má de, Pom-
beiro da /;< oa, 1896. li).
Opocla G mia. I isl oa, 1901. 19.
Sancho. 1 >.. .' . ( ionde di I aro
i i i mira, 243, 369.
Sancho I. 1).. Rei de Portugal, doa-
ções suas á * >rdem <le Santia
Sande, 1>. Brites Maria de, mulher
de < .ar. -ia di Resende, 59.
Saúde, I » Rod rigo de, do conselho,
Símile. Rui de, moco da escrevaninha,
254.
Saúde e Vasconcellos, I». Brites Ma-
ria de, mulher de Garcia de Kr-
sende, 59.
Sande de Vasconcellos, Manuel
Estremo . 63.
Sande e Vasconcellos, Maria di
llier de I domingos ( loelho de Fi-
gueiredo,
Sandes, < Is, de Estremoz tinham lama
de cristãos in>\ os, 59.
Santa Comba, Co de de, íGl .
Santa Maria, Igreja de, da diocese
de \ iseu, 2 16
Sini/n Maria, Fr. agostinho de, His-
toria tripartita. ■ ■ 1 isboa, 1724.
150.
santa Maria. I r agostinho de, his-
toriador, 17.
Santa liaria. Ir. Sebastião de, D
Abade do Espinheiro, 61.
Santa Marinha, Morador em, 248.
Santa Rita Fr, Joaquim de, Acade-
mia dos humildes e ignorantes...
Tom.. I. I isboa, l7o9. 333, 340.
Santarém, lá é aclamado 1>. João li.
162, 269. Barco vindo de lá car-
regado de sáveis para Lisboa
isal prossimo onde, <-<>ni o
en\ ia. lo de 1 '. João II. se a\ istam
410 ÍNDICE ALFABÉTICO
os delatores 'I" Duque de lira- Sebatittto, D., I ; «- i de Portugal, 84.
gança, 271, 273. — < ôrtes lú con- — \isitn em Uvor a casa onde
vocadas, 268. Diplomas de lá morreu D. João II. 112.
datados, 35,75, 100,238,239,241, Secretario de D. -João II. vide, Gar-
242, 245, 246, 247, 255, 257, 273, cês, Afonso; de l>. -João 111. Car-
280, 363. — Estada lá da curte. iieiro, António e Francisco; de
331 ■. de Garcia de ttesende, 72; I». Manuel. Carneiro, António, e
de l>. João II, 297. — Família Garcês, Jorje.
i< lelle/ de Meneses, !). Mora- Secretario de Estado, 346
dores na vila, 148, 280. Morre Seda.-. Defesa das, 86.
iá o Príncipe I». Afonso, 106.- Segadàes, doação do senhorio, 152.
Convento de S. Francisco, 148, Seia. carta de lá datada, 246.
269; de Santa I Iara. Ili'.'. —Fora Seia. Conde de, 251.
de vila, 9. Freguesia do Salva- Sem, António do, moço lid algo, 285.
dor. 7». — igreja da Graça, 9; de Sequeira, Estevão de, copeiro pe-
San Domingos, 9; de Santa Maria queno de D. João II. 102, 103,
da Alcáçova, 114; de Santo F.s- 104,223,224.
tevão, 1 1 'i . —Museu, 9. — Torre e Serpa, mediei, lá morador, 248.
paços da Ucaçova doados á t >r- Serralheiro, 338.
dem de Santiago, 13. Sete Igrejas, i ombate de, 147.
Santarém, Visconde de, Quadro ele- Setúbal, lá é apunhalado o Duque
mentar das relações politicas e di- de Viseu, '.'7o. —Casa onde foi
plomaticas de Portugal com as di- morto. 265. — Diplomas de lá da-
nersas potencias do mundo. . . Tomo lados. I 13, 241, 242, 257, 273, 306.
decimo quarto. Paris. 1 N ,r> ; ; . 17, Dizima do pescado, 273.
176. Doença da Rainha D. Leonor, Ins.
Santiago [do Cacem], Direitos do 301. — Entrada lá dos Brag
genesim e sisa judenga de, 272. 313. — Estada lá de 1). João II.
Santiquatro, Cardeal, 235. 302; de D. VIanuel, 113, 313.—
Santo intonio, Fr. Manuel de, Tlie- Execução na praça, 8. — Morado-
snuri) <la nobreza de Portugal, ms. res: barbeiro, 249; cirurjião, 249;
de que existem copias na Bib. físico, 250. Kendas e direitos da
Nac, 231. alcaidaria mor. r,'.\. -- Saraus do
Santo Oficio, Deputado do, em Evo- paço, 300. — Tenças pagas no al-
ra. 314. — Inquisidor na mesma moxarifado, 307.
cidade. 90. Secretario lá, 84, Severim de Faria, Manuel, Vida de
88. Becusa aceitar para fami- João de Barros, nos Discursos va-
liar o representante de Garcia de rios políticos. Évora, 1624. 78, 80.
Uesende, 233. — Veracidade da — A elle andam atribuídos os Su-
prova nos seus processos, 233. marios de Gaspar Uvarez de Lou-
Santo Thomas, Fr. Leão de. fienedi- sada, 194.
ctina lusitana... Tomo I. Coim- Sevilha, 3, 22, 346.
Ura. 1644. 191. Silva. Aires da, camareiro mor do
Santos Pereira Jardim, Dr:~José dos, Príncipe D. João, 262, 263; de
governador civil de Leiria, 169, D. João II. e Bejedor da Casa da
170, 171, 172, 174. Suplicação, 26, 271, 369.
Sapateiro do Príncipe 1>. João, 266. silva, iires da, neto de An1 le
Saragoça, lá é jurada a Princesa Paria. 320.
D. Isabel, 145. Por esta ocasião Silva, Aires Gomez da, sr. de Vagos,
sao de lá enviadas umas coplas. Bejedor da (asa do Civel, 9,260.
187. Silva, l>. Brites da, Condessa de
Saraiva, Cardeal, Obrai completas... .Mirantes, Ki7.
[omoe 111 e i\. Lisboa; 1874 e Silva, Diogo da, aio de I». Ma-
1875, 154, 256, 318. nuel, 23.
Sardinha, Fernão, juiz dos órfãos de siim. Diogo da, bisneto de \ntáo
Évora, 90. de Faria. 320.
Sarmlento, Pedro Bodriguez, adian- silm, Tnnocencio Francisco </". Dic-
tado de Galiza, 251, 252. cionario bibliographico portuguez,
Sarrea, Jorje Mendez, almoxarife I isboa, 1858-1870. 9 vols. 52, 78,
em Taro. [34. 80.
l.NDICi: AI.IAHI IUO
1 1
Silva, João 'l.\ ar. de Vagos, cama-
reiro mor do Príncipe I'. João,
260, .'ii.'. 163.
Silva, I». Leonor da, mulher de Nuno
Fartado 'li- Mendoça, 1 18.
Silva, I >. Maria da, mulher de João
Uodriguez Pereira, o Marramaque
192, 193, 194, 198.
Silveira, Fe r não il ;i . co ud e 1 mor,
poeta do Cancioneiro, 22, 298.
Silveira, Francisco da, coudel mor,
poeta do Cancioneiro, 23, INT. l!)7.
Silveira, D. Joana da, mulher de
D. Dinis de Almeida, 344, 345.
Silveira, João Alvarez da, inquisidor
em Évora, 90.,
Silveira, João Ferriandez da, [."Ba-
rão de Uvito, escrivão da purida-
de, chanceler mor e \ édor da fa-
zenda do Príncipe D. João, 51 .
263.
Silveira9 Luis dn, guarda mor de
I). João 111. 11.
Silveira, 1). Martinho da, poeta do
Cancioneiro, 1 16.
Silveira, Nuno da, 31 5 .
Silveira Leal, 1>. Antónia da, mulher
de André Lúcio de Resende^ (52.
Silveira Leal, I». Maria Barbara da,
mulher m> capitão Ljús Garcia
< iomes Freire, 62-63.
Silves, Almoxarife de, 133-134. —
Dispo, nide João, D.— Doação da
cidade á Rainha D. Leonor, 1 19.
Moradores, 72, 73. Rendas e
direitos reaes pertenciam á Rainha,
113, 128. -Termo, 247. — Tesou-
reiro e recebedor, 134.
Simões, Augusto Filipe, Alguns subsí-
dios para a biografia de Garcia de
Resende; artigo no vol. \\ do Ins-
l ilido. 19, 07.
Sines, Direitos do genesim e sisa
judenga <le, 272.
Sintra. Almoxarife de, 134. — Di-
plomas de lá datados, 89, 1 19,
238, 246, 280, 284, 365. — Doação
da \ ila á Rainha 1 >. Leonor, 117.
— A ella pertenciam as rendas e
direitos reaes, 113, 120, 128. —
Termo, 319, 321.
Soares de Albergaria, vide em Uber»
traria.
Sortelha, Direitos reaes da, 274.
Sousa, D. António Caetano de, His-
toria genealógica da casa real por-
tuguesa, 1. isi.ua. 1735-1749, I .'
vols. 123, 157, 177. 21.1, 256, 340.
Memorias Sepulchraes que para
beneficio da Historia de Portugal
offerea o ú icadomiti Iteal, ms.
perte n ce n i e no Falecido conse
lheiro \ enancio I 'eslandes, 151.
Provas da Historia genealógica, ■
I isboa, 1739-1748, ti vols 91, 111,
116, 1 19, 154, 166, 183, 19"
205, 206, 269, 275, 277, 281, 303,
I0C 161, 162 Possuiu os Su-
mários 'l' l ousada, 194.
Sousa. I» Francisco de, neto do
1 ." Barão de Ah it<>, 51 .
sonsa. Henrique de, fidalgo, I8(i
Sonsa, 1>. João de, donatário de cer-
tos 'lii eitos 'Mn 1- aro, I 27 , 129.
Sons i. D. 1 eonor d e . mulher d e
I >iogo Gil Muni/ . Ji ; .
Sousa. 1 .eopoldina de, .'I \ .
Sousa. Lopo de, sr. do Prado, aio
do 1 >nque I». Jaime, 299.
Sousa. Dr. .Manuel Bento di
opinião acerca do em enenamento
de D. João II. 104, 221 a 231, 277.
Sousa. 1 >. Maria de, ' !ond( ssa di
Marialva. 74, 75.
Sousa. Pero de, 24 1.
Sousa, l.ui de, sr. de Sagres, meiri-
nho mor do Príncipe I >. João, 23,
264.
Sousa. Vasco Martin/ de, o Chichor-
ro, 197.
Sousa Ribeiro, Pero de, poeta do l rtn-
cioneiro, 188, 189, 199, 244.
Sousa ilo Sem, Simão de, poeto iK>
Cancioneiro, 24.
Sousa Viterbo. Dr., indica dois does.
ao autor. 130.
Sonso Viterbo, Artes <> industrias em
Portugal. Minas e mineiros. Sepa-
rata do Instituto. Coimbra, 1904.
349. I batalha de Touro. Alguns
dados <■ documentos para a sua
monographia histórica. Separata
da Hevista militar. Lisboa, 1900.
275. Diccionario histórico e do-
cumental dos architectos, enge-
nheiros e construetores portuguezes
ou a serviço de Portugal. Vol. U.
Lisboa, 1904. 41, 58, 70. - Noti-
cias sobre algum médicos portugue-
ses, 228. — tralm/lios Náuticos dos
Portugueses, uos séculos xvi e svii.
Parte TI. Construetores navaes, Lis-
boa, 1900. 129.
Sousel, físico lá morador, 248.
Stanley o/ Alderley. Lord, The first
ooyage round Ho' world by Magel-
lau . . . Londres, 1874. 77 .
Sul, Senhor de, 185.
Taboa, Senhor da, 362.
Taipa. Quinta da, 193.
412
INDIC1 VLFABETICO
Taipa, ' ondes da, 193.
1'anjer, Palanque de, 183.
mento, I. — Empresa, 2. — I!is-
po, vide Orti/.. D. Diogo.- -Capi-
tão da armada doa Infantes, 185
i apita o da praça, vide M «es,
l>. .João. — Fisico e cirarjião lá
morador, 247.
I arga, Bispo de. 226.
[Tarouca, iVlorador em, 246. -Sr. da
vila,
Tarouca, Donde de, vide Meneses,
D. João.
Tavares, Kisto. Livro das principacs
linhagens de Portugal, ms. de que
possuo copia e outras existem em
bibliote ias publicas, 254.
'i aveira, Pêro, morador em Évora, 51 .
Tavira, doada á < 'rd em de Santiago,
14.— Morador lá, 2G7.
Távora, Álvaro Pirez de, são-lhe
los os bens confiscados ao
( londe de Abranches, 329.
lYil»'/.. patronímico, 9.
Tellez, Afonso, capitão de Alcácer, õ.
Tellez de Matos, Joaqu im Anti
Sonsa, escritor, T "
Tellez de Meneses,
— Mia-; armas, 7
Telles de Meneses.
Unhão, 9, 185.
Tello, patronímico, f).
Tentngal, diploma de lá data
— Doa -ão do senhorio não confir-
mada, 152. — Prior, 74.
I ernate, • iapitão de, 76, 7 7. 78.
! eitor, 73, 7 1, 77, 78, 79.
n iro de I >. Afonso \ . Í66.
l)o Príncipe 1>
iinho de 1 )
vide Faria, Antão.
Tesoureiro mor de l>. Afonso V,
266. - De D. João III, 133, 137.
ro de D. João II, Recebedor
do, vide Magro, Rui Gil.
Tinoco, I 'iogo, primeiro denunciante
do Duque de Viseu, 278, 296.
Tinoco, João Nunes, traça uma planta
de Lisboa,
Toledo, 145.
ticario lá morador, 246.
— Recebedor das Bisas, 294.
Vigário, 296.
Toro. estada lá do Príncipe D.João,
169. Lá é feito o primeiro \ is-
conde português, I 'i7.
Toro, Batalha dé, 3, 31, I 18, 160,
253, 265, '.'71 . - Uferes do estan-
darte do Príncipe D. Joã
Z79.
de Santarém, 9.
Fernão, sr. de
Torre do rombo, falta de índices e
catálogos, 216. Man estado da
Chancelaria de l>. João II. 109.
< lod ices lá existentes, 112. 1 24 .
178,294. Inventario, 11)9. — Lei-
tura nova, 109, 289. Director,
2 14. - Guarda mor. 288.
lorn-s Novas, eirurjiao lá morador.
246. Diploma de lã datado, 246.
Doação das rendas reaes, 118.
I ori-es \ edras, diplomas de lá da •
lados. 283, 284. 285, 28", 288.
Doações das rendas reaes, 117.
118, 120. — Pessoa lá moradora.
256.
Torres Vedras, Mestre João de, bar-
beiro, 249
Trancoso, cirurjião lá morador, 247.
I ias os Montes, privilejios de fidalgo
para aquella comarca, 197. Bei
deiro e recebedor dos portos delia,
>49, 250.
Trigoso de Aragão Mora to, Francisca
Mn a uri. \femoria sobro os secretá-
rios dos reis e regentes 'li- Portu-
gal... inserta nas Memorias </"
Academia, 295.
Tuias. Senhor de, 199.— Júris
do couto, 197.
Uchão de D. João [I, 253, 257, 266.
I eharia. Peças da, de I). João II.
266.— I>a Rainha I». Leonor. 135.
assento da ( Irdem de San -
tiago, 13.
I clès, Mestre de, li, 15.
I nhào, Senhor de, 9, 185,
\ agos, 188. — Senhor da vila, D, 262.
Yal de Área-., cabi -a do morgado
instituído por Garcia de Resende,
i ; 16, 56, 64, 65.
Valada, Comenda de< 282, 307.
Valbom, Quinta de, 93, 95. — Vinha
lá situada. 91 •
\ aldijem, Senhor de, 362.
\ alenç.a, * íarta do condado de, 5.
Valença, < onde de, vide Meneses.
D. Henrique.
Valência de Campos, Conde d<
Valente. João, morador em I agos,
2 5 '• .
Valera, Diogo de. Espejo de verda-
itrrn nobleza, cif. por Gama Bar-
. .'.Vi.
Varatojo, Mosteiro do, diplomas de
la datados, 247, 294.
Varella, João, lavrador, 42.
Varei las, Herdade dos. :1 |;.
12.
Varellas, I Lerdade dos. a S. B
12, i6,
[NDK I Al FABE I K < I I I >
Vasooncollos, Diogo Mendez de, nmi- Viana de Alvito, diploma de lá
go e biografo de ^ndré de Kesen- datado, '241. Vai lá o líninlia
de, 87, 88 I». Leonor, III. :tU4
Vaseoncellos, . ) < > u 1 1 <.- Mendez de, Í4. Viana de Uaminha, Condado de, ■ >.
Vasconcellos, Joaquim rfè, ircheolo- , VIorador na vila, 245.
gia artística, .\." ln. Renascença Vicente, Gil, poeta ourives, Buas ca-
portugueza ■ . . III. Goesiana. \s saa em I isboa, 32 i
variantes das chronicas. Porto, 1159. Lndice das biwií Obra .'l
1881. II (i. 27, 28.
Vasconcellos, Kui Mendez de, i.° sr. Vidigueira, fisico lá morador, J49
de Figueiró e Pedrógão, 192, '210. Vieira, P.e António, jesuíta, 217.
Vasconcellos <■ de Meneses, I». Fer- Vieira de Matos, l)r. Sebastião, 00.
nando de, Arcebispo de 1 isboa, Vieira da S. Guimarães, A Ordem
341. de Christo. Lisboa, 1901. Critica
Vasconcellos e de Meneses. 1». -lua" deste livro, .'I.!. 214, 217, 218,
de, 2." Conde de Penella, 325, 328, 219.
341. Vieira da Silva lugusto, .1 Cerca
Vassalo aposentado, Carta >'u-, 246. Moura de Lisboa, estudo historico-
Vax, Afonso, clérigo, rasa sua em descriptiòo. Extracto da Revista
Lisboa, 328. de / ngenharia Militar. Lisboa,
Vaz. Anjela Leonor, mãe do mestre 1899. 322, 323, 325, 320, 327,328,
André de Kesende, 86, 8"i 157
Vaz. Henrique, tabelião em Coim- Vila do Conde, fisico lá rador,
bra, 244. 247.
Vh/.. Jnés, casa sua em Lisboa, 351, Vila Franca de \ira. os scua direi-
352, .'iáii. tos reaes pertenciam á Kainha
Va/.. Leonor, mulher de Diogo de D. Leonor, 119, 128.
(íoes, 51, 8!). Vila Lobos, Teresa <!<■, mulher de
Vaz. 1). Martim, Arcebispo de Lis- Manuel Vaz 'lo Kesende, 84.
boa, ride Costa, l>. .Maninho. Vila Nova de Alvito, estada lá de
Va/.. Mor, mulher de João de Faria, D. -loa,. II. III. De 1>. Sebas-
314. liáo. [12.
Vaz. Nuno. escudeiro da líainha Vila Nova ilc Anços, Doação 'lo se-
3>. Caterina, 86, MT. nhorio <i e . 152.
Vae, Dr. Pêro, vigário de Tomar, 296. Vila Nova da Cerveira, Senhorio
Vaz <le (iões. Anjela Leonor, mãe de, 7.
do mostro André de Kesende, 88. Vila Nova da Cerreiraj \ isconde de,
Vaz Vicente. Nuno, lavrador, 12. 1 •"■ vide Lima. 1». Lionel.
Vedor da casa do Principe D.João, Vila Nova de Portimão, cirurjiào lá
263. morador. 249.
Vedor da fazenda do Principe D. João, \ ila Real, Almoxarifado de, 197.—
263. Morador na vila, .'iii. — Sou termo,
Vedor da fazenda de D. João II, vide 242.
Almeida. I). João; (astolhranoo. Vila lleal. Conde <lo, I.". 10; '-'.'-
D. Maninho; Castro. D. Álvaro. 347 ; 3.°, 160.
— De D. Manuel, 18!). vila Real, Condessa de, oide Contt-
Veiros, cirurjiào lá morador. '„'.">(). nlio. 1). Beatriz; Meneses. D, liea-
Velho, Kui, estribeiro mor do Prin- triz: Miranda. I). Margarida.
cipe l>. João, 257, 263. Vila Beal, Marquês de, 1.°, 189; 2.°,
Veneza. Sarja do. 292, ride Meneses. 1). Fernando. — Ini-
Vestimentas diversas, 134, 292, ÒV>1 . co marquesado existente nos fins
Vestuário, Peças de, 109, 134, 182, do século st, 189.
283. 284, 285. 288, 289, 292. \ila Beal, Marquesa de, ei,le Freire,
Viaje de Nicolas de Popielovo..., 282, D. Maria.
301. Vila Viçosa, Alcaide mordo, 23. —
Viana. Conde do, 2.", vide Meneses. Diploma de lá datado. 241.
D. Pedro; 3.°, Meneses, D. Duaite; Vilanova, Mostro Pedro de, 24õ.
l.°, Meneses, D. Henrique. Vilhena. I). Beatriz de. Duquesa de
Viana. Condessa de, vide Castro, Coimbra, 155.
D. Isabel. Vilhena. D. Beatriz de, mulher de
414
IXDICI \l FABETICO
Diogo Soarez de Albergaria, aia
e i Irinha de D. João II, 260,
261.
Vilhena, D. Margarida de, mulher
de Fernão Tellez de Meneses, 185.
\ imieiro, lú reside temporariamente
a Excelente Senhora, 162.
Vimioso, C le do, vide Francisco, I >.
Viseu, Bispo de, 160; vide Figuei-
redo. 1). fronçalo. — Cimrjião lá
moi ador. .' 18. I >iocese, 246. —
Mercador na cidade, 2 18.
Viterbo, Fr. Joaquim de Sania Roxa
le, Elucidário das palavras, ter-
mos, e frases, que em Portugal an-
tiqame úe se usarão. . . Lisboa
1798-99. 2 vols. 195, 207.
n ebster, International dictionary nf
lhe English language, 190.
"i pr< s, Pano do, 134 284, 291.
índice geral
I Os Condes de Viana, D. Duarte e D. Isabel . . . paj. 1
II A Ordem de Santiago 13
III Rapariga^ do Cancioneiro '21
IV Garcia de Resende 29
Aditamentos I. Dois Duartes de Resende 71
II. A suposta fraternidade de Gar-
cia e André de Resende 84
V A Rainha D. Leonor ')7
Apêndice. Bens moreis e dinheiros da Rainha
D. Leonor 133
VI Trasladações na Batalha 139
VII Descendência de D.João II 14^
VIII A amante .. 'l59
IX Na Batalha .. 169
Apêndice. Auto de remoção dos despojos de
D. João II 180
X O Marramaque ■■ 181
Apêndice 200
XI Livros •• 213
XII — Envenenado 221
Apêndice I.- Extractos de does. relativos a João
do Porto 238
Apêndice II. Extractos de does. relativos a Mes-
tre João » 241
XIII O Camareiro .. 251
índice alfabético 371
COLOCAÇÃO DAS ESTAMPAS
I A capella de Garcia de Resende na cerca do Espinheiro, vista
do convento. — Em frente da paj. 41.
II — Porta da referida capella, sob o alpendre. Em frente da
paj. 44.
III — Campa da sepultura de Garcia ele Resende. Em frente da
paj. 52.
IV -Casa chamada de Garcia de Resende, em Évora. Km frente
da paj. ()5.
V Fac-simile da ultima pajina de nina carta autografa do mestre
André de Resende. Em frente da paj. 85.
VI Arvore da geração varonil de D. João II. Em frente da paj.
157.
Vil Planta de parte da freguesia de S. Bartolomeu de Lisboa no
século xvi. Pm frente tia paj. 325.
27
B1NDING CZZT. JUL 5 - 1966
DP Braamcamp Freire, Anselmo
538 Critica e historia
B73
v.l
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