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Full text of "Critica e historia; estudos"

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Digitized  by  the  Internet  Archive 

in  2010  with  funding  from 

University  of  Toronto 


http://www.archive.org/details/criticaehistoriaOObraa 


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ESTUDOS  HISTÓRICOS 

vi 


Composição  e  impressão  na  Typogra- 

phia  da  ANTIGA  CASA  BERTRAND 

Rua   da    Alegria,  100  —  Lisboa  — 


VOLUMES   PRECEDENTES   DA  COLECÇÃO 
D(  >S 

ESTUDOS  HISTÓRICOS  DO  AUTOR 


I     Livro  primeiro  dos  brasões  da  sala   de  Cintra.  Lisboa,   IS'»1». 

Edição  de  101  exemplares  para  ofertas. 
II     O  Conde  de  Villa  Franca  e  a  Inquisição.  Lisboa,  1899.  Edição 
de  500  examplares,  com  12  estampas.  Preço  1$000  réis. 

III  Livro  segundo  dos  brasões  da  sala  de  Cintra.  Lisboa,   1901. 

Edição  de  101  exemplares  para  ofertas. 

IV  —  As  sepulturas  do  Espinheiro,  Lisboa,  1901.  Edição  de  250  exem- 

plares, com  6  estampas.  Preço  2$()()()  réis. 
V-  Livro   terreiro   dos  brasões  da  sala  de  Cintra.   Lisboa,    1005. 
Edição  de  101  exemplares  para  ofertas. 


O  II  e  o  IV  vol.,  e  bem  assim  o  presente,  encontram-se  á 
venda  na  administração  do  Archivo  histórico  portuguez,  rua 
do  Alecrim,  7,  Lisboa. 


CRITICA 


HISTORIA 


ESTUDOS 


ANSELMO    BRAAMCAMP    FREIRE 

Director  do  Archivo  Histórico  Portuguez 

VOL.  I. 


LISBOA 

TIP.    DA    ANTIGA    CASA    BERTRAND 

100— RUA  DA  ALEGRIA—  100 

1910 


Í0557G? 


ERRATAS 


Off.     9, 

linha  II 

Brites 

leia-se 

Beatriz 

»    25 

»      [9 

Brazeiro 

» 

Braseiro 

».    50 

>,      :i7 

1545 

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1535 

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»        's, 

Sepoltura 

» 

Sepvltura 

..     58 

»      20-21 

António  Fa 
Resende 

leão  de 

"   ■ 

António  de  Resende 

Falcão 

»      » 

»,      39 

António  Fa 
Resende 

cão  'lê 

" 

António  de  Resende 
Falcão 

..    00 

..      '23 

Margalho, 

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Margalho,  e 

.»    70 

»      10 

distinguiu- 

se 

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eistinguiu-se 

..     78 

»»     ;i7 

liv.  xvii.  ca 

p.    I.M 

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liv.  vn,  cap.  lx 

„     80 

..       22 

Epionsa 

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.»    88 

>.      32 

Manuel 

» 

Francisco 

»  107 

»        4 

nmita 

» 

muito 

»,  121 

»       14 

as  conta  . 

» 

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'.,  124 

»       17 

sentença 

» 

sentenças 

..  140 

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Infante  D. 

Pedro 

» 

Infante  D.  Henrique 
e  o  Infante  D.  Fe- 
dro 

,.  159 

»      25 

uso 

» 

usos 

»  177 

»      20 

capitulo  58 

» 

capitulo  56 

»     » 

>.      22 

1487 

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1485 

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1499 

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» 

José 

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José 

..  345 

»      33 

Seve 

» 

Sever 

»  352 

>,      '28 

para  poço 

•> 

para  o  Pneo 

Da  ultima  linha  do  texto  na  pag.  316  deverão  suprimir-se  as  palavras 
»tendo  talvez  para  ellas  também  concorrido»,  e  bem  assim  as  quatro  pri- 
meiras linhas  da  pnj.  seg.,  porque  o  mestre  <iil  casado  com  'íuiomar  de 
Faria,  não  é  o  que  foi  cirurjião  mor  de  D.  Afonso  V,  mas  sim  o  que  no 
mesmo  cargo  serviu  a  1).  Manuel. 


VENERANDA    E   VENERADA 
MEMORIA 


DE 


Alexandre  Herculano 

NO 
CENTENÁRIO   DO  SEU    NASCIMENTO 


DEDICA   ESTE   VOLUME 


O     AUTOR. 


ADVERTÊNCIA 


Começo  a  reunir  neste  volume  os  artigos  por 
mim  publicados  no  "Jornal  do  Commercio,,,  de 
Lisboa,  sob  o  pseudónimo  de  Silex. 

Abranje  esta  primeira  parte  treze  estudos  escritos 
desde  junho  de  1901,  até  julho  de  1902,  aparecendo 
elles  agora  com  vários  aditamentos  e  retoques  ao 
texto  antigo  e  com  matéria  inteiramente  nova  em 
alguns  apêndices  anexos.  Termina  tudo  um  copioso 
indice  alfabético  de  matérias,  indispensável  requi- 
sito em  obras  deste  género  para  serem  facilmente 
aproveitadas. 

As  modificações  introduzidas  não  alteraram 
porem  em  nada  a  essência  das  apreciações  de  critica 
histórica  e  social  formulada  já  ha  oito  para  nove 
annos.  Sobre  este  ponto  insisto,  para  desvanecer 
qualquer  presunção  contraria.  O  que  penso  hoje, 
já  então  pensava;  a  coerência  é  perfeita  e  apenas 
dei  um  passo  para  diante  quando,  em  novembro 
de  1907,  me  declarei  republicano. 

Então,  um  meu  amigo,  espirito  extremamente 
culto,   escritor   reverenciado   e  aplaudido,  dirijiu- 


I  I  AIA  I  RI  1  NCIA 

me  uma  carta,  na  qual  entre  outras  coisas,  me 
dizia:  "aquelles  que  teem  a  fortuna  de  conhecer 
v.  pelos  seus  livros,  mão  acham  que  fizesse  outra 
coisa,  senão  tirar  as  consequências  de  uma  convic- 
ção firmada  ha  annosH. 

É  perfeitamente  exacto,  e  quem  me  fizer  a  honra 
de  ler  as  pajinas  deste  volume,  verá  nellas  a  con- 
firmação da  precedente  asserção.  Para  essas  pajinas 
remeto  pois  o  leitor,  por  não  ser  aqui  logar  apro- 
priado para  em  tal  assunto  me  deter  mais. 

Algum  tempo  hesitei  antes  de  me  resolver  a 
tornar  a  dar  á  estampa  estes  estudos,  perdidos  nas 
colunas  de  um  periódico.  Reconhecia  a  insuficiência 
delles,  e  por  isso  receava-me  de  ser  acoimado  de 
vaidoso  inconciente,  por  pretender  salva-los  do 
merecido  esquecimento.  Veio  porem  resolver-me 
finalmente,  o  facto  de  em  alguns  delles  tentar  apre- 
sentar na  sua  verdadeira  estructura  moral  os 
caracteres  dalgumas  personajens  históricas,  geral- 
mente mal  apreciados  por  serem  apenas  conhecidos 
pelas  historias  oficiaes  e  cortesãs,  que  a  uns  engran- 
decem e  a  outros  deprimem. 

Lembrei-me  que,  usando  doutros  processos,  fir- 
mando-me  quasi  exclusivamenre  em  documentos  e 
memorias  contemporâneas,  ainda  que,  em  resultado 
da  minha  insuficiência  e  talvez  do  errado  método 
de  apreciação  e  dedução  da  minha  critica,  não 
conseguisse  a  desejada  restituição  completa  da 
verdade,  não  deixaria  todavia  de  despertar  o  inte- 


ADVERTÊNCIA  III 

resse  e  chamar  a  atenção  do  verdadeiro  historiador 
para  o  aspecto  que  a  meus  olhos  aquelles  vultos 
tomavam.  Já  não  será  este,  creio,  um  serviço  com- 
pletamente despresivel  prestado  á  historia  nacional. 

Noutros  artigos  destes  estudos  tento  ainda 
esclarecer  um  pouco  o  modo  de  viver,  nos  séculos 
xv  e  xvi,,  de  gerações  passadas,  referindo-me 
principalmente  a  usos  e  custumes  da  corte  portu- 
guesa, não  por  para  elles  me  atrair  simpatia 
especial,  mas  por  acerca  delles  haver  maior  faci- 
lidade em  encontrar  dados  seguros  para  apreciação. 

Nós  pouco  sabemos  da  vida  social  dos  nossos 
maiores.  É  asserção  trivial,  mas  desgraçadamente 
bem  verdadeira. 

Causa-me  inveja,  confesso  o  pecado,  quando 
leio  alguns  admiráveis  e  interessantíssimos  trabalhos 
feitos  noutras  nações  sobre  aquella  especialidade, 
a  mais  interessante  certamente  da  historia.  Para 
elles  porem  se  haverem  tornado  tão  completos,  não 
bastou  unicamente  a  divulgação,  lá  por  fora  em 
muito  maior  escala  realisada  já,  de  documentos; 
tiveram  principalmente  á  mão,  os  seus  autores,  as 
memorias  individuaes,  as  autobiografias,  as  cartas 
e  tantos  outros  monumentos  históricos,  que  nos 
faltam  quasi  por  completo.  Documentos,  vão-se 
hoje  publicando  entre  nós  bastantes;  esses  porem, 
a  não  serem  os  preciosíssimos  tirados  dos  arquivos 
da  Inquisição  e  infelizmente  ainda  muito  restricta- 
mente  trazidos  á  luz,  só  raras  vezes  nos  revelam  o 


[V  ADVI  \i  II  NCIA 

viver  da  gente  portuguesa  de  eras  passadas.  Vamos 
pois,  é  certo,  tendo  já  relativa  copia  de  documentos; 
mas  não  possuímos  memorias  pessoaes;  mas  só 
raríssimas  vezes  nos  é  dado  lermos  cartas  verda- 
deiramente intimas,  que  não  houvessem  sido  des- 
tinadas ao  publico.  Sem  estas  bases,  humilde  e  mal 
seguro  tem  de  ser  sempre  o  edifício  que  levantar- 
mos. 

Para  o  estudo  da  sociedade  portuguesa  dos  fins 
do  século  xv  e  princípios  do  seguinte,  temos  porem 
uma  preciosíssima  compilação  de  dados  no  Can- 
cioneiro de  Garcia  de  Resende,  monumento  de 
indiscutível  valia  para  apreciação  dos  usos  e  cus- 
tumes  do  tempo,  quando  ella  seja  guiada  por  critica 
documental  cuidadosamente  enunciada.  No  Can- 
cioneiro porem,  composto  quasi  exclusivamente  de 
trovas  escritas  por  cortesãos,  raras  vezes  se  encon- 
trarão reflexos  da  vida  popular;  existe  todavia, 
pouco  posterior  áquella,  outra  compilação  de  obras, 
todas  oriundas  comtudo  do  génio  de  um  só  homem, 
na  qual,  em  vários  painéis,  uns  apenas  esboçados, 
outros  de  traço  profundo,  a  nossos  olhos  se  repre- 
sentam cenas  da  vida  real  do  povo  português. 
Acontece  porem,  que  em  torno  do  Cancioneiro  de 
Resende  com  relativa  facilidade  se  agruparão  docu- 
mentos; ao  passo  que  em  redor  das  Obras  de  Gil 
Vicente  quasi  por  completo  elles  nos  faltarão. 

É  pois  como  acima  digo,  mais  fácil  hoje  em 
dia  conhecer  a  vida  cortesã  daquelles  tempos,  do 
que  a  popular. 


ADVER1  I  NCIA 


Doutros  bastante  anteriores  está  ella  traçada  em 
parte  pelo  grande  espirito  a  cuja  memoria  dedico 
este  volume.  Por  Alexandre  Herculano  a  quem  por 
igual  venero,  como  historiador  profundo,  e  como 
homem  de  integro  e  elevado  caracter;  ao  seu  saber, 
d  sua  personalidade  moral,  orgulho-me  de  prestar 
esta  bem  sincera  homenajem,  lastimando-me  apenas 
da  sua  insignificância. 

Aldeia,  março  de  1910. 


05  COMDE5    DE  VIANA 


D.   DUARTE   E   D.   ISABEL 


D.  Duarte  de  Meneses  e  D.  Isabel  de  Castro,  por  Fernandes  Costa, 
S.  S.  (j.  L,  no  "Boletim  da  Sociedade  de  Geographia,  n.°  com- 
memorativo  do  25.o  anniversario  da  Sociedade.  Abril  de  1901.» 
Lisboa,  1901. 


A  D.  Afonso  V  chamaram  os  nossos  historiadores  o 
Africano.  Não  acertaram.  No  meu  entender  caber-lhe-hia 
melhor  o  epiteto  de  Cavaleiro. 

Foi  elle  um  cavaleiro  andante  da  Idade  Média,  deslo- 
cado em  princípios  da  Renascença.  Fé,  injenuidade, 
desinteresse,  prodigalidade,  valentia,  facilidade,  honesti- 
dade, eram  os  elementos  do  seu  caracter.  Conforme 
com  elles  procedeu,  e  por  elles  padeceu. 

Já  em  seu  irmão,  o  Infante  D.  Fernando,  não  se  encon- 
travam as  mesmas  virtudes  e  defeitos  em  grau  igual. 
Valoroso,  injenuo,  fácil,  honesto  talvez,  mas  interesseiro 
e  invejoso  era  o  Infante.  Em  1452  fujira  elle  do  reino 
buscando  aventuras  em  Africa,  na  aparência,  para  dar 
largas  aos  seus  instinctos  cavaleirosos,  na  realidade 
porem,  por  despeito  orijinado  de  seu  irmão  lhe  não 
conceder  os  rendimentos  que  pretendia.  Em  1463  tornou 
a  Africa  com  el  Rei,  e  com  elle  assistiu  em  novembro 
ao  malogrado  escalamento  de  Tanjer,  d'onde  voltaram 

1 


2  ESTUDOS 

ambos  para  Ceuta.  Aqui  porem  pouco  se  demorou  o 
Infante,  porque,  tendo  alcançado  licença  de  seu  irmão, 
partiu  para  Alcácer  a  fim  de  acompanhar  os  Condes  de 
Viana  e  de  Guimarães  numa  entrada  que  projectavam 
por  território  de  Moiros.  Realizada  ella,  quis  o  Infante, 
com  pasmo  de  todos,  haver  para  si  o  quinto  do  saque, 
lesando  em  seus  direitos  o  capitão  da  praça. 

É  licito  pois  supor,  que  não  foi  só  para  alcançar  gloria, 
que  o  Infante,  com  D.  Sancho  de  Noronha,  Conde  de 
Odemira,  seu  primo  muito  aceito,  resolveu  acometer 
novamente  a  cidade  de  Tanjer,  e  se  abalançou  a  reali- 
zar tal  feito  sem  consentimento  réjio,  liem  auxilio  do 
Capitão  de  Alcácer,  o  Conde  de  Viana  D.  Duarte  de 
Meneses,  soldado  valoroso  e  pratico  nas  guerras  africa- 
nas. A  gloria  só  para  si, ...  e  o  espolio  também. 

No  dia  19  de  janeiro  de  14Ó4,  véspera  de  S.  Sebas- 
tião, partiram  de  Alcácer  D.  Fernando  e  D.  Sancho 
direitos  a  Tanjer,  levando  nobre,  mas  pouco  numerosa 
companhia  e  essa  indisciplinada  e  desapercebida.  Era 
inevitável  o  malogro,  e  assim  sucedeu,  com  perda  infe- 
lizmente da  liberdade  e  da  vida  para  muitos  Portugue- 
ses. 

Um  dos  fidalgos  mortos  foi  Gomes  Freire,  que,  apre- 
ensivo e  profético,  á  partida  exclamara:  Oh !  noite  má 
para  quem  te  aparelhas?  Outro,  foi  D.  Gonçalo  Cou- 
tinho, Conde  de  Marialva,  que  na  morte  resgatou  uma 
larga  vida  de  desordens,  turbulências,  crimes  até,  e  tão 
escandalosa,  que,  sendo  elle  um  tal  senhor,  fôra-lhe  con- 
fiscada a  casa  temporariamente,  e  padecera  alguns  me- 
ses de  prisão. 

Em  quanto  o  Infante  doidamente  levava  tantos  á 
morte  e  á  desgraça,  permanecia  D.  Afonso  V  em  Ceuta, 
preparando-se  para  as  vistas,  que  em  Gibraltar  lhe  apra- 
zara seu  cunhado  D.  Henrique  IV  de  Castella.  Chegou 
lijeira,  como  má  que  era,  a  noticia  da  algara  do  Infante; 


CONDIS  DE  VIANA  3 

não  desistiu  porem  cl  Rei  do  seu  propósito,  e  para  a 
fronteira  praça  espanhola  partiu.  Na  jornada  os  princi- 
cipaes,  que  o  acompanharam,  foram  o  Conde  de  Gui- 
marães, seu  irmão  D.  João,  os  Condes  de  Monsanto  e 
Atouguia,  e  o  Prior  do  Crato.  Aponto-lhes  os  nomes, 
porque,  excepto  dois,  o  Atouguia  e  seu  irmão  o  Prior, 
todos  os  mais,  por  uma  triste  coincidência,  tiveram 
morte  desastrosa.  O  Conde  de  Guimarães,  foi  o  Duque 
de  Bragança  degolado  na  praça  de  Évora  em  20  de 
junho  de  1483;  seu  irmão  D.  João,  Marquês  de  Monte- 
mor, executado  em  estatua  em  Abrantes  a  12  de  setem- 
bro do  mesmo  anuo,  veio  a  finar-se,  homisiado  em 
Sevilha,  a  30  de  abril  do  anno  seguinte;  e  finalmente  o 
Conde  de  Monsanto  precedeu-os  a  ambos  no  tumulo, 
levado  por  uma  frechada,  já  tomada  Arzila,  em  24  de 
de  agosto  de  1471.  Ao  menos  este,  morreu  gloriosa- 
mente. 

Terminadas  as  vistas  de  Gibraltar,  regressou  D.  Afon- 
so V  a  Ceuta,  passando  todavia  logo  a  Alcácer  no  in- 
tuito de  atacar  Arzila.  Não  proseguiu  por  causa  das 
chuvas,  e  novamente  se  acolheu  a  Alcácer,  d'onde  ainda 
pretendeu  tornar  a  sair  em  expedição,  em  dia  cie  Santa 
Maria  cie  Ca/icieioz,  2  de  fevereiro  '.  Outra  vez  desis- 
tiu, não  sei  por  quê,  e  voltou  para  Ceuta,  onde  com 
elle  foi  ter  o  Conde  de  Viana,  D.  Duarte  de  Meneses, 
capitão  de  Alcácer.  Então  resolveu  D.  Afonso  V  a  ex- 
pedição á  serra  de  Benacofú,  e  ordenou  ao  Conde  que 
o  acompanhasse.  Partiram,  e  ao  terceiro  dia  foi  o  Conde 
morto  pela  moirama,  defendendo  a  rectaguarda  das  tro- 
pas do  Rei  -,  em  quem  dera  um  daquelles  acessos  de 
pavor,  a  que  era  sujeito,  e  que,  com  mais  violência  ainda, 
se  repetiu  na  noite  da  batalha  de  Toro. 


1  Azurara,  Chronica  do  Conde  D.  Duarte,  paj.  358. 
-  Ibidem,  cap.  154. 


4  ESTUDOS 

I  stava  portanto  passado,  havia  muito,  o  dia  20  de 

janeiro  de  1494,  data,  modernamente  assinalada,  e  agora 
aceita  pelo  sr.  Fernandes  Costa,  como  sendo  a  da  morte 
do  valoroso  (-onde  D.  Duarte.  Digo  modernamente,  por- 
que nem  Azurara,  nem  Rui  de  Pina,  a  precisaram;  e 
porque  julgo  haver  sido  D.  Agostinho  Manuel  que, 
meado  quasi  o  xvn  século,  a  inventou  no  seu  livro  da 
Vida  de  D.  Duarte  de  Meneses. 

Creio  que  se  pode  marcar  a  data  da  morte  de 
D.  Duarte,  nos  primeiros  dias  do  mes  de  fevereiro  de 
1404,  antes  porem  de  8.  No  mes  de  janeiro,  até  28,  são 
datadas  de  Ceuta  varias  cartas  réjias;  depois,  ha  um 
intervalo,  e  só  tornam  a  aparecer  outras  cartas  datadas 
daquella  cidade,  de  8  de  fevereiro  em  diante,  até  ao  fim 
do  mes,  e  de  4,  ó,  7,  10  e  13  de  março  !.  Neste  dia 
estava  certamente  o  Conde  D.  Duarte  morto,  pois  nelle 
foi,  em  sua  sucessão,  nomeado  capitão  de  Alcácer  seu 
filho  o  Conde  D.  Henrique  ''.  É  pois  muito  provável 
que  naquelle  intervalo  do  principio  de  fevereiro  tivesse 
tido  logar  a  expedição  á  serra  de  Benacofú. 

Diz  Azurara,  e  não  Rui  de  Pina,  que  a  morte  do 
Conde  D.  Duarte  foi  muito  chorada,  pêro  não  tanto 
■como  devera. 

Não  sei  a  quem  o  Cronista  se  refere.  Emulos  invejo- 
sos, tinha  decerto  muitos  o  Capitão  de  Alcácer,  um  delles 
até  seria  o  Conde  de  Odemira;  mas  D.  Afonso  V  não 
foi  ingrato  á  memoria  do  Conde  de  Viana,  a  quem,  em 
vida,  prestara  já  singular,  mas  bem  merecida  homenajem. 

Passara-se  o  caso  na   primavera  de   1460.  Em  abril 


;  Liv.  2.o  dos  Brasões  de  Cintra,   paj.  375.     Peço  desde  já  ao 

leitor  que  me  releve  esta  e  análogas  citações  de  trabalhos  meus; 

Faço-as   unicamente,   porque  nos  logares  apontados  encontram-se 

indicados  os  documentos,  que  servem  de  base  ;i^  asserções  do  texto. 

(  hancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  8.",  fl.  108. 


COXIM  S   DE    VIANA  5 

desse  anuo  deixara  D.  Duarte  de  Meneses  por  capitão 
de  Alcácer  sen  sobrinho  Afonso  Tellez  e  viera  a  Lisboa 
ter  com  Afonso  V.  "Daly  se  foy  EIRey  a  Santarém,  onde 
com  solene  arenga  de  seus  serviços  e  merecimentos,  e 
com  devida  cerémonia  ho  fez  Conde  de  Vyana  de  Ca- 
minha.. '. 

Morto  o  Conde,  logo  a  20  de  julho  escreveu  el  Rei 
na  carta  do  condado  de  Valença  o  necrolojio  do  seu 
fiel  soldado,  ^e  as  palavras  do  documento  afirmam  cla- 
ramente a  gratidão  real. 

"Atendendo  aos  serviços  de  D.  Duarte  de  Meneses, 
que  Deus  haja,  Conde  de  Viana,  que  foi  do  nosso  Con- 
selho e  nosso  Alferes  mor,  e  Capitão  por  nós  em  a  nossa 
vila  de  Alcácer  em  Africa,  e  vendo  como  elle  por  nosso 
serviço  duas  vezes  foi  cercado  na  dita  vila  de  Alcácer 
dei  Rei  de  Fez  em  espaço  de  dez  meses;  e  cento  e  sete 
dias,  que  duraram  os  ditos  dois  cercos,  sendo  combatido 
de  três  mil  e  duzentas  pedras  de  bombarda  e  doutra 
muita  artilharia,  que  no  poderio  dos  ditos  dois  cercos 
traziam,  e  por  graça  de  Deus  a  defendeu  como  valente 
e  esforçado  cavaleiro,  sendo  por  muitas  vezes  fora  da 
dita  vila  a  pelejar  com  os  Moiros,  e  com  ajuda  do  Se- 
nhor Deus  sempre  os  venceu,  sendo  no  primeiro  cerco 
ferido  no  rosto  por  nosso  serviço.  E  como  isso  mesmo 
antes  dos  ditos  cercos,  e  depois  delles,  com  o  desejo 
de  nos  servir  fez  outras  muitas  pelejas  e  cavalgadas.  E 
vendo  nós  isso  mesmo,  como  estando  ora  em  as  partes 
de  Africa,  conquistando  a  dita  terra,  aconteceu  os  Moi- 
ros delia  nos  virem  buscar;  e,  pelejando  nós  e  a  nossa 
gente  com  elles,  mandámos  ao  dito  Conde  D.  Duarte, 
que  acudisse  por  si  áquellas  partes,  que  mais  sentimos 
na  dita  peleja  que  elle  era  necessário  a  nosso  serviço ;  e 


'  Pina  Crónica  de  D.  Afonso  V,  Cap.  143.     A  carta  do  condado. 
de  Viana  é  de  6  de  julho  de  1460  (li v.  3.o  de  Místicos,  fl.  57  v.). 


D  ESTUDOS 

quis  Deus,  que,  por  Seu  serviço  e  nossa  ventura,  o  dito 
Conde  falecesse  na  dita  peleja.  No  qual  feito  outra  cousa 
dello  não  pudemos  conhecer,  assim  pelo  que  vimos, 
como  pelo  que  nos  foi  dito  por  outros,  que  eram  no 
dito  caso  que  por  elle  olharam,  que  morreu  como  ca- 
valeiro de  grande  coração  que  elle  era.  No  qual  tempo, 
e  auto  de  peleja,  nós  notificámos  a  todos,  que  elle  nos 
serviu  tão  grandemente,  que  por  muitos  louvores  que 
lhe  déssemos  em  nossas  crónicas  de  seus  feitos,  e  mer- 
cês que  mandássemos  fazer  a  sua  molher,  e  filhos,  e 
criados,  lhe  não  galardoaríamos  seus  grandes  mereci- 
mentos. .  .  lembrando-nos  de  D.  Henrique  de  Meneses, 
seu  filho.  .  .  o  fazemos  conde,  etc!i,r. 

São  bem  notáveis  estas  palavras;  e  os  factos,  como 
logo  indicarei,  não  vieram  posteriormente  embaciar  a 
gratidão  que  nellas  D.  Afonso  V  manifestara  pelos  ser- 
viços e  sacrifício  do  seu  Alferes  mór. 

Diz  o  sr.  Fernandes  Costa,  acusando  o  Africano  de 
ingratidão,  e  referindo-se  á  frase  do  Cronista,  porem  não 
tanto  como  devera :  "E  interessante  e  curioso  ver  o  que 
os  nossos  chronistas  régios,  forçadamente  cortezãos,  sa- 
biam escrever  nas  entrelinhas  das  suas  chronicas.  Ás 
vezes,  uma  phrase  sua  rasga  obscuridades,  enchendo-as 
de  clarões.  Esta  é  das  taes.„ 

Peimita-me  o  ilustre  Académico  discordar  neste  ponto 
da  sua  opinião.  É  conveniente  que  o  historiador  saiba 
ler  nas  entrelinhas  dos  cronistas  oficiaes;  mas  é  neces- 
sário que  entenda  a  leitura. 

Se  a  frase,  porem  não  tanto  como  devera,  fosse  de  Rui 
de  Pina,  como  o  sr.  Fernandes  Costa  supoz,  e  não  de 
Azurara,  como  realmente  é,  entendia-se  perfeitamente. 
Ainda  assim  compreende-se,  porque  a  manha  foi  quasi 
geral   em   todos  os  cronistas.  Era  aquella  uma  das  ma- 

8  Chancelaria  de  I).  Afonso  \\  liv.  S.",  íl.  87. 


CONDES  DE  VIANA  i 

neiras  que  ellcs  tinham,  pobres  mortaes,  de  meter  reque- 
rimentos para  lhes  serem  melhoradas  as  pensões.  Apre- 
sentando os  reis  como  geralmente  avaros,  pouco  largos 
em  recompensar  os  serviços  prestados,  amesquinhavam 

os  cronistas  as  mercês  já  recebidas,  e  criavam  funda- 
mento para  pedir  mais. 

Logo  depois  da  morte  do  Conde  D.  Duarte  deu 
D.  Afonso  V,  alem  do  oficio  de  alferes  mór  e  da  capi- 
tania de  Alcácer,  coisas  que  nesses  tempos  não  eram 
simplesmente  honorificas,  eram  rendosas;  deu,  repito,  o 
condado  de  Viana  a  seu  filho  D.  Henrique  de  Meneses, 
o  qual,  com  o  titulo  de  conde  de  Viana,  encontro  na 
carta  cia  capitania  de  Alcácer,  que  é  de  13  de  março,  e 
noutra  de  13  de  junho  acerca  da  terra  de  Benamarim 
em  Africa  :.  A  20  de  julho  porem,  desse  mesmo  armo  de 
1464,  foi,  como  acima  disse,  D.  Henrique  feito  conde  de 
Valença,  e  senhor  desta  villa  e  da  de  Caminha,  recebendo 
estes  senhorios  em  troca  do  de  Viana,  e  não  creio  que 
ella  fosse  prejudicial  ao  Conde.  E  não  ficaram  ainda  por 
aqui  as  trocas;  porque,  por  carta  de  12  de  novembro  de 
1471,  deu  D.  Henrique  a  el  Rei  as  vilas  de  Valença. 
Caminha  e  Vila  Nova  da  Cerveira,  recebendo  em  vez 
destas  a  de  Loulé,  e  se  ficou  intitulando  Conde  de 
Loulé  s  até  encontrar  a  morte,  também  ás  mãos  dos 
Moiros,  sendo  capitão  de  Arzila,  pouco  antes  de  17  de 
fevereiro  de  1480  9. 

Com  este  filho  de  D.  Duarte  de  Meneses  não  foi 
D.  Afonso  V  ingrato,  apesar  das  trocas,  nada  desvan- 
tajosas para  o  fidalgo,  e  que  obedeceram  ao  propósito 
politico,    desde   então    manifestado,  de  tirar  as   praças 


Chancelaria  de  D.  Afonso   V.  liv.  S.°,  fl.  108;  Alguns  docu- 
mentos da  Torre  do  Tombo,  etc.  paj.  33. 

s  Chancelaria  de  D.  Afonso,   V,  liv.  7.o  fl.  26. 
:'  Liv.  _;.     dos  Brasões  de  Cintra,  paj.  386. 


8  ESTUDOS 

fronteiras  do  poder  dos  nobres.  E  ainda,  alem  de 
muitas  outras  mercês,  lhe  fez  D.  Afonso  V  a  não  pe- 
quena de  o  casar  com  D.  Guiomar,  filha  do  Duque  de 
Bragança,  D.  Fernando  I,  a  quem  el  Rei  deu  um  alvará 
para  este  casamento  l0. 

I).  Garcia  e  D.  Fernando  de  Meneses,  outros  filhos  do 
Conde  D.  Duarte,  se  morreram  em  1484,  um  enterrado 
na  cisterna  do  castello  de  Palmella,  o  outro  degolado 
na  praça  de  Setúbal,  a  culpa  não  foi  de  D.  Afonso  V. 

D.  João  de  Meneses,  o  filho  mais  novo  do  Conde  de 
Viana,  moço  pequeno  ao  tempo  do  seu  falecimento, 
fel-o  el  Rei  bem  novo  capitão  de  Arzila,  por  carta  de 
27  de  abril  de  1481  ".  Conservou  sempre  a  graça  real, 
e  são  innumeras  as  mercês  que  recebeu.  D.  João  II  no- 
meou-o  capitão  de  Tanjer,  governador  da  casa  do 
Príncipe,  e  por  morte  deste  seu  mordomo  mór.  D.  Ma- 
nuel conservou-o  na  mordomia,  fel-o  conde  de  Tarouca 
em  1499,  elejeu-o  prior  do  Crato  em  1508,  e  nomeou-o 
seu  alferes  mór  poucos  meses  antes  de  morrer.  Ainda 
serviu  a  D.  João  III,   menos  de  um  anno  comtudo  l3. 

Creio  ter  desvanecido  a  nódoa  de  ingratidão,  que 
neste  caso  o  Cronista  talvez  não  lançasse  sobre  D.  Af- 
fonso  V,  mas  que  o  sr.  Fernandes  Costa  admitiu. 

Não  é  fácil  escrever  com  acerto  historia  portuguesa, 
fundado  só  na  leitura  dos  cronistas  e  historiadores  pas- 
sados. É  preciso  recorrer  aos  documentos,  ou  aproveitar 
o  que  outros,  baseados  nelles,  teem  escrito,  e  desconfiar 
da  matéria  de  muito  livro  edificado  no  ar,  fujindo  de 
aceitar  como  bons  os  seus  dizeres. 

Nesta  ordem  de  ideias  vou  notar  alguns  equívocos 


1,1  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  30.°,  ti.  102  v. 
11  Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  26.°,  fl.  103  v. 
'-'  Liv.  2.o  ilos  Brasões  de  Cintra,  paj.  122. 


CONDIS  DE  VIANA  9 

em  que  incorreu  o  ilustre  autor  do  artigo  a  que  me 
estou  referindo. 

Lê-se  nelle  que  foram  muito  de  Santarém  os  Tcllez 
de  Meneses.  Foram  efectivamente;  mas  não  eram  da 
família  do  Conde  de  Viana,  nem  no  tumulo  deste  as 
armas,  que  se  esculpiram,  foram  as  daquelles,  em  tudo 
bem  diversas.  A  casa  dos  Tellez  de  Meneses  era  em 
Fora  de  Vila,  e  provieram  elles  de  Fernão  Tellez  de 
Meneses,  senhor  de  Unhão,  filho  segundo  de  Aires 
Gomez  da  Silva,  senhor  de  Vagos,  e  de  sua  mulher 
D.  Brites  de  Meneses,  que  era  dos  Meneses  de  Canta- 
nhede, ramo  muito  diverso  do  dos  Meneses  dos  Condes 
de  Viana.  As  armas  dos  Tellez  de  Meneses,  esquarte- 
ladas  de  leões  e  de  campo  liso,  também  se  encontram 
no  museu  de  Santarém,  onde  o  autor  as  podia  ter  visto 
numa  pedra  trazida  de  uma  capella  da  igreja  de  S.  Do- 
mingos. 

Dos  patronímicos  Tello  e  Tellez  não  usaram  indife- 
rentemente os  dois  grandes  ramos  dos  Meneses.  Tellez 
só  se  encontra  no  ramo  primogénito,  o  de  Cantanhede: 
D.  Gonçalo  Tellez,  D.  Leonor  Tellez.  Tello  encontra-se 
em  ambos  os  ramos,  no  de  Cantanhede,  e  no  dos 
condes  de  Barcellos  e  Viana:  D.  João  Afonso  Tello, 
D.  Afonso  Tello.  As  armas  que  estão  no  tumulo  do 
Conde  D.  Duarte,  são  as  dos  Meneses  das  casas  de  Vila 
Real  e  Tarouca,  e  de  seus  ramos. 

O  tumulo  do  Conde  D.  Pedro,  que  está  na  igreja  da 
Graça  de  Santarém,  não  encerra,  ou  encerrava,  só  o 
cadáver  delle  e  o  da  Condessa  D.  Beatriz  Coutinho  sua 
terceira  mulher.  Também  lá  foi  sepultada  a  primeira, 
D.  Margarida  de  Miranda,  mãe  de  D.  Beatriz  de  Meneses, 
que  sucedeu  na  casa  e  foi  2.a  Condessa  de  Vila  Real, 
e  de  D.  Leonor  de  Meneses,  aquella  a  quem  seu  pai 
deixou  por  herdeira  de  todos  os  bens  patrimoniaes  com 
o  especial  encargo  de  ordenar  a  sua  sepultura,  e  que 


10  ESTUDOS 

foi   a   primeira   mulher  do  depois  3."   Duque  de  Bra- 
gança. 

Da  Condessa  D.  Beatriz  Coutinho  também  teve  o 
Conde  D.  Pedro  uma  filha,  mas  essa  chamava-se  Isabel, 
e  não  Beatriz,  como  o  sr.  Fernandes  Costa  escreveu; 
e  não  foi  encarregada  por  seu  pai  de  coisa  nenhuma 
relativa  á  sua  sepultura. 

Era  efectivamente  o  Conde  D.  Pedro  casado,  quando 
nasceu,  de  Isabel  Dominguez,  mulher  solteira,  seu  filho 
D.  Duarte;  assim  o  declara  a  carta  de  lejitimação  de  15 
de  março  de  1424  ,:;.  E,  como  diz  o  sr.  Fernandes  Costa, 
a  mulher  do  Conde,  então  viva,  era  realmente  D.  Marga- 
rida. Não  se  sabe  quando  se  efeituou  o  primeiro  casa- 
mento de  D.  Pedro  de  Meneses,  que  foi  Conde  de 
Vila  Real  e  depois  de  Viana,  e  não  se  sabe  também 
quando  esta  sua  mulher  faleceu.  Consta  porem  que  em 
1420  se  recebera  elle  com  sua  segunda  mulher,  D.  Filipa 
Coutinho,  não  se  consumando  o  matrimonio,  porque  a 
noiva  morreu  no  mar  vindo  ter  com  o  esposo  a  Ceuta  ''. 

Toda  a  parte  do  artigo  do  sr.  Fernandes  Costa,  que 
se  refere  á  abertura  do  tumulo  do  Conde  D.  Duarte,  e 
ao  que  lá  se  encontrou,  é  interessantíssima,  pela  essência 
e  pela  forma,  e  ficará  na  historia  portuguesa.  Foi  um 
poeta  que  escreveu  aquellas  linhas;  foi  um  poeta  que 
soube  aproveitar  aquellas  três  letras,  a  m  o,  que  talvez 
na  inscrição  não  pertencessem  ao  verbo  amar,  mas  que, 
apresentadas  com  a  arte  do  autor,  enternecem  o  leitor, 
e  redobram  nelle  a  afeição  já  dedicada  á  infeliz  viuva, 
a  Condessa  de  Viana. 

Chamou-se  esta  senhora  D.  Isabel  de  Castro.  Foi  filha 
de   D.   Fernando   de   Castro,   Governador  da  casa  do 


Chancelaria  de  D.João  I,  liv.  4.°,  fl.  74. 
I.iv.  2.o  dos  Brasões  de  Cintra,  paj.  359. 


CONDES  DE  VIANA  1  1 

Infante  D.  Henrique,  c  irmã  do  Conde  de  Monsanto  e 
da  Condessa  de  Abranches.  Casou  em  1449,  antes  de  19 
de  abril   ' ',  com  D.  Duarte  de  Meneses,  que  era  viuvo. 

Paia  este  casamento  dotou  o  Infante  D.  Henrique  três 
mil  e  quinhentas  coroas  de  oiro  a  D.  Duarte,  aprovando 
D.  Afonso  V  o  contrato  por  carta  de  20  de  setembro  de 
1440.  Tinha  el  Rei  também  querido  concorrer  para  este 
enlace;  e  havia,  pouco  antes,  por  carta  de  25  de  agosto, 
dado  certa  tença  em  casamento  a  D.  Isabel  ' '. 

Sobreviveu  a  Condessa  de  Viana  muitos  annos  a  seu 
marido,  e  foi,  no  meio  das  suas  grandezas,  bem  infeliz. 

Á  saudade  imensa  que  a  morte  desastrosa  do  seu  com- 
panheiro lhe  deixou,  acresceram  novos  e  sucessivos 
golpes  que  despedaçaram  o  pobre  coração  de  D.  Isabel. 

Em  1480  morre-lhe  o  filho  mais  velho,  o  Conde  de 
Loulé,  nos  areaes  africanos,  ás  mãos  dos  Moiros,  como 
seu  pai ! 

Em  1484  são  justiçados  por  traidores  ao  Rei  outros 
dois  filhos!  O  Bispo  de  Évora,  que  envenenam  no  fundo 
de  uma  cisterna;  D.  Fernando,  que  degolam  em  publico. 
Da  sua  brilhante  geração  só  subsiste  o  mais  novo, 
D.  João. 

Pois  ainda  a  mulher  forte,  cheia  de  fé  em  Deus  e  de 
resignação  com  a  Sua  divina  vontade,  resistiu  por  mais 
treze  annos ! 

D.  Isabel  de  Castro,  Condessa  de  Viana,  morreu  em 
1497,  entre  13  de  maio  e  15  de  junho  !'. 

Foi  uma  grande  mulher,  cuja  historia  ainda  está  por 
fazer. 

Aldeia,  ()  de  junho  de  1901. 


'•'  "Deu  a  I).  Duarte  de  Meneses  quarenta  e  cinco  mil  reaes,  e  a 
sua  molher  D.  Isabel,  da  sua  tença,  por  carta  de  19  de  abril  de  144')... 
Carta  de  12  de  maio  de  1451,  de  quitação  a  Gonçalo  Monteiro,  almo- 
xarife da  Guarda.  Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  11.°,  fl.  47. 

''  Liv.  2.o  dos  Brasões  de  Cintra,  paj.  377. 

'"  Ibidem. 


A  ORDEM  DE  SANTIAGO 


Ordens  militares  portuguezas  I  Ordem  de  Santiago,  por  Manoel 
Xavier  Trindade  Roquette,  Tenente  de  Infanteria,  com  ura  Prefacio 
de  João  Carlos  Rodrigues  da  Costa,  Coronel  de  Artilharia.  Lei- 
ria, 1901. 


A  Ordem  de  Santiago  da  Espada  foi  instituída  em 
1170  por  D.  Fernando  II  de  Leão,  e  teve  em  Cáceres  o 
seu  primeiro  assento.  Passou  d'aqui  para  Castella,  esta- 
belecendo-se  em  Uclès,  d'onde  irradiou  para  Portugal, 
recebendo  de  D.  Afonso  I,  em  1172,  a  doação  da  vila 
da  Arruda;  mas,  certeza  nenhuma  existe,  dos  Cavaleiros 
terem  nestes  tempos  fixado  domicilio  no  reino. 

No  Livro  dos  Copos  transcreveu-se  uma  bula,  não 
autentica,  de  Alexandre  III,  datada  de  3  de  julho  de 
1175,  na  qual  ha  referencia  á  Ordem  possuir  então  Al- 
cácer, Almada  e  Arruda,  castellos,  que,  juntamente  com 
o  de  Palmella,  lhe  foram  doados  por  D.  Sancho  I  em 
28  de  outubro  de  1186. 

Postos  os  Spatarios  na  vanguarda  das  conquistas  cris- 
tãs, não  puderam  suportar  o  peso  das  armas  musul- 
manas,  e  em  11Q1  estava  perdido  todo  o  território  alem 
do  Tejo,  que  três  daquelles  castellos  dominavam.  Conser- 
varam porem  os  Cavaleiros,  apesar  do  desastre,  a  pro- 
tecção dei  Rei,  que  em  1193  lhes  doou  a  torre  e  paços 
da  Alcáçova  de  Santarém,  e  em  1194  o  edifício  de  San- 
tos ao  poente  de  Lisboa. 


1-1  ESTUDOS 

Tornou  a  fortuna  a  inclinar-se  para  as  armas  cristãs, 
e  os  Spatarios  já  em  1210  estavam  restabelecidos  em 
Palmella,  e  em  1217  em  Alcácer.  Nos  annos  seguintes 
avultaram  as  doações  á  Ordem,  que  em  1235  recebeu 
Aljustrel;  em  1236,  Cezimbra;  em  1239,  Alfajar  de  Pena 
e  Mertola;  em  1240,  Ayamonte;  e  Tavira  em  1244.  Esta 
foi  a  enorme  expansão  que  em  seus  princípios  teve  a 
Ordem  em  Portugal. 

Lira  ella  então  governada,  cá  no  reino,  pelo  Comen- 
dador mór,  que  reconhecia  a  autoridade  do  Mestre  de 
Uclès  em  Castella,  a  quem  obedecia  como  chefe  su- 
premo da  Ordem.  Foi  só  nos  fins  do  XIII  século,  rei- 
nando já  D.  Dinis,  que  teve  logar  o  primeiro  passo 
seguro  dado  pelo  ramo  português  da  Ordem  para  a 
sua  emancipação  do  mestrado  castelhano.  Foi  então  com 
efeito  que  Nicolau  IV,  por  bula  de  17  de  setembro  de 
1288,  renovada  em  1  de  maio  de  1290,  permitiu  aos 
Cavaleiros  e  Freires  da  Ordem  de  Santiago  nos  reinos 
de  Portugal  e  Algarve  elejerem  mestre  d'entre  si. 

Reuniram  logo  em  capitulo  os  Treze  da  Ordem,  e  ele- 
jeram  prelado  a  D.  João  Fernandez.  E  este  considerado 
o  primeiro  Mestre  independente  de  Castella  havido  pela 
Ordem  em  Portugal,  apesar  de  entre  o  seu  governo  e  o 
do  seu  sucessor  nas  mesmas  condições,  ter  mediado 
bastante  tempo,  para  cima  de  dezoito  annos. 

Publicada  a  bula  de  Nicolau  IV,  recorreu  delia  ime- 
diatamente o  Mestre  de  Uclès,  e  encetou-se,  perante  a 
Cúria,  um  formidável  pleito,  que  se  protraiu  com  alter- 
nativas varias  até  que  Bonifácio  VIII  anulou  a  bula 
de  Nicolau  IV,  e  em  1298  já  os  Cavaleiros  portugueses 
estavam  de  novo  sujeitos  ao  mando  do  Mestre  caste- 
lhano. Não  abandonaram  elles  comtudo  a  demanda,  e 
proseguiram  na  luta  mesmo  sob  o  governo  estranjeiro, 
auxiliados  nisso  muito  eficazmente  pelo  Rei.  Sucedeu 
depois  a  longa  vacância  do  sólio   pontifício,  a  qual  se 


ORDEM  DE  SAN  riAGO  15 

estendeu  desde  a  morte  de  Clemente  V,  em  20  de  abril 
de  1314,  até  á  eleição  de  João  XXII,  feita  em  Lião  de 
França  no  dia  7  de  agosto  de  1316. 

Aproveitaram  este  interregno  os  Cavaleiros  portu- 
gueses para  durante  elle  convocarem  capitulo  provincial, 
no  qual  elejeram  mestre  o  Comendador  mor  Lourenço 
Anes,  que,  apesar  de  todas  as  oposições,  se  sustentou  no 
governo  da  Ordem  sempre  amparado  pela  Coroa,  e 
desde  então,  senão  de  direito,  pelo  menos  de  facto,  ficou 
o  ramo  português  separado  do  tronco  castelhano. 

Recorrera  entretanto  o  Mestre  de  Uclès  a  todos  os 
meios,  não  esquecendo  o  da  excomunhão  tão  eficaz 
nesses  tempos,  e  perante  a  Cúria  protestara  por  seus 
procuradores  contra  a  separação.  Foi  atendido,  e  a  bula 
de  17  de  abril  de  1317  ordenou  novamente  aos  Spatarios 
portugueses,  que  reconhecessem  a  autoridade  do  Mestre 
geral  da  ordem  em  Castella.  Interveiu  então  el  Rei 
D.  Dinis  directa  e  enerjicamente  por  meio  dos  seus 
embaixadores  em  Avinhão,  e  com  tanta  eficácia,  que 
obteve  a  suspensão  da  precedente  bula  por  outra  de 
27  de  fevereiro  de  1319,  renovada  a  1  de  julho,  pela 
qual  o  Papa  determinou  entregar  o  conhecimento  da 
causa  aos  Arcebispos  de  Compostela  e  de  Braga. 

Tiveram  realmente  efeito  suspensivo  as  novas  letras 
apostólicas,  e  continuou  a  subsistir  a  separação  das 
Ordens  apesar  dos  esforços  contrários  dos  Castelhanos, 
que  em  1327  mandaram  a  Portugal  um  procurador  para 
dar  cumprimento  á  bula  de  1317,  ao  que  D.  Afonso  IV 
se  opoz  formalmente.  Continuou  pois,  repito,  a  subsistir 
a  separação,  e  nunca  mais  houve  sujeição  dos  Cavalei- 
ros portugueses  ao  Mestre  de  Uclès,  sem  embargo  do 
Papa  em  1333  ter  avocado  a  causa  a  si,  e,  de,  ao  que 
parece,  nunca  o  pleito  ter  tido  julgamento  final  durante 
todo  o  resto  do  XIV  século. 

Diz  Rui  de  Pina  haver  sido  em  1440  que  os  embaixa- 


10  ESTUDI  S 

dores  de  D.  Afonso  V  trouxeram  de  Roma  as  letras  da 
independência  absoluta  da  Ordem  de  Santiago  portu- 
guesa da  castelhana.  Pode  ser.  Encontro  todavia  uma 
carta  passada  em  Abrantes,  a  3  de  junho  de  1446,  a 
D.  João,  Bispo  de  Ceuta,  que  estivera  pela  segunda  vez 
em  Roma  como  embaixador  no  anuo  de  1444,  pela 
qual  lhe  é  dada  quitação  de  certa  quantia  despendida 
com  a  desanexação  do  mestrado  de  Santiago  '.  A 
Cúria  naquelles  tempos  era  maquina  que  não  trabalhava 
sem  ser  untada,  e  por  isso  não  creio  que  ella  produzisse 
antes  de  lubrificada.  O  certo  por  tanto  é  a  bula  ter  sido 
concedida  por  Eugénio  IV  a  rogo  daquelle  Embaixador, 
que  no  tempo  das  suas  missões  era  ainda  somente 
Fr.  João,  Provincial  do  Carmo. 

Finalmente  Nicolau  V,  em  bula  de  17  de  junho  de 
1452,  confirmou  á  Ordem  de  Santiago  de  Portugal  todos 
os  privilejios,  isenções  e  prerogativas  de  que  a  de  Cas- 
tella  gozava. 

A  melhor  parte  do  que  acima  fica  dito  é  extraída  da 
excelente  Historia  da  administração  publica  em  Portu- 
gal, do  sr.  Henrique  da  Gama  Barros,  livro  que  honra 
tanto  seu  autor,  continuador  directo  dos  grandes  mes 
três,  como  esta  lusa  terra  tão  pobre  em  monumentos 
daquella  ordem ;  livro  que  tem  tido  da  parte  dos  nossos 
críticos  periodiqueiros  a  consagração  do  silencio,  sintoma 
muito  apreciável. 

O  sr.  Roquette  no  seu  folheto  acerca  da  Ordem  de 
Santiago  desenvolve  o  que  resumidamente  fica  dito? 
—  Não. 

Elle  anda  para  traz  e  para  diante.  Tão  depressa  não 
admite  a  existência  da  Ordem  antes  da  sua  instituição, 
o  que   parece  razoável ;  como  afirma,  na  paj.  25,  que 


1  Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  5.°,  fl.  õ4. 


0RD1  M   DE  SANTIAGO  17 

quarenta  c  dois  annos  antes,  no  começo  do  reinado  de 
D.  Afonso  Henriquez,  já  a  Ordem  estava  em  Portugal, 
fazendo  dos  Spatarios  uma  sorte  de  pescadas,  o  que 
não  parece  razoável. 

Não  admira  esta  indecisão  num  autor,  que  não  con- 
sultou um  único  documento;  num  autor  que  se  não 
socorreu  de  nenhum  livro  merecedor  de  confiança.  As 
Dissertações  de  João  Pedro  Ribeiro,  a  Historia  de  Por- 
tugal de  Herculano ;  a  própria  Historia  de  Portugal  de 
Herculano  !  o 'Quadro  Elementar  do  Visconde  de  Santa- 
rém, a  Historia  da  administração  do  sr.  Gama  Barros,  são 
tudo  fontes  desprezadas  pelo  sr.  Roquette,  para  quem  os 
autores  de  fé  são  Fr.  Jerónimo  Roman,  Pedro  de  Mariz, 
Fr.  Agostinho  de  Santa  Maria,  e  outros  quejandos. 

Na  paj.  26  cita-se,  é  verdade,  um  autor  venerando  e 
venerado,  Fr.  António  Brandão ;  mas,  por  sinal,  põe-se- 
lhe  na  boca  o  que  elle  não  disse. 

Na  Monarehia  Lusitana,  no  cap.  XV  do  liv.  VIII 
transcreveu  Brandão  uma  escritura  do  Conde  D.  Henri- 
que, datada  de  5  dos  idos  de  dezembro  da  era  de  1135 
(9  de  dezembro  de  1097  da  era  vulgar),  de  confirmação 
dos  privilejios  da  Cornelhã  á  igreja  de  Santiago  de 
Compostela.  Apesar  da  tradução  portuguesa  seguir  logo  o 
orijinal  latino,  apesar  do  Cronista  mor  bem  claramente 
dizer  que  a  mercê  fora  feita  ao  Apostolo,  entendeu  o 
sr.  Roquette  que  ella  havia  sido  á  Ordem,  e  assevera-nos 
que  o  douto  Brandão  quis,  com  este  documento,  provar 
a  protecção  já  nesse  tempo  dispensada  á  Ordem  pelo 
Conde  D.  Henrique!  E  não  ficou  ainda  por  aqui.  Sem 
prova,  nem  exame,  sem  ao  menos  se  escudar  com  auto- 
ridade alheia,  não  hesita  em  insinuar  a  falsidade  do  do- 
cumento! Não  é  elle  apócrifo,  não;  socegue.  Nunca  nin- 
guém se  lembrou  de  tal  cuidar,  e  João  Pedro  Ribeiro 
aceitou-o  sem  duvida,  e  Herculano  fez  obra  por  elle. 

Disse  lá  acima,  que  o  autor  nenhum  documento  com- 


18  ESTUDOS 

pulsara  directamente;  encontro  porem  agora  na  paj.  45 
a  citação  do  Livro  dos  mestrados  H.  188.  Tive  curiosi- 
dade ;  fui  ver,  e  nada  lá  encontrei  que  nem  de  lonje  se 
refira  ao  que  se  diz  no  texto,  invocando  a  citação.  Os 
autores  antigos  pregam  muita  vez  partidas  destas,  a 
quem  se  não  acautela,  conferindo  as  suas  citações. 

Seria  fastidioso  estar  a  corrijir  todos  os  erros,  a  cada 
passo  cometidos  pelo  autor  da  Ordem  de  Santiago; 
mas  para  os  meus  leitores  ficarem  bem  inteirados,  apon- 
tar-lhes-hei  mais  um,  transcrevendo  de  paj.  86  o  se- 
guinte período:  "No  reinado  de  D.  João  II,  em  Santarém, 
sendo  administrador  do  mestrado  o  Príncipe  herdeiro 
D.  Afonso,  no  anno  de  1480,.,  reuniu-se  o  capitulo  geral. 

Neste  anno  reinava  D.  Afonso  V,  e  aquelle,  a  quem  o 
autor  chama  Príncipe  D.  Afonso,  era  então  o  Infante 
I).  Afonso  e  tinha  cinco  annos  de  idade.  Para  ajuizar 
da  falta  de  cuidado  com  que  o  folheto  foi  escrito,  aquella 
amostra  basta. 

O  catalogo  geral  dos  Mestres,  que  constitue  o  capi- 
tulo IV  do  folheto,  trouxe-me  á  lembrança  a  lista  geral 
da  Misericórdia,  com  a  diferença  de  nesta  só  se  verem 
números,  ao  passo  de  naquelle  nem  um  algarismo  se 
encontrar.  Datas  ficaram  no  tinteiro;  e  talvez  fosse  melhor. 

Não  conheço  o  sr.  Roquette,  nem  de  vista  nem  de 
nome;  não  me  move  contra  elle  nenhuma  espécie  de 
má  vontade,  bem  pelo  contrario.  Vejo  pelo  seu  posto 
no  exercito,  tenente  de  infantaria,  que  é  homem  moço. 
Suponho-o  trabalhador  e  desejoso  de  acertar  nas  suas 
investigações  históricas,  e  por  isso,  com  a  rude  mas  ino- 
fensiva franqueza  de  um  velho  que  tem  estudado  um 
pouco  a  historia  nacional,  lhe  digo  que  ponha  este  seu 
folheto  de  parte,  e  trate  de  o  refazer,  estudando  bem  o 
assunto,  consultando  os  documentos,  seguindo  os  bons 
autores.  Destes  já  lá  em  cima  lhe  apontei  uns  poucos ; 
dos  outros,  dos  documentos,  dir-lhe-hei  que  se  encon- 


ORDEM  DE  SANTIAGO  1" 

tram  muitos  e  preciosos  na  Torre  do  Tombo  acerca  da 
Ordem  de  Santiago,  a  mais  rica  neste  ponto  das  nossas 
ordens  militares.  Tem  lá  o  Livro  dos  Copos,  para  o 
mais  antigo;  tem  os  primeiros  livros  da  chancelaria  para 
os  tempos  de  IX  João  II  e  seguintes. 

E  não  se  peje  de  fazer  nova  edição ;  tem  moderna- 
mente ótima  companhia.  Aqui  está  o  sr.  Visconde  de 
Sanches  de  Frias,  que  já  deve  talvez  ter  idade  para 
major,  e  que  ainda  ha  poucos  annos  publicou  um  folheto 
intitulado  Pcéibeiro  da  Beira,  do  qual  fez  logo  depois 
segunda  edição,  emendando  os  erros  que  na  outra  enxa- 
meavam. É  verdade  não  ter  o  caso  aproveitado  a  este 
autor,  que  ha  poucos  meses  publicou  um  drama,  intitu- 
lado O  poeta  Garcia,  e  precedido  de  uma  noticia  bio- 
gráfica, na  qual  as  inexactidões  também  abundam,  facto 
de  que  já  está  avizado,  e  que  provavelmente  dará  logar 
a  segunda  edição.  E,  se  assim  suceder,  todos  ganhare- 
mos com  isso,  até  o  autor,  provando  a  honestidade  e 
desejo  de  acertar  com  que  estuda. 

Não  hesite  pois  o  sr.  Roquette  em  seguir  este  exem- 
plo, que  não  é  único;  mas  não  paga  a  pena  estar  a  citar 
outros. 

Uma  das  coisas  mais  nocivas,  para  alguns  que  escre- 
vem sobre  historia  portuguesa,  são  os  elogios  dos 
críticos  da  imprensa  periódica,  pessoas  que  em  geral 
gozam  de  uma  tão  absoluta  ignorância  da  matéria,  que 
causa  pasmo  e  verdadeiro  assombro. 

Quanto  ao  prefacio  do  sr.  João  Carlos  Rodrigues  da 
Costa,  coronel  de  artilharia,  achei-o  de  muito  salutar 
lição.  Mostrou-me  o  que  seria  na  essência  um  prologo 
meu,  se  eu  caísse  na  peta  de  o  antepor  a  um  tratado 
acerca  das  vantagens  da  artilharia  de  montanha  sobre  a 
de  campanha  para  o  assedio  das  praças  fortes. 

Aldeia,  dia  de  Santiago,  25  de  julho  de  1901. 


RAPARIGA5  DO  CANCIONEIRO 


índices  do   Cancioneiro   de  Resende  c  das   Obras  de  Gil  Vicente. 
Lisboa,   DOO,  edição  de  vinte  exemplares  pára  ofertas. 

Estamos  em  Évora  na  tarde  de  segunda  feira  1Q  de 
abril  de  1490. 

Em  frente  da  casa  do  Secretario,  onde  festiva  boda 
decorria,  era  extraordinária  a  multidão,  ajitando-se  fre- 
mente, anciosa  por  ver,  o  que  tanta  vez  presenceara. 
Começaram  os  convidados  a  descer  a  escada.  Após  elles, 
Afonso  Oarcês  e  Isabel  Fernandez,  os  donos  da  casa, 
acompanhados  de  seus  filhos  e  genro,  fizeram  circulo 
fora  do  limiar  da  porta.  Assomaram  logo  entre  as  om- 
breiras dois  mancebos,  e  atraz  delles  um  homem  rica- 
mente vestido,  novo  ainda,  um  pouco  grosso,  mais  alto 
do  que  baixo,  de  rosto  comprido  e  corado,  olhos  pretos 
graciosos,  barba  preta,  cabelo  corredio,  gesto  grave,  mas 
afável. 

El  Rei !  El  Rei !  Bradou  o  povo ;  e  todos  avançaram, 
apertandose. 

Então  parou  o  homem,  e  dirijiu  em  roda  de  si 
aquelle  olhar,  "que  fazia  muito  maior  lugar  do  que  todos 
os  oficiaes  e  porteiros  com  muito  trabalho  podiam  fa- 
zer.,. Recuou  tudo,  e  fez-se  praça  suficiente  para  se  orga- 
nizar o  cortejo.  Á  frente  os  arautos  e  passavantes, 
seguidos  dos  porteiros  e  oficiaes;  depois  alguns  oficiaes 


22  ESTUDOS 

mores,  os  Vedores  da  Fazenda,  e  o  Mordomo  mór  pre- 
cedendo cl  Rei,  que  dava  a  direita  ao  Príncipe  e  a 
esquerda  ao  Duque.  Logo  atraz,  ainda  um  pouco  no 
lado,  o  Capitão  dos  ginetes  seguido  dos  cavaleiros  da 

guarda. 

Encamiríhou-se  a  cavalgada  direito  á  Praça. 

Entretanto  em  sua  casa  apertava  Afonso  Garcês  nos 
braços  a  sua  Margarida,  e  estremamente  comovido  com 
a  honra  que  sua  alteza  lhe  fizera  de  vir  em  pessoa  ao 
casamento  de  sua  filha,  a  entregava  a  seu  marido,  Luis 
da  Costa,  que  havia  pouco  recebera,  como  brinde  de 
bodas,  a  mercê  de  um  oficio  de  escrivão  da  Fazenda  real. 

Nisto  chegava  a  cavalgada  á  Praça,  onde  destroçou 
em  parte,  ficando  el  Rei  com  o  Príncipe,  o  Duque  e  al- 
guns mais,  a  passear.  Dadas  poucas  voltas,  apareceu 
no  topo  da  rua  dos  Mercadores,  subida  a  galope, 
Filipe  do  Casal,  que  a  toda  a  brida  desde  a  torre  dos 
Coelheiros  corria  pressuroso  a  dar  a  el  Rei  a  grata  nova 
de  na  véspera,  em  Sevilha,  o  Coudel  mór  haver  rece- 
bido por  palavras  de  presente,  em  nome  do  Príncipe,  a 
Infanta  D.  Isabel  de  Castella  e  Aragão.  Salta  o  mensa- 
jeiro  em  terra  ao  approssimar-se  dei  Rei  e,  ainda  antes 
de  lhe  beijar  a  mão,  lhe  grita  ofegante  a  noticia. 

Num  relance  de  olhos  lembra  D.  João  II  ao  Vedor 
da  Fazenda  D.  Martinho  de  Castelbranco,  organizador 
dos  festejos,  o  que  cumpria  ordenar;  e  ao  cabo  de  pou- 
cos minutos,  o  repique  dos  sinos,  o  estridor  das  trom- 
betas, o  estrépito  das  bombardas,  a  estai  ida  dos  fogue- 
tes, atroavam  os  ares.  Todos  em  Évora  ficaram  sabendo 
a  alegre  nova. 

Em  quanto  se  acendiam  os  fogaréos,  se  enramavam 
e  embandeiravam  as  ruas,  e  os  muros  e  torres  da  cidade, 
subia  el  Rei  com  o  Príncipe  e  mais  comitiva  á  Sé,  a 
dar  graças  a  Deus,  e  a  rogar  Sua  benção  para  os  espo- 
sados; mas  dessa  vez  Deus  foi  surdo. 


RAPARIGAS  DO  CANCIONEIRO  23 

Na  volta,  pela  rua  da  Selaria  abaixo,  todos  bem  ale- 
gres e  satisfeitos  seguiam  el  Rei,  que  de  repente  parou, 
por  se  lhe  ter  atravessado  adiante  uma  rapariga,  que  de 
pandeiro  na  mão  se  poz  a  cantar  e  bailar  no  meio  da 
rua,  com  tanta  graça,  meneio  e  requebro,  que  el  Rei 
soltou  um  valente  bravo,  e,  pegando  nella,  a  lançou 
nas  ancas  da  mula,  e  assim  a  levou  ao  paço  para  dan- 
çar e  cantar  ante  a  Rainha. 

Esta  bailadora  da  rua  da  Selaria  não  era  nenhuma 
cachopa  dos  arredores  de  Évora;  não  era  a  filha  de 
nenhum  cidadão  honrado  da  cidade;  não.  Era  uma 
fidalga  das  mais  altas  linhajens  da  corte,  uma  neta  de 
D.  Henrique  II  de  Castella,  D.  Briolanja  Henriquez  se 
chamava;  D.  Henrique  Henriquez,  senhor  das  Alcáçovas 
e  Aposentador  mor,  era  seu  irmão;  Aires  de  Miranda, 
Alcaide  mor  de  Vila  Viçosa,  seu  marido. 

Tornara-se  aquella  tarde  de  tanto  prazer  e  alvoroço, 
que  todos  parecia  haverem  perdido  o  juizo;  e,  assim 
como  os  velhos  Rui  de  Sousa,  senhor  de  Sagres,  e 
Diogo  da  Silva,  aio  do  Duque,  se  tinham  posto  a  pular 
e  cantar  no  meio  da  rua,  não  era  para  estranhar  que 
uma  mulher  moça  lhes  seguisse  o  exemplo.  E  então 
estas  raparigas  da  corte  de  D.  João  II  e  de  D.  Manuel, 
que  eram  mesmo  levadinhas  da  breca. 

Namoradeiras,  volúveis,  trocistas,  traziam  os  cortesãos 
seus  servidoros  pela  arriata. 

Quem  ousa  de  me  servyr 
em  grão  pervguo  se  mete; 
ha  mil  despresos  de  ouvyr, 
e  tanto  mal  de  sentir, 
com  que  lhe  sue  o  topete  '. 

Isto  declarava  pelos  annos  de  1482  uma  D.  Guiomar, 
respondendo  a  certa  cantiga  de  Francisco  da  Silveira. 

1  Cancioneiro  gemi,  fl.  107,  col.  4.-> 


24  ESTUDOS 

Esta  I).  Guiomar,  Dama  do  Paço,  não  é  fácil  dizer 
quem  fosse;  não  era  comtudo  nenhuma 

das  três  grandes  Ouioinares, 

a  quem  D.  Francisco,  futuro  Conde  do  Vimioso,  se 
refere  muito  depois,  em  versos  dirijidos  do  paço  de 
Santos,  em  março  ou  abril  de  1511,  a  D.  Rodrigo  de 
Castro,  sogro  de  D.  João  Lobo,  que  os  levou  á  Beira, 
onde  D.  Rodrigo  então  estava,  provavelmente  na  Covi- 
lhã de  que  era  alcaide  mor  '-'. 

Das  três  grandes  Guiomares 

pudera  ser  uma  a  filha  de  Duarte  Galvão,  aquella 
D.  Guiomar  de  Meneses  a  quem  Simão  de  Sousa  do 
Sem  dirijiu,  pelos  annos  de  150S,  estes  versos: 


Vossa  graça  e  parecer 
vay,  senhora,  de  maneyra, 
que  deve,  quem  quer  vyver, 
de  fazer  por  vos  uaiu  ver, 
ahynda  qu'ele  uaiu  queyra. 
E  deve-se  d'entender, 
em  quem  vos  nam  tenha  visto; 
porque,  depoys  de  vos  ver, 
nam  se  pode  fazer  isto. 
Que,  quem  vos  bem  conhecer 
e  vos  vir,  que  Deos  não  queyra, 
nam  pode  leyxar  de  ser 
S'qsso,  em  quanto  vyver, 
nem  vyver  doutra  maneyra  :. 


'-'  Cancioneiro,  fl.  82,  col.  2.a.  Na  Gente  do  Cancioneiro,  p.  2<)5 
do  X  vol.  da  Revista  lusitana,  puz  a  data  destas  trovas  entre  março 
de  1510  e  igual  mês  de  1512;  agora  porem  posso  precisa-la  muito 
mais  porque  sei,  por  does.  do  Corpo  cronolojico,  ter  a  corte  perma- 
no  paço  de  Santos,  donde  são  dirijidas  as  trovas,  desde  fins 
de  fevereiro  até  fins  de  abril  de  1511. 

1  Cancioneiro,  fl.  153,  col.  3.^ 


RAPARIGAS  DO  CANCK  kNEIRO  25 

Delia,  na  primavera  de  1510,  dizia  Oarcia  de  Resende: 


D.  GUyomar  de  Meneses 

está  fora,  ha  oyto  meses, 
do  paço,  num  moesteyro 


Talvez  fosse  para  socegar. 

Comtudo  é  certo  que  no  Cancioneiro  se  mencionam 
outras  três  Guiomares,  todas  florescendo  na  corte  no 
ultimo  quartel  do  século  xv. 

Uma,  era  D.  Guiomar  Henriquez.  Estava  esta  doente 
no  verão  de  1408,  quando  foram  os  juramentos  de 
Castella,  na  ocasião  em  que  João  Oomez  de  Abreu 
mandou  para  Aragão  novas  de  Lisboa.  Apesar  de 
doente,  ainda  metia  medo  ao  poeta: 


Diz,  que  disse  dela  mal ; 
está  de  mytn  descontente, 
e  ser  disso  ynocente 
nam  me  vaí  '. 


Era  sobrinha  da  D.  Briolanja  da  rua  da  Selaria,  e  foi 
mulher  de  Oarcia  de  Mello,  o  Brazeiro,  heroe  de  uma 
porquissima  aventura  num  serão  dei  Rei.  Teve  uma 
prima  de  quem  diziam: 

Porque  he  tam  mau  rapaz 
Dona  Margarida  Anriqttè?G 

Outra,  era  D.  Guiomar  de  Meneses,  donzella  muito 
volúvel,  a  quem  D.  João  de  Meneses,  lastimàndo-se  a 
si,  e  ao  Prior  do  Crato,  que  lha  tirara,  dirijiu,  pelos 
annos  de  1487,  estas  trovas: 


'  Cancioneiro,  fl.  216.  col.  1. 
'Ibidem,  fl.  190,  col.  V> 
6 Ibidem,  fl.  175,  col.  o.* 


26  ESTUDOS 

Eu,  porque  mela  deyxou  ; 
i  triste,  que  a  levar, 
porque  cedo  o  ha  de  deyxar. 
Levou  ma,  mas  não  por  ter 
melhores  trunfos  nem  mais, 


senam  so  por  cila  ser 

tal,  que  nunca  pode  estar 
hum 'ora  sem  se  mudar. " 


A  terceira,  foi  I).  Guiomar  de  Castro,  a  mais  ladina 

das  três,  a  qual   um   dia,  diante  de  muitos,  espetou  a 

lingua  pela  boca  de  seu  irmão  D.  Rodrigo  que  depois 

explicava: 

Mays  comprida  e  mays  del^uada 

achev  a  sua  que  a  minha, 

porque  toda  a  campainha 

me  leyxou  escalavrada. 

E  fez-me  tão  grandes  briguas 

nos  queixays, 
que  mos  iiom  fizera  tays 
hum  grande  molho  d'ortiguas. 

Eu  disse-lhe:  tate  perra! 
nam  metays  assy  de  ponta 
a  lingoa,  que  tanto  monta 
como  (is  da  boca  em  terra; 

fazei  conta. 
Dizia:  Mano,  deixay-me 
em  quanto  tenho  luguar. 
E  eu  bradava  :  Soltay-me ! 
Deixay-me  resfoleguar, 
(.pie  me  quereis  afoguar  ! s 

Veio  D.  Guiomar  a  casar,  pelos  annos  de  14S2,  com 
Aires  da  Silva,  Camareiro  mor  e  Rejedor  das  justiças, 
e  passou  a  ser  senhora  grave  e  sisuda,  como  sucedia  ás 
mais  traquinas  donzellas,  facto  muito  notável  nas  rapari- 
gas daquelles  tempos.  Efectivamente  é  relativamente  fácil 
encontral-as,  em  quanto  solteiras,  envolvidas  em  aven- 
turas, que  chegaram  muito  lonje;  depois  de  casadas 
porem,  o  caso  é  raro.  Hoje  dá-se  por  cá  o  inverso. 

E  por  aquelles  tempos  já  também  isso  mesmo  sucedia 

Cancioneiro,  ti.  IS  col.  l.a 

'  Ibidem,  ti.  166.  col.  4..< 


RAPARIGAS  DO  CANCIONEIRO  27 

em  França,  onde  Brantôme  encontra  muitas  mais  belles 
et  honnesies  dames  entre  as  casadas,  do  que  nas  soltei- 
ras. Mas  não  se  compara  o  desregramento  da  corte  fran- 
cesa dos  Valois,  com  a  liberdade  dos  contemporâneos 
paços  portugueses.  Nestes  as  belles  et  honnestes  dames 
eram  também  vertucuses,  qualificativo  que  ao  solteirão 
francês  servia  para  estremar  as  sem  macula. 

O  que  as  nossas  teriam,  seria  mais  desenvoltura  nos 
modos;  eram  mais  bravias.  Vou  talvez  dizer  uma  heresia, 
mas  encontro  nas  donzellas  da  corte  daquelles  tempos 
muito  das  varinas  de  antanho.  Elias  eram  desempenadas, 

fortes: 

Pêra  parecer  donzela 

cousas  tendes  bem  que  farte  !l. 

Bailavam,  cantavam,  tinham  a  resposta  pronta  em 
prosa  ou  verso,  e  a  frase  livre. 

Brás  da  Costa  mandou  comprimentar  uma  sua  prima 
no  dia  do  seu  casamento,  e  ella  respondeu: 

—  Dizei  lá  a  vosso  amo,  que  não  estou  para  o  aturar 
vou  entrar  em  batalha  '". 

Não  é  agora,  aqui,  sobre  o  joelho,  só  quasi  á  vista 
destes  índices,  que  se  pode  fazer  um  estudo  desenvol- 
vido acerca  das  donzellas  da  corte  daquelles  tempos; 
mas  que  interessante  não  seria  elle? 

Os  autores  dos  índices,  os  Novos  Obsequiosos  de  Sa- 
cavém, como  elles  se  assinam  no  fundo  do  prefacio, 
tiveram  sobretudo  em  mira,  vê-se,  proporcionar  dados 
biográficos".    D'aqui   resultou   que,    mesmo   na    parte 


''  Cancioneiro,  fl.  154,  col.  5.;> 

111  Ibidem,  fl.  132,  col.  3.-> 

11  Um  dos  Novos  Obsequiosos  de  Socavem  era  eu  próprio;  mas 
na   realidade,   na  composição  dos  índices,   não  tive,  pode-se 
parte  nenhuma;  foi   tudo  organizado  pelo  Visconde  de  Cas 
Alem  d'isso,  pretendi  com  este  artigo  encubrir  mais  o  segredo,  que 
então  envolvia  o  criptonimo  Si/cx,  com  que  assinava  estes  artig  -. 


28  ESTUDOS 

relativa  ao  Cancioneiro,  e  só  me  referirei  a  esta,  porque 
a  outra,  a  concernente  aos  Autos,  os  próprios  autores 
confessam  ser  "um  pouco  menos  completa-,;  na  parte 
pois  do  Cancioneiro,  repito,  ainda  acho  o  índice  algo 
incompleto.  Para  as  biografias  dá  talvez  todas  as  indica- 
ções necessárias;  mas  ha  omissão  de  alusões  a  muitas 
coisas  da  vida  social,  que  se  encontram  mencionadas 
fujiti vãmente  em  vários  pontos  do  Cancioneiro.  O  bra- 
gal  de  Arouca,  as  mantilhas  da  Beira,  as  mantas  do 
Alemtejo,  as  empreitas  de  Ceuta,  as  luvas  de  lã  da 
Covilhã,  os  bancos  de  Flandres  e  outros  objectos,  não 
encontraram  cabimento  no  índice. 

Falando  no  Cancioneiro  nada  hei  de  dizer  de  quem  o 
colijiu?  E,  tendo  tantas  noticias  de  Garcia  de  Resende, 
hei  de  me  calar?  Nada,  mas  ficará  para  outro  estudo. 

Aldeia,  4  de  agosto  de  1901. 


V 


GARCIA   DE  RESENDE 


No  "Jornal  do  Commercio»  de  17  de  agosto  de  1901 
comecei  a  desempenhar-me  da  promessa  feita  no  final 
do  estudo  precedente,  transcrevendo  do  meu  livro  Sepul- 
turas do  Espinheiro,  então  ainda  no  prelo,  o  capitulo 
relativo  a  Garcia  de  Resende.  Poderia,  agora  que  o  livro 
já  está  publicado,  dispensar-me  da  transcrição;  pare- 
ce-me  porem  que,  tratando-se  de  pessoa  tão  notável  nas 
letras  pátrias,  não  deveria  perder  o  ensejo  de  juntar  ao 
já  divulgado  mais  algumas  notas  e  observações  sujeridas 
por  posteriores  investigações.  Transcreverei  pois  o  capi- 
tulo, introduzindo-lhe  vários  acrescentamentos  e  modifi- 
cações. No  fim,  alem  das  memorias  icerca  de  Jorje  de 
Resende  já  por  mim  coordenadas  no  acima  referido 
estudo  histórico  e  agora  um  tanto  ampliadas,  porei  mais, 
em  Aditamentos,  algumas  noticias  desconhecidas  relati- 
vas a  Duarte  e  André  de  Resende.  Ficarão  assim  expos- 
tos, em  um  único  quadro,  todos  os  elementos  que  para 
as  biografias  dos  quatro  Resendes,  escritores  quinhen- 
tistas, pude  apurar. 

No  mosteiro  do  Espinheiro  da  Ordem  de  S.  Jerónimo, 
junto  a  Évora,  encontram-se  sepulturas  de  grandes  senho- 
res, fidalgos,  heroes,  estadistas.  Agora  porem  referir-me- 
hei  simplesmente  á  de  um  homem  que  nem  foi  fidalgo, 


]\  ESTUDOS 

nem  heroe  nem  estadista,  mas  que  deixou  seu  nome 
pairando  mais  alto  que  o  dos  outros  todos.  Á  penna 
deveu  ( iarcia  de  Resende  a  sua  fama,  apesar  de  também 
não  ter  sido  nem  grande  poeta,  nem  insigne  historiador. 
Do  poeta  apenas  mereceram  louvor  a  Castilho  as  Tro- 
vas á  morte  de  D.  Inês  de  Castro;  ao  livro  do  histo- 
riador chama  Herculano,  em  dia  aziago,  é  certo,  "mes- 
quinha colecção  de  historietas,..  Pois,  apesar  disso,  o 
nome  de  (iarcia  de  Resende  soa  alto  na  literatura  por- 
tuguesa. 

Nas  suas  historietas  apresenta-nos  elle  a  descripção 
de  usos,  custumes,  trajos,  ceremonias;  dá-nos  trechos  de 
conversações,  noticias  de  relações  sociaes,  e  muitas  outras 
informações  interessantes,  incluindo  as  aneedotas,  que 
nos  revelam  em  parte  o  modo  de  viver  da  gente  portu- 
guesa daquelles  tempos.  £  nós,  que  não  temos  memorias 
da  vida  intima  de  ninguém;  nós,  que  sabemos  a  valia 
da  historia  oficial  dos  cronistas  coada  pela  censura; 
nós,  que  nesta  historia,  árida  e  seca,  só  encontramos  a 
noticia  das  acções  dos  reis  e  próceres,  e  não  sentimos 
nella  o  pulsar  da  vida  nacional;  nós,  estimamos,  louva- 
mos, e  sobretudo  agradecemos  a  Resende  o  seu  livro, 
que  aos  nossos  olhos  revive  as  gerações  passadas. 

Herculano  tinha  dois  heroes:  D.  João  I,  como  rei; 
Fernão  Lopez,  como  cronista.  D.  João  II  e  Garcia  de 
Resende,  detestava-os.  Pois  olhe  o  Mestre,  que,  se  na 
vida  de  D.  João  II  ha  o  assassínio  do  Duque  de  Vizeu, 
na  de  D.  João  I  lá  está  o  do  Conde  de  Ourem;  com  a 
diferença,  que  o  Príncipe  Perfeito,  Rei  de  Portugal, 
matou  um  parente  que  lhe  jurara  pela  vida;  ao  passo 
que  o  Rei  da  Boa  Memoria,  sendo  apenas  um  fidalgo 
pretendente  nem  ainda  sabia  a  quê,  assassinou  um 
homem  só  para  desbravar  um  pedaço  de  caminho.  Na 
premeditação,  no  disfarce,  na  companhia  que  lhes  guar- 
dava as  costas,  contrapesam-se  os  dois  réjios  assassinos; 


GARCIA  DE  RESENDE  >1 

mas  avantaja-se  muito  D.  João  II  ao  Mestre  de  Avis  no 
facto  de  defender  a  monarquia  na  sua  pessoa,  que,  ao 
baquear  assassinada,  podia  na  queda  arrastar  até  a  pró- 
pria independência  nacional. 

D.  João  I,  ajudado  pelo  seu  grande  Condestavel,  ven- 
ceu a  batalha  de  Aljubarrota,  em  sua  casa,  dentro  no 
reino,  defendendo  este  de  uma  invasão  opressora  e  de- 
testada; o  Príncipe  D.  João,  desajudado  de  todos,  ganhou 
a  batalha  de  Toro,  em  país  estranho,  hostil.  D.  João  I, 
ao  cabo  de  quarenta  e  oito  annos  de  reinado,  dos  quaes 
vinte  e  dois  pacíficos,  deixou,  é  certo,  o  reino  aumentado 
e  prospero;  D.  João  II,  em  catorze  annos  de  governo, 
dos  quaes  os  três  primeiros  bem  ajitados,  e  os  três 
últimos  bem  angustiados,  levantou  a  nação  da  ruina  a 
que  seu  predecessor  a  levara,  e  deixou  tudo  pronto 
para  as  assombrosas  venturas  de  seu  sucessor.  E,  se 
não  ha  comparação  entre  os  resultados  que  a  Portugal 
trouxeram  aquellas  duas  batalhas,  também  é  incompa- 
rável a  conquista  de  Ceuta  com  o  descobrimento  da 
índia. 

A  que  fastijio  não  subiria  Portugal,  se  D.  João  II 
tivesse  tido  os  quarenta  e  oito  annos  de  reinado  que 
seu  glorioso  bisavô  alcançou?  A  que  prosperidade  não 
chegaria  o  reino,  se  os  grandes  acontecimentos  do  prin- 
cipio do  xvi  século  tivessem  cabido  no  reinado  de 
D.  João  II,  em  vez  de  sucederem  no  de  D.  Manuel?. . . 
D.  Manuel!. . .  O  rei  piegas,  que,  metido  entre  as  saias 
da  mamã  e  das  manas,  começou  logo  de  principio  a 
arruinar  o  Estado,  restituindo  a  casa  aos  Braganças 
expulsando  os  Judeus  e  Moiros! 

A  crónica  de  Fernão  Lopez  avantaja-se  muito  á  de 
Garcia  de  Resende?  Não  ha  nisto  duvida;  mas  também 
que  diferença  enorme  não  existe  nas  acções  pelos 
dois  historiadores  narradas.  Coube  em  sorte  a  Fernão 
Lopez  relacionar  os.  feitos  épicos  de  um  povo.  que  de- 


32  ESTUDOS 

fendia  sua  independência  com  a  enerjia  de  um  heroe, 
que  pugna  pela  honra  e  pela  vida;  pertenceu  a  Resende 
contar  a  existência  de  uma  nação,  que  debaixo  do 
sétro  do  "melhor  rei  do  mundo,,,  como  lhe  chamava, 
apesar  de  inimigo,  o  Cardeal  de  Alpedrinha,  viveu 
feliz,  e  portanto  não  teve  historia.  H  já  repararam  para 
o  final  da  crónica  de  Fernão  Lopez?  Não  a  acham, 
nesta  parte,  muito  desbotada,  comparando-a  com  o 
principio?  É  porque  aos  tempos  revoltos  tinham  suce- 
dido os  socegados;  é  porque  o  povo,  salva  a  sua 
independência,  começava  a  viver  feliz. 

Desculpar-me-ha  o  leitor  esta  sorte  de  reivindicação 
histórica  a  modo  de  desabafo?  Talvez  não;  mas  de  bom 
grado,  estou  persuadido,  aceitará  as  particularidades 
que  lhe  posso  ministrar  acerca  da  vida  de  Garcia  de 
Resende,  e  que  talvez  ignore.  Todavia,  para  não  alon- 
gar demais  este  estudo,  restrinjir-me-hei  quasi  uni- 
camente ás  informações  que  os  documentos  me  deram. 

Mas,  hei  de  começar  já,  sem  dizer  nada  do  Cancio- 
neiro, o  melhor  serviço  literário  que  Resende  prestou? 
Sim,  nada  direi,  porque  tudo  está  dito  e  redito  por  pen- 
nas  muito  mais  autorizadas  do  que  a  minha;  notarei 
apenas  a  Índole  de  Resende,  porque  a  ella  em  muita 
parte  atribuo  o  renome  de  que  elle  gozou. 

Garcia  de  Resende  foi  alegre;  soube  rir,  rir  á  antiga 
portuguesa,  de  boca  bem  aberta,  soltando  a  atroadora 
gargalhada  na  cara  dos  parceiros,  ajitando  em  ondas 
revoltas  toda  a  adiposa  massa  do  enorme  corpanzil. 


( )  riso  nain  mo  mandeys, 
porque  já  cá  tenho  niiiyto. 


E  tinha;  e  não  era  riso  escarnicador,  nem  sorvido, 
nem  alambicado,  á  moda  de  hoje;  mas  espontâneo,  fran- 
co, contajioso,  e 


GARCIA  DE  RESENDE  33 


não  diguo  mais  por  agora 


senam  que  sois  enfeníto 
para  dar  prazer  e  ryr. 


Ponto.  Vamos  aos  dados  biográficos. 

Garcia  de  Resende  nasceu  em  Évora  pelos  annos  de 
1470,  ou  ainda  antes.  Chega-se  a  esta  data  pelas  seguin- 
tes ilacções.      , 

Quando  D.  João  II  em  1490  montou  a  casa  do  Prín- 
cipe seu  filho,  era  Garcia  moço  da  camará  dei  Rei  que 
o  passou  a  D.  Afonso.  Desagradou  a  mudança  a  Re- 
sende, alem  doutros  motivos,  por  ser  "muito  moço,;  e 
"se  agasalhar  com  seu  tio,,;  mas  não  era  todavia  tão 
criança,  que  lhe  não  pudesse  ser  feita  mercê,  no  anno 
seguinte,  da  escrevaninha  dei  Rei,  "então  a  melhor  cousa 
que  havia  entre  os  moços  da  camará,,,  e  que  vagara, 
perto  de  um  armo  antes,  quando  Rui  de  Sande  "fora 
acrescentado,,  '. 

Rui  de  Sande,  naquelle  mesmo  anno  de  1490,  havia 
passado  de  moço  da  camará  dei  Rei  a  cavaleiro  da  casa 
do  Principe;  e  por  duas  cartas,  ambas  do  primeiro  de 
janeiro  do  anno  seguinte,  por  ter  sempre  servido  bem 
e  fielmente,  "e  em  especial  no  casamento  do  Príncipe,,, 
pelo  que  era  merecedor  de  todo  o  acrescentamento, 
lhe  fizera  D.João  II  mercê  da  alcaidaria  de  Castello  Real, 
e  de  uma  tença  de  trinta  mil  reaes  -.  Este  foi  o  acres- 
centamento a  que  no  citado  capitulo  da  Vida  se  refere 
Resende.  O  outro,  o  maior,  quando  Rui  de  Sande  pas- 
sou a  ser  D.  Rodrigo  de  Sande  do  Conselho  dei  Rei,  veio 
a  ter  logar  em   1500,  depois  delle,  como  embaixador, 


1  Garcia  de  Resende,  Vida  de  D.João  II,  cap.  cc. 
'-'  Chancelaria  de  D.João  II,  liv.  9.»  fl.  42  v. 


34  ESTUDOS 

haver  tratado  o  segundo  casamento  de  D.  Manuel  !.  Rui 
de  Sande  tivera  os  primeiros  engrandecimentos  pelos 
serviços  prestados  nos  cargos  de  enviado  a  Castella  em 
1488,  e  de  secretario  da  embaixada  que  ao  mesmo  reino 
foi  em  14Q0  a  celebrar  os  desposorios  do  Príncipe 
português  com  a  Infanta  castelhana,  enlace  para  que 
bastante  concorrera  Rui  de  Sande,  e  que  D.  João  II  levava 
muito  em  gosto,  e  por  isso  bizarramente  galardoou  a 
quem  para  elle  tanto  contribuirá. 

É  evidente  que  na  escrevaninha  dei  Rei  não  ia  suce- 
der a  um  homem  como  Rui  de  Sande  nenhum  rapa- 
zelho,  e  por  isso  até  julgo  que,  dando  vinte  e  um  an- 
nos  nesse  tempo  a  Resende,  me  arrisco  a  fazel-o  mais 
moço  do  que  realmente  era.  Aceitando  comtudo  o  anno 
de  1470,  como  sendo  aquelle  em  que  o  futuro  cronista 
veio  ao  mundo,  vê-se  que  dificilmente  podia  ter  elle  sido 
irmão  do  famoso  antiquário  André  de  Resende,  nascido 
em  1498  ou  1500,  segundo  de  vários  dados  seguros, 
autobiográficos  os  mais  delles,  infere  o  erudito  Leitão 
Ferreira  na  sua  Vida  de  André  de  Resende,  biografia 
inédita,  hoje  já  publicada  por  mim  no  Are/i.  hist.  port., 
vol.  VII.  E  se  a  coisa  aqui  fica  mais  do  que  provável  por 
ótima  conjectura,  lá  adiante  ficará  certa  por  documento 
irrefragavel. 

Os  pais  de  Garcia  de  Resende  foram  Francisco  de 
Resende  e  Beatriz  Bota  '.  Francisco  de  Resende  foi  criado 


3  Góes,  Chronica  de  D.  Manuel,  part.  I,   cap.  xlvi,  advertindo 

que  a  carta  de  dom  é  comtudo  só  de  8  de  fevereiro  de  1Õ04  (Chan- 
celaria de  f).  Manuel,  liv.  19.o,  fl.  5). 

1  Hoje  diz-se  Bôt<>,  e  já  não  será  d'agora;  mas  é  em  completa 
oposição  á  criji.ni  ao  apelido  assinalada  pelos  nobiliários.  Referem 
elles  que  na  tomada  de  Ceuta  um  soldado  português,  havendo  morto 
as  duas  sentinellas  de  uma  tone,  subira  ao  alto  delia  e  de  lá,  com 
as  duas  cabeças  nas  mãos,  preguntara  aos  companheiros  que  haviam 
ficado  em  baixo:  Boto?  Deste  facto  proviria  a  alcunha  conservada 
em  apelido  pelos  seus  descendentes. 


GARCIA  DE  RESENDE  35 

do  Bispo  de  Évora  D.  Garcia  de  Meneses.  Doou-lhe  este 
uma  herdade  que  vagara  no  termo  da  cidade,  doação 
por  D.  Afonso  V  confirmada  e  posteriormente  ratificada 
por  D.  João  II,  em  Santarém,  a  28  de  junho  de  1484,  por 
se  haver  perdido  a  primitiva  carta  '.  Francisco  parece  ser 
já  finado  em  1490,  quando  na  casa  do  Príncipe  foi  posto 
seu  filho  Garcia,  por  isso  que  então  este  "se  agasalhava 
com  seu  tio,,  que  não  nomeia.  Talvez  fosse  o  tal  tio 
o  dr.  Rui  Bot,o,  Desembargador  do  Paço,  muitas  ve- 
zes mencionado  nos  documentos  daquelle  anuo.  A  um 
Boto,  António  Boto,  sucedeu  Garcia  de  Resende,  d'ali 
a  muito  tempo,  na  posse  de  um  moinho  abaixo  das  ca- 
sas de  Valverde,  prédio  que  da  coroa  o  Boto  trazia  afo- 
rado, que  por  sua  morte  vagou,  e  que  por  portaria  de 
25  de  novembro  de  1529  foi  emprasado  a  Resende  <;. 

D.  João  II  no  anuo  de  1491  escolheu  Resende  para 
moço  da  sua  escrevaninha,  como  o  próprio  nomiado 
nos  declara  no  seu  livro,  e  neste  oficio,  muito  junto  á 
pessoa  dei  Rei  e  de  sua  particular  confidencia,  serviu  até 
ao  fim  da  vida  de  D.  João  II,  merecendo  em  todo  o 
tempo  inteira  confiança  e  benévola  amizade  a  seu  amo. 

Innumeras  foram  as  provas  de  amizade  e  confiança 
por  elle  dadas  a  Garcia  de  Resende  e  que  este  aponta 
no  seu  livro  '. 

Ao  Moço  da  Escrevaninha  competia  ter  sempre  na 
mão,  em  quanto  D.  João  II  escrevia,  uma  penna  mo- 
lhada e  pronta  para  substituir  aquella  de  que  elle  se 
estava  servindo ;  sucedia  por  tanto  ver  Resende  tudo 
quanto  seu  amo  assentava  no  papel.  Um  dia,  estando 
el  Rei  a  escrever  a  Fernando  o  Católico,  percebeu  Re- 
sende ser  coisa  de  muita  importância  e  discretamente  virou 


5  Chancelaria  de  D.João  II,  liv.  22.o,  fl.  33. 

6  Corpo  cronolojico,  part.  I,  tnac.  33,  doe.  43. 

7  Vida  de  D.  João  II,  cap.  55,   122,   12ô,   131,   179,  ISO,  182,  200 
(todo  elle),  207,  210  e  212. 


36  ESTUDOS 

o  rosto  para  o  lado;  D.  João  II  deu  por  isso  e  disse-lhe: 
"Vira-te  para  cá,  que,  se  me  ruão  fiasse  de  ti,  não  te 
mandaria  estar  aí;  e  porem  isto  não  te  dê  presunção, 
senão  vontade  para  milhor  servir  e  ser  milhor  ensi- 
nado.. \ 

Garcia  tinha,  na  verdade,  o  condão  de  se  insinuar  e 
tornar  agradável.  Elle  debuxava,  tocava  e  compunha  mu- 
sica, recitava  e  por  fim  também  trovava.  Tão  felizes 
dotes  tornaram-n-o  quasi  indispensável  a  D.  João  II, 
sobretudo  quando  sobreveio  a  melancolia  e  a  doença.  Ás 
vezes,  á  sesta  ou  já  de  noite  na  cama,  atacado  de  insónia, 
ordenava-lhe  el  Rei  que  tocasse  um  pouco  ou  recitasse 
umas  trovas ;  outras  vezes  acudia  o  próprio  Resende  aos 
enfados  de  seu  amo,  proporcionando-lhe  os  meios  de  se 
distrair,  como  sucedeu  quando  elle,  uma  tarde  depois  de 
jantar,  se  encontrou  arriscado  a  não  poder  afastar  o  pe- 
rigoso sono,  jogando,  segundo  usava,  o  xadrez,  por  lhe 
faltar  o  taboleiro,  que  o  seu  futuro  cronista  logo  ali  dese- 
nhou e  lhe  apresentou.  Então  soltou  o  Príncipe  Perfeito 
espontaneamente  umas  palavras  bem  claramente  revela- 
doras, não  só  da  afeição,  mas  também  do  apreço  em 
que  elle  tinha  os  dotes  naturaes  de  Garcia:  ''Para  que 
é  trazer  taboleiro,  nem  trazer  nenhuma  cousa,  senão  tra- 
zer somente  Resende',, 

E  assim  fazia;  e  tornou-se-lhe  tão  inseparável  com- 
panheiro que  em  Alvor,  no  tempo  da  doença  final, 
tinha-o  a  dormir  no  seu  quarto,  onde  só  elle  entrava  e 
saía  sem  ser  chamado. 

Aproveitava-se  também  da  sua  habilidade  no  desenho 
para  casos  de  maior  vulto,  do  que  o  do  taboleiro  de 


H  Notarei  que  D.  João  II  tratava  Resende  por  tu,  porque  o 
criara  desde  garoto  ;  não  se  cuide  ser  aquelle  modo  de  tratamento  o 
adoptado  pelo  Príncipe  Perfeito  quando  se  dirijia  a  seus  servidores. 
Não;  respeitava-se  demais  a  si  e  a  elles  para  usar  de  formas  tão  de- 
primentes, que  estavam  reservadas  para  alguns  Braganças. 


GARCIA  DE  RI  si  NDE  37 

xadrez.  Andou  D.João  II  uns  tempos  tratando  da  defesa 
de  Lisboa  e  seu  porto;  então  resolveu,  depois  de  ter 
mandado  levantar  a  torre  de  Caparica  '■',  construir  de- 
fronte, no  sitio  onde  posteriormente  D.  .Manuel  edificou 
a  torre  de  Belém,  uma  fortaleza  e  encarregou  Resende 
de  a  desenhar.  Não  pudemos  todavia  apreciar  os  méri- 
tos do  cronista  como  enjenheiro  militar,  porque  a 
construção  da  fortaleza  por  elle  planeada,  nunca  se  che- 
gou a  principiar,  por  sobrevir  a  morte  de  D.  João  11. 

A  ella  assistiu  e  foi  dos  que  sinceramente  o  choraram, 
porque  ninguém  pode  acusar  Garcia  de  Resende  de 
ingrato.  Na  sua  Vida  de  D.  João  II,  a  afeição,  a  sau- 
dade, a  gratidão,  a  admiração,  atinjem  o  entusiasmo, 
tanto  que  tornam  até,  em  certos  casos,  as  suas  afirma- 
ções bastante  suspeitas  de  parciaes. 

Neste  livro,  como  já  vimos,  deixou  Resende  algumas 
notas  autobiográficas;  onde  porem  se  encontram  ele- 
mentos valiosos  para  apreciarmos  o  seu  génio  alegre  e 
feliz,  as  suas  aptidões  variadas,  as  suas  relações  sociaes, 
a  aceitação  de  que  gozou  na  corte  e  fora  delia,  é  no 
Cancioneiro  geral.  Esta  obra  imortalizou-o  e  retratou-o. 

Falecera  D.  João  II  a  22  de  oitubro  de  1495  e  se 
com  elle  perdeu  Resende  uma  amizade  segura,  parece 
entre  tanto  ter  continuado  a  encontrar  menos  má  dis- 
posição a  seu  respeito  em  D.  Manuel,  a  quem  acompa- 
nhou em  149S  nos  juramentos  de  Castella,  e  que  por 
provisão  dada  em  Lisboa,  ali  de  maio  de  1515,  desem- 
bargou a  elle,  Garcia  de  Resende,  cavaleiro  de  sua 
casa,    uma   tença  de  vinte  mil  reaes  com  o  habito  ,0. 


11  Esta  obra  importou  em  oS3.4()")  reaes,  afora  o  material,  e  foi 
dirijida  por  Gomes  de  Elvas  a  cuja  viuva  se  deu  quitação  em  16 
de  abril  de  1496  (Cartas  de  quitação  de  D.  Manuel,  n.°  277,  p.  431 
do  II  vol.  do  Arc/i,  h/st.  port.J. 

10  Corpo  cronolojico,  part.  11,  mac.  57,  doe.  68. 


3S  ESTUDOS 

Por  este  documento  ficamos  sabendo  haver  Resende  sido 
cavaleiro  de  unia  das  ordens  militares,  declarando-nos 

elle  próprio  que  o  fora  da  de  Cristo  ". 

Pelo  tempo  em  que  esta  mercê  lhe  foi  feita,  vê-se 
que  seria  ella  o  galardão  dos  serviços  do  futuro  cro- 
nista na  embaixada  do  anno  anterior  a  Roma,  a  celebre 
de  Tristão  da  Cunha  a  Leão  X.  Nella  parece  que  não 
serviu  Garcia  de  Resende  somente  de  secretario,  e  que 
alguma  parte  também  teve  de  tesoureiro.  Infere-se  da 
carta  de  11  de  abril  de  1514,  dirijida  ao  Secretario 
António  Carneiro,  na  qual  o  Embaixador,  queixando-se 
de  falta  de  dinheiro  e  declarando  ir  sacal-o  em  Roma 
sobre  o  governo  português,  acrescenta  que  o  man- 
dará "entregar  a  Garcia  de  Resende  que  nos  pague 
nosso  ordenado  o  tempo  que  cá  mais  andarmos  em 
terra-  '-. 

É  muito  notável  a  parcimonia  real  no  meio  de  uma 
tão  pomposa  manifestação  de  riqueza  e  vaidade,  como 
foi  a  embaixada  a  Roma.  D.  Manuel  para  os  estranjei- 
ros  era  pródigo  em  prendas  riquíssimas,  dadivas  sober- 
bas; aos  seus  mesquinhava  os  ordenados,  não  lhes 
querendo  pagar  o  mais  tempo  que  lá  andaram.  Alem 
do  testemunho  do  próprio  Embaixador,  que  miudamente 
conta  o  caso  na  carta  citada,  encontra-se  logo  depois  o 
mesmo  Resende  a  queixar-se  ao  Conde  de  Tarouca, 
Mordomo  mor,  de  lhe  não  terem  ainda  pago  a  moradia 
do  tempo  que  a  mais  serviu  em  Roma,  e  em  verso  lhe 
vai  dizendo: 

nem  mais  nem  menos  hum  dia, 
do  que  a  eles  fostes  dai', 
me  ha  vossa  senhoria 
de  despachar  ' ;. 


"  Cancioneiro,  fl.  223,  col.  4. 

12  Corpo  diplomático  português,  I,  243. 

13  Cancioneiro,  fl.  22  5.  col.  3. 


GARCIA  DE  RESENDE  39 

E  o  Conde  Prior  desculpa-se  com  el  Rei,  e  não  manda 
pagar. 

Na  jornada  para  Roma,  a  náu  do  Embaixador,  depois 
de  ter  tocado  em  Alicante  e  em  Iviça,  havia  arribado  a 
Malhorca  "com  grande  tormenta,,,  e  lá  permanecera 
fundeada  por  espaço  de  dez  on  doze  dias,  havendo, 
durante  elles,  extraordinário  concurso  de  curiosos,  atraí- 
dos, é  bem  de  ver,  pelo  elefante  destinado  ao  Papa. 
"Vieram  todos  os  fidalgos  de  Malhorca  e  assi  molheres, 
que  nom  ficou  gente  na  cidade,,  '''.  Entre  as  senhoras 
aparecera  "liiuna  gentyl  dama  que  chamavam  dona  Es- 
perança.,, e  como  ella  se  apresentara  de  luto,  Resende, 
para  a  distrair  e  consolar,  enviara-lhe  uma  declaração 
de  amor  num  vilancete,  para  o  qual  também  compu- 
zera  a  musica,  "entoado  também  per  elle,,  ''. 

Que  me  quieres  Esperança  ? 
aquy  me  vienes  buscar 
por  me  mas  desesperar  ? 

Mal  pensava  a  dorida  dama  ao  reparar,  se  é  que  re- 
parou, naquelle  gorducho  e  já  maduro  galan.  que  a  elle 
deveria  ser  seu  nome  repetido  ainda  quatro  séculos  mais 
tarde ! 

Durante  a  sua  estada  em  Roma  havia  Garcia  de  Re- 
sende alcançado  de  Leão  X  a  bula  Quanto  frequentais, 
de  11  de  abril  de  1514,  concedendo  induljencias  a 
quem,  visitando  o  Espinheiro  nos  dias  das  festas  de 
nossa  Senhora,  diante  de  Sua  imajem,  rezasse  por  alma 
delle  e  de  seus  defuntos  "'. 

Em  1516  já  Garcia  de  Resende  era  fidalgo  da  casa 
dei  Rei,  e  escrivão  da  fazenda  do  Príncipe.  Elle  próprio 


n  Carta  de  Nicolau  de  Faria,  já  datada  de  Roma  a  IS  de  março 
de  1Õ14  (Corpo  diplomático,  I,  238). 

15  Cancioneiro,  fl.  222,  col.  2. 

16  Sr.  A.  F.  Barata,  Breve  memoria  do  Espinheiro,  p.  S. 


40  ESTUDOS 

o  declara  na  ultima  folha  do  Cancioneiro.  Ainda  assim, 
SÓ  quatro  annos  depois  é  que  D.  Manuel  mandou  dar 
ao  Escrivão  da  fazenda  do  Príncipe,  por  provisão  feita 
em  Évora  a  5  de  julho  de  1520,  as  propinas  em  espe- 
ciaria correspondentes  ás  que  recebiam  os  escrivães  da 
fazenda  real,  as  quaes  eram  dez  arráteis  de  pimenta, 
outros  dez  de  cravo  e  doze  de  canela  17.  Passou  Garcia 
de  Resende  o  recibo  desta  especiaria  em  30  de  agosto 
de  1529,  e  assinou-o  assim: 


^> 


No  oficio  de  escrivão  da  fazenda  continuou  Resende 
até  morrer;  e  nelle  serviu  a  D.  João  em  quanto  príncipe,  e 
de  1521  em  diante  já  rei.  Não  parece  ter  sido  D.  João  III 
muito  liberal  com  o  seu  Escrivão  da  fazenda;  pelo  menos 
não  encontro  vestijios  de  nenhuma  avantajada  mercê 
por  el  Rei  feita  a  Garcia  de  Resende,  pois  que  se 
não  podem  considerar  grandes  dadivas  umas  pensões, 
a  que  logo  me  referirei,  e  o  aforamento,  já  apontado, 
do  tal  moinho,  que  havia  sido  de  António  Boto.  Em 
1522  e  1524  passaram-se  a  Resende  cartas  de  padrão  de 
duas  tenças  de  doze  mil  reaes  cada  uma;  mas  estas 
havia-as  elle  comprado  com  o  seu  dinheiro  ls.  Também 
se  não  pôde  por  tanto  considerar  dadiva,  e  no  mesmo 
caso  está  a  permissão  que  D.  João  III  lhe  deu  em  1525 


'•  Corpo  cronolojico,  part.  II,  mac.  9,  doe.  85. 
Is  Chancelaria  de  D.  João  III,  Doações,  liv.  4<>.<\  íl.  121  v. ;  e  liv. 
37.0,  fl.  132  v. 


GARCIA  DE  KM  Si  ND1  41 

para  trespassar  corta  tença  na  comunidade  do  Espi- 
nheiro, autorizando  esta  a  cobrar  para  sempre  a  pensão 
por  carta  geral.  A  moradia  de  Resende  era  bem  limitada, 
pois  que  consistia  apenas  em  mil  reaes  por  mes  e  al- 
queire de  cevada  por  dia,  advertindo  que  este  ordenado 
era  a  simples  moradia  de  guarda  ela  camará  dei  Rei  '■',  e 
que  certamente  outro  havia  de  receber  com  o  oficio  de 
escrivão  da  fazenda.  Não  se  pense  comtudo  que  este  ofi- 
cio era  grande  coisa.  Nelle  sucedeu  a  Resende,  por  sinal 
que  apenas  nove  dias  depois  do  seu  falecimento,  um 
André  Pirez,  escrivão  da  camará  e  cavaleiro  fidalgo  20. 

Do  documento  acima  citado  vê-se  haver  sido  Garcia 
de  Resende  daquelles  moços  da  camará,  que  faziam 
guarda  a  el  Rei  sob  as  ordens  do  Guarda  mór,  e  isto 
vinha-lhe  ainda  do  tempo  de  D.  João  II,  em  cuja  camará 
o  moço  da  escrevaninha  muitas  vezes  dormiu. 

Apesar  de  todo  o  mencionado  ser  pouco,  juntou  Re- 
sende pecúlio  bastante  para  edificar  e  dotar  uma  capella 
na  cerca  do  Espinheiro,  e  para  instituir  um  morgado. 

A  capella,  talvez  desenho  do  próprio  Garcia  que  se 
gaba  de  "debuxar  muito  bem.,,  é  muito  interessante  e 
está  alegremente  encastoada  na  verdura  dos  arvoredos, 
logo  abaixo  do  mosteiro  dos  Hieronimitas.  A  estampa 
em  frente  apresenta-nos  o  aspecto  exterior  da  capella. 

O  morgado  abranjia  uns  poucos  de  prédios  os  quaes, 
sem  serem  de  grande  rendimento,  não  eram  todavia 
tão  insignificantes  que  não  rendessem  em  1815,  fora  as 


19  'Mniita  a  Garcia  de  Resende  de  seu  ordenado  dos  meses  de 
julho...  e  dezembro  do  dito  armo  (152S),  a  razão  de  mil  reaes  de 
moradia  por  mês,  cevada  e  soldo  ordenado,  treze  mil  e  oito  reaes,,. 
— Está  esta  verba  no  "Rol  dos  que  andam  na  guarda  da  camará 
dei  Rei  . . .,  de  que  Luis  da  Silveira  é  guarda  mór,  dos  mêses  de 
julho...  e  dezembro  de  528.,  (Moradias,  mac.  1.",  n.°  6,  fl.  27). 
Xeste  documento  tamb,em  existe  a  assinatura  de  Resende. 

80  Carta  de  11  de  fevereiro  de  1 53ó,  em  Sousa  Viterbo,  Dic.  dos 
architectos.  II,  371. 


42  ESTUDOS 

propinas,  géneros  no  valor  actual  de  bastante  mais  de 
trezentos  mil  reis  -'.  Mas  não  antecipemos. 

Vou-me  referir  agora  á  única  doação,  relativamente 
importante,  feita  por  D.  João  III  ao  seu  Escrivão  da  fa- 
zenda. Diz  a  carta:  "Da  feitura  desta  em  diante  todos 
os  navios  que  se  armarem  para  Arguim,  ilha  de  S.  Tomé 
ilha  de  Santiago,  Malagueta  e  rios  e  toda  Guiné,  assim 
os  que  se  armarem  em  Lisboa,  como  os  que  se  armarem 
nas  ditas  ilhas  para  os  ditos  rios  de  Guiné,  quer  se 
armem  por  mim  e  meus  oficiaes,  quer  por  armadores 
que  o  dito  trato  arrendarem,  os  capitães  e  escrivães  de 
cada  um  dos  ditos  navios  paguem  por  cada  viajem  que 
fizerem,  assim  destes  reinos,  como  das  ditas  ilhas,  para 
os   ditos  rios,  outra  tanta  pensão  como  pagam  os  capi- 


21  Encontro  noticia  dalgumas  escrituras  cie  cumpras  de  prédios 
efeituadas  por  Garcia  de  Resende,  "fidalgo  da  casa  dei  Rei  e  escrivão 
da  sua  fazenda,.,  por  tanto  indubitavelmente  0  cronista: 

Em  Évora,  nas  notas  do  tabelião  João  Furtado,  a  12  de  oitubro 
de  1502,  comprou  por 4.250  reaes  a  Isabel  Dias.  viuva  de  Pedro  Aries 
Pinheiro,  lavrador,  um  quinhão  imposto  numa  herdade  a  Benafilé, 
termo  de  Évora  (Bib.  dosr.  Visconde  da  Esperança,  cod.  80,  mac.  24). 
Esta  escritura  é  de  duvidosa  autenticidade;  lá  adiante  se  verá. 

Km  13  de  dezembro  de  1524,  cm  Évora,  nas  notas  do  tabelião 
Diogo  Gonçalvez,  comprou  por  45.000  reaes  brancos  a  N' uno  Vaz 
Vicente,  lavrador  na  herdade  dos  Varellas  a  Benafilé,  e  a  sua  mulher, 
um  quinhão  na  mesma  herdade  (ibi). 

Por  escritura  de  5  de  julho  de  1526  adquiriu,  por  transacção  e 
amigável  composição  a  herdade  do  Baleisão,  no  termo  de  Beja,  e 
dois  ferrajiaes  junto  aos  muros  de  Évora,  prédios  que  haviam  sido 
de  seu  primo  Duarte  de  Resende  (Bib.  publica  de  Évora,  cod. 
CX-2-11). 

Em  9  de  oitubro  de  1528,  em  Évora,  na  Se  e  casa  do  cabido,  se 
celebrou  instrumento  de  novação  de  emprasamento  em  vida  de  três 
pessoas  da  referida  herdade  do  Baleisão,  a  favor  de  Garcia  de  Resende 
representado  no  acto  por  seu  irmão  Jorje,  a  quem  passara  pro- 
curação, em  I  isboa,  a  28  do  mes  precedente  (ibi,  cod.,  CXI-1-17). 

Ror  escritura  de  4  de  agosto  de  1531,  feita  em  Évora  pelo  tabelião 
Vasco  Fernandez,  comprou  por  32.000  reaes  brancos  a  Madalena 
Dias,  viuva  de  João  Varella,  lavrador,  e  a  seus  filhos,  trinta  alqueires 
de  trigo  de  renda  na  herdade  dos  Varellas  a  S.  BrissOS,  na  ribeira  de 
Benafilé  (Cit.  cod.  80  da  Bib.  do  sr.  Visconde,  da  Esperança). 

A  algumas  destas  escrituras  me  hei  de  referir  mais  demoradamente 
nos  ADITAMENTOS,  no  fim  deste  artigo. 


GARCIA    DE    RI  SI  ND1  43 

tães  e  escrivães  dos  navios  da  Mina,  que  é  mil  reaes 
cada  capitão  e  quinhentos  reaes  cada  escrivão;  e  não 
indo  nos  ditos  navios  capitão,  o  piloto,  que  fôr  por 
piloto  e  capitão,  pagará  os  ditos  mil  reaes  em  cada  via- 
jem que  fizer,  e  isto  quando  vier  de  torna  viajem.  Os 
quaes  mil  reaes,  e  assim  os  quinhentos  dos  escrivães,  os 
meus  feitores  e  oficiaes,  a  que  pertencer,  arrecadarão 
dos  ditos  capitães  e  escrivães  em  cada  viajem  quando 
tornarem  .  .  .  E  querendo  ora  fazer  graça  e  mercê  a  Gar- 
cia de  Resencle,  fidalgo  de  minha  casa  e  escrivão  da 
minha  fazenda,  havendo  respeito  aos  muitos  serviços 
que  delle  tenho  recebidos,  etc.,i  Faz-lhe  doação  em  sua 
vida  das  ditas  pensões,  assim  e  da  maneira  que  elle  tinha 
as  pensões  dos  capitães  e  escrivães  dos  navios  da  Mina. 
Dada  em   Montemor  o  Novo  a  20  de  abril  de  1525". 

Por  este  documento  consta  haver  Resende  também 
possuído  as  pensões  dos  capitães  dos  navios  da  Mina, 
mas  não  sei  quando  lhe  foi  outorgada  esta  mercê,  por 
isso  que  ella  se  não  encontra  rejistada. 

Garcia  de  Resende  tinha  a  muito  louvável  aspiração 
de  perpetuar  seu  nome,  não  só  pelos  seus  escritos,  mas 
também  por  fundações  que  para  todo  sempre  servissem 
de  padrão  glorioso  ao  nome  de  Resende.  Não  era  fidalgo, 
nem  teria  talvez  presunções  a  isso,  mas  esperava  que 
seus  descendentes  o  viessem  a  ser,  e  por  tanto  lhes  quis 
deixar  solar  e  jazigo. 

Na  sua  herdade  de  Vai  de  Arcas,  a  qual  fez  cabeça 
do  seu  morgado  23,  começou  a  fundação  de  uma  torre, 


22  Chancelaria  de  D.João  Í/J,  liv.  8.°  de  Doações,  fl.  103  v. 

23  Esta  herdade  parece  ter  mudado  de  nome;  pelo  menos  do  xvn 
século  em  diante  o  morgado  era  chamado  da  Anta,  e  na  freguesia 

de  S.  Brissos,  concelho  de  Montemor  o  Novo,  onde  eram  situadas 
quasi  todas,  se  não  todas  as  propriedades  do  morgado,  encontro 
ainda  hoje  uma  herdade  da  Anta  e  quinta  da  Anta,  mas  não  vejo 
mencionado  nenhum  prédio  com  o  nome  de  Vai  de  Arcas.  Logo 
transcreverei  parte  da  instituição  do  morgado. 


44  ESTUDOS 

em  que  mandou  se  puzessem,   lavradas  em  mármore, 

as  suas  armas,  no  logar  onde-  melhor  parecesse;  eis  o 
solar.  No  mosteiro  do  Espinheiro,  o  panteon  da  fidal- 
guia alemtejana,  procurou  Resende  a  sua  sepultura.  En- 
tendeu-se  com  os  frades  e  edificou  na  cerca,  á  honra  de 
Nossa  Senhora  do  Egipto,  uma  capella,  já  concluída  em 
1520,  segundo  resa,  nos  seguintes  termos,  a  inscrição  que 
se  vê,  sobrepujada  pelo  escudo  das  duas  cabras  dos  Re- 
sendes,  acima  da  porta  de  entrada  : 

Esta:  irmida:  efomte 

mandou :  fazer  Garcia 

de reesende:  em:  loniior 

de  nossa;  snra:  ano:  1520  -' 

Se  a  ermida  se  fundou  em  1520,  só  cinco  annos 
depois  é  que  o  fundador,  segundo  as  noticias  por 
mim  obtidas,  começou  a  tratar  com  a  comunidade  do 
Espinheiro  a  dotação  da  capella  para  os  sufrágios  pela 
sua  alma.  Efectivamente  foi  só  em  1525  que  Resende 
comprou  duas  tenças,  uma  de  cinco  mil  trezentos  e  trinta 
e  três  reaes,  arrematada  em  praça  por  dividas  ao  te- 
souro réjio,  e  outra  de  dois  mil  reaes  adquirida  por 
instrumento  feito  em  Évora  a  30  de  janeiro,  ao  qual 
serviram  de  testemunhas  Duarte  de  Resende  -■'  e  outros. 
Com  estes  documentos  dirijiu-se  o  cronista  a  D.  João  III, 
pedindo-lhe:  "por  quanto  tinha  feito  uma  capella  no 
mosteiro  de  Nossa  Senhora  do  Espinheiro  desta  cidade 
de  Évora,  e  estava  concertado  com  o  Prior  e  Frades 
delle  de  lhe  dizerem  para  sempre  uma  missa  quotidiana, 


-'  Na  estampa  em  frente,  poderá  ler-se,  com  o  auxílio  de  uma 
lente,  a  inscrição  sobre  a  porta  de  entrada  da  capella.  No  pavimento 
estava  a  campa  de  Garcia  de  Resende  adiante  repro- 
duzida em  fototipia;  no  chão  do  adro,  no  centro  delle,  diferença-se 
a  lapide  ila  sepultura  de  Jorje  de  Resende. 

obre  este  primo  com  irmão  de  Garcia  de  Resende  vejam-seos 
ADI  rAMENTOS,  no  fim  deste  artiffO. 


GARCIA    DE    RI  SEND1  45 

e  delle  lhes  dar  de  esmola  pela  dita  missa,  em  eada  um 
anno,  sete  mil  trezentos  e  trinta  e  três  reaes. . .  ao  dito 

mosteiro,  para  que  em  cada  um  anno  para  sempre  lhe 
fossem  pagos  por  carta  geral  no  almoxarifado...  de 
Évora».  Defere  el  Rei  o  requerimento  do  seu  Escrivão  da 
fazenda,  e  manda  que  a  referida  tença  seja  sempre  paga 
ao  mosteiro  á  vista  do  traslado  desta  carta,  do  recibo 
do  Prior,  e  da  certidão  do  mesmo  e  de  seus  frades,  "em 
que  certifiquem  que  a  dita  missa  se  diz  cada  dia .  . .  A 
qual  tença,  por  fazer  mercê  ao  dito  Garcia  de  Resende 
e  esmola  ao  dito  mosteiro,  me  praz  que  nunca  em  ne- 
nhum tempo  seja  alevantada,  nem  tirada,  nem  pago  sorte 
delia,  antes  quero  que  o  dito  mosteiro  a  tenha  e  haja 
para  sempre,  etc.H  Foi  dada  a  carta  em  Évora  a  14  de 
março  de  1525,  pondo-se-lhe  logo  a  seguir  uma  con- 
dição restrictiva:  "Sem  embargo  de  dizer,  que  nunca  a 
dita  tença  seja  alevantada,  nem  se  pague  sorte  delia,  hei 
por  bem  que  o  dito  mosteiro  a  tenha  e  haja  com  a  obri- 
gação e  da  qualidade  que  são  as  tenças  separadas,,  -'''. 

Tinha  Resende  assegurado  o  socego  para  seus  restos, 
ou,  para  melhor  dizer,  supunha  isso,  porque  os  frades 
depois,  como  direi,  não  convieram  no  ajuste;  e  tratou, 
passados  já  os  sessenta  de  idade,  de  dispor  de  seus  bens, 
e  de  lejitimar  seus  filhos. 

Em  Évora,  a  8  de  setembro  de  1533,  fez  Garcia  de 
Resende  por  sua  própria  mão  seu  testamento,  e  apre- 
sentou-o  á  aprovação  no  dia  13  seguinte-'.  Deste  do- 
cumento só  encontrei  rejistada  uma  verba,  mas  talvez 
seja  a  principal.  Transcreve-la-hei,  resumindo  o  preciso 
para  não  alterar  o  sentido: 

"Se  eu  não  poder  acabar  em  minha  vida  de  fazer  o 


26  Chancelaria  de  D.João  III,  liv.  20.»  de  Doações,  fl.  243  v. 
21  Testemunhas  á  aprovação:  Brás  Gonçalvez  da  Carvalhosa,  Álvaro 
do  Casal,  Rui  Pereira,  Jordão  Fragoso  e  João  Boto. 


40  ESTUDOS 

morgado,  como  tenho  ordenado  e  assentado,  se  faça 
logo  destas  cousas,  a  saber:  da  minha  herdade  de  Vai 
de  Arcas  com  o  assento  de  casas  e  torre  honrada,  que 
aí  hei  de  fazer,  e,  se  não,  por  este  mando  que  se  faça, 
como  tenho  ordenado,  e  já  para  ella  tenho  lá  cincoenta 
bordos  e  dez  vigas;  e  assim  da  herdade  que  se  chama 
dos  Varellas,  e  a  herdade  da  Casa  Branca,  que  ao  pre- 
sente são  minhas;  e  o  que  tenho  na  herdade  da  Noguei- 
ra, que  parte  com  o  Vai  de  Arcas;  e  o  que  tenho  na 
herdade  do  Fale,  pegada  com  esta;  e  o  que  tenho  na 
herdade  que  foi  dos  Pintos,  que  parte  com  a  Defesa;  e 
assim  o  que  tenho  na  herdade  dos  Rascões  «a  Benafilé 
iBoa-fé)  que  parte  com  a  dos  Varellas,  e  da  Nogueira, 
e  com  a  Casa  Branca;  e  todo  o  mais  que  em  estas 
terras,  em  que  tenho  quinhões,  poder  haver  até  serem 
minhas,  e  assim  em  outras  assim  pegadas;  e  as  minhas 
casas  grandes  de  Évora,  com  todo  o  mais  que  nellas  fizer 
e  acrescentar;  e  a  minha  ermida  e  capella  de  Nossa 
Senhora  do  Espinheiro.  E  tudo  isto  junto,  se  eu  o  não 
puder  acabar,  como  muito  desejo,  em  minha  vida,  por 
este  o  faço, .  .  .  e  mando  que  se  faça  tudo  em  um  mor- 
gado sem  contradição  alguma,  porque  eu,  com  quanto 
poder  posso,  o  faço  e  hei  por  feito,  e  obrigo  a  isso  to- 
dos os  meus  bens.  .  .  e  minha  terça,  ainda  que  isto  seja 
escusado,  pois  eu,  por  não  ter  molher  e  certo  herdeiro, 
o  posso  fazer.  O  qual  morgado  faço  com  tal  declaração, 
que  o  herdeiro  delle  se  chame  sempre  de  Resende  sem 
outro  apelido,  e  que  seja  obrigado  a  comprar  em  he- 
rança a  metade  da  sua  terça  para  o  dito  morgado  se 
acrescentar  cada  vez  mais .  .  .  E  com  estas  declarações 
se  fará  o  compromisso,  o  qual  peço  por  mercê  a  el  Rei, 
nosso  senhor,  que  o  queira  confirmar -s.  E  na  torre,  que 
assim  mando  fazer,  mando  que  em  pedra  mármore  se 


28  Desta  confirmação,  se  existiu,  não  encontrei  <>  rejisto. 


GARCIA   Dl     RI  si  ND]  47 

façam  minhas  armas,  e  se  ponham  em  lugar  onde  me- 
lhor parecer.  0  qual  morgado...  faço  herdeiro  delle 
por  meu  falecimento  a  Francisco,  meu  filho  varão  mais 
velho,  para  elle  e  quantos  delle  descenderem  por  linha 
direita,  herdando  sempre  o  filho  mais  velho;  e  não 
havendo  filho  varão,  que  o  herde  a  filha  mais  velha;  e 
não  havendo  filha,  que  o  herde  o  filho  bastardo;  e  não 
havendo  filho  bastardo  macho,  que  o  herde  a  filha 
bastarda  fêmea,  a  mais  velha;  e  isto,  sendo  os  ditos  filho 
ou  filha  bastardos  conhecidos  e  cridos  e  havidos  por 
filhos.  E,  não  havendo  filho  nem  filha,  lidimos  nem  bas- 
tardos, então  herde  o  parente  Resende  mais  chegado, 
que  se  chamará  sempre  Resende.  E,  se  por  ventura  meu 
filho  Francisco  falecer  sem  filho,  deixo  o  dito  morgado 
a  António,  meu  filho;  e,  falecendo  António  sem  filho,  o 
deixo  a  Bastião,  ou  a  qualquer  irmão  macho  que  tiver, 
e  depois  destes  nascer.  E,  não  havendo  filho  varão,  deixo 
então  o  dito  morgado  a  minha  filha,  mais  velha  que 
elles  todos,  que  se  chama  Maria  de  Resende  e  a  seus 
filhos  e  herdeiros,  por  esta  maneira  acima  declarada;  e 
falecendo  Maria  sem  filhos,  se  tiver  outra  irmã  que  de- 
pois delia  nascer,  a  ella  fique  tudo.  E  falecendo  todos, 
o  que  Deus  não  mande,  sem  filho  nem  filha,  fique  tudo 
a  meu  irmão,  ou  a  seu  filho  mais  velho,  se  elle  vivo  não 
fôr,  pela  maneira  atraz  declarada.  E,  sendo  caso  que 
assim  venha  ao  filho  de  meu  irmão,  então  mando  que 
toda  minha  fazenda,  assim  movei  como  de  raiz,  se  meta 
no  dito  morgado .  .  .  para  que  o  dito  morgado  seja 
maior.,,  Ainda  vem  uma  disposição  para  que,  de  prefe- 
rencia ao  tio,  suceda  ao  avô  o  neto,  "pois  é  filho  do 
filho  maior,  que  por  razão  de  natureza  não  devera  mor- 
rer primeiro  que  o  pai  29.M 


'"'  Liv.  1.°  da  Provedor/a  de  Évora,  fl.  442;  liv.  39.°do  Registo  do 
Real  Archivo,  fl.  242. 


48  ESTUDOS 

Uma  observação  antes  de  continuar.  O  único  irmão, 
que  a  este  tempo  Garcia  de  Resende  tinha  vivo,  era 
Jorje  de  Resende,  que  a  18  de  julho  de  1537  requereu 
o  traslado  da  verba  acima,  como  no  próprio  rejisto  se 
declara.  Fica  por  tanto,  e  de  vez,  sem  ser  por  ótimas 
conjecturas,  excluída  a  suposta  fraternidade  entre  Garcia 
e  André  de  Resende,  que  só  morreu  em  1573  30. 

Tornemos  porem  a  ligar  o  fio  da  narrativa. 

No  mesmo  anno  de  1533  em  que  o  testamento  foi 
escrito,  concluiu  Garcia  de  Resende  o  livro  da  Vida  e 
feitos  dei  rey  Dom  João  segundo,  como  consta  da  decla- 
ração estampada  na  primeira  edição  da  obra,  a  de  1545, 
no  verso  da  ultima  folha  das  innumeradas  que  prece- 
dem o  capitulo  primeiro  da  crónica,  em  frente  por  tanto 
deste  capitulo. 

Atendendo  a  esta  declaração  ou  titulo,  como  lhe 
chama  Castilho,  não  haver  sido  reproduzido  em  ne- 
nhuma das  subsequentes  edições,  nas  minhas  conheci- 
das pelo  menos,  e  a  ser  a  primeira  estremamente  rara, 
deveria  talvez  transcreve-lo  aqui  na  integra;  limitar-me- 
hei  porem  a  extracta-lo,  pois  que  o  citado  escritor  o 
reproduziu  por  inteiro  em  livro  nada  raro  !l.  Diz  o  tal 
titulo,  ao  meu  intento:  "Liuro  da  vida...  do...  prín- 
cipe el  Rey  dom  João  ho  segundo  .  .  .  ordenado  e 
escripto  no  anno.  .  .  de  mil  e  quinhentos  e  trinta  e  três 
por  Garcia  de  Resende  fidalgo  da  casa  dei  rey  nosso 
senhor.  Que  muytas  das  cousas  vio  e  foy  presente  a 
ellas:  por  ser  de  menino  criado  do  dito  senhor  em  sua 
camará  e  aceito  a  elle:  e  o  seruio  em  cousas  de  muyta 
fieldade  atee  a  ora  de  sua  morte  a  que  era  presente  e 


30  Veja-se  nos  aditamentos,  no  fim  deste  artigo. 

31  Garcia  de  Resende,  e.xcerptos,  seguidos  de  uma  noticia  sabre  sua 
vida  e  obras,  etc,  III  vol.  da  Livraria  clássica,  paj.  318. 


GARCIA   DE    RESENDE  49 

dormia  em  sua  camará,  E  o  que  per  si  liam  vio  vay 
com  grande  fieldade  e  muyto  verdadeiramente  escripto, 
de  que  sam  boas  testemunhas  muytos  nobres  e  pessoas 
de  muyta  autoridade  e  credito  que  ao  presente  sam 
viuas.  Dirigido  a . . .  el  rey  dom  João  o  terceiro  nosso 
senhor.-, 

Clareia  de  Resende  ainda  sobreviveu  ao  seu  testa- 
mento e  á  conclusão  da  crónica,  perto  de  dois  annos  e 
meio;  mas  foram,  segundo  parece,  amargurados  pela 
falta  de  saúde. 

Em  principios  de  maio  de  1535  dirijiu  uma  carta  á 
Camará  de  Évora,  escusando-se  de  comparecer  na 
assembleia  para  que  fora  convidado,  na  qual  se  haviam 
de  elejer  os  procuradores  ás  Cortes  então  convocadas 
para  se  reunirem  naquella  cidade.  Desculpa-se  com  a 
doença,  escrevendo:  "Eu  estou  tam  mall  sentido  que 
nam  poso  hyr  a  chamado  de  vosas  mercês,  o  que  muyto 
folgara  de  fazer,, 32.  A  sessão  eleitoral,  a  que  Resende 
não  pôde  comparecer,  teve  lugar  a  10  de  maio  e  um 
dos  vereadores  presentes,  foi  seu  irmão  Jorje  de  Re- 
sende 33. 

Noutra  carta  escrita  no  mesmo  anno  de  1535,  a  20 
de  novembro,  e  endereçada  de  Évora  ao  Camareiro 
mór  de  D.  João  III,  D.  Francisco  de  Castelbranco,  na  qual 
lhe  encarece  as  vantajens  de  transferir  a  sua  residência 
de  Lisboa  para  Évora,  reunindo-se  á  corte,  diz-lhe  que 
fala  "tão  solto  nisto,  porque  não  podem  dizer  faze-lo 
por  interesse,  pois  que  por  minhas  doenças  poucas 
vezes  vou  ao  paço,,   ". 

No  ultimo  anno  da  sua  vida,  em  1536,  voltou  para 


■'■-  Kncontra-se  reproduzida  esta  carta  em  fac-simile  no  Arc/i.  hist. 
port,  III,  47,  e  já  havia  sido  impressa  por  A.  Filipe  Simões  no  Insti- 
tuto, XV,  190. 

»  Arch.  hist.  port.,  III,  48. 

;i  Instituto,  XV,  191. 

4 


50  ESTUDOS 

Resende  a  acima  referida  tença  de  sete  mil  trezentos  e 
trinta  e  três  reaes,  da  qual  se  lhe  passou  apostila  de  padrão 
a  19  de  janeiro,  dizendo-se  nella:  "Por  quanto  o  prior 
e  padres  do  dito  mosteiro  do  Espinheiro  se  não  con- 
certaram com  Garcia  de  Resende  sobre  a  missa  quoti- 
diana, que  lhe  haviam  de  dizer...  por  estes  sete  mil 
trezentos  e  trinta  e  três  reaes  de  tença,  hei  por  bem  que 
os  ditos  dinheiros  sejam  de  aqui  em  diante  pagos  ao 
dito  Garcia  de  Resende,  etc,   ' '. 

Consolou-se  elle  do  desgosto  que  os  frades  lhe  de- 
ram, compondo  o  Sermão  dos  três  Reys  magos,  o  qual 
dedicou  a  pessoa  desconhecida,  a  quem  o  enviou  com 
estas  palavras  no  cabo:  "Beijo,  senhor,  as  mãos  a  vossa 
mercê  a  .xv.  de  Janeiro  de  mil  e  quinhentos  e  trinta  e  seys 
annosi;. 

Ainda  neste  armo,  nove  dias  antes  da  sua  morte,  a 
26  de  janeiro,  deu  D.  João  III  a  Garcia  de  Resende, 
fidalgo  de  sua  casa  e  escrivão  da  sua  fazenda,  carta  de 
privilejios  para  a  impressão  das  suas  obras,  que  elle 
tinha  compostas,  "assi  em  prosa,  como  em  metro,  em 
lingoagem  português,  as  quaes  obras,  por  serem  boas 
e  proveitosas,     elle  as  queria  mandar  imprimir,,  :;,i. 

Em  Évora,  na  quinta  feira  3  de  fevereiro  de  1536 
morreu  Garcia  de  Resende  !/,  apagando-se  aquelle  es- 


:,:'  Chancelaria  de  D.João  III,  liv.  26.°  de  Doações,  fl.  243  v. 

'•''  Lneontra-se  na  primeira  folha  da  ed.  de  154~>  da  Vida  de 
D.  João  II,  ed.  em  que  também  se  incluiu  o  Sermão  dos  Reis  Ma- 
gos. 

37  "Aos  iij  dias  do  mes  de  fevereyro  era  de  ir  \x\  bj  ffaleçeo  gra- 
çia  de  Regemde  seu  testamemteyro  he  pêro  da  mota  cortessão  que 
mora  ao  terreyro  dalvaro  velho.,,  Termo  lavrado  a  fl.  185  do  liv.  1." 
de  semelhantes  da  freguesia  de  Santo  Antão  de  Évora,  guardado 
hoje  no  cartório  do  Seminário  da  mesma  cidade  com  os  demais 
livros  findos  daquella  e  doutras  freguesias. 

Apresentarei  aqui,  por  julga-los  interessantes,  extractos  dalguns 
«nitros  análogos  assentos  encontrados  por  mim  nos  referidos  livros: 
A  8  de  março  de  1545  foi  baptisado  Jerónimo,  filho  de  D.  Filipe 
Lobo  e  de  D.  Joana  sua  mulher,  foram  padrinhos  D.  Rodrigo  [Lobo, 


GARCIA    DE    RESENDE  51 

pirito  galhofeiro  Deus  sabe  no  meio  de  quantos  pade- 
cimentos, mitigados  apenas  pela  presença  dos  filhos  me- 


futuro  Barão  de  Alvito]  z  Jorje  de  Resende,  madrinhas  D.  Beatriz  e 
Luzia  Gonçalvez,  parteira  (liv.  1."  de  Santo  Antão,  fl.  <>  \\);  a  2  de 
abril  de  1535  Foi  baptisado  Lourenço,  Filho  de  I).  Francisco  de  Sousa 
e  de  I).  Beatriz  sua  mulher  (provavelmente  a  madrinha  no  prece- 
dente assento),  padrinhos  Garcia  de  Resende  e  Estevão  de  Aguiar, 
madrinhas  D.  Caterina  Ferreira  e  Luzia  Gonçalvez,  parteira  (ibi 
fl.  7  v.).  Puz  estes  dois  assentos  para  mostrar  as  boas  relações  dos 
dois  irmãos  Reseijdcs  com  a  poderosa  família  dos  Barões  de  Alvito, 
vedores  da  Fazenda  ;  D.  Filipe  e  1).  Francisco  eram  primos  com  irmãos, 
netos  do  l.o  Barão.  Continuam  os  assentos:  A  30  de  junho  de  1536 
foi  baptisada  Antónia,  filha  de  Diogo  de  Góes  e  de  sua  mulher 
Leonor  Vaz  (ibi.  fl.  3ô  v.);  a  23  de  julho  de  1536  foi  baptisado 
Luis,  filho  de  Bento  Rodriguez  e  de  Beatriz  Rodriguez  sua  mulher, 
foram  compadres  o  dr.  Rodrigo  Monteiro  e  Garcia  de  Resende 
{ibi.  fl.  39,  este  é  o  filho  de  Jorje);-  a  2  de  dezembro  de  1536  foi 
baptisada  Caterina,  filha  de  Rui  Boto  e  de  D.  Joana  sua  mulher, 
compadres  Honorato,  embaixador  dei  Rei  de  França,  e  António 
Ferreira,  comadres  Beatriz  do  Rego  e  Beatriz  Anes,  parteira  (ibi. 
fl.  50  v.,  deste  custume  das  parteiras  serem  madrinhas  se  derivou 
o  uso  de  lhes  chamar  comadres); -a  30  de  julho  de  1537  enterrou 
a  Misericórdia  a  Maria  de  Resende,  pobre  desamparada  (Cartório 
da  Misericórdia,  liv.  da  receita  e  despesa  de  1537,  fl.  10);  a  10  de 
dezembro  de  1537  foi  baptisada  Lucrécia,  filha  de  Garcia  de  Re- 
sende e  de  sua  mulher  Maria  de  Resende,  compadres  Jorje  Barbosa 
e  Álvaro  de  Madureira,  comadres  Caterina  Bota  e  Luisa  Eanes, 
parteira  (liv  l.o  de  Santo  Antão,  fl.  83  v.);  -a  29  de  março  de  1538 
enterrou  a  Misericórdia  a  Leonor  Bota,  filha  de  Filipa  Bota,  freira  de 
S.  Francisco  (cit.  liv.  da  Misericórdia,  fl.  70  v.);~a  1  de  janeiro 
de  1539  faleceu  o  dr.  Duarte  de  Pina,  testamenteira  sua  filha  Maria 
Bota,  morador  na  rua  da  Porta  Nova  (liv.  l.o  de  Santo  Antão, 
fl.  189); -a  5  de  fevereiro  de  1539  foi  baptisada  Beatriz,  filha  de 
Garcia  de  Resende  e  de  Maria  de  Resende  sua  mulher,  compadres 
Marti/n  Boto  e  Pêro  Taveira,  comadres  Tareja  Falcoa  e  Caterina 
Dias  Azambuja,  parteira  (ibi.  fl.  115); -a  16  de  abril  de  1539  foi 
baptisado  Manuel,  filho  de  Barnabé  de  Góes  e  de  Ilena  Dias  sua 
mulher  (ibi.  fl.  121); -a  25  de  novembro  de  1542  faleceu  Maria  de 
Resende,  mulher  de  Garcia  de  Resende,  morador  na  rua  das  Estala- 
jens,  que  parece  ter  ficado  por  testamenteiro  (ibi.  fl.  194  v.);—  a  9 
de  maio  de  1544  casou  Duarte  Lobo,  filho  de  Manuel  Fernandez  e 
de  Caterina  Fernandez  sua  mulher,  moradores  na  Vila  Nova,  com 
Caterina  de  Resende,  filha  de  Fernão  de  Resende  e  de  Brites  Alvarez, 
moradores  a  S.  Mamede  (liv.  l*o  de  S.  Mamede,  fl.  104); -a  29  de 
setembro  de  1545  é  Jorje  de  Resende  padrinho  de  uma  criança  (liv.  2.o 
de  Santo  Antão,  fl.  10  v.);— a  5  de  maio  de  1551  casou  Garcia  de 
Resende  com  Isabel  de  Canha,  em  sua  casa  por  especial  mandado 
do  Cardeal  nosso  Senhor,  por  justos  respeitos  que  a  isso  o  moveram; 
foram   testemunhas   "vernaldim   pariiz  (ou   parniz),,,   arcediago  do 


52  ESTUDOS 

nores  e  do  dedicado  irmão  a  quem  os  deixou  entregues. 
No  mesmo  dia  teve  logar  a  abertura  do  testamento  38. 
Foi  levado  o  corpo  á  sua  capella  da  cerca  do  Espi- 
nheiro, no  meio  delia  se  lhe  abriu  a  sepultura,  a  qual 
cobriram  com  uma  grande  campa,  em  que  se  vê,  alem 
do  escudo  com  as  duas  cabras  dos  Resendes,  este  sim- 
ples epitáfio: 

Sepoltura  de  gar- 

cia  de  Reesende 

bago  da  Sé,  e  António  Tomé,  Simão  Gomez,  ferrador  e  Manuel 
Pescoço  (ibi.  fl.  191  v.);  a  10  de  oitubro  de  1558  faleceu  Filipa 
Bota;  foi  no  habito  de  S.  Domingos  e  foi  enterrada  no  dito  mos- 
teiro (?);  fez  testamento,  "he  testamenteira.  .  .  catelina  Bota,,  (ibi. 
liv.  Lo,  fl.  144);  a  17  de  abril  de  1575  casou  Bernabé de  Resende 
com  Eugenia  "Manieta,  digo  Mancata,.  (ibi.  liv.  37.°,  fl.  139);  a  21 
de  julho  de  157()  casou  Francisco  de  Faria  com  Meda  de  Góes, 
morador  á  Porta  Nova  (liv.  51.o  da  Sé  fl.  198  v.);  etc.-Os  Resendes 
e  seus  presumíveis  parentes  vão  em  itálico. 

18  Liv.  l.o  da  Provedoria  de  Évora,  fl.  442,  na  Bib.  publica 
daquella  cidade;  liv.  29.°  do  Registo  do  Real  Archivo,  fl.  242,  na 
Torre  do  Tombo. -No  IX  vol.  do  Dic.  bibliographico  declara  Ino- 
cêncio haver  Joaquim  António  de  Sousa  Telles  de  Matos  encontrado 
o  assento  de  óbito  (é  o  transcrito  na  nota  precedente)  de  um  Garcia 
de  Resende  falecido  a  3  de  fevereiro  de  1536,  não  havendo  porem 
a  certe/a  de  que  este  fosse  o  cronista.  Agora  não  restam  duvidas: 
a  data  da  abertura  do  testamento  tira-as  todas.  Os  outros  dois  Gar- 
cias  de  Resende  mencionados  no  Dic.  são  um  só,  o  filho  de  Jorje 
de  Resende,  o  sobrinho  e  genro  do  cronista,  casado  no  próprio 
anno  em  que  este  morreu,  ou  no  seguinte,  com  sua  filha  Alaria  de 
Resende,  falecida  a  25  de  novembro  de  1542,  e  não  1502  como 
erradamente  se  lê  no  Dic.  bibliographico.  Maria  de  Resende  tinha 
tido  duas  filhas:  Lucrécia,  baptisada  a  10  de  dezembro  de  1537;  e 
Beatriz,  a  5  de  janeiro  de  1539  (cf.  estas  datas  todas  na  nota  37). 
Nove  annos  depois  de  enviuvar,  tornou  Garcia  de  Resende,  a  5  de 
maio  de  1551,  a  casar  com  Isabel  de  Canha,  e  não  da  Cunha,  como 
se  lê  no  Dic.  (cf.  na  cit.  nota).  Estes  erros,  convém  esclarecer,  não 
são  de  Inocêncio;  provieram  da  pouco  segura  paleografia  de  Telles 
de  Matos  que  ministrou  as  noticias.  Nos  nobiliários  apenas  encon- 
tro, acerca  deste  segundo  Garcia  de  Resende,  muito  vagas  noticias: 
a  filha  Lucrécia  morreu  solteira;  a  outra  professou;  elle  e  a  segunda 
mulher  partiram  para  a  Índia  e  tiveram  a  Fr.  Sebastião  de  Resende, 
frade  de  S.  Francisco,  e  a  filhas  naquelle  estado  casadas.  Se  este 
Garcia  de  Resende,  que  em  vários  does.  aparece  nomiado  Garcia  de 
Resende  Falcão,  partiu  efectivamente  para  a  índia,  só  o  fez  depois 
de  21  de  julho  de  1558,  data  de  uma  escritura  por  elle  assinada  e 
que  o  sr.  A.  F.  Barata  aponta  a  paj.  15  tio  seu  folheto  André  de 
Resende,  Lúcio? 


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■ 

GARCIA   DE   RESENDE  53 

A  capella  foi  profanada  depois  de  1834.  A  lapida 
foi  arrancada  e  vendida  para  Évora,  onde  durante  muitos 
annos  serviu  de  mesa  de  cozinha  em  casa  particular! 
Só  perto  de  dois  annos  depois  disto  escrito,  na  prima- 
vera de  1903,  voltou  para  o  Espinheiro  e  delia  apresento 
aqui  a  reprodução  em  fototipia. 

A  sepultura  foi  revolvida,  e  alguns  ossos  do  cronista, 
que  andavam  por  lá  dispersos,  foram  guardados  por 
piedade  em  1865  na  Biblioteca  Eborense  ;i9! 

Pobre  Garcia!  Não  merecias  aos  teus  conterrâneos, 
que  tanto  se  envaidecem  com  o  teu  nome,  serem  teus 
restos  assim  tratados.  Elles  levantaram-te  um  monu- 
mento no  luxuoso  teatro  ha  poucos  annos  edificado 
em  Évora,  ao  qual  puzeram  o  teu  nome;  mas  foste  tão 
desgraçado,  que  não  tiveste  um  amigo  verdadeiro,  ou 
um  admirador  sincero,  que  pensasse  em  distrair  uns 
centos  de  mil  réis  para  reparar  a  tua  violada  sepultura, 
e  restituir-lhe  os  teus  restos!  Pobre  Garcia! 

Pela  data  da  morte  vê-se  que  não  assistiu  Garcia  de 
Resende  á  impressão  da  sua  Vida  de  D.  João  II,  que 
saiu  pela  primeira  vez  no  anno  de  1545,  tendo-se  aca- 
bado de  imprimir  em  casa  de  Luis  Rodriguez,  livreiro 
dei  Rei,  aos  12  de  junho.  Posso  conjecturar,  talvez  sem 
grande  perigo  de  errar,  que  a  pessoa,  a  quem  devemos 
a  impressão  da  crónica,  foi  Jorje  de  Resende,  irmão  do 
autor.  Jorje,  dedicado  amigo  de  Garcia,  também  foi 
dado  ás  letras,  e  da  sua  lavra  se  encontram  muitas 
poesias  no  Cancioneiro.  Mas  Jorje,  que  não  sabemos 
ao  certo  quando  morreu'*0,  seria  ainda  vivo  ao  tempo 


Sr.  A.  F.  Barata,  Breve  memoria  do  Espinheiro,  paj.  9. 
40  Parece  haver  Jorje  de  Resende  morrido  pelos  annos  de  1547, 
por  quanto  neste  se  fez  o  inventario  de  seus  bens,  segundo  uma  no- 
ticia, com  visos  de  bem  fundada,  á  qual  lá  mais  adiante,  nos  adita- 
mentos, me  referirei. 


54  ESTUDOS 

em  que  sc  imprimiu  o  livro  de  seu  irmão?  Era,  e  disso 
tenho  a  certeza,  não  só  por  o  ter  encontrado  em  29  de 
setembro  de  1545,  servindo  de  padrinho  de  uma  crian- 
ça ' ',  mas  também  por  um  facto  que  muito  aprecio.  Possuo 
um  exemplar  da  primeira  edição  da  Vida  de  D.João  //, 
de  Resende,  e  esse  exemplar  é  o  que  pertenceu  a  Jorje 
de  Resende,  que  no  verso  da  ultima  folha,  no  fim  de 
tudo,  lhe  poz  a  sua  assinatura,  igual  á  que  o  leitor  logo 
verá  em  fac-simile  tirado  de  uma  carta  de  Jorje,  a  qual 
se  guarda  no  Corpo  cronolojieo.  Talvez  não  fosse  Jorje 
de  Resende  que  presidisse  á  impressão  da  crónica  de 
Garcia,  mas  podia  te-lo  sido;  e,  por  os  filhos  do  autor 
serem  então  de  menor  idade,  nada  mais  compreensível 
do  que  atribuir  á  piedade  fraternal  o  cumprimento  de 
tão  gostoso  dever. 

Do  facto  de  não  ter  Garcia  de  Resende  chegado  a 
mandar  imprimir  o  seu  livro,  parece-me  poder-se  tirar 
uma  ilacção  favorável  á  memoria  do  autor. 

Tem  Resende  sido  acusado,  e  justamente,  de  plajia- 
rio  de  Rui  de  Pina;  e  acrescentarei  que  o  foi  com  mui 
notável  impudência,  se  o  prologo  da  Vida  de  D.João  II 
é  obra  de  Garcia.  Por  três  vezes  se  lê  no  tal  prologo, 
que  não  houve  quem  se  lembrasse  da  memoria  de 
D.  João  II  para  lhe  contar  a  vida.  Isto,  dito  pelo  autor 
que  d'ali  a  poucas  pajinas  vai  copiar  trechos  inteiros  de 
um  livro  escrito  sobre  o  mesmo  assunto  antes  do  seu, 
é  um  cumulo.  Mas,  no  mesmo  prologo,  e  por  duas  ve- 
zes, ha  referencia  positiva  a  uma  crónica  de  D.  João  II 
já  existente;  e  de  uma  das  vezes  a  alusão  ao  livro  de 
Rui  de  Pina  é  clara  nestas  palavras:  "eu. . .  viesse  a  es- 
crever sua  vida  do  tempo  de  seu  nascimento  até  ser  al- 
çado por  rei,  por  não  ir  em  sua  chronica.,,  Quem  abrir 


"  Cf.  na  nota  37. 


GARCIA   DE    KM  SEND1  55 

a  historia  de  Rui  de  Pina  verá  que  elle  a  começa  rro 
dia  da  morte  de  D.  Affonso  V. 

Aparece-nos  pois  neste  prologo  um  Resende  tapando 
com  a  manta,  e  descobrindo  com  o  chocalho,  um  Re- 
sende estúpido,  o  que  elle  nunca  foi;  e  a  explicação  pa- 
rece-me  comezinha. 

O  prologo  é  geralmente  a  ultima  coisa  que  o  autor 
escreve.  Podia  ter  Garcia  de  Resende  deixado  os  apon- 
tamentos para  elle,  e  seu  irmão,  ou  quem  quer  que  foi, 
colejindo-os,  dar-lhes,  por  estar  mais  alheio  da  matéria 
do  que  o  autor,  aquella  forma  confusa  que  se  presta  á 
acusação  de  descarado  plajio.  E  note-se  que  é  muito 
dificultoso  discriminar  plajios  nos  historiadores  antigos: 
umas  vezes,  porque  elles  parece  não  terem  compreen- 
dido bem  o  feio  do  caso,  et  prenaient  leur  bien  oii  i/s  le 
trouvaient;  outras  vezes,,  na  maior  parte,  porque  as  obras 
plajiadas  desapareceram.  No  mesmo  anno  de  1490  em 
que  D.  João  II,  por  duas  cartas  de  16  de  fevereiro,  dava 
duas  tenças  a  Rui  de  Pina,  sendo  uma  para  elle  e  outra 
para  o  escrivão  que  lhe  ajudava  "a  escrever  os  nossos 
feitos  famosos»  ''-;  nesse  mesmo  anno,  repito,  a  11  de 
março,  concedia  el  Rei  licença  para  ter  servidor,  por  ser 
de  setenta  annos  e  adorado,  a  Antão  Martinz,  "nosso 
caronista;/,  clérigo  de  missa ',:!.  O  que  é  feito  das  obras 
deste  cronista? 

Escreverei  agora  resumidamente  o  catalogo  dos  admi- 
nistradores do  morgado  de  Garcia  de  Resende,  até  á 
completa  extincção  da  família,  e  abolição  do  vinculo 
que  durou  duzentos  e  oitenta  annos. 

O  1.°  administrador  foi  seu  filho  Francisco  de  Re- 
sende. Teve  elle  em    11    de  oitubro  de  1539  carta  de 


a  Chancelaria  de  D.João  II,  liv.  12.o,  fl.  16. 
13  Ibidem,  ti.  3^)  v. 


56  ESTUDOS 

padrão  da  tença  de  sete  mil  trezentos  e  trinta  e  três 
reaes,  por  lhe  terem  pertencido  os  bens  que  seu  pai  dei- 
xou em  morgado  para  se  cumprir  a  obrigação  da  sua 
capella  ''.  Era  menor  quando  o  pai  morreu,  e  ficou 
por  seu  tutor  seu  tio  Jorje  de  Resende,  que  o  casou 
com  sua  filha  Filipa  Bota,  casamento  já  efeituado  em 
25  de  agosto  de  1548,  morando  então  os  conjujes 
na  sua  herdade  da  Anta,  termo  de  Montemor  o  Novo, 
nas  suas  casas  de  Vai  da  Arca ,,;1.  Francisco  de  Re- 
sende, morador  em  Évora,  foi  condenado,  por  um 
ferimento  que  fez,  a  um  anuo  de  degredo  para  fora  da 
cidade,  mas  teve  perdão  da  pena  por  carta  de  22  de 
março  de  1556 4ti.  Dez  annos  depois,  em  junho  de  1566, 
encontro-o  exercendo  o  cargo  de  vereador  da  Camará 
de  Évora,  no  qual  o  torno  a  achar  investido  em  agosto 
de  1571  e  março  do  anno  seguinte'1'.  Francisco  de  Re- 
sende e  Filipa  Bota  fizeram  testamento  de  mão  comum, 
estando  na  herdade  da  Anta,  termo  de  Montemor  o 
Novo,  a  16  de  julho  de  1580.  Instituíram,  na  crasta  do 
mosteiro  de  S.  Francisco  de  Évora,  uma  capella,  a  qual, 
se  em  suas  vidas  não  puderem  acabar  de  fazer,  mandam 
que  se  faça  no  lugar  que  lhes  for  dado  em  capitulo  dos 
frades.  Minuciosamente  determinam  como  a  capella  ha 
de  ser  executada  e  a  ella  legam  certos  bens.  Foi  o  tes- 
tamento aprovado  nas  casas  da  quinta  da  Anta,  aos 
18  de  oitubro  de  1580,  e  aberto  em  Évora  a  2  do  se- 
guinte mes  de  novembro,  estando  ainda  o  cadáver  de- 
Francisco  de  Resende  por  sepultar  |S.  Encontro  a  noticia 


"  Chancelaria  de  D.João  III,  liv.  26.o  de  Doações,  fl.  243  v. 

15  Escritura  daquella  data  extractada  pelo  sr.  A.  F.  Barata  a  paj.  lí 
di'  -ih  Folheto  André  de  Resende,  Lúcio? 

"'  Chancelaria  de  I).  João  III,  liv.  26.°  de  Perdões  e  legitimações, 
fl.  57. 

'"  I  iv.  2.o  de  Extractos  de  does.  no  archivo  da  Camará  de  Évora, 
colijidos  porj.  M.  da  Cunha  Rivara,  n.os  1510,  1622  e  1638. 

™  I  iv.  2.o  tia  Provedoria  de  Évora,  fl.  420. 


GARCIA   DE   RESEND1  57 

delle  haver  sido  sepultado  na  igreja  do  referido  con- 
vento, numa  capella  da  banda  direita,  com  este  epitá- 
fio: Aqui  jaz  Francisco  de  Resende,  dando  d  terra  o 
que  e  seu.  Falleceu  no  1.°  de  dezembro  de  15S0  ''''.  Deve- 
se  ler  novembro  em  vez  de  dezembro,  e  não  sei  se  o 
erro  estaria  no  epitáfio,  ou  será  de  quem  o  copiou. 

2.°  administrador:  D.  Jeronima  de  Resende,  filha  de 
Francisco  de  Resende,  teve,  por  falecimento  deste,  apos- 
tila de  padrão  da  tença  vinculada,  como  consta  da  verba 
de  3  de  setembro  de  1 583  i0.  Foi  casada  com  Fernão 
Gonçalvez  Cogominho,  morgado  da  Torre  dos  Coelhei- 
ros, mas  morreu  sem  deixar  descendência,  nos  fins  do 
anno  de  1608,  princípios  de  1609  ''. 

3.°  administrador:  Pedro  Paulo  de  Resende,  que  era 
filho  de  Manuel  Coelho  da  Silva  e  de  D.  Maria  de  Al- 
meida, filha  de  António  de  Resende  •"'-.  o  segundo  filho, 
que  para  a  sucessão  do  morgado  nomeou  Garcia  de 
Resende  em  seu  testamento  :,:i.  Sucedeu  Pedro  Paulo  a 
D.  Jeronima,  sua  tia  (prima  com  irmã  de  sua  mãe)  na 
tença  vinculada  de  sete  mil  trezentos  e  trinta  e  três  réis, 
e  foi  notificado  para  a  distratar  ou  reduzir.  Aceitou  a 
redução,  e  em  29  de  junho  de  1624  passou-se-lhe  apos- 


19  António  Peixoto  de  Queiroz  e  Vasconcellos,  Nobiliário  das  fa- 
mílias de  Portugal,  no  vol.  que  tem  na  lombada  o  n.»  23.  Guarda-se 
na  Torre  do  Tombo,  mas  não  pertence  ao  Arquivo. 

50  Chancelaria  de  D.João  III,  liv.  26. o  de  Doações,  fl.  243  v. 

;>1  Carta  de  30  de  setembro  de  1609  escrita  de  S.  Tomé  de  Me- 
liapor  por  António  de  Resende  Falcão  ao  Provedor  da  Misericórdia 
de  Évora.  Foi  impressa  pelo  sr.  Gabriel  Pereira  na  l.a  parte  do 
Archivo  da  Misericórdia  de  Évora.  paj.  13,  folheto  da  colecção  dos 
Estudos  eborenses. 

52  Habilitações  do  Santo  Oficio,  mac.  68  de  Franciscos,  n.o  1271, 
a  fl.  158  e  outras. 

53  Este  filho  de  Garcia  de  Resende  seria  mulato,  musico  e  medico 
no  dizer  de  um  nobiliário  do  século  xvn  apontado  por  Augusto 
Filipe  Simões  (Instituto,  XV,  180).  Não  me  parece  exacto,  porque 
então  não  seria  só  o  defeito  de  sangue  judaico,  mas  também  o  de 
moirisco,  o  motivo  para  o  9.o  administrador  do  vinculo  não  ser 
admitido  a  familiar  do  Santo  Oficio,  como  adiante  veremos. 


58  i  si  idos 

tila  de  cinco  mil  quinhentos  c  seis  réis,  a  começar  no 
primeiro  de  janeiro  do  auno  seguinte34.  Pedro  Paulo, 
segundo  dizem  os  nobiliários,  casou  com  D.  Luisa  de 
Figueiredo,  rilha  de  Nicolau  Coelho,  escrivão  dos  órfãos; 
morreu  porem  sem  geração  ". 

4.°  administrador:  D.  Brites  de  Resende,  irmã  de  Pe- 
dro Paulo  de  Resende,  herdou  por  sua  morte  o  mor- 
gado, e  por  apostila  de  18  de  fevereiro  de  1647  foi-lhe 
confirmada  de  juro  e  herdade  a  tal  tença,  já  reduzida  a 
cinco  mil  e  quinhentos  réis,  para  a  começar  a  receber 
do  primeiro  de  janeiro  daquelle  anno  em  diante''0.  Foi 
D.  Brites  casada  com  Fernando  Peixoto  de  Faria,  deixou 
testamento  aprovado  em  16  de  julho  de  1660",  e  já  era 
falecida  em  20  de  julho  de  1663  is.  No  tempo  desta  se- 


"  Doações  de  D.  Filipe  III,  liv.  14.»,  fl.  96. 

\n  Dic.  dos  architectos,  II,  365,  supõe  o  meu  presado  amigo 
dr.  Sousa  Viterbo  não  ser  perfeitamente  exacta  a  minha  afirmação 
de  a  D.  Jeronima  de  Resende  ter  sucedido  na  administração  do  vin- 
culo seu  sobrinho  Pedro  Paulo  de  Resende.  Funda-se  na  carta  e 
procuração  enviada  de  Meliapor  em  1600  por  António  Falcão  de 
Resende  á  Mesa  da  Misericórdia  de  Évora,  ..para  aquelle  estabeleci- 
mento, palavras  do  indefesso  investigador,  tomar  posse,  em  seu 
nome,  do  morgado».  Estes  doo.  foram  publicados  pelo  sr.  Gabriel 
Pereira,  no  seu  folheto  na  nota*51  cit.:  a  carta,  na  integra,  em  copia 
não  paleografica  comtudo;  a  procuração,  em  resumo,  com  supressão 
de  umas  palavras  indispensáveis  para  o  bom  sentido;  foi  talvez  lapso 
da  impressão.  António  Falcão  pediu  porem  primeiro  á  Misericórdia 
para  revindicar  para  elle  a  posse  do  morgado,  "e  alcançando  em 
meu  nome  a  posse  desse  morgado,  do  rendimento  lhe  concedo  (á 
Misericórdia)  o  que  a  suas  mercês  parecer  decente,,.  Ora,  não  só  a 
administração  do  vinculo  recaiu  em  Pedro  Paulo  sem  encargo  ne- 
nhum a  favor  daquelle  estabelecimento  pio,  encargo  até  impossível 
de  legalmente  se  lançar,  como  si')  a  elle  Pedro  Paulo,  e  nunca  a 
António  Falcão,  se  passou  apostila  no  padrão  da  tença  anexa  ao 
vinculo.  F^tas  apostilas,  averbamentos  lhe  chamaríamos  hoje,  é 
que  me  serviram  de  guia  para  o  catalogo  dos  administradores,  e 
creio  não  ser  possível  encontrar  base  mais  segura.  Entre  tanto,  não 
tenho  duvida  nenhuma  em  confessar,  que,  sendo-me  a  existência  de 
António  balcão  de  Resende  perfeitamente  conhecida,  a  da  sua  carta 
ignorava  absolutamente. 

"  Doações  de  f).  foão  IV,  liv.  3.o,  fl.  274. 

Nobilitações,  cit.,  fl.  158. 
8  Doações  de  D.  João  IV,  liv.  3.°,  fl.  274,  verba  á  marjem. 


GARCIA   DE   RESENDE  59 

nhora  já  o  vinculo  tinha  a  designação  de  morgado  da 

Anta. 

5.°  administrador:  Garcia  de  Resende,  que  sucedeu  a 
sua  avó  paterna  D.  Brites,  e  teve  em  1  de  setembro  de 
1664  apostila  para  receber  no  almoxarifado  de  Évora, 
onde  sempre  foi  paga,  a  tença  anexa  ao  morgado  ''. 
Garcia  de  Resende  foi  filho  de  Diogo  Gomes  Peixoto 
e  de  sua  mulher  D.  Inês  de  Ataíde,  ambos  naturaes  de 
Elvas,  mas  moradores  em  Évora  em  1657.  Nascera  Gar- 
cia em  Elvas,  e  lá  fora  baptisado  em  30  de  agosto  de 
1638  com  o  nome  de  Fernando,  que  na  crisma  mudou 
em  Garcia60.  Casou,  precedendo  escritura  dotal  de  12  de 
maio  de  1657,  com  D.  Brites  Maria  de  Sande,  que  tam- 
bém se  chamou  D.  Brites  de  Sande  e  Vasconcellos,  que 
fora  baptisada  em  Évora  a  18  de  fevereiro  de  1643  e 
que  era  filha  de  Domingos  Coelho  de  Figueiredo  e  de 
sua  mulher  Maria  de  Sande  e  Vasconcellos 61.  Estes 
Sandes  eram  de  Estremoz,  e  tinham  fama  constante  e 
antiga  de  cristãos  novos.  Garcia  de  Resende  viveu  em 
Évora,  onde  parece  ter  exercido  o  oficio  de  almotacé, 
e  já  era  falecido  em  24  de  março  de  1689  o"2. 

6.°  administrador:  Diogo  de  Resende  e  Vasconcellos, 
filho  de  Garcia,  sucedeu  no  morgado,  e  teve  confirma- 
ção da  tença  em  6  de  julho  de  1689 ,i:!.  Foi  vereador 
em  Évora  nos  annos  de  1709,  1713  e  1715°',  e  já  era 
falecido,  solteiro  e  sem  filhos,  a  7  de  junho  de  1717  ''•', 
tendo  talvez  morrido  em  princípios  de  1716. 

7.o  administrador:  D.  Inês  Maria  de  Resende  e  Vas- 
concellos sucedeu  no  vinculo  por  morte  de  seu  irmão, 


59  Doações  de  D.  Afonso  VI,  liv.  6.<\  fl.  434. 

'''"  Habilitações  cit.,'fl.  252  e  253. 

111  Ibidem,  fl.  224. 

62  Doações  de  D.  Afonso  VI,  liv.  6.<\  fl.  434,  verba  á  marjem. 

113  Doações  de  D.  Pedro  II,  liv.  8.o,  fl.  183  v. 

•j  Habilitações  cit.,  fl.  235. 

6:'  Doações  de  D.  Pedro  II,  liv.  8.o,  fl.  183  v.,  verba  á  marjem. 


60  ESTUDOS 

e  em  7  de  janeiro  de  1718  teve  confirmação  da  tença 
para  a  começar  a  receber  do  primeiro  de  janeiro  de  1716 
em  diante  66.  Casou  com  o  dr.  Sebastião  Vieira  de  Ma- 
tos, neto  materno  de  Pedro  Margalho  Geraldo,  insti- 
tuidor de  um  morgado  em  que  os  Resendes  vieram  a 
suceder,  mas  que  tinha  tal  fama  de  cristão  novo,  que 
serviu  ella  de  impedimento  absoluto  a  seus  descenden- 
tes para  entrarem  no  Santo  Oficio  {'". 

8.°  administrador:  D.  Micaela  Arcangela  Bernarda  de 
Resende  sucedeu  a  sua  mãe,  e  em  23  de  junho  de  1735, 
sendo  viuva  do  desembargador  José  Cardoso  Girão, 
teve  padrão  da  tal  tença  de  juro  e  herdade  no  almo- 
xarifado de  Évora os.  Esta  senhora  teve,  em  26  de  junho 
de  1738,  provisão  para  aforar  umas  casas  na  rua  do  La- 
gar do  Cebo,  em  Lisboa,  as  quaes  pertenciam  a  um 
morgado  que  não  era  o  instituído  por  Garcia  de  Re- 
sende09. Em  quanto  ella  administrou  este,  pagou  ao 
convento  do  Espinheiro  para  missas  cinco  mil  e  qui- 
nhentos réis,  que  antigamente  eram  sete  mil  trezentos 
e  vinte  70.  Por  aqui  ficamos  sabendo,  que,  se  os  frades 
recusaram  a  tença,  como  acima  disse,  não  foi  por  se  não 
contentarem  com  a  importância  delia;  outro  motivo  ti- 
veram, mas  não  sei  qual. 

9.°  administrador:  Francisco  Policarpo  Girão  de  Re- 
sende, filho  de  D.  Micaela,  foi  baptisado  em  S.  Mamede 
de  Évora  a  15  de  fevereiro  de  1719;  teve  o  habito  de 
Cristo  por  alvará  de  11  de  abril  de  1734 7l.  e  já  tinha 
sucedido  no  morgado  quando  em  1747  foi  reprovado 
para  familiar  do  Santo  Oficio,  por  ter,  sobretudo  pelos 


66  Padrões  e  doações  de  D.João  V,  liv.  9.o,  fl.  254  v. 

Habilitações  cit,  nas  tenções  Finaes,  fl.  282  v.  e  seguintes. 

68  Padrões  e  doações  de  f).  João  \\  liv.  1  J.°.  fl.  385. 

69  Ofícios  e  mercês  de  D.João  V,  liv.  94.o,  fl.  170  v. 

/  ivro  das  capeUas  do  Espinheiro,  fl.  50,  na  Bib.  do  Évora. 
"'  Ordem  de  Cristo,  liv.  101.",  fl.  108. 


GARCIA    Dl:    RESENDE  61 

Margalhos,  muito  radicada,  constante,  e  antiga  fama  de 
cristão  novo  '-.  Coitado  do  Garcia  de  Resende!  Elle  a 
arranjar  um  solar  com  torre  e  brasão  para  afidalgar 
seus  descendentes,  e  o  seu  representante  dois  séculos 
depois  a  ser  por  judeu  escorraçado  do  Santo  Oficio! 
Depois  desta  vergonha,  porque  então  o  era,  e  grande, 
parece  ter  Francisco  Policarpo  passado  a  viver  em  El- 
vas,  onde,  dizem  alguns  nobiliários,  casou  com  D.  Te- 
reza  Rosa  de  Faria,  filha  de  António  Cardoso  de  Al- 
meida, daquella  cidade. 

10.°  administrador:  D.  Maria  Rosa  Gertrudes  de 
Resende.  Não  tenho  a  certeza  desta  senhora  ter  chegado 
a  administrar  o  morgado,  nem  posso  asseverar  que  o 
seu  nome  fosse  exactamente  aquelle,  porque  os  do- 
cumentos encontrados  não  esclarecem  nenhum  dos 
casos.  No  que  não  ha  duvida  é  em  ter  ella  sido  casada 
com  Inocêncio  José  de  Mendonça,  que  na  maior  parte 
dos  documentos  é  chamado  Inocêncio  José  de  Men- 
donça e  Faria,  ou  Inocêncio  José  de  Mendonça  Faria  e 
Magalhães.  Foi  elle  cavaleiro  da  ordem  de  Cristo  por 
carta  de  21  de  julho  de  1765 73,  tenente  e  ultimamente 
sarjento  mór  de  cavalaria  na  praça  de  Elvas,  e  ainda 
vivia  em  1805  quando  se  fez  a  escritura  de  casamento 
do  filho.  Inocêncio  José  de  Mendonça  administrava  o 
vinculo  em  1777,  e  devia  ser  já  em  nome  do  filho, 
depois  da  morte  de  sua  mulher,  por  não  ser  esta  no- 
meada no  documento  que  vou  citar.  Naquelle  anno  de 
1777  foi  reedificada  de  grave  ruiria  a  ermida  de  Garcia 
de  Resende  no  Espinheiro,  sendo  dom  Abade  Fr.  Se- 
bastião de  Santa  Maria,  e  administrador  da  capella  Ino- 
cêncio José  de  Mendonça.  Depois  das  obras  foi  a  er- 

72  Habilitações  do  Santo  Oficio,  mac.  68  de  Franciscos,  n.°  1271. 
O  processo  é  muito  volumoso;  Francisco  Policarpo  defendeu-se 
com  tenacidade. 

73  Ordem  de  Cristo,  liv.  2Só.o,  fl.  150. 


62  ESTUDOS 

mida  novamente  reconciliada,  e  nella  se  disse  outra  vez 
missa  a  8  de  dezembro  de  1778,  escolhendo-se  este  dia 
por  se  ter  mudado  o  antigo  retabolo,  que  era  de  nossa 
Senhora  do. Egipto,  para  nossa  Senhora  da  Concei- 
ção "'. 

ll.o  e  ultimo  administrador:  André  Lúcio  de  Resende, 
que  também  usou  de  outros  nomes "',  nasceu  em  Elvas 
em  1756  7",  e  ainda  não  estava  emancipado  em  1805", 
quarenta  e  nove  annos  depois!  Pobre  Garcia!  O  teu 
ultimo  representante  foi  um  idiota! 

E  verdade  que  André  Lúcio  teve  um  irmão,  Tomás 
José  de  Resende  e  Vasconcellos,  que  foi  bacharel  for- 
mado; mas  nem  isso  é  garantia  segura  de  inteligência, 
nem  o  filho  segundo  sobreviveu  ao  primogénito. 

André  Lúcio  de  Resende  assentou  praça  no  rejimento 
de  cavalaria  de  Elvas,  no  qual  era  tenente  quando  se 
celebrou  naquella  cidade,  em  21  de  janeiro  de  1805,  o 
contrato  do  seu  casamento  com  D.  Antónia  Camila  da 
Silveira  Leal,  filha  do  capitão  Luis  Garcia  Gomes  Freire, 
já  falecido,  e  de  sua  viuva  D.  Maria  Barbara  da  Sil- 


"'  Cit.  Livro  das  capcllas  do  Espinheiro,  fl.  50. 

Aparece  em  does.  também  com  estes  nomes:  André  Lúcio  de 
Resende  e  Vasconcellos,  André  Lúcio  de  Resende  e  Sande,  e  no 
mais  antigo,  1771,  André  José  de  Resende  Mendonça  Faria  Vascon- 
cellos Sande  Girão. 

6  No  assento  de  óbito,  adiante  citado,  declara-se  haver  André 
Lúcio  de  Resende  falecido  com  cincoenta  e  oito  annos  em  1814; 
tinha  por  tanto  nascido  no  anno  indicado  no  texto.  Podia  porem  ter 
havido  engano,  ou  no  próprio  termo,  ou  na  sua  copia,  e  o  homem 
ser  muito  mais  novo  e  não  haver  sido  idiota,  como  adiante  direi. 
Desvanece-se  porem  a  duvida,  porque  consta  de  um  processo  para 
lo  de  vinculo,  requerida  em  1771  pelo  pai  de  André,  que 
este  era  então  menor  e  imediato  sucessor  do  morgado  (Desembargo 
do  Paço.  Alemtcjo  e  Algarve,  mac.  75,  nfi  21).  Ora,  ainda  que  se 
suponha  ter  elle  então  apenas  um  anno  de  idade,  é  certo  que  trinta 
e  cinco  annos  depois  ainda  não  estava  emancipado.  Isto  é  apenas 
uma  contraprova,  certamenie  desnecessária,  porque  a  idade  de  André 
i  ml  içada  no  assento  de  óbito  deve  estar  certa. 

im  o  declara  a  escritura  de  casamento  (Desembargo  do  Paço. 
\lemtejo  e  Algarve,  mac.  118,  n.o  39). 


GARCIA   DF.   RESENDJ  03 

veira  Leal 7S.  Os  alfinetes  e  as  arras,  que  por  este  contrato 
foram  arbitrados  á  noiva,  uma  provisão  réjia  de  7  de 
junho  do  mesmo  anuo  lhos  garantiu  pelos  rendimentos 
dos  morgados  do  noivo  '''. 

Em  Elvas  continuou  a  viver  André  Lúcio  de  Resende, 
declarando  a  todos  publicamente  que  por  sua  morte 
acabava  sua  geração H0,  e  veio  a  morrer  de  hidropisia  na 
sua  casa  da  rua  do  Tabolado,  sendo  capitão  reformado 
de  cavalaria,  no  dia  17  de  abril  de  1814,  com  cincoenta 
e  oito  annos,  tendo  feito  testamento  a  6  do  precedente 
fevereiro  e  deixando  por  sua  universal  herdeira  e  testa- 
menteira a  sua  mulher81. 

Meteram-se  de  posse  dos  morgados  do  finado  sua 
viuva,  e  Manuel  de  Sande  de  Vasconcellos,  de  Estre- 
moz, e  Francisco  Inácio  de  Resende  Feio,  de  Évora. 
A  capella  de  Garcia  de  Resende  foi  denunciada  por 
José  Maria  Ribeiro  Pestana  de  Brito,  e  julgada  vaga  e 
incorporada  na  coroa  por  sentença  de  5  de  julho  de 
1817s-. 

O  morgado  ou  capella  de  Garcia  de  Resende  cons- 
tava, ao  tempo  da  sua  abolição,  das  seguintes  glebas: 
herdade  da  Anta,  com  quatro  folhas  rendendo  tre- 
zentos alqueires  de  trigo,  cento  e  vinte  de  cevada,  e 
varias  pitanças;  quinta  da  Anta,  dentro  na  herdade; 
sete  moradas  de  casas  na  aldeia,  que  rendiam  a  dois 
mil  réis  cada  uma;  herdade  do  Fale,  dentro  da  qual 
estava  a  freguesia  de  S.  Brissos;  uma  morada  de  casas 
junto  á  igreja,  rendendo  três  mil  réis;  herdade  dos 
Morenos,  três  pensões  pagas  na  eira,  as  quaes  rendiam 


7!l  Desembargo  do  Paço.  Alemtejo  c  Algarve,  mac.  118,  n.°  39. 
7!l  Ofieios  e  mercês  de  D.  Maria  I,  liv.  20.<\  fl.  120. 
80  Registo  do  Real  Arehivo,  liv.  39.",  fl.  246. 
sl  Ibidem,  fl.  244  v.  e  247. 
«2  Ibidem,  fl.  254  v. 


04  ESTUDOS 

cincoenta  e  seis  alqueires  (de  trigo?);  herdade  do  Pi- 
nheiro, um  quinhão  de  vinte  e  seis  alqueires  de  trigo  e 
treze  e  meio  de  cevada;  herdade  dos  Andrades,  um 
quinhão  de  quatro  alqueires  e  três  quartas  de  trigo, 
três  alqueires  e  meio  de  centeio,  e  sete  e  meio  de  ce- 
vada; herdade  da  Nogueira,  um  quinhão  de  sete  alquei- 
res de  centeio  hi. 

Quem  olhar  para  a  carta  n.°  29  da  Comissão  Geodé- 
sica, e  reparar  para  a  ribeira  de  S.  Brissos,  lá  verá,  es- 
tendendo-se  por  ella  abaixo,  a  maior  parte  dos  prédios 
acima  mencionados.  Não  concordam  todos  os  nomes 
delles  com  os  referidos  no  instrumento  de  instituição,  e 
não  paga  a  pena  a  identificação,  a  não  ser  a  de  um,  a 
cabeça  do  morgado,  á  qual  Resende  chama  Vai  de 
Arcas,  e  que  posteriormente,  já  no  xvu  século,  era  de- 
signada por  Anta.  Dos  poucos  elementos  que  os  docu- 
mentos ministram,  apura-se  comtudo,  me  parece,  que 
eram  ambas  a  mesma  propriedade,  mudando  ella  de 
nome  com  o  andar  dos  tempos. 

Diz  Resende  na  instituição :  "a  minha  herdade  de  Vai 
de  Arcas  com  o  assento  de  casas  e  torre  honrada  que 
aí  hei  de  fazer.»  No  documento  precedentemente  citado 
menciona-se  a  "herdade  da  Anta. . .  e  a  quinta  da  Anta 
dentro  na  herdade.»  Geralmente  no  Alemtejo  só  se  dá 
nome  de  quinta  aos  prédios  que  teem  casas  de  habitação, 
e  que  são  murados,  ou  pelo  menos  vedados.  Mas  ha 
mais.  Na  instituição  declara-se  que  a  Nogueira  partia 
com  o  Vai  de  Arcas,  e  que  a  Fale  era  pegada  com  a 
Nogueira.  No  referido  mapa  lá  se  vê  um  monte  chamado 
da  Nogueirinha,  pegando  ao  sul  com  o  monte  das  Fales, 
e  ao  poente  com  a  Anta. 

O  viajante  que  fôr  para  o  Alemtejo,  ao  passar  no 
entroncamento  da  Casa  Branca,  lembre-se  que  a  quatro 

8;)  Desembargo  do  Poço.  Alantejo  c  Algarve,  mac.  1  IS,  n.°  39. 


GARCIA    DE    RI  SENDE 


65 


quilómetros  dali,  na  direcção  nor-nordeste,  existiu  "a 

minha    herdade    com   torre   honrada...   de   que   Resende 

tanto  se  desvanecia. 

Ultima  averiguação. 

A  casa,  chamada  em  Évora  de  Garcia  de  Resende, 
a   qual   se   vê   reproduzida   na   estampa  em  frente,   foi 

delle  ?  —  Não. 

Esta  casa  pertenceu  a  um  morgado  instituído  por 
Pedro  Margalho  Geraldo,  vinculo  de  que  veio  a  ser 
administrador  seu  quinto  neto  André  Lúcio  de  Resende 
e  Vasconcellos,  o  idiota,  rim  seu  nome,  e  como  admi- 
nistrador da  sua  pessoa  e  bens,  requereu  seu  pai,  Ino- 
cêncio José  de  Mendonça  e  Faria,  para  subrogar  por 
certo  olival  no  termo  de  Elvas,  uma  morada  de  casas 
junto  ao  poço  de  S.  Mansos  na  cidade  de  Évora,  as 
quaes  pertenciam  ao  morgado  instituído  pelo  dr.  Pedro 
Margalho  Geraldo;  e,  por  andarem  de  aluguel,  visto  a 
residência  do  suplicante  ser  em  Elvas,  se  achavam  muito 
arruinadas  e  precisadas  de  grande  concerto.  Por  este 
motivo  requer  a  subrogação,  e  no  requerimento,  que 
não  tem  data,  poz-se  despacho,  mandando  começar  o 
processo,  em  22  de  setembro  de  1784.  Fez-se  a  vistoria 
ás  casas'  em  13  de  oitubro  do  mesmo  armo,  e,  por 
estarem  muita  danificadas,  foram  avaliadas  em  trezentos 
mil  réis.  O  olival  foi  reputado  em  maior  quantia,  teve 
por  tanto  o  processo  despacho  para  provisão  em  25  de 
janeiro  de  1785  s'.  Finalmente  foi  autorizada  a  subro- 
gação, por  provisão  réjia  de  14  de  março  do  mesmo 

anuo  8j. 

Depois  vendeu- se  a  casa,  que  era  o  que  se  pretendia 
e  como  a  pessoa,  em  cujo  nome  se  vendeu,  era  o  repre- 


«  Desembargo  do  Paço.  Alentejo  e  Algarve,  mac.  90,  n.o  5. 
•3  Ofícios  e  marés  de  D.  Maria  /,  liv.  26.°,  El.  120. 


00  ESTUDOS 

sentante   de   Garcia   de    Resende,  e  o  prédio  fora  de 
morgado,    d'aí,   sem    outro  fundamento,  se  orijinou  a 

lenda. 

É  certo  ter  elle  tido  umas  casas  em  Évora;  "as  minhas 
casas  grandes  de  Évora,,,  diz  Garcia  no  seu  testamento; 
mas  também  é  certo,  que,  por  os  documentos  o  não 
declararem,  não  sabemos  em  que  sitio  da  cidade  fossem. 
E  até  mesmo  nenhuma  certeza  podemos  ter  delias 
haverem  chegado  a  entrar  para  o  vinculo,  como  o 
testador  desejava.  Quando  aquelle  se  dissolveu,  não 
abranjia  nenhumas  casas  em  Évora;  nem  o  olival  no 
termo  ele  Elvas,  pouco  antes  subrogado  por  umas,  era 
pertença  do  morgado. 

Do  processo  de  habilitação  de  Francisco  Policarpo 
Girão  de  Resende,  documento  acima  citado,  apura-se 
que  em  1710  residiam  seus  pais  na  freguesia  de  S.  .Ma- 
mede, e  pelos  mesmos  tempos  stia  avó  morava  na  fre- 
guesia da  Sé.  D'aqui  pode-se  concluir  que  a  avó,  D.  Inês 
.Maria  de  Resende,  já  então  7.a  administradora  do  mor- 
gado da  Anta,  estava  viuva  e  assistia  nas  casas  do  seu 
vinculo;  ao  passo  que  sua  filha  D.  Micaela  tinha  já 
sucedido,  ou  directamente  a  seu  falecido  pai,  ou  por 
sua  própria  cabeça,  no  morgado  de  Pedro  Margalho,  e 
habitava  nas  casas  a  este  pertencentes. 

Nesta  hipótese  teria  sido  a  casa  de  Garcia  de  Resende 
na  freguesia  da  Sé  de  Évora. 

( iarcia  de  Resende  também  teve  umas  casas  em 
Lisboa,  e  pena  é  que  as  eborenses  se  não  encontrem  tão 
bem  confrontadas  como  as  outras.  Eram  estas  vizinhas 
dos  Armazéns  e  Tercenas  do  reino,  na  rua  da  Tanoaria, 
junto  da  porta  que  foi  da  Judiaria,  porta  pegada  á 
Moeda;  e  partiam  de  um  lado  com  a  torre,  do  outro 
com  o  muro  da  Casa  do  Armazém,  e  por  diante  com 
rua  publica  que  ia  para  a  Tanoaria.  Estas  casas  havia-as 
Resende  comprado  a  uma  Caterina  Dias,  e  pagava  por 


JORJE   DE    KM  SEND1  07 

cilas  de  foro  ao  Armazém  cento  e  oito  reaes.  ( lonsti- 
tuiam  um  praso  cm  vidas,  e  por  morte  de  Garcia  foram 
aforadas  por  emfiteuse  a  seu  filho  Sebastião  de  Resende, 
por  carta  dada  cm  Évora,  um  mes  depois  da  morte  do 
pai,  a  2  de  marco  de  1536  Rfi. 

E  nada  mais  sei  dizer  acerca  de  ( iarcia  de  Resende. 
É  pouco,  concordo;  outros  exporão  o  resto  s~. 

No  pavimepto  do  adrozinho  alpendrado  da  capella 
edificada  na  cerca  do  comento  do  Espinheiro  por  Garcia 
de  Resende,  encontra-se  hoje  a  campa  de  seu  irm."  i 
Jofje  de  Resende,  a  qual  em  1045  ainda  estava  no  corpo 
da  igreja  s^.  Na  lapide  vè-se  um  escudo  com  as  duas 
cabras  dos  Resendes,  e  por  baixo  delle  este  epitáfio : 

SEPVLTVRA- DE 

GEOROE- DE 
R  E  E  S  E  X  D  E  •  E 
DE  •  SEVS  •  FILHOS 

Jorje  versejou  e  seu  irmão   publicou  no  Cancioneiro 

algumas  poesias  suas  v',  que  nenhuns  dados  biográficos 

ministram,  e  só  nos  mostram  um  poeta  amatorio  piegas,  no 

género  triste: 

Lembranças,  tristes  cuidados 
magoam  meu  cora 
quando  cuido  nos  passados 
dias.  que  passados  são. 

s"  Chancelaria  de  D.João  III,  liv.  21. o  de  Doações,  fl.  62  v. 

s"  Aqui  terminava,  no  "Jornal  do  Commereio..  de20di 
looi.  o  artigo  sobre  Garcia  de  Resende;  parece-me  porem  interes- 
sante juntar-lhe  agora  o  pouco  mais  que  nas  Sepulturas  do  F.spi- 
nheirq  escrevi  em  seguida  acerca  de  seu  irmão  Jorje  de  Resende. 
locarão  assim  reunidas,  contando  com  a  matéria  dos  ADITAMEN 
a  este  estudo,  as  noticias  que  pude  alcançar  dos  quatro  Resendes, 
escritores  quinhentistas. 

SN  Memorial  das  sepulturas  que  estão  uo  convento  do  Espinheiro, 
ti.  10,  ms.  do  anuo  de  lo4S  existente  na  Bib.  publica  de  Évora. 

s'  Cancioneiro  geral,  de  fl.  1S4.  col.  <>.■'■.  a  fl.  1SS,  col.  3.a 


68  ESTUDOS 

Da  vida  de  Jorje  de  Resende  nada  me  consta  que 
interesse.  Passou-a  socegadamente  em  Évora,  onde 
foi  vereador  em  vários  annos,  aparecendo  a  exercer 
aquelle  cargo  nos  de  1535 90,  1540  e  1541'".  Também 
foi,  segundo  noticias  que  encontro,  mas  mão  garanto, 
recebedor  dos  empréstimos  em  Évora  e  sua  comarca'1-, 
e  na  mesma  "juiz  dos  órfãos  proprietário,  tão  insigne  ju- 
rista que  ainda  hoje  as  suas  decisões  são  arestos  e  orá- 
culos as  suas  sentenças,- !,:;.  Foi  outrosim  fidalgo  da  casa 
de  D.  João  III,  que  lhe  entregou  a  administração  do 
morgado  da  Oliveira,  da  qual  deu  a  conta  relativa  aos 
três  annos  de  152Ò  a  1528  numa  carta  dirijida  a  el  Rei 
e  datada  de  Évora  a  26  de  oitubro  de  1528  '''.  Da  sua 
assinatura  neste  documento  aqui  vai  o  fac-simile: 


Por  cila  fiquei  sabendo,  como  já  acima  disse,  que 
Jorje  de  Resende  ainda  chegou  a  possuir  um  exemplar 
pelo  menos  da  primeira  edição,  a  de  1545,  da  Vicia  de 
D.  João  II  de  seu  irmão,  facto  de  que  tirei  a  conjectura 
de  poder  Jorje  ter  sido  quem  dirijiu  aquella  impressão. 
Elle  foi  o  tutor  de  seus  sobrinhos  menores,  pelo  menos 
de   Francisco,   o   mais   velho,  em  cujo  nome  requereu, 


'"'  Arch.  hist.  port.,  Ill,  48. 

91  Collecção  de  extractos  de  does.,  no  archivo  da  Camará  de  Évora 
colei  ida  porj.  R.  da  Cunha  Rivara,  liv.  2.o,  n.os  1190  e  1201. 

'•  Genealogia  de  Resendes,  ms.  de  letra  do  P.eJosé  Lopez  de  Mira, 
na  Bib.  publica  de  Évora,  anu.  X,  mac.  26,  cod.  1." 

IV    Francisco  da   Fonseca,  Évora  gloriosa,   paj.    M>4,  §  714. 

Este  autor  não  é  muito  seguro  nas  ^nas  afirmações.  No  alto  da 
paj.  seguinte  encabeça  o  mesmo  oficio  e  análogo  qualificativo  de 
"singularmente  sábio,.,  em  um  Pedro  Vaz  de  Resende  que  errada- 
mente declara  ser  pai  do  famoso  humanista  André  de  Resende. 

91  Corpo  cronolojico,  part.  I,  mac.  41,  doe.  85. 


JORJE   DE   RESENDE  69 

em  18  de  junho  de  1537,  traslado  da  verba  elo  testa- 
mento de  Garcia  relativa  á  instituição  elo  vinculo93. 

Com  Lucrécia  Falcoa,  filha,  conforme  os  nobiliários, 
de  André  Falcão,  de  uns  Falcões  de  Évora,  casou  Jorje 
de  Resende,  que  ainda  vivia  em  20  de  setembro  de 
1545 96;  era  porem  já  falecido  em  1547,  anuo  em  que 
se  partilharam  seus  bens,  sendo  cabeça  de  casal  sua 
vima,  que  pouco  tempo  comtudo  lhe  sobreviveu,  por 
isso  que  em  8  de  oitubro  de  1548  já  seu  filho  André 
Falcão  de  Resende  vendia  um  quinhão  que  lhe  coubera 
na  lejitima  materna.  Lá  mais  adiante,  no  cap.  II  dos 
aditamentos  indicarei  a  fonte  onde  bebi  estas  noticias. 

De  sua  mulher  teve  vários  filhos:  um  foi  André  Fal- 
cão de  Resende,  que  estudou  direito  na  Universidade 
de  Coimbra,  seguiu  os  logares  de  letras  e  foi  poeta;  ou- 
tro, Fr.  Brás  de  Resende,  dominicano,  e  também  es- 
critor '•''. 

No  segundo  quartel  do  xvm  século  ainda  havia  em 
Évora  descendentes  de  Jorje  de  Resende,  os  quaes  não 


95  Liv.  l.o  da  Provedoria  de  Évora,  fl.  442. 

96  Vide  nota  37. 

"7  Barbosa  Machado,  Bib.  lusitana,  1,  140  e  ^4S. 

Evidentemente  não  se  pode  concluir  das  minhas  palavras  neste 
período  do  texto,  para  atpii  literalmente  trasladadas  das  Sepulturas 
do  Espinheiro,  que  eu  ignorasse  a  existência  doutros  filhos  de  Jorje 
de  Resende.  Eu  declarei  haver  elle  tido  vários  filhos  e  nomiei  An- 
dré, que  foi  poeta,  e  Fr.  Brás,  que  foi  também  escritor;  quis  apenas 
referir-me,  claramente  se  percebe,  aos  filhos  de  Jorje  que,  como  elle, 
como  seu  irmão,  cultivaram  as  letras,  mantendo-me  na  especiali- 
dade, escritores,  de  que  estava  tratando  havia  muitas  pajinas.  Alem 
disso,  vários  filhos  não  são  só  dois  e  tanto  não  os  quis  nomear  aqui 
a  todos,  que  já  lá  atrás  mencionei  outro,  Garcia,  marido  de  Maria 
ele  Resende,  de  quem  me  não  tornei  agora  a  ocupar.  Nenhum  elos 
nobiliários,  e  eram  uns  poucos,  que  tive  ele  roda  de  mim  em  quanto 
compuz  aquelle  opúsculo,  nenhum  deixava  ele  apontar  o  António  de 
Resende,  soldado  na  índia;  não  o  trouxe  para  aqui,  porque  o  seu 
nome  nenhum  interesse  despertava;  e,  se  o  nomeasse,  nenhuma  razão 
teria  para  deixar  em  esquecimento  o  Francisco,  a  Beatriz  e  a  Guio- 
mar. Nenhum  delles  se  tornou  notável,  nenhum  delles  foi  sepultado 


I  ->l  ilx  >s 

usavam  comtudo  deste  apelido98;  parece  porem  que  es- 
tavam completamente  extinctos,  quando,  em  1817,  por 
morte  de  André  Lúcio  de  Resende  foi  julgada  vaga  para 
a  coroa  a  capella  de  Garcia  de  Resende. 

Castilho  declara,  em  1845,  haver  ainda  quem  pre- 
tendesse, com  boas  razões,  reivindicar  o  morgado  da 
Anta".  Não  sei  quem  seria  esse  pretendente;  não  julgo 
tivesse  bons  fundamentos,  nem  creio  chegasse  jamais 
a  intentar  o  processo. 

A  geração  distinguiu-se;  mas  ficaram  os  livros  e  a 
capelinha  do  Espinheiro.  Aquelles,  duradoiros;  esta,  tal- 
vez agora  mais  livre  de  completo  olvido. 

Aldeia,  julho  de  1901,  retocado  em  setembro  de  1909. 


spinheiro,  assunto  restrito  do  meu  opúsculo,  que  necessidade 
tinha  eu  de  os  indicar?  Isto  é,  a  Beatriz  nomeei-a,  no  seu  logar, 
porque  foi  sepultada  naquelle  comento. 

Porque  me  defendo  com  tanto  calor,  dirão?  Porque  o  meu  que- 
tmigo  dr.  Sousa  Viterbo,  a  quem  tanto  devemos  pelos  inesgo- 
táveis subsídios  ministrados  numa  infinidade  de  monografias  histó- 
ricas cuidadosamente  documentadas,  a  quem  eu,  especialmente, 
muito  reconhecimento  tributo,  nào  só  pela  forma  como  geralmente 
me  tem  distinguido  nas  referencias  a  mim  feitas,  mas  principalmente 
ainda  pela  excelente  colaboração  com  que  tem  honrado  o  meu 
Archivo  histórico,  censura-me  no  seu  Dic.  dos  architectos,  vol.  II, 
I >.  166,  por  ignorar  a  existência  de  António  de  Resende,  lançando 
sobre  mim  a  suspeita  de  em  todo  o  meu  trabalho  ter  procedido  com 
pouco  cuidadora  investigação,  visto  que  em  matéria  tão  corrente  e 
simples  errei.  Não.  senhor,  conhecia  todos  (.s  filhos  de  Jorje  de 
Resende  e  até  sabia  que  eram  só  oito,  e  não  de/  como  dizem  alguns 
nobiliários  fazendo  neste  ponto  errar  a  quem  por  elles  se  guie. 

lauto  me  sciiti  desta  censura,  quanto  me  deixou  indiferente  a 
critica  azeda  que  um  sr.  Henrique  Freire,  a  quem  a  terra  seja  leve, 
despejou  sobre  as  Sepulturas  do  Espinheiro  no  jornal  -Noticias  de 
Évora». 

'•  Habilitações  tio  Santo  Oficio,  mac.  (>S  de  Franciscos,  n."  1871, 
0  v. 
'  /  ivraria  clássica.  III.  316. 


ADITAMENTOS 


Dois  Duartes  de  Resende 

Dá-se  aqui  um  dos  muitos  casos  de  homonímia,  que 
tantos  erros  teem  feito  cometer  aos  nossos  investigadores 
históricos. 

Contemporâneos  existiram  dois  Duartes  de  Resende, 
sem  haver  nenhum  parentesco  entre  elles.  Dois  disse  eu, 
mas  não  garanto  que  não  fossem  mais;  dois  conheço 
eu,  devera  dizer:  um,  alemtejano,  vivendo  obscura- 
mente em  Évora ;  outro,  beirão,  tornando-se  conhecido, 
mais  ainda  pelos  seus  escritos,  do  que  pelos  serviços 
prestados  á  pátria  em  lonjinquas  rejiões.  Aquelle,  em 
virtude  de  uma  inconsiderada  afirmação  do  P.1'  Fran- 
cisco da  Fonseca  na  sua  Évora  gloriosa,  paj.  411,  até 
agora  concederam,  todos  quantos  eu  conheço,  os  méritos 
do  outro.  Ao  primeiro,  já  falecido  em  1526,  atribuíram, 
não  só  os  serviços  que  o  segundo  prestava  no  extremo 
Oriente  ainda  em  1527  pelo  menos,  como  as  obras 
escritas  por  elle  em  1531  e  depois  disso.  Chegou  porem 
a  ocasião  de  os  discriminar,  restabelecendo  a  ver- 
dade. 

Duarte  de  Resende,  nascido  e  morador  em  Exora,  era 
primo  com  irmão  do  cronista  Garcia  de  Resende.  Duarte 
ainda  vivia  em  30  de  janeiro  de  1525,  dia  em  que  serviu 
de  testemunha   em   certo   instrumento  de  compra  feita 


72  ESTUDOS 

pelo  parente  ';  mas  veio  a  falecer  neste  mesmo  anno  ou 

nos  princípios  do  seguinte.  Consta  de  uma  escritura,  a 
que  já  me  vou  referir. 

Numa  quinta  feira  5  de  julho  de  1 526,  em  Santarém, 
na  freguesia  do  Salvador,  nas  casas  onde  então  poisava 
Garcia  de  Resende,  fidalgo  da  casa  de  D.  João  III  e 
escrivão  da  sua  fazenda,  compareceu  Fernão  Nunez, 
cavaleiro  da  casa  do  dito  senhor,  morador  na  cidade  de 
Silves,  e  perante  um  tabelião  da  vila  declarou:  que  por 
quanto  sabe  que  el  Rei  tem  passado  algumas  cartas  e 
provisões,  a  requerimento  delle  dito  Garcia  de  Resende, 
sobre  urna  nomeação  e  vontade  de  Duarte  de  Resende, 
"meio  irmão  delle  dito  Fernão  Nunez  e  primo  com  irmão 
do  dito  Garcia  de  Resende,,,  acerca  de  uma  herdade 
chamada  do  Baleisão  no  termo  de  Beja,  foreira  em  dois 
terços  ao  Bispo  e  no  outro  terço  ao  Cabido  da  Sé  de 
Évora,  e  de  dois  ferrejiaes  junto  dos  muros  daquella 
cidade,  um  á  porta  da  Mesquita,  o  outro  ao  curral  do 
Concelho,  ambos  foreiros  ao  Bispo,  prédios  que  o  re- 
ferido Duarte  de  Resende  trouxe  emprasados  em  sua 
vida,  o  qual  por  muitas  vezes,  até  á  hora  de  sua  morte, 
publicamente  declarou  que  havia  de  deixar  estes  prasos 
e  toda  a  sua  fazenda  ao  dito  seu  primo  Garcia  de  Re- 
sende, constando  até  que  neste  sentido  havia  feito  testa- 
mento; e  que  por  elle  Fernão  Nunez  ter  muita  amizade 
e  antiga  com  o  referido  Garcia  de  Resende,  e  haver 
delle  recebido  muitas  boas  obras  pelas  quaes  lhe  está 
cm  obrigação,  desejando  conservar  sua  amizade  e  duvi- 
dando, alem  disso,  a  qual  dos  dois  de  direito  pertença 
a  posse  dos  ditos  prasos,  se  veio  a  concordar  com  o 
primo  do  falecido,  nestes  termos.  Fernão  Nunez  subroga 
c  demite  em  Garcia  de  Resende  algum  direito,  se  o  tem, 
sobre  os  ditos  prasos,  dos  quaes  este  tomará  posse,  ficando 

1  Vide  paj.  44. 


DUARTE  DE  RESENDE  73 

obrigado  a,  durante  toda  a  vida  do  outro,  lhe  entregar 

a  metade  de  tudo  quanto  os  ditos  prédios  renderem, 
depois  de  descontados  os  foros  e  algum  outro  encargo 
se  o  houver.  Por  morte  de  Fernão  Nunez  ficará  Garcia 
de  Resende  na  plena  posse  dos  prasos,  apenas  sujeitos 
ás  obrigações  á  propriedade  delles  inerentes.  Para  outor- 
gar na  escritura  apresentou  Fernão  Nunez  procuração  de 
Aldonça  Cabral,  sua  mulher,  por  ella  assinada  em  Silves, 
a  1 1  do  precedente  mes  de  maio  \ 

Mais  nada  me  consta  deste  Duarte  de  Resende,  primo 
com  irmão  do  cronista;  é  porem  o  suficiente  para  o 
distinguir  do  seu  homónimo,  que  nestes  tempos  ainda 
era  feitor  em  Ternate. 

Vejamos. 

Andava  Oermão  Oalharde  a  imprimir  em  Coimbra, 
onde  se  concluiu  a  impressão  a  30  de  agosto  de  1531 
os  Tratados  de  Amizade  e  outros  de  Cicero,  vertidos 
para  português  por  Duarte  de  Resende,  quando  a  este, 
em  25  de  maio,  escreveu  João  de  Barros,  então  na 
sua  quinta  da  Ribeira  de  Alitem,  junto  a  Pombal, 
uma  carta  acompanhando  o  orijinal  da  Ropicapnefma, 
o  qual  lhe  enviava  para  ser  entregue  ao  referido  im- 
pressor, em  cujos  prelos  foi  efectivamente  acabado  de 
imprimir,  em  Lisboa  porem,  a  8  do  mesmo  mês  do 
anno  seguinte.  Nesta  carta,  pela  qual  o  futuro  famoso 
autor  Da  Ásia  dedicava  aquella  sua  outra  obra  a  Duarte 
de  Resende,  entre  varias  indicações  biográficas,  que  tra- 
tarei de  aproveitar,  encontram-se  por  duas  vezes  refe- 
rencias claras  ás  relações,  não  só  de  amizade,  mas  também 
de  consanguinidade  existentes  entre  os  dois  escritores: 


-  Bib.  publica  de  Évora,  cod.  <  \,  2,  1/,  n."  1,  escritura  mencio- 
nada com  a  data  errada  no  respectivo  Catalogo  dos  manuscritos, 
IV,  201'. 


74  ESTUDOS 

"Peró  como  sangue  riam  se  roga»;;  e  "por  serdes  ami- 
guo  e  sangue».  A  ella  também  alude  na  Década  terceira 
da  Ásia,  no  cap.  x  do  liv.  v. 

Despertada  a  curiosidade,  procurei  ver  se  encontrava 
a  proveniência  do  parentesco  e,  depois  de  varias  infru- 
tíferas buscas,  pôz-me  na  pista  uma  nota  lançada,  no 
primeiro  quartel  do  século  xvn,  na  minha  copia  do  No- 
biliário de  Damião  de  Ooes,  nestes  termos:  "Dizem,  e 
isto  não  está  no  Livro,  que  este  Joanemendez  [de  Vas- 
concellos]  ouve  a  mendez  de  Yasconcellos,  que  casou 
com  Phelippa  de  barros  filha  de  gonçalo  nunes  de  bar- 
ro. .  .  e  que  depois  se  apartarão  por  suas  próprias  von- 
tades, e  elle  se  fez  clérigo  c  foi  prior  de  Tentúgal.  E  que 
naceo  delles  João  de  barros  de  Yasconcellos,  que  foi 
Comendador  de  Christo,  que  iaz  em  S.  Cruz  de  Coim- 
bra, e  que  o  dito  João  de  barros  ouve  nua  filha  bastarda 
por  nome  Britiz  de  barros,  que  casou  com  Oil  de  Re- 
sende, pay  de  gonçalo  de  Resende,  pai  de  Duarte  de 
Resende.» 

Puz-me  logo  á  cata  de  documentos  e  alguns  encon- 
trei; poucos,  suficientes  porem  para  no  principal,  a  filia- 
ção de  Duarte  de  Resende,  confirmarem  a  fujitiva  as- 
serção do  genealojista.  Vamos  já  vê-lo. 

Em  Lamego  vivia  Oil  de  Resende,  escudeiro  da 
Condessa  de  Marialva,  D.  Maria  de  Sousa,  viuva  do 
l.o  Conde,  a  qual  o  encarregava  de  certos  serviços  de 
sua  casa,  enviando- o  a  alguns  logares  do  reino  para  ar- 
recadar rendas  suas.  Era  elle  solicito  cobrador,  segundo 
parece,  pois  tinha  suscitado  contra  si  o  ódio  dalguns 
fidalgos  e  outras  pessoas  poderosas,  pelo  que  se  temia 
de  o  matarem  ou  mandarem  matar.  Para  o  defender 
deste  perigo  recorreu  a  Condessa  a  D.  Afonso  V  que, 
por  carta  dada  em  Estremoz  a  28  de  julho  de  14Ó6, 
concedeu  a  Gil  de  Resende  licença,  para  elle  e  aquelles 
que  com   elle  continuadamente  em   sua  casa  viverem 


DUARTE   Dl    RES1  ND1  75 

poderem  trazer  armas  defensivas  e  ofensivas  ;.  Ao  mes- 
mo, ainda  escudeiro  e  morador  em  Lamego,  mas  não 
já  ao  serviço  da  Condessa  de  Marialva,  apesar  delia 
ainda  viver,  foi  concedida,  em  Santarém,  a  4  de  janeiro 
de  1471,  por  ser  homem  fidalgo,  carta  de  privilejios 
para  seus  caseiros,  criados,  amos,  mordomos,  panigua- 
dos  e  lavradores,  estantes  na  comarca  da  Beira,  e  de 
escusado  de  dar  aposentadoria  nas  suas  casas  de  mo- 
rada, adegas/  cavalariças,  etc.  '.  Delle  mais  nada  sei  alem 
do  nome  de  sua  mulher,  Beatriz  de  Barros,  se  é  exacta, 
como  parece,  a  noticia  genealojica  acima  transcrita. 

( ionçalo  de  Resende,  filho,  conforme  a  referida  noticia, 
de  Gil  de  Resende,  foi  cavaleiro  da  casa  dei  Rei  e  adail 
de  Arzila,  oficio  que  largou  a  D.  Manuel,  recebendo, 
em  satisfação  da  sua  renuncia,  por  carta  dada  em  Lisboa 
a  1  de  oitubro  de  1501,  uma  tença  temporária  de  seis 
mil  reaes'.  Alem  desta  mercê,  ainda  lhe  fez  outra  por 
carta  dada  em  Santarém,  a  30  de  maio  do  anuo  seguin- 
te, pela  qual  o  nomeou  escrivão  do  almoxarifado  de 
Lamego  ,;.  Foi  uma  espécie  de  reforma,  a  fim  do  antigo 
Adail  de  Arzila  poder  socegadamente  passar  os  ultimos 
tempos  da  sua  vida  na  sua  terra  natal.  Dos  seus  serviços 
em  Africa  nada  me  consta;  e  da  sua  vida  apenas  sei 
mais,  haver  elle  sido  casado  com  Brites  Faresoa  (Frasão 
diríamos  hoje)  e  ter  morrido  em  fins  de  1505  ou  prin- 
cípios de  150Ó,  não  lhe  tendo  chegado  a  ser  paga  a 
tença  do  primeiro  destes  dois  annos.  Parece  porem  não 
haverem  feito  grande  falta  aos  herdeiros  os  seis  mil 
reaes,  porque  só  quando  já  tinha  prescrito  o  direito  a 
recebe-los,  ao  cabo  de  dez  annos,  recorreram  a  D.  Ma- 
nuel, que  ordenou  o  pagamento  por  alvará  de  1  de  ju- 


;  Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  38.o,  íl    4')  v. 
1  Ibidem,  liv.  16.o,  fl.  129. 
'  Chancelaria  de  I).  Manuel,  liv.  38.°,  fl.  S4  v. 
6  Ibidem,  liv.  6.°,  fl.  05  v. 


/O  ESTUDOS 

nho  de  1515.  Muniu-se  então  a  viuva  da  indispensável 
autorização  do  Juiz  dos  órfãos  de  Lamego  para  receber 
a  parte  pertencente  a  seus  filhos  menores,  e  enviou  pro- 
curação a  seu  outro  filho  Duarte  de  Resende,  ao  qual, 
em  8  de  maio  do  anuo  seguinte,  foram  entregues  os 
seis  mil  reaes  em  panos  de  igual  valor,  assinando  elle 
o  respectivo  recibo  pela  mãe ". 

Era  pois  Duarte  de  Resende  a  este  tempo  já  maior 
de  vinte  e  cinco  annos,  tendo  por  tanto  nascido,  em 
Lamego  (quasi  com  certeza),  antes  de  1491,  alguns  an- 
nos primeiro  que  seu  parente  e  amigo  João  de  Barros, 
imortal  cronista  dos  feitos  da  índia. 

Lara  aquelles  estados  orientaes  havia  de  ter  partido 
Duarte  de  Resende  na  armada  do  annò  de  1520,  da  qual 
era  capitão  mor  Jorje  de  Brito,  que  levava  ordem  de 
D.  Manuel  para  ir  levantar  uma  fortaleza  nas  ilhas  Mo- 
lucas  e  ficar  nella  por  capitão.  Não  alcançou  elle  o  seu 
destino,  por  ter  sido  morto  em  combate  quando  para  lá 
se  dirijia,  e  foi  substituido  na  capitania,  em  conformidade 
com  o  rejimento  que  levara  do  reino,  por  seu  irmão 
António  de  Brito  que  começou  a  obra  da  fortaleza  no 
dia  24  de  junho  de  1522,  em  Ternate,  uma  das  ilhas 
daquelle  arquipélago. 

No  tal  rejimento,  ou  em  alvarás  trazidos  do  reino, 
iam  já  providos  os  ofícios  daquelles  que  haviam  de  ficar 
na  nova  fortaleza;  era  o  nso  e  tanto  se  não  alterou  então, 
que,  vindo  tempos  depois  a  falecer  o  feitor,  foi  o  seu  escri- 
vão imediatamente  provido  na  feitoria.  Adiante  veremos. 

Corpo  cronolojico,  part.  n,  mac.  58,  doe.  8.  O  recibo  é  inte- 
ressante: "Recebeu  britez  faresoa  molher  que  foy  do  dito  gonçalo 
ile  Resemde  os  seis  mjl  reaes  acima  conteúdos  per  dez  covados 
dolanda  de  cxxx  reaes  covado  E  doze  covados  de  truufym  de  iij 
Ix  reaes  covado  E  hum  covado  mais  dele  do  dito  preço  e  x\  reaes 
em  pano  os  quaes  Recebeo  per  autorjdade  do  juiz  dos  órfãos  de 
lamego  quanto  ao  de  seus  filhos  e  Recebeo  per  duarte  de  Resemde 
seu  filho  cõ  procuração  bastante  em   biij  de  mayo  de  mjl  lv  xbj 

a tli  iv... 


DUART1    Dl    RESEND1  // 

É  certo  haver  Duarte  de  Resende  chegado  a  Ternate 

na  armada  de  António  de  Brito  e  ter  logo  começado  a 
exercer  o  oficio  de  escrivão  da  feitoria  das  Molucas, 
no  qual  certamente  ia  já  despachado  do  reino  e  em  que 
estava  investido,  quando,  no  dia  20  de  oitubro  daquelle 

anuo  de  1522  s,  teve  o  Capitão  noticia  de  a  uma  daquellas 
ilhas  haver  arribado,  muito  destrocado,  Gonçalo  Gomez 
de  Espinosa,  na  náu  Trindade,  a  ultima,  existente  então 
nessas  parajens,  da  armada  de  Fernão  de  Magalhães. 
Mandou  Espinosa  pedir  socorro  a  António  de  Brito, 
ainda  ao  tempo  ocupado  na  construção  da  fortaleza,  e  elle 
prontamente,  em  vários  navios,  enviou  auxilio  aos  Cas- 
telhanos que  iam  sendo  victimas  dos  seus  próprios  sal- 
vadores, porque  a  primeira  embarcação  chegada  era  de 
indijenas  nossos  aliados,  que  de  pronto  se  dispuzeram  a 
destruir  os  infelizes  náufragos,  salvos  por  intervenção 
de  Duarte  de  Resende  que  logo  depois  os  alcançou  ". 

Pouco  espaço  decorrido,  morreu  de  doença  Rui  Gago, 
feitor  nas  Molucas,  e  sucedeu-lhe  no  oficio  o  escrivão 
da  feitoria,  Duarte  de  Resende  l0. 

Por  alguns  annos  permaneceu  elle  em  Ternate  depois 
de  concluída  a  fortaleza,  e  para  lá  lhe  enviou  João  de 
Barros  um  exemplar  da  sua  Crónica  do  emperador  Cla- 
íimundo  ",  pela  primeira  vez  impressa  em  1522  '-.  Ainda 
se  conservou,  sempre  com  o  cargo  da  feitoria,  depois 


8  Consta  a  data  de  uma  carta  de  António  de  Brito  a  D.  João  III. 
impressa  nos  Alguns  documentos  da  Torre  do  Tombo,  paj.  466. 

11  Barros,  Década  terceira,  liv.  v,  cap.  X.  A  este  facto  alude  Na- 
varrete  nas  Viajes,  IV ',  101,  estropiando  o  nome  de  Duarte  de  Resende 
em  Duarte  Roger  e  assim  passou  para  a  obra  de  Lord  Stanley  of 
Alderley,  The  first  voyage  round  t/ie  world. 

10  Barros,  Década  terceira,  liv.  vin,  cap.  ix. 

11  Na  Dedicatória  da  Ropicapnefma,  p.  2  tia  ed.  de  1869,  escreveu 
João  de  Barros,  dirijindo-se  a  Duarte  de  Resende:  "dado  que  digaes 
quam  bem  vos  pareceo  o  meu  Clarimundo  quando  foy  ter  comvosco 
em  Maluco,,. 

12  A  prymeira  parte  da  crónica  do  emperador  Clarimundo  donde 
os  Reys  de  Portugal  descende/n.  No  fim:  Acabase  a  prymeira  parte 


78  ESTUDOS 

da  partida  do  primeiro  capitão  António  de  Brito,  em 
janeiro  de  1526,  e  por  sinal  que  por  esses  tempos  com- 
prou um  navio  pequeno  chamado  S.  Pantaleão  ' :.  Con- 
tinuou ainda  durante  todo  o  governo  do  segundo  capi- 
tão D.  Garcia  Henriquez,  e  só  em  maio  de  1527  é  que 
entregou  a  feitoria  a  Baltasar  Raposo,  ou  Baltasar 
Rodriguez  Raposo,  que  para  feitor  de  Ternate  levara 
comsigo  o  terceiro  capitão  I).  Jorje  de  Meneses  ''';  ao 
reino  porem  só  chegou  em  princípios  de  1531,  ou  fins 
do  anuo  precedente  ' '. 


da  crónica  do  cmpcrador  Clarinuuulo  donde  os  rcys  de  Portugal 
descem:  tyrada  de  lyngiiagem  Ungara  cm  a  nossa  Portuguesa  per 
loam  de  barros:  e  jmpressa  per  derma n  gualharde . . .  A  qual  se 
em  premio  nesta  .. .  eydade  de  Lyxboa.  A  iij  dias  de  Marco  da  era  c'e 
Mil  e  quinhentos  e  xxij.  Encontra-se  a  noticia  desta  edição  em 
Gallardo,  Ensayo  de  una  biblioteca  espanola,  1,  col.  663,  n.°  545,  e 
no  Catalogo  de  Salva,  li,  587,  nota  ao  n.°  3274.  Barbosa  Machado 
teve  vaga  noticia  desta  edição;  mas,  como  não  viu  nenhum  exemplar, 
descreve-a  na  Bibliotheca  lusitana,  li,  606,  com  a  data  e  o  nome  do 
impressor  errados:  1520  e  |oão  de  Barreira.  Inocêncio  da  Silva,  no 
Dic.  bibliographico,  111,  319,  n.°  478,  duvida,  com  boa  razão,  da 
informação  de  Barbosa  Machado;  entre  tanto,  para  quem  tivesse 
lido  a  Dedicatória  da  Ropicapnefma,  nenhuma  duvida  podia  restar 
de  ter  existido  uma  edição  do  Ciar/mundo  bastante  anterior  ao  anno 
de  1531.  A  segunda  edição  é  de  1555  e  não  de  1553,  como.  pro- 
vavelmente por  erro  de  impressão,  aparece  na  Bib.  lusitana.  O  titulo 
desta  edição  encontra-se  em  Gallardo,  sob  n.o  546,  e  diz:  Aprimeyra 
parte  da  Crónica  do  Emperador  Clarimundo  donde  os  Rcys  de  Por- 
tugal descendem  .  .  .,  e  no  fim:  Acabasc  a  primeira  parte  da  crónica 
do  emperador  Clarimundo  .  .  .  tirada  de  linguagem  ungara  em  a 
nossa  portuguesa  per  Joam  de  barros,  e  impressa  perjoam  de  bar- 
reyra,  impressor  da  universidade  de  Coimbra  . . .  A  qual  se  empremio 
nesta  .  .  .  cidade  de  Coimbra.  A  cinco  dias  do  mes  de  Julho  da  era  de 
Mil  c  quinhentos  e  LV  annos.  ( )  erro  na  data  desta  edição 
o  Dic.  bibliográfico,  onde  não  pode  ser  lançada  a  culpa  He  impressão. 

13  Barros,  Década  quarta,  liv.  I.  cap.  XV. 

11  /ilidem,  cap.  xvi;  Castanheda,  Hist.  da  índia,  liv. xvn,  cap.  LXI. 

15  Na  já  por  vezes  citada  Dedicatória  via  Ropicapnefma,  p.  5, 
escreveu  Joio  de  Barros,  em  data  de  25  de  maio  de  l^il  :  "consirei 
virdes  poucos  dias  áa  de  Maluco,  onde  estivestes  por  fector  dei  Rey 
nosso  senhor,  e  eu  sair  de  seu  thesoureiro  (negocio  que  também 
trata  de  mercadoria  como  o  vosso)».  Servira  João  de  Barros  o  oficio 
mreiro  da  Casa  da  índia,  Atina  e  Ceuta  desde  maio  de  1525, 
até  dezembro  de  1528,  segundo  declara  Severim  de  Faria  na  Vida 
de  João  de  Barros,  p.  27  tios  Discursos  politicas,  ed.  de  1624. 


DUARTE    DE    RI  SI  ND1  .  9 

Da  vida  de  Duarte  de  Resende  depois  de  regressar  á 

pátria,  escacas  noticias  me  são  ministradas.  Em  maio  de 
1531,  quando  João  de  Barros  lhe  dirijiu  a  já  tanta  vez 
citada  Dedicatória,  estava  o  antigo  feitor  de  Ternate 
em  Coimbra,  não  só  para  ínjir  á  peste  que  então  asso- 
lava 1  isboa,  mas  também  para  acompanhar  a  impressão 
das  suas  traduções  de  Cícero.  Depois?  — Depois,  mais 
nada  sei  de  positivo,  porque  até  mesmo  certeza  não 
tenho  de  havçr  sido  elle  o  Duarte  de  Resende  a  quem, 
por  carta  de  26  de  janeiro  de  1534  dada  em  Évora,  foi 
concedida  licença  para  andar  em  mula  ""'. 

Referir-me-hei  por  ultimo  ás  suas  produções  literárias. 

As  mais  antigas  encontram-se  no  Cancioneiro  geral, 
na  folha  199.  São  trovas,  cantigas  e  outras  poesias, 
quasi  todas  em  castelhano  e  todas  de  amores,  o  que  não 
admira  visto  ser  então  o  poeta  homem  de  vinte  e  tantos 
annos.  Mais  surpresa  causa  encontrar  já  nellas  muitas 
alusões  mitológicas,  mas  serve  isso  para  mostrar  que 
desde  moço  cultivara  Duarte  de  Resende  o  latim. 

Da  sua  ciência  desta  lingua  dá  fé  a  tradução  dalgu- 
mas  composições  de  Cicero,  obra  certamente  retocada 
durante  os  entorpecidos  ócios  da  feitoria  de  Ternate,  no 
meio  dos  sacos  do  cravo  de  acre  perfume,  e  entrando 
pelas  janellas  o  ar  quente  e  húmido  do  verão  constante 
e  os  rujidos  do  prossimo  vulcão. 

Chegado  a  Portugal  entregou  o  manuscrito  a  Germão 
Oalharde,  que  nos  seus  prelos  o  acabou  de  imprimir 
aos  30  de  agosto  de  1531,  vindo  a  publico  com  este 
titulo:  Marco  Túlio  Cicerom  de  Amicicia,  Paradoxos,  c 
Sonho  de  Scipião  tirado  em  lingoagem  Portuguesa  per 
Duarte  de  Resende,    Cavaleyro  Fidalguo  da  Casa  dei 


";  Chancelaria  de  D.João  III,  liv.  20.°  de  Doacções,  fl.  91. 


ESTUDOS 

Rey  nosso  Senhor  |:.  É  a  obra  precedida  de  uma  carta 
do  autor  a  "Garcia  de  Resende,  Fidalgo  da  Casa  dei  Rey 
nosso  Senhor,  e  Escrivão  de  sua  Fazenda,  &c.  a  quem 
manda  esta  obra  enderençada.n  O  tom  da  carta,  datada 
de  Coimbra  no  mesmo  dia  da  conclusão  da  impressão, 
revela  claramente  que  entre  os  dois  Resendes  nenhuma 
consanguinidade  existia. 

Outra  obra,  depois  desta,  compoz  ainda  Duarte  de 
Resende,  porque  elle  não  era  só  bom  latino,  mas  "homem 
estudioso  das  cousas  do  mar  e  geographiaM,  como 
declara  João  de  Barros;  esta  obra  porem  nunca  se  che- 
gou a  imprimir.  Poz-lhe  o  autor  o  titulo  de  Tratado  da 
Navegação  que  Fernão  de  Magalhaens,  e  seus  Compa- 
nheiros fizerão  às  Ilhas  do  Molueo  |s,  e  dedicou-a, 
segundo  assevera  Severim  de  Faria  l9,  a  seu  parente  e 
amigo  João  de  Barros,  em  paga  do  oferecimento  que 
este  lhe  fizera  da  sua  Ropicapnefma,  composta  em  1531 
e  impressa  no  anuo  seguinte.  Para  a  composição  da- 
quella  segunda  obra  se  serviu  Duarte  de  Resende  prin- 
cipalmente do  roteiro  do  astrólogo  André  de  San  Martin 
e  doutros  seus  papeis  e  livros,  tomados  em  Ternate  na 
nau  de  Espionsa,  como  de  tudo  dá  larga  noticia  João 
de  Barros  20. 

E  de  mais  composições  saídas  da  penna  de  Duarte  de 
Resende  não  encontro  noticia. 


r  Barbosa  Machado.  Bib.  lusitana,  I,  742,  onde  se  transcreve 
parte  do  titulo,  encontrando-se  este  reproduzido  por  inteiro  na  se- 
gunda edição,  Lisboa,  1790.  Inocêncio  no  Dic.  bibliographico,  II, 
214,  dá,  conto  sendo  o  rosto  eia  primeira  edição,  o  frontespicio  da 
segunda. 

18  Barbosa  Machado,  loc.  cit.,  dizendo  ter  a  obra  sido  escrita  em 
1Y2_!  no  que  se  enganou,  não  tanto  pelo  que  afirma  Severim  de  Fa- 

mo  veremos,  mas  principalmente  porque  só  nos  fins  ele  oitu- 
bro  daquelle  anuo,  como  acima  vimos,  chegou  a  náu  ele  Espinosa  a 
Ternate. 

19  Vida  de  João  de  Barros,  p.  28  elos  Discursos  potiticos. 
Terceira  Década,  liv.  v,  cap.  x. 


Dl 'AR  11     Dl     RESEND1  81 

Era  elle  já  falecido  cm  1563,  quando  se  imprimiu  a 
Terceira  Década  da  Ásia  de  João  de  Barros,  que,  tratando 
como  leal  amigo  de  pugnar  pela  reputação  do  seu  pa- 
rente, declara  provir  um  erro  geográfico  contido  numa 
relação  da  viajem  de  Magalhães  escrita  por  certo  autor, 
unicamente  delle  haver  mal  usado  das  palavras  de  Duarte 
de  Resende  no  seu  Tratado  da  navegação  de  Maga- 
lhães, onde  o  tal  erro  não  aparece,  apesar  da  obra  ser 
citada.  Quantp  á  maneira  por  que  o  tal  escritor,  que  não 
nomeia,  houve  á  mão  o  manuscrito  de  Resende,  explica: 
'•ou  foi  do  tratado  que  elle  me  dirigio,  que  eu  empres- 
trei,  ou  também  elle  em  sua  vida  daria  o  treslado  a 
outrem..  -'. 

Não  ha  pois  duvida;  era  então  Duarte  de  Resende 
já  finado.  Se  casou,  se  teve  descendência,  ignoro  abso- 
lutamente. 


Terceira  Década,  liv.  v,  cap.  x,  fl.  147  v.  da  ed.. de  162S. 

6 


A  suposta  fraternidade  de  Garcia 
e  André  de  Resende 


Para  mim,  ao  ler  a  verba  testamentária  de  Garcia  de 
Resende  na  qual  Jorje  de  Resende  é  designado  por  antono- 
másia "meu  irmão.,,  converteu-se  logo  em  certeza  abso- 
luta a  bem  fundada  suspeita  de  que  entre  o  compilador 
do  Cancioneiro  e  o  autor  das  Antiguidades  de  Évora  o 
parentesco  existente  não  provinha  de  serem  filhos  do 
mesmo  pai.  Devo  porem  ainda  insistir  neste  ponto,  por- 
que me  podem  objectar  não  haver  Garcia  de  Resende 
nomeado  para  a  sucessão  do  vinculo,  ou  delia  excluído, 
a  André  de  Resende  e  sua  descendência,  por  elle  ser 
frade,  e  que  por  tanto  o  facto  delle  não  aparecer  men- 
cionado no  testamento  de  Garcia  não  destroe  comple- 
tamente a  suposição  de  haverem  sido  irmãos. 

Apesar  do  argumento  não  parecer  de  peso,  convém 
desfaze-lo,  e  para  isso  começarei  por  pôr  os  pontos, 
como  os  documentos  no-los  apresentam. 

hm  8  de  setembro  de  1533  escreveu  Garcia  de  Re- 
sende o  seu  testamento.  Nelle  instituiu  um  vinculo; 
indicou  para  a  sua  administração  a  ordem  de  sucessão 
a  seguir  entre  os  seus  descendentes;  e  finalmente  decla- 
rou que,  no  caso  de  completamente  se  eistinguir  a  sua 
descendência,  "fique  tudo  a  meu  irmão,  ou  a  seu  filho 
mais  velho,  se  elle  vivo  não  for...  A  3  de  fevereiro  de 
153o  morreu  Garcia  de  Resende,  e  a  18  de  julho  do 
anno  seguinte  Jorje  de  Resende,  na  qualidade  de  tio  e 


ANDRÉ    DE  RES1  NDE  83 

tutor  do  menor  Francisco  de  Resende,  filho  mais  velho 
do  falecido,  requereu  traslado  autentico  da  verba  tes- 
tamentária. É  isto  o  que  declara  o  respectivo  rejisto  ii<>^ 
logares  lá  atrás  citados. 

Ciarei;!  de  Resende  tinha  só  um  irmão,  por  isso  não 
carecia  de  o  nomear  quando  o  chamou  e  á  sua  descen- 
dência para  a  administração  do  instituído  vinculo  ;  por- 
que, se  tivesse  mais  de  um  irmão,  precisaria,  é  obvio, 
declarar  qual  era  o  escolhido,  mesmo  até  para  afastar 
inevitáveis  litijios  futuros  que  o  instituidor  cauteloso 
desejaria  evitar. 

Admitamos  porem  por  um  instante,  só  por  um  ins- 
tante, que  André  de  Resende  era  irmão  do  cronista 
e  que  este,  por  aquelle,  na  sua  qualidade  de  frade, 
ser  inábil  para  poder  suceder  no  vinculo,  entendesse 
não  carecer  de  o  excluir  da  administração.  Admitido 
isto,  havemos  forçosamente  de  concluir  que  apenas  dois 
irmãos  tinha  Garcia  de  Resende:  o  frade,  inábil;  o  meu 
irmão  do  testamento,  Jorje  de  Resende.  D'aqui  não  se 
pode  fujir;  porque,  se  existisse  mais  algum  irmão,  tor- 
nava-se  absolutamente  indispensável  ao  testador  indicar 
pelo  nome  aquelle  para  quem,  na  falta  de  descendência 
sua,  reservava  o  direito  de  suceder  na  administração. 
Pois  bem,  eu  vou  já  provar  que  André  de  Resende  teve 
pelo  menos  dois  irmãos  os  quaes,  admitida  a  impugnada 
suposição,  haviam  também  de  ser  irmãos  de  Garcia. 

No  seu  testamento,  datado  de  1  de  dezembro  de  1573, 
na  parte  escrita  depois  de  1571,  por  duas  vezes  se  re- 
fere André  de  Resende  a  minha  sobrinha  Cristina  de 
Resende:  da  primeira  vez  institue  por  tutor  de  seu  filho 
Barnabé  ao  marido  de  Cristina,  Brás  Rodriguez  Ribeiro, 
cidadão  de  Évora,  nomeado  também  para  testamenteiro; 
da  segunda  vez  deixa-lhe,  a  ella,  um  legado  de  vinte  mil 
reaes  o  qual  mais  adiante  confirma. 

Quem  era  esta  sobrinha?  —  Era  uma  filha  adulterina 


84  ESTUDOS 

de  Manuel  Vaz  de  Resende,  morador  em  Évora,  havida 
de  uma  sobrinha  de  sua  mulher,  Teresa  de  Vila  Lobos, 
já  ao  tempo,  pela  sua  idade,  incapaz  de  ter  filhos.  Alegando 
este  e  outros  motivos,  entre  elles  o  de  não  ter  filhos  le- 
jitimos,  pediu  Manuel  Vaz  para  sua  filha  ser  lejitimada 
e  obteve  carta  réjia  de  lejitimação  em  14  de  junho  de 
1548  '.  Na  mesma  data  foi  passada  outra  análoga 
carta  a  favor  de  uma  irmã  de  Cristina,  Antónia,  nas- 
cida dos  mesmos  pais-.  Em  26  de  janeiro  de  1558  foi 
celebrada  em  Évora,  entre  as  duas  irmãs,  uma  escritura 
de  composição  sobre  as  partilhas  por  morte  do  pai  3; 
a  10  de  oitubro  do  mesmo  armo  já  Cristina  estava  ca- 
sada com  Brás  Rodriguez,  tanto  que  naquella  data  assi- 
naram a  escritura  de  venda  de  umas  casas  '';  em  1  de 
dezembro  de  1573  a  mesma  Cristina  é  contemplada  por 
seu  tio  André  de  Resende  no  seu  testamento.  Quanto  a 
Antónia  de  Resende  encontro  apenas  a  indicação  de 
haver  casado  com  Afonso  Monteiro,  moço  da  camará 
de  D.  Sebastião  '.  Notarei  ainda  que  Cristina  de  Re- 
sende não  pode  ser  a  "sobrinha  orfan  e  bem  pobre, 
com  outro  minino  seu  irmão,  os  quaes  eu  a  meu  cargo 
tomei«,  a  que  se  refere  mestre  André  na  sua  carta  de 
19  de  março  de  1547  endereçada  a  D.João  de  Castro  G; 


1  Perdões  e  lejitimações  de  D.João  III,  liv.  60,  fl.  101  v. 

-  //;/.  A  mesma  Antónia,  ou  outra  de  igual  nome.  havia  já 
sido  lejitimada  por  carta  de  21  de  agosto  de  1539,  sendo  então  de 
dois  annos  de  idade  (ibi.  liv.  l.o,  fl.  261  v.).  Nesta  carta  não  se  no- 
meia a  mãe  e  o  pai  aparece  intitulado  cavaleiro  fidalgo  da  casa  do 
Cardeal  Infante  D.  Afonso;  alega-se  porem  o  mesmo  motivo  da  mu- 
lher de  Manuel  Vaz  ser  já  velha  para  poder  ter  filhos. 

:!  Genealogia  de  Resendes,  nis.  de  letra  de  José  Lopez  de  Mira, 
secretario  do  Santo  oficie  Bib.  publica  de  Évora,  arm.  X,  mac.  26, 
cod.   1.°     Manuel  Vaz  de   Resende  havia  falecido  a  5  de  oitubro 

d.e   1Õ52. 

'  Sr.  António  Francisco  Barata,  André de  Resende,  Lúcio .?,paj.  15. 

•■  Cit.  Genealogia  de  Resendes. 

6  Boletim  de  bibliographia  portugueza,  I,  153;  Documentos  para 

a  historia  da  typographia  portugueza,  nos  seea/os  xvi  <•  XVII,  I,  13. 


<s 


E 


I   s  *  S  '5R?i   *^> 


5 


u 


ANDRÉ    DE    RI  SENDE  85 

não  pôde  ser,  porque  Cristina  no  anuo  seguinte  foi  le- 
jitimada  a  requerimento  do  pai  ainda  vivo,  e  só  consta 
ser  órfã  dez  annos  mais  tarde. 

Cristina,  sobrinha  de  André  de  Resende,  era  filha  de 
.Manuel  Vaz  de  Resende,  o  qual  vinha  a  ser  por  tanto 
irmão  do  celebre  humanista.  Manuel,  que  tinha  já  uma 
filha  de  dois  annos  em  1539,  era,  sem  duvida  nenhuma, 
não  só  vivo,  como  até  de  maior  idade  em  1533  quando 
Oarcia  de  Resende  escreveu  o  seu  testamento. 

Outro  irmão  do  famoso  antiquário  é  por  elle  próprio 
nomeado  na  acima  apontada  carta  de  lo  de  março  de 
1547".  Xella  pedia  a  D.  João  de  Castro  quisesse  prote- 
jer  e  servir-se  de  um  irmão  que  lá  tinha  em  Goa,  cha- 
mado João  Rodriguez,  o  qual  partira  havia  muito  para 
a  índia,  deixando-o  no  reino  "pouco  mais  de  minino». 
André  de  Resende  deverá  ter  nascido  pelos  annos  de 
1500;  partira  por  tanto  João  Rodriguez  para  a  índia 
nalguma  das  armadas  dos  annos  de  1508  e  seguintes  \ 

Aqui  temos  por  tanto  dois  irmãos  de  André  de  Re- 
sende que  também  o  haviam  de  ser  de  Garcia,  se  os  dois 
Resendes  que  mais  se  distinguiram  nas  letras  houvessem 
sido  filhos  do  mesmo  pai.  Seriam  pois  quatro  os  irmãos 
de  Garcia  de  Resende,  existentes  e  todos  de  maior 
idade,  quando  elle  fez  o  seu  testamento.  Como  se  pode 
admitir  que  elle,  se  o  facto  fosse  verdadeiro,  pudesse, 
sem  receio  de  confusões,  deixar,  na  falta  de  descenden- 
tes seus,  a  administração  do  instituído  vinculo  a  meu  ir- 


'  Esta  carta  foi  dirijida  de  Lisboa  a  D.  João  de  Castro,  g 
nador  da  índia;  eucontra-se  impressa  no  Boletim  acima  citado  e  da 
sua  ultima  pajina  apresento  aqui  o  fac-simile,  para  se  poder  compa- 
rar a  letra  com  a  dos  assentos  de  baptismo  publicados  pelo  sr.  A.  F. 
Barata  no  III  vol.  do  Arrh.  hist.  port.,  a  fim  de  não  restarem  duvidas 
da  carta  ser  do  próprio  punho  de  André  de  Resende,  apesar  de  lhe 
faltar  a  assinatura  por  haver  sido  cortado  o  papel. 

s  Não  encontrei  o  seu  nome  nem  na  Emmcnta  que  em  1907  pu- 
bliquei no  Boletim  da  Sociedade  de  Geographia,  nem  na  outra  que 
existe  ms.  na  Bib.  Xac.  de  Lisboa. 


86  ESTUDOS 

mão  e  a  seu  filho  mais  velho?  Ninguém  acreditará  na 
possibilidade  de  tal  haver  sucedido. 

Ainda,  alem  destes  dois,  talvez  que  também  fosse  ir- 
mão de  André  de  Resende  um  Nuno  Vaz,  escudeiro  da 
casa  da  Rainha  D.  Caterina  e  pai  de  Rodrigo  Ferreira, 
rapaz  de  dezaseis  para  dezasete  annos  quando  foi  preso 
pelo  Meirinho  de  Évora  por  o  encontrar  na  rua  trajando 
calções  novos  de  seda  de  tafetá-.;  e  não  só  o  prendeu 
como  lhe  apreendeu  os  calções  e  a  espada.  Recorreu 
Rodrigo  Ferreira  a  seu  tio  mestre  André  de  Resende  e 
este,  alegando  a  curta  idade  do  sobrinho,  havia  pouco 
vindo  de  Castella  e  ignorante  da  defesa  das  sedas,  al- 
cançou para  elle  carta  de  perdão  outorgada  em  Lisboa 
a  14  de  setembro  de  1566''.  Se  Nuno  Vaz  não  era  irmão, 
como  parece  indicar  o  patrinimico  (o  pai  do  humanista 
chamou-se  André  Vaz;  um  dos  irmãos,  Manoel  Vaz), 
seria  meio  irmão  ou  cunhado  '";  mas  bastam,  para  o 
meu  propósito,  os  outros  dois  acima  apontados. 

Toda  esta  argumentação  cai  por  terra,  dirão  os  que 
souberem  da  existência,  se  alguém  o  sabe,  do  documento 
a  que  já  me  vou  referir,  porque  numa  escriptura  de  12 


'  "Dom  sebastião-  •  ■  Faço  saber  que  mestre  andre  de  Resemdeme 

emviou  dizer  por  sua  petição  que  em  euora  o  meirinho  manoel  da 
silua  prendera  hum  seu  sobrinho  filho  de  nuno  vaz  escudeiro  da  casa 
cia  Rainha  minha  senhora  e  avo  e  que  a  ella  serujra  nas  Cousas  que 
lhe  mandaua  pêra  sua  casa  e  que  delia  avya  mister  (parece-me qiie em 
vez  de  ella  e  de  delia  se  deverá  Ar  elle  rdelle;  seria  engano  do  escrivão 
ao  trasladar  o  doe.)  o  qual  se  chamava  Rodriguo  ferrevra  e  jsto  por 
o  achar  com  humscalçõis  nouosdesedá  de  tafetá  e  os  tomara  e  asj  a 
espada  e  o  acusaua  por  a  dita  seda  e  por  o  dito  Rodrigo  ferreyra  ser 
de  xbj  anos  ou  xbij  e  aver  pouco  que  viera  de  castella  e  não 
tinha  pêra  sj  que  a  seda  era  defesa  em  calçõis  me  pedya  lhe  fizese 
de  aver  por  bem  que  por  o  dito  caso  se  não  procedese  mais 
Contra  elle  e  o  Releuase  de  alguma  culpa  quell  i  tiuesee  lhe  mandase 
tornar  o  que  lhe  asj  fora  tomado  e  Receberia  merçe  e  declarou  que 
o  dito  Rodrigo  ferrevra  fora  solto  sob  fiança.  Ku  vendo..,  etc.  Per- 
dões e  legitimações  de  D.  Sebastião,  liv.  42.°  fl.  160. 

10  Talvez  fosse  um  dos  testamenteiros  da  mãe  de  André  de  Re- 
sende,  os  quaes  elle  diz  haverem  sido  "o  meu  cunhado esua  mulher 
minha  meia  irmã  e  seus  filhos»  (Vida  de  Fr.  Pedro,  Porteiro,  cap. 


ANDRÉ   DE   RESEND1  87 

de  oitubro  de  1502,  lavrada  em  Évora  nas  notas  do  ta- 
belião João  Furtado,  pela  qual  Garcia  de  Resende,  "fi- 
dalgo da  casa  dei  Rei  e  escrivão  da  sua  fazenda»,  por 

tanto  o  cronista,  comprara  certo  prédio,  se  nomeia  entre 
as  testemunhas  a  "Diogo  de  Góes,  escudeiro  do  Duque 
de  Coimbra,  tio  delle  comprador,  irmão  de  sua  mãe 
Ângela  Leonor  de  Góes..  ".  Ora  esta  senhora  foi,  na 
opinião  dalguns,  a  mãe  de  André  de  Resende,  apesar 
delle,  no  epitáfio  a  ella  dedicado,  lhe  chamar  Angela 
Leonor  Vaz,  e  o  biografo  seu  contemporâneo,  Leonor 
Vaz  Góes  '-.  Sendo  assim,  vinham  por  tanto  Garcia  e 
André  a  ter  a  mesma  mãe,  e  como  ambos  eram  Resen- 
des,  o  pai  forçosamente  também  havia  de  ser  comum; 
não  se  assustem  porem;  não  é  este  o  cachopo  em  que 
o  meu  barco  naufragará,  se  tão  triste  sorte  lhe  está  re- 
servada. 


22,  cm   Leitão  Ferreira,    Vida  de  André  de  Resende  no  Arch.  hist. 

port.);  ou,  com  menor  probabilidade,  o  Nuno  Vaz  a  que  o  anti- 
quário se  refere  no  seu  testamento,  declarando  ser  já  falecido  e 
ter-lhe  ficado  devendo  certa  quantia  da  renda  de  uma  igreja,  cujo 
nome  se  apagou  no  doe,  mas  que  seria  a  de  Aguiar. 

11  Bib.  do  sr.  Visconde  da  Esperança,  na  sua  quinta  da  Manisola 
junto  a  Évora,  cod.  80,  mac.  24. 

'-  Tenho  muitas  duvidas  sobre  o  nome  verdadeiro  da  mãe  de 
André  de  Resende.  Elle,  no  epitáfio  que  lhe  dedicou,  chama-lhe 
Angela  Leonor  Vaz  e  creio  ser  esta  a  única  vez  que  a  nomeia  nos 
seus  escritos.  Bem  sei  que  Diogo  Mendez  de  Vaseoncellos,  amigo  e 
primeiro  biografo  do  celebre  antiquário,  diz  ter  sido  sua  mãe  Leonor 
Vaz  Góes;  mas  também  é  certo  haver  André  de  Resende  tido  o  fraco 
de  se  querer  afidalgar,  a  ponto  de,  na  sua  bem  conhecida  carta  a 
Jorje  Coelho,  haver  produzido  uma  ascendência  paterna,  que  bem 
devia  saber  não  ser  verdadeira.  Ora,  se  elle  assim  procedeu  a  res- 
peito dos  Resendes  de  seu  pai,  poder-se-ha  admitir  que  deixasse  de 
enfeitar  o  nome  de  sua  mãe  com  um  apelido  tão  nobre  como  o  de 
Góes,  se  não  fosse  demasiada  audácia?  Custa-me  a  crer.  E'  verdade 
que  em  Évora,  no  segundo  quartel  do  século  xyi,  existiram  vários 
Góes  (cf.  na  nota  37,  paj.  50),  tendo-se  até  um  delles  chamado 
Barnabé,  nome  dado  por  André  de  Resende  a  seu  filho;  mas  isso, 
no  meu  entender,  nada  prova.  Está  porem  provado  que  o  prenome 
Angelus,  adoptado  por  André  de  Resende  nas  suas  primeiras  obras 
antes  d"  famoso  Lucins,  foi  homenajem  de  amor  filial  (cf.  no  notá- 
vel estudo  da  sr.a  D.  Carolina  Michaêlis  de  Vaseoncellos,  Liicins 


88  ESTUDOS 

( )  códice  citado  é  da  letra  do  IV  José  Lopez  de  Mira, 
secretario  do  Santo  Oficio  de  Évora,  bem  conhecido 
compilador  de  noticias  históricas  que  pacientemente 
copiava  de  tudo  quanto  lhe  aparecia,  documentos,  ma- 
nuscritos e  até  de  livros  impressos,  e  que  veio  a  falecer 
no  primeiro  quartel  do  secnlo  xix.  Delle  não  haver  sido 
bom  paleógrafo,  justamente  o  acusou  Rivara;  de  muita 
critica  histórica,  também  não  creio  que  fosse  provido, 
entretanto,  nesta  ocasião,  não  lhe  faltou  ella  completa- 
mente. Em  nota  a  esta  escritura  declara  o  P.'  Mira  du- 
vidar da  miudeza  com  que  o  tabelião  pormenorizara  o 
tal  parentesco,  mostrando  assim  não  ter  visto  a  escritura 
orijinal,  mas  qualquer  copia  ou  simples  apontamento 
encontrado  algures,  ou  por  alguém  indicado  se  não  mi- 
nistrado. Duvida,  e  judiciosamente  nota  que  o  tabelião 
faz  fé  somente  nas  clausulas  substanciaes  do  contrato 
que  estipula,  necessitando,  o  que  adicionar  sobre  pa- 
rentescos e  fidalguias,  doutra  prova.  Acrescenta,  mas 
claudica  neste  ponto,  que  o  Garcia  de  Resende,  outor- 
gante na  escritura,  é  outro  que  foi  casado  com  Teresa 
de  Albuquerque. 

Não  sei  se  este  outro  Garcia  de  Resende  existiu;  delle 
nunca  encontrei  memoria;  mas  que  na  noticia  da  es- 
critura de  1502  se  quis  indicar  o  cronista,  não  ha  du- 
vida; basta  elle  aparecer  intitulado  escrivão  da  fazenda 
dei  Rei,  e  é  até  este  facto  que  vem  acabar  de  patentear 
a  impostura. 

Xo  sumario  daquella  escritura,  como  elle  nos  aparece, 


Andreas  Resendius  Lusitanas,  paj.  164  do  III  vol.  do  Arch.  hist. 
port.);  mas  não  posso  admitir,  como  Diogo  Mendez  de  Vasconcellos 
na  Vita,  que  o  Angela  tosse  sobrenome  e  não  o  nome  próprio  da 
mãe  do  antiquário.  Notarei  por  ultimo  que  o  IV  .Manuel  da  Fonseca, 
na  Évora  gloriosa,  p.  40"),  chama  áquella  senhora  Angela  I 
Vaz  de  (iões,  vindo  por  tanto  a  variante  Angela  Leonor  de  < 
pertencer,  quasi  exclusivamente,  ;í  noticia  extractada  no  texto,  facto 
que  de  certo  não  serve  para  lhe  reforçar  a  autenticidade. 


ANDRÉ    DE    RES1  ND1  89 

lia  muita  falsidade  que  eu  não  atribuo  a  José  Lopez  de 
Mira,  pelo  contrario,  elle  até  reparou  no  caso  sem  o  sa- 
ber comtudo  resolver.  Em  primeiro  logar  nunca  tabelião 
nenhum,  ao  dar  as  confrontações  de  qualquer  testemu- 
nha de  um  contrato,  entrou  nas  minudencias  com  que 
neste  aparece  Diogo  de  Ooes  !:;,  facto  suficiente  para 
recusar  fé  á  tal  noticia;  em  segundo  logar,  em  1502, 
nem  Garcia  de  Resende  era  fidalgo  da  casa  dei  Rei, 
nem  escrivão  da  sua  fazenda.  Em  11  de  maio  de  1515 
ainda  elle  era  simples  cavaleiro  da  casa  dei  Rei,  e  só  no 
anno  seguinte  é  que  aparece  com  o  foro  de  fidalgo  e  o 
oficio  de  escrivão  da  fazenda,  mas  do  Príncipe,  note-se  '''. 
Parece-me  que  não  careço  de  insistir.  A  tal  escritura, 
ou  é  suposta,  ou  na  noticia  delia  dada  acrescentaram 
palavras  que  lá  não  encontraram. 

Não  me  afastando  muito  do  assunto,  irei,  a  titulo  de 
curiosidade,  extractar  algumas  noticias  relativas  a  André 
Falcão  de  Resende  de  uma   Resposta  aos  quesitos  do 


13  Não  encontrei  nenhum  Diogo  de  Góes  que  fosse  escudeiro 
da  casa  do  Duque  de  Coimbra;  porque  não  era  elle  de  certo  o  Diogo 
de  Góes,  fidalgo  da  casa  dei  Rei,  possuidor  de  uma  tença  graciosa 
de  16.666  rs.  ela  qual  se  lhe  deu  nova  carta  de  padrão  com  salva, 
por  haver  perdido  a  primeira,  em  Sintra,  a  31  de  julho  de  1503 
(liv.  19.o  de  I).  Manuel,  fl.  21);  tença  que  elle,  juntamente  com  sua 
mulher  Maria  Brandoa,  vendeu  a  seu  genro  António  Lobo,  também 
fidalgo  da  casa,  por  instrumento  feito  em  Évora  a  7  de  dezembro 
do  anno  seguinte  (liv.  42.°  de  1).  João  III,  fl.  23).  Não  era  certamente 
este,  apesar  de  morador  em  Évora,  a  testemunha  da  escritura  de 
1502,  nem  era  também,  já  agora  advertirei,  o  cavaleiro  da  casa  dei 
Rei  que  por  carta  de  26  de  agosto  de  150õ  foi  nomeado  almoxarife 
dos  fornos  da  porta  da  Cruz,  em  Lisboa  (liv.  44."  de  D.  Manuel, 
fl.  1),  a  quem  se  passaram  cartas  de  quitação  em  17  de  fevereiro  de 
1512  e  11  de  setembro  de  1517  (Arch.  hist.  port.,  I,  p.  400  e  401),  e 
a  quem,  em  2  de  abril  de  1521,  se  mandaram  pagar  sessenta  mil 
reaes  do  seu  casamento  (Lousada,  Sumários  da  Torre  do  Tombo,  1, 
fl.  570  v.  mini).  Era,  provavelmente,  o  Diogo  de  Góes,  mari 
Leonor  Vaz  e  pai  de  Antónia,  baptisada  na  igreja  de  Santo  Antão 
de  Évora  em  30  de  junho  de  1536,  como  ficou  apontado  na  n 
paj.  51. 

11  Vide  os  does.  atrás  cit,  paj.  37  e  39. 


90  ESTUDOS 

///.  Lente  de  Véspera  de  Cânones  na  Universidade  de 
Coimbra  o  sr.  Si/não  de  Cordes  Brandão  e  Ataíde.  É 
um  ms.  sem  assinatura  o  qual  parece,  como  em  nota  lhe 
poz  mão  desconhecida,  haver  sido  ordenado  pelo  Ar- 
cebispo Cenáculo  '•'. 

"Do  inventario  e  partilhas  feitas  em  Évora  por  morte 
de  Jorje  de  Resende  em  1547,  de  que  foi  juiz  Fernão 
Sardinha  e  escrivão  Roque  da  Mata,  consta:  1.°,  que  os 
herdeiros,  filhos  de  Jorje  de  Resende  e  de  sua  mulher 
D.  Lucrécia  Falcoa,  cabeça  de  casal,  eram  oito,  Garcia, 
António,  Francisco,  Brás,  André,  D.  Brites,  D.  Filipa  e 
D.  Guiomar;  2.",  que  André  tinha  vinte  annos  e  por 
tutor  seu  irmão  Garcia. 

"Sendo  André  Falcão  de  Resende  de  vinte  annos  em 
1547,  segue-se  que  tinha  nascido  em  1527,  e  que,  fa- 
lecendo em  1598,  se  é  verdade  o  que  afirma  Barbosa 
Machado  na  Bib.  lusitana,  morreu  com  setenta  e  um 
annos  ,:'. 

"Nas  notas  do  tabellião  Fernão  Darcas,  fl.  56,  está  uma 
escritura  feita  na  casa  do  inquisidor  de  Évora,  João  Al- 
varez da  Silveira,  em  3  de  oitubro  de  1548,  e  nella  se 
diz:  1.°,  que,  querendo  o  Cardeal  Infante  D.  Henrique 
que  André  Falcão  de  Resende  fosse  clérigo,  o  tinha 
feito  seu  capelão  fidalgo;  2.°,  que  André  estudava  artes 
e  teologia  na  Universidade  de  Coimbra;  3.°,  que,  para 
continuar  na  mesma  os  taes  estudos,  vendeu,  com  li- 
cença do  Juiz  dos  Órfãos  e  consentimento  e  abonação 
de  seu  irmão  e  tutor  Garcia  Falcão  de  Resende,  a  Se- 


'•  Bib.  publ.  de  Évora,  anu."  \.  n.o  26,  cod.  1  ° 

Jli  Na  incompleta  edição  das  poesias  de  André  Falcão  de  Re- 
sende, impressa  em  Coimbra  no  terceiro  quartel  do  século  xix,  repro- 
duz-se,  na  p.  413,  :l  única  Elejiapor  aquelle  poeta  composta,  e  pre- 
cede-se  a  reprodução  de  uma  nota  "fielmente  transcrita  cio  ms..,, 
termos:  "Feita  (a  Elejia)  pelo  A.  sobre  o  mal  da  peste,  que 
havia  na  cidade  de  Lisboa,  onde  elle  estava  no  anno  de  1599;  da 
qual  peste  elle  morreu.  E  foi  a  derradeira  obra.  que  compoz». 


ANDRÉ    DE    RESENDE  01 

bastião  de  Macedo,  camareiro  e  guarda  roupa  do  dito 
Cardeal,  e  a  sua  mulher  D.  Helena  Juje  '',  um  quinhão 
que  lhe  coubera  da  lejitima  de  sua  mãe,  D.  Lucrécia 
Falcoa,  na  herdade  de  Men coveiro. 

"André  Falcão  de  Resende,  filho  de  Jorje  de  Resende, 
ainda  em  1553  se  conservava  capelão  do  mesmo  Infante 
Cardeal,  com  moradia  de  setecentos  reaes  por  mês  e  al- 
queire de  cevada  por  dia,  como  consta  das  Provas,  VI, 
632. 

"Nas  notas  do  tabelião  Fernão  Darcas,  fl.  104,  se  acha 
uma  escritura  de  venda  de  uma  vinha  sita  em  Valbom, 
que  fizeram,  em  18  de  janeiro  de  15Ó3,  André  Falcão 
de  Resende  e  sua  mulher  D.  Leonor  de  Almada,  a  Ho- 
nório Rosado  e  a  sua  mulher  Joana  Calada.  Nesta  es- 
critura já  não  vem  nomeado  capelão  (extraordinário 
seria  se  viesse!),  mas  somente  fidalgo  da  casa  do  Infante 
D.  Henrique. 

"André  Falcão  tinha  casado  com  Leonor  de  Almada, 
tendo  tido  delia  um  filho  baptisado  na  Sé  de  Évora  a 
7  de  agosto  de  1560,  com  o  nome  de  André,  do  qual 
foram  padrinhos  Manuel  Mendez  Correia,  e  mestre  An- 
dré de  Resende,  e  madrinha  D.  Isabel  de  Almada.  Lste 
assento  está  a  fl.  74  v 

"André  Falcão  de  Resende  era  sobrinho  do  cronista 
Garcia  de  Resende,  o  qual  era  irmão  inteiro  de  Jorje 
de  Resende  seu  pai;  era  também  sobrinho  de  mestre 
André  de  Resende,  filho  de  André  Vaz  de  Resende  que 
era  irmão  inteiro  de  Francisco  de  Resende,  pai  do  cro- 
nista Garcia  de  Resende  e  de  Jorje  de  Resende,  de  quem 
foi  filho  André  Falcão  de  Resende 


'"  Helena  Jorje  lhe  chama  o  nobiliário  de  que  se  serviu  osr. Gui- 
lherme J.  C.  Henriques,  a  p.  142  da  sua  obra  Alemquer  e  o  seu 
concelho,  part.  x.  -  Sobre  estes  Macedos  veja-se  um  artigo  do  sr.  Pedro 
de  Azevedo,  no  Arc/i.  hist.  port.,  I,  371.  Desta  escritura  dá  noticia 
o  sr.    A.   F.  Barata  a  p.   lõ  do  folheto  André  de  Resende,  Lúcio/ 


02  ESTUDOS 

"Ora  Francisco  de  Resende,  pai  de  Jorje  e  do  cronista 
Garcia,  era  irmão  de  André  Vaz  de  Resende,  que  foi 
pai  de  mestre  André  de  Resende,  e  ambos  filhos  de 
Marti m  Vaz  de  Resende,  e  desta  sorte  se  vem  em  claro 
conhecimento  que  mestre  André  de  Resende  era  primo 
inteiro  de  Jorje  de  Resende  e  do  cronista  Garcia  de  Re- 
sende,,. 

Assim  termina  a  tal  Resposta,  não  me  atrevendo  a  ga- 
rantir a  exactidão  de  todas  as  informações  nella  contidas. 

Sobre  outras  noticias  da  vida  de  André  de  Resende 
não  me  alargarei,  porque  ao  tempo  que  estes  estudos 
serão  publicados,  já  deverá  ter  aparecido  no  Arch.  hist, 
port.,  para  onde  a  transcreverei,  a  biografia  tão  inteli- 
jente  e  concienciosamente  elaborada  pelo  douto  aca- 
démico Francisco  Leitão  Ferreira,  a  qual,  orijinal  e  iné- 
dita, se  guarda  na  Biblioteca  Nacional  de  Lisboa,  cod. 
Ó41  do  fundo  antigo;  porei  aqui  apenas,  por  na  referida 
biografia  pouca  referencia  haver  ao  filho  do  ilustre  ebo- 
rense, as  memorias  acerca  delle  encontradas   por  mim. 

Andava  mestre  André  de  Resende  nos  sessenta  annos, 
quando  lhe  nasceu  um  filho  havido  em  "mulher  não 
casada,,,  ao  qual  poz  o  nome  de  Barnabé  e  lejitimou, 
sendo  elle  de  sete  para  oito  annos,  por  instrumento  feito 
em  Lisboa  pelo  tabelião  António  Pinheiro,  a  9  deoitubro 
de  1567,  lejitimação  confirmada  por  carta  réjia  do  dia  se- 
guinte. Is  É  pouco  vulgar,  não  me  lembra  de  a  ter  jamais 


|v;  ( )  dr.  mestre  André  de  Resende  enviou  dizer  que  houvera  um 
flho,  sendo  de  ordens  sacras,  de  uma  mulher  não  casada,  o  qual  se 
chamava  Barnabé  e  era  de  idade  de  sete  annos  para  oito;  e  porque 
não  tinha  herdeiro  forçado  nenhum,  ascendente  nem  descendente,  o 
queria  lejitimar  para  lhe  soceder  e\  testamento,  ab  intestato  e  por 
doação,  e  a  o  ter  lejitimado  como  parecia  da  lejitimação  que  ofe- 
recia, etc.  Carta  de  lejitimação  dada  em  Lisboa,  a  9  de  oitubro  de 
l  567  (Perdões  e  legitimações  de  D.  Sebastião  e  D.  Henrique,  liv.  26.°, 
fl.  559  v.). 


ANDRÉ   DE  RESENDE  93 

encontrado,  e  tem  um  tanto  de  misteriosa,  aquella  for- 
mula de  designar  o  estado  da  mãe  de  Barnabé.  Filho  de 
mulheres  solteiras,  de  mulheres  casadas,  de  viuvas  e  até 
de  freiras,  encontram-se  frequentemente  nas  cartas  réjias 
de  lejitimação;  mas  filho  de  "mulher  não  casada»  é  es- 
tranho, repito.  Seria  ella  alguma  escrava  preta?  talvez, 
porque  Barnabé  de  Resende  dificilmente  se  livrará  da 
fama  de  haver  sido  mulato.  Seria  ella  alguma  viuva 
de  tal  qual  posição  social  a  quem  não  se  quisesse  com- 
prometer? ta'mbem  é  possível  e  mais  para  esta  hipótese 
me  inclinaria,  atendendo  a  que  o  rapaz  foi  dado  a  criar 
ao  Duque  de  Aveiro,  se  me  não  constasse  o  pouco 
escrúpulo  que  se  ligava  então  a  admitir  mulatos  em 
casas  fidalgas.  Elle  até  sucedia  ter  o  dono  da  casa  de  os 
aceitar  como  filhos  seus  lejitimos! 

Fosse  porem  como  fosse,  o  certo  é  ter  André  de  Re- 
sende no  seu  testamento  deixado  o  filho  por  herdeiro 
de  seus  bens,  com  a  condição  que,  falecendo  elle  "sem 
casar,  ou  sem  filhos  legítimos  ou  legitimados,  em  tal 
caso  quero  que  a  dita  fazenda  fique  ao  mosteiro  de 
S.  Domingos  desta  cidade  (Évora),  a  saber:  os  bens  de 
raiz,  que  são  os  que  atraz  tenho  nomeados  l9,  tirando 
umas  casinhas  de  que  ao  diante  farei  menção,  e  quanto 
aos  bens  moveis,  poderá  dispor  e  testar  delles  como  lhe 
bem  parecer,  depois  que  elle  fôr  em  idade  para  isso». 
Mais  adiante  obriga  a  sua  fazenda  a  uma  missa  annual, 
de  esmola  de  quinhentos  reaes,  dita  no  referido  mos- 
teiro, no  oitavario  dos  finados.  Nomeia  tutor  de  Bar- 
nabé a  Brás  Rodriguez  Ribeiro,  cidadão  daquella  cidade 
e  marido  de  Cristina  de  Resende,  sobrinha  do  testador; 
e  declara  que  deu  o  filho  ao  Duque  de  Aveiro  a  quem 


19  "Declaro  que  ha  fazenda  que  eu  hora  tenho,  que  é  ha  minha 
quintãa  (a  de  Valbom),  et  casas  en  que  moro,  et  três  outras  moradas  de 
casas  que  se  allugam  ethomovil  de  casa...,,  Vejam-se  os  extractos  do 
testamento  no  Arch.  hist.  port.,  onde  deverão  aparecer  no  vol.  VIII. 


94  ESTUDOS 

pede  muito  "que  o  favoreça  e  ajude  para  com  el  Rei 
em  acrescentamento;,. 

Este  Duque  de  Aveiro  era  o  2.°  que  em  1571  havia 
sucedido  na  casa  a  seu  pai  i0 ;  mas,  apesar  de  André  de 
Resende,  invocando  as  suas  antigas  relações  com  os 
falecidos  duques,  lembrar  a  seu  filho  "que  fui  mestre 
do  Duque  seu  pay,  e  da  Duquesa  sua  mayW|  parece  com- 
tudo  não  ter  conseguido  eficaz  protecção  para  o  filho, 
que  teve  curta  vida  e  nenhum  "acrescentamento,-,  con- 
soante já  vamos  ver. 

Menos  de  anuo  e  meio  depois  da  morte  do  anti- 
quário celebre,  no  dia  17  de  abril  de  1575,  na  igreja  de 
Santo  Antão  de  Évora,  casou  Barnabé  de  Resende,  con- 
tando apenas  quinze  para  dezaseis  annos  de  idade,  com 
"Eugenia  Marneta,  digo,  Mancata,,  "-'.  Não  foi  certa- 
mente nenhum  brilhante  casamento  e  destoou  das  fu- 
maças de  fidalguia,  na  realidade  bem  pouco  fundamen- 
tadas --,  que  mestre  André  de  Resende  assoprava  aos 
olhos  dos  amigos.  Pouco  tempo  durou  a  união:  a  18  de 
oitubro  de  1596,  com  trinta  e  seis  annos  apenas  faleceu 
em  Évora  Barnabé  de  Resende,  segundo  a  informação 
daquella  cidade  enviada  a  Leitão  Ferreira  e  por  elle 
aproveitada  na  sua  biografia  de  André  de  Resende, 
informação  certamente  pouco  verdadeira  num  ponto, 
quando  diz  não  ter  Barnabé  deixado  sucessão. 

Deixou,  é  certo,  e  prova-o  um  documento  encontrado 
pelo  P.1'  Mira  e  por  sua  mão  extratado,  o  qual  em  re- 
sumo declara  o  seguinte.  Em  Évora,  a  30  de  maio  de 
1603,  sendo  juiz  dos  órfãos  o  licenciado  Paulo  Oomez 
da  Fonseca  e  escrivão  do  dito  juizo  Nicolau  Coelho,  se 
fez  o  inventario  dos  bens  de  António  de  Resende,  mo- 


'-'■'  Brasões  de  Cintra,  II,  477. 

'-'  I.iv.  37  dos  assentos  da  referida  freguesia,  fl.  139. 

'-"'  Cf.  no  Arch.  hist.  port.,  IV,  39. 


ANDRÉ   DE    RESEND1  ()t 

rador  no  bairro  de  S.  Mamede,  do  qual  não  procederam 
filhos  apesar  de  casado  com  Caterina  Dias  da  Costa  que 
ficou  por  cabeia  de  casal.  No  dito  inventario  se  parti- 
lharam, entre  outras  fazendas,  as  casas  e  a  quinta  de 
Valbom  que  mestre  André  de  Resende  havia  vinculado, 
porque  o  vinculo  havia  sido  anulado,  ficando  apenas 
subsistindo,  e  só  na  quinta,  a  pensão  de  quinhentos  réis 
para  a  missa  ordenada  pelo  instituidor  no  mosteiro  de 
S.  Domingos.  Constava  a  anulação  do  vinculo  de  uma 
sentença  alcançada  contra  os  frades  por  Barnabé  de  Re- 
sende, filho  do  dito  instituidor  e  pai  deste  defunto,  a 
qual  anda  junta  ao  referido  inventario  - ':. 

A  geração  de  André  de  Resende  eistinguiu-se  dois 
séculos  antes  da  de  Garcia;  c,  se  na  deste  existiu  a  ma- 
cula de  sangue  judaico,  a  do  outro  não  se  livrou  da 
suspeita  do  labeo  de  sangue  africano. 

Aldeia,  setembro  de  19(W. 


23  Cit.  códice  SO  da  hib.  do  sr.  Visconde  da  Esperança. 


V 


A   RAINHA   D.   LEONOR 


Um  artigo  publicado  no  "Jornal  do  Cornmercio«,  em 
agosto  de  1901,  acerca  do  mosteiro  da  Madre  de  Deus 
veio  despèrtar-me  a  vontade  de  dar  á  lingua  a  respeito 
das  virtudes,  feições,  eiistumes,  e  manhas,  da  Rainha 
D.  Leonor,  a  mulher  de  D.  João  II. 

Nas  crónicas  e  historias  tem  ella  geralmente  passado 
até  hoje  por  uma  excelente  pessoa,  devido  sobretudo  á 
permissão  e  auxilio  concedidos  a  Fr.  Miguel  de  Con- 
treiras para  a  fundação  da  Misericórdia.  Esta  admirável 
instituição  de  caridade,  filha  de  unia  alma  impregnada 
nas  mais  sans  doutrinas  do  evangelho,  foi  durante  sécu- 
los entre  nós  quasi  o  único  amparo  dos  humildes  e 
desvalidos  da  fortuna.  Por  esse  motivo  milhares  de  bên- 
çãos caíram  sobre  aquella,  que  a  cortesania  oficial  pro- 
clamou sua  fundadora,  ao  passo  que  se  ia  obliterando  a 
memoria  do  pobre  Trinitario,  apostolo  da  caridade  em 
Lisboa,  onde  o  povo  o  saudava  reverente,  quando  o  via 
passar,  esmolando,  acompanhado  do  seu  anão  e  do  seu 
jumentinho. 

Em  15  de  agosto  de  1498,  sendo  rejente  do  reino  a 
Rainha  D.  Leonor,  instituiu-se  na  capital  a  irmandade 
da  Misericórdia,  e  de  Lisboa  irradiou  a  instituição  para 

7 


98  ESTUDOS 

todas  as  cidades  e  vilas  mais  importantes  do  reino. 
Sessenta  annos  mais  tarde  já  Fr.  Miguel  de  Contreiras 
estava  esquecido,  e  em  completo  olvido  ficaria,  se  não 
fossem  as  reclamações  dos  padres  da  Trindade. 

Não  quero  desmerecer  na  gloria  que  a  E).  Leonor 
pertence  nesta  pia  fundação.  E  evidente  que,  sem  o  con- 
sentimento da  Rainha,  se  não  teria  erijido  a  irmandade; 
é  certo  que,  sem  a  sua  muito  eficaz  protecção,  cila  não 
teria  prosperado;  mas  desejo  pôr  as  coisas  no  devido 
logar.  A  viuva  de  D.  João  II  merece  louvor  por  ter  ani- 
mado, auxiliado  e  amparado  a  Fr.  Miguel  de  Contrei- 
ras na  efeituação  da  sua  obra,  e  por  isso  deve  ser  tida 
na  conta  de  caridosa  mulher.  Este  caso  figura-se-me, 
em  ponto  menor,  muito  parecido  com  o  dei  Rei  D.José, 
talvez  o  melhor  soberano  que  nos  dará  a  casa  de  Bra- 
gança, unicamente  porque  sustentou  o  .Marquês  de  Pom- 
bal. 

A  caridade  é  uma  sublime  virtude.  É  a  que  mais  ha 
de  agradar  a  Deus,  e  por  tanto  aquella  a  que  de  prefe- 
rencia devem  recorrer,  para  alcançarem  a  misericórdia 
divina,  os  que  trazem  a  conciencia  carregada. 

Não  seria  pois  este  o  motivo  por  que  a  Rainha  D.  Leo- 
nor praticou  aquella  virtude?  E  não  seria  Er.  Miguel  de 
Contreiras,  seu  confessor,  que  lhe  apontaria  o  expiatório 
caminho? 

blla,  a  Rainha,  como  os  cronistas  no-la  pintam,  não 
parece  ter  sido  estremosa  consorte,  nem  ter  largado  a  mãe 
e  os  irmãos  para  seguir  o  marido.  Sempre  agressiva 
talvez,  mostra-se  perfeitamente  hostil  contra  elle  nos 
últimos  annos  da  sua  vida.  Abandona-o  na  sua  doença; 
deixa-o  morrer  sósinho,  sem  lhe  prestar  os  desvelos  de 
enfermeira  carinhosa,  sem  lhe  dar  a  consolação  de  ouvir 
uma  doce  voz  de  mulher  amiga  nas  horas  do  padeci- 
mento. Desamparado,  no  meio  de  homens  mais  afeitos 
ao   uso  das  armas  do  que  a  ministrar  tisanas,  finou-se 


RAINHA    D.  LI  ONOR  99 

I ).  João  II  nos  confins  do  Algarve,  clamando  pela 
Rainha  que  o  não  quis  nunca  ouvir.  Sc  no  coração  delia 
existiu  a  caridade,  ou  brotou  depois  do  outono  de  1495, 
OU  era  surda  á  voz  do  marido. 

Havia  muito  que  o  filho  bastardo,  o  possível  pomo 
da  discórdia  conjugal,  tinha  nascido;  havia  muito  que 
sua  mãe  andava  afastada;  e  aquella  ofensa  parecia  dever 
estar  perdoada  e  esquecida,  porque  D.  Leonor  tinha  em 
1490  recebido  de  bom  rosto,  pelo  menos  na  aparência» 
a  D.  Jorje,  o  não  culpado  fruto  do  adultério. 

A  morte  do  Príncipe  D.  Afonso,  do  único  filho,  essa 
grandíssima  desgraça,  devia  ter  estreitado  os  laços  de 
amizade  que  uniam  os  conjujes,  por  isso  que  para  elles 
abriu  uma  perene  fonte  de  lagrimas,  que  a  saudade  em 
ambos  alimentava,  e  que  a  dor  para  amparo  reciproco 
não  quereria  ver  separada.  Não  sucedeu  porem  assim, 
e  desde  então  é  que  em  D.  Leonor  se  começou  a  mani- 
festar mais  a  aversão  pelo  marido,  o  afecto  pela  família. 
As  crónicas  de  Rui  de  Pina  e  de  Garcia  de  Resende 
dão-no  claramente  a  entender;  alguns  documentos  o 
indicam. 

Em  1488  já  D.  Leonor  tinha  mandado  edificar  umas 
casas  para  os  banhos,  e  uns  aposentos  para  os  enfermos, 
que  concorriam  ás  caldas  do  termo  da  sua  vila  de  Óbi- 
dos. O  logar  porem  era  ermo,  e  por  essa  razão  não  po- 
diam os  doentes  prover-se  lá  do  que  lhes  cumpria. 
Recorreu  a  Rainha  ao  marido,  o  qual,  "por  neste  bem 
havermos  parte,,,  concede,  em  4  de  dezembro,  amplos 
privilejios  aos  moradores,  até  ao  numero  de  trinta  vizi- 
nhos, que  vierem  viver  nas  sobreditas  caldas  '.  Este  foi 
o  principio  da  hoje  florescente  vila  das  Caldas  da 
Rainha. 

Em  1490,  a  14  de  julho,  em  Évora,  "esguardando  ás 

1  Chancelaria  de  D.João  II,  liv.  14.°,  fl.  õ5  v. 


100  ESTUDOS 

muitas  despesas  que  sabemos  que  a  Rainha  tem  em  sua 
casa,  a  que  o  seu  assentamento  e  rendas  não  podem 
;,  assim  como  a  seu  estado,  e  serviço  nosso  e  seu 
pertence,  e  pelo  muito  amor  que  lhe  temos,, ,  manda 
D.  João  li  dar  de  assentamento,  de  dotação,  a  D.  Leonor, 
.1  contar  do  principio  do  anno  corrente,  dois  contos 
seiscentos  e  vinte  e  cinco  mil  reaes,  isto  é,  mais  oitocen- 
tos  e  sessenta  e  cinco  mil  reaes,  do  que  já  tinha  -.  Foi 
um  aumento  de  cincoenta  por  centro  feito  por  um  Rei, 
que  sabia  bem  o  valor  do  dinheiro,  exactamente  no 
tempo  em  que  se  encontrava  em  frente  dos  enormes 
encargos  trazidos  pelo  casamento  do  Príncipe. 

No  mesmo  anno,  nas  Alcáçovas,  a  11  de  setembro, 
el  Rei  autoriza  a  Rainha  a  poder  dispor  em  testamento, 
para  obras  pias,  dos  vinte  e  oito  mil  escudos  de  oiro 
das  suas  arras,  ainda  no  caso  delia  o  preceder  no  tu- 
mulo :;. 

Em  1401,  vinte  dias  antes  da  morte  do  Príncipe,  a 
23  de  junho,  concede  el  Rei  em  Santarém,  a  requeri- 
mento de  D.  Leonor,  para  beneficio  do  logar  das  Caldas, 
que  este  seja  isento  do  julgado  das  sisas  de  Óbidos, 
tendo  juiz  próprio,  que  logo  nomeia  vitalício,  escolhendo 
para  o  cargo  o  provedor  que  pela  Rainha  estava  nas 
Caldas  '.  As  outras  concessões  réjias  ao  hospital  e  banhos 
são  do  reinado  de  D.  Manuel. 

A  13  de  julho  do  referido  anuo  morreu  o  Príncipe 
D.  Afonso,  e  o  apartamento  da  Rainha  tornou-se  mani- 
festo. 

Não  foi  só  o  ódio  ao  bastardo  que  imperou  no  animo 
delia;  foi,  mais  do  que  isso,  o  receio  de  ver  a  coroa 
desviada    da    cabeça   de  seu   irmão.   Sempre  a  família 


•  Chancelaria  de  D.João,  II,  liv.  16.°,  fl.  85. 

;  Ibidem. 

1  Ibidem,  liv.  1(>.<\  ti.  1  il. 


RAINHA   D.   I  I  ON<  IR  101 

antepondo-se  ao  marido,  ainda  que,  neste  caso,  com 
razão. 

D.  Leonor  pelos  seus  conselhos  conseguiu,  conforme 
assevera  o  cronista,  que  D.  João  II  declarasse  herdeiro 
do  trono  e  seu  sucessor  a  I).  Manuel;  e,  se  cila  alcançou 
isto  vivendo  com  o  marido  em  termos  agressivos,  não 

devemos  crer  que,  usando  com  elle  de  meiguice  e 
bom  trato,  não  obtivesse  o  mesmo  resultado?  D.  João  II 
era  politico#bastante,  e  em  demasia  amigo  da  sua  gente, 
pela  lei  e  pela  grei,  para  não  querer,  nomeando  a  coroa 
em  D.  Jorje,  atiçar  a  revolução  no  reino,  e  lança-lo  em 
aventuras  que  lhe  poderiam  ser  fataes.  Havia  de  escutar, 
como  escutou,  a  voz  da  razão,  que  veio  calcar  os  seus 
afectos  de  pai,  e  acceita-la-hia  com  tanto  mais  presteza 
e  agrado,  se,  em  vez  de  lhe  ser  atirada  aos  ouvidos  com 
voz  áspera  e  modo  duro,  lhe  fosse  insinuada  pacifica  e 
carinhosamente.  Mas  não  pôde  ser,  porque  existia  a 
sogra  e  a  cunhada,  e  ellas  dominavam  o  animo  da 
Rainha. 

D.  Leonor,  repito,  não  foi  a  esposa  cristã,  não  deixou 
a  família  para  seguir  o  marido.  Este,  teve  muitas  culpas, 
não  lhas  quero  atenuar;  mas  teve  uma  tremenda  expia- 
ção, moral  e  fisica.  O  que  não  sofreu  elle  ao  ver,  de 
repente,  o  filho  morto  numa  pobre  cabana  de  pescado- 
res? O  que  não  padeceu,  sentindo-se  morrer,  numa 
intolerável  agonia,  abandonado  por  todos  os  seus?  E, 
se  no  seu  espirito  entrou  a  suspeita  de  lhe  terem  apres- 
sado o  fim.  que  tormentosos  não  foram  seus  últimos 
dias  ? 

Não  vou  acusar  D.  Leonor  de  ter  propinado  a  morte 
a  seu  marido.  Não  tenho  provas  disso;  mas  parece-me 
possuir  já  as  suficientes  para  quasi  poder  afirmar,  que 
D.  João  II  morreu  efectivamente  envenenado,  como  insi- 
nuam Rui  de  Pina,  Garcia  de  Resende,  e  o  próprio 
Damião  de  Góes,  espirito  bem  esclarecido,  na  primeira 


102  ESTUDOS 

edição,  a  suprimida,  da  l.a  parte  da  Chronica  de  D.  Ma- 
nuel ■'. 

Dizem  os  dois  contemporâneos  que  depois  das  festas 
de  Évora,  em  princípios  de  1 401 ,  tora  o  veneno  minis- 
trado a  el  Rei  numa  pouca  de  agua  que  bebeu  na 
herdade  da  Fonte  Cnberta,  termo  daquella  cidade.  Acres- 
centam, ter-se  a  suspeita  confirmado  em  muitas  pessoas 
pelo  facto  de  Fernão  de  Lima,  Copeiro  mór,  Estevão  de 
Sequeira,  Copeiro  pequeno,  e  Afonso  Fidalgo,  homem 
da  copa,  "inchados  e  solutos  como  el  Rei,  antes  delle 
poucos  dias  todos  três  falecerem,,  ''. 

lia  na  asserção  dos  cronistas  dois  pontos  a  notai-: 
primeiro,  a  data  do  envenenamento ;  depois,  o  facto  da 
morte  dos  três  homens. 

Quanto  á  data,  suponho  ter  havido  engano,  não  só 
porque,  no  parecer  de  médicos  que  tenho  consultado, 
não  se  conhece  veneno  que  mate  a  quatro  ânuos  e  tanto 
de  praso ;  mas  sobretudo,  porque  no  tempo  assinalado, 
quando  o  Príncipe  ainda  não  tinha  falecido  e  pelo  seu 
casamento  parecia  ter  assegurado  a  sucessão  da  coroa, 
nenhum  interesse  havia  em  matar  a  el  Rei.  É  preciso 
por  tanto  procurar  a  ocasião  do  crime  em  tempos  mais 
prossimos  do  desenlace;  mas  para  isso  não  tenho  por 
ora  dados  nenhuns,  e  na  verdade  a  data  do  envenena- 
mento, neste  caso,  para  prova  do  sucesso  é  circums- 
tancia  mini  ma. 

Agora,  quanto  ao  facto  da  morte  dos  três  homens, 
prova  tremenda  porque  se  não  pode  atribuir  a  mera 
coincidência,  direi  o  que  sei. 

Fernão  de  Lima  morreu  tão  pouco  antes  dei  Rei,  que 
este  só  na  véspera  da  sua  morte,  a  24  de  oitubro  de  1405, 


•  Veja-se  lá  mais  adiante  o  artigo  Envenenado. 
'•  Resende,   Vida  de  I).  João  II,  cap.  128.  íl.  181.  Rui  de  Pina,  no 
\í  da  Chronica  d  ■  D.João  //,  declara  o  mesmoi:qnasi  pelas 
lalavras,  omitindo  porem  o  nome  de  Afonso  Fidalgo. 


RAINHA  D.   LEON<  >R  103 

é  que  assinou  o  alvará  confirmando  a  cisa  do  Copeiro 
mór  a  seu  filho  Diogo  Lopez  de  Lima  '.  A  mulher  e 
herdeiros  de  Afonso  Fidalgo  passou-se,  a  0  de  setembro 
de  1497,  carta  de  quitação  do  que  elle  recebera  e  des- 
pendera no  anno  de  1494,  e  parte  do  de  1495,  em  que 
elle  se  finou  s.  Á  mulher  e  herdeiros  de  Estevão  de 
Sequeira  foi  lhe  passada  análoga  carta  de  quitação  em 
3  de  maio  de  1499  '•'.  Nesta,  á  primeira  vista,  não  é  tão 
grande  a  clareza,  mas,  reparando-se  bem,  serve  igual- 
mente de  prova. 

Advertirei  primeiro,  que  o  facto  do  documento  ser 
passado  três  annos  e  meio  depois  da  morte  de  D.  João  II 
nada  vale,  porque  muitas  vezes  mediaram  prasos  ainda 
maiores  entre  as  datas  das  cartas  de  quitação,  e  o  tempo 
do  exercício  dos  responsáveis.  Notarei  depois,  que  a 
quitação  é  dada  a  Estevão  de  Sequeira,  "Copeiro  que  foi 
dei  Rei,  meu  senhor.  .  .  de  toda  a  prata  e  coisas  que 
recebeu  o  tempo  que  foi  Copeiro,,.  Portanto  não  chegou 
a  exercer  o  oficio  no  reinado  de  D.  Manuel.  Este 
apressou-se,  como  se  colhe  da  carta  de  nomeação  "',  em 
designar  para  copeiro  mór  a  Lourenço  de  Brito,  não  só 
porque  o  oficio  estava  vago  pela  morte  de  Fernão  de 
Lima,  mas  porque  houve  algumas  alterações  nos  oficiaes 
mores,  que  nem  todos  continuaram  a  servir  ao  novo 
Rei,  que  alguns  daquelles  oficio:;  deu  a  criados  seus, 
pelo  que  se  viu  gente  de  mediana  nobreza  substituir 
grandes  fidalgos.  Mas,  se  houve  esta  pressa  com  alguns 
dos  oficiaes  mores  da  casa,  outro  tanto  não  sucedeu 
com  os  oficiaes  menores,  que  eram,  por  fim  de  contas, 


Chancelaria  de  D.  João  III.  liv.  41.".  de  Doações,  fl.  72. 

;  .l/r//,  hist.  port.,  1,  164,  n.°  S. 

"  Ibidem,   II,  77.  n.<>  1S7. 

10  Carta  de  S  de  novembro  de  1 407  (?)  para  ter  o  oficio  de  copeiro 
mór,  "pela  guisa  por  que  até  era  o  foi  por  nossa  carta...  Chancela- 
ria de  í).  Manuel,  liv.  8.°,  ti.  2. 


104  ESTUDOS 

os  responsáveis,  os  que  lidavam  com  os  objectes  e  va- 
lores cio  serviço.  Daqui  pode-se  concluir  que  Estevão 
de  Sequeira  não  serviu  de  copeiro  a  I).  Manuel,  porque, 
como  Fernão  de  Lima  e  Afonso  Fidalgo,  também  morreu 
pelos  mesmos  tempos  o,ue  D.  João  II,  confirmando-se 
neste  ponto  a  asserção  dos  cronistas. 

(  :onsta-me,  não  logrei  ainda  ver  o  artigo,  que  o  dou- 
tor Manuel  Bento  de  Sousa,  a  quem  eu  considero  tanto 
como  todos  os  que  o  conheceram,  atribue  a  morte  de 
D.  João  II  á  hidropesia,  julgando  até  que  a  falta  de  cura 
ou  pelo  menos  de  alivio,  proveio  de  não  ter  el  Rei  tei- 
mado no  tratamento  pelas  aguas  de  Monchique,  as  quaes 
ao  principio  na  aparência  recrudescem  o  mal.  Respeito 
muitíssimo  a  ciência  e  clara  inteligência  daquelle  ilustre 
medico,  mas  elle,  neste  caso,  não  tomou  o  pulso  ao 
doente  ". 

Aqui  fico  por  hoje.  Voltarei  comtudo  ao  assumto  que 
é  tão  interessante,  quanto  enredado. 


Antigamente  os  médicos  mandavam  tomar  os  remé- 
dios pela  manhan,  em  jejum.  Era  ótimo,  porque  se  fi- 
cava logo  livre  da  maçada,  e  não  se  pensava  mais  em 
tal,  a  não  ser  que  a  droga  fosse  daquellas  que  teimam 
em  se  tornar  lembradas. 

Depois,  começaram  a  receitar  para  uma  hora  antes 
das  comidas.  Era  terrível!  Passava-se  o  dia  de  relojio 
na  mão;  tinha  de  se  voltar  para  casa  mais  cedo;  trans 


"  Bem  pelo  contrario,  como  se  verá  nu  artigo  Envenenado, 
o  tlr.  Manuel  Bento  acreditava  no  envenenamento. 


RAINHA    D.    Mi  >NOR  105 

tornava-se  a  vida  toda!  Conheceram  elles  isso,  e,  como 
verdadeiros  amigos  dos  doentes  que  são,  mudaram  a 
hora  para  ò  principio  das  refeições.  Acção  filantró- 
pica, pois  tornou  a  pôr  as  coisas  quasi  tão  boas  como 
d'antes.  Mas  não  ficaram  ainda  as  mudanças  por  aqui,  e 
agora  já  se  prescrevem  remédios  para  tomar  entre  dois 
pratos  ao  jantar. 

Ora  eu  também  quero  fazer  arte  nova,  pelo  menos 
em  prólogos,  e  por  isso  vou  ministrar  um  aos  meus  lei- 
tores no  meio  deste  suculento  pão  e  laranja. 

Estes  artigos  são  escritos  nos  intervalos  que  me  dei- 
xam outras  tarefas.  Como  para  ellas  preciso  juntar  pri- 
meiro todo  o  material,  porque  sem  o  ter  todo  reunido 
não  posso  fazer  obra;  e  como  o  arrebanha-lo  leva 
tempo,  não  só  por  estar  espalhado,  mas  também  por- 
que são  breves  as  horas  que  me  dão  para  isso,  resulta 
haver  ocasiões  em  que,  apesar  de  trabalhar  de  dia,  nada 
posso  adiantar  á  noite.  São  estes  serões  que  Silex  tem 
aproveitado.  Agora  deu-se  o  caso  de  haver  material  re- 
unido, de  se  poder  por  tanto  fazer  obra,  e  tiveram  de 
parar  os  ganchos.  E  aqui  está,  amigo  leitor,  o  motivo 
por  que,  ha  perto  de  um  mês  '-,  eu  tenho  deixado  a 
pobre  Rainha  D.  Leonor  em  descanço. 

Não  lhe  quero  mal  nenhum,  note-se.  Xão  tenho  por 
ella  simpatia,  é  certo;  mas  desejo  ser  justo,  e  vou  dili- 
jenciar  se-lo.  Não  esconderei  suas  virtudes,  ainda  que 
torne  patentes  seus  defeitos;  não  encobrirei  as  graves 
culpas  de  seu  marido,  apesar  da  enorme  atracção  que 
para  elle  me  arrasta. 

D.  João  II  não  foi  só  um  homem;  foi  um  Rei.  A 
realeza  era  a  sua  essência,  a  ella  estava  subordinado  seu 


12  O  primeiro  artigo  era  de  3  de  setembro  de  1()()1  e  este,  de  26. 


i  ESTUDOS 

espirito,  que  por  causa  delia  era  exclusivamente  domi- 
nado pela  Politica,  a  verdadeira,  a  san;  não  essa  reles  e 
baixa  coisa  que  para  aí  vemos.  Em  quanto  o  Rei  e  0 
Marido  caminharam  a  par,  foi  tudo  bem;  desde  que 
houve  oposição  ao  Rei,  pretendendo-se  embaraçar  seus 
pensamentos  políticos,  desapareceu  o  Marido,  ficou  só 
o  Soberano,  e  tudo  na  vida  intima  dos  conjujes  andou 
mal. 

Não  era  unicamente  o  amor  paternal  que  levava 
D.  João  II  a  querer  deixar  a  sucessãd  da  coroa  a  seu 
filho  [).  Jorje;  havia  também  no  caso  um  grande  con- 
ceito politico.  El  Rei  percebia  que  seria  esse  o  único 
meio  de  evitar  o  regresso  dos  Braganças,  e  isto  não  o 
queria  elle  só  por  mesquinho  espirito  de  vingança;  um 
mais  elevado  intento  o  incitava.  D.  João  II  tinha  perfei- 
tamente compreendido  que  era  grande  de  mais  aquella 
casa  [Xira  caber  em  reino  tão  pequeno;  conhecia  admi- 
ravelmente o  instincto  de  cubica,  eiva  hereditária  que 
dominava  todos  seus  membros;  e  receava  para  o  so- 
do  reino  a  estada  nelle  de  fidalgos  tão  orgulhosos, 
ávidos  e  irrequietos,  como  os  Braganças  até  então  se 
haviam  mostrado.  Em  D.  João  II  existia  já  o  alto  pen- 
samento de  reunir  numa  só  monarquia  todos  os  povos 
da  Península,  e  por  isso  procurou  para  mulher  de  seu 
herdeiro  a  filha  mais  velha  dos  Reis  Católicos.  Parece 
ter  então  adivinhado  o  futuro,  porque  a  Princesa  D.  Isa- 
bel chegou  a  ser  jurada  herdeira  de  Castella  e  Aragão, 
e,  se  não  fosse  a  desastrosa  morte  do  Principe  I).  Afonso, 
é  muito  possível  que  o  filho  de  D.  João  II  tivesse  vindo 
a  ser  o  rei  da  Espanha  toda. 

Este  sonho  desvaneceu-se  nos  campos  de  Santarém 
mas  a  ideia  não  se  apagou  de  todo  no  espirito  dei  Rei, 
que,  repito,  parecia  antever  o  futuro.  Se  a  expulsão  dos 
Braganças  tivesse  sido  mantida,  nunca  teria  sucedido  a 
grandíssima  desgraça  politica  de  1040;  e  quanto  mais 


RAINHA  D.  I  EON(  IR  107 

se  repetissem  as  alianças  com  Castella,  e  quanto  menos 
se  deixassem  rebentar  ramos  do  tronco  real,  tanto  mais 
provável  e  fácil  se  tornaria  a  união,  como  de  facto  se 
tornou. 

A  tenacidade  muita  justa  da  Rainha  D.  Leonor,  opon- 
do-se  aos  desígnios  do  marido,  transtornava-lhe  os  pro- 
jectos, exaçerbava-lhe  o  génio,  já  "seco  de  condição  e 
não  humano..,  quando  em  saúde,  muito  mais  irritável 
agora  que  estava  doente.  "Fui  tão  mau  bicho,  que  nunca 
me  acenaram,  que  não  mordesse,,  l:i;  e  a  Rainha  não 
só  lhe  acenava,  como  o  acirrava.  Pode-se  julgar  do  que 
seria  o  viver  intimo  dos  conjujes  nos  últimos  annos  do 
casamento.  D.  João  II  com  a  sua  ideia  fixa  apertava  a 
Rainha  para  que  cedesse;  ella,  teimosamente,  não  transijia, 
nem  sequer  ao  menos  em  tornar  a  admitir  o  bastardo  á 
sua  presença. 

Foi  uma  luta  tremenda,  destas  que  se  passam  dentro 
das  quatro  paredes  de  uma  casa,  e  na  qual  a  Rainha 
D.  Leonor  sempre  nobremente  sustentou  a  causa  do 
direito;  e  é  de  justiça  não  se  negar  louvor  a  uma  mu- 
lher fraca  e  doente,  que  pugna  pela  razão  e  resiste  aos 
maus  tratos  de  um  homem  duro  e  áspero,  que  encar- 
nava em  si  o  principio  do  absolutismo.  O  que  não  se- 
riam essas  diárias  lutas  caseiras?  que  preces  fervorosas, 
nesses  tempos  de  fé  viva,  não  dirijiria  D.  Leonor  a  Deus, 
suplicando-lhe  o  fim  do  seu  martírio?  que  angustias  não 
passariam  pelo  seu  coração  ao  lembrar-se  que  el  Rei 
poderia,  na  sua  obcecação,  rasgar  completamente  o  direito 
e  até,  numa  hora  de  desvairamento,  manchar  para  sem- 
pre sua  memoria  com  um  assassínio? 

De  passajem  farei  notar  aos  que  teem  D.  João  II  na 
conta  de  uma  besta  fera,  que  lhe  seria  fácil  então  mandar 
matar  o  Duque  de  Beja,  e  que,  não  só  semelhante  pen- 

13  Resende.  Vida  de  D.João  11,  cap.  211.  fl.  121  v. 


108  ESTUDOS 

samento  não  veio  á  ideia  dei  Rei,  mas  até,  se  houve 
crime,  a  victima  foi  elle  próprio. 

A  luta  foi  tal,  que  as  forças  fisicas  de  D.  Leonor  cede- 
ram, e  a  Rainha  esteve  gravemente  doente  em  Setúbal 
no  mês  de  maio  de  1494. 

E  aqui  vem  a  propósito  notar,  para  confronto  com  o 
abandono  em  que  D.  Leonor  deixou  o  marido  no  Al- 
garve, quando  elle  lá  se  finou,  que  D.  João  II,  ao  saber 
da  doença  da  Rainha,  correu  logo,  apesar  de  já  bem 
enfermo,  a  acompanha-la  e  assistir-lhe  '''. 

Resistiu  ella  porem ;  curou-se,  e,  se  saiu  da  doença 
com  a  já  debilitada  saúde  ainda  mais  avariada,  conser- 
vou a  anterior  firmeza  de  espirito,  a  mesma  tenacidade 
para  proseguir  na  contenda. 

Tentou  D.  João  II  ao  principio  vencer  com  dadivas  a 
oposição  da  Rainha,  atacando-a  pelo  seu  lado  fraco; 
sim,  pelo  lado  fraco.  Documentos  provarão  logo  ao 
leitor  que  não  sou  injusto  acusando  D.  Leonor  de  avidez. 
Trouxe-! he  este  defeito  o  sangue  de  seu  bisavô  materno, 
o  Duque  D.  Afonso  de  Bragança. 

Por  carta  de  20  de  janeiro  de  1492  arbitrou-lhe  el  Rei 
uma  tença  de  quatrocentos  cruzados  de  oiro  pelos  dízi- 
mos, que  a  Rainha  possuia,  das  jóias  que  entravam  nas 
alfandegas  do  reino,  para  que  ella  "melhor  nisto  pudesse 
ser  servida  e  mais  certa,,    '•'.  Logo  a  seguir,  por  outras 


''  Pina,  Chrpnica  de  D.João  II,  cap.  69,  paj.  181.  "E  eu  o  vi 
chorar  soo  muytas  lagrimas  com  grandes  salluços  e  sospiros,  aven- 
do-a  jaa  por  morta...  afirma  Garcia  ele  Resende  (Vida,  cap.  179), 
forçando  um  pouco  a  nota. 

"  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  43.°,  fl.  60  v.  É  muito  curioso 
este  documento,  e  por  isso  extracta-lo-hei :  "A  Rainha  D.  Leonor, 
minha  molher,  disse,  como  depois  que  é  rainha,  até  agora,  ella  não 
houvera  a  renda  da  dizima  das  jóias  a  fundo  declaradas,  que  lhe 
pertencia  haver  de  todallas  alfandegas  de  nossos  reinos,  per  bem  da 
doação  que  os  reis  passados  deram,  e  confirmaram,  ás  rainhas,  a 
saber:  aljôfar,  cendaes,  ouro  fiado  e  prata  fiada,  anéis,  arcas,  esca- 
ninhos, espalhos,  pentes,  folha  de  ouro  e  de  prata,  alfreces,  tornes, 


RAINHA    D.    LEONOR  109 

cartas  de  28  e  30  do  mesmo  mês,  confirmou-lhe  amplís- 
simos privilejios  nas  jurisdições  das  suas  terras  "'.  E, 
se  mais  documentos  não  existem  desses  tempos,  é  por- 
que a  Chancelaria,  os  livros  de  rejisto,  de  D.  João  II 
estão,  infelizmente,  muito  mutilados  ''. 

O  ultimo  caderno  que  existe  de  rejistos  daquelle  Rei 
foi  começado  em  Lisboa,  a  11  de  dezembro  de  1492,  e 
está  no  liv.  7."  a  fl.  136  ls.  Documentos  posteriores  a  estes 
tempos,  só  se 'encontram  alguns  transcritos  na  chamada 
Leitura  Nova,  ou  em  cartas  de  confirmação  dos  reinados 
seguintes.  Não  sei  a  que  se  deva  atribuir  aquella  falta, 
se  a  desleixo  e  descuido,  se  a  propósito,  ou  a  nenhuma 
destas  causas  e  simplesmente  a  efeitos  do  terremoto  de 
1755;  mas  sei  que  é  uma  perda  irreparável,  que  ha  de 
tornar  muito  difícil  o  estudo  da  historia  dos  últimos  três 
annos  do  reinado  de  D.João  II  aos  historiadores,  quando 
em  Portugal  os  houver. 

Salvou-nos  comtudo  a  Leitura  Nova  um  documento 
interessantíssimo.  Mostra-nos  elle  D.João  II  pretendendo 
mais  uma  vez  com  presentes  dobrar  a  Rainha  aos  seus 
desígnios,  e  D.   Leonor,  apesar  de  se  manter  firme  na 


toda  seda  e  retroz,  froxam,  aguilhoz,  ambres,  contas,  botões,  azevi- 
ches, camicazes  (camicaras,  cm  leitura  nova),  veos,  fita  de  ouro  e  de 
seda,  canudos  de  ouro  e  de  prata,  coraes  redondos,  outras  contas,  e 
veos  e  enxaravias  de  seda  e  de  linho,  chapins,  cabelleiras,  chapilheres, 
alvaiade,  tecidos,  manilhas  de  ouro  e  de  prata,  e  azeviches,  cordões  e 
forcaduras,  almíscar,  crespinas  de  ouro  e  de  seda,  esmoleiras  de  ouro 
e  de  seda,  bolsas,  candeias  de  Aragão  pêra  resar,  açafates,  rocas, 
buetas  grandes,  sedeiras  de  seda  e  de  linho,  cordas  de  cardar  a lgodao, 
luvas,  matalotes,  e  assim  outras  muitas  cousas  desta  qualidade... 

16  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  43.",  fl.  57  v.,  e  liv.  10.", 
fl.  58  v. 

1  Em  S  de  fevereiro  de  1529  fez-se  inventario  dos  livros,  então 
existentes  na  Torre  do  Tombo,  de  rejisto  dos  reis  passados  e  no 
respectivo  auto  declarou-se  constar  a  Chancelaria  de  D.  João  II  de 
catorze  livros,  com  5419  folhas  ao  todo  (Arch.  Iiist.  port.,  III,  300). 
Hoje  são  vinte  e  sete  os  livros,  mas  as  folhas  estão  reduzidas  a  1034, 

,s  Cf.  no  meu  artigo  A  Chancelaria  de  D.João  II  no  Arch.  hist. 
port.,  II,  337. 


110  ESTUDOS 

sua  resolução,  não  hesitar  em  recorrer  ao  marido  a 
pedir-lhe  favores. 

Em  Exora,  no  anuo  da  morte,  a  13  de  janeiro  de 
1405,  passou-se  nova  carta,  por  se  haver  perdido  a 
primeira,  na  qual  se  declara  ter  a  Rainha  I).  Leonor 
pedido,  "pêra  as  cousas  que  ella  queria  fazer  por  des- 
cargo de  sua  alma»,  que  lhe  fossem  aumentadas  as  arras, 
alegando  que  não  chegariam  os  estipulados  vinte  mil 
escudos  de  oiro.  El  Rei  anue,  e  eleva  a  quantia  a  vinte 
e  oito  mil  escudos,  "esguardando  nós  o  muito  amor 
que  lhe  temos,  e  como  sempre  folgamos  de  lhe  fazer 
graça  e  mercê  das  cousas  que  nos  pede,  por  serem  boas 
e  justas,  e  como  isto  que  assim  pede  é  por  descargo  de 
sua  alma-,  ''•'.  Mas  a  ideia  fixa  de  D.  João  II  lá  transpa- 
rece mais  adiante  no  mesmo  documento:  "E  por  esta 
rogamos  e  mandamos  aos  nossos  filhos,  sob  pena  de 
nossa  benção,  e  encomendamos  aos  nossos  sucessores, 
que  lha  guardem... 

Esta  formula  é  estranha,  e  não  se  pode  deixar  de 
supor  intencional.  Se  el  Rei  tivesse  sucessor  directo, 
era  a  esse,  a  seti  filho  e  herdeiro,  no  singular  e  não  no 
plural,  que  elle  havia  de  ordenar,  sob  pena  de  sua  ben- 
ção, que  desse  cumprimento  á  carta.  Como  ainda  man- 
tinha a  esperança  de  poder  deixar  a  coroa  a  D.  Jorje, 
adoptou  aquella  formula  vaga  para  designar  o  sucessor. 
O  que  convinha  saber-se,  era,  se  aquella  foi  a  norma 
geral  nos  documentos  réjios  do  tempo ;  mas  infeliz- 
mente a  mutilação  da  Chancelaria  impede  a  averiguação. 

Continuava  pois  a  luta,  variando  apenas  as  formas: 
alternavam  as  blandícias  com  os  maus  tratos. 

Meado  o  verão  de  1495  partiu  D.  João  II  de  Évora 
com  a  Rainha,  e  poucos  cortesãos  escolhidos,  para  as 
Alcáçovas. 

'"  Liv.  1."  de  Reis,  fl.  14. 


RAINHA  D.  I  EONOR  1  1  1 

Foi  nesta  viloria  alemtejana  que  proseguiu  a  contenda 

domestica;  foi   lá  que  se  feriram  os  últimos  combates; 
foi  aí  que  a  Rainha  alcançou  a  vitoria. 

Já  perto  do  fim  de  setembro  passou  el  Rei  a  Vila 
Nova  de  Alvito;  e  a  Rainha  no  entretanto  foi  avistar-se 
a  Viana  com  sua  mãe  a  Infanta  I).  Beatriz,  e  sua  irmã, 
a  Duquesa  D.  Isabel. 

Não  foi  de  certo  a  Viana,  como  diz  Rui  de  Pina,  por 
mandado  dei  'Rei,  a  ver  se  os  conselhos  das  suas  paren- 
tas a  demoviam  do  seu  propósito.  É  preciso  demasiada 
injenuidade  para  se  acreditar  que  a  Infanta  ea  Duquesa 
quisessem  de  boa  fé  concorrer  para  que  seu  filho  e 
irmão,  D.  Manuel,  perdendo  na  Rainha  o  seu  único  sus- 
tentáculo, fosse  privado  da  coroa,  que  em  lejitima  suces- 
são lhe  pertencia.  Não  foi  por  tanto  aquelle  o  motivo  que 
levou  D.  João  II  a  consentir  na  visita,  que  só  serviria 
para  retemperar  as  forças  da  Rainha,  dando-lhe  nova 
enerjia  para  a  luta,  se  esta  ainda  existisse;  foi  porque 
ella  já  tinha  terminado;  foi  para  a  Rainha  levar  ás  duas 
'senhoras  a  nova  da  vitoria,  sua  e  da  lejitimidade. 

Tornaram  ambos  os  esposos  para  as  Alcáçovas,  e 
então  mandou  el  Rei  chamar  Fr.  João  da  Povoa,  seu 
confessor;  com  elle  se  fechou  numa  camará,  e  a  elle,  no 
dia  20  de  setembro)  dictou  seu  testamento,  no  qual 
declarou  por  seu  herdeiro  e  sucessor  ao  Duque  de  Beja. 
Foi  tremenda  a  batalha  no  espirito  dei  Rei,  mas  nelle 
venceu  a  ideia  do  "bem  destes  reinos  e  senhorios,  e  a 
governança,  regimento  e  defensão  delles,  a  que  tenho 
muita  obrigação  e  singular  afeição  e  amor.,,  Por  isso, 
"de  meu  moto  próprio,  certa  ciência,  livre  vontade,  po- 
der absoluto,  na  melhor  forma  e  maneira  que  eu  posso, 
quero  e  me  praz,,,  que  o  Duque  D.  Manuel  fique  por 
verdadeiro  herdeiro  do  reino,  e  o  possua  ;". 

20  Sousa,  Provas  da  Hist.  genealógica,  vol.  II,  paj.   1(>7,  doe.  2S. 


112  I  SI  ['DOS 

A  batalha  foi  tremenda,  repito,  e  íaz-me  pena  pela 
memoria  de  D.  João  II,  que  nesta  occasião  a  generosi- 
dade não  tivesse  completamente  vencido  o  rancor,  e  que 
nem  uma  única  vez,  em  todo  o  longo  documento,  se 
encontre  nomeada  a  Rainha. 

Ainda  assim,  se  é  feia  a  falta  de  generosidade  no  Rei 
vencido;  é  feissima  a  falta  de  caridade  na  Rainha  ven- 
cedora. 

Deixou  ella  partir  o  marido  sósinho  para  as  caldas 
de  Monchique;  deixou  recrudescer  a  doença,  e  em  Al- 
cácer do  Sal,  onde  ficara  com  o  irmão  esperando  a 
presa,  só  tinha  tempo  para  despachar  troteiros  velozes, 
que  todos  os  dias,  a  cada  hora,  lhe  fossem  trazendo  no- 
ticias do  progresso  da  terrível  agonia  de  Alvor  -'.  E 
houve  umas  horas  de  pânico,  naquella  sexta  feira  em 
que  D.  João  II  e  todos  que  o  rodeavam  chegaram  a  jul- 
gar a  doença  vencida. 

()  Duque  já  ia  a  caminho  do  Algarve;  voltou  porem 
apressadamente,  e  os  dois  irmãos  uniram  fileiras.  Na 
segunda  feira  comtudo  socegaram. 

Na  véspera,  ao  cair  do  sol  no  oceano,  o  grande  espi- 
rito largara  o  miserável  invólucro:  D.  João  II  tinha 
morrido. 

E  chegou  o  temno  da  ceva. 


'-'  É  muito  interessante  o  seguinte  trecho  ele  um  manuscrito,  que 

<    meu  estudioso  amigo  sr.  Pedro  A.  de  Azevedo  me  indicou:  "Foi 

(D.Sebastião)  ver  mais  as  casas  em  que  1  IRey  D.  João  2.o  morreo,  as 

quais  estão  danificadas,  que  para  EÍRey  sobir  a  numa  casa  que  não 

«lê  todo  gastada,  mandou  vir  numa  escada  ele  mão  pella  qual 

sobio,  e  dahi  veyo  atravessando  a  villa  (de  Alvor)  pela  principal  rua. 

e  se  veyo  para   Villa   nova,  aonde  chegOU  já  de  noite,  e  ceou.  e  dei- 

tousse  logo  na  cama,  por  aver  ao  outro  dia  de  partir  ante  manhan 

Monchique.  Alvor  lie  de  250  pessoas,  tem  a  alcaidaria  o  Conde 

di   Odimira».    Relaçam  da  jornada  eTEl-Rey  D.  Sebastião  quando 

partio  da  cidade  de  Évora,  frita  pelo  Coronista  João  Cascão.      Torre 

mbo,  t><<\.  1  Kll.  paj.  625. 


RAINHA   D.   LEONOR  1  13 


li 


Ali  mesmo,  em  Alcácer  do  Sal,  na  terça  feira  27  de 
oitubro  de  1495,  foi  D.  Manuel  aclamado  rei.  Passou 
em  seguida  a  Montemor  o  Novo,  onde  permaneceu 
durante  algitws  meses,  e  logo  ali  se  começou  a  destruir 
a  obra  de  D.  João  II.  Em  fevereiro  do  anuo  seguinte 
estava  el  Rei  em  Setúbal. 

Nesta  então  villa,  nos  dias  23  e  24  de  março,  ex- 
pediram-se  seis  cartas  réjias  confirmando  á  Rainha 
D.  Leonor  o  seu  assentamento  de  dois  milhões  e  seis  cen- 
tos e  cinco  mil  reaes,  as  jurisdições  das  suas  terras,  as 
doações  de  Alemquer,  Óbidos,  Sintra,  Aldeia  Galega,  e 
Aldeia  Gavinha,  e  os  quatrocentos  cruzados  em  oiro 
pelo  dizimo  das  jóias :á.  Ainda  em  Setúbal,  coníirmou- 
lhe  el  Rei  a  doação  de  Silves  e  Faro,  no  dia  26  de 
maio23,  tendo  lhe  doado  a  11  um  milhão  e  duzentos  e 
sessenta  mil  reaes  de  tença  pelas  rendas  da  sisa  judenga 
e  genesim  de  Lisboa"2'.  Alem  disto,  a  29  de  abril,  fizera 
D.  Manuel  doação  a  sua  irmã  de  umas  casas  naquella 
cidade  junto  a  Santo  Eloi -',  e  a  0  de  maio,  "porque 
sempre  queremos  que  a  dita  Senhora  seja  bem  servida  e 
paga  de  seu  dinheiro,  onde  quer  que  em  nossas  rendas 
o  tiver,.,  dá-lhe  a  casa  do  Aver  do  Peso  de  Lisboa 
para  nella  ter  todas  as  suas  rendas,  sem  de  lá  se  dis- 
trair  quantia   nenhuma   antes   da   Rainha   estar  inteira- 


22  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  10.°,  fl.  58  v.  e  60;  liv.  4:3.", 
fl.  57,  57  v.  e  00  v.;  e  liv.  1."  de  Místicos,  fl.  135  v. 

23  Liv.  1."  de  Místicos,  fl.  5/. 

24  Chancelaria  de  I).  Ma/mel,  liv.  10.",  fl.  59  v. 

'-''  Liv.   1."  de  I^eis,  fl.  96  v.    Acerca  da  situação  destas  casas, 
veja-se  lá  adiante  o  artigo  O  Camareiro. 

8 


114  ESTUDOS 

mente  paga  :i;.  Finalmente,  a  26  desse  mesmo  mes  de 
maio,  foi  reformada  uma  precedente  carta  de  9  de  ja- 
neiro, na  qual  a  D.  Leonor  eram  doados  os  padroados  de 
certas  igrejas,  dando-se-lhe  agora  os  das  de  S.  Martinho 
Madalena  e  S.  Nicolau  de  Lisboa,  Santo  Estevão  e  Santa 
Maria  da  Alcáçova  de  Santarém,  e  outros  das  boas  do 
reino'-7.  Ficaram  seguras,  e  não  só  seguras,  mas  muito 
aumentadas,  as  rendas  da  Rainha  D.  Leonor. 

"Porque  de  nós  suas  cousas  não  são  menos  estima- 
das, que  as  nossas  próprias,  pelo  muito  amor  que  lhe 
temos,  e  desejo  de  lhe  sempre  fazer  mercê.,,  Justiça  lhe 
seja  feita  neste  ponto:  D.  Manuel  não  foi  ingrato  a  sua 
irmã. 

Algumas  daquellas  confirmações  não  foram  somente 
exajeradas;  foram  em  manifesta  oposição  ao  estipulado. 
Refiro-me,  note-se,  ás  confirmações;  as  doações  estava 
el  Rei  no  seu  pleno  direito  de  as  fazer,  nada  havendo 
a  esse  respeito  que  observar,  e  até  o  mesmo  sucederia 
ás  confirmações,  se  D.  Manuel  tivesse  declarado  que 
eram  doações.  Poderia-se  notar  o  exajero  delias;  mas 
como  elle  estava  no  seu  direito  de  as  fazer,  a  critica  não 
deveria  passar  alem. 

Bem  mais  extraordinária  liberalidade  foi  a  restituição 
completa,  feita  por  esses  tempos,  da  casa  ao  Duque  de 
Bragança  D.  Jaime;  mercê,  "que  (não  pôde  deixar  de 
exclamar  Damião  de  Góes)  foi  uma  das  maiores  que 
imperador  nem  rei,  nem  outro  senhor,  nunca  fez  de  ter- 
ras patrimoniaes  possuídas  pacificamente,  porque  nas 
adquiridas  de  novo,  ou  que  se  esperam  de  adquirir, 
teem  obrigações  de  partirem  liberalmente  com  aquelles 
que  lhas  ajudaram  a  ganhar;  mas  em  estado  tão  pa- 
cifico, como  o  em  que  el  rei  D.  Manuel  começou  de 


'-''•  Chancelaria  de  D.  Manuel  liv.  lO.o,  fl.  58. 
-':  Liv.  l.o  de  Reis,  fl.  101. 


RAINHA   D.  I  EONOR  1 15 

reinar,  e  reinava,  taes  c  tamanhas  mercês  não  se  acha 
que  se  fizessem,  nem  a  mim  me  alembra  que  o  visse 
em  nenhum  dos  autores  históricos  que  tenho  lido;... 
a  grandeza  da  qual  mercê  fez  fazer  a  muitos  vários  jui- 
zos„     . 

Estes  dizeres  ainda  em  1506  eram  considerados  tão 
verdadeiros,  que  a  rigorosa  censura,  então  exercida  so- 
bre a  primeira  edição  da  Chronica  de  Ooes,  não  ousou 
corta-los;  ouírotanto  porem  não  sucedeu  ás  palavras 
imediatamente  seguintes.  Estas  pretenderam  apaga-las 
para  sempre,  mas  felizmente  não  o  conseguiram.  Trans- 
creve-las-hei,  não  só  porque  nos  mostram  a  fraqueza  de 
animo  de  D.  Manuel,  dominado  pela  mãe  e  irmã;  mas 
sobre  tudo,  porque  nos  vêem  apresentar  o  caracter  da 
Rainha  D.  Leonor  como  eu  o  concebo,  isto  é,  como  o 
de  mulher  cubiçosa  de  riquezas  para  si  e  os  seus,  e 
absolutamente  desrespeitadora  da  memoria  e  ultima 
vontade  do  marido,  por  quem  evidentemente  nenhum 
afecto  por  tanto  sentia. 

Em  seguida  ao  trecho  "a  grandeza  da  qual  mercê  fez 
fazer  a  muitos  vários  juízos,,,  escreveu  Damião  de  Góes 
primitivamente  estas  palavras,  suprimidas  pela  censura: 
"dizendo  uns,  que  mais  de  poder  absoluto  a  fizera  el  Rei 
que  não  de  conselho,  nem  razão  que  tivesse  para  dar 
tantas  vilas  e  fortalezas,  e  tão  importantes  á  coroa  do 
reino;  outros  escusavam  isto  pondo  a  culpa  á  Infanta 
D.  Beatriz  sua  mãe,  e  á  Rainha  D.  Leonor,  irmã  dei  Rei, 
por  lho  fazerem  fazer,  parte  por  rogos,  parte  por  muita 
importunação;  outros,  que  mais  tiravam  ao  vivo,  diziam 
que  taes  bens  se  não  podiam  dar,  visto  que  el  Rei 
D.  João  mandara  em  seu  testamento,  que  não  somente 
os  não  restituísse  aos  culpados  nas  traições,  mas  ainda 


28  Góes,  Chronica  de  D.  Manuel,  parte  i,  cap.  xm. 


11()  I  si  IDOS 

por  nenhum  modo  os  recolhesse  em  seus  reinos,  nem 
em  sua  graça»  JM. 

E  ainda  o  historiador  foi  benévolo,  não  pondo  bem 
claro  0  enorme  desfalque  trazido  ás  rendas  do  listado 
por  aquella  restituição30.  D.  João  11  para  a  tornar  mais 
dificultosa,  havia  feito  mercê  a  vários,  em  pagamento  de 
serviços,  de  muitos  dos  bens  da  coroa  e  patrimoniaes 
confiscados  ao  Duque  de  Bragança  D.  Fernando.  Teve 
por  tanto  D.  Manuel,  quando  restituiu  a  casa  ao  Duque 
D.  Jaime,  de  dar  a  muitos  rendas  avultadas  em  satisfação 
dos  bens  que  lhes  tirava;  de  sorte  que,  não  só  o  Estado 
deixou  de  receber  as  rendas  de  muitas  terras  importan- 
tes, como  ainda  teve,  em  beneficio  alheio,  de  perder  o 
equivalente  a  muitas  delias.  Por  exemplo:  ao  Marquês 
de  Vila  Real  foram  dados,  em  duas  vidas,  quatrocentos 
e  cincoenta  e  tantos  mil  reaes  de  tença  pela  vila  de  Ou- 
rem ;;l;  ao  Conde  de  Borba,  de  juro  e  herdade,  os  se- 
nhorios das  vilas  do  Redondo  e  Pavia  e  mais  duzentos 
e  noventa  mil  reaes  de  tença,  pela  vila  de  Borba32;  e  de- 
zenas e  dezenas,  se  não  centenas,  de  outras  satisfações 
análogas  se  encontram  nos  livros  da  chancelaria.  E  no- 


29  Sr. Joaquim  ele  Vasconcellos,  Archeologia  artística,  //."  10,  Goe- 
siana,  as  Variantes  das  Chronicas,  paj.  8.  A  verba  do  testamento 
d<  ! ».  |oão  II,  que  se  refere  aos  Braganças,  diz  assim:  "Item,  porque 
eu  tenho  visto  e  sabido  quanto  mal  e  dano  se  segue  nos regnos e se- 
nhorios, com  a  vinda  dalguns  que  cometem  maus  casos  contra  os 
rei-  e  senhores  elas  terras,  encomendo  e  mando  ao  dito  Duque 
meu  primo,  que  aquelles,  que  nos  semelhantes  casos  eram  contra 
mim,  nem  seus  Filhos  que  fora  destes  regnos  estão,  nõ  sejam  recebi- 
dos nelles;  e  assj  encomendo  a  todolos  grandes  e  pessoas  tio  meu 
lho  e  do  dito  Duque  meu  primo,  que  sempre  lhe  lembrem 
muito  que  deve  esto  Fazer».  Sousa,  I>rovas  da  Hist.  geneologica. 
III,  171. 

l0Veja-se  a  este  respeito  o  meu  estudo  intitulado  Livradas  tenças 
dei  Rei,  no  vol.  II  do  Areli.  Hist.  Port.,  paj.  208. 

;l  Carta  ele  l  ele  dezembro  ele  1510,  a  fl.  104  v.  elo  liv.  8."  ela 
Chancelaria  de  D.João  III. 

32  Carta  ele  2  de  junho  de  1500,  na  Chancelaria  de  D.  Manuel, 
liv.  '58.",  fl.  88  v. 


RAINHA    D.   LEONOR  1  17 

te-se,  que  eram  então  avultadas  aquellas  quantias,  hoje 
na  aparência  diminutas,  e  corresponderiam  agora  a  bas- 
tantes contos  de  réis. 

Mas  voltemos  á  Rainha  D.  Leonor,  e  perdoe-me  o  lei- 
tor o  ir  metel-o  em  contas,  que,  por  instruetivas,  são  até 
certo  ponto  toleráveis. 

D.  Leonor  havia  casado  com  o  então  Príncipe  D.João 
por  contrato  de  10  de  setembro  de  1473,  celebrado  já 
depois  de  consumado  o  matrimonio  :;::.  No  instrumento, 
entre  outras  condições,  estipulam-se  as  seguintes:  (3  dote 
da  noiva  ficaria  constituído  pela  fortaleza  de  Lagos,  ava- 
liada em  10.000  cruzados,  e  pelas  jóias  e  correjimentos 
(adornos,  enxoval)  que  sua  mãe  lhe  daria,  os  quaes,  por 
carta  de  27  de  abril  de  1475,  foi  declarado  valerem 
24.8Q8  cruzados34;  montou  por  tanto  o  dote  em  34.898 
cruzados.  O  assentamento  (a  dotação)  foi  arbitrado  em 
1.165.000  reaes35,  entrando  nesta  quantia  150.000  reaes 
"pêra  panos  de  oiro  e  seda  pêra  vestir,,  (os  alfinetes). 
Ao  assentamento,  elevando-o  a  milhão  e  meio,  se 
acrescentaram  335.000  reaes  pelas  rendas  de  Sintra,  Tor- 
res Vedras  e  Óbidos  em  quanto  D.  Leonor  não  possuísse 
estas  villas,  porque,  havendo-as,  logo  se  descontaria 
aquella  verba.  As  arras,  falecendo  o  Príncipe  primeiro, 
foram  estipuladas  em  20.000  escudos  de  oiro. 

Recapitulando  esta  parte  do  contrato,  temos:  dote, 
34. SOS  cruzados;  dotação,  incluindo  os  alfinetes  e  as 
rendas  das  três  vilas,  1.500.000  reaes;  arras,  20.000  es- 
cudos de  oiro. 

Mais  condições  do  contrato:  Por  morte  do  Príncipe 


;!:!  Chancela  ria  de  D.  Afonso  V,  liv.  33.o,  fl.  104. 

31  Gaveta  IS.:»,  niac.  4.°,  n."  (>. 

3'  No  contrato  dcclara-se  ser  o  assentamento,  que  havia  de  ser 
pago  em  rendas  na  cidade  de  Lisboa,  de  um  milhão  160.000  reaes; 
mas  pelas  contas  e  somas  em  seguida  feitas,  vê-se  que  era  na  rea- 
lidade de  l.ltn.000  reaes. 


11S  ESTUDOS 

haverá  a  sobrevivente  Princesa  as  arras,  o  dote,  e  500.000 
reaes  de  assentamento;  ou,  á  sua  escolha,  para  a  qual 
terá  o  praso  de  uni  anuo,  haverá  as  arras,  e  1.350.000 
reaes  de  assentamento  em  sua  vida,  largando  o  dote. 
É  claro:  ou  o  dote  e  500.000  reaes  de  renda;  ou 
1.350.000  reaes  de  assentamento,  perdendo  o  direito  ao 
dote. 

Alterações  posteriores  ao  contrato:  A  dotação  foi 
sucessivamente  elevada  por  I).  João  II  até  á  quantia  de 
2.625.000  reaes'"1;  as  arras  subiram  a  28.000  escudos  :!7; 
só  o  que  persistiu  no  mesmo  valor  de  34.808  cruzados, 
foi  o  dote.  Alem  disto,  recebeu  D.  Leonor  em  vida  de 
seu  marido  a  doação  da  vila  de  Sintra,  feita  ainda  por 
O.  Afonso  V,  em  31  de  janeiro  de  1480 :!S,  e  a  das  vilas 
de  Torres  Novas,  Alvaiázere,  Torres  Vedras,  Óbidos, 
Alemquer,  Sintra,  Aldeia  Galega,  e  Aldeia  Gavinha,  por 
carta  de  22  de  agosto  de  1482  '''■'.  Em  1490,  por  carta  de 
8  de  dezembro,  as  vilas  de  Torres  Novas,  Torres  Vedras, 
e  Alvaiázere  foram  dadas  á  Princesa  D.  Isabel  por  con- 
sentimento da  Rainha  D.  Leonor,  recebendo  esta,  por 
cartas  de   10,   14  e  15  de  abril  de  1491,  em  satisfação 


Por  carta  de  24  de  setembro  de  1486,  sendo  já  de  1.600.000  reaes 
ntamento  da  Rainha,  foi  elle  aumentado  com  100.000  reaes, 
ficando  por  tanto  em  1.760.000 rs.  (Chancelaria  de  I). João  II,  liv.  16.°, 
ti.  85  v.).  Por  outra  carta  de  14  de  julho  de  1490,  "esguardando  ás 
muitas  despesas,  que  sabemos  que  a  Rainha  tem  em  sua  casa.  .  .  e 
pelo  muito  anuir  que  lhe  temos,,,  determina  D.  João  II,  que  ella  te- 
nha, do  l.o  de  janeiro  de  1  190  em  diante,  mais  865.000  reaes,  sendo 

10  rs.  acrescentados  ao  assentamento  de  1.760.000  rs.,  "e  os 
500.000  que  lhe  damos  de  graça,  que  são  assim  por  todos  2.625.000 
reaes»  (Ibidem,  fl.  S5). 

J*  Consta  serem  as  arras  de  28.000  escudos,  tia  carta  de  1 1  de  se- 
tembro de  1  190,  pela  qual  D.  João  II,  "esguardando  ao  muito  amor 
que  entre  nós  ambos  ha»,  concede  á  Rainha  o  poder  dispor  em  tes- 
tamento das  arras,  ainda  mesmo  que  ella  o  preceda  no  tumulo 
(Chancelaria  de  D.João  II,  liv.  lo.-,  ti.  85). 

Corpo  cronolojico,  parte  1.;'-,  mac.  1,  doe.  27. 
'ária  de  D.João  II,  liv.  3.o  ti.  49  v. 


RAINHA   D.   LEONOR  119 

daquellas  três  vilas,  as  rendas  e  os  direitos  do  serviço 
real  e  genesim  dos  Judeus  de  Lisboa,  a  cidade  de  Silves, 
e  a  vila  de  Faro,  com  a  declaração  que,  falecendo  a 
Princesa  primeiro,  seriam  restituídas  as  três  vilas  a 
D.  Leonor,  e  as  rendas,  agora  a  ella  doadas,  regressa- 
riam á  coroa  '".  Alem  de  todos  os  mencionados  logares, 
que  pertenciam  a  D.  Leonor,  consta,  pela  carta  de  18  de 
junho  de  1400,  na  qual  se  lhe  arbitra  certa  tença  em  sa- 
tisfação das  rçndas  das  suprimidas  judiarias  de  suas  ter- 
ras, que  a  Rainha  também  possuiu  Vila  Franca  de  Xira, 
Castanheira,  Azambuja  e  Cascaes'1. 

Todas  estas  doações  foram  confirmadas  e  algumas 
ampliadas  por  D.  .Manuel,  que  em  1504  fez  contas  com 
a  irmã. 

Foi  dada  a  carta  em  Sintra  a  29  de  agosto,  e  por  ella 
se  mandaram  pagar  a  D.  Leonor,  alem  da  lejitima  que 
lhe  ficou  por  morte  do  Príncipe  D.  Afonso  e  que  foi 
avaliada  em  8.045.948  reaes,  as  arras  e  todo  o  dote,  con- 
tinuando a  Rainha  a  receber  por  inteiro  os  2.625.000 
reaes  do  seu  assentamento  ''\  Isto  é:  pelo  contrato  de 
casamento  tinha  D.  Leonor  direito  a  500.000  reaes  de 
dotação  e  mais  a  valia  do  dote,  ou  a  1.350.000  reaes 
de  assentamento  sem  o  dote;  pela  conta  que  o  irmão 
lhe  mandou  fazer,  recebeu  a  Rainha  todo  o  dote  e 
ficou  tendo  o  massimo  assentamento.  Entretanto  direi 
que  a  este  respeito  só  se  deve  notar  o  exajero,  pois 
que  D.  Manuel,  citando  na  carta  as  condições  do  refe- 
rido contrato,  acrescenta  estas  palavras:  "porem,  sem 
embargo  disso,  a  nós  prouve  que  ella  houvesse  o  dito 
assentamento  por  inteiro,  e  mais  o  dito  dote,  por  lhe 
nisso   fazermos   graça.,.    Foi    mercê;   estava  el   Rei  no 


10  Chancelaria  de  D.João  II,  liv.  16.",  fl.  108  v.;  liv.  10.",  fl.  76 
e  76  v. 

11  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  41. o,  fl.  98. 

'-Ibidem,  liv.  19.",  fl.  30  v. 


120  ESTUDOS 

pleno  direito  de  a  fazer.  O  que  logo  mostrarei,  é  que 
foi  com  estes  dinheiros  dados  por  el  Rei  de  mão  bei- 
jada, e  não  lha  beijaria,  que  a  Rainha  dotou  o  hospital 
das  Caldas.  E,  quasi  sempre,  o  Estado  que  paga  as 
caridades  réjias. 

Continuando-se  no  mesmo  documento  com  as  contas, 
delle  transcreverei  o  seguinte  período:  "E  também  era 
apontado  no  dito  contrato  (o  cio  casamento)  que,  tanto 
que  lhe  (á  Rainha)  viessem  as  terras  de  Sintra,  Torres 
Vedras  e  Óbidos,  deixasse  logo  de  seu  assentamento 
335:000  reaes  por  ellas;  e  como  quer  que  haja  muito, 
que  cila  houve  as  ditas  terras,  e  o  dito  desconto  se  não 
fez,  nós  o  mandámos  ora  ver  e  se  achou  por  direito, 
que,  por  quanto  o  dito  Senhor  (D.João  II)  lhe  acrescen- 
tara de  fora  outros  dinheiros  em  seu  assentamento,  alem 
dos  que  tinha,  que  o  dito  desconto  se  não  devia  fazer.., 
Quer  dizer:  se  as  rendas  da  Rainha  tivessem  sido  cer- 
ceadas, era  de  razão  que  mais  se  diminuíssem  ;  como 
haviam  sido  aumentadas,  não  se  lhe  devia  fazer  desconto 
nenhum.  O  direito,  invocado  para  sustentar  esta  lojica, 
é  que  me  parece,  a  mim  leigo  na  matéria,  não  vir  a 
propósito. 

Aproveitando-se  as  cartas  de  10  de  setembro  de  1502, 
29  de  agosto  de  1504,  e  10  de  junho  de  1506  ''■',  pode-se, 
depois  de  algum  trabalho,  restabelecer  a  conta  corrente 
dei  Rei  D.  .Manuel  com  a  Rainha  D.  Leonor. 

Devia  el  Rei : 

IV]..  dote 1  $.610.220 

Pela  lejitima 8.045.948 

Total 21.656.168 


Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.   \.<\  fl.  29,  liv.  19.o,  fl.  30,  e 
liv.  18.o,  fl.  12. 


RAINHA    D.   1  EONOR  121 

I  louve  a  Rainha  : 

Em  Fi02,  em  parte  do  valor  dos  bens  com  que  dotou 

o  hospital  das  ( )aldas 5.4") 

Em  1504,  no  saldo  do  valor  desses  bons 554.980 

Em  dinheiro,  que  mais  recebeu  nesse  anno 1.810.840 

No  mesmo  anuo.  em  jóias 

Em  uma  peça  de  prata 

Em  1505,  em  dinheiro 4.58 

Em  1506,  em  dinheiro 8.48 

Soma 21.6Í 

Diferença 328 

lotai .  .  . 


Aquella  diferença  de  328  reaes  ruão  sei  se  proviria  de 
erro  ou  omissão  dos  contadores,  ao  fazerem  as  conta 
se  de  engano  meu  resultante  de  alguma  oscilação  no 
valor  do  cruzado  de  oiro,  que  nos  citados  documentos 
se  vê  regular  então  por  390  reaes,  ou,  aprossimadamente, 
1 1  $320  réis  do  dinheiro  actual. 

Aqui  porei  ponto  final  nas  contas.  No  capitulo  se- 
guinte tornarei  a  referir-me  ao  hospital  das  Caldas,  e 
transcreverei  uma  carta  da  Rainha  na  qual  se  manifesta 
o  seu  génio  cubiçoso. 


IV 


Acerca  do  hospital  das  Caldas  e  da  sua  fundação 
tem-se  escrito  muito  desacerto.  Não  irei  comtudo,  soce- 
gue  o  leitor,  fazer  a  monografia  daquelle  tão  útil  esta- 
belecimento; apenas,  para  o  meu  fim,  aproveitarei  as 
indicações  dalguns  documentos. 

A  Rainha  D.  Leonor,  "esguardando  como  nosso  Se- 
nhor dava  saúde  a  muitos  enfermos  que  se  iam  curar 
aos  banhos  de  agua  das  Caldas,  que  são  no  termo  da 


1 22  ESTUDOS 

sua  vila  de  Óbidos,  os  quacs,  por  não  serem  correjidos, 
nem  as  easas  de  aposentamento  delles  serem  taes,  como 
pêra  boa  saúde  e  provimento  dos  ditos  enfermos  per- 
tencia, ella  mandara  fazer  de  novo,,.  Assim  se  lê  na 
carta  de  4  de  dezembro  de  1488,  de  privilejios  a  trinta 
moradores  do  logar  das  Caldas  ''''.  Por  tanto,  em  1488  já 
existia  nas  Caldas,  mandada  edificar  por  D.  Leonor, 
uma  casa  para  banhos.  A  ella  seguiu-se  o  hospital  o 
qual,  parece,  estava  concluído  em  20  de  janeiro  de  1498, 
data  da  carta  réjia  de  autorização  ao  hospital  das  Caldas, 
que  a  Rainha  D.  Leonor  "mandou  fazer,,,  para  possuir 
até  trezentos  mil  reaes  de  renda  por  anno  ''"'. 

A  par  do  hospital  mandava  D.  Leonor  levantar  a  ca- 
pella,  para  a  erecção  da  qual  alcançou  de  Alexandre  VI 
a  bula  de  4  dos  idos  de  setembro  (10  de  setembro) 
de  1495  '''.  É  este  edifício  a  pequena,  mas  muito  notá- 
vel e  interessante  igreja  de  Nossa  Senhora  do  Populo, 
a  qual,  segundo  uma  inscrição,  em  caracteres  góticos  do 
tempo,  ainda  hoje  lejivel  nas  ombreiras  e  verga  da  porta 
que  da  eapella  mór  dá  ingresso  á  sacristia,  foi  acabada 
no  anno  de  1500.  Diz  o  letreiro: 

Esta  capela  mãdou  fazer  a  muito  alta  he  muito  esera- 
recida  lie  emlustrisima  Ratinha  dona  lianor  molher  do 
muito  alto  lie  potemtisimo  Rei  dom  Joham  lio  segundo 
lie  se  aquabou  na  era  de  mill  b  ''. 

A  povoação  ia  crescendo,  e  a  requerimento  da  Rainha 
foi  o  logar  feito  vila.  Com  esta  classificação  já  aparece 


11  Chancelaria  de  D.João  //,  liv.  14.",  fl.  55  v. 
(  hancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  28.°,  fl.  55. 

'Ias  Pontifícia:  Regia  Decreta:  et  alia  documenta  super fun- 
.,  dotatione  et  ordinatione  Regalis  Capelloe,  ele,  parte  2.*,  sem 
numeração  de  folhas.  Ms.  na  Torre  de  rombo. 


RAINHA   D.  LEONOR  123 

em  documento  de  10  de  setembro  de  1502  ''";  só  lhe 
foi  dado  termo  porem,  por  carta  de  21  de  março 
de  1511  's. 

Recapitulando,  temos  que  já  existia  casa  para  banhos 
em  14SS,  hospital  em  1498,  igreja  em  1500,  e  vila 
em  1502. 

A  casa  dos  banhos  data  por  tanto  do  tempo  de 
D.  João  II;  a  conclusão  do  hospital  e  da  igreja  é  com- 
tudo  do  reinado  de  D.  Manuel.  Como  é  que  se  pôde 
pois  explicar  a  existência,  no  fecho  principal  da  abo- 
bada da  capella  mór,  do  escudo  das  armas  de  D.  Manuel 
em  quanto  duque  de  Beja?  Não  sei,  apesar  de  sem  du- 
vida serem,  as  armas  que  lá  estão,  as  delle  desse  tempo. 

As  armas  da  Rainha  D.  Leonor  consistiam  num  escudo 
partido  das  do  marido,  e  das  próprias  delia.  Como  os 
dois  eram  primos,  tinham  ambos  por  armas  as  do  reino, 
as  quaes  comtudo  no  escudo  de  D.  Leonor  se  não  en- 
contram perfeitamente  repetidas,  por  isso  que  ao  centro 
teem  só  uma  linha  de  castellos,  fazendo  bordadura  para 
os  dois  lados.  Não  é  fácil  descrever  em  termos  de  bra- 
são o  escudo  da  Rainha  D.  Leonor,  e,  se  o  tentasse, 
talvez  me  não  entendessem. 

Numa  sua  carta  de  12  de  março  de  1510  vê-se  o  si- 
nete das  armas  de  D.  Leonor  •'■'.  A  impressão  mostra-nos 
os  cinco  escudetes  das  quinas  do  reino  repetidos  em 
dois  campos  a  par,  cinco  em  cruz  de  cada  lado,  e  os 
campos  separados  por  uma  pala,  na  qual  se  vêem  três 
castellos  iguaes  aos  outros  catorze,  que  sobrecarregam 
a  bordadura  do  escudo  todo.  Noutro  selo  da  Rainha, 
reproduzido  na  Historia  geneologica  m,  o  escudo  tem 
apenas  dez  castellos  na  bordadura,  existindo  entre  elles 


«  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  4.",  fl.  29. 
is  Ibidem,  liv.  8.",  fl.  25. 

í!l  Corpo  cronolojico,  part.  l.a,  inac.  S.°  doe.  90. 
50  Vol.  IV,  estampa  Al,  n.°  LXVIII. 


[24  !  SI  IDOS 

as  quatro  pontas  de  uma  cru/  florida.  É  curioso  aparecer 
este  selo  em  documento  de  1487,  tendo  D.  João  II  desde 
1485  mandado  tirar  das  armas  do  reino  as  quatro  pon- 
tas da  cruz  de  Avis.  Foi-se,  com  louvável  economia, 
aproveitando  o  existente  sinete. 

É  muito  diverso  o  escudo  do  meio  da  abobada  da 
capella  mór  da  igreja  das  Caldas.  Nelle  esculpiram  as 
armas  do  reino  tendo  nove  castellos  na  bordadura,  e 
por  diferença  duas  bricas  no  campo  das  quinas.  Isto 
vê-se  claramente  cá  de  baixo.  Afigura-se  mais  existir  um 
banco  de  pinchar  ligando  as  duas  bricas,  que  se  conhece 
serem  partidas,  distinguindo-se  a  custo  umas  palas,  e 
um  tranchado  também  com  palas  e  mais  duas  coisas 
aos  lados,  que  podem  ser  águias. 

O  conjunto  apresenta-nos  por  tanto  as  armas  de 
D.  Manuel,  Duque  de  Beja,  tal  qual  se  encontram  no 
Mes ire  dos  sentença,  manuscrito  de  1494,  e  nos  primei- 
ros cinco  volumes  da  Bíblia  dos  Jerónimos,  que  são 
de  1495.  Nestes,  advertirei,  apagaram  posteriormente  a 
diferença,  deixando  ficar  as  armas  do  reino  inteiras; 
mas,  olhando-se  atentamente,  ainda  aquella  se  percebe, 
e  claramente  se  vê  na  portada  do  primeiro  volume, 
dentro  de  uma  concha  pintada  a  claro-escuro  ''. 

Como  é  pois,  repito,  que  se  pode  explicar  a  existência 
das  armas  do  Duque  de  Beja  na  igreja  das  Caldas 
começada  a  edificar  por  sua  irmã  em  vida  de  D.João  II, 
e  pela  mesma  concluida  no  quinto  anuo  do  reinado  de 
1 ).  Manuel?  É  caso  em  que  nem  conjecturas  sei  fazer. 

Concluídas  as  obras,  tratou  D.  Leonor  de  dotar  o 
hospital,  a  fim  delle  se  poder  manter  de  futuro.  Enten- 
deu-se  com  D.  Manuel,  e  por  carta  de  10  de  setembro 
de  1502  comprou-lhe  as  jugadas,  rendas  de  pão  e  vinho, 
foros  e  outros  direitos  das  suas  vilas  de  Óbidos  e  Aldeia 

1  <  f.  nos  Brasões  de  Cintra,  III,  281. 


RAINHA    D.   LEONOR  125 

Galega  da  Mercearia,  e  seus  termos  '\  Foi  o  preço  ajus- 
tado, entrando  na  compra  os  celeiros  e  adegas  em  que 
se  recolhiam  aquelles  direitos,  a  quantia  de  5.833.14o 
reaes,  paga  pela  Rainha  sem  desembolsar  um  ceitil,  pela 
forma  que  explicarei. 

Quando  se  deu  aquella  carta,  já  D.  Manuel  tinha 
confirmado  á  irmã  todo  o  seu  assentamento,  e  apesar 
de  por  este  facto  ella  ter  logo  perdido  o  direito  a  seu 
dote,  e  de  ainda  el  Rei  lhe  não  ter  delle  feito  mercê, 
declarou-se  no  instrumento  de  venda:  "por  quanto  nós 
lhe  éramos  obrigado  por  as  rendas,  direitos,  bens  e 
terras  da  coroa  de  nossos  reinos,  mandar  pagar  seu 
dote,  que  lhe  era  devido...  Continua  dizendo,  que,  "visto 
seu  requerimento,  posto  que  achássemos  que,  por  ser 
paia  obra  tão  piedosa,  nós  podíamos  por  direito  fazer  a 
dita  venda,  porem  por  serem  rendas  da  coroa  de  nossos 
reinos,  as  quaes  somos  teúdo  conservar  e  acrescentar 
(chama-se  a  isto  mangar  com  a  tropa),  quiséssemos  sa- 
ber quantas  as  ditas  jugadas  e  rendas  eram,  e  o  que 
verdadeiramente  podiam  valer...  E  ajuntando...  as 
somas  maiores  (das  avaliações)  fazem  ao  todo  em  soma 
5.833.140  reaes.  .  .  pelos  quaes.  .  .  nós  vendemos  á  dita 
Senhora  Rainha  as  rendas  e  direitos  em  cima  declara- 
dos ...  O  qual  preço  nós  confessamos  ter  recebido 
por  outro  tanto,  que  ora  mandámos  descontar  á  Rainha 
do  que  por  nós  e  pela  coroa  lhe  é  devido,  a  saber: 
3.900.000  reaes  por  dez  mil  cruzados  em  que  foi  contado 
o  castello  e  direitos  de  Lagos,  que  foi  dado  a  el  Rei 
D.  João  em  parte  de  pago  do  dote  do  casamento,  que 
com  a  dita  Senhora  houve,  com  tal  condição  que, 
falecendo  elle  primeiro,  lhe  fosse  pago  e  restituído  o 
dote. .  .,- 


•v-  Chancelaria  de  D.  Manar/,  liv.  4.    ti.  29. 


126  ESTUDOS 

Encobrem-se  as  claras  e  positivas  condições  do  con- 
trato de  casamento,  para  dar,  a  estes  verdadeiros  presentes 
de  dinheiro,  nina  certa  aparência  de  pagamento  de  di- 
vidas. 

Na  carta  diz-se  mais:  que  os  restantes  1.033.140  reaes, 
que  faltam  para  complemento  do  preço  das  rendas  de 
Óbidos  e  Merceana,  se  encontraram  no  que  das  arras 
ainda  se  devia  á  Rainha ;  mas  não  é  verdade,  porque 
numa  apostila,  rejistada  em  seguida  á  carta,  declara-se 
ter  a  D.  Leonor  sido  descontada  naquella  divida  a  quantia 
de  1.578.100  reaes,  por  conta  da  valia  das  jóias  do  seu 
dote.  L,  quanto  ao  saldo  de  354.980  reaes  ainda  em 
divida,  pela  carta  de  29  de  agosto  de  1504  sabemos  que 
também  foi  levado  em  conta  na  restituição  do  dote  ;,:!. 

I).  Leonor  tinha  perdido  o  direito  a  seu  dote.  Foi-lhe 
elle  comtudo  integralmente  pago  na  importância  total 
de  13.610.220  reaes,  quantia  a  que  se  tiraram  5.833.140 
reaes  para  a  dotação  do  hospital  das  Caldas,  a  qual  foi 
por  tanto  paga  pelo  Estado,  sobrando  ainda  á  Rainha 
7.777.080  reaes  que  embolsou. 

Caridades  destas,  todos  as  farão,  Dêem-me  trezentos 
e  oitenta  contos,  que  largarei  com  todo  o  prazer  cento 
e  setenta  á  Assistência  dos  Tuberculosos,  e  irei  para  a 
China  com  o  resto. 

Não  quero  porem  exajerar.  Acabe-se  com  a  lenda  das 
jóias  empenhadas  para  dotar  o  hospital  das  Caldas,  mas 
reconheça-se  qne  a  beneficência  não  consiste  somente 
em  dar  dinheiro  do  nosso  bolso.  A  concepção  e  reali- 
zação de  uma  obra  de  tanto  préstimo  e  caridade,  como 
foi  a  daquelle  hospital,  são  conceitos  e  actos  beneméritos, 
dignos  de  grande  louvor  que  não  regatearei  á  viuva  de 
í).  João  II. 


,;  Chancelaria  de  D.  Mauui,  liv.  10.°,  fl.  30  v. 


RAINHA   D.   I  EONOR  127 


V 


Herculano   disse  algures,  ao  começar  a  transcrever 
uma    velha    noticia,   que   o  faria    "sem   nos  cingirm 
todavia  á  extravagante  ortografia  daquella  época,  não 

tendo  ainda  acertado  a  saber  para  que  sirva  conserva-la 
na  publicação  de  antigos  inéditos,  se  não  é  para  dificul- 
tar a  leitura  destes»». 

Plenamente  de  acordo  tenho  seguido  quasi  sempre 
esta  pratica  '',  e  não  me  desviarei  agora  delia  ao  tran- 
screver a  carta  que  constitue  o  doe.  73  do  mac.  14." 
da  l.a  parte  do  Corpo  cronolojico,  e  que  é  assinada  de 
chancela  pela  Rainha  D.  Leonor. 

"Senhor.  —  Depois  de  sabermos  o  falecimento  de 
D.  João  de  Sousa,  pelo  Secretario  fizemos  saber  a  V.  A. 
que  os  dinheiros  que  houve  pelos  direitos  da  judiaria, 
mouraria  e  foros  dos  próprios  da  nossa  villa  de  Farão, 
por  sua  vaga  vinham  a  nós  d'aqui  em  diante.  Ao  que 
nos  respondeu,  que  V.  A.  havia  por  bem  que  lhe  man- 
dássemos nossa  doação  pêra  a  ver,  e  quem  requeresse 
nosso  direito,  crendo  que  nada  delle  se  nos  tiraria,  com 
outras  virtuosas  palavras,  que  de  V.  A.  esperamos  com 
obras.  E  porque,  Senhor,  temos  esta  cousa  por  tão  certa, 
como  a  rezão  e  direito  obriga,  peço  a  Y.  A.  que  per  si 
queira  este  caso  ver,  e  resguardar  a  tenção  dei  Rei  meu 
Senhor,  a  que  Santa  Groria  haja,  e  a  perda  que  recebe- 
mos nas  rendas  das  vilas  que  lhe  demos  polas  que 
temos,  o  que  foi  mais  por  lhe  aprazer  e  servir,  que  por 
proveito   que  disso  tirássemos,   com  toda  a  esperança, 


1  Aqui,  nestes  estudos;  é  claro  que,  quando  no  Arch.  hist.  tran- 
screvo um  doe,  me  cinjo  rigorosamente  á  sua  grafia. 


128  ESTUDOS 

que  per  palavra  e  doação  nos  ficou,  de  havermos  todo 
o  que  vagasse;  nos  outorgue  estes  dinheiros  sem  de- 
manda, que  não  Scão  tantos,  nem  por  tantos  annos, 
segundo  nossa  desposição,  que  danefiquem  vossa  fa- 
zenda. E  por  nos  tirar  da  paixão  que  nos  daria  sobre 
cousa  tão  leve  se  mover,  em  que  se  falasse,  lho  torna- 
mos a  pedir  muito  por  mercê,  que  depois  de  todo  ver, 
nollo  outorgue  desta  maneira,  no  que  comprirá  com  sua 
conciencia,  e  fará  seu  serviço,  e  a  nós  grande  mercê;  e 
assi  em  crer  Fernão  Nunez,  nosso  contador,  o  que  de 
nossa  parte  lhe  disser  sobre  este  caso,  e  algumas  outras 
cousas.  A  nosso  Senhor  peço  que  a  vida  e  real  estado 
de  V.  A.  por  muitos  annos  acrecente  a  seu  serviço.  De 
Lixboa,  a  21  de  Janeiro  de  1514.  Rainha. 

Coitada!  era  uma  pobresinha  a  Rainha  D.  Leonor  e 
faziam-lhe  muita  falta  aquelles  dinheiros!  O  leitor  vai  ver. 

Lograva  ella  neste  tempo  as  rendas  e  direitos  reaes 
da  cidade  de  Silves,  e  das  villas  de  Faro,  Óbidos, 
Alemquer,  Sintra,  Aldeia  Galega  e  Aldeia  Gavinha,  des- 
frutando também,  se  não  todos,  alguns  dos  direitos  reaes 
de  Vila  Franca  de  Xira,  Castanheira,  Azambuja  e  Cas- 
caes;  e,  afora  isto  tudo,  recebia  annualmente,  em 
dinheiro,  de  varias  proveniências,  quatro  contos  cento 
e  vinte  e  tantos  mil  reaes. 

Não  é  talvez  possível  calcular  a  quanto  subiria  o  ren- 
dimento de  todas  aquellas  povoações;  mas,  só  o  valor 
intrínseco  daquelles  dinheiros  equivalia  hoje  a  cento  e 
quinze  contos  de  réis.  '-  Quem  avaliar  a  totalidade  da 
dotação  animal  da  Rainha  D.  Leonor  em  duzentos  con- 
to-, da  nossa  moeda,  estará  unicamente  arriscado  a  errar 
para  menos. 


5:' Cinji-me  ás  tabelas  apresentadas  pelo  sr.  Costa   Lobo  na  sua 
nte  chia.   Historia  da  sociedade  em  Portugal  no  século  XV, 
p.  417  e  418. 


RAINHA   D.  LEONOR  129 

Nestas  condições,  tão  rica,  não  é  para  causar  pasmo, 
e  tédio  até.  ver  uma  mulher  de  cincoenta  e  seis  annos, 
doente,  viuva,  órfã  de  seu  único  filho,  retirada  do  mundo, 
fazendo  quasi  vida  de  freira,  uma  sorte  de  samiimonia- 
lis  da  idade  média,  ameaçar  o  irmão,  a  quem  tanto 
devia,  com  demandas?  e  declarar-lhe  que  entrará  em 
paixão  por  causa  de  umas  relativamente  insignificantes 
rendas? 

Os  taes  dinheiros,  que  haviam  vagado  por  morte  de 
D.  João  de  Sousa,  consistiam  numa  tença  de  cento  e 
trinta  e  tanto  mil  reaes,  que  lhe  havia  sido  dada  por 
carta  de  26  de  setembro  de  1497  em  satisfação  das  ren- 
das das  suprimidas  judiaria  e  moiraria  de  Faro.  56 
Fazendo-se  a  esta  tença  uma  conta  análoga  á  acima  feita, 
vê-se  que  o  seu  valor  intrínseco  era  de  três  contos 
seiscentos  e  tantos  mil  réis.  Bem  sei  que  isto  é  dinheiro; 
mas  para  quem  recebia  annualmente  duzentos  contos, 
não  tinha  família,  e  levava  vida  tão  recatada,  não  se 
deve  atribuir  a  avidez  o  fazer  tantos  escarcéos  sobre 
coisa  relativamente  tão  pequena? 

Encontra-se,  transcrita  a  paj.  138  do  2.°  vol.  dos 
Trabalhos  náuticos  dos  portuguezes  do  dr.  Sousa  Vi- 
terbo, uma  carta  de  7  de  março  de  1500  pela  qual 
D.  Manuel  fez  mercê  a  sua  irmã  dos  bens  confiscados  a 
um  Pêro  de  Barcellos,  cavaleiro  da  casa  dei  Rei,  que 
se  não  deve  confundir  com  o  homónimo  companheiro 
nas  navegações  de  João  Fernandez,  lavrador.  O  Pêro 
de  Barcellos,  cavaleiro,  havia  sido  recebedor  das  vinte- 
nas de  Guiné  •'",  e  tinha-se  empenhado  em  quatrocentos 
e  trinta  mil  reaes.  Por  este  motivo  haviam-lhe  sido 
sequestrados   os   bens;    e   a   requerimento   da    Rainha 


t;  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  28.°,  fl.  135. 
57  Exercia  este  oficio  em  1492,  Cartas  de  quitação  de  D.  Ala  mui, 
n.<>  404,  no  Are/i.  hist.  port.,  III,  477. 


]  I  ESTUDOS 

I).  Leonor  fez-llic  I).  Manuel  doação  pela  referida  carta, 
de  tanta  parte  da  fazenda  do  alcançado  recebedor, 
quanto  era  o  valor  do  débito,  "isto  pêra  que  S.  A.  faça 
delia  e  em  ella  o  que  lhe  aprouver,  como  sua  cousa 
própria... 

Aquelle  requerimento  da  Rainha  I).  Leonor  seria 
efeito  da  sua  cobiça?  ou,  pelo  contrario,  será  uma  prova 
da  sua  caridade?  Não  o  posso  decidir,  por  ignorar 
o  destino  dado  pela  Rainha  áquelles  bens,  talvez  resti- 
tuídos á  família  do  culpado,  a  qual,  provavelmente, 
ficara  na  miséria.  Se  assim  sucedeu,  bemdita  seja  a  me- 
moria da  Rainha  D.  Leonor,  e  esta  caridade  feita  sem 
alardo  sirva  para  lhe  atenuar  algumas  faltas. 

Continuo  fazendo  a  dilijencia  por  ser  justo,  e  estou 
chegando  ao  fim  das  minhas  considerações. 

Completados  os  sessenta  e  sete  annos,  morreu  a 
Rainha  D.  Leonor,  em  Lisboa,  a  17  de  novembro  de 
1525. 

O  seu  testamento  infelizmente  íicão  aparece,  e  delle 
só  conheço  as  verbas  relativas  ao  convento  da  Madre 
de  Deus  ,s,  e  ás  casas  de  roda  do  seu  paço  59. 

Quanto  a  bens  moveis,  alguma  coisa  nos  revelam 
as  cartas  de  quitação  adiante  trasladadas,  de  duas  das 
quaes  devo  o  conhecimento  ao  indefesso  investigador 
dr.  Sousa  Viterbo,  que  me  tem  honrado  com  a  sua  ami- 
zade e  benevolência. 

Declara  o  Cronista  franciscano,  na  paj.  SQ,  que,  dese- 
jando estampar  o  testamento  todo,  "por  mais  diligencias, 
que  se  fizeram  não  foi  possível  descobri-lo».  Não  sei  até 
que  ponto  Lr.  Jerónimo  de  Belém  falaria  verdade  nesta 
asserção.  Poucas  pajinas  antes,  na  48,  deixara  elle  escrito, 
a  propósito  da  eleição  que  da  Madre  de  Deus  para  sua 

'Fr.  Jerónimo  de  Belém,  Çhronica  seráfica,  part.   Ill,  paj    85. 
Vide  lá  adiante  no  artigo  o  Camareiro. 


RAINHA  D.  I  I  ONOR  131 

sepultura  fizera  a  Rainha  D.  Leonor,  "que,  supposto  qui- 
zessem  trasladar  seu  corpo  para  o  Convento  da  Batalha, 
onde  jaz  sepultado  o  memorável  D.João  II.,  seu  marido, 
taes  foram  as  condições,  que  para  este  fim  deixou  em 
seu  Testamento,  que  moralmente  seria  impossível  o 
conseguir-se  em  algum  tempo... 

Ma  única  parte  do  testamento  encontrada  por  Fr.  Je- 
rónimo de  Belém,  secundo  elle  declara,  nenhuma  refe- 
rencia existia  ao  logar  pela  testadora  escolhido  para  sua 
sepultura.  Por  tanto,  ou  o  frade  inventou  as  taes  con- 
dições, ou  faltou  á  verdade  quando  declarou  que 
daquelle  documento  só  vira  a  parte  transcrita. 

Procurei  bem  o  testamento  da  Rainha  D.  Leonor; 
mas,  infelizmente,  repito,  não  o  encontrei.  Desejava  ver 
os  termos  em  que  ella  se  referia  ao  marido;  estimava 
conhecer  as  taes  condições  que  tornaram  impossível, 
mesmo  depois  de  mortos,  a  aprossimação  dos  que  em 
vida  foram  consortes  desavindos. 

No  compromisso  dado  pela  Rainha,  em  8  de  março 
de  1512,  ao  hospital  das  Caldas,  em  cujo  arquivo  ainda 
hoje  se  guarda,  determinou  ella  que  se  cumpram  as 
obras  de  misericórdia  espirituaes  e  corporaes,  no  mesmo 
documento  especificadas,  "pela  alma  dei  Rei  D.  João 
meu  senhor,  e  minha,  e  do  Príncipe  D.  Afonso,  nosso 
filho.,. 

Estas  palavras,  breves  e  frias,  tabelioas  por  assim  dizer, 
pouco  nos  esclarecem  acerca  dos  sentimentos  professa- 
dos pela  Rainha  com  respeito  á  memoria  do  marido. 
Até,  se  eu  quisesse  carregar  talvez  o  quadro,  podia, 
combinando  a  secura  daquella  frase  com  os  ditos  vagos 
do  cronista  seráfico,  concluir  que  subsistiu  até  final  a 
aversão  de  D.  Leonor  por  D.  João  II. 

Ódio  ao  marido,  é  possível  que  persistisse  sempre; 
amor  ás  letras  e  sobretudo  ás  bellas  artes,  é  certo  haver 
inflamado   o   coração   de  D.  Leonor,   que  bastantes  e 


132  ESTUDOS 

valiosas  provas  do  seu  génio  artistico  e  bom  gosto  nos 

deixou. 

Viu  ella  os  calamitosos  últimos  annos  de  D.  Afonso  V, 
a  resurreição  e  massimo  vigor  da  pátria  no  reinado  do 
Príncipe  Perfeito,  as  magnificências  encobridoras  já  da 
decadência  no  tempo  de  D.  Manuel,  e  ainda  o  começo 
dos  apuros  de  D.  João  III.  Passou  nos  primeiros  tempos 
lembrada,  depois  afastada,  e  por  ultimo  já  esquecida,  e 
assim  ficaria,  se  os  historiadores  monásticos  e  oficiaes  a 
não  tivessem  recordado.  Os  primeiros,  por  gratidão ;  os 
segundos,  por  lisonja;  uns,  pagando  á  sua  memoria  o 
que  lhe  deviam  em  fundações  pias,  os  outros,  exaltan- 
do-a  para  desfazerem  na  gloria  de  D.  João  II  por  adula- 
ção á  casa  reinante. 

O  ponto  a  que  estes  chegaram  é  espantoso!  Houve 
quem  forjasse  uma  falsa  confissão,  na  qual  D.  João  II 
se  acusava  de  assassínios  e  doutros  crimes!  Houve,  no 
meio  do  xvm  século,  quem  se  atrevesse  a  estampar  este 
papel  como  documento !  Pois  olhem  que  a  declinação 
de  Portugal  começou  no  reinado  de  D.  Manuel,  o  pri- 
meiro príncipe  com  sangue  de  Bragança  que  se  sentou 
no  trono. 

Viu  D.  Leonor  tudo  aquillo.  e  a  mim  afigura-se-me 
ver  a  Rainha,  atravessando  tantos  e  tão  desvairados 
sucessos,  altiva,  adoentada,  triste,  inacessível,  absorta  em 
seus  cuidosos  pensamentos.  Saudades?  Remorsos?  Ella 
o  sabia. 

Aldeia,  setembro-oitubro  dé  1901. 


APÊNDICE 


Bens  moveis  e  dinheiros  da  Rainha  D.  Leonor 


Não  me  é  possível  inventaria-los ;  entre  tanto,  para  se 
ter  delles  uma  aprossimada  noção,  transcreverei  a  seguir 
varias  cartas  de  quitação  concedidas  a  diversas  pessoas 
por  elles  responsáveis.  Apesar  da  certeza  de  não  haver 
encontrado  todos  os  documentos  análogos  relativos  á 
herança  da  Rainha,  até  porque  alguns  deixariam  de  ser 
rejistados  na  Chancelaria,  estou  bem  persuadido  que, 
mesmo  incompleta,  a  colecção  será  julgada  de  subido 
interesse. 


Dom  Joliam  etc.  A  quamtos  esta  minha  carta  de  quytaçam  virem 
faço  saber  que  eu  mandey  tomar  conta  a  Lourenço  de  Freytas,  the- 
soúreiro  que  foy  da  Senhora  Rainha  minha  tia  que  santa  grorya  aja, 
de  cymquo  annos  que  teve  o  dito  careguo,  a  saber:  de  521,  22,23. 
24  e  o  de  525,  da  qual  se  fez  recadaçã  per  a  qual  se  mostra  que 
a  dita  Senhora  lhe  mandou  que  arrecadase  das  pesoas  abaixo  de- 
claradas 38.954:982  reaes,  a  saber:  5.170:000  de  Fernãodalvarez, 
thesoureiro  moor.  Item  661:665  reaes  do  almoxarife  dallfamdega  de 
Lixboa,  a  rezam  de  132.333  reaes  que  a  dita  Senhora  tinha  per 
carta  jerall  em  cada  hum  anno  na  dita  casa.  Item  15.589:308  reaes 
de  Joam  Guago,  thesoureiro  da  Casa  da  Mina.  Item  4.724:000  reaes 
de  Pêro  Lopez,  thesoureiro  da  Casa  da  índia.  Item  80:000  rs.  de 
João  de  Saa,  thesoureiro  da  especearya  da  Casa  da  índia,  dos  20:000 
reaes  que  a  dita  Senhora  na  dita  Casa  tynha  em  cada  hum  anno 
em  droguas,  porque  os  20:000  rs.  que  falecem  recebeo  nelas  e  vam 
lhe  em  recepta.  Item  263:333  rs.  dEstevam  Beyço,  almoxarife    da 


134  ESTUDOS 

dita  Senhora  em  Sylves.  Item  3.467:174  rs.  dEstevam  Lourenço, 
almoxarife  da  dita  Senhora  em  luram,  [tem  1.960:000  rs.  de  Pedro 
Alvaav,  almoxarife  da  dita  Senhora  na  dita  villa  de  taram.  Item 

220:000  rs.  de  Vasco  Gonçalvez,  almoxarife  da  dita  Senhora  em 
Alamquer.  Item  20:000  rs.  que  delle  mays  recebeo  per  venda  du- 
mas casas  de  Femamdalvarez  que  foy  almoxarife  na  dita  villa.  E 
1.480:000  rs.  dAlvaro  Paez  que  foy  almoxarife  da  dita  Senhora  na 
dita  villa.  Item  1.421:000  rs.  de  Joam  Guago,  almoxarife  da  dita 
Senhora  em  Symtra.  Item  40:01)0  rs.  dAlvaro  1  eruaiule/  que  foy 
esmoler  da  dita  Senhora.  Item  4t3:(i7  I  rs.  que  recebeo  per  vendas 
de  cousas  que  lhe  vão  em  despesa  na  dita  recadaçã.  Item  195:000  rs. 
que  recebeo  de  Jorge  Mendez  de  Sarrea  que  foy  almoxarife  da  dita 
Senhora  em  Faram  os  annos  atras  desta  comta.  Item  479:09S  rs.  que 
lhe  foram  dados  que  arrecadase  de  Garcia  Ribeiro  que  foy  thesou- 
reiro  e  recebedor  da  dita  Senhora  na  dita  cydade  de  Sylves.  Item 
2.563:870  rs.  que  recebeo  do  rendimento  dos  atuns  das  armações  da 
dita  Senhora,  a  saber:  1.251:574  rs.  per  Cosmo  Bernaldez  que  os  de 
la  trouxe  o  anno  de  quinhentos  vinte  e  dons ;  682:686  reaes  per 
Pêro  dAbreu  do  anno  de  vinte  e  três;  630:000  reaes  per  Francisco 
Cardoso  o  anno  de  quinhentos  e  vinte  e  quatro.  Item  115:000  rs.  de 
Diogo  de  Bairos,  almoxarife  da  dita  Senhora  em  Sylves.  Item  50:000rs: 
que  recebeo  de  dona  Margarida  Amrriquez  que  os  tinha  cm  guarda 
da  dita  Senhora.  E  hum  anel  douro  que  tem  hum  diamaam  e  huma 
çafyra  e  hum  roby;  e  hum  relicayro  douro  que  pesa  quatro  cruza- 
dos j  e  364  marcos,  3  onças,  2  oytavas  mea  de  prata  lavrada  em 
muitas  peças,  que  recebeo  de  mintas  pesoas  e  per  compra  e  feytio, 
como  se  conthem  na  dita  recadaçã  ;  e  4  almofreyxes;  e  417  arrobas, 
17  arrates  daçuquar;  e  26  arquas;  e  2  almaticas  de  veludo  e  cetym 
preto ;  e  20  almofadas  de  sortes ;  e  1263  covodos  dalbys ;  e  03  covo- 
dos  de  pano  dantona;  e  194  abytos  de  sortes;  e  3  azemalas;  e  6 
alquelhas  dolanda;  e  70  covodos  de  pano  daull  ;  e  6  arrobas  de 
beyjoym  ;  e  69  covodos  meo  de  borcados  de  sortes ,  e  13  arrobas  de 
cobre  lavrado  ;  e  5  quyntaes  de  canella  ;  e  10  arrobas  de  cravo ;  e  4 
arrobas,  13  arrates  de  cana  fistolla  ;  e  75  covodos  hum  quarto  de 
cetys;  e  66  covodos  de  chamalote ;  e  5  capas,  a  saber,  2  de  borcado 
roxo  e  2  de  damasquo,  todas  com  seus  capelos  e  savastros  ele  sortes, 
e  hum  de  três;  e  5  colchas  dolanda;  e  20  cobertores  de  sortes;  e 
huma  cortyna  dalltar  de  damasquo.  Item  140  covodos  de  damasquo 
de  solteys;  e  13  arrobas  demeemso  ;  e  2  arrobas,  IS  arrates  desto- 
raque;  e  34  covodos  destamenha  de  Frolemça;  e  4  frontaes  pêra  altar, 
a  saber:  hum  de  pano  douro,  e  outro  de  borcado  razo  roxo,  e  outro 
de  cetym  e  damasquo,  e  outro  de  damasquo;  e  428  covodos  e  meo 
de  Fustam  ;  e  309  fraldilhas  de  surtes;  e  10  arrobas  de  gemgyvere;  e 
71  varas  de  gardalate.  Item  101  covodos  meo  dipre;  e  3566  varas  de 
lemço  da  terra;  e  669  varas  de  lemços  de  Bretanha.  Item  531  varas 
de  canhamaso.  Item  1763  varas  de  lemço  de  Ruam.  Item  205  covodos 
e  terça  de  Londres.  Item  314  lobas  de  cortes.  Item  15  arrobas,  26 
arrates  de  maças.  Item  15  arrobas,  24  arrates  meo  de  malagueta. 
Item  13  arrobas  e  mea  de  nos  mosquada.  Item  1537  varas  mea 
dolamda.  Item  7  quyntaes,  3  arrobas,  29  arrates  e  quarta  de  pimenta. 
Item  1360  COVOdOS  de  panos  de  Covilhã.  Item  12.545  covodos  de 
panos  de  Castella  baixos;  e  208  covodos  de  Ruam  ele  Parys.  Item 


RAINHA  I».  !  I  ONOR  135 

274  covodos  meo  e  huma  peça  inteyrâ  de  solva.  E  130  covodos  de 
veludo.  Item  848  varas  de  panos  deles.  Do  qual  dinheiro,  ouro,  e 
prata,  e  mercadaryas,  e  cousas  acyma  espritâs,  e  outras  muyt 
claradas  na  dita  arrecadaçam  de  sua  conta,  que  aquy  nam  vam  nesta 
quytaçam  por  brevidade,  que  todo  asy  recebeò  nos  ditos  cymquo 
annos,  nos  deu  muyto  booa  conta  com  emtrega  sem  ficar  devendo 
cousa  alguma.  E  por  tanto  o  dou  por  quite  e  lyvre  deste  dia  pêra 
todo  sempre,  a  elle  e  a  todos  seus  erdeiros,  que  nunca  pelas  ditas 
cousas  e  dinheiros,  prata,  ouro  seyam  requerydos,  nem  demandados, 
em  Contos,  nem  fora  delles,  por  quanto  o  dou  por  quyte  e  lyvre, 
como  dito  lie.  Notefico  asy  as  pesoas  a  que  pertemçe,  e  mando  que 
esta  minha  carta  de  quitaçam  se  guarde  em  todo,  como  se  nella 
conthem,  sem  duvida  nem  enbargo  que  a  ello  seya  posto.  Feita  em 
Lixboa,  a  nove  de  setembro,  Fernam  Nunez,  comtador,  a  fez,  anuo 
do  nacimento  de  nosso  Senhor  Jhesu  Christo  de  mvll  quinhentos 
trinta  três  annos.  E  posto  que  digua  que  o  dito  Lourenço  de  Freitas 
nam  ficou  devendo  cousa  alguma,  ficou  devendo  73:091  reaes,  dos 
quaes  fiz  quyta  e  esmola  aos  erdeiros  do  dito  Louremço  de  Freytas 
pela  alma  da  dita  Senhora  Rainha  minha  tya,  e  delo  pasey  mandado 
meu  pêra  Fernam  Nunez,  contador,  lhes  levar  em  conta  os  ditos 
73:091  reaes,  como  de  feito  levou  e  entram  nesta  quytaçam.  Chan- 
celaria de  D.João  III,  liv.  46.°  de  Doações,  fl.  87  v. 


II 


Dom  Joham  efe.  A  quamtos  esta  minha  carta  de  quytaçam  virem 
faço  saber,  que  eu  mandey  tomar  comta  a  Lourenço  de  Freytas, 
cavaleiro  fydalguo  da  casa  da  Rainha  minha  tia,  que  santa  glorya 
aja,  e  recebedor  da  sua  chancelaria,  dos  deradevros  onze  meses  do 
anno  de  511  e  anuo  de  512,  13,  14,  15,  16,  17,  18,  19,  20,  21,  22, 
23,  24,  25,  de  que  se  fez  duas  recadacões  da  dita  comta,  per  as  quaes 
se  mostra  ele  receber,  em  todos  os  ditos  annos,  per  os  lyvros  feytos 
per  seus  esprivães  e  per  que  os  que  lhe  vam  em  receita  no  ençara- 
mento  da  comta,  que  deu  do  thesoureiro,  que  nã  yam  nos  ditos 
lyvros,  858:704  reaes,  dos  quaes  dinheiros  ele  deo  muy  boaa  comta, 
sem  ficar  devendo  cousa  alguma,  como  se  contem  nas  recadacões  da 
dita  comta.  E  asy  lhe  mandey  tomar  outra  comta  da  ucharia  da  dita 
Senhora,  porque  também  hera  seu  uchaão  dos  annos,  a  saber:  os  de- 
radeiros  cinco  meses  do  anno  de  497  e  o  anno  de  98  ate  fim  de  ja- 
neiro do  anno  de  526,  dos  quaes  annos  se  fizera  duas  recadacões, 
per  as  quaes  se  mostra  que  elle  recebeo,  em  todos  os  ditos  annos, 
100  marcos,  4  onças,  5  oytavas  de  prata  lavrada,  em  escudelas  e 
bacyos  de  cozinha  que  servem  na  dita  úcharya,  a  qual  recebeo  dos 
thesoureiros  que  foram  no  dito  tempo;  e  bem  asy  recebeo  8  peças 
de  cobre,  e  42:917  arrobas  mea  de  carnes,  e  muytos  toucynhos,  e  ou- 


136  ESTUDOS 

tras  muytas  sortes  decarnes,  e  aves,  e  caças,  e  pescados,  e  outras  mur- 
tas cousas  semelhantes  que  saiu  ordenadas  a  servirem  no  dito  oficio, 
as  quaes  cousas  se  aquynom  decrararam  por  brevidade,  e  porem  todas 
se  (.ontem  nas  recadações  das  ditas  comtas,  com  suas  decrarações 
necessaryas.  Da  qual  prata  e  cousas  ele  deu  muy  boaa  comia  com 
entregua,  sem  ficar  devendo  cousa  alguma,  e  por  tamto  o  dou  por 
e  lyvre  de  tudo  o  aquy  decrarado.e  asy  dos  pescados  e  cousas 
que  fica  nas  recadações  da  comta  da  dita  ucharya,  deste  dia  pêra 
todo  sempre,  a  elle  e  a  todos  seus  erdeiros,  que  nunca  por  ello 
seyam  requerydos  nem  demandados  em  Contos  nem  fora  delles, 
por  quanto  o  dou  por  quyte  e  lyvre,  como  dito  he.  Notefico  o  asy 
as  pesoas  a  que  pertence,  e  mando  que  esta  minha  carta  de  quytaçã 
se  guarde,  como  se  nella  conthem,  sem  duvida  nem  embargo  que 
a  elo  seva  posto.  Fernara  Nunez,  contador,  a  fez  em  Lixboa  a  nove 
ile  setembro  do  anuo  de  nosso  Senhor  Jhesu  Christo  de  myll  qui- 
nhentos trinta  e  três.  Chancelaria  de  D.João  III,  liv.  4(>.°  de  Doa- 
ções, fl.  S7  v. 


III 


Dom  Joham  etc.  A  quãtos  esta  minha  carta  de  quitação  virem, 
faço  saber  que  eu  mandey  tomar  cota  a  Lianor  Alvarez,  criada  da 
Rainha  minha  tia,  que  Sanita  glorya  haja,  que  tynha  cargo  da  guarda 
das  cousas  do  seu  oratório.  È  mostrou-se  pela  recadação  da  cota 
que  lhe  foy  tomada,  que  recebera:  quorenta  peças  de  prata  que  pe- 
saram cinquoemta  e  quatro  marcos,  cimquo  omças,  seis  oytavas;  e 
quatro  peças  douro  que  pesarão  sete  omças,  sete  oytavas  e  huum 
quarto;  e  quinze  fromtaes  de  brocado  e  seda,  e  de  sortes  outras;  e 
quimze  cortinas  de  seda  e  outras  sortes;  e  vinte  e  nove  corrediças;  e 
quatro  estamtes;  e  oito  vestimentas  douro  e  brocado,  e  outras  sortes; 
e  quatorze  arcas  emeouradas,  e  doutras  sortes;  e  oyto  toalhas;  e 
vinte  e  oyto  fronhas  de  livros;  e  duzemtos  trimta  e  huum  livros  de 
soites;  e  sete  poeiras  de  marfym ;  e  quatro  escriptorios;  c  nove  cru- 
ze- de  soites;  e  quinze  peças  de  metal;  e  duas  portas  pazes;  e  quatro 
alqnatifas;  e  duas  guardaportas ;  e  huma  almofada  de  pano  douro; 
e  quatro  covados,  duas  terças  de  brocado;  e  trinta  e  sete  retavolos; 
e  duas  almatiquas  de  brocado;  e  outras  muitas  cousas  de  que  se  aqui 
nom  faz  memção,  como  se  mais  compridamente  contem  na  dita 
arecadação.  Y.  posto  que  todas  as  ditas  peças  de  prata  e  ouro,  e  cou- 
sas  outras  despemdese  per  emtregua  que  delas  fez,  com  outras  mui- 
:  is  que  se  pela  dita  recadação  mostra  mais  despemder,  alem  das  so- 
breditas; e  por  sobre  a  dita  lianor  Alvarez  nom  serem  earegadas 
em  recepta;  e,  pella  emformação  que  (.lesto  houve,  foy  pêra  as  tra- 
zerem de  serviço  á  dita  senhora,  e  assi  como  lhe  vinha,  as  mandava 
emtregar  no  dito  seu  oratório,  sem  se  delas  fazer  recepta;  e  por 
humas  e  outras  serem  todas  emtregues,  como  dito  he,  [á]  Abadessa  e 


RAINHA  I).  LEONOR  137 

Freiras  do  mosteiro  da  Madre  de  Deus,  omde  as  a  dita  senhora  leixou 
per  verba  de  seu  testamento,  com  outras  muitas  alem  tias  do  orato- 
reo,  como  se  no  dito  testamento  [e]  recadações  das  contas  decrara,  e 
asy  per  outros  mandados  tia  dita  senhora;  e  por  a  dita  l.ianor  Alva- 
rez ter  de  tudo  dado  boa  conta  com  emtrega,  segundo  se  comteiu 
em  o  parecer  asvnado  pellos  meus  deputados  da  mesa  da  comcyem- 
cia,  a  que  tenho  cometido  os  despachos  ái)  descargo  dalma  da  dita 
senhora,  d^  qual  o  trelado  he  este  seguinte:  "Visto  este  relatório 
e  asy  ouvido  Amtonio  Amriquez,  contador,  que  deu  rolação  de 
como  Fernão  Nunez,  seu  pay,  tomou  a  comta  á  dita  l.ianor  Alvarez 
per  mandado  dei  Rey  noso  senhor  e  dixe,  que  seu  pay  tomara  a 
dita  comta  per  hum  emventario  quejoam  Alvarez,  que  Foy  escripvão 
da  fazenda  da  Rainha  dona  l.ianor  que  Deus  tem,  ha  muitos  anos  a 
Pêro  da  Alcáçova,  que  foi  escripvão  da  fazenda  dei  Rey  dom  Joam 
que  Samta  Gloria  haja;  e  asy  per  huuns  itens  a  Bastião  da  Costa, 
que  foi  escripvão  da  reposta  da  Rainha,  e  de  Pêro  Dia/.,  seu  cape- 
lão; e  por  ahy  não  haver  nem  se  achar  outro  alguum  livro  de  rece- 
pta nem  despesa,  e  por  yso  se  não  pode  tomar  mais  certa  comta, 
que  per  o  dito  inventario  e  cadernos,  e  per  algumas  verbas  dos 
livros  dos  escripvães  e  thesoureiros ;  e  por  tãoto  parece,  que  a  dita 
Lionor  Alvarez  deve  aver  sua  quitação,  e  mandam  ao  dito  contador 
que  lha  faça  segundo  ordenança  dos  comtos.  Em  Lixboa  a  2  dias 
dabril  de  1538.»  — E  por  tãoto  a  dou  por  quyte  e  livre  de  toda  a  dita 
prata  e  ouro  e  cousas  doutras  sortes  e  calidades.  etc.  Dada  em  a  minha 
cydade  de  Lixboa,  a  20  dias  de  mayo,  Amtonio  Amriquez  a  fez,  de 
1538  anos.-  Chancelaria  de  D.  João  III,  liv.  44.°  de  Doações,  fl.  68. 


IV 


Dom  Joam  etc.  A  quamtos  esta  minha  carta  de  quytaçam  virem, 
faço  saber  que  mandey  tomar  conta  a  Francisco  Cardoso,  cavaleiro 
de  minha  casa,  thesoureiro  que  foy  do  dinheiro  dos  descargos  dalma 
da  Rainha  dona  Lionor,  minha  tia  que  Samta  Gloria  haja.  E  pella 
relaçam  de  sua  conta  se  mostra  receber  treze  comtos  quatro  cemtos 
oitemta  cimquo  mil  cemto  e  setemta  e  dous  reaes,  a  saber:  10.531.1S9 
rs.  de  Fernãd  Alvarez,  thesoureiro  mor,  e  de  Joham  de  Bairos 
(o  grande  historiador  da  índia)  e  Joham  Gonçalvez,  thesoureiros  da 
Casa  da  Imdia,  e  de  Fernã  Rodriguez  de  Palma,  recebedor  do 
dinheiro  do  regno,  e  outras  pesoas;  e  2.053.566  rs.  que  recebeo  per 
vemda  da  prata  que  recebeo  de  Lianor  de  Moraes,  guarda  roupa,  e 
de  Fernã  Diaz,  mantyeiro,  Gaspar  Gonçalvez,  homem  da  copa, 
Joam  Murzelo,  guarda  reposta;  e  de  Lourenço  de  Freitas,  thesou- 
reiro e  hucham,  635.365  rs.  per  vemda  de  cousas  da  casa;  e  os 
265.052  rs.  que  recebeo  per  venda  de  certas  peças  douro.  E  asy  re- 
cebeo mais:  hunia  cruz  de  prata,  que  pesou  satemta  e  dous  marcos, 


138  ESTUDOS 

sete  omças,  sete  oitavas  e  mea,  com  a  estorça  da  prisani  de  nosso 
Senhor;  e  cemto  e  quatro  covodos,  dez  dozãos  de  borcado  de  sortes, 
per  muitos  pedaços;  e  sete  savastros  de  borcado,  de  sortes;  e  duas 
cortinas  de  borcado  minhoto;  è  hum  manto  de  borcado;  e  dez  cor- 
rediças de  tafetá;  e  duas  capas  de  borcado;  e  hum  palco  de  damas- 
quo;  e  hum  frontal  de  borcado;  e  asy  mais  outras  cousas  que  rece- 

beo Dada  em  Lixboa,  a  3  dias  de  junho,  Gaspar  Godinho 

a  fez,  ano.  .  .  de  1540.  E  alem  deste  recebimento,  que  se  comtem 
nesta  quitaçam,  tem  outra  COmta  por  cerrar  do  dinheiro,  que  o  dito 
Francisco  Cardoso  tinha  em  seu  poder,  que  recebeo  do  rendimento 
dos  atuuns  dos  anos  de  24,  25;  e  asy  doutro  dinheiro,  que  lhe  ora 
he  carreguado  em  recepta  per  Ámrique  da  Mota,  que  ora  escreve  a 
recepta  e  despesa  de  seu  cargo.  Chancelaria  cie  D.João  III,  liv.  õ0.'> 
de  Doações,  fl.  187. 


VI 


TRASLADAÇÕES   MA   BATALHA 


Sei  pelos  jornaes  que  vão  ser  trasladados  para  a 
capella  do  Fundador  na  igreja  da  Batalha  os  restos 
de  D.  Afonso  V,  da  Rainha  D.  Isabel  sua  mulher,  de 
D.  João  II  seu  filho,  e  do  Príncipe  D.  Afonso  seu  neto. 

Os  monumentos  em  que  estes  ossos  vão  ser  encerra- 
dos, são  cópia  fiel  daquelles  outros  onde  lá  se  guardam 
os  corpos  dos  quatro  infantes  filhos  de  D.  João  I.  Pelo 
lado  artístico  não  ha  por  tanto  nada  a  observar. 

Também  não  são  infrinjidas  em  coisa  nenhuma,  é 
certo,  as  ultimas  vontades  dos  mortos,  as  quaes  sempre, 
e  em  todos  os  casos,  devem  ser  respeitadas. 

No  seu  testamento  autorizou  D.  João  I  a  sepultura 
na  sua  capella,  em  alto  ou  no  chão,  aos  reis  deste  reino, 
e  "pelos  jazigos  das  paredes  todas  em  quadra-,  se  pu- 
derão  lançar  filhos  e  netos  de  reis.  D.  Afonso  V  decla- 
rou que  lhe  "prazeria,,  ser  sepultado  na  capella,  que  na 
Batalha  mandou  fazer  seu  pai,  em  qualquer  das  "ca- 
pellas»  (jazigos)  da  mesma.  A  Rainha  D.  Isabel  deixou 
á  escolha  do  marido,  ou  o  convento  de  Nossa  Senhora 
da  Victoria,  ou  o  de  S.  João  de  Xabregas.  D.  João  II  es- 
colheu a  Batalha,  no  logar  que  a  seu  testamenteiro  me- 
lhor parecer.  O  Príncipe  D.  Afonso  não  fez  testamento. 

Temos  por  tanto:  D.  João  I,  autorizando  a  sepultura 


1  U  ESTUDOS 

na  sua  capella  aos  reis,  e  aos  filhos  de  reis;  D.  Afonso  V, 
designando  para  seu  enterro  a  capella  começada  por 
seu  pai,  as  chamadas  Capellas  Imperfeitas;  mas,  como 
estas  nunca  se  concluíram,  mão  se  torna  estranhavel 
deposita-lo  agora  na  capella  do  Fundador,  a  qual,  se 
não  foi  começada,  foi  acabada  por  D.  Duarte.  Temos 
depois  a  Rainha  D.  Isabel,  delegando  a  escolha  do  logar 
no  marido,  que  a  quereria  perto  de  si;  D.  João  II,  outor- 
gando análogo  poder  ao  seu  testamenteiro,  que  havia 
de  ser  o  futuro  Rei  de  Portugal,  hoje  por  tanto  o  Go- 
verno da  nação;  e  finalmente  o  Príncipe  D.  Afonso, 
que,  nada  tendo  determinado,  decerto  estimaria  ter  sua 
ultima  morada  junto  do  pai. 

Pelo  respeito  devido  aos  mortos,  não  ha  pois  nenhum 
desacato  nas  trasladações.  Pelo  lado  histórico  é  que 
muitas  considerações  ocorrem. 

Dentro  das  quatro  paredes  daquella  capella  vão-se 
reunir  quasi  todas  as  recordações  do  que  mais  puro  e 
nobre,  mais  grandioso  e  memorável,  existe  na  historia 
de  Portugal.  Fora  d'ali  ficarão  as  raças  dejeneradas  e. 
bastardas.  Só  é  pena  que  da  capella  mór  não  possa  ser 
trazido  para  ao  pé  dos  seus  o  austero,  o  melancólico 
"rei  Eduarte». 

D.  João  I,  o  Defensor!  D.  Afonso  V,  o  Cavaleiro! 
D.  João  II,  o  Rei!  E  mais  o  Infante  D.  Pedro,  cujas  vir- 
tudes e  acções  a  Historia  tanto  comemora;  e  os  Infan- 
tes D.  João  e  D.  Fernando,  que  ambos  foram  bons,  e 
não  deslustram  a  companhia,  apesar  de  vultos  mais 
apagados. 

E  as  duas  Rainhas?  D.  Filipa,  a  grande  mãe,  e 
D.  Isabel,  a  meiga  esposa,  não  condizem  com  o  resto? 

Que  gente!  Nós,  raça  dejenerada,  nem  somos  dignos 
de  apreciar  sequer  a  grandeza  de  taes  maiores. 

.Mas,  de  entre  todos  aquelles  vultos,  o  que  mais  se 


TRASLADAÇÕES  NA   BATALHA  141 

nos  impõe  na  actual  conjuntura,  é  o  de  D.  João  II,  o 
Rei  que  foi 

anuir  dos  bons:  dos  maus  terror  e  espanto. 

O  Rei  que  bem  amou  seu  povo;  o  Rei  que  era  o 
primeiro  a  dar  o  exemplo  de  obediência  á  Lei,  "da 
qual  se  fazia  logo  servo»,  e  da  qual,  "sem  excepção  de 
pessoas  de  baixa  e  alta  condição,  foi  mui  inteiro  exe- 
cutor.., O  Rôi  que,  como  nenhum  outro,  sabia  a  obri- 
gação imposta  pelo  acaso  do  nascimento,  e  transformou 
o  seu  oficio  de  reinar  num  culto  sagrado. 

Todos  os  negócios  públicos,  até  os  de  somenos  im- 
portância, lhe  eram  conhecidos;  os  actos  dos  seus  mi- 
nistros, patentes;  os  segredos  das  cortes  estranjeiras, 
desvendados.  Tudo  alcançava  com  estudo,  aplicação, 
perspicácia  e  agudeza,  e  porque  tinha  olhos  para  ver,  e 
ouvidos  para  ouvir.  Validos,  não  admitia,  e,  se  algum  dos 
seus  mais  chegados  se  adiantava,  de  pronto  D.  João  II 
lhe  dava  para  traz,  como  sucedeu  ao  Prior  do  Crato, 
D.  Diogo  de  Almeida,  falando  uma  vez  sem  ser  autori- 
zado diante  dei  Rei,  que  logo  lhe  disse:  "Isso,  será 
querer  mostrar  que  tendes  comigo  valia?., 

E  note-se  que  não  tratava  seus  criados  por  tu;  res- 
peitava-se  demais,  a  si  e  a  elles,  para  o  fazer.  Ministros 
culpados,  castigava  de  caminho,  como  fez  ao  Prove- 
dor de  Évora  Gomes  de  Figueiredo.  E  até  os  bons  e 
leaes  servidores,  quando  por  acaso  se  desviavam  um 
pouco  do  recto  proceder,  com  uma  repreensão  os  fazia 
entrar  logo  na  ordem.  O  Vedor  da  Fazenda  D.  Marti- 
nho de  Castelbranco  podia  dizel-o,  elle  que  uma  vez 
quis  antepor  o  despacho  dos  requerimentos  de  seu  irmão 
ao  dos  de  outras  partes. 

Apesar  de  bem  solicito  nos  negócios  públicos,  sobrava 
comtudo  a  D.  João  II  tempo  para  folgar.  As  festas  da 
corte  no  seu  reinado  foram  repetidas,  ricas,  grandiosas, 


142  ESTUDOS 

e  algumas  até  magnificentes,  como  as  de  Évora  de  1490 
que  deixaram  nomeada. 

Nos  saraus  e  banquetes  do  paço,  bailava-se,  canta- 
va-se,  tocava-se,  havia  entremêses  e  momos,  faziam-se  e 
recitavam-se  versos,  tudo  com  luzimento,  boa  ordem  e 
temperança.  E  mão  era  só  nos  salões  á  noite;  também 
no  campo  se  exercitavam  e  entretinham  com  jogos  de 
canas,  justas  e  lutas. 

As  donas,  donzelas,  fidalgos  e  cavaleiros  da  corte, 
guiados  por  D.  João  II,  procuravam  divertimentos  no- 
bres que  recreassem,  instruíssem  e  exaltassem.  Hoje 
parte  da  chamada  melhor  sociedade  canta  o  fado,  toca 
guitarra  e  joga  a  malha. 

Quando  D.  João  II  convidada  estranjeiros  para  as 
suas  festas,  apresentava-se  sempre  como  rei,  como  o 
primeiro,  ostentando  não  só  o  seu  poder  e  riqueza,  mas 
também,  se  havia  jogos,  a  sua  perícia  e  destreza.  Não  o 
viam  em  publico  com  trajos  ridículos,  nem  se  deixava 
derrotar  nos  torneios  em  que  entrava. 

Houve  homens  que  nasceram  reis:  D.  João  II  em 
Portugal,  Luiz  XIV  em  França.  Houve  outros  que  se 
fizeram  reis:  D.  Afonso  IV  em  Portugal;  Frederico  II  na 
Prússia.  A  este,  bastou  a  perspicácia  e  sagacidade  pró- 
prias; o  outro,  precisou  ouvir  e  seguir  os  conselhos 
de  seus  ministros.  Pela  pertinácia,  um,  pela  circumspee- 
ção,  o  outro,  bem  mereceram  ambos  das  suas  pátrias, 
e  a  Historia  aos  dois  exalta,  guardando  a  enorme  dis- 
tancia que  vai  de  um  génio  a  um  bom  rei.  Outros  sobe- 
ranos tem  havido,  que  nem  nasceram,  nem  se  fizeram 
reis.  Aplicação  ao  estudo  da  administração  publica,  não 
cultivaram;  conselhos  de  ministros  ou  amigos,  não  ouvi- 
ram, ou  lhes  faltaram,  porque  ha  reis  tão  desgraçados 
que  não  teem  amigos  verdadeiros  e  discretos,  ousando 
arriscar  o  valimento,  como  fizeram  os  de  I).  Afonso  IV, 
para  lhes  dizerem  verdades. 


IkWSI  ADAÇ<  )l  S   NA    BATA1  HA  143 

Ao  Príncipe  Perfeito  não  sucedeu  isso.  Teve  amigos 
sinceros  e  dedicados,  a  quem  ouvia  e  atendia,  e  até 
premiava  por  lhe  dizerem  a  verdade. 

"Sabeis  por  que  dei  o  oficio  de  mordomor  mói"  a 
D.  João  de  Meneses?  —  Dei-lho  porque  sempre  me  fala 
verdade,  ainda  que  me  nisso  não  faça  a  vontade.., 

A  maior  virtude  porem  de  D.  João  II,  o  Rei  que  nunca 
mentiu,  foi  o  entranhado  afecto  que  consagrou  a  seu 
povo,  a  quem  livrou  das  opressões  dos  grandes,  a  quem 
deu  justiça  recta,  por  quem  padeceu  ódios,  trabalhos  e 
vinganças  empeçonhadas.  Pagaram-lhe  bem  comtudo 
"no  novo,  tão  grande  e  geral  amor  que  a  elle,  e  sua 
memoria,   por  todos  depois  de  sua  morte  sobreveio. ,, 

Assim  o  escreveu,  já  no  reinado  de  D.  Manuel,  o 
cronista  contemporâneo  Rui  de  Pina. 

Deixou  D.  João  II  o  reino  rico,  prospero,  respeitado 
e  temido.  Junto  do  seu  ataúde  não  deverão  comparecer 
os  governantes  destes  últimos  tempos,  que  trouxeram  a 
nação  ao  estado  vilipendioso  em  que  se  encontra,  e  que 
não  merece  l. 

Aldeia,  1.°  de  novembro  de  1901. 


1  Em  todo  este  artigo  as  alusões  são  claras  aos  factos,  que  na- 
quelle  tempo  se  passavam  em  Portugal  e  por  muitos  presenciados 
com  pasmo  e  tédio. 


Vil 


DESCENDÊNCIA   DE   D.  JOÃO   II 


É  bem  sabido  de  todos  haver  D.  João  II  tido  dois 
filhos:  um,  lejitimo,  o  Príncipe  D.  Afonso  que  o  prece- 
deu no  tumulo;  o  outro,  ilejitimo,  o  Mestre  D.  Jorje 
que  lhe  sobreviveu  muito. 

O  Príncipe  nasceu  a  18  de  maio  de  1475,  casou  a  23 
de  novembro  de  1400,  e  morreu  desastradamente  a  13 
de  julho  de  1401,  não  deixando  geração. 

As  suas  dezaseis  primaveras  que  prometiam?  Nada 
se  pode  afirmar.  Foi  talvez  uma  felicidade  para  a  sua 
memoria  ter  elle  tido  tão  curta  vida.  Filho  de  D.João  II, 
se  tivesse  chegado  a  cinjir  a  coroa,  dificultosamente 
poderiam  suas  acções  ombrear  com  as  de  seu  pai.  Foi 
feliz !  Morreu  sem  o  sentir,  na  hora  mais  venturosa  da 
sua  vida,  chorado  sinceramente  por  todos. 

Sua  viuva,  a  Princesa  D.  Isabel,  filha  dos  Reis  Cató- 
licos, regressou  para  Castella,  d'onde  ainda  voltou  a 
Portugal,  em  setembro  de  1407,  para  casar  com  el  Rei 
I).  Manuel.  A  Espanha  tornou  em  1408,  sendo  lá,  em 
Toledo,  jurada  princesa  herdeira  de  Castella  a  20  de 
abril;  e  em  Saragoça,  no  dia  14  de  junho,  foi  apresen- 
tada, como  princesa  de  Aragão,  ás  Cortes  deste  reino, 
que  só  bastante  tempo  depois  a  juraram.  Logo  a  seguir, 
ainda  em  Saragoça,  faleceu  a  24  de  agosto,  deixando 
um  filho  que  pouco  viveu. 

10 


!  i  ESTUDOS 

O  Príncipe  D.  Afonso  tinha  tido,  antes  de  casar,  uma 
paixoneta,  amores  de  criança,  por  uma  I).  Branca,  e, 
quando  ella  casou,  disse  o  Prior  de  Santa  Cruz,  D.João 

de  Noronha,  pelo  Príncipe: 

Lloran  mys  ojos, 

y  my  coraçon 

con  mucha  razon  '. 

Esta  menina  era  certamente  D.  Branca  Coutinha  a 
quem  D.  Martinho  da  Silveira,  quando  ella  estava  já 
casada,  dedicou  umas  trovas  que  começam  : 

Dó  na  corte,  polo  serdes, 
tomaram  mil  corações 
que  namorastes, 
por  lembrar,  e  por  saberdes, 
quantas  penas  e  paixões 
lhe  cá  leixastes  2. 

Deu  que  fazer  este  casamento!  Também  a  elle  se 
referiu  Pedro  Homem,  então  estribeiro  mór  do  Duque, 

mimas  coplas  que  abrem  por  esta  quadra: 

Poys  a  todos,  se  casaes, 
o  viver  será  tão  caro ; 
lembre-vos  o  desempato, 
Senhora,  que  nos  leixaes  3. 

O  noivo  seria  Jorje  de  Mello,  o  Lajéo,  capitão  dona- 
tário de  Mazagão. 

Não  estranhe  o  leitor  as  minhas  duvidas  e  hesitações 
em  identificar  alguma?  pessoas  nomeadas  no  Cancio- 
neiro de  Resende.  É  dificil,  muita  vez,  para  homens;  é 
dificílimo,  quasi  sempre,  para  senhoras.  Isto  para  quem 
trabalha  com  estudo  e  concieneia. 


1  Cancioneiro  geral.  fl.  16S,  col.  6a 
■-'  ibidem,  fl.  57,  col.  3a 
■  ibidem,  fl.  V).  col.  2a 


DESCENDÊNCIA  DE  D.  JOÃO  II  147 

Feita  esta  advertência,  continuarei  com  a  minha  supo- 
sição muito  fundamentada. 

Vasco  Ternandez  Coutinho,  filho  segundo  de  Fernão 
Coutinho,  senhor  de  Celorico  de  Basto  e  irmão  do 
l.o  Conde  de  Marialva,  foi  morrer,  segundo  declara 
D.  Afonso  V,  "em  meu  serviço,  em  minha  presença,  no 
combate  e  filhada  da  villa  de  Sete  Igrejas,,  ''.  Faleceu 
por  tanto  nos  principios  da  guerra  da  invasão  de  Cas- 
tella,  provavelmente  ainda  em  1475,  tendo  casado,  pouco 
havia,  com  D.  Maria  de  Lima,  cujo  pai,  durante  aquella 
mesma  campanha,  foi,  em  Toro,  criado  visconde  de  Vila 
Nova  da  Cerveira 

Para  o  casamento  de  Vasco  Fernandez  Coutinho  havia 
a  Infanta  D.  Beatriz,  mãe  e  tutora  do  Duque  de  Viseu 
D.  Diogo,  dotado  áquelle,  em  nome  deste,  duas  mil 
coroas  por  carta  de  S  de  novembro  de  1474  •'.  Do  ma- 
trimonio nasceram  três  filhos,  e  um  delles  foi  D.  Branca 
Coutinha. 

Eram  pois,  o  Príncipe  D.  Afonso  e  a  sua  amada,  quasi 
da  mesma  idade,  talvez  nascidos  no  mesmo  anno. 

O  casamento  delia  devia  ter  tido  logar  muito  pouco 
antes  do  do  seu  servidor;  no  próprio  anno  de  1490  em 
que  este  casou,  é  possivel.  O  marido  foi,  como  já  disse, 
Jorje  de  Mello,  Anadel  mór  dos  besteiros  de  cavalo  ,;, 
senhor  e  capitão  da  praça  de  Mazagão  por  carta  de  21 
de  maio  de  1505  7.  Foi  feita  esta  mercê  ao  Anadel  mór 
e  seus  descendentes,  em  atenção  a  pretender  elle  edificar 
lá,  á  sua  custa,  uma  fortaleza.  Foi  infeliz  a  tentativa, 
porque  a  7  de  oitubro  do  mesmo  anno  de  1505  já  o 


'  Carta  de  5  de  agosto  de  1476,  segurando  o  direito  que  Fernão 
Coutinho,  filho  de  Vasco  Fernandez,  tinha  aos  bens  de  seus  avós. 
Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  32.<\  fl.  16. 

5  Chancelaria  de  D.João  III,  liv.  38.°  de  Doações,  fl.  74  v. 

6  Por  carta  de  23  de  abril  de  1490.  Chancelaria  de  D.  João  II, 
liv.  12.o,  fl.  159  v. 

Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  42.<\  fl.  2õ. 


14S  ESTUDOS 

capitão  tinha  morrido  ás  mãos  dos  Moiros,  como  declara 
a  carta  de  mercê  do  seu  oficio  com  a  tença  de  quarenta 
e  três  mil  e  duzentos  reaes  a  seu  filho  Martím  Afonso 
de  Mello  s. 

Sobreviveu  D.  Branca  muitos  annos  a  seu  marido,  e 
encontro  menção  delia  em  vários  documentos  até  11 
de  fevereiro  de  1524  '■'.  Morou  em  Santarém,  onde,  a  28 
de  setembro  de  1518,  assinou  o  recibo  de  uma  tença  de 
cinco  moios  de  trigo,  escrevendo  dona  brãca  em  letra 
garrafal  "'. 

Naquella  vila  morreu  em  sexta  feira  de  Lazaro,  11  de 
março  de  1530,  e  foi  sepultada  no  mosteiro  de  S.  Fran- 
cisco ". 

Mais  nada  sei  da  amada  do  Príncipe  D.  Afonso,  senão 
que  teve  numerosa  prole. 

O  filho  lejitimo  de  D.  João  II  teve  amores  juvenis, 
o  ilejitimo  teve-os  senis. 

D.  Jorje,  o  futuro  Duque  de  Coimbra,  nasceu  em 
Abrantes,  no  mês  de  agosto  de  1481.  Sua  mãe  foi 
D.  Ana  de  Mendoça,  Donzella  da  Casa  da  Excelente 
Senhora. 

Era  D.  Ana  fidalga  de  nobre  geração  por  ser  filha 
de  Nuno  Furtado  de  Mendoça,  Aposentador  mór  de 
I).  Afonso  V  e  chefe  da  família  dos  Mendoças  portu- 
gueses, e  de  sua  mulher  D.  Leonor  da  Silva.  De  D.  Ana 
foi  prima  direita  D.  Joana  de  Mendoça,  Duquesa  de 
Bragança,  celebre  pela  sua  formosura. 


8  Chancelaria  de  D.João  III,  liv.  37.»  de  Doações,  fl.  112  v. 

9  Ibidem. 

10  Corpo  cronolojico,  part.  2.a,  mac,  76,  doe.  3. 

11  P.  Luis  Montês  Matoso,  Memorias  sepulchraes,  fl.  54,  tns.  em 
poder  do  falecido  conselheiro  Venâncio  Deslandes.  O  P.  Inácio  da 
Piedade  e  Vasconcellos,  a  paj.  202  do  vol.  II  da  Historia  de  Santa- 
rém, e  outros,  trazem  esta  data  errada.  Âdvirta-se  também,  que  no 
epitáfio  se  declara  ter  Vasco  Fernandez  Coutinho  morrido  na  batalha 
de  Toro,  o  que  não  é  exacto,  segundo  se  vê  do  doe.  acima  citado. 


DESCENDÊNCIA  DE  D.  JOÃO  I!  14Q 

Também  não  faltava  este  dote  a  D.  Ana,  "molher 
muito  fidalga,  e  moça  fermosa  de  mui  nobre  geraçam,,  '-. 
Apesar  disso,  duraram  pouco  os  seus  réjios  amores, 
por  quanto  D.  João  II  sucedeu  na  coroa  ainda  no  mesmo 
mes  de  agosto,  em  que  D.  Jorje  nasceu,  e  "acerca  de 
mulheres,  depois  de  ser  rei,  foi  sobre  todos  mais  con- 
tinente.» ,:l. 

Não  lhe  bastou  pois  a  formosura,  nem  a  estrema  mo- 
cidade, para,  conservar  o  amor  dei  Rei  que  se  não  es- 
queceu delia  comtudo. 

Nas  Alcáçovas,  a  24  de  setembro  de  1495,  assinou 
D.  João  11  uma  carta  pela  qual  fazia  mercê  a  D.  Ana  de 
Mendoça,  "madre  de  D.  Jorje,  meu  muito  prezado  e 
amado  filho»,  de  uma  tença  de  duzentos  mil  reaes  ''. 
E  a  esta  pensão  se  tornou  a  referir  quatro  dias  depois  no 
seu  testamento,  no  qual  a  confirma,  ordenando  que,  no 
caso  de  a  quererem  tirar  a  D.  Ana,  lhe  dêem  primeiro 
trinta  mil  coroas  de  cento  e  vinte  reaes,  "pêra  soportar 
sua  honra,  ou  pêra  seu  casamento..  ' '. 

Não  era  por  tanto  D.  Ana  ainda  freira  neste  tempo; 
estaria  talvez  já  recolhida  no  mosteiro  de  Santos,  com 
sua  tia  a  Comendadeira  D.  Violante  Nogueira,  mas  não 
posso  assegura-lo. 

D.  Manuel,  subindo  ao  trono,  confirmou  a  D.  Ana  os 
duzentos  mil  reaes,  usando  de  palavras  corteses:  "visto 
por  nós  seu  pedir,  intenção  e  boa  vontade  com  que 
lhos  deu  o  dito  Rei,  meu  Senhor,  e  nós  que  não 
menos   o   assi    desejamos   e  queremos,  etc.   Foi   pas- 


12  Resende,  Vida  de  D.João  II,  cap.  112,  fl.  04  v. 

13  Pina.  Chronica  de  D.João  II,  cap.  82,  paj.  197.— A  asserção  do 
cronista  é  confirmada  pelo  dr.  Diogo  Pinheiro  no  sen  Manifesto  da 
inocência  do  Duque  de  Bragança.  Vide  o  artigo  seguinte. 

11  Transcrita  na  carta  de  confirmação  de  18  de  janeiro  de  1496. 
Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  32.o,  fl.  82  v. 

15  Sousa,  Provas  da  11  ist.  genealógica,  vol.  II,  paj.  174. 


150  ESTUDOS 

sada  a  carta  em  Montemor  o  Novo  a  IS  de  janeiro 
de  1496  "'. 

Neste  documento,  e  ainda  noutros  dos  annos  seguin- 
tes até  6  de  setembro  de  1504,  na  carta  de  uma  tença 
de  oito  moios  de  trigo  17,  é  apenas  designada  D.  Ana 
de  Mendoça  como  "madre  de  D.  Jorje,,,  ou  "madre  do 
Duque  de  Coimbra,..  Não  ha  referencia  nenhuma  a  ser 
ella  dona  no  Mosteiro  de  Santos. 

Por  estes  tempos  era  Comendadeira  neste  notável 
convento  D.  Violante  Nogueira,  tia  paterna  de  D.  Ana 
de  Mendoça.  Vivia  D.  Violante  ainda  em  31  de  janeiro 
de  1508  ,s;  era  porem  já  falecida  em  31  de  março  do 
mesmo  anuo.  como  se  declara  na  carta  do  Mestre 
D.  Jorje  pela  qual  determinou  que  no  mosteiro  não 
houvesse  mais  de  dezoito  donas  l9_ 

Estava  então  vago  o  cargo  de  comendadeira,  o  qual, 
provavelmente  por  esses  tempos,  proveu  o  Mestre  em 
sua  mãe,  que  já  aparece  governando  a  comunidade  em 
documento  de  19  de  fevereiro  de  1509  -". 

Duvido  que  D.  Ana  de  Mendoça  tivesse  professado 
muito  antes  de  receber  a  sucessão  de  sua  tia,  porque  nos 
documentos  do  tempo  desta  Comendadeira  que  vi.  e 
foram  bastantes,  em  nenhum  encontrei  a  sobrinha  D.  Ana 
nomeada    entre    as    Donas   discretas   do   convento ;   a 


111  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  23.",  fl.  82  v. 

i:  Chancelaria  de  D.João  III,  liv.  37."  de  Doações,  fl.  1  lo. 

|s  Documentos  do  Mosteiro  de  Santos,  n.o  6S9,  na  Torre  do 
Tombo. 

19  Ibidem,  n.o  61. 

'-'"  Ibidem,  n.o  690.  Kr.  Agostinho  de  Santa  Alaria,  a  paj.  431  da 
Historia  tripartita,  referindo-se  á  entrada  de  D.  Ana  como  comen- 
dadeira de  Santos,  diz:  "entendo  vivia  no  Convento  em  companhia 
dr  sua  tia,  a  quem  suecedeo  no  cargo,  sem  embargo  de  que  por 
outra  noticia  acho,  que  no  mesmo  dia,  em  que  entrara  no  Con- 
vento nesse  mesmo  professara,  e  que  fora  em  dia  de  Ramos  (16  dl 
abril)  do  anuo  de  1508,  poucos  tempos  depois  da  morte  da  Comen- 
dadeira sua  tia.,,  Pelo  que  declaro  no  texto,  parece-me  mais  pro- 
vável esta  segunda  hipótese. 


DESCI  NDENCIA  DE  D.  JOÃO  II  151 

sobrinha  D.  Joana  de  Mendoça,  aparece;  mas  D.  Ana, 
sua  irmã,  não.  Se  nelle  habitava,  era  como  recolhida,  e 
não  como  freira. 

Durou  muitos  annos  o  governo  de  D.  Ana,  que  em 
1536  -'  traspassou  a  sua  tença  de  duzentos  mil  reaes 
em  D.  Helena  de  Lancastre  sua  neta,  filha  do  Mestre 
D.  Jorje  --,  a  favor  da  qual,  por  instrumento  de  5  de 
junho  de  1542,  desistiu  do  cargo  de  comendadeira  -:!. 
Continuou  porem  D.  Ana  com  o  governo  ainda  por 
uns  poucos  de  annos,  apesar  do  Mestre,  no  dia  seguinte 
ao  da  desistência,  ter  assinado  a  carta  de  comendadeira 
a  D.  Helena  -'. 

Era  de  boa  e  resistente  fibra  a  velhinha.  Encontro-a 
"mal  disposta  em  uma  cama,,,  no  dia  3  de  setembro  de 
1548  -:i;  mas  ainda  passou  alem  de  5  de  novembro 
desse  anno,  dia  em  que  deu  a  posse  do  seu  cargo  ao 
Bispo  de  Ceuta  D.  Jaime,  procurador  de  D.  Helena  â6. 
Tinha-se  porem  finado  antes  de  3  de  abril  de  1549,  em 
que  a  neta  tomou  pessoalmente  a  posse  -'. 

Supondo  a  D.  Ana  de  Mendoça  dezoito  annos  quando 
teve  a  D.  Jorje,  veio  ella  a  morrer  com  oitenta  e  seis. 

D.  Jorje  foi  mandado  criar  a  Aveiro,  sendo  entregue 


'-"  Em  1530  havia  mandado  levantar  no  sen  mosteiro  a  sepultura 
de  seu  pai,  segundo  declara  o  epitáfio  nella  posto:  Nesta  sepultura 
jaz  Nuno  Furtado  de  Mendoça,  filho  de  Afonso  Furtado  de  Men- 
doça, o  qual  morreu  nas  guerras  de  Castclla  e  mandou  trazer  de  lá 
sua  ossada  dona  Anna  de  Mendoça,  sua  filha,  Comendadeira  deste 
Mosteiro  de  Santos,  e  lhe  mandou  fazer  esta  eapel/a  e  sepultura. 
Anno  de  1530.  D.  Ant.  Caet.  de  Sonsa,  Memorias  sepuíchraes, 
fl.  141,  ms.  em  poder  do  falecido  conselheiro  Venâncio  Deslandes. 

'-'-'  Instrumento  de  7  de  janeiro  e  carta  de  padrão  de  12  de  março 
de  1536.  Chancelaria  de  D.João  III,  liv.  21. o  de  Doações,  fl.  S5  v. 

'-1  Doe.  de  Santos,  n.°  1642. 

»  Ibidem. 

-■'  Ibidem,  n.°  205. 

»  Ibidem,  n.o  1642. 

r  Ibidem. 


152  ESTUDOS 

a  sua  tia  a  Infanta  I).  Joana,  que  lhe  deu  por  amo  a 
João  Alvarez,  a  quem,  por  cartas  de  30  de  julho  e  3  de 
agosto  de  1490,  se  recompensaram  os  serviços  com 
uma  tença  de  oito  mil  reaes,  e  os  privilejios  de 
vassalo  -\ 

Já  então,  mas  pouco  antes,  a  12  de  maio,  tinha 
morrido  a  Infanta,  e  este  acontecimento  fizera  com  que 
D.  João  I!  mandasse  vir  o  filho  para  a  corte,  em  Évora, 
onde  entrou  solenemente  a  15  de  junho.  Foi  tão  bem 
aceito  de  todos,  que  até  a  Rainha  D.  Leonor,  esquecidas 
antigas  afrontas,  não  só  recebeu  afectuosamente  o  bas- 
tardo do  marido,  como  quis  agasalha-lo  em  sua  casa 
para  acabar  de  o  criar. 

As  alegrias  breve  findaram ;  e  a  morte  do  Príncipe, 
d'ali  a  pouco  mais  de  um  anno  sucedida,  assim  como 
mudou  tudo  em  tristezas,  também  avivou  apagados  zelos. 

Saiu  I).  Jorje  da  corte,  sendo  entregue  ao  Conde  de 
Abrantes  em  cuja  guarda  permaneceu  até  12  de  abril 
de  1492,  dia  em  que  lhe  foi  dada  obediência,  como 
mestre  das  ordens  de  Santiago  e  de  Avis,  na  igreja  de 
S.  Domingos  de  Lisboa.  Lntão  seu  pai  lhe  pôs  casa, 
nomeando  seu  aio  a  D.  Diogo  de  Almeida,  já  então 
eleito  Prior  do  Crato,  alto  cargo  que  assumiu  naquelle 
mesmo  anno  -'•'. 

São  conhecidos  os  ardentes  desejos  que  D.  João  II 
teve  de  nomear  a  coroa  em  D.  Jorje.  Desistiu  porem 
desse  propósito,  mas  no  seu  testamento  tratou  de  segu- 
rar ao  menos  uma  boa  casa  a  seu  filho.  Doou-lhe  a 
cidade  de  Coimbra  em  ducado,  as  vilas  de  Montemor 
o  Velho,  Penela,  Vila  Nova  de  Anços,  Buarcos,  Aveiro, 
os  logares  de  Pereira,  Abiul,  Condeixa,  Tentúgal,  Sega- 
dães,  Recardães,  Lousã,  Casal  de  Álvaro  e  Ílhavo,  os  re- 


28  Chancelaria  de  D.João  II,  liv.  16.°,  fl.  35  «.'  50. 
'■'  Pina,  Chronica  de  I). João  II,  cap.  55,  paj.  1 1  >. 


DESCENDÊNCIA  DE  D.  JOÃO  II  153 

guengos  de  Campores,  Rabaçal  e  Anobra,  e  muitas  outras 
terras  e  logares  que  haviam  constituído  todo  o  ducado 
de  Coimbra  outrora  possuído  pelo  Infante  D.  Pedro,  avô 
dei  Rei.  Deixa-lhe  tudo  "com  a  benção  de  Deus  e  minha 
e  de  todos  seus  avós,  e  quero  que  elle  os  haja  (os  bens) 
paia  si  e  para  todos  seus  herdeiros  e  sucessores,  que 
delle  descenderem  por  linha  direita  e  transversal  .  .  . 
para  a  qual  cousa  hei  por  revogada  a  Lei  Mental . . .  E  ao 
Duque,  meij  primo,  rogo,  encomendo,  e  mando,  que 
todas  estas  cousas  . .  .  por  meu  falecimento  as  cumpra 
logo  todas.,,  Recomendou  também  muito  a  D.  Manuel 
que  provesse  o  mestrado  de  Cristo  em  D.  Jorje,  e  o 
casasse,  vindo  a  ter  filhas,  com  a  mais  velha  30. 

D.  Manuel  nem  se  apressou  em  cumprir  as  determi- 
nações do  seu  antecessor,  nem  a  todas  deu  execução. 
Nem  o  mestrado  de  Cristo,  nem  a  cidade  de  Coimbra, 
nem  todos  es  logares  que  haviam  sido  da  casa  de  Bra- 
gança, e  eram  muitos,  Tentúgal,  Buarcos,  etc,  nada 
disto  deu  a  D.  Jorje.  Foi  mais  liberal  com  D.  Jaime;  foi 
mais  apressado  em  restituir  ao  reino  e  aos  bens  a  D.  Ál- 
varo de  Ataíde,  a  favor  de  quem  se  não  pode  alegar 
haver  sido  simplesmente  filho  de  culpado,  como  se  fez 
para  o  Duque  de  Bragança,  porque  D.  Álvaro,  na  cons- 
piração do  Duque  de  Viseu,  "era  o  próprio  criminoso, 
ou  um  delles;  e  o  caso  foi  tão  provado,  que  custa  a 
salvar  decorosamente  esta  restituição  31„.  Não  são  pa- 
lavras minhas,  para  não  dizerem  que  sou  sempre  par- 
cial contra  D.  Manuel;  é  frase  do  erudito,  austero, 
mas   benévolo,   Cardeal   D.  Fr.  Francisco  de  S.  Luis  '"-'. 


3"  Testamento  de  D.  João  II  nas  Provas  da  Hist.  gen ca lógica,  II, 
167. 

:!l  A  sentença  condenatória  de  D.  Álvaro  de  Ataíde  está  publi- 
cada no  Arch.  hist.  port.,  II,  27b. 

32  "Destes  (os  compreendidos  na  conspiração  do  Dnqne  de  Viseu) 
veio  restituído  ao  reino  e  aos  seus  bens,  D.  Álvaro  de  Athaide,  irmão 
do  Conde  de  Atouguia.  Dizem  alguns,  que  el-Rei  D.  Manoel,  quando 


154  ESTUDOS 

É  a  minha  esperança;  não  tenho  eu  forças  para  isso; 
mas  justiça  completa  ainda  ha  de  ser  feita  tanto  a 
D.  João   II,  o  Cirande,  como  a  D.  Manuel,  o  Pequeno. 

Em  1500  começou  este  a  tratar  de  dar  cumprimento 
ás  determinações  de  seu  predecessor.  No  dia  25  de  maio 
declarou  a  D.  Jorje  duque  de  Coimbra  í!,  e  dois  dias 
depois  fez-lhe  doação  da  casa  :!i. 

É  notável  este  documento.  Ha  nelle  expressões  real- 
mente honrosas  para  I ).  Manuel,  e  em  prova  da 
minha  imparcialidade  transcreverei  o  seguinte  trecho: 
"Considerando  nós  o  amor  e  afeição  com  que  el  Rei 
D.  João,  meu  primo,  que  Santa  Gloria  haja,  nos  criou, 
e  como,  assim  nisso,  como  em  todas  as  cousas,  nos  tra- 
tou como  próprio  filho,  e  as  mercês  de  acrescentamento 
que  delle  recebemos,  pelo  qual  somos  em  muita  obri- 
gação de  a  suas  cousas  sempre  o  conhecermos;  lem- 
brando-nos,  como  delle  não  ficou  outro  filho  senão 
D.  Jorje,  Duque  de  Coimbra,  meu  muito  amado  e  pre- 
sado  sobrinho,  o  qual  nos  elle  deixou  muito  encomen- 
dado; e,  por  satisfazermos  a  obrigação  que  por  todos 
estes  respeitos  temos,  folgámos  sempre  de  criarmos,  e 
tratarmos,  e  honrarmos  o  dito  D.  Jorje  seu  filho,  meu 
sobrinho,  com  muito  amor  e  afeição  como  era  razão.  E 
agora,  porque  elle  é  já  de  idade  para  lhe  devermos  de 


quiz  restituir  os  Senhores  de  Bragança,  affirmára  aos  do  seu  Conse- 
lli",  que  estava  persuadido  que  os  filhos  não  devido  padecer  pelas 

culpas  de  seus  pais.  Estaria  :  mas  nem  p<»r  isso  no  seu  código  ficarão 
abolidas  as  penas  dos  crimes  de  leza-magestade,  cujo  effeito  recahe 
sobre  OS  filhos  dos  criminosos:  e  o  próprio  principio  (alias  verda- 
deiro e  muito  humano)  tem  suas  limitações  na  applicação  como 
todos  -abem.  Mas  o  I).  Álvaro  de  Athaide,  de  que  falamos,  não  era 
filho;  era  o  próprio  criminoso,  ou  hum  delles;  e  o  caso  foi  tão  pro- 
vado, que  custa  a  salvar  decorosamente  esta  restituição.»  Obrascom- 
pletas  do  Cardeal  Saraiva,  vol.  III,  paj.  353. 

Góes,  Chronica  de  I).  Manuel,  l.1  part.,  cap.  45,  fl.  33. 
'•■  Chancelaria  de  D.João  III.  liv.  71."  de  Doações,  fl.  309;  Pro- 
vas ila  Hist.  genealógica,  vol.  VI,  paj.  1. 


DESCENDÊNCIA  DE  D.  JOÃO  1!  155 

dar  casa  e  fazenda,  em  que  elle  se  possa  manter  e  ser- 
vir-nos  como  quem  é;  e  porque  nelle,  e  nos  que  delle 
descenderem,  dure  a  memoria  de  cujo  filho  é;  e  como 
por  respeito  de  suas  muitas  virtudes  e  grandes  mereci- 
mentos (de  D.  João  II),  e  pelos  serviços  que  delle  temos 
recebidos,  e  pela  divida  em  que  estes  reinos  lhe  são 

PELA  MANEIRA  EM  QUE  OS  GOVERNOU  E  DEFENDEU,  ASSIM 
EM  LHES  ADMINISTRAR  JUSTIÇA,  COMO  EM  TODAS  AS  OU- 
TRAS   COUSAS,,  QUE    A    BEM    DESTES    REINOS    PERTENCIAM, 

pelas  quaes  cousas  é  muita  razão  acrescentarmos  o  dito 
seu  filho,  e  dotarmos  em  maneira  que  a  todos  pareça, 
que  satisfazemos  a  divida  que  por  respeito  das  sobre- 
ditas cousas  lhe  temos,  etc.„ 

Em  palavras  não  se  pode  pedir  melhor;  as  obras  é 
que  não  corresponderam  completamente.  Análogas  ex- 
pressões se  encontram  na  carta  de  duque  de  Coimbra, 
a  qual  foi  bastante  posterior  á  investidura  no  ducado, 
pois  só  foi  passada  a  16  de  março  de  1509  3o. 

Anteriormente  á  doação  da  casa,  por  esses  tempos, 
tinha  D.  Manuel  escolhido  noiva  para  o  Mestre  D.  Jorje, 
mostrando  politica  análoga  á  seguida  perto  de  dois  sé- 
culos depois  pelo  Marquês  de  Pombal.  Casou  este  um 
dos  filhos  na  familia  dos  Tavoras;  deu  aquelle  por  mu- 
lher ao  filho  de  D.  João  II  uma  senhora  da  casa  de  Bra- 
gança. 

Casou  o  Duque  de  Coimbra  a  31  de  maio  1500  com 
D.  Brites  de  Vilhena,  filha  do  senhor  D.  Álvaro,  como 
lhe  chamavam,  ou  D.  Álvaro  de  Portugal,  como  em 
alguns  documentos  é  nomeado,  irmão  do  justiçado  Du- 
que D.  Fernando  :;". 

D.  Jorje  enviuvou  em  1535,  e  veio  a  apaixonar-se  em 


'"  Chancelaria  de  D.João  III,  liv.  24. o  de  Doações,  ti.  73;  Provas 
da  Hist.  genealógica,  vol.  VI,  paj.  S. 

3li  Liv.  2.i  dos  Brasões  de  Cintra,  paj.  42S. 


156  ESTUDOS 

1  ^48,  aos  sessenta  e  sete  annos,  por  D.  Maria  Manuel  :iT. 
Toda  a  historia  destes  amores,  bem  como  a  vida  do 
Mestre,  é  interessante,  mas  não  devo  alongar  desmesu- 
radamente este  artigo;  talvez  fique  para  outro. 

Morreu  o  Duque  de  Coimbra  a  22  de  julho  de  1550, 
e  foi  sepultado  na  igreja  do  castello  de  Palmella.  A  sua 
sepultura  encontra-se  hoje  violada,  e  os  seus  ossos  dis- 
persos ! 


Alguns  dão  ao  Mestre  D.  Jorje  o  apelido  de  Lancas- 
tre,  e  o  mesmo  fazem  ás  Rainhas  D.  Isabel  e  D.  Leonor, 
mãe  e  mulher  de  D.  João  II.  E  porem  completo  des- 
acerto, porque  nenhum  delles  usou  jamais  de  apelido. 
Foi  invenção  de  genealojista,  seguida  sem  critério  nem 
averiguação.  O  primeiro  Lancastre  foi  D.  João,  Duque 
de  Aveiro,  filho  maior  do  Duque  de  Coimbra. 

Deixou  este  filhos  e  descendência,  que  se  poderá  ver 
na  seguinte  arvore  de  geração,  na  qual  serão  unicamente 
nomeados  os  varões  que  formaram  linha,  ou  represen- 
taram casa,  e  as  fêmeas  para  cuja  descendência  aquellas 
linhas  passaram. 

Foram  seis  os  ramos  da  família  de  Lancastre.  O  pri- 
meiro foi  o  dos  Duques  de  Aveiro,  que  passaram  para 
Espanha;  o  segundo  o  dos  Duques  de  Abrantes,  que 
também  por  lá  ficaram,  tendo  ambos  os  ramos  perdido 
a  varonia  ha  muito;  o  terceiro  o  dos  Comendadores 
mores  de  Avis,  Marqueses  de  Abrantes  com  a  varonia 
de  Távora;  o  quarto  o  dos  Comendadores  de  Coruche, 
Marqueses  das  Minas  com  a  varonia  de  Noronha,  extin- 
ctos;  o  quinto  o  dos  Alcaides  mores  da  Figueira,  Con- 
des das  Alcáçovas  com  a  varonia  de  Vasconcellos;  e  o 
sexto  o  dos  Condes  da  Lousã,  que  conservam  a  varonia. 

São  portanto  hoje  os  únicos  descendentes  por  linha 


!'  Liv.  3."  dos  Brasões  de  Cintra,  paj.  2S'>. 


arvore:  da  geração  varonil 


D.João  II,  Rei  de  Portugal 
em  1481.  f  14y5- 

Casou  em  1472  com  D.  Leo- 
nor, sua  prima,  f  1525. 

Era  sua  amante  em  14S1  D. 
Ana  de  Mendoça,  Co- 
meu d  a  d  eira  de  Santos 
em  1508,  ou  9.  f  1548 
ou  49. 

I 


D.  Afonso,  Príncipe,  f  1491 

S.  O. 
Casou  em  1490  com  D.  Isa- 
bel, Infanta  de  Castella  e 
Aragão,   Rainha  de  Por- 
tugal em  1407.  f  1498. 


D.  João  de  Lancastre,  1.» 
Duque  de  Aveiro  já  em 
1535.  f  1571. 

Casou  em  1547  com  D. 
Juliana  de  Lara.  f  1570. 


D.  Afonso  de  Lancastre, 
Comendador  tnúr  de  San- 
tiago. 

Casou  com  D.  Violante  Hen- 
riquez. 


D.  Jorje  de  Lancastre,  2.o 

Duque  de  Aveiro  em  1571. 

f  1578. 
Casou   antes  de  1571   com 

D.  Madalena  Qiron,  que 

lhe  sobreviveu. 


D.  Álvaro  de  Lancastre,  3.° 
Duque  de  Aveiro  em  15SS. 
f  1626. 

Casou  em  1588  com  sua  so- 
brinha D.  juliana  de 
Lancastre.  +  1636. 


I).  Juliana  de  Lancastre,  3.a 
Duquesa  de  Aveiro  em 
15SS  t  1636. 

Casou  em  15SS  com  seu  tio 
D.  Álvaro. 


D.  Jorje  de  Lancastre,  l.o 

Duque  de  Torres  Novas, 

em  1504.  -;-  1632. 
Casou  l.o,  em  1610,  com  a 

Princesa   Ana   Dória,   f 

1620.  S.  O. 
Casou    2.o    com    D.    Ana 

Manrique  de  Cardenas.  + 

1660. 


D.  Afonso  de  Lancastre, 
Marques  de  Porto  Segu- 
ro em  1627,  Duque  de 
Abrantes  depois  de  1640. 
t  1654. 

Casou  em  1627  com  D.  Ana 
de  Sande,  Marquesa  de 
Vai  de  Fuentes.  f  1650. 


D.  Pedro  de  Lancastre,  5.° 
Duquede  Aveiroem  166S, 
Inquisidor  geral  em  1671. 
•;■  1673.  S.  Q. 


D.  Maria  de  Lancastre,  Mar- 
quesa de  Gouveia. 

Casou  em  1625  com  D.  Man- 
rique da  Silva,  l.o  Mar- 
quês de  Gouveia,  y  1648. 

Foram  bisavós  do  sétimo 
Duque  de  Aveiro,  justi- 
çado em  1  750. 


D.  Raimundo  de  Lancastre, 
4.o  Duque  de  Aveiro  em 
1637,  Duque  de  Ciudad 
Real  e  de  Maqueda  em 
Espanha,  f  1666. 

Casou  com  a  Princesa  Luisa 
Clara  de  Ligne.  S.  G. 


D.  Maria  da  Guadalupe  de 
Lancastre,  Duquesa  de 
Ciudad  Real  e  de  Maque- 
da em  1666,  6.a  Duquesa 
de  Aveiro  em  1681.  "f 
1715. 

Casou  em  1665  com  o  6.o 
Duque  de  Arcos.  C.  G. 


D.  Agostinho  de  Lancastre, 
2.o  Duque  de  Abrantes. 
f  1720. 

Casou  com  D.  Joana  de 
Noronha,  filha  do  1.°  Du- 
que de  Linhares. 


D.  Fernando  de  Lancastre, 
4.o  Duque  de  Linhares, 
jantes  de  1720. 

Casou  em  1626  com  D.  Leo- 
nor da  Silva.  S    fi 


D.  João  Manuel  cie  Lancas- 
tre, l.o  Duque  de  Abran- 
tes e  5.o  de  Linhares,  Pa- 
triarca das  índias,  v  17  1 1, 

s  n 


D.  Josefa  de  1  ancastre 
Condessa  de  Enj 

t  asou  em  1686  com  D.  Ber- 
nardino   de    Carvajal    e 


ERAÇÃO    VARONIL.    DEI    D.    JOÃO 


D.  [oão  II,  Rei  de  Portugal 
cm  1481.  f  1495. 

Casou  em  1472  com  D.  Leo- 
nor, sua  prima,  f  1525. 

Era  sua  amante  em  14S1  D. 
Ana  de  Mendoça,  Co- 
menda d  eira  de  Santos 
em  1508,  ou  9.  v  1548 
ou  49. 

I 


D.  Jorje,  Mestre  de  San- 
tiago e  de  Avis,  Duque  de 
Coimbra  em  1500. +1550 

Casou  em  1500  com  D.  1: 
triz  de  Vilhena,  f  1533 


ifonso  de  Lancastre, 
rquês  de  Porto  Segu- 
em 1627,  Duque  de 
rantes  depois  de  1640. 

1.34. 

i  em  1027  com  D.Ana 
Sande,  Marquesa  de 
de  Fuentes.  +  1650. 


D.  'edro  de  Lancastre,  5.o 
I  ique  de  Aveiro  em  1658, 
Inquisidor  geral  em  1671. 
1  I673.  S.  Q. 


D.  Maria  de  Lancastre,  Mar- 
quesa de  Gouveia. 

Casou  em  1625  com  D.Man- 
rique  da  Silva,  l.o  Mar- 
quês de  Gouveia,  -j- 1648. 

Foram  bisavós  do  sétimo 
Duque  de  Aveiro,  justi- 
çado em  1  750. 


D.  Luis  de  Lancastre,  Co- 
mendador mór  de  Avis 
em  1574.  f  1613. 

Casou  em  1548  com  D.  Fi- 
lipa de  Meneses,  +  1621. 


D.  Francisco  Luis  de  Lan- 
castre, Comendador  mór 
de  Avis,  Conde  de  Al- 
canede em  Espanha.  f 
1667. 

Casou  em  1604  com  D.  Fi- 
lipa de  Mendoça.  f  1651. 


D.  Luis  de  Lancastre,  Co- 
omendador  mór  de  Avis, 
Embaixadora* 
1568.  v  1574. 

Casou  em  1540  com  D.  Ma- 
dalena de  Granada. 


D.  João  de  Lancastre,  Co- 
mendador de  Coruche.  f 
1614. 

Casou  l.o  com  D.  Paulada 
Silva.  C.  G. 

Casou  2.o  com  D.  Filipa  de 
Castro,  S.  G. 


D.  Lourenço  de  Lancastre, 

Comendador  de  I 
Casou  com  D.  Inês  de  No- 
.     ouha.  y  1651. 


gostinho  de  Lancastre, 
Duque  de  Abrantes. 

720. 

1    ">iii    I).  Joana    de 

ronha,  filhado  l.o  Du- 
de  Linhares. 


rnando  de  Lancastre, 
Duque  de  Linhares. 

tites  de  1720. 
1  m  I626i  om  D.  1  co- 
da Silva.  S.  G. 


D.  João  Manuel  de  Lancas- 

ie,  3.o  Duque  de  Abran- 

-  e  5.o  de  Linhares,  Pa- 

riarca  das  índias.  +  1733 

S.  G. 


D.  Josefa  de  Lancastre, 
'  ondessa  de  Enjarada. 

Casou  em  1080  com  D  Ber- 
nardino de  Carvajal  e 
Sande,  2.»  Conde  de  En- 


D.  Pedro  de  Lancastre,  2.o 

Conde   de   Figueiró  em 

1654.  f  1658. 
Casou  em  1630  com  D.  Ma- 

d  dena    de    Lancastre.   + 

1649. 


1D40 
D.   Lu 


iir-l-    r    ,-- 


|_uis  de  Lancastre,  4.o 
<  bnde  de  Vila  Nova  de 
Pfcrtimão  em  1688. +1704. 

Casou  em  1694,  com  D.  Ma- 
d  lena  Teresa  de  Noro- 


D.  Lourenço  de  Lancastre 
Comendador  de  Coru- 
che, f  1715. 

Casou  com  D.  Isabel  de 
Meneses. 


D.   Rodrigo   de  1  ancastre, 

Comendador    1 

che.  y  1657. 
Casou  com  D.  Inês  de  No- 

ronha. 


1  >  |oão  de  i  ancastre,  l  io 
vernadoí  do  Bi  tsil  1  m 
1694,  e  do  Algarve  em 
1704.  +  1707. 

r»<inii  ,-,,m  1).  Maria  Teresa 


Casou  em  1621  cora  D.  \iu 
de  SaiuU .  Marquesa  de 
Vai  de  Fuentes   I    1650 


Forain  bisavós  do  sétimo 
Duque  de  Aveiro,  justi- 
çado era  1  ?59. 


Casou  em  M»  com  u.  1 i- 
lipa  de  Mendoça.  f  1651. 


inho  de  I  ancastre, 
i  que  de  Abrantes. 
V  1720. 
Casou    com    D.  Joana    de 
Noronha,  rilhado  l.o  Du- 
que de  Linhares. 


D.  Fernando  de  Lancastre, 
4."  Duque  de  Linhares. 
■';  antes  de  1720. 

Casou  em  1626  com  D.  Leo- 
nor da  Silva.  S.  Q. 


I ').  loão  Manuel  de  Lancas- 
IrA    l.o  Duque  de  Abran- 
-  e  5.o  de  Linhares,  Pa- 
triarca Jas  Índias,  f  1733. 
S   O. 


D.  Josefa  de  Lancastre, 
Condessa  de  Enjarada. 

Casou  era  1686  com  D.  Ber- 
nardino de  Carvajal  e 
Sande,  2.o  Conde  de  En- 
jarada.  C.  O. 


D.  Pedro  de  Lancastre,  2.o 
Conde  de  Figueiró  em 
1654.  f  1658. 

Casou  em  1630  com  D.  Ma- 
dalena de  Lancastre.  f 
U.  lo 


D.  I  uis  de  Lancastre,  4.° 
Cpnde  de  Vila  Nova  de 
Portimão  em  1 688.  f  1704. 

Casíu  em  1694,  com  D.  Ma- 
d  lena  Teresa  de  Noro- 
nha, f  1701. 


D.  Lourenço  de  Lancastre, 
Comendador  de  Coru- 
che, f  1715. 

Casou  com  D.  Isabel  de 
Meneses. 


I).   Rodrigo    li    i  nu 

Comendad i    >  

che.  v    I 

Casou  com  D.  Inês  de  No- 
ronha. 


D.  João  de  Lancastre,  Go- 
vernador do  Brasil  era 
1694,  e  do  Algarve  em 
1704.  v  1707. 

( ..i-.Mii  ,  om  D.  Maria  Teresa 
de  Portugal,  f  1703. 


VI 


D.  ?edro  de  Lancastre,  5.° 
Conde  de  Vila  Nova  de 
Portimão  em  1 704.  f  1752. 

Casou  em  1711  com  D.  Ma- 
ria Sofia  de  Lancastre,  fi- 
lha dos  l.os  Marqueses 
d  I  Abrantes. 


D.  Isabel  de  Lancastre,  lier- 

díjjm,  t  1742. 
Casifc    com  Manuel   de   la- 
Q. 


dera,  v 
si    con 

j 


D.  Rodrigo  de  Lancastre, 
Comendador  de  Coru- 
che, f  1724. 

Casou  l.o  com  D.  Vicencia 
de  Meneses,  f  1703.  CO. 

Casou  2.o  em  1720  com 
D.  Ana  de  Vasconcel- 
los.  S.  G. 


D.  Guiomar  de  Lancastre, 
sr.a  da  casa,  -j-  1734. 

Casou  em  1725  com  D. 
Afonso  de  Noronha,  f 
1752.  C.  G. 


D.  Pedro  de  Baltasar  de 
Almeida  e  Lancastre,  Al- 
caide mór  da  Figueira,  -j- 
1740. 

Casou  em  1714  com  D.  Inês 
Josefa  de  Távora,  -j-  1718. 


D.  José  de  Lancastre,  Al- 
caide mór  da  Figueira,  f 
.793. 

Casou  em  1746  com  D.  Leo- 
nor Henriquez,  sr.a  das 
Alcáçovas,  j  1808. 


D.  Rodrigo  de  Lancastre,  ca- 
pitão de  cavalos,  f  1755. 

Casou  em  1713  com  D.  Isa- 
bel de  Castro. 


D.  João  Xavier  de  Lancas- 
tre, l.o  Conde  da  Lousã 
em  1765,  Vice-Rei  da  ín- 
dia em  1765.  f  na  viajem. 

Casou  em  1749  com  D.  Ma- 
riana Joaquina  de  Basto 
Barem. 


D.  Caetano  de  Lancastre, 
sr.  das  Alcáçovas,  f  1 822. 

Casou  em  1785  com  D.  Ma- 
ria Domingas  de  Castro. 


D.    Teresa    de    Lancastre, 

herdeira,  f  1821. 
Casou  em   1808  com  Luis 

de  Vasconcellos  e  Sousa, 

Par    do    reino.    +    1843. 

C.  G. 


D.   Luis  de  Lancastre,  2° 

Conde  da  Lousã,  f  1830. 
Casou  l.o,  em  1770,  com  D. 

Maria  Rosa  de  Saldanha. 

f  17S6. 
Casou  2.o,  em  1820,  com  D. 

Francisca  de  Saldanha  da 

Gama. 


D.  João  de  Lancastre  (do  2.o 
casamento),  4.°  Conde  da 
Lousã,  f  1883. 

Casou  l.o,  em  1842,  com  D. 
Maria  Joana  de  Sá  Pe- 
reira, f  1842. 

Casou  2.o,  em  1S48,  com 
D.  Carlota  luess  já  |. 


D.  Luis  de  Lancastre,  nasceu 
em  1840,  5.»  Conde  da 
Lousã,  t  1907,  deixando 
vários filhose  irmãos,  úni- 
cos descendentes  por  va- 
ronia  de  D.  João  II. 


D.  Raimundo  de  Lancastre, 
4.o  Duque  de  Aveiro  em 
1637,  Duque  de  Ciudad 
Real  e  de  Maqueda  em 
Espanha,  f  1666. 

Casou  com  a  Princesa  Luisa 
Clara  de  Ligne.  S.  O. 


D.  Maria  da  Guadalupe  de 
Lancastre,  Duquesa  de 
Ciudad  Real  ode  Maque- 
da em  1666,  6.a  Duquesa 
de  Aveiro  em  1681.  f 
1715. 

Casou  em  1665  com  o  6." 
Duque  de  Arcos.  C.  O. 


D.  Agostinho  de  Lancastre, 
2."  Duque  de  Abrantes. 
V  1720. 

Casou  com  D.  Joana  de 
Noronha,  filhado  l.o  Du- 
que de  Linhares. 


D.  Fernando  de  Lancastre, 
4.o  Duque  de  Linhares. 
V  antes  de  1720. 

Casou  em  1626  com  D.  Leo- 
nor da  Silva.  S.  O. 


D.  João  Manuel  de  Lancas- 
"".  i.o  Duque  de  Abran- 
tes e  5.o  de  Linhares.  Pa- 
triarca das  índias. -;-  1733. 
S.G. 


D.  |osefa  de  lancastre, 
Condessa  de  Lnjarada. 

Casou  em  1686 1  om  D.  Ber- 
nardino de  Carvajal  e 
Sande,  2."  Conde  de  En- 
jarada.  C.  G. 


) 

" 
dilena    de    Lai 
IMQ. 


D 

Pxtíms 
Casou  cm  1604,  com  D.  Ma- 
d  lena  Teresa 
nha.  +  1701. 


D.  iJedro  de  Lancastre,  5.o 
Onde  de  Vila 
P'  .rt  i  mão  em  1 704. 7 1 752. 

Casou  em  1711  com  D.  Ma- 
ria Sofia  de  Lai 
Ira    dos    l.<»   Marqueses 
d .  Abrantes. 


D.  Isabel  de  Lancastre,  her- 

duja.  7  1742. 
Cas<A  Yom  Manuel  de  Ta- 

Z.  G. 


ABREVIATURAS 


C.  G. 
S.  G. 


com  geração, 
sem  geração. 


DESCI  NDENCIA  DE  D.  JOÃO  II  157 

varonil  de  D.  João  II,  o  Conde  da  Lousã,  já  agora  (1909) 
falecido,  seus  filhos,  irmãos  e  sobrinhos. 

Advertirei  por  ultimo,  que  algumas  das  datas  trans- 
critas na  arvore  de  geração,  são  minhas,  e  por  cilas 
fico;  outras  são  da  Historia  genealógica  e  das  Resenhas, 
e  não  as  garanto. 

Aldeia,  24  de  novembro  de  1901. 


VI 


A  AMANTE 


No  precedente  artigo,  referi-me  a  D.  Ana  de  Men- 
doça,  e  poucos  mais  dados  biográficos  a  seu  respeito 
poderia  agora  acrescentar,  se  de  tal  curasse.  Não  penso 
nisso  porem,  e  quasi  exclusivamente  me  ocuparei  do 
seu  trato  com  D.  João  II.  Tanto  será  assim,  que  deveria 
talvez  substituir  a  epigrafe  acima  pela  de  Amores ;  mas, 
já  agora,  ficará  a  que  primeiro  me  ocorreu. 

O  que  me  levou  a  compor  este  artigo,  foi  a  leitura  do 
que  acerca  daquella  senhora  escreveram  Camilo  Castello 
Branco  nos  Narcóticos,  e  Barros  Gomes,  colijindo  os 
apontamentos  de  Oliveira  Martins,  no  prefacio  do  Prín- 
cipe perfeito.  Ambos  elles,  e  por  ventura  todos  três,  acre- 
ditavam na  duração  dos  réjios  amores.  Este  facto  obri- 
ga-me  a  voltar  ao  assunto,  não  só  por  no  outro  artigo 
o  não  ter  deixado  tão  esclarecido  como  devera,  mas 
porque  elle  me  interessa.  Interessa-me,  porque  desejo  ir 
pouco  a  pouco  debuxando  em  pequenos  quadros  as 
pessoas  e  sucessos  dos  tempos  de  D.  João  II,  preparan- 
do-me  para  a  obra  que  projecto.  Não  pretendo  fazer 
uma  historia  daquelle  Rei;  a  minha  vaidade,  se  tenho 
disso,  não  me  impede  conhecer  que  as  minhas  forças 
não  são  para  taes  cometimentos.  Será  apenas  um  grande 
painel  da  vida,  uso  e  custumes  da  gente  do  tempo,  compo- 
sição formada  do  ajuntamento  destes  e  doutros  esboços. 


1Ó0  IMTDOS 

I  >iz  a  tradição  que  em  Toro,  nos  fins  de  janeiro  de 
147o,  quando' a  D.  Afonso  V  lá  se  foi  juntar  o  Prín- 
cipe D.  João,  é  que  elle  pela  primeira  vez  viu  a  D.  Ana 
de  Mendoça,  ou,  para  melhor  dizer,  lhe  notou  a  for- 
mosura. Servia  ella  então  como  donzella  em  casa  da 
Rainha  I).  Joana,  a  desposada  de  D.  Afonso  V. 

A  permanência  do  Príncipe  na  cidade  foi  curta  após 
a  chegada,  porque  d'ali  a  quinze  dias,  elle  e  seu  pai, 
estavam  sobre  Samora,  d'onde  comtudo  regressaram 
ambos  no  primeiro  de  março,  ferindo-se  á  tarde  a  bata- 
lha de  Castro  Queimado.  No  dia  seguinte  entrou  D.  João 
outra  vez  em  Toro,  onde  se  conservou  até  á  Semana 
Maior,  que  foi  de  7  a  13  de  abril,  partindo  nella  de  volta 
para  Portugal,  e  passando  a  Páscoa,  14  de  abril,  já  no 
reino,  em  Miranda  do  Doiro. 

Estas  são  as  indicações  de  Rui  de  Pina,  a  quem  irei 
seguindo  por  ser  o  melhor  piloto  desses  tempos,  o  que 
menos  arrisca  o  meu  batel  a  dar  nos  cachopos  dos  do- 
cumentos. 

Se  os  galanteios  começaram  em  Toro,  como  dizem,  foi 
depois  da  batalha,  quando  o  Príncipe  realçava  a  flor  dos 
seus  vinte  e  um  annos  com  a  aureola  da  victoria.  É 
certo  porem,  que,  assim  como  o  combate  campal  não  foi 
'decisivo,  também  o  amoroso  não  passou  de  escaramuça, 
e  que,  nem  a  Marte  nem  a  Vénus,  se  deveu  sacrifício. 

D.  Afonso  V  e  D.  Joana  pouco  mais  tempo  se  demo- 
raram em  Castella,  e  vieram  passar  a  festa  do  Corpo  de 
Deus,  13  de  junho,  a  Portugal,  também  a  Miranda  do 
Doiro,  d'onde  a  Rainha  se  dirijiu  á  Guarda  na  compa- 
nhia do  Conde  de  Vila  Real  e  do  Bispo  de  Viseu.  Da 
pátria  de  Rui  de  Pina,  do  seu  futuro  cronista,  seguiu  a 
Beltraneja  para  Coimbra,  onde  o  Príncipe  com  ella  se 
veio  juntar  para  a  acompanhar  até  Abrantes,  a  fim  de  a 
entregar  á  guarda  do  seu  Mordomo  mór  D.  Lopo  de 
Almeida,  Conde,  Senhor  e  Alcaide  mór  daquella  vila. 


A   AMANTE  161 

Que  diferença  entre  o  modo  de  viajar  cTentão,  e  o 
de  hoje! 

Agora,  metem-nos  num  comboio,  e  despacham-nos 
como  um  fardo  sem  arbítrio  próprio,  fechado  numa 
caixa,  incomunicável  com  o  exterior. 

Então,  pelos  caminhos  fora,  em  breves  jornadas,  des- 
frutando a  paisajem;  convivendo  com  os  companheiros, 
com  os  mais  viajantes  que  se  topavam,  com  os  mora- 
dores das  te/ras  que  se  atravessavam;  ouvindo  o  cantar 
dos  camponeses  nas  suas  tristes  melopeias;  encontrando 
inesperados  episódios;  parando  aqui  á  sombra  de  uma 
copada  arvore,  alem  junto  a  uma  fresca  fonte,  ia-se 
gozando  da  vida  no  seio  da  natureza. 

Bem  sei  que  alguns  contras  havia,  mas  a  verdade  é 
ter  a  poesia  das  viajens  acabado. 

Pelas  assombradas  estradas  da  Beira,  através  dos  oli- 
vaes  e  sobraes  da  alta  Estremadura,  iam  caminhando 
direito  a  Abrantes  a  Rainha  e  o  Príncipe  com  as  suas 
comitivas.  Quantas  vezes  se  não  deixaria  ficar  o  man- 
cebo um  pouco  para  trás  na  cavalgada,  misturando  o 
seu  ginete  fogoso  com  as  pacatas  mulinhas  em  que  as 
donas  e  donzellas  seguiam  sua  ama?  Quantos  olhares 
apaixonados,  quantos  galanteios  disfarçados  se  não  foram 
trocando  naquelles  dias,  que  tão  breves  pareceram  aos 
dois  amantes? 

.Melhor  é  experimenta-lo  que  julga-lo, 

Alas  julgue-o  quem  mão  pode  experimenta-lo. 

Esta  jornada  comtudo  foi  apenas  um  lampejo,  um 
clarão  suave,  nos  amores  do  Príncipe  e  da  donzella. 
Chegados  a  Abrantes,  logo  elle  se  despediu,  e  retroce- 
deu caminho  direito  ao  Porto,  onde  estava  convocado 
por  seu  pai  para  se  resolverem  negócios  políticos  im- 
portantes. 

Foi  aí  que  se  decidiu  a  desgraçada  e  ridícula  ida  a 

li 


162  ESTUDOS 

França,  para  onde  D.  Afonso  V  partiu  de  Lisboa  em 
o  ainda  daqnelle  anno  de  1476,  deixando  o  go- 
verno do  reino  a  sen  filho. 

Então  houve  interpolação  nos  amores. 

A  rejencia  do  reino  ocnpon  completamente  o  tempo 
e  o  espirito  do  joven  Príncipe.  A  campanha  do  Alem- 
tejo,  na  qual  se  recuperaram  as  praças  de  Alegrete,  á 
força  de  armas,  e  a  de  Noudar,  por  preitesia,  e  se  to- 
maram as  fortalezas  de  Zagaia  e  Pedra  Boa;  as  Cortes 
de  Montemor  o  Novo;  a  aclamação  em  Santarém;  o 
regresso  de  D.  Afonso  V;  a  entrega  do  governo;  e,  de- 
pois delia,  o  levantamento  de  Moura;  a  expedição  de- 
sastrosa do  Bispo  de  Évora  a  Castella;  os  tratos  e  con- 
clusão das  pazes  com  os  Reis  Católicos,  todos  estes 
sucessivos  acontecimentos  trouxeram  o  Príncipe  arre- 
dado da  sua  dama,  que  permanecia  em  Abrantes  junto 
de  D.  Joana. 

Começaram  depois  as  peregrinações  da  ex-Rainha  de 
Castella,  que  a  6  de  oitubro  de  1479  largou  os  titulos, 
ficou  sendo  apenas  a  Excelente  Senhora,  e  entrou  como 
noviça  no  mosteiro  de  Santa  Clara  de  Santarém.  Ali 
permaneceu  até  ao  começo  do  anno  seguinte,  em  que 
foi  transferida  para  o  mosteiro  de  idêntica  invocação 
em  Évora,  d'onde,  por  causa  da  peste,  foi  levada  para 
o  Vimieiro.  A  esta  vila  veio  ter  o  Príncipe. 

Tornaram-se  pois  a  avistar  os  dois  amantes,  e  cTaqui 
em  diante  precipitaram-se  os  acontecimentos. 

Do  Vimieiro  foi  conduzida  a  pobre  Princesa  com  a 
sua  corte  para  o  convento  de  Santa  Clara  de  Coimbra, 
onde,  terminado  o  anno  que  pelo  tratado  ella  tinha  para 
escolher  o  seu  destino,  professou  a  15  de  novembro 
de  1480. 

Foi  então,  nesta  estada  de  D.  Joana  em  Coimbra,  que 
tiveram  logar  os  encontros  do  Príncipe  com  D.  Ana  nos 
bosques  de  Cernaclie  do  Bom  Jardim,  se  é  verdadeira 


A  AMANTE  163 

a  tradição  conservada  por  Miguel  Leitão  de  Andrada  ', 
que  afirma  ter  sido  ali  gerado  o  Mestre  D.  Jorje,  nas- 
cido nove  meses  depois,  em  agosto  de  1481. 

Esta  vai  á  conta  de  Miguel  Leitão,  em  quem  me  fio 
muito  mais,  quando  me  narra  casos  sucedidos  em  Âlca- 
cerquibir,  onde  ficou  prisioneiro,  do  que  quando  me 
revela  segredos  passados  século  e  meio  antes. 

Mas,  confesso-o,  ainda  acredito  muito  mais  no  devoto 
de  Nossa  Senhora  da  Luz  do  Pedrógão,  quando  elle 
me  conta'  a  historia  de  um  seu  lacaio,  que,  embria- 
gando-se  na  Outra  Banda  num  dia  de  festa,  no  regresso 
para  Lisboa  se  atirou  tantas  vezes  ao  mar,  que  tiveram 
de  o  atar  na  barca.  E,  preguntando-se-lhe  depois  que 
mania  era  aquella,  respondeu : 

—  Quero  ser  peixe,  que  me  enfado  já  de  ser 
carne ! 

Esta,  é  verdadeira  com  certeza. 

Cada  bêbado  tem  a  sua  tineta ;  deixemo-los  em  paz, 
e  voltemos  a  coisas  sérias. 

Não  ha  duvida,  quer  o  caso  se  passasse  em  Cernache 
ou  noutra  parte,  que  foi  em  novembro  de  1480,  quando 
a  miseranda  D.  Joana  entrou  violentada  para  a  clausura, 
que  o  Príncipe  alcançou  a  massima  ventura  em  seus 
amores.  Não  ha  documento  para  o  certificar,  mas  apa- 
rece a  prova  viva  nove  meses  depois  na  pessoa  de 
D.  Jorje. 

Rui  de  Pina  e  Resende,  sem  outros  pormenores,  di- 
zem haver  elle  nascido  em  agosto  de  1481 2.  Lopo  de  Fi- 
gueiredo, no  seu  Tratado 3,  marca  c  dia  de  sábado  6  de 


1  Miscellanea,  paj.  632  da  ed.  de  1629. 

2  Chronica  de  D.  João  II,  eap.  43,  paj.  107;  Vido  de  D.  João  II, 
cap.  112,  fl.  64  v. 

3  Tratado  de  Lopo  de  Figueiredo,  em  que  se  contem  algumas  car- 
tas e  outras  cousas,  que  tocão  ao  caso  do  Duque  de  Bragança,  no 
vol.  I.  dos  Annacs  das  sciencias  e  letras  da  Academia,  paj.  412. 


104  ESTUDOS 

agosto;  mas  pelo  menos  numa  das  duas  indicações  se 
enganou:  o  bastardo  ou  não  nasceu  num  sábado,  ou 
não  teve  logar  o  sucesso  no  dia  ó  de  agosto,  que  foi 
segunda  feira.  Damião  de  Góes,  na  Chronica  do  príncipe 
D.  João',  põe  o  nascimento  em  Abrantes,  no  dia  de 
Santa  Clara,  e  por  tanto  a  12  de  agosto,  que  em  1481 
caiu  ao  domingo.  Mas  isto  são  minúcias  insignificantes 
para  o  caso,  porque  o  essencial  é  ter  D.  Jorje  nascido 
em  agosto.  Neste  ponto  estão  todos  concordes,  e  isso  é 
que  me  serve  para  poder  fazer  coincidir  o  tempo  da 
concepção  de  D.  Ana  com  o  da  profissão  de  D.  Joana 
em  Coimbra,  dando  assim  alguma  plausibilidade  á  lenda 
dos  bosques  de  Cernache,  por  Miguel  Leitão  conser- 
vada. 

Um  bocado  de  poesia  não  prejudica  esta  historia  de 
amores,  tão  violentos  quanto  efémeros. 

É  este,  a  pouca  duração  dos  amores  do  Príncipe,  o 
ponto  principal  do  presente  estudo.  Já  no  artigo  a  Des- 
cendência de  D.  João  II,  para  onde  remeto  o  leitor 
curioso  de  saber  os  mais  dados  biográficos  de  D.  Ana 
de  Mendoça,  mencionei  o  facto;  toquei-lhe  porem 
levemente  de  mais,  e  por  isso  a  elle  torno. 

Os  amores  de  D.  João  e  D.  Ana  cessaram  pouco  de- 
pois delle  subir  ao  trono. 

Diz  Rui  de  Pina,  e  no  citado  artigo  já  transcrevi  as 
suas  palavras,  que  D.  João  II  "no  auto  da  carne  ácerqua 
de  molheres,  despois  de  ser  Rey,  foi  sobre  todos  mais 
continente,,   '. 

O  mesmo,  quasi  por  idêntica  forma,  repete  Resende: 
"E  sendo  em  príncipe  muyto  amigo  de  molheres:  de- 
pois que  foy  rey,  foy  nisso  tam  temperado  e  casto;  que 


■>  Cap.  104,  paj.  269,  da  ed.  de  1905. 
5  Chronica  de  D.João  II,  paj.  197. 


A  AMANTE  165 

se  afirma  nunca  mais  conhecer  outra  mollier  senam 
a  sua-;  ". 

Contesta  Camilo  estas  palavras  do  cronista,  dizendo 
que  o  próprio  Rei  as  desmentiu,  "quando  em  anciãs  de 
morte  deixou  cair  a  penna  com  que  assignava  uma 
tença  para  D.  Anna  de  Mendonça,  e  desatou  a  cho- 
rar.- 

"Perguntam-lhe,  continua  o  romancista,  o  que  tem,  e 
sua  real  senhoria  responde:  que  era  tamanha  a  sua  fra- 
gilidade no  sexto  mandamento,  que  ao  mais  leve  aceno 
que  lhe  fizessem  acudia  logo  a  offender  a  Deus,,1.  O  itá- 
lico é  de  Camilo,  que  por  esta  forma  indicou  transcri- 
ção de  palavras  textuaes  s. 

Trasladarei  agora  o  respectivo  trecho  de  Resende 
para  se  ver  como  Camilo  fazia  historia:  "E  dando-lhe 
a  assinar  hum  padrão  de  certa  renda  que  deixou  a  dona 
Ana  de  Mendoça,  mãy  do  senhor  dom  Jorge  seu  filho, 
tendo  a  pena  na  mão  pêra  o  assinar  a  deyxou  cayr,  e 
começou  de  chorar  muito :  e  porque  o  confortavam 
disse.  Nã  me  conforteis,  que  eu  fuy  tã  mao  bicho  que 
nunca  me  acenaram  que  nã  mordesse,,  '*. 

Compare-se. 

Acrescentarei  que  este  caso  da  assinatura  do  padrão 
de  D.  Ana  é  uma  historieta  de  Resende,  omitida  pelo 
cronista  Rui  de  Pina  e  pelo  próprio  documento  des- 
mentida. 

Garcia  conta  o  caso  como  sucedido  em  Alvor  no  dia 
25  de  oitubro  de  1495,  no  próprio  em  que,  poucas  ho- 


6  Vida  de  D.foão  II,  no  cap.  preliminar. 

7  Narcóticos,  vol.  I,  paj.  32. 

8  E  são  palavras  textuaes,  como  descobri  depois  disto  escrito ; 
mas  não  de  nenhum  dos  cronistas.  Camilo  encontrou-as  a  paj.  341 
da  Vida  de  D.  João  II  de  D.  Agostinho  Manuel  de  Vasconcellos. 
Este  por  tanto  é  que  alterou  os  dizeres  de  Resende. 

9  Vida  de  D.João  II,  cap.  211,  fl.  121  v. 


1 66  ESTUDOS 

ras  depois,  D.João  II  faleceu.  Pois  a  carta  de  padrão  da 
tal  renda  a  D.  Ana  foi  assinada  nas  Alcáçovas,  um  mes 
antes,  a  24  de  setembro  '". 

Et  voilà  comment  on  écrit  Vhistoirel 

Os  amores  de  D.  João  II  com  D.  Ana  de  Mendoça 
terminaram,  repito,  pouco  depois  da  elevação  delle  ao 
trono.  Assim  o  declaram  os  cronistas.  Podem  elles  po- 
rem parecer  suspeitos,  sobretudo  Garcia  de  Resende; 
mas  existe  outro  testemunho,  o  qual,  concordando  com 
o  delles,  faz  prova  completa. 

Este  testemunho  decisivo  é  o  de  um  contemporâneo, 
amigo  de  D.  Manuel,  amigo  do  Duque  de  Bragança, 
amigo,  em  suma,  de  todos  os  inimigos  de  D.  João  II. 
É  elle  o  dr.  Diogo  Pinheiro,  posteriormente  Bispo  do 
Funchal. 

As  suas  palavras  no  Manifesto  em  que  se  mostra  a 
innocencia  do  duque  de  Bragança  são  estas:  "E  quanto 
ao  que  se  escrevia  á  cerca  de  Donna  Anua  para  se  aver 
dapartar  DelRey,  quem  pode  dizer  senom,  que  isto  era 
grande  virtude.  Cá  sabido  está,  que  nunca  EIRey,  que 
Deos  aja  se  pôde  apartar  delia,  posto  que  por  EIRey 
Dom  Affonso,  seu  Padre,  e  por  Confessores,  e  outros 
muytos  lhe  fosse  desdito;  salvo  á  instancia  da  Rainha 
de  Castella,  per  cuja  cauza  e  respeito  a  elle  lei- 
XOUm    ll. 

Só  durante  as  terçarias,  findas  em  maio  de  1483,  é 
que  D.  João  II  atenderia  aos  rogos  de  D.  Isabel  de  Cas- 
tella. Depois  delias,  quando  já  tinha  o  filho  outra  vez 
em  seu  poder,  não  se  importaria  muito  com  os  pedidos 
da  Rainha  Católica,  sobretudo  sendo  elles  contrários  ao 
seu  gosto. 


'"  A  carta  de  padrão  encontra-se  transcrita  na  de  confirmação,  dada 
em  Montemor  o  Novo  a  18  de  janeiro  de  1496,  a  qual  está  rejistada 
a  fl.  82  v.  do  liv.  32.°  da  Chancelaria  de  í).  Manuel. 

11  Provas  da  Historia  genealógica,  vol.  III,  paj.  648. 


A  AMAN  I  I  167 

Não  o  comoveram  as  suplicas  de  ninguém;  e  nem 
sequer  as  lagrimas  e  paixão  de  sua  mulher  a  Rainha 
D.  Leonor,  que  tanto  sentiu  a  infidelidade  do  marido,  o 
enterneceram.  Nada  disto  o  demoveu;  só  a  politica,  a 
que  tudo  sacrificava,  pôde  vencer  o  amor. 

E  depois  do  rompimento,  que  foi  feito  de  D.  Ana?- 
É  difícil  responder. 

Tiraram-lhe  o  filho,  é  certo;  e  certo  também  parece 
ter  cila  deixado  o  serviço  da  Excelente  Senhora.  Pelo 
menos  não  conheço  documento  nem  livro  digno  de  fé, 
que  asseverem  o  contrario. 

Então,  que  destino  teve  ella? 

Dois  alvitres  me  ocorrem,  mas  por  nenhum  me  posso 
decidir  por  falta  de  prova:  ou  ficou  entregue  á  Con- 
dessa de  Abrantes  D.  Brites  da  Silva,  Camareira  mor  que 
fora  de  D.  Joana;  ou  foi  logo  recolhida  no  mosteiro  de 
Santos,  onde  então  já  devia  ser  Comendadeira  D.Vio- 
lante Nogueira,  tia  de  D.  Ana. 

D.  João  II  depositava  a  massima  confiança  nos  Almei- 
das Condes  de  Abrantes.  Ao  l.o  Conde,  D.  Lopo,  entre- 
gara a  guarda  da  Excelente  Senhora;  ao  2. o  Conde, 
D.  João,  Vedor  da  Fazenda  durante  todo  o  seu  reinado, 
confiou  o  Mestre  D.  Jorje,  quando  em  1491  teve  de  o 
tirar  do  paço.  Não  é  pois  para  admirar  ter  ficado  D.  Ana 
em  Abrantes,  onde  já  lhe  nascera  o  filho,  conforme  asse- 
vera Damião  de  Góes,  até  entrar  para  o  mosteiro  de 
Santos,  ou  em  1502,  como  recolhida  depois  da  morte  da 
Condessa  '*  ou  em  1508,  gozando  já  do  predicamento 
de  comendadeira.  E  tanto  menos  é  isto  para  admirar, 
quanto  é  certo  haver  entre  ella  e  os  Almeidas  umas  re- 
motas relações  pelos  Nogueiras. 

Este  ponto  é  duvidoso;  o  da  quebra  porem  é  certo. 

Pois  crêem  que,  se  as  relações  com  D.  Ana  tivessem 

12  Livro  3.o  dos  Brasões  de  Cintra,  paj.  277. 


168  ESTUDOS 

continuado,    os    bastardos    ficariam    só    em    D.   Jorje? 
Nada. 

D.  João  II  não  era  D.  Manuel,  que  foi  rei  num  país 
meridional  em  tempos  da  Renascença,  e  nunca  se  lhe 
conheceu  amante  l::! 

Aldeia,  12  de  fevereiro  de  1902. 


13  Numa  nota,  na  paj.  53  do  Bernardim  Ribeiro  e  o  Bucolismo 
do  dr.  Teófilo  Braga,  lê-se:  "Em  uma  indicação  do  snr.  Visconde  de 
Sanches  de  Baena  encontrámos:  "Ha  já  bastantes  annos  que  li  num 
•velho  Martuscripto,  sem  lhe  ligar  importância:  que  o  rei  D.  Manuel 
tivera  uma  filha  líuma  dama  alemtejana,  a  qual  veia  morrer  a 
Cintra.  A  filha  que  o  dito  rei  li  ouve  na  tal  dama,  foi  mandada  pelo 
mesmo  rei  e  pae  para  o  convento  de  Odivellas.  ■  ■ 
E  pura  fantasia  de  genealojista,  sem  base  nenhuma,  nem  sequer 
em  lenda,  fantasia  a  que  nenhuma  importância  se  deveria  ligar  e 
pena  foi  que  o  ilustre  Professor,  não  só  a  tal  patranha  se  referisse, 
mas  ainda  se  detivesse  a  querer  identificar  aquella  suposta  filha  bas- 
tarda de  D.  .Manuel,  com  a  mulher  muito  moça  sepultada  no  mos- 
teiro de  Odivellas  a  quem  Borjes  de  Figueiredo,  na  sua  muito  con- 
cienciosamente  elaborada  monografia,  O  mosteiro  de  Odivellas,  se 
refere  no  cap.  XII,  paj.  193-208.  Pode  talvez  a  tal  mulher  muito  moça 
não  haver  sido  Maria  Afonso,  filha  bastarda  de  I).  Dinis,  com  quem 
Borjes  de  Figueiredo,  muito  judiciosamente  a  meu  ver,  a  identificou: 
pode  não  ser,  mas  certamente  não  foi  filha  nem  contemporânea  de 
filhos  de  D.  Manuel.  Basta  reparar  para  o  aspecto,  disposição  e 
ornamentação  d  i  tumulo,  basta  ver  a  inequívoca  forma  e  lavrado 
dos  escudos  tias  armas,  para  se  adquirir  logo  a  certeza  de  ter  diante 
dos  olhos  um  monumento  medievo,  de  séculos  anteriores  ao  xvi. 
1  5tOU  persuadido  que  o  dr.  Teófilo  Braga  não  vio  a  estampado 
tumulo,  a  qual,  não  sei  por  que  motivo,  em  vez  de  estar  entre  as 
pajinas  daquelle  capitulo,  se  encontra  muito  mais  adiante,  em  frente 
da  pajina  300;  estou  disso  persuadido,  porque,  se  o  ilustre  Professor 
a  tivesse  visto,  de  certo  se  não  deixaria  arrastar  pela  fantasia  genealo- 
jica. 

Vem  tudo  isto  para  confirmação  da  minha  asserção  do  texto,  de 
a  D.  Manuel  nunca  se  ter  conhecido  amante. 


IX 


MA  BATALHA 


Na  terça  feira,  26  de  novembro  de  1901,  pelas  quatro 
horas  da  tarde,  chegou  á  igreja  do  extincto  convento 
de  Santa  Maria  da  Victoria,  na  vila  da  Batalha,  o  Go- 
vernador civil  do  districto  de  Leiria,  dr.  José  dos  Santos 
Pereira  Jardim.  Aguardavam-n-o  varias  pessoas,  e  com 
ellas  se  encaminhou  logo  para  a  primeira  capella  do 
lado  da  epistola,  no  cruzeiro  do  templo,  na  qual  se 
guardavam  provisoriamente,  havia  séculos,  apenas  com 
um  breve  intervalo  anterior  a  1840,  dentro  de  uma  sin- 
gela eça  feita  de  taboas  pintadas  de  preto,  os  restos  de 
D.  João  II. 

Mandou  a  autoridade  levantar  a  tampa  da  eça,  e  de 
baixo  delia  apareceu  uma  caixa  de  madeira,  tosca, 
completamente   lisa,   sem    letreiro    nem   sinal  nenhum. 

O  receptáculo,  de  muito  menor  comprimento  do 
que  a  estatura  de  um  homem,  denotava  ter  a  primi- 
tiva urna  desaparecido,  e  haver  esta  sido  feita,  ou  apro- 
veitada, para  guardar  os  ossos  de  D.  João  II,  quando 
já  o  cadáver  estava  em  parte  desmembrado. 

Aberta  a  caixa,  apareceu  a  triste  múmia  do  grande  Rei. 

Estava  ella  deitada  de  costas,  conhecendo-se  que  era 
de  varão,  mas  existindo  apenas  desde  o  maxilar  inferior 
até  aos  joelhos.  Os  braços,  separados  do  tronco,  viam- 
se   deitados   a   seu   lado;    o   esquerdo,   descarnado  no 


170  F.STUDOS 

umero,  e  faltando-lhe  os  dedos  da  mão;  o  direito,  tra- 
zendo agarrado  o  omoplata,  e  conservando  a  mão  toda, 
menos  a  ultima  falanje  do  dedo  médio.  As  pernas,  pega- 
das ao  iliaco  e  seguras  ao  tronco  pelos  tecidos,  estavam 
descarnadas  para  a  banda  dos  joelhos,  onde  a  múmia 
findava.  (3  tronco,  de  peito  alto,  era  por  diante  ainda 
todo  revestido  de  pelle,  faltando-lhe  esta  apenas  por 
de  traz,  ao  longo  da  espinha,  completa  até  ao  axis.  Pelo 
arrancamento,  que  o  desaparecido  craneo  padecera,  o 
maxilar  inferior  ficara  descarnado  desde  os  condilos 
até  prossimo  do  queixo,  onde  ainda  existe  penujem. 
Na  caixa  encontravam-se:  uma  tíbia,  uma  rotula,  e  ou- 
tros ossos  pequenos  por  elia  dispersos;  vestijios  de  rou- 
pas não  havia. 

Pedi  ao  Governador  civil  para  consentir  que  se  tiras- 
sem algumas  medidas  áquelles  restos,  e  essa  operação 
foi  feita  com  o  massimo  respeito  e  toda  a  veneração, 
áquellas  relíquias  devidos,  pelo  meu  amigo  o  Major  de 
artilharia  António  Bernardo  de  Figueiredo  ',  que,  junta- 
mente com  D.  Jorje  de  Mello,  foi  meu  companheiro 
nesta  piedosa  peregrinação. 

O  fémur  media  513  milímetros,  desde  a  espinha  iliaca 
até  á  sua  base  inferior;  a  tibia,  entre  topos,  370;  o  umero 
esquerdo,  317;  o  antebraço  do  mesmo  lado,  260;  a  mão 
direita  até  á  penúltima  falanje  do  dedo  médio,  153.  Da 
estremidade  superior  do  sterno  até  á  sinfise  púbica,  me- 
diram-se  523  milímetros ;  da  estremidade  exterior  da 
clavícula  á  espinha  iliaca,  454.  A  circumferencia  torá- 
cica, na  altura  da  ponta  do  sterno,  deu  714  milímetros; 
a  abertura  da  bacia  iliaca,  240;  a  distancia  entre  as  es- 
tremidades    exteriores   das   clavículas,   294;   e  entre  as 


1  Faleceu  este  distinctissimo  oficial  cTali  a  quatro  meses,  a  29 
de  março  de  l1)!)'^,  chorado  por  todos  os  seus  amigos,  que  eram 
muitos. 


NA   BATALHA  171 

estrem idades  exteriores  dos  omoplatas,  342,  sendo  o 
comprimento  destes,  137. 

O  maxilar  inferior,  nnico  existente,  tem  um  só  dente, 
que  está  são,  e  é  o  segundo  molar  esquerdo.  Medidas 
no  maxilar:  distancia  entre  os  pontos  exteriores  dos  con- 
dilos,  110  milímetros;  em  esquadria:  catéto  vertical 
do  rebordo  alveolar,  84  milímetros;  catéto  horizontal 
dos  condilos,  109. 

Estas  foram  as  medidas  que  eu  ia  assentando,  ao  passo 
que  o  meu  referido  amigo  as  tirava.  São  de  certo  defi- 
cientes, digo  isto  sem  receio  de  ofender  a  memoria  do 
medidor,  porque  elle  não  era  antropolojista,  e  o  Gover- 
nador civil,  apesar  de  medico  e  de  nos  ter  auxiliado 
muito,  não  o  pôde  fazer  comtudo,  tanto  quanto  desejaria, 
distraído  pelas  suas  funções.  Alem  da  nossa  ignorância, 
faltavam-nos  também  os  aparelhos  próprios  e  indispen- 
sáveis para  rigorosas  medições  daquellas,  os  quaes,  nem 
adivinhando  a  sua  necessidade,  encontraríamos  facil- 
mente á  venda  para  os  podermos  levar.  Por  isso  não 
se  mediram  os  dois  ângulos  do  maxilar  inferior,  aos 
quaes  os  compêndios  de  antropolojia  tamanha  impor- 
tância ligam. 

Parece  que  os  altos  poderes  do  Estado  não  deveriam 
ter  perdido  esta  ocasião,  única  talvez,  de  mandar  estu- 
dar por  especialistas  aquelles  restos  de  D.  João  II  e  dos 
outros  príncipes,  procurando  arrancar-lhes  o  seu  segre- 
do. Não  o  fizeram  comtudo,  e  não  deverei  eu  condena- 
los  por  essa  omissão,  que  outros  acharão  imperdoável, 
mas  que  me  proporcionou  a  enorme  satisfação  de  ter 
podido,  por  iniciativa  própria,  até  certo  ponto  remediar 
a  falta. 

Terminada  a  medição,  colocaram-se  com  todo  o  res- 
peito, a  múmia  e  os  ossos  desunidos,  na  nova  urna  de 
madeira,  nada  magnifica,  destinada  a  guardar  as  pre- 
ciosas relíquias  no  seu  definitivo  jazigo.  Então  o  Oo- 


172  ESTUDOS 

vernador  civil,  com  uma  delicadeza  pela  qual  lhe  ficarei 
sempre  gratíssimo,  entregou-me  a  chave  para  fechar  a 
caixa.  Teve  pois,  a  mão  que  está  escrevendo  estas  li- 
nhas, a  honra  suprema  de  ter  fechado  a  urna  em  que 
estão  encerrados  os  restos  do  REI! 

Em  seguida  pegaram  nas  argolas  da  urna  e  levaram- 
na  para  a  sacristia  as  seis  pessoas  seguintes:  o  Gover- 
nador civil  do  districto  de  Leiria,  dr.  José  dos  Santos 
Pereira  Jardim ;  o  Presidente  da  Camará  Municipal  da 
Batalha,  Joaquim  de  Sales  Simões  Carreira;  D.  Jorje 
de  Mello,  Oficial  mor  da  Casa  Real ;  António  Bernardo 
de  Figueiredo,  Major  de  artilharia;  Júlio  Mardel,  Vogal 
da  Comissão  dos  Monumentos  Nacionaes;  e  eu  *-'. 

De  toda  esta  ceremonia  nenhum  auto  se  lavrou,  por- 
que o  Governo  para  tal  não  deu  ordens.  D,  João  II, 
mesmo  em  múmia  assarapanta-o. 

Da  sacristia  passámos  para  a  Casa  do  Capitulo,  onde, 
em  duas  eças  semelhantes  á  que  continha  os  restos  de 
D.  João  II,  se  guardavam  os  ossos  de  seus  pais  e  de  seu 
filho. 

Começou-se  pela  que  tinha  a  indicação  de  encerrar  a 
ossada  de  D.  Afonso  V.  Afastada  a  cubertura,  encon- 
trou-se   uma   caixa   de   madeira  com  duas  tampas  de 


'-'  Dias  depois,  contaram  os  jornaes  todos,  quando  se  celebraram 
as  solenes  trasladações  dos  réjíos  despojos  para  a  capella  do  Funda- 
dor, na  presença  da  família  real,  membros  do  governo  e  da  corte,  e 
muitas  mais  pessoas,  pegaram  ás  argolas  ela  frente  da  urna  com  os 
de  D.  Joio  II,  á  direita  o  Príncipe  Real,  á  esquerda  o  Infante 
I ).  Manuel. 

Voltas  que  o  mundo  dá!  o  Príncipe  era  então  o  Duque  de  Bra- 
gança; o  Infante  o  Duque  de  Beja.  Vieram  por  tanto,  quatro  séculos 
depois,  os  representantes  dos  dois  duques  por  D.João  II  justiçados 
por  contra  sua  vida  terem  conspirado,  a  conduzir  em  triunfo  as  suas 
relíquias! 

Se  no  outro  mundo  alguma  coisa  se  soubesse  dô  que  neste  ocorre, 
Iiunjentissi  mas  recordações  acudiriam  por  certo  ao  espirito  de  D.  João  II. 

Advertirei,  apesar  de  quasi  desnecessário,  que  o  Duque  de  Viseu 
de  1484,  também  era  Duque  de  Beja. 


NA   BATALHA  173 

pedra,   uma   mais  alta  do  que  a  outra.  Naquella  leu-se 
esta  inscrição: 

Aqui  jaz  a  ossada  do  seireiss~io  Sor 
el  Rey  dõ  a°  qujnto: 

Na  tampa  mais  baixa  estava  este  letreiro: 

Aquy  Jaz  lia  Sor"  Raynlia  dona  yssabell 
molher  dei  Rey  dõ  afonso  ho  qtíyto  q  a"s  aja 

Ambas  em  letra  gótica  desses  tempos. 

A  caixa  de  madeira  estava  dividida  ao  meio  por  uma 
taboa,  os  ossos  porem  achavam-se  misturados  num  e 
noutro  compartimento,  e  não  se  encontraram  só  os  dos 
dois  conjujes,  também  lá  se  viam  o  sterno,  o  maxilar 
inferior,  e  outros  ossos  de  uma  criança,  provavelmente 
aquella  que  ao  nascer  tirou  a  vida  a  sua  mãe. 

Todos  estes  restos  foram  reunidos  dentro  noutra 
urna  de  madeira,  parecida  com  a  que  serviu  para  os 
de  D.  João  II,  mas  mais  pequena. 

Fechada  esta  caixa,  procedeu-se  á  exhumação  dos 
ossos  do  Príncipe  D.  Afonso. 

Apareceram  elles  dentro  de  um  pequeno  baú  de  pe- 
dra, tendo  numa  das  faces  da  tampa  esta  mutilada  ins- 
eri pção  : 

Aqy  Jaz  a  ossada  do  ilhisf  Sor . . .  o  pincipe  d . . . 
hõso  Sor  el  Rey  dõ  Joã  seg 


O  craneo  encontrado  nesta  caixa,  é  grande  e  lindo, 
e  pelo  dilaceramento  dos  tecidos  parece  ter  sido  arran- 
cado. Encontra-se  separado  do  maxilar  inferior,  tendo 
sido  portanto  desarraigado  pela  mesma  parte  por  onde 


174  ESTUDOS 

o  foi  o  craneo  de  D.  João  II.  A  coincidência  feria  por 
tal  forma,  que  António  Bernardo  de  Figueiredo,  ao  pegar 
na  lúgubre  relíquia,  exclamou:  "Aqui  temos  o  craneo 
de  D.  João  II !„  Não  nos  atrevemos  a  leval-o,  a  ver  se 
ajustava  na  mutilada  múmia  dei  Rei;  não  nos  achávamos 
autorizados  para  tal,  c  pareceu-nos  até  que  seria  desres- 
peito pelos  mortos. 

Que  falta  não  fizeram  aqui  os  antropologistas?  Mas 
elles  ficaram  na  Universidade,  ou  em  suas  casas,  porque 
o  Governo  os  não  convocou,  e  o  amor  pela  ciência  os 
não  estimulou. 

Encerrados  os  despojos  do  Príncipe  noutra  urna  igual 
á  de  seus  avós,  pegaram  quatro  pessoas  em  cada  uma 
delias  e  transferiram-nas  para  a  sacristia  também.  A  dos 
Reis  foi  levada  por  D.  Jorje  de  Mello,  António  de  Fi- 
gueiredo, Mardel,  e  eu ;  a  do  Príncipe  pelo  Governador 
civil,  Presidente  da  camará,  e  outros  dois  indivíduos 
cujos  nomes  ignoro. 

Era  noite  fechada  quando  saímos  da  sacristia.  A  nave 
da  igreja  parecia  um  abismo  de  trevas.  Fomos  descendo 
alumiados  pela  luz  amarelada  de  duas  ou  três  velas, 
ténue  claridade  que  ainda  mais  fazia  destacar  o  negrume 
dos  lonjes  daquelle  quadro  profundamente  melancólico! 
Entrámos  na  capella  do  Fundador,  levados  lá,  uns  para 
me  mostrarem  umas  coisas,  outros,  e  eu  com  esses,  para 
saudarmos  á  despedida  o  dono  da  casa. 

Na  capella  do  Fundador  mostrei,  por  dois  motivos, 
concordar  com  as  observações  que  me  foram  feitas: 
primeiro,  porque  detesto  prelecções  em  publico;  segun- 
do, porque  minúcias  históricas  não  se  tratam  de  impro- 
viso. Agora,  aqui,  socegadamente,  farei  as  considerações 
que  entendo,  c  que  se  referirão  aos  emblemas  esculpi- 
dos nos  frontaes  das  novas  sepulturas. 

Começarei  pelo  de  D.  Afonso  V. 


NA   BATALHA  175 

Pelo  meio  de  uma  elegante  e  muito  ornada  folhajem 
de  hera,  vêeifi-se  três  escudos. 

O  do  centro  tem  uma  cruz,  e  circumdando-o  um 
listão  com  a  divisa  Honni  soit  qui  mal  y  pense. 

O  da  direita,  esquerda  do  espectador,  é  partido:  o  I 
das  armas  do  reino  com  os  escudetes  das  quinas,  os 
dos  flancos  apontados  ao  do  meio,  e  na  bordadura  dez 
castellos  dispostos  entre  as  quatro  pontas  de  uma  cruz 
florida;  o  II,  esquartelado:  no  l.o  e  4.°,  as  armas  do 
reino,  como  as  precedentes,  diferençadas  porem  por 
um  banco  de  pinchar  de  três  pendentes;  no  2.°  e  3.°, 
três  leopardos  sotopostos  em  pala. 

O  escudo  da  esquerda,  finalmente,  tem  as  armas  do 
reino  inteiras,  como  se  vêem  na  primeira  pala  do  pre- 
cedente, tirante  a  diferença. 

O  escudo  do  meio  é  a  insígnia  da  Ordem  da  Jarre- 
teira,  o  da  direita  tem  as  armas  da  Rainha  D.  Isabel  e 
o  da  esquerda  as  de  D.  Afonso  V. 

Notarei  primeiro,  por  ser  o  menos  importante,  a  dis- 
posição dos  escudos.  Atendeu- se  para  ella  á  análoga 
ordem  que  se  encontra  na  sepultura  do  Infante  D.  Pe- 
dro, na  qual  se  vê  no  centro  o  escudo  da  Jarreteira,  á 
direita  o  da  Infanta  D.  Isabel,  e  só  á  esquerda  é  que 
estão  as  próprias  armas  de  D.  Pedro.  Não  se  reparou 
que  no  tumulo  do  Infante  D.  João  a  colocação  dos 
escudos  é  bem  diferente,  vendo-se  no  meio  as  armas 
de  sua  mulher,  e  aos  lados,  á  direita,  as  da  Ordem  de 
Santiago,  e  á  esquerda,  as  do  Infante.  Já  por  aqui  se 
devia  ter  percebido  que  não  presidiu  um  sistema  idên- 
tico para  a  disposição  dos  escudos  nos  jazigos  dos  dois 
Infantes  casados,  que  estão  na  capella  do  Fundador. 

Não  se  reparou  nisto,  mas  sobretudo  não  se  reflectiu 
que  eram  filhos  segundos  aquelles  Infantes,  ao  passo 
que  D.  Afonso  V  era  o  Rei,  o  chefe  da  família,  devendo 
por  tanto  as  suas  armas  preferir  a  todas,  e  para  ellas  se 


17Ó  ESTUDOS 

havia  de  reservar  o  centro,  o  primeiro  logar.  Isto,  os 
menos  versados  em  heráldica  sabem. 

Mas,  peor  do  que  tudo  é  o  seguinte. 

Deslocaram  do  seu  próprio  logar  as  armas  do  Rei 
para  as  substituir  pelas  da  Ordem  da  Jarreteira,  da  qual 
D.  Afonso  V  não  foi  companheiro! 

Este  facto  é  que  deve  obrigar  a  uma  imediata  subs- 
tituição do  frontal  da  sepultura  de  D.  Afonso  V;  e  então 
ponham-lhe  no  meio  as  armas  do  reino,  á  direita  as  da 
Rainha,  e  á  esquerda  a  empresa  dei  Rei,  se  quiserem, 
ou  o  escudo  das  armas  de  que  elle  usou  no  tempo'  em 
que  se  intitulava  Rei  de  Castella,  as  quaes  encontrarão 
na  gravura  de  um  selo  no  IV  vol.  da  Historia  ge- 
nealógica. 

O  indispensável,  é  tirar  d'ali  as  insígnias  da  Ordem 
da  jarreteira. 

Não  se  encontram  vestijios  nenhuns  de  ter  D.  Afonso  V 
sido  companheiro  daquella  celebre  Ordem.  Não  se  en- 
contram vestijios  nem  nos  documento  portugueses,  nem 
nos  ingleses. 

Nos  nossos  nunca  vi  nenhum  em  que  a  tal  facto  haja 
referencia;  mas  isso,  olhando  á  minha  insuficiência, 
pouco  valerá.  Nos  documentos  ingleses  consultados  pelo 
Visconde  de  Santarém,  cuja  autoridade  está  solidamente 
assente,  também  nada  aparece.  No  XIV  vol.  do  Quadro 
dementar  teve  o  seu  ilustre  autor  o  cuidado  de  indicar 
sempre  todas  as  referencias,  que  a  investiduaras  de  ca- 
valeiros portugueses  na  Ordem  da  Jarreteira,  encontrou. 
Lá  nos  aponta  elle  el  Rei  D.  Duarte  no  anno  de  1435 
(paj.  1S2);  o  Infante  D.  Pedro,  em  1436  (paj.  186);  o  In- 
fante D.  Henrique,  pelos  annos  de  1444  (paj.  cliii);  Ál- 
varo de  Almada,  em  1445  (paj.  203);  D.  João  II,  em 
1490  (paj.  clxxii  e  236). 

No  catalogo  dos  cavaleiros  da  Ordem  da  Jarreteira, 
introduzido   por  Joseph    Edmondson    no   seu   livro  A 


NA   BATALHA  177 

complete  body  of  fieraldry,   também  se  não  encontra 

I ).  Afonso  V  nomeado  '. 

Não  sei  quem  deu  o  risco  para  a  ornamentação  do 
frontal  da  sepultura  deste  rei;  mas  foi  pena  que  tivesse 
tão  pouco  estudado  o  caso. 

Segue-se  o  tumulo  de  D.  João  II. 

A  ornamentação  é  feita  com  a  folhajem  de  uma 
espécie  de  caniços.  É  severa,  mas  por  isso  me  agrada 
a  escolha  para  tal  pessoa.  Ao  meio  está  um  escudo  das 
armas  do  reino  com  os  cinco  escudetes  das  quinas,  todos 
direitos  em  cruz,  e  com  os  sete  castellos  na  bordadura, 
tal  qual  hoje  se  vêem  em  toda  a  parte.  Á  direita  do 
escudo,  o  celebre  pelicano;  á  esquerda,  o  não  menos 
celebre,  mas  mais  misterioso,  camaroeiro,  ou  covo  de 
rede. 

Aqui  a  disposição  está  boa.  As  armas  do  Rei,  do  chefe 
da  família,  no  meio.  Pena  é  comtudo  que  ellas  não 
estejam  correctas. 

Sei  d'onde  proveio  o  engano. 

Garcia  de  Resende  no  capitulo  58  da  Vida  de  D.João  II, 
descrevendo  as  mudanças  mandadas  fazer  por  el  Rei  em 
1487  nas  armas  reaes,  arremata  dizendo,  terem  el 
ficado  "da  maneira  em  que  agora  andam,,.  Quem  fez  o 
desenho  para  o  frontal  não  lhe  ocorreu  que  era  o  do 
tempo  de  Resende  o  agora  da  crónica,  e  não  o  do 
xix  século. 

Olharia  talvez  para  documentos  coevos,  mas  nesse 
caso  só  viu  as  moedas,  nas  quaes  se  adoptou  efectiva- 
mente o  numero  de  sete  castellos;  mas  esqueceu-se  de 
reparar  para  outros  monumentos. 

Nos  selos  reaes  (vem   um   na  Historia  genealógica, 


J  Çnrita  nos  Analcs  de  Aragon,  vol.  IV,  fl.  241  v.,  referindo-se  a 
D.  Afonso  V,  diz:  "el.  Rey  de  Portugal  trava  la  empresa  de  los  Reyes 
de  Inglaterra  de  la  Jarretea,,.  Mas  nem  Pulgar,  nem  Rui  de  Pina  men- 
cionam o  facto  nas  suas  crónicas. 

12 


17S  ESTUDOS 

vol.  IV,  estampa  X,  n."  lxvi)  encontram-se  dez  castellos 

na  bordadura;  no  Livro  dos  Copos,  mandado  fazer  por 
I).  João  II,  vê-se  por  baixo  do  seu  retrato  o  escudo  com 
treze  castellos;  no  Mestre  das  sentenças  de  Pedro  Lom- 
bardo, mandado  fazer  em  1494  por  D.  Jocão  II  para  o 
Duque  de  Beja,  são  nove  os  castellos;  na  fl.  42  do  Li- 
vro do  Amieiro  mór,  acabado  em  1509,  são  treze  cas- 
tellos; no  Livro  da  nobreza  perfeiçam  das  armas,  ete.,  o 
famoso  livro  de  armaria  guardado  na  Torre  do  Tombo, 
o  qual  foi  mandado  fazer  por  D.  Manuel  a  António  Go- 
dinho expressamente  para  emendar  e  acertar  as  armas 
das  Iinhajeris  do  reino,  vêem-se  as  dei  Rei  com  oito  cas- 
tellos na'  bordadura. 

Muitos  outros  padrões  coevos  hão  de  existir,  que  me 
não  ocorrem  agora,  pelos  quaes  se  provará  também 
que  as  armas  do  reino,  depois  da  reforma  ordenada  por 
D.  João  II,  não  ficaram  reduzidas  a  sete  castellos  na 
bordadura,  mas  que  nesta  o  numero  daquellas  peças 
foi  muito  variável. 

Observar-me-hão  que,  tendo-se  adoptado  para  as 
moedas  o  numero  dos  sete  castellos,  se  acertou  esco- 
lhendo este  para  as  armas  do  tumulo  de  D.  João  II.  Eu 
porem  direi,  que  não  me  conformo  com  essa  opinião, 
não  só  porque  dou  muito  mais  valor  ao  selo  pessoal 
dei  Rei  e  aos  livros  por  elle  mandados  fazer,  mas 
até  porque  nas  moedas  as  armas  do  reino  encontram-se 
com  muita  variedade.  Umas  com  a  bordadura  dos  sete 
castellos;  outras  só  com  as  quinas,  sem  a  bordadura;  e 
finalmente  nalgumas  as  quinas  misturadas  com  quatro 
castellos.  Alem  disto,  em  questões  de  heráldica  nesses 
tempos,  é  indiscutível  a  autoridade  dos  livros  de  arma- 
ria; e  esses  são  ambos  conformes  em  porem  mais  de 
sete  castellos  na  bordadura  das  armas  do  Rei. 

O  certo,  por  tanto,  é  que  o  numero  de  castellos  era 
arbitrário,  mas  atendia-se  a  uma  coisa,  que  tinha  então 


NA   BATA!  HA  179 

grande  valia,  á  arte.  Aquelle  escudo  que  está  na  Bata- 
lha, em  vez  de  ter  na  bordadura  os  pobres  sete  castel- 
los,  perdidos  uns  dos  outros,  deixando  enormes  lisos 
entre  elles,  ficaria  muito  mais  elegante  e  artístico,  muito 
mais  ornado  e  rico,  se  o  numero  de  castellos  fosse 
maior.  E  mão  só  mais  ornado,  mas  mais  correcto  tam- 
bém. 

Talvez  que  o  leitor  ache  estas  coisas  mínimas;  pois 
creia  que  não  ha  minúcias  exajeradas,  quando  se  trata 
de  restabelecer  a  verdade  em  assuntos  historios. 

Passarei  ao  terceiro  tumulo,  o  do  Príncipe  D.  Afonso. 

Neste,  por  entre  a  ornamentação  de  rosas,  a  menos 
feliz  de  todas,  vêem-se  três  escudos  iguaes,  tendo  escul- 
pidas as  armas  do  reino  como  as  de  D.  João  II,  dife- 
rençadas apenas  por  um  banco  de  pinchar  de  três  pen- 
dentes. É  monótono,  e  deveriam  substituir-se  as  armas 
dos  escudos  lateraes  pelas  das  Ordens  de  Santiago,  á 
direita,  e  de  Avis,  á  esquerda,  por  isso  que  o  Príncipe 
foi  mestre  dambas  ellas. 

Aqui  porei  ponto  nas  minhas  considerações,  que  terão 
talvez  a  desgraça  de  não  agradar  a  ninguém. 

Aldeia,  28  de  novembro  de  1901. 


APÊNDICE 


Autto  de  remoção  dos  despojos  mortaes  do  Snr.  D.Joam  2.<~>  Rey 
de  Portuga/  e  dos  Algarves  etc. 

Anuo  do  Nascimento  de  Nosso  Senhor  Jczus  Cliristo  de  mil  oitto 
centos,  e  quarenta  em  o  primeiro  dia  do  mez  de  Junho  em  o  Templo 
de  Nossa  Senhora  da  Victoria,  hoje  Matriz  desta  Freguezia  da  villa 
da  Batalha  com  o  Orago  Santa  Cruz  — onde  eu  Escrivam  vim  com 
d  Admenistrador  do  Concelho  desta  villa  Joam  Rodrigues  Antunes, 
ahi  perante  o  Reverendo  Parodio  da  mesma  o  Padre  António  Pe- 
reira das  Neves  pelo  Conselheiro  Inspector  Geral  das  obras  publicas 
do  Reino  o  Excellentissimo  Luiz  da  Siva  Mozinho  e  Albuquerque 
foi  mandada  fazer  remoçam  dos  despojos  mortaes  do  Senhor  Dom 
Joam  Segundo  Rey  de  Portugal,  e  Algarves,  da  Capella  Real,  onde 
jaz  o  fundador  do  mesmo  Templo  o  Senhor  Dom  Joam  o  primeiro, 
e  onde  decente  e  provizoriamente  estavam  emquanto  se  reconstruio 
o  novo  tumulo,  para  este,  que  se  acha  situado  na  parte  direita  do 
cruzeiro  do  mesmo  Templo  na  Capella  de  Nossa  Senhora  da  Pie- 
dade immediata  á  Capella  Mór,  e  ahi  metidos  em  hum  ataúde  de 
madeira  de  fora  em  forma  de  caixa  fexada  com  chave  de  metal 
amarei  lo  foram  postos  em  sima  do  novo  tumulo,  e  por  sima  de  tudo 
hua  campa  de  madeira  pintada,  com  o  Epitáfio  -  Hic  jacet.  Ioannes 
Secundus  Portugaliae,  et  Algarbiorum  Rex  onde  tudo  ficou:  rece- 
bendo a  chave  respectiva  o  ditto  Excellentissimo  Conselheiro  Ins- 
pector, que  disse  a  remettia  para  a  Secretaria  dos  Negócios  do  Reino. 
De  tudo  para  constar  elle  Administrador  mandou  fazer  este  Autto, 
em  que  comigo,  ditto  Parodio,  e  Conselheiro  Inspector  asinou  sendo 
testemunhas  prezentes  a  todo  este  acto,  que  também  asinaram  Eugé- 
nio Luiz  Marques  Secretario  do  mesmo  Inspector,  e  José  Augusto 
Midoens  da  cidade  de  Leiria.  E  eu  José  Maria  Bello  dos  Reis  Escri- 
vam  do  Admenistrador  do  Concelho  que  o  escrevi.  José  Maria 
Bello  dos  Reis.  O  Administrador  do  Concelho  João  Rodrigues  An- 
tunes. O  Vigário  Encomendado  António  Pereira  das  Neves.  Luiz 
da  Silva  Mousinho  de  Albuquerque  Inspector  G.  de  O.  P.  do  Rei/to.— 
tugenio  Luiz  Marques  Gomes.- M.Jozé  Augusto  Midoens  '. 


1  Torre  do  Tombo,  Gaveta  XVI,  mac.  3,  n.°  19. 


X 


O  MARRAMflQUE 


Nós,  os  Portugueses,  não  inventámos  a  pólvora;  é 
certo.  Por  um  triz  que  não  enjenhámos  os  balões,  di- 
zem; mas  descobrimos  agora,  não  ha  duvida,  o  romance 
histórico  com  citações  e  notas  '. 

Toda  a  Europa  culta  nos  inveja;  e  breve  seguirá  na 
nossa  trilha! 

Nós  somos  de  certo  o  povo  que  mais  ignora  a 
sua  historia,  e  onde  ella  menos  se  estuda.  Por  isso, 
para  acabar  de  a  deturpar,  creámos,  e  aceitamos  de 
boa  mente,  esta  caturreira  do  romance  histórico  ano- 
tado. 


1  Pois  não  ha  tal,  nem  isto  descobrimos! 

Encontro  agora  em  Balzac  (Oeuvres  completes,  ed.  de  1879, 
vol.  XXIII,  p.  595)  esta  graciosa  e  mordaz  critica  aos  romances  his- 
tóricos de  Eujenio  Sue : 

"Comment  M.  Sue  veut-il  que  nous  puissipns  croire  à  ce  que 
disent  ses  personnages?  De  loin  en  loin,  il  críble  ses  pages  dasté- 
risques  qui  vous  renvoient  à  de  petittes  notes  ou  il  vous  cite  les 
auteurs  auxquels  il  emprunte  íeurs  discours.  Une  note  est  le  coup 
d  epingle  qui  desenfie  le  bailou  du  romancier.  Avec  sa  note,  un 
auteur  ressemble  à  un  conteur  qui,  après  avoír  fait  plusieurs  histoi- 
res,  au  dessert,  vous  dit:  Ce  que  je  vais  vous  raconter  est  vrai. 
La  note  du  romancier  est  la  parole  d 'honneur  du  Qascon.» 

Bem  apanhado ! 


182  ESTUDOS 

Um  sujeito  faz  um  figurão  diante  dos  basbaques, 
oferecendo-lhes,  com  molho  de  sua  invenção,  vários 
acepipes,  ocos,  balofos,  vol-au-vent  indijestos,  que  apre- 
senta como  bons  pratos  de  resistência  aprendidos  nos 
manuaes  culinários  dos  mais  acreditados  vateis.  Com  a 
citação  dos  mestres  esbugalha  os  olhos  do  leitor,  que 
não  sabe  que  nuns  casos  os  taes  mestres  nada  valem, 
noutros  as  citações  estão  erradas  ou  mal  entendidas  pelo 
romancista,  que  vai  no  entretanto  colhendo  as  palmas 
apetecidas,  e  arrecadando  os  cobres  do  publico,  por  fim 
de  contas,  a  sua  principal  pretensão. 

Tem  porem  inconvenientes. 

Ainda  noutro  dia  vimos  um  jornalista  experto,  e  tão 
felizardo  que  paga  andainas  de  fato  por  trinta  mil  réis, 
cair  extactico  perante  a  afirmativa,  com  citação  corres- 
pondente, de  nos  tempos  de  D.  João  II  se  fazer  um  par 
de  calças  por  vinte  réis,  e  um  gibão  por  trinta.  E  olhe 
que  ainda  esqueceu  ao  romancista  declarar,  que  se  faziam 
botinas  de  mulher  por  trinta  e  cinco,  provavelmente  por 
causa  dos  patacos  falsos. 

Pois  tudo  isto  está  bem  lonje  da  verdade. 

O  documento  citado  pelo  romancista,  para  prova  de 
serem  aquelles  então  os  preços  do  feitio  das  referidas 
peças  de  roupa,  é  o  chamado  Livro  vermelho  que  foi 
estampado  no  III  vol.  dos  Inéditos  de historia portugiiezci. 
Ora  naquelle  livro  não  ha  referencia  nenhuma  a  réis; 
a  unidade  monetária  é  o  real,  e  por  esses  tempos  o  real 
de  compra  valia  vinte  dinheiros,  ou  vinte  réis,  como 
depois  se  lhe  veio  a  chamar.  Já  por  tanto  sobe  o  preço 
do  feitio  de  um  par  de  calças  a  quatrocentos  réis;  mas, 
o  interessante,  é  saber  que  o  valor  correspondente  em 
moeda  de  hoje  ao  real  d'então  anda  muito  perto  de 
cincoenta  réis,  e  que  por  tanto  os  taes  vinte  reaes  de 
feitio  de  umas  calças  no  XV  século  equivalem  aprossi- 
madamente  a  mil  réis  do  xx.  Não  creio  que  seja  bara- 


O    MARRAMAQUE  183 

teza  para  espantar,  mas  confesso  não  poder  bem  ajui- 
za-lo,  porque  nunca  paguei  feitio  de  calças. 

Vou  avizando,  por  causa  dos  espertos,  que  em  vários 
sitios  do  Livro  vermelho  imprimiram  réis,  provavelmente 
por  já  assim  encontrarem  esta  errada  leitura  na  cópia 
aproveitada  para  a  impressão.  No  xv  século  porem  a 
abreviatura  rs.  indicava  reaes,  e  não  réis. 

No  mesmo  romance  com  anotações  a  que  me  venho 
referindo,  do  qual  apenas  por  ora  li  o  prologo,  e  ao 
qual  o  autor,  o  sr.  Artur  Lobo  de  Ávila,  pôs  o  titulo 
de  Amores  do  Príncipe  Perfeito,  transcreve-se,  citando-se 
o  III  vol.  das  Provas  da  Historia  Genealógica,  onde  tal 
coisa  não  encontro,  o  pregão  sobre  a  forma  das  me- 
najens,  que  se  diz  ter  D:  João  II  mandado  afixar  em 
1481.  Segundo  esta  versão  começa  o  documento  assim : 
"D.  João,  por  graça  de  Deus  Rei  de  Portugal  e  dos 
Algarves,  d'aquem  e  d'alem  mar  em  Africa,  Senhor  de 
Guiné,  etc.„  O  titulo  de  Senhor  de  Guiné  foi  introdu- 
zido no  dictado  por  D.  João  II  só  em  1485  -.  O  tal  pre- 
gão, ou  se  refere  por  tanto  a  um  caso  posterior  ao  das 
menajens,  ou  foi  inventado. 

É  claro  que  eu  não  notaria  estas  minúcias  a  um  ro- 
mancista que  unicamente  como  tal  se  oferecesse.  Os 
romancistas,  como  os  poetas,  teem  amplas  liberdades, 
podem  inventar  o  que  quiserem;  mas,  quando  sob  capa 
de  romance,  pretendem  apresentar  historia,  tem  a  critica 
o  pleno  direito  de  notar  as  mostras  de  falta  de  estudo,  ou 
de  inciencia  que  manifestarem. 

No  prologo  dos  Amores  do  Príncipe  Perfeito  são  ellas 
repetidas. 

Umas    das    mais    engraçadas    é   vermos   Garcia   de 


2  João  Pedro  Ribeiro,  Dissertações,  vol.  II,  paj.  204.  Advertirei  que 
já  em  1483  usava  D.  João  II  do  titulo  de  senhor  de  Guiné.  Vide 
Archivo  histórico  portuguez,  vol.  I,  paj.  393. 


1S4  ESTUDOS 

Resende  ém  148.1,  com  onze  ou  doze  airnos,  a  dar  sen- 
tenças pelas  ruas  de  Lisboa,  quando  elle  estava,  coitado, 
em  casa  do  tio,  em  Évora,  a  fazer  travessuras  nas  ho- 
ras não  dedicadas  aos  estudos,  que  lhe  não  toma- 
riam muito  tempo.  Mas,  mais  divertido  ainda,  é  quando 
o  sr.  Lobo  de  Ávila  nos  apresenta  o  mesmo  Garcia  de 
Resende,  o  filho  do  criado  do  Bispo  de  Évora,  como 
um  fidalgo,  e  o  Marramaque,  o  chefe  da  linhajem  dos 
Pereiras,  o  senhor  de  Cabeceiras  de  Basto,  Lamegal, 
Lumiares,  etc,  como  "o  mais  plebeu  dos  palacianos,,! 
Onde  o  romancista  foi  desencantar  isto  não  sei.  Em 
tempos  conjecturei  que  houvesse  sido  nos  Poetas  pala- 
cianos do  dr.  Teófilo  Braga,  mas  não  foi. 

João  Rodriguez  Pereira,  o  Marramaque,  4.°  senhor  de 
Cabeceiras  de  Basto,  dos  coutos  de  Lamegal  e  de  Lu- 
miares, tudo  de  juro  e  herdade  com  as  jurisdições,  deverá 
ter  nascido  pelos  annos  de  1452  ou  1453. 

Seu  pai,  João  Rodriguez  Pereira,  3.°  senhor  de  Cabe- 
ceiras de  Basto,  fidalgo  da  casa  de  D.  Afonso  V  e  de- 
pois do  seu  Conselho,  teve  aprovação  dei  Rei  para  o 
seu  contrato  de  casamento  em   16  de  junho  de  1443  ,!. 

Não  se  efeituou  elle  comtudo  então,  porque  João 
Rodriguez  e  seu  escudeiro  João  Alvarez  de  Faria  assas- 
sinaram a  Rui  Nogueira'  morgado  de  S.  Lourenço 
de  Lisboa  '.  Por  este  motivo  andou  o  fidalgo  homiziado 
fora  do  reino  muito  tempo,  até  que  foi  perdoado  com 
a  condição  de  ir  servir  quatro  annos  a  Ceuta.  Estando 
lá   a    cumprir   o    degredo,    interveio    em    seu    favor   a 


1  Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  34.<\  fl.  19"  v. 

1  Damião  de  Góes,  na  minha  copia  do  seu  Nobiliário,  enganan- 
do-se  no  nome  da  victima,  conta  o  caso  assim:  "Guomez  Nogueira 
(irmão  do  verdadeiro  assassinado)  filho  '3.<>  de  Afonso  Eanes  Noguei- 
ra, não  lhe  ficou  geração,  que  se  saiba,  matOU-Ó  em  Torres  João 
Rodriguez  Pereira  por  numa  bofetada  que  lhe  dera  sendo  moço.  Foi 
no  palanque  de  Tanger  cõ  os  Infantes». 


O   MARRAMAQUE  185 

Rainha  de  Castella,  e  a  seu  requerimento  foram  releva- 
dos dois  annos  do  desterro.  Terminado  este,  teve  João 
Rodriguez  Pereira  carta  de  perdão  em  16  de  novembro 
de  1440  ". 

Então  regressou  ao  reino,  e  tornou  D.  Afonso  V,  por 
carta  de  10  de  junho  de  1450,  a  aprovar  e  confirmar 
o  precedente  contrato  de  casamento  6.  Por  estes  tempos 
se  efeituou  o  matrimonio,  sendo  a  noiva  D.  Leonor  de 
Castro,  Donzella  da  casa  da  Rainha  D.  Isabel,  e  filha 
de  D.  Pedro  de  Castro,  senhor  de  Bemviver,  Sul  e  Re- 
riz,  e  capitão  da  armada  que  fora  com  os  Infantes  aco- 
meter a  Tanjer. 

João  Rodriguez  Pereira  morreu  em  1470  ',  deixando 
primogénito  a  Diogo  Pereira,  que  muito  novo  pouco 
sobreviveu  a  seu  pai;  e  segundogenito  a  João  Rodri- 
guez Pereira,  o  Mauramaque. 

Por  varias  cartas  de  fevereiro  de  1473  foi  confirmada 
toda  a  casa  do  falecido  João  Rodriguez  Pereira,  3." 
senhor  de  Cabeceiras  de  Basto,  etc,  a  seu  filho  do 
mesmo  nome,  que  veio  a  ser  o  4.°  senhor  daquellas 
terras s.  Estes  Pereiras  descendiam  de  Vasco  Pereira, 
senhor  de  Paiva  e  Baltar,  filho  primogénito  do  Conde 


•'  Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  34.<\  fl.  10  v. 

6  Ibidem,  liv.  2Q.o,  fl.  67  v. 

7  Consta  do  seguinte:  A  João  Rodriguez  Pereira  havia  sido  dada, 
por  carta  de  13  de  fevereiro  de  1459,  uma  tença  de  catorze  mil  reaes 
em  satisfação  das  terras  de  Unhão  e  outras,  que  seu  irmão  Marfim 
Afonso  de  Berredo  possuirá,  e  que  então  haviam  sido  doadas  a  Fer- 
não Tellez,  marido  de  D.  Maria  de  Vilhena  possuidora  doutra  tença 
de  vinte  e  quatro  mil  reaes,  da  qual  foram  tirados  os  referidos  ca- 
torze mil,  com  a  condição  de,  por  morte  de  João  Rodriguez,  regres- 
sarem a  D.  Maria.  Ora  a  esta,  por  falecimento  daquelle,  foram 
restituidos  os  catorze  mil  reaes  por  carta  de  25  de  março  de  1471, 
para  os  haver  desde  o  janeiro  precedente.  Chancelaria  de  D.João  III, 
liv.  51.°  de  Doações,  fl.  54. 

s  Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  33.<\  fi.  63  v.,  64  v.  e  11 1  v. 
Urna  (Hitra  carta  de  confirmação  do  senhorio  de  Basto  a  João  Ro- 
driguez Pereira,  dada  em  Lisboa  a  2  de  oitubro  de  1501,  encontra-se 
impressa  pelo  sr.  Aires  de  Sá  no  seu  Frei  Gonçalo  Velho,  1,  287. 


1SÓ  ESTUDOS 

D.  Gonçalo  de  Pereira,  e  irmão  do  Arcebispo  de  Braga 
D.  Gonçalo,  avô  do  Condestavel  D.  Nuno  Alvarez  Pe- 
reira. Eram  por  tanto  os  chefes  da  linhajem  dos  Perei- 
ras. E  é  ao  representante  destes  no  reinado  de  D.  João  II, 
ao  Marramaque,  que  o  sr.  Lobo  de  Ávila  chama  "o 
mais  plebeu  dos  palacianos!,, 

Foi  elle  alegre,  jovial,  galhofeiro.  Prestava-se,  ao  que 
parece,  á  caturreira,  coisa  muito  nossa,  muito  dos  paços 
dos  reis  e  fidalgos,  onde  se  tem  conservado  até  nossos 
dias,  e  tanto  que  eu,  se  quisesse,  podia  nomear  o  Mar- 
ramaque d'agora,  também  fidalgo  de  alto  coturno,  a  quem 
todavia  ninguém  lhe  passou  jamais  pela  cabeça  alcunhar 
de  bobo.  Estes  marramaques,  bem  aceitos  dos  soberanos, 
com  a  sua  conversação  livre  e  ditos  picantes,  iam  muita 
vez  de  mistura  propondo  verdades,  que  nem  sempre 
agradariam,  mas  que  se  desculpavam. 

Ao  Marramaque  se  refere  Resende,  quando  nomeia 
as  pessoas  que  em  1498  acompanharam  D.  Manuel  e 
D.  Isabel  aos  juramentos  de  Castella.  As  palavras  do 
cronista  tiradas  da  primeira  edição  do  seu  Livro  das 
obras,  onde  vem  correcta  a  pontuação,  são  estas: 
". . .  e  dõ  Anrrique  Coutinho,  Anrrique  de  Sousa:  e 
Joam  Rodriguez  Pereira  o  Marramaque  que  lua  cõ 
el  rey  duas  ou  três  jornadas  bem  doente  pêra  acabar  hum 
requerimento:  e  a  raynha  folgou  tãto  cõ  ele  que  el  rey 
lhe  deu  dinheiro  pêra  a  yda  e  o  levou  assi  consigo.  E 
outros  muytos  nobres  fidalgos  e  caualleyros.  . . „  9 

Destes  dizeres  apenas  se  deverá  concluir,  que  o  Mar- 
ramaque não  era  muito  rico,  e  os  senhorios  da  Beira 
e  Minho  valiam  mais  em  honra  do  que  em  proveito. 
Em  todos  os  tempos,  é  certo,  os  fidalgos  com  o  maior 


11  A  entrada  de!  rey  dom  Manoel  em  Castella,  fl.  129  do  Livro  das 
obras  de  Garoa  de  Resende,  que  trata  da  vida  .  .  .  de  dom  João 
o  segundo  .  .  .  com  outras  obras  .  .  . 


O   MARRAMAQUE  187 

despejo  peckm,  e  aceitam  dinheiro  dei  Rei;  nada  ha 
pois  a  estranhar  no  procedimento  do  Senhor  de  Cabe- 
ceiras de  Basto. 


Nam  se  deva  ver  por  mal 
Marramaque  ir  a  ( bastilha  '", 


diz  de  cá  Jorje  de  Agniar  numas  coplas  dirijidas  de 
Saragoça  sobre  o  caso  das  ceroilas  de  chamalote  por 
Manuel  de  Noronha  mandadas  fazer. 

Não  era  só  apodado  nas  trovas  palacianas;  também 
João  Rodrignez  metia  a  sua  colherada  de  vez  em  quando. 

Vosso  arreyo  vay  inteyro; 
bem  yreys,  a  Deos  prazendo, 
e  eu  douvos  hum  pandeyro 
alcancareyro, 

que  leveys  na  mão  tangendo. 
E  douvos  huma  erespina 
de  chaparia  de  latam, 
porque  soys  dama  muy  fina, 
e  bem  dyna 
pêra  mays  do  que  vos  dam  ". 

Com  estas  coplas  vai  João  Rodriguez  em  ajuda  a  Nuno 
Pereira,  quando  este,  em  setembro  de  1481,  dizia  por 
mangação  a  uma  dama  como  lhe  guarneceria  a  mula, 
em  que  havia  de  ir  á  Batalha  ás  exéquias  de  D.  Afonso  V. 
Mas,  para  castigo,  logo  vem  Francisco  da  Silveira,  o  fu- 
turo Coudel  mor,  e  entre  outras  coisas  diz  á  tal  senhora: 


aquisto  ssoo  vos  falece: 
Oo  pescoço  campaynha, 
por  servidor  Marramaque  '-'. 


Ainda  outras  trovas  do  mesmo  João  Rodriguez  Pereira 


10  Cancioneiro  geral,  fl.  163,  col.  l.a 

11  Ibidem,  fl.  157,  col.  4.a 

12  Ibidem,  col.  5.a 


188  ESTUDOS 

nos  conservou  o  Cancioneiro.  Foram  ellas  dirijidas  a 
Pêro  de  Sousa  Ribeiro,  em  paga  doutras  por  este  es- 
critas apodando  vários  casados  que  andavam  de  amo- 
res    .  As  de  Jocão  Rodriguez  foram  estas: 


Vejo  o  paço  alvoraçado, 
vejo-os  todos  rremexer; 
dizey:  que  fostes  fazer, 
cunhado  ja  pousentado? 
Dou-m'oo  demo  todo  inteiro 
CO  trovar  ja  de  fumeyro, 
que  quisestes  rrenovar; 
porque  days  em  que  falar, 
Pêro  de  Sousa  Ribeyro. 

1  ota,  capelhar  vermelho, 
tahyly  e  hum  terçado, 
nuuma  mula,  c  um  espelho 
na  mão,  dyz  que  foy  achado, 
em  Vagos,  cerca  d'Aveyro, 
aa  ssombra  dum  çastanheyro; 
ysto  nam  vay  por  palrrar, 
mas  por  pena  nam  pàguar 
Pêro  de  Sousa  Rihevro. 


Não  alcançamos  hoje  muito  bem  o  espirito  destes  gra- 
cejos e  doutros  desses  tempos,  mas  elles  lá  o  entendiam 
e  apreciavam. 

Intervieram  uns  poucos  na  contenda  poética,  e  toda 
esta  versalhada  foi  escrita  no  período  que  decorreu  de 
12  de  dezembro  de  1499  a  30  de  setembro  de  1506. 

Apuram-se  estas  datas  da  seguinte  maneira.  Numa  das 
coplas  diz  Pêro  de  Sousa: 


O  Conde  de  Borba  tem 
tanta  graça  neste  feito 


A  primitiva  carta  do  titulo  de  conde  de  Borba  é  de  3 


1  Cancioneiro  gemi,  ele  fl.  1/1,  col.  (>.',  a  íl.  1.73,  çol.  ÕA 


O    MARRAMAQI  l  180 

dc  fevereiro  de  1485 14;  começou  per  tanto  o  certame 

depois  disto. 
Nas  respostas  dos  apodados,  diz  o  Barão  de  Alvito: 

Mandou  el  rrey  na  fazenda 
riscar  tenças  e  padram 


A  carta  de  vedor  da  fazenda  foi  dada  a  D.  Diogo 
Lobo  em  23  de  março  de  1490  '';  elle  porem  só  suce- 
deu na  baronia  em  1499,  entre  12  de  agosto  e  4  de 
setembro  "',  e  nos  versos,  que  lhe  dedica,  escreveu  Pêro 
de  Sousa. 

Gpardava  per'oo  Barani 


Era  por  tanto  D.  Diogo  Lobo  já  Barão  de  Alvito  neste 
tempo,  o  que  traz  os  apodos  para  setembro  de  1499. 
Logo  no  principio  dellés,  porem,  diz  o  poeta: 

O  primeyro  entremes, 
em  que  quero  começar, 
seraa  o  senhor  Marquês 


O  único  marquesado  então  existente  era  o  de  Vila 
Real,  e,  sendo  os  versos  dirijidos  a  homens  casados,  a 
referencia  só  pode  atinjir  o  2.°  Marquês,  já  em  1496 
casado  com  D.  Maria  Freire  17,  visto  que  o  1.°  enviuvara 
em  1491  1S.  D.  Fernando  de  Meneses,  2.°  Marquês  de 
Vila   Real,   sucedeu   no   titulo  por  morte   de   seu   pai, 


n  Chancelaria  dc  D.João  II,  liv.  l.o,  fl.  59. 

lj  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  26.",  fl.  105  v. 

16  Ibidem,  liv.  41. o,  fl.  104  e  110. 

17  Chancelaria  de  D.João  III,  liv.  50. o  de  Doações,  fl.  36  v.,  na 
carta  do  condado  de  Alcoutim  aí  transcrita. 

1S  Pina,  Chronica  de  D.  João,  II,  paj.  130. 


!'  ESTUDOS 

pouco  antes  de  12  de  dezembro  de  1490  '''.  Só  depois 
desta  data,  por  tanto,  é  que  foram  escritos  os  versos. 

Uma  das  entidades  que  responderam,  foram  as  Don- 
zellas  da  Infanta.  Por  esses  tempos  só  vivia  a  Infanta 
D.  Beatriz,  que  morreu  a  30  de  setembro  de  1506  "20; 
logo,  o  certame  poético  foi  anterior  a  esta  data. 

Perdôe-me  o  leitor  a  digressão  enfadonha,  para  a  qual 
tive  dois  fins  em  vista:  primeiro,  mostrar-lhe  a  maneira 
como  procedo  nas  minhas  averiguações  históricas,  para 
lhe  incutir  confiança,  quando  não  faça  citações;  segundo, 
para  ensinar,  a  quem  já  tenha  obrigação  de  saber,  a  única 
e  verdadeira  forma,  hoje  admissível,  de  investigar  os  su- 
cessos passados.  Não  é  agarrado  a  nobiliários,  vastos 
repositórios  de  mentiras;  não  é  apoiado  em  obras  edifi- 
cadas no  ar,  que  se  escreve  historia;  é  sobre  documen- 
tos pacientemente  procurados,  estudados  e  confrontados. 
Yale  muito  mais  fazer  um  único  livro  bom,  do  que  so- 
brecarregar estantes  de  volumes  maus.  Arvers  com  o 
seu  celebre  soneto  passou  á  posteridade;  quantos  poetas- 
tros, depois  de  encherem  volumes,  ficaram  no  esqueci- 
mento? 

Tornemos  porem  ao  Marramaque. 

Nos  princípios  do  anuo  de  1473,  como  já  fica  dito, 
sucedeu  João  Rodriguez  Pereira  por  morte  de  seu  irmão 
primogénito,  que  muito  pouco  sobrevivera  a  seu  pai,  na 
casa  deste,  que  lhe  foi  confirmada  por  cartas  dadas  no 
mês  de  fevereiro,  já  também  citadas.  Veio  por  tanto  a 
ser  o  4.°  senhor  de  Cabeceiras  de  Basto,  dos  coutos  de 
Lamegal  e  de  Lumiares,  e  de  vários  outros  bens  na 
Beira  e  Alinho. 


1 '  Chancela  ria  de  D.João  III,  liv.  50.°  de  Doações,  fl.  33,  na  carta 
do  condado  de  Valença. 

iusa,  Hist.  genealógica,  vol.  II,  paj.  50S. 


O  MARRAMAQUE  1()1 

No  julgado  de  Cabeceiras  de  Basto  existia  então  o 
famoso  mosteiro  de  S.  Miguel  de  Refoios,  do  qual  desde 
14Ó2  era  abade  comendatario  D.  Diogo  Borjes,  de  uma 
família  que  durante  cento  e  vinte  e  cinco  annos  suces- 
sivos disfrutou  a  abadia;  "por  herança  de  tio  em  sobri- 
nho», declara  canonicamente  o  cronista  da  Ordem  -'; 
algumas  vezes  por  sucessão  de  filho  a  pai,  asseveram 
os  nobiliários. 

Motivo  de  mim  ignorado,  questão  de  interesses  prova- 
velmente, levou  o  Senhor  de  Cabeceiras  de  Basto  a  des- 
avir-se  com  o  Abade  e  os  monjes  de  Refoios,  e  não 
esteve  lá  com  meias  razões. 

Juntou  João  Rodriguez  Pereira  a  sua  gente,  com  ella 
marchou  direito  ao  mosteiro,  pôs-lhe  cerco,  e,  não  o 
podendo  entrar,  deitou-lhe  fogo.  Chegou  a  arder  uma 
casa,  e  nesta  "assuada  e  poimento  de  fogo  foram  mor- 
tos dois  homens  da  sua  parte,,.  Sem  gloria,  nem  pro- 
veito, retirou  João  Rodriguez  para  Castella  com  a  sua 
tropa,  entre  a  qual  se  levantou  no  caminho  um  motim, 
onde  outro  homem  pereceu. 

Passaram-se  estes  sucessos  em  1475,  nos  princípios 
do  anno.  Em  maio  invadiu  D.  Afonso  V  os  reinos  de 
Castella,  encetando  aquella  sua  empresa  de  reivindica- 
ção da  coroa,  que  na  loucura  e  resultado  tanto  se  asse- 
melha á  assomada  do  Marramaque  contra  Refoios.  En- 
tão este,  que  andava  por  lá  escondido,  apresentou-se, 
alistou-se,  inscrevendo-se  no  livro  dos  homiziados  que 
el  Rei  mandara  fazer,  e  serviu  até  ao  fim  da  campanha. 
Terminada  esta,  regressou  para  Portugal  com  D.  Afonso  V, 
que  lhe  deu  um  alvará  para  dentro  de  seis  meses  alcan- 
çar o  perdão  das  partes,  os  parentes  dos  três  mortos,  o 
que  elle  obteve  em  agosto  de  147o.  Então,  com  estes 


-'  Fr.  Leão  de  Santo  Tomás,  Bcncdictina  lusitana,  I,  49S. 


192  ESTUDOS 

instrumentos,  e  aproveitandp  o  perdão  geral  por  el  Rei 
decretado  a  favor  dos  homiziados  que  fossem  servir 
naquella  guerra,  alcançou  João  Rodriguez  Pereira  carta 
de  perdão  passada  em  Lisboa  a  16  deoitubro  de  1476  -. 

Decorreram  alguns  annos,  e  no  principio  de  1495 
estava  João  Rodriguez  Pereira,  fidalgo  da  casa  dei  Rei, 
ajustado  a  casar  com  D.  Maria  da  Silva. 

A  carta,  pela  qual  D.  João  II  aprovou  o  contrato  deste 
casamento,  existe  trasladada  na  de  confirmação  de  D.  Ma- 
nuel -'•'',  onde  aparece  com  a  data  de  29  de  fevereiro 
de  1495;  data  evidentemente  errada,  por  isso  que  não 
foi  bissexto  aquelle  anuo.  Os  annos  bissextos  no  reinado 
de  D.  João  II  foram  os  de  1484,  S8  e  92.  Suponho 
porem  que  o  erro  seria  no  numero  do  dia  do  mês,  e 
não  no  do  anuo,  porque  em  dezembro  de  1517  ainda 
os  filhos  de  João  Rodriguez  Pereira  não  tinham  vinte 
annos  u,  e  por  tanto  não  convém  atrazar  muito  a  data  do 
casamento  do  pai. 

Sua  mulher,  D.  Maria  da  Silva,  era  filha  de  Rui  Men- 
dez  de  Vasconcellos,  4.°  senhor  de  Figueiró  e  Pedrógão, 
e  foi  dotada  com  dez  mil  coroas  de  cento  e  vinte  reaes, 
assegurando-lhe  o  marido  de  arras  o  terço  do  dote,  ga- 
rantidas pelas  rendas  e  direitos  de  Cabeceiras  de  Basto, 
na  comarca  de  Guimarães,  e  de  Paços  de  Ferreira,  na 
do  Porto,  terras  que  trazia  da  coroa,  e  que  em  cada 
anno  rendiam  trinta  mil  reaes. 

Reparando  agora  melhor  para  outro  documento,  vejo 
que  em  13  de  julho  de  1496  ainda  o  Marramaque  não 
era  casado.  Nesta  data  autoriza-o  el  Rei  a  obrigar  o  seu 
logar  do  Carregal,  no  termo  de  Pinhel,  que  rendia  vinte 
cinco  mil  reaes,  á  segurança  do  dote  de  D.  Maria  da 


-'-'  Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  7.°,  fl.  68  v, 
23  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  21.°,  fl.  6. 
-'  Ibidem,  liv.  10.",  fl.  135. 


O    MARRAM A(,>  11  193 

Silva,  "por  quanto  elle  não  podia  tomar  sua  casa  até  lhe 
segurar  o  dote,,  -■'. 

Em  22  de  dezembro  de  1517  já  era  finado  João  Ro- 
driguez  Pereira  Mârramaque,  e  pouco  antes  morreria. 
Naquella  data  foi  dada  a  sua  viuva,  D.  Maria  da  Silva, 
uma  tença  de  quarenta  mil  reaes,  a  começar  no  janeiro 
seguinte,  para  criação  de  seus  filhos  até  o  segundo  del- 
les  ser  de  vinte  annos  -". 

A  João  Ro^riguez  sucedeu  na  casa  seu  filho  António 
Pereira  -',  nos  filhos  deste  porem  se  eistinguiu  a  geração 
do  galhofeiro  Mârramaque,  e  os  seus  bens  passaram  a 
seu  parente  colateral  D.  Manuel  Pereira,  por  quem  vie- 
ram a  herda-los  os  Camarás  Condes  da  Taipa. 

António  Pereira,  filho  do  Mârramaque,  é  o  amigo  de 
Sá  de  Miranda;  é  o  possuidor  da  quinta  da  Taipa,  onde 
vivia  nas  suas  "casas  fortes,  com  muro  e  torre28». 

A  casa  antiga  e  á  torre 

se  refere  o  poeta  numa  sua  carta  ao  amigo  -'•',  na  qual 

também  recorda  um  retiro  solitário  e  aprazível  que  lá 

havia : 

A  vossa  fonte  tam  fria 
Da  Barroca  em  julho  e  agosto 
(Inda  me  é  presente  o  gosto) 
Quam  bem  que  nos  i  sabia 
Quanto  na  mesa  era  posto  ! 


- '  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  3S.°,  fl.  79  v. 

«  Ibidem,  liv.  10.»,  fl.  135. 

-:  Por  cartas  de  confirmação  de  agosto  de  1519,  fevereiro  e  de- 
zembro de  1520.  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  37.»,  fl.  94,  94  v., 
95  e  95  v. 

2i  "Ha  mais  o  concelho  e  terra  de  Cabeceiras  de  Basto,  e  é  mui 
fragosa  e  montanhosa,  e  senhor  delia  António  Pereira,  e  não  tem 
vila  nem  castello,  salvo  as  casas  da  Taipa  delle  António  Pereira, 
fortes,  com  muro  e  torre  ...»  Povoação  de  Entre  Doiro  e  Minho, 
em  1527,  no  Arch.  hist.  port.,  Ill,  255. 

29  Poesias  de  Francisco  de  Sá  de  Miranda,  paj.  237  da  monumen- 
tal edição  da  Senhora  D.  Carolina  Michaélis  de  Vasconcellos. 

13 


194  ESTUDOS 

Ali  não  mordia  a  graça, 

Eram  iguais  os  juizes. 
Não  vinha  nada  da  praça, 
Ali  da  vossa  cachaça, 
Ali  das  vossas  perdizes! 

Gaspar  Alvarez  de  Lousada  nos  seus  Sumários  da 
Torre  do  Tombo  "  transcreveu  umas  inscrições  sepul- 
craes  existentes  na  capella  de  S.  Pedro,  na  igreja  do 
mosteiro  de  S.  Domingos  de  Guimarães,  onde  elle  as 
vira  sobrepujadas  pelo  escudo  da  cruz  florida  e  vazia 
dos  Pereiras.  Alem  daquellas,  também  lá  estava  o  se- 
guinte letreiro: 

Esta  capella  é  dos  chefes  dos  Pereiras.  Jazem  aqui  do 
tempo  dei  rei  D.  Fernando,  que  os  atraz  jazem  em  Lan- 
dim, que  o  edificaram.  D.  Maria  de  Berredo,  molher  de 
Rui  Vaz  Pereira,  fez  parte  deste  mosteiro,  tem  missa 
quotidiana  e  cinco  cantadas;  Gonçalo  Pereira  tem  três 
missas  cada  semana ;  e  D.  Maria  da  Silva  e  António 
Pereira,  seu  filho,  teem  outra  quotidiana  e  sete  cantadas. 


:t  Parte  2.a,  fl.  419  v.  mihi  -  Destes  cartapacios  existem  três  vo- 
lumes na  Biblioteca  Nacional  de  Lisboa,  os  quaes  pertenceram  a 
Manuel  Severim  de  Faria,  de  quem  tem  o  ex-libris  com  as  armas,  e 
depois  passaram  para  a  mão  de  D.  António  Caetano  de  Sousa,  como 
elle  próprio  declara  numa  advertência  anteposta  ao  primeiro  volume. 
A  colecção  era  formada  por  vinte  livros,  segundo  afirma  Barbosa 
Machado  na  Bibliotheca  Lusitana,  vol.  II,  paj.  331,  onde  também  se 
refere  aos  três  possuídos  então  por  D.  António  Caetano  de  Sousa. 
Destes  é  que  foi  tirada  a  minha  copia. 

Sei  bem  o  pouco  credito  justificadamente  merecido  por  Lousada; 
mas  nestes  Sumários,  francamente,  conferindo  os  extractos  nelles 
existentes  com  os  orijinaes  na  Torre  do  Tombo,  ainda  não  encon- 
trei discrepância,  a  não  ser  nalgum  erro  evidentemente  de  copia.  En- 
tretanto é  certo  não  ter  eu  conferido  nem  a  decima  parte  dos  extractos. 

Nos  catálogos  da  Biblioteca  Nacional  anda  atribuída  a  obra  a 
Manuel  Severim  de  Faria,  que  foi  apenas  possuidor  dos  tomos.  Fiado 
nisso,  e  sem  ter  procedido  a  averiguação,  infelizmente  indispensável 
em  quasi  todo  o  referente  á  historia  pátria,  tenho  até  ha  pouco  citado 
sempre  a  Severim  como  autor  dos  Sumários  da  Torre  do  Tombo; 
acuso  porem  novamente  o  erro  já  apontado  em  1904,  no  Ardi.  hist., 
II,  481,  e  lastimo  não  o  ter  conhecido  a  tempo  de  o  poder  emendar 
nos  dois  primeiros  livros  dos  Brasões  de  Cintra. 


O   MARRAMAQU1  105 

Este  A/i to/iio  Parira  refez  esta  eapella  de  novo,  e  man- 
dou aqui  pôr  esta  memoria.  An/io  1553. 

Agora  podem  os  romancistas  históricos  continuar  a 
dizer  que  o  Marramaque  foi  "o  mais  plebeu  dos  pala- 
cianos, u 

Não  lhes  levarei  nada  por  isso;  mas  vão  também  no- 
tando que  elle  checou  a  ser  do  Conselho  de  D.  Manuel, 
como  se  declara  na  carta  de  13  de  abril  de  1504,  de 
confirmação ,dos  coutos  de  Lamegal  e  Lumiares;  e  olhem 
que  nesses  tempos  nem  todo  o  bicho  careta  era  conse- 
lheiro. 


A  palavra  marramaque  não  se  encontra  no  Vocabulá- 
rio de  Bluteau,  nem  no  Elucidário  de  Viterbo,  nem  nas 
primeiras  edições  do  Diccionario  de  Moraes. 

Posteriormente,  na  sexta  edição  deste  livro,  escreve- 
ram: "Marramaque;  significação  incerta.  Cancioneiro, 
f.  157  v.  "por  servidor  marramaque. »  Pouco  adianta. 

A  sr.a  D.  Carolina  Michaèlis  de  Vasconcellos,  a  paj.  800, 
das  suas  notas  ás  Poesias  de  Francisco  de  Sá  de  Miran- 
da, julga  poder  derivar  do  árabe  a  etimolojia  daquelle 
vocábulo,  e,  apresentando  as  suas  razões,  conclue  assim: 
"Se  esta  explicação  é  legitima,  a  alcunha  de  João  Rodri- 
gues teria  por  origem  o  seu  excessivo  luxo  no  trajar... 

Por  não  acreditar  nesta  orijem  para  a  alcunha,  nunca 
tive  muita  fé  na  derivação  arábica  da  palavra  marrama- 
que, apesar  de  ficar  sempre  estarrecido  quando  me  fa- 
lam línguas  que  não  entendo. 

Os  dicionários  modernos,  inclusive  o  do  sr.  Cândido 
de  Figueiredo,  tornaram  a  suprimir  o  vocábulo. 

Estava  nisto,  quando  um  dia,  á  porta  da  Imprensa 


1Q6  ESTUDOS 

Nacional,  me  apareceu  o  meu  já  hoje  falecido  amigo 
José  Ferrão  de  Castello  Branco,  que  eu  sabia  instruído 
no  árabe,  apesar  delle  dissimular  a  sua  ciência  como  se 
fosse  um  aleijão,  e  me  preguntou  de  chofre: 
Você  sabe  a  etimolojia  de  marramaque? 

—  É  árabe!  —  acudi  eu  logo. 

—  Qual  árabe!  É,  mas  é  inglês.  Procure,  e  talvez  en- 
contre. 

Procurei,  e  achei. 

Fui  ao  International  dictionary  of  the  English  lan- 
guage  de  Webster,  e  de  lá  transcrevo: 

Merry-maker,  noun.  One  who  makes  merriment  or  indulges  in  con- 
viviality;  a  jovial  comrade. 

Merriment,  noun.  Gayety  with  laughter;  mirth;  frolic. 

Querem-n-o  mais  claro? 

O  merry-maker  é  um  companheiro  jovial,  um  folga- 
zão que  produz  merriment,  isto  é,  alegres  gargalhadas. 
É  o  caso  de  João  Rodriguez  Pereira,  e  a  alcunha  de  mer- 
ry-maker, aportuguesada  em  marramaque,  é  exactamente 
a  que  lhe  cabe. 

Como  veio  a  palavra  para  cá? 

Ou  em  13S1,  se  não  foi  antes  disso,  com  as  tropas 
auxiliares  do  comando  do  Conde  de  Cambridge,  ou 
em  13S7  com  o  exercito  do  Duque  de  Lancastre  na 
malograda  invasão  de  Castella. 

Por  esta  ocasião  ficou  em  Portugal  a  Rainha  D.  Fi- 
lipa de  Lancastre,  e  as  relações  com  Inglaterra  aper- 
taram-se  ainda  mais,  tendo  daquella  corte  vindo  para 
a  nossa  muitos  usos  e  custumes. 

Nalguma  das  referidas  expedições,  e  mais  provavel- 
mente na  segunda,  na  qual  João  de  Gante  trouxe  nume- 
rosa e  luzida  corte,  que  não  desdizia  do  titulo  por  elle 
tomado  de  rei  de  Castella;  nalguma  delias,  repito,  viria 
um   fidalgo  alegre,  jovial,   galhofeiro,  a  quem  tinham 


O    MARRAMAQU1  197 

posto  a  alcunha  do  merry-maker.  Os  cavaleiros  portu- 
gueses, que  lidavam  com  a  gente  do  séquito  do  pre- 
tendente, começaram  a  chamar  ao  tal  Inglês  o  Merrima- 
que,  e  d'aí  a  impor  a  mesma  alcunha  a  algum  Português 
também  folgazão;  e  a  palavra  ficou  na  corte,  onde  um 
século  depois  se  achava  transformada  em  marramaque. 

Agora,  já  que  tornei  a  falar  nelle,  darei  mais  algumas 
notas  para  a>  biografia  do  nosso  Marramaque,  João  Ro- 
driguez Pereira,  senhor  de  Basto. 

Começarei  por  dizer  que  em  nenhum  documento,  meu 
conhecido,  se  lhe  dá  a  alcunha.  Não  teve  ella  por  tanto 
foros  oficiaes,  como  sucedeu,  por  exemplo,  á  de  Vasco 
Martinz  de  Sousa,  que  nalgumas  cartas  réjias  desses 
tempos  é  chamado  "o  nosso  Chichorro,,.  É  comtudo 
certo  que  já  no  reinado  de  D.  Afonso  V  era  João  Ro- 
driguez  Pereira  designado  cóm  a  alcunha  de  Marrama- 
que. Provam-n-o  as  coplas  de  Francisco  da  Silveira  lá 
acima  transcritas. 

Aquelle  rei  tomou  a  João  Rodriguez  para  sua  casa 
como  moço  fidalgo,  e  com  este  foro  se  encontra  na 
lista  de  1469  com  mil  e  quatrocentos  reaes  de  mora- 
dia :!l.  Na  carta  de  10  de  fevereiro  de  1473,  peia  qual 
foram  confirmadas  a  João  Rodriguez  Pereira  as  jurisdi- 
ções das  suas  terras  de  Canavezes  e  couto  de  Tuias,  no 
almoxarifado  de  Vila  Real,  ainda  elle  é  intitulado  moço 
fidalgo  3\  Poucos  dias  depois,  a  22  de  março,  na  carta 
em  forma  de  privilejios  de  fidalgo  para  as  comarcas  de 
Trás  os  Montes  e  Entre  Doiro  e  Minho,  já  nos  apa- 
rece nomeado  "fidalgo  da  nossa  casa-,  :í:!.  Devia  ter  então 
uns  vinte  annos  de  idade. 


11  Provas  da  Hist.  genealógica,  vol.  II,  paj.  43. 
:i-  Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  33.°,  ti.  64  v. 
"  Ibidem,  fl.  92  v. 


19$  ESTUDOS 

Neste  tempo  já  era  João  Rodriguez  senhor  da  casa,  e 
passou  então  a  viver  nas  suas  terras,  onde  lhe  sucedeu 
o  caso  já  contado  com  os  monjes  de  Refoios.  Fujiu 
para  Castella;  serviu  na  campanha  de  1475-76;  e  voltou 
para  a  corte,  onde,  pelo  menos  em  1481,  quando  foram 
as  exéquias  de  D.  Affonso  V,  assistia. 

Depois,  no  reinado  de  D.  João  I!,  tornou  o  Marra- 
maque  a  residir  lonje  da  corte,  nas  suas  terras  do  Mi- 
nho. 

Nesta  província  eram  donatários  da  coroa,  e  lá  viviam 
então,  entre  outros,  os  quatro  seguintes  fidalgos:  D.  Lio- 
nel  de  Lima,  Visconde  de  Vila  Nova  da  Cerveira,  alcaide 
mór  de  Ponte  de  Lima,  senhor  de  Fraião,  Coura,  casa 
de  Giela,  etc. ;  Pêro  da  Cunha,  senhor  de  Celorico  de 
Basto,  Montelongo  e  outras  terras :  João  Rodriguez  Pe- 
reira, senhor  de  Cabeceiras  de  Basto  e  Paços  de  Ferrei- 
ra; e  Diogo  de  Azevedo,  senhor  de  Aguiar,  S.  João  de 
Rei  e  Parada  de  Boiro. 

Nas  terras  delles,  apesar  de  lá  entrarem  as  justiças 
dei  Rei,  acoitavam-se  nesses  tempos  mais  malfeitores, 
segundo  afirma  o  dr.  Diogo  Pinheiro,  do  que  em  todas 
as  terras  do  Duque  de  Bragança,  ainda  que  não  corres- 
pondesse, a  totalidade  daquellas,  ao*  terço  destas  34. 

Nos  fins  do  reinado  de  D.João  II  tornou  o  Marramaque 
para  a  corte,  ajustando-se  então  o  seu  casamento  com 
D.  Maria  da  Silva,  o  qual  só  veio  a  efeituar-se  comtudo 
nos  primeiros  annos  de  D.  Manuel,  sendo  o  noivo  já  de 
mais  de  quarenta.  Parece  ter  desde  esse  tempo  o  Senhor 
de  Basto  aturado  no  paço,  tendo  seguido  a  D.  Manuel 
em  1498  na  sua  ida  a  Castella.  Da  sua  permanência  na 
corte  existe  a  prova  nos  apodos,  no  outro  capitulo  já 
citados,    por   João    Rodriguez   dirijidos,    nos   primeiros 


31  Manifesto  do  dr.  Diogo  Pinheiro,  vol.  III  das  Provas  da  Hist. 
ge/tealogíca,  paj.  ô5  '>. 


O   MARRAMAQU1  19Q 

annos  do  xvi  século,  a  Pêro  de  Sousa  Ribeiro;  e  da  sua 

assistência  junto  a  el  Rei  resultou  a  nomeação  para  o 
Conselho. 

As  terras  que  da  coroa,  como  donatário,  João  Rodri- 
guez  Pereira  trazia,  eram  estas:  Cabeceiras  de  Basto, 
Paços  de  Ferreira,  Lamegal,  Lumiares,  Canavezes,  Tuias, 
Carregal,  e  varias  quintas  e  logares  pequenos  nomeados 
nas  cartas  réjias.  De  tudo  isto  era  senhor  e  pacifico  pos- 
suidor, disfrutando  por  inteiro  todas  as  rendas  desde  o 
anuo  de  1473,  sem  interpolação. 

Não  é  fácil  calcular  os  reditos  de  todas  aquellas 
terras;  mas  pode-se  conjecturar  serem  avultados,  por 
isso  que  um  diploma  dá  de  rendimento  a  Paços  de 
Ferreira  e  Cabeceiras  de  Basto  trinta  mil  reaes,  e  outro 
vinte  a  vinte  cinco  mil  reaes  para  o  Carregal.  Por  tanto 
só  destas  três  terras  o  rendimento  equivaleria  hoje  a 
mais  de  dois  contos  de  réis. 

Havendo  ainda  a  acrescentar  a  esta  receita  o  rendi- 
mento das  mais  terras  da  coroa,  e  o  dos  morgados  e  bens 
patrimoniaes,  não  se  pode  duvidar  de  ter  João  Rodri- 
guez  Pereira,  o  Marramaque,  sido  homem  rico,  vivendo 
sempre  como  tal  á  lei  da  nobreza,  tanto  nas  suas  terras, 
como  na  corte,  onde  somente  assistiu  nos  primeiros  e 
últimos  tempos  da  sua  vida,  que  pouco  mais  de  sessenta 
annos  contou,  de  1453  a  1517,  pontos  estremos. 

Aldeia,  dezembro  de  1901  e  janeiro  de  1902. 


APÊNDICE 


No  "Jornal  do  Commercio,,  de  28  de  dezembro  de 
1901  lia-se: 

Do  sr.  Arthur  Lobo  d'Avila  recebemos  unia  carta  em  resposta  á 
critica  feita  pelo  nosso  collaborador  Silex  ao  seu  romance  em  publi- 
cação no  Diário  de  Noticias  e  intitulado  Os  Amores  do  Príncipe 
Perfeito. 

Como  só  hoje  concluímos  a  publicação  da  referida  critica,  e,  dé 
mais  a  mais,  lucíamos  com  falta  de  espaço,  amanhã  daremos  cabida 
á  carta  do  sr.  Lobo  d' Ávila. 

A'  ultima  hora,  recebemos  segunda  carta  do  sr.  Lobo  d'Avila 
sobre  o  mesmo  assumpto.  Fica  também  para  amanhã. 

Efectivamente,  no  numero  do  dia  seguinte  apareceram 
as  duas  cartas,  para  aqui  trasladadas. 

Sr.  director  do  Jornal  do  Commercio. 

No  seu  conceituado  jornal,  firmada  por  Silex,  vem  hoje,  sob  a 
epigraphe  :  Ma  ira  ma  que,  uma  acerada  critica  a  vários  pontos  do 
prologo  do  meu  romance:  Os  Amores  do  Príncipe  Perfeito,  cm  pu- 
blicação no  Diário  de  Noticias. 

Acataria  sem  replicar  essa  apreciação,  se  cila  não  fosse  errónea  e 
phantasista.  Silex  começa  por  inculcar  que  eu,  romancista,  me  apre- 
sento com  pruridos  de  historiador.  Tal  não  ha.  LUe  é  que  o  diz.  Por 
que  razão? 

Porque,  apresentando  notas  ao  texto,  cu  tenho  apenas  em  vista 
mostrar  ao  leitor  menos  erudito  o  que  é  de  origem  histórica,  discri- 
minando-o  do  que  é  por  mim  creado? 

Será  titulo  a  boa  fé  lideraria,  mas  não  a  filáucias  de  historiador. 

Depois,  verbera  a  minha  citação  do  preço  d  umas  calças  por  eu 
escrever  reis.  A  este  respeito,  direi  a  Silex  que  eu  não  pretendo  com 
tal  citação  fazer  estudo  económico  comparativo  dos  preços  d'entãO 
com  os  dT.oje.  Pela  curiosidade  do  assumpto,  indiquei  ao  leitor  o 
Livro  Vermelho  em  que  vem  os  preços  estabelecidos  no  reinado  de 
D.  Affonso  V.  Mais  nada. 

Pelo  que  respeita  ao  termo  rãs,  envio  unicamente  Silex  para  os 
diccionanos  de  portuguez  em  que  encontrará:  Real,  S.  m.  Base  da 
da  portugueza,  pi.  Réis. 


O   MARRAMAQUE  201 

Lm  seguida,  esquece  que  eu  sou  romancista,  e  que  posso, 
sem  grave  culpa,  encabeçar  na  forma  das  menagens  decretada  por 
D.  [oão  II  (e  que  vem  nas  Provas  da  Historia  Genealógica,  apezar 
d'elle  a  não  ter  achado)  as  palavras  sacramentaes,  mais  ou  menos 
conhecidas,  do  pregão.  Ora,  a  minha  nota  não  se  refere  ao  pregão, 
mas  á  forma  das  menagens  que  é  histórica,  e  vem  nas  Provas. 
E'  possível  que  eu  errasse  o  numero  no  volume,  e  não  posso  agora 
averigual-o,  porque  a  obra  por  mim  consultada  é  a  tia  Bibliotneca 
Nacional,  e  não  a  tenho  agora  ã  mão.  Mas  o  que  garanto  a  Silex,  é 
que  a  forma  das  menagens  lá  vem. 

Passa  depois  a  fazer  grande  hulha  com  o  facto  de  eu  chamar  a 
Marramaque  :  "o  mais  plebeu  dos  palacianos,,. 

Perde-o  ainda  d'esta  vez  a  Sikx  o  seu  processo  de  fazer  critica 
seja  como  fôr,  tomando  a  nuvem  por  Juno. 

Direi  a  Silex  que  o  termo  plebeu  está  ali  com  a  mesma  proprie- 
dade com  que  a  í).  Luiz  1.",  que  era  rei,  chamaram:  o  Popular. 
Com  a  mesma  propriedade  com  que  ainda  ha  dias  todos  os  jornaes 
de  Lisboa,  e  provavelmente  entre  elles  o  Jornal  do  Commercio,  cha- 
maram typo  popular  a  um  dos  mais  nobres  fidalgos  portuguezes, 
o  fallecido  marquez  d'Angeja. 

O  termo  popular  ou  plebeu,  empregado  nesta  accepção,  designa 
uma  feição  moral  da  personagem  e  não  um  dado  genealógico.  E  se 
Silex  não  fosse  tão  apaixonado  na  sua  critica,  teria  facilmente  perce- 
bido que  justamente  a  alliança  feita  por  mim  dos  termos:  plebeu  e 
palaciano,  tinha  em  vista  indicar  a  dualidade  observada  no  typo  de 
Marramaque,  fidalgo  pelo  berço  e  pelo  meio  em  que  vivia,  plebeu 
ou  popular  pelo  coração,  como  o  era  o  próprio  rei  D.  João  II,  sem 
isso  querer  dizer  nada  moralmente  deprimente,  mas  pelo  contrario 
elevando-o.  Silex  devia  ter  notado  que  apesar  de  Marramaque  ter 
decahido  em  bobo,  o  que  é  histórico,  e  talvez  pelos  azares  suecedidos 
aos  seus  antepassados,  eu  o  apresento  como  um  intellectual,  e  um 
homem  de  elevado  coração.  E  não  lhe  contestei  os  pergaminhos. 

Finalmente,  pelo  que  se  refere  á  idade  e  empregos  de  Garcia  de 
Rezende,  os  cálculos  foram  feitos  á  vista  dos  dados  biographicos  do 
poeta  publicados  por  Castilho  no  Resumo  dos  Excerptos  do  Can- 
cioneiro. 

Agradecendo-lhe,  sr.  director,  a  publicação  d'esta  carta,  sou  com 
toda  a  consideração. 

De  V.,  etc. 
Amigo,  venerador  e  obrigado 

S  C.  27 12/1901.  Arthur  Lobo  d' A  vila. 


27  de  dezembro  1901. 


Sr.  director  do  Jornal  do  Commercio. 


Torno  a  escrever  a  v.  em  additamento  á  minha  carta  d'esta  tarde 
com  dois  fins: 

1.°  para  levantar  uma  insinuação  gratuita  feita  por  Silex  na  sua 
critica  ao  meu  trabalho  litterario  quando  escreve: .  .  .  "e  arrecadando 
os  cobres  do  publico  que  é  por  fim  de  contas  a  sua  principal  pre- 
tensão.,, 


202  ESTUDOS 

Não  sei  quem  é  Silex,  e  estou  certo  que  me  não  conhece.  De 
contrario,  saberia  que  a  questão  de  interesses  materiaes  nunca  foi  o 
meu  principal  objectivo.  E  eu  sinto  que  o  Jornal  do  Commercio,  de 
que  fui  por  bastante  tempo  collaborador,  e  que  sabe  como  eu  pedi 
para  serem  considerados  fora  da  minha  collaboração  retribuída  os 
artigos  de  polemica  litteraria  que  ahi  publiquei,  não  fizesse  reparo 
a  esse  período  em  que  naturalmente  o  autor  me  avalia  por  si. 

2.0— Para  rectificar  que  a  forma  das  Menagens  não  vem  nas  Pro- 
vas da  Historia  Genealógica,  mas  sim  na  Chronica  de  Garcia  de 
Rezende,  capítulos  xxvi  e  XXVIII.  E'  este  o  único  livro  que  ainda 
tenho  em  meu  poder,  dos  que  pedi  á  Bibliotheca  para  escrever  o 
meu  romance.  —  Relendo-o  agora  dei  com  o  engano.  -Vejo  também 
dos  apontamentos  com  que  fiquei  para  as  notas,  que  nas  Provas 
vem  documentos  a  que  ainda  tive  de  me  referir,  posteriores  ás  me- 
nagens. Do  engano  na  copia  d'um  d'elles  procedeu  a  inclusão  do 
Senhorio  de  Guiné,  á  data  das  Cortes  d'Evora. 

Com  toda  a  consideração. 

De  V.  etc. 
Arthur  Lobo  a" Ávila. 


A  isto  apenas  repliquei  o  seguinte: 

Com  ruins  defuntos  não  se  gasta  cera. 

A  minha  critica,  toda  firmada  em  documentos,  apesar 
do  sr.  Lobo  de  Ávila  lhe  chamar  phantasista,  fica  de 
pé,  impávida. 

O  pregão  foi  inventado;  não  vem  nas  Provas  da 
Historia  genealógica,  e  acrescentarei,  que  também  não 
se  encontra  na  Chronica  de  Resende,  citada  agora  pelo 
romancista  histórico;  o  Marramaque  foi  um  fidalgo  ga- 
lhofeiro, nunca  um  plebeu  nem  um  bobo;  Resende, 
nascido  em  1470,  ou  ainda  depois,  era  em  1481  criança 
e  estava  em  Évora;  o  real  era  a  moeda  naquelles  tem- 
pos corrente,  muito  diferente  dos  nossos  réis.  Veja-se 
o  Diccionario  do  Moraes. 

Foram  estes  os  pontos  criticados.  Ficaram  todos  de 
pé;  e  ficarão,  porque  não  é  o  sr.  Lobo  de  Ávila,  nem 
neste  caso  ninguém,  que  os  poderá  derruir. 

Aqui  ponho  ponto  final.  Unicamente  prometo  ao 
sr.  Lobo  de  Ávila  uma  dúzia  de  pasteis  do  Cócó,  se 
fôr  capaz  de  me  indicar  o  documento  onde  encontrou 
o  selo  real  de  D.  João  II,  que  traz  no  folhetim  n.°  3. 


O   MARRAMAQUE  203 

Olhe  que  falo  em  selo;  não  queira   fujir   para   outra 
coisa,  como  pretende  na  referencia  ao  pregão. 

Nova  carta  do  sr.  Lobo  de  Ávila. 

Sr.  director  do  Jornal  do  Commercio. 

Na  minha  resposta  a  Silex  declarei  lealmente: 

l.o  Que  a  minha  nota  se  não  referia  ao  pregão  que,  como  roman- 
cista, dera  a  forma  que  vem  no  folhetim,  mas  ás  menagens,  cuja 
forma  e  substancia  são  históricas,  e  devidas  a  D.  João  II,  rei  de  Por- 
tugal. 

2.°  Que  esse  documento  histórico  vem  na  Chronica  de  Garcia 
de  Rezende. 

Depois  d'isto,  Silex  insiste  hoje  escrevendo:  "O  pregão  foi  inven- 
tado e  não  vem  nas  Provas  cia  Historia  Genealógica,  e  também  não 
se  encontra  na  Chronica  de  Rezende  que  é  citada  pelo  romancista 
histórico». 

Ora  muito  bem:  aparte  a  questão  de  lana  caprina  da.  insistência 
caturra  em  não  ser  o  pregão  integralmente  histórico  na  forma,  o  que 
subsiste  como  ponto  importante  para  acrítica,  é  se  é  ou  não  histórica 
a  sua  essência,  que  é  a  tias  menagens,  e  se  estas  vem  ou  não  na  Chro- 
nica de  Garcia  de  Rezende. 

Silex  implicitamente  contesta  isto  que  eu  affirmo. 

3.o  -Se  no  ultimo  destes  capítulos  não  vem  a  forma  das  mena- 
gens decretada  por  D.  João  II,  e  no  penúltimo  e  no  primeiro  vem  ou 
não  relatada  a  circumstancia  de  estar  o  alcaide  de  joelhos  ante  el-rei, 
com  as  suas  mãos  mettidas  nas  do  monarcha. 

Esta  circumstancia  histórica,  que  é  na  verdade  aquella  em  que  se 
resume  todo  o  alcance  histórico  do  facto,  aquella  a  que  uma  critica 
judiciosa  devia  tomar  contas  ao  romancista  se  a  tivesse  inventado,  é 
a  que  eu  liguei  como  disse,  ás  palavras  sacramentaes  do  pregão. 

A  technica  do  romance  não  me  permittia  pôr  na  bocca  do  pre- 
goeiro toda  a  formula  das  menagens,  e  por  isso  ella  vem,  com  as 
palavras  textuaes,  e  quasi  na  intrega,  na  carta  que  é  affixada  e  que 
depois  Marramaque  lê  ao  povo. 

Aqui  tem  Silex  qual  o  processo  que  eu  segui  como  romancista. 
Uma  critica  bem  orientada  não  poderá  deixar  de  o  julgar  de  com- 
pleta probidade  litteraria. 

Silex  termina  a  sua  resposta,  de  escape,  ás  minhas  contestações 
fazendo-me  uma  pergunta  de  algibeira  e  promettendo-me  uma  dúzia 
de  pasteis  do  Cócó  se  lhe  responder.  A  pergunta  é:  Onde  encontrei 
o  sello  real  de  D.  João  II  ? 

Resposta:  Na  Historia  de  Portugal  de  Pinheiro  Chagas,  e  no 
Príncipe  Perfeito  de  Oliveira  Martins. 

Estes  autores  são  fallecidos,  mas  vivem  os  illustradores,  os  distin- 
ctos  artistas  Roque  Gameiro  e  Casanova,  a  quem  Silex  se  pode 
dirigir. 

Creio  ter  ganho  os  pastellinhos,  mas  relevo  Silex  de  m'os  enviar. 
Caso,  porém,  o  Cócó,  ou  algum  outro  pastelleiro,  lhe  poder  obter 


204  ESTUDOS 

um  bocadinho  de  critica,  como  ella  deve  ser  feita,  agradeço-lh'a  sin- 
ceramente. Porque  a  critica  que  S/Ycr  faz,  parecc-se  terrivelmente, 
nos  seus  processos,  com  a  rabulice  do  frade  que  perguntando-lhe  o 
aguazil  se  vira  passar  um  preso  que  ia  fugido,  respondeu  mettendo 

a  mão  pela  manga:  Por  aqui  não  passou!  Por  aqui  não  passou! 

Li'  o  que  Siltx  fa/  agarrando«-se  á  questão  de  palavras,  quando  o 
espirito  e  O  alcance  histórico  é  o  que  importa. 

Se  Silex  me  contesta  o  direito  de  compor  na  forma,  com  palavras 
sacramentaes,  o  pregão,  que  na  essência  é  fundamentalmente  histó- 
rico, como  esse  pregão  é  uma  parte  do  romance,  e  o  todo  se  compõe 
de  varias  partes,  a  lógica  da  sua  critica  conduz  necessariamente  a 
esta  aberração:  contestar  a  um  romancista  o  direito  de  fazer  o  seu 
romance. 

Agradecendo-lhe  a  publicação  d'esta  carta  e  as  declarações  que 
lhe  pedi,  sou  com  toda  a  consideração 

De  v.    etc, 

29-12     1. 

Arthur  Lobo  a" A  vila, 

P.  S.  Informações  que  pedi  a  um  bibliographo  autorisado  dizem- 
me  que  o  sello  de  D.  João  II  bem  como  o  do  rainha  D.  Leonorvem 
na  edição  da  Vita  Chrísti  de  Ludolpho  de  Saxonia  feita  em  Lisboa 
pelos  impressores  Valentim  de  Moravia  e  Nicolau  de  Saxonia,  no 
tempo  do  mesmo  rei. 

O  sello  de  D.  Leonor  está  até  invertido,  tendo  a  rede  emblemática 
para  cima. 

E'  possível  que  também  venham  nó  vol.  respectivo  das  Provas  da 
Historia  Genealógica. 

Foi  decerto  nestas  origens  que  o  colheram  para  as  suas  obras  os 
historiadores  Pinheiro  Chagas  e  Oliveira  Martins. 

A.  L.  tf  A. 

For  the  very  last,  last  time. 

Isto  devia  ir  tudo  em  tom  de  gracejo;  mas,  por  atenção 
ao  leitor,  irá  meio  sério.  Afirmo  porem,  que  poderá  o 
sr.  Lobo  de  Ávila  continuar  a  fazer  gemer  os'  prelos 
com  as  suas  epistolas,  em  prosa  oti  em  verso,  no  próprio 
"Jornal  do  Commercio»»,  ou  noutra  qualquer  folha,  que 
mais  reclame  ao  seu  romance  me  não  apanha. 

Recapitularei  a  questão;  mas  confesso  que  me  custa 
entrar  nella.  É  um  tanto  ridículo  para  mim  discutir 
critica  histórica  com  uma  pessoa  tão  alheia  da  matéria, 
como  se  revela  o  sr.  Lobo  de  Ávila;  seja  porem  em  des- 
conto dos  meus  peccados. 

No  meu  artigo  acerca  do  Marramaque  notei  que  no 


O   MARRAMAQUE  205 

prologo  dos  Amores  do  Príncipe  Perfeito  se  inventava  o 
pregão  das  menajens,  atribuindo-o  erradamente  ás  Pro- 
vas da  Historia  Genealógica ;  se  confundia  real  com 
réis;  se  ignorava  a  idade  de  Garcia  de  Resende;  e  final- 
mente se  fazia  do  Marramaque  um  plebeu  e  um  bobo, 
mostrando-se  completo  desconhecimento  de  quem  elle 
havia  sido. 

Estes  foram  os  pontos. 

Principiarei  agora  pelo  pregão. 

No  folhetim  n.°  3  publicado  no  Diário  de  Noticias 
de  17  de  dezembro,  na  3.a  coluna,  na  13.-1  linha, 
começa  a  transcrição  do  pregão  por  estas  palavras: 
"D.  João,  por  graça  de  Deus...,,  Continua  o  pregão, 
que  toma  nove  linhas,  e  na  nona  termina  assim :  " . . .  para 
constar,,.  Em  seguida  á  palavra  constar  vê-se  este 
signal:  (1),  indicativo  de  citação,  e  na  nota  correspon- 
dente, no  fim  da  coluna,  lêem-se  estas  palavras  para 
aqui  textualmente  trasladadas:  "(1)  Provas  da  H.a  Gen. 
da  Casa  Real  Port.a  por  D.  António  Caetano  de  Sousa, 
T.  III.,, 

Quando  o  sr.  Lobo  de  Ávila  nega  ter  posto  nota  ao 
pregão,  não  fala  verdade,  inconscientemente,  ou  desme- 
moriado, estou  persuadido,  e  tanto  que  ainda  com  elle 
discuto;  mas  o  facto  dá-se. 

Agora  entenda-me  bem  (elle  entende-me  perfeita- 
mente, mas  não  lhe  faz  conta):  nunca  me  referi  á  forma 
das  menajens,  falei  sempre  unicamente  no  pregão.  Se 
elle  estivesse  certo,  não  iria  verificar  a  citação;  mas  tra- 
zendo um  erro  palmar,  que  logo  salta  á  vista,  tive  curio- 
sidade de  averiguar  se  D.  António  Caetano  de  Sousa 
caíra  em  tal. 

Não  caiu,  honra  lhe  seja:  a  gloria  da  invenção  e  do 
desacerto  cabe  inteira  ao  sr.  Lobo  de  Ávila. 

Eu  fiz  então  de  notário,  que  nas  escrituras  zela  os 
direitos  dos  ausentes,  e  pugnei  pela  critica  histórica  do 


206  ESTUDOS 

Teatino.  Se  o  sr.  Lobo  de  Ávila  apresentasse  o  pregão 
sem  o  querer  autorizar  com  a  citação  das  Provas,  nem 
para  elle  repararia.  Lira  invenção  de  romancista,  não  fazia 
mal  a  ninguém.  Mas  inventa-lo,  erra-lo,  e  depois  dizer 
que  era  obra  de  um  autor  conspicuo,  que  da  cova  não 
pôde  reclamar,  isso  é  que  me  pareceu  feio;  mas  talvez 
seja  arte  nova. 

Na  segunda  epistola  pretende  o  sr.  Lobo  de  Ávila 
rectificar  a  citação  que  fez  das  Provas,  mas,  fujindo  da 
matéria  da  minha  impugnação,  diz  não  ter  sido  lá  que 
encontrou  a  forma  das  menajens  (assunto  de  que  se 
não  trata),  mas  que  a  achou  na  Chronica  de  Resende. 
Disse-lhe,  torno  a  dizer-lhe,  e  repetir-lhe-hei  até  á  con- 
sumação dos  séculos:  a  forma  das  menajens  pode 
estar  onde  quiser,  a  ella  não  fiz  nunca  objecção  nenhu- 
ma; o  pregão  não  se  encontra  nas  Provas  da  Historia 
Genealógica,  não  está  na  Chronica  de  Resende,  só  existe 
no  romance  pseudo-historico  Os  amores  do  Príncipe 
Perfeito. 

Mais  nada. 

Segundo  ponto:  o  real. 

Xa  sua  primeira  epistola  diz  o  sr.  Lobo  de  Ávila  que 
nos  dicionários  portugueses  encontrou:  "Real,  s.  ///. 
Base  da  moeda  portugueza,  pi.  Réis.,, 

Tenho  aqui  o  Diccionario  do  Moraes,  nelle  acho: 
"Real,  s.  m.  Moeda  antiga  Portugueza,,,  e  por  ali  abaixo 
um  interessante  artigo.  No  Diccionario  contemporâneo : 
"Real,  adj...  —  s.  m.,  antiga  moeda  portugueza,  etc.„ 
No  Diccionario  do  Constâncio:  "Real,  s.  m.,  moeda  an- 
tiga portugueza,  etc,  No  Roquette:  "Real,  adj . .  .  s.  ///., 
moeda  antiga  (plural  réis),,,  o  que  parece  desacerto, 
porque  o  plural  de  real,  moeda  antiga,  é  reaes.  No  Vo- 
cabulário de  Bluteau:  "Real.  Moeda  baixa,  que  em  Por- 
tugal  foi    batida   em   differentes  tempos,   composta  de 


O   MARRÀMAQU1  207 

rjifferentes  nietaes,  e  tem  differentes  preços,  etc,  etc» 
No  Elucidaria  de  Viterbo:  "Real.  Moeda  de  oiro,  prata 
e  cobre.  O  Real  de  oiro  é  dos  princípios  deste  Reino,  etc-, 

Não  vou  aos  livros  numismáticos,  porque  nelles  me 
não  fala  o  romancista,  e  na  minha  livraria  não  tenho 
mais  dicionários.  É  a  primeira  vez  que  sinto  falta  delles, 
porque  desejava  saber  onde  foi  que  o  sr.  Lobo  de  Axila 
encontrou  aquella  definição  de  real.  Provalmente  seria 
no  dicionário,  do  triz-triz,  pratos  quebrados. 

Repito-lhe  para  que  aprenda:  em  tempos  de  D.  Afon- 
so V  e  de  D.  João  II  não  se  sabia  o  que  eram  réis; 
conhecia-se  o  real,  e  os  reaes.  No  reinado  de  D.  Manuel 
encontro  a  fl.  29  do  liv.  4.°  da  sua  Chancelaria  uma 
carta  de  10  de  setembro  de  1502,  na  qual  se  diz:  "ava- 
liaram o  milheiro  dos  reaes  brancos  de  seis  ceitis  o  real 
de  compra  em  vinte  mil  réis,,  '.  É  a  mais  antiga  indica- 
ção de  réis,  de  que  me  lembro  agora,  o  que  não  quer 
dizer  que  não  possa  haver  outras;  mas  neste  caso  escre- 
viam a  palavra  réis  por  extenso,  guardando  a  abrevia- 
tura rs.  para  reaes. 

Para  avaliar  a  idade  de  Garcia  de  Resende,  diz  o 
sr.  Lobo  de  Ávila,  que  "os  cálculos  foram  feitos  á  vista  dos 
dados  biographicos  publicados  por  Castilho  no  resumo 
dos  excertos  do  Cancioneiro,,. 

Aqui  vão  as  palavras  de  Castilho  para  o  leitor  ver  e 
apreçar  o  valor  das  citações  e  cálculos  do  roman- 
cista. 

"Em  incertos  dia,  mez  e  armo,  nasceu  de  honrada 
geração,  na  cidade  de  Évora,  Garcia  de  Rezende.  Foram 


1  Não  é  exacta  a  afirmação  do  texto.  No  documentei  apontado  não 
se  encontra  a  palavra  réis,  como  posteriormente  verifiquei;  o  que  lá 
está  é  a  abreviatura  de  reaes,  em  vez  de  rs.,  forma  usual,  res.  O  mi- 
lheiro de  reaes  brancos  foi  avaliado  em  vinte  mil  reaes  dos  pretos. 


20S  ESTUDOS 

seus  pais  Francisco  de  Rezende,  cavalleiro  no  tempo  de 
Afonso  V,  e  D.  Brites  Botto. 

"Passarão-o  de  mui  tenra  idade,  de  moço  da  camará 
d'el-Rei  D.  João  II,  para  o  serviço  do  príncipe  D.  Afonso, 
seu  filho,  quando  a  este  se  pôz  casa  no  anno  de  1490.., 

Sobre  estas  bases  fez  o  sr.  Lobo  de  Ávila  os  seus 
cálculos,  e  depois  de  muito  cojitar  resolveu-os,  afir- 
mando que  um  individuo  de  mui  tenra  idade  em  1490, 
podia  em  1481,  nove  annos  antes,  ser  "um  philosopho 
e  um  bom  caracter  encaixados  na  figura  anafada  e  gor- 
díssima do  mais  fino  illustrado  e  espirituoso  cortezão». 
(Folhetim  n.°  4,  3.'1  col.,  ultima  linha  e  primeiras  da  4.» 
col.  É  preciso  citação  minuciosa,  para  ser  incontroversa.) 

O  quarto  ponto  contestado,  o  principal,  foi  que  o 
Marramaque  não  era  plebeu  nem  bobo,  como  o  sr. 
Lobo  de  Ávila  afirma;  mas  sim  um  fidalgo  que  chegou 
a  ser  do  Conselho  de  D.  Manuel. 

O  romancista  na  sua  defeza  diz  que  o  termo  plebeu 
está  aplicado  ao  Marramaqne,  no  mesmo  sentido  com 
que  foi  dado  o  epíteto  de  Popular  a  el  Rei  D.  Luis  I, 
e  com  que  os  jornaes,  ha  pouco,  designaram  o  Marquês 
de  Angeja  por  tipo  popular.  Diz  mais,  que  "o  termo  po- 
pular ou  plebeu,  empregado  n'esta  accepção,  designa 
uma  feição  moral  da  personagem,  e  não  um  dado  ge- 
nealógico»,. 

Elle  nem  se  lembra  do  que  deixou  escrito  no  romance! 

Lu  notei  unicamente  a  bem  clara  frase:  "o  mais  ple- 
beu dos  palacianos,;.  É  esta  que  elle  pretende  explicar; 
mas,  alem  delia,  encontram-se  outras,  provando  clara- 
mente que  o  sr.  Lobo  de  Ávila  tinha  o  Marramaque  na 
conta  de  um  plebeu  de  sangue.  Já  disto  está  dissuadido 
em  vista  da  minha  critica,  que  tanto  o  magoa,  mas  com 
a  qual  sempre  vai  aprendendo  alguma  coisa. 

No  folhetim   n.°  4,   na  6.a    coluna,    na    25.a   linha   e 


O   MARRAMAQUE  209 

seguintes,  lê-se  isto:  "Em  presença  de  terceiros,  moteja- 
vam-se  (Marramaque  e  Resende),  na  familiaridade  que 
aos  truões  era  licito  usarem  com  toda  a  gente.  A  sós 
consideravam-se,  observando  a  distancia  que  os  sepa- 
rava. Assim,  apenas  saídos  do  arco,  caminhando  pela 
rua  Nova,  Marramaque  conservava-se  um  pouco  atraz 
do  joven  poeta,  como  quem  segue  um  superior,  ao  passo 
que  este  se  lhe  dirigia  com  benevolente  dedicação.,, 

E  verdade.  Separava-os  uma  grande  distancia,  mas  ao 
inverso  do  que  o  romancista  cuida.  Resende,  o  moço 
da  camará,  encolhia-se  todo  ao  pé  do  Senhor  de  Basto, 
do  fidalgo  da  casa  dei  Rei  e  ultimamente  do  seu  Con- 
selho, quando  na  corte  o  topava. 

No  alto  da  8.:1  col.  do  mesmo  folhetim  n.°  4,  para 
tirar  todas  as  duvidas,  põe  o  romancista  na  boca  de 
Resende,  dirijindo-se  ao  Marramaque,  estas  palavras: 
"Mestre  Pedro  está  como  todos  vós  os  do  povo,  empe- 
nhado, etc.„ 

Ora  agora  venha  para  cá  o  sr.  Lobo  de  Ávila  dizer, 
que  apresenta  o  Marramaque  "como  um  intellectual,  e 
um  homem  de  elevado  coração.  E  não  lhe  contestei  os 
pergaminhos.,;  (Epistola  n.°  1) 

Na  mesma  carta,  um  pouco  acima,  lê-se:  "apesar  de 
Marramaque  ter  decahido  em  bobo,  o  que  é  histó- 
rico.,, 

Deve  ser  isso,  deve.  Estou  mesmo  d'aqui  a  ver  el  Rei 
D.  Manuel  a  nomear  para  o  seu  Conselho  o  antigo  bobo 
de  D.  João  II.  Estou  mesmo  a  ve-lo! 

Como  referi  no  meu  artigo,  no  fim  do  primeiro  capi- 
tulo, na  carta  de  confirmação  dos  coutos  do  Lamegal  e 
de  Lumiares,  dada  em  13  de  abril  de  1504,  é  o  Marra- 
maque intitulado  "fidalgo  da  nossa  casa  e  do  nosso 
Conselho.,,  Não  declarei  onde  existe  o  documento,  mas 
para  descanço  do  sr.  Lobo  de  Ávila  dir-lhe-hei  que  elle  se 
encontra  a  fl.  94  v.  do  liv.  37.°  da  Chancelaria  de  D.  Ma- 

14 


210  ESTUDOS 

nuel,  transcrito  na  carta  de  1  de  agosto  de  1519  de  con- 
firmação dos  referidos  coutos  a  António  Pereira. 

Fique  pois  o  sr.  Lobo  de  Ávila  sabendo,  que  João 
Rodriguez  Pereira  Marramaque  foi  um  fidalgo  tão  con- 
siderado, apesar  do  seu  génio  alegre  e  folgazão  que 
el  Rei  D.  Manuel  o  fez  do  seu  Conselho.  E  fique  também 
entendendo  que  elle  nunca  foi  um  bobo. 

Também  me  parece  estar  d'aqui  a  ver  Rui  Mendez 
de  Vasconcellos,  senhor  do  Figueiró,  a  ajustar  em  1495 
o  casamento  da  filha  com  o  bobo  dei  Rei! 

A  verdade,  quer  o  romancista  a  confesse,  quer  não,  é 
que  elle  ignorava  absolutamente,  antes  dos  meus  artigos, 
quem  tivesse  sido  o  Marramaque. 

Prometi  ao  sr.  Lobo  de  Ávila  uma  dúzia  de  pasteis, 
se  fosse  capaz  de  me  indicar  o  documento  onde  encon- 
trou o  tal  selo  real  de  D.  João  II,  que  estava  na  "placa 
de  chumbo  presa  á  carta  por  grossa  mecha  de  retroz.,, 
(Folhetim  n.°  4,  2.»  col.,  linha  21.*) 

Sabe  o  leitor  que  documentos  cita  o  sr.  Lobo  de  Ávila 
na  epistola  de  hoje?  A  Historia  de  Portugal  de  Pinheiro 
Chagas,  o  Príncipe  perfeito  de  Oliveira  Martins,  e  de 
reforço,  por  indicação  de  um  amigo  bibliófilo,  uma 
Vita  Christi! 

Estas  citações  são  provas  exuberantes  para  se  ajuizar 
da  critica,  conhecimentos  diplomáticos,  e  proficiência 
histórica  do  sr.  Lobo  de  Ávila.  Então  livros  como 
aquelles  são  documentos?  Onde  viu  isso?  Documentos 
com  selo  são  diplomas;  isto  é,  cartas  réjias,  padrões, 
patentes,  mandados,  e  outros  pergaminhos  ou  papeis 
que  levam  o  selo,  do  soberano  para  o  nosso  caso.  Isso 
é  que  são  documentos;  isso,  ou  quando  os  orijinaes 
nos  faltem,  a  sua  reprodução  em  livros  autorizados  e 
especiaes.  Agora  alegar,  que  vinhetas  de  livros  (a  que 
lhe  serviu  encontra-se  na  encadernação!)  são  selos  de 


O    MARRAMAQUE  21  1 

documentos,  nem  o  rapaz  a  semana  passada  matriculado 
na  aula  de  diplomática  era  já  capaz  de  dizer! 

O  pelicano  foi  a  empresa  de  D.  João  II,  nunca  o  seu 
selo.  Mandou-a  debuxar  em  livros  e  monumentos, 
nunca  a  trouxe  no  seu  sinete.  No  IV  vol.  da  Historia 
genealógica,  na  estampa  N,  encontram-se  reproduzidos 
sob  n.os  66  e  67,  dois  selos  de  D.  Jocão  II  um  anterior, 
o  outro  posterior  á  reforma  das  armas  reaes,  que  é  o 
que  nelles  se, vê,  e  não  o  pelicano. 

Surriada,  não  ganhou  os  pasteis. 

Se  estivesse  com  paciência  para  lhe  dar  mais  trela, 
apontaria  ao  sr.  Lobo  de  Ávila  o  facto  de  haver  logo 
no  principio  do  primeiro  folhetim  errado  a  data  dos 
sucessos,  que  vai  narrar.  A  profissão  da  Excelente  Se- 
nhora foi  em  novembro  de  1480  e  não  em  1481  (l.a 
col.,  4.a  linha).  Em  novembro  deste  anno  já  D.  Afonso  V 
estava  morto. 

Dir-lhe-hia,  que  nem  sequer  sabe  o  verdadeiro  nome 
da  sua  heroina,  da  amante  de  D.  João  II,  a  qual  nunca  se 
chamou  D.  Ana  de  Mendonça,  mas  sim  D.  Ana  de 
Mendoça,  o  que  faz  uma  enorme  diferença.  Pregunte-o, 
se  me  não  quer  crer,  ao  Duque  de  Loulé  e  ao  Conde 
da  Azambuja. 

Dir-lhe-hia...  Mas  não  lhe  digo  mais  nada,  porque 
a  paciência  acabou. 

O  sr.  Lobo  de  Ávila  é  um  ingrato! 

Devia  estar  reconhecido  pelos  meus  artigos  de  critica, 
destinados,  evidentemente,  a  não  ficarem  dispersos  por 
jornaes  e  a  formarem,  com  outros  já  publicados  (de  mui- 
tos dos  quaes  me  atrevo  a  recomendar-lhe  a  leitura,  que 
lhe  deverá  ser  instruetiva  para  os  tempos  de  D.João  II), 
um  livro,  no  qual  o  seu  nome  e  o  seu  romance  serão 
lembrados.   Devia-me  estar  agradecido  por  isso ;  mas 


212  ESTUDOS 

não,  zanga-se.  Pois  faz  mal,  porque  a  ingratidão  é  feia, 
e  também  porque  mostra  esqueeer-se  do  velho  prolo- 
quio,  o  calado  é  o  melhor.  Poupava-se  a  si,  a  mim,  e 
ao  pobre  leitor  que  não  tem  culpa. 

Aldeia,  ao  derradeiro  de  dezembro  de  1901. 


P.  S.  -  Este  artigo  foi  publicado  no  dia  1  de  janeiro  de  1902, 
pois  logo  no  folhetim  do  Diário  de  Noticias  do  dia  6  passou  o 
Marramaque  a  ser  fidalgo  e  cavaleiro,  e  a  contar  os  seus  feitos  e  os 
de  seu  pai  por  mim  narrados.  O  sr.  Lobo  de  Ávila  não  se  emendou 
de  fazer  citações,  continuou  com  ellas  até  ao  fim  do  romance;  mas 
castigou-me,  não  me  citando.  Esqueceu-se  daquella  sentença  de  Plí- 
nio :  E st  mim  benignum,  et  plenum  ingenui  pudoris,  faterí  per  quos 
profeceris. 


XI 


LIVROS 


Os  Jesuítas  no  Grão-Pará,  suas  missões  e  a  colonisação,  porj.  Lúcio 

ele  Azevedo.  Lisboa,  1901. 
A  Ordem  de  Chrísto,  por  J.  Vieira  da  S.  Guimarães.  Lisboa,  1901. 


Culpa  confessada  está  meio  perdoada. 

Confesso  pois  que,  se  fosse  preciso,  escreveria  com 
parcialidade  acerca  destes  dois  Jivros;  mas  não  careço 
de  ser  benévolo  para  os  louvar,  porque  elles  são  bons. 

Escreveria  parcialmente,  porque  elles  representam, 
como  logo  se  conhece,  estudo  aturado,  dilijencia  de 
acertar,  e  honestidade  no  modo  de  investigar.  Obras 
com  estes  predicados  são  sempre  simpáticas  em  todos 
os  ramos  de  literatura,  e  mais  ainda  quando  o  assunto 
se  liga  á  historia. 

Assim  como  livros  históricos  feitos  sobre  ruins  bases, 
sem  estudo  nem  critério,  aborrecem  a  todos,  e  a  mim 
chegam  até  a  fazer  ferver  o  sangue  e  perder  a  paciên- 
cia, quando  áquelles  defeitos  juntam  filáucias  nos  auto- 
res; assim  pelo  contrario  merece-me  o  melhor  agrado 
qualquer  modesta  tentativa,  laboriosa  e  honestamente 
estudada.  Não  é  especialidade  minha:  deve  ser  este  o 
modo  de  pensar  de  todo  o  critico  desapaixonado. 

Ora  os  dois  livros  acima  apontados,  tanto  os  Jesuítas 
no  Grão  Pará,  como  a  Ordem  de  Chrísto,  não  são  ten- 


214  ESTUDOS 

tativas;  são  obras  completas,  deixando  os  assuntos  de  que 
tintam  esgotados,  tanto  quanto  possível  em  casos  históri- 
cos. Porque  devemos  perder  as  ilusões,  se  alguns  dos  que 
trabalhamos  em  historia  ainda  as  temos:  assuntos  esgo- 
tados nesta  matéria,  não  os  pode  haver  por  ora  entre 
nós,  e  nem  sei  quando  os  haverá.  Qualquer  documento 
inesperado  vem  alterar,  superficialmente  nuns  casos, 
profundamente  noutros,  o  que  tanto  trabalho  de  inves- 
tigação nos  custou. 

Entre  nós  é  preciso  paciência  de  anjo,  e  por  tanto  so- 
brehumana,  para  se  procurarem  os  documentos  históri- 
cos; é  preciso  a  sorte  do  dr.  Fausto,  para  que  o  diabo 
nos  mostre  a  Margarida  por  que  suspiramos,  quasi  sem- 
pre um  bem  carcomido  pergaminho. 

Ninguém  pensa,  ninguém  se  importa  com  a  Historia 
entre  nós!  Os  altos  poderes  do  Estado  ainda  são  os 
peores! 

Homens  competentes  não  são  postos  á  frente  dos 
arquivos  e  bibliotecas  nacionaes;  escolhem-se  para  esses 
logares  aquelles  que  a  mesquinha  e  reles  politica  impõe. 
Felizmente  a  Torre  do  Tombo  tem  um  director  digno 
do  massimo  respeito  e  da  veneração  de  todos  os  estu- 
diosos, e  que  professa  pelo  arquivo  um  verdadeiro 
culto,  já  tradicional  na  sua  familia.  Refiro-me  ao  sr.  José 
Manuel  da  Costa  Basto.  Na  Biblioteca  Nacional  de  Lis- 
boa está  outro  director,  o  sr.  Gabriel  Pereira,  ilustrado, 
inteligente,  activo,  trabalhador,  afeiçoado  aos  livros,  que 
conhece  por  dentro  e  por  fora;  é  por  tanto  um  bom 
empregado.  Na  Biblioteca  Eborense,  se  não  fosse  o 
sr.  António  Francisco  Barata,  não  estava  lá  ninguém. 
Na  Biblioteca  Publica  de  Braga,  quem  passa  os  recibos 
dos  livros  rejistados  para  lá  enviados,  é  a  sr.a  Leopol- 
dina de  Sousa,  e  numa  certidão  do  correio,  passada  a 
meu  requerimento  em  28  de  agosto  de  1901,  declara-se 
"que  esta  senhora  é  cunhada  de  Henrique  Rouffe,  em- 


LIVROS  215 

pregado  na  Bibliotheca  e  por  elle  autorizada  a  receber 
a  correspondência.. ! 

A  Biblioteca  da  Universidade,  e  a  Municipal  do 
Porto,  estão  mais  fora  da  perniciosa  influencia  politica, 
e  bem  entregues.  Outras  bibliotecas  publicas,  por  aí 
existentes,  podem  estar  ótimas;  não  sei  porem  o  que  lá 
se  passa. 

Parece  que  havendo  bons  empregados  em  alguns  dos 
referidos  estabelecimentos,  o  mal  não  será  grande,  pelo 
menos  para  esses;  mas  tal  não  sucede.  Os  empregados 
subalternos,  com  os  escaços  recursos  de  que  dispõem, 
pouco  podem  fazer  para  melhorar  as  condições  dos  ar- 
quivos e  bibliotecas,  para  facilitar  por  meio  de  catálo- 
gos, e  boa  disposição  de  livros  e  documentos,  as  buscas 
e  investigações  dos  estudiosos.  Precisavam,  corno  todas 
as  colectividades,  de  um  chefe,  que  soubesse  e  quisesse 
dirijir  os  trabalhos;  que  junto  do  governo  pedisse^  até 
alcançar,  as  indispensáveis  dotações,  neste  malfadado 
país  só  regateadas  ao  que  é  justo  e  bom.  Precisavam 
também  de  estabilidade,  de  estar  livres  de  repetidas 
reorganizações  que  vão  sempre  de  mal  para  peor. 

Esta  ultima  chamada  reforma  das  bibliotecas  e  arqui- 
vos, assinada  pelo  Ministro  do  Reino,  sem  a  ler,  é  pos- 
sível, sem  a  compreender,  é  certo,  só  se  desculpa  por 
vir  de  um  homem  a  quem  a  monomania  da  persegui- 
ção toldou  de  repente  a  intelijencia.  As  fartas  janeiras 
á  custa  do  esgotado  Tesouro  distribuídas  agora  a  torto 
e  a  direito,  mais  a  torto  do  que  a  direito,  para  conservar 
a  união  nos  restos  das  desordenadas  fileiras  do  partido 
rejenerador,  mostram-nos  um  Pipelet  aflicto  diante  do 
seu  Cabrion. 

Deixemos  isso  porem  para  outra  ocasião;  não  é  aqui 
logar  azado  para  analizar  a  tal  reforma,  que  virá  por 
ventura  a  agravar  ainda  mais  a  existente  desordem. 

Quantos  preciosíssimos  documentos  não  existem  na 


216  ESTUDOS 

Torre  do  Tombo  com  os  quaes  só  por  acaso  se  pôde 
dar?  Que  base  tão  firme  e  grandiosa  para  a  historia 
vivida  de  Portugal  se  mão  encontra  naquelles  trinta  e 
seis  mil  processos  da  Inquisição?  Pois  delles  apenas 
existe  uma  lista  alfabética  pelos  nomes  dos  réos!  Livros, 
pergaminhos,  documentos  vários,  de  mosteiros  e  igrejas, 
para  lá  estão  metidos  em  gavetas,  sem  se  saber  o  que 
conteem ! 

Colecções  existem  catalogadas ;  mas  de  que  servem 
esses  catálogos,  se  alguns  não  são  de  confiança,  outros 
faltos  de  dizeres,  e  nenhum  impresso,  todos  aferrolha- 
dos lá  no  arquivo?  Havendo  catálogos  bem  feitos  e  im- 
pressos, poderia  o  estudioso  em  sua  casa  apontar  os 
documentos  que  lhe  conviria  examinar,  e  só  teria  na 
Torre  de  os  pedir  e  estudar.  Numa  semana,  num  mês, 
conseguiria  colijir  documentos,  que  pela  forma  como 
elles  agora  jazem,  se  arrisca  a  não  encontrar  nem  em 
cincoenta  annos  de  buscas,  porque  necessita  muita  vez 
de  um  favorável  acaso. 

Para  pôr  á  frente  dos  nossos  arquivos  e  bibliotecas 
precisava-se  um  homem  de  provada  especial  capa- 
cidade para  tal  logar,  e  que  de  alma,  vida  e  coração 
se  dedicasse  a  desempenha-lo.  Um  organizador  paciente, 
que  se  não  metesse  em  metafísicas,  mas  praticamente, 
sem  presunções  de  fazer  ótimo  serviço,  o  fosse  fazendo 
bom  e  continuado,  e  directamente  por  si  próprio  diri- 
jido. 

António  Ennes  por  duas  vezes  foi  á  Torre  do  Tom- 
bo: ao  tomar  posse;  e  ultimamente  num  dia  cm  que 
S.  M.  a  Rainha  visitou  o  arquivo.  O  sr.  José  de  Azevedo 
Castello  Branco  não  sei  quantas  vezes  lá  irá.  Receio  que 
sejam  poucas;  mas  é  sinceramente,  do  fundo  do  coração, 
que  desejo  enganar-me,  e  que  espero  me  dê  Deus  a  sufi- 
ciente vida  para  ainda  poder  rasgadamente  tecer  os  mais 
merecidos  louvores  á  inteligente,  dedicada  e  activa  soli- 


LIVROS  217 

citude,  com  que  desempenhará  o  seu  cargo  o  novo  Bi- 
bliotecário mòr.  Oxalá! 

Nestas  condições  devemos,  todos  que  nos  interessa- 
mos pela  historia  pátria,  saudar  com  entusiasmo  o 
aparecimento  de  livros  fundados  em  documentos,  como 
são  os  dos  srs.  Vieira  Guimarães  e  Lúcio  de  Azevedo. 

No  deste  senhor,  o  que  mais  directamente  talvez  nos 
interessa,  são  os  pormenores  ministrados  acerca  da 
vida  do  padre  António  Vieira.  Não  quero  dizer  com 
isto  que  as  particularidades  a  respeito  da  conquista  e 
colonização  do  Grão  Pará,  que  se  lêem  com  agrado,  nos 
não  importem;  mas  a  ellas,  para  mim  pelo  menos,  so- 
brelevam os  dados  biográficos  do  grande  Jesuita. 

Todos  os  capítulos  relativos  a  Vieira,  e  são  uns  pou- 
cos, prendem  a  atenção,  e  o  leitor  chega  ao  cabo  delles, 
com  pena  de  tão  cedo  findar  o  deleite  que  experimen- 
tava. O  capitulo  IV  sobretudo,  no  qual  o  sr.  Lúcio  de 
Azevedo  nos  conta  com  sobriedade,  que  não  impede 
comtudo  certa  largueza,  a  vida  do  Jesuita  na  volta  do 
Pará,  aqui  em  Portugal  e  lá  em  Roma,  é  talvez  o  mais 
interessante,  por  ser  o  mais  ligado  á  historia  geral  do 
país. 

Com  agrado  disse  acima,  e  repito,  se  lê  a  volumosa 
historia  dos  Jesuítas  no  Pará,  porque  á  boa  linguajem 
reúne  a  desafectação  no  estilo.  Outro  tanto  não  sucede 
ás  vezes  na  Ordem  de  Christo.  É  uma  pequena  mancha 
existente  neste  livro,  mas  da  qual  muito  facilmente  o 
autor  se  pode  livrar  nos  futuros  escritos  que  nos  pro- 
mete, e  que  venham  quanto  antes  para  satisfação  das 
letras  pátrias. 

A  eloquência  é  um  dote  natural,  que  facilmente  se 
não  adquire.  Não  a  possuindo,  melhor  procederemos 
não  tentando  devaneios  de  estilo,  sempre  prejudiciaes  ao 
contexto  da  obra.  Em  assuntos  históricos  basta  a  clareza, 


218  ISITDOS 

simplicidade  e  precisão  na  linguajem,  correcta  até  onde 
pudermos. 

Apesar  da  minha  já  confessada  parcialidade,  tenho  de 
deixai-  assinalada  uma  grave  omissão  que  se  nota  na 
Ordem  de  Christo.  Refiro-me  á  ausência  de  citações. 

O  autor  cuidou  talvez  preenchei-  a  falta  com  o  apên- 
dice estampado  no  fim  do  livro,  debaixo  da  epigrafe 
Bibliografia,  e  no  qual  apresenta  a  lista  das  fontes  con- 
sultadas, catalogo  incompleto  me  parece.  Nelle,  por 
exemplo,  não  vejo  citado  João  Pedro  Ribeiro,  e  julgo 
que  o  autor  se  socorreu  algumas  vezes  das  suas  obras, 
e,  se  o  não  fez,  tanto  peior.  Ninguém  pode  escrever 
historia  documentada  dos  primeiros  tempos  da  monar- 
quia, sem  o  auxilio  daquelle  mestre,  confirmado  patriarca 
da  nossa  diplomática. 

A  tal  Bibliografia  não  supre  de  modo  nenhum  a  falta 
das  citações  nos  logares  competentes. 

Para  o  provar  ao  sr.  Vieira  Guimarães,  transcreverei 
um  dos  artigos  da  sua  lista:  "Documentos  —  Nos  ma- 
nuscriptos  da  Torre  do  Tombo  que  sob  o  nome  de 
Christo  existem  neste  riquíssimo  archivo,  e  varias  chan- 
cellarias  de  diversos  reis.,, 

E  nas  Gavetas?  e  no  Corpo  cronolojico?  não  encon- 
trou nada?  E,  quando  se  refere  a  um  documento,  como 
quer  que  o  leitor  saiba  onde  o  achou?  O  leitor  em  geral 
não  se  importa  com  isso;  mas  o  estudioso  austero  pre- 
cisa sabe-lo,  porque  a  citação  autentica  a  proveniência 
do  documento;  e,  não  só  por  isso,  mas  porque  facilita 
em  caso  de  duvida  o  exame,  do  qual  deverá  sair  a  con- 
firmação dos  dizeres  do  historiador. 

Sabe  o  sr.  Vieira  Guimarães  o  resultado  da  falta  de 
citações  no  seu  livro?  E  que  este  não  poderá  em  muitos 
casos  ser  por  seu  turno  citado  sem  resalva;  é  que  eu 
agora  poderia  afirmar  aqui,  ter-se  o  autor  desenvenci- 
lhado com   acerto  daquelle  dédalo  de  documentos,  e 


LIVROS  219 

correspondentes  datas,  dos  princípios  da  Ordem  do 
Templo,  e  assim  não  o  posso  fazer.  Parece-me  que  sim; 
mas  assegura-lo  não  ouso,  e  para  o  poder  avaliar  não 
hei  de  ir  estudar  de  propósito  a  historia  das  Ordenado 
Templo  e  de  Cristo,  como  se  tivesse  de  a  escrever. 

Por  isso  lhe  suplicarei  em  breves  palavras,  brevis 
oratio  penetrai  avios :  Nas  suas  futuras  obras  cite,  cite 
sempre;  mão  receie  neste  ponto  as  perissolojias. 

Aldeia,  12  de  janeiro  de  1902. 


XI 


EMVEriENADO 


Não  me  restam  duvidas;  D.  João  II  morreu  de  peço- 
nha. 

Quando,  num  precedente  estudo,  tratei  da  Rainha 
D.  Leonor,  referi-me  a  um  artigo,  que  não  lograra  ainda 
ver,  no  qual,  conforme  as  informações  alcançadas,  eu 
supunha  ter  o  dr.  Manuel  Bento  de  Sousa  atribuído  a 
morte  de  D.  João  II  á  hidropesia,  afastando  a  presunção 
do  veneno. 

Estava  absolutamente  enganado. 

Encontrei  o  tal  artigo,  que,  por  sinal,  não  é  artigo,  é 
uma  carta,  ou  para  melhor  dizer,  são  duas  cartas.  Es- 
tampou-as  Barros  Gomes  no  prefacio  do  Príncipe  per- 
feito de  Oliveira  Martins. 

Entretendo-me  eu  no  estudo  dos  tempos  de  D.  João  II, 
parece  que  devia  ter  sempre  presente  aquelle  livro 
macrocefalo,  mas,  francamente,  elle  é  dos  taes  que  não 
servem  para  consulta,  e  que,  depois  de  lidos,  se  poisam 
na  estante.  Agora  porem  tive  de  lhe  mexer  á  procura 
de  uns  bonecos,  e  topei  com  as  preciosas  cartas. 

No  que  digo  acima  não  ha  desrespeito  nenhum  pelos 
mortos.  Oliveira  Martins,  que  se  ia  aperfeiçoando  cada 
dia  mais,  apenas  escreveu  um  capitulo  do  livro;  e  Barros 
Gomes,  que  não  tinha  presunções  de  historiador,  limi- 


222  i  mudos 

tou-se,  quasi  unicamente,  no  extenso  prefacio,  a  colijir 

os  apontamentos  pelo  historiador  deixados. 

Voltando  á  questão.  No  meu  primeiro  artigo  acerca 
da  Rainha  D.  Leonor  deixei  dito,  que  me  parecia 
possuir  já  as  provas  bastantes  para  poder  afirmar,  que 
D.  João  II  morrera  efectivamente  envenenado.  Influía 
ainda  então  no  meu  espirito  para  duvidar  um  pouco, 
a  crença  de  ser  contraria  á  minha  opinão  a  de  Manuel 
Bento  de  Sousa.  Hoje,  porem,  conhecendo  a  delle  e  en- 
contrando-a  conforme  com  a  minha,  não  me  restam 
duvidas:  D.  João  II  morreu  envenenado. 

Compreende  o  leitor  perfeitamente  o  peso  enorme, 
que  para  mim  tinha  o  parecer  de  um  medico  da  ciên- 
cia, ilustração  e  intelijencia  de  Manuel  Bento.  Desde 
que  elle  achasse  no  processo  da  doença  de  D.  João  II 
sintomas  diversos,  dos  que  a  acção  da  peçonha  deveria 
produzir,  eu  teria  sempre,  apesar  das  provas  por  mim 
descubertas,  de  duvidar  do  envenenamento.  Com  isto 
não  desmerecia  na  valia  delias,  realmente  muito  grande, 
mas  que,  ainda  assim,  em  absoluto  não  é  cabal,  como 
só  o  poderia  ser  o  auto  da  analise  das  visceras,  a  con- 
fissão do  envenenador,  etc.  Documentos  desta  qualidade 
não  se  encontrarão  jamais,  e  teremos  por  tanto  de  recor- 
rer sempre  ao  raciocínio  para  concluir. 

Afirma  o  dr.  Manuel  Bento,  fundando-se  nos  seguin- 
tes argumentos,  que  D.  João  II  foi  envenenado: 

"1.°  Considerando  as  pessoas,  os  factos,  e  a  época; 
deve  ter-se  dado  o  envenenamento. 

"2.°  Os  sintomas  e  outras  circunstancias  do  primeiro 
ataque  da  ultima  doença,  levam  a  acreditar  no  envene- 
namento. Os  sintomas  podiam  até  ser  os  de  uma  indi- 
gestão. É  certo ;  mas  certo  é  também,  que  sendo  quatro 
os  casos  e  havendo  três  mortes,  são  mortes  de  mais  para 
indigestões.  Do  mesmo  modo,  quatro  casos  de  anciãs, 
vómitos  e  outros  fluxos,  dando  três  mortes,  e  não  sendo 


ENVENENADO  223 

seguidos  de  outros  casos  e  outras  mortes  no  séquito 
real,  são  de  menos  para  epidemia,  são  de  mais  para 
doença  esporádica,  e  bastantes  para  envenenamento. 

'  v "  A  morte  de  D.  João,  admittida  a  primeira  propi- 
nação  de  peçonha,  e  falando-se  em  outras  seguintes 
ainda  comprova  o  envenenamento. 

"4."  Successos  posteriores  ã  morte  de  D.João  II  refor- 
çam a  hipothese  do  envenenamento. » 

O  1.°  e  4.°  argumentos  são  geraes;  o  2.°  e  3.°  são 
técnicos.  Deixarei  aquelles  por  ora,  e  aproveitarei  estes. 

Diz  Manuel  Bento,  em  corolário  do  3.°  argumento : 
"A  descri pção  dos  últimos  soffrimentos,  embora  lacónica, 
é  sufficiente  para  se  ver  que  o  Rei  succumbiu  a  uma 
anasarcha  com  perturbações  cardíacas.  A  acção  do  arsé- 
nico, e,  análogos,  em  doses  lentas  ou  repetidas,  causa  a 
degeneração  gorda  do. coração  e  outras  vísceras,  sobre- 
vindo-lhe  a  anasarcha.,, 

Ficamos  por  tanto  sabendo,  que  os  terríveis  padeci- 
mentos de  Alvor  pelos  cronistas  descritos,  não  foram 
resultado  de  simples  hidropesia,  classificação  então  dada 
pelos  físicos  á  moléstia  dei  Rei,  mas  de  anasarcha,  e  que 
o  arsénico  e  outros  venenos  conjeneres  a  podem  produzir. 

No  2.°  argumento,  o  pelas  minhas  provas  reforçado 
singularmente,  diz  o  ilustre  Professor,  que  quatro  casos, 
dando  três  mortes,  são  mortes  de  mais  para  indijestão,  de 
menos  para  epidemia,  e  bastantes  para  envenenamento. 

As  mortes  não  foram  três;  foram  quatro,  porque  ao 
mesmo  tempo  que  os  três  criados  também  D.  João  II 
morreu.  Este  facto  ignorava  Manuel  Bento,  por  não 
conhecer  os  documentos  a  que  já  no  meu  acima  citado 
artigo  me  referi  '. 


1  Os  documentos  são  três:  um  alvará  de  24  de  oitubro  de  1495, 

véspera  da  morte  de  D.  João  II,  confirmando  a  casa  de  Fernão  de 
Lima  a  seu  filho  (Chancelaria  de  D.João  III,  liv.  41.",  íl.  72) ;  e  duas 
cartas  de  quitação  dadas  ás  viuvas  e  herdeiros  de  Estevão  de  Se- 


224  ESTUDOS 

Manuel  Bento  argumentava  unicamente  com  os  dize- 
res dos  cronistas,  mais  nenhuma  prova  tinha;  e  num 
caso  tão  grave  como  este,  as  conjecturas  de  Pina  e  de 
Resende  não  seriam  para  mim  prova  suficiente,  se  os 
documentos  as  não  viessem  confirmar.  Alem  disto,  su- 
punha o  ilustre  medico  terem  os  três  criados  morrido 
na  occasião  do  primeiro  envenenamento,  havendo  então 
el  Rei  escapado.  Não  foi  porem  isso  o  que  sucedeu: 
Fernão  de  Lima,  Copeiro  mor,  Estevão  de  Sequeira, 
Copeiro  pequeno,  e  Afonso  Fidalgo,  homem  da  Copa, 
morreram  todos  três  no  anuo  de  1495,  no  mesmo  em  que 
D.  João  II  sucumbiu.  Não  foram  por  tanto  só  três  casos 
fataes;  foram-n-o  todos  quatro.  Aquelle  argumento  de 
Manuel  Bento  é  o  principal,  o  que  fica  extraordinaria- 
mente corroborado  com  os  três  documentos  por  mim 
achados. 

Manuel  Bento  fundou-se  em  suspeitas  de  cronistas ; 
os  documentos  provam  que  as  suspeitas  foram  ver- 
dadeiras. Manuel  Bento  supunha  haverem  sido  então 
apenas  três  os  casos  fataes ;  os  documentos  mostram  que 
foram  quatro,  incluindo  o  da  principal  victima. 

Ainda  no  outro  dia,  quando  foi  da  trasladação,  se 
poderia  ter  procedido  á  analise  dos  ossos  de  D.  João  II, 
e  talvez  delia  se  colhesse  a  prova  irrefragavel,  caso  o 
envenenamento  tivesse  sido  pelo  arsénico,  ou  outro 
análogo,  e  não  por  meio  de  tóxicos  vegetaes. 

Quem  propinou  o  veneno? 

Mestre  João  da  Paz,  admite  Manuel    Bento;  mestre 


queira  e  Afonso  Fidalgo  (Arch.  hist.  port.,  I,  164  e  II,  77).  Fernão 
foi  um  fidalgo  muito  aceito  a  D.  João  II,  que  não  demoraria  a  con- 
firmarão da  casa  ao  filho  muitos  dias  depois  da  morte  do  pai;  Es- 
tevão faleceu  sendo  copeiro  de  D.  João  II,  que  não  chegou  a  substi- 
tui-lo no  oficio:  e  Afonso  ainda  viveu  parte  do  anno  de  1495,  no 
qual  se  finou. 


ENVENENADO  225 

João  do  Porto,  depois  chamado  mestre  João  da  Paz, 
medico  da  Rainha  D.  Leonor,  proclama  Camilo  Castello 
Branco  no  1.°  vol.  dos  Narcóticos. 

Por  ordem  de  quem? 

Do  Duque  de  Bragança,  de  quem  possuía  cartas  com- 
prometedoras, e  com  a  aprovação,  se  não  complici- 
dade,  da  Rainha  e  de  D.  Manuel,  que,  subindo  ao  trono, 
deu  logo  ao  fisico  o  premio  do  seu  crime;  indicam 
ambos  os  escritores  apontados. 

Parece-me  todavia  haver  muito  que  contrariar  nestas 
alegações. 

Manuel  Bento  deixa-se  levar  um  tanto  pela  escrita  de 
Camilo,  apesar  de  duvidar,  em  virtude  da  sua  apurada 
critica,  dalgumas  das  afirmações  deste. 

Camilo,  em  historia,  merece  pouca  confiança.  É  pre- 
ciso lê-lo  com  cuidado,  e  aceita-lo  quasi  sempre  com 
resalva.  Elle  estava  lonje  dos  documentos,  e  fiava-se  de 
mais  em  nobiliários  e  outros  manuscritos.  Jurava  por 
elles,  como  não  juraria  pelos  evangelhos. 

Alem  disto,  quanto  a  médicos,  guiou-se  pela  Nobiliar- 
chia  medica  de  Martins  Bastos,  folheto  sem  nenhuma 
autoridade,  escrito  sobre  muito  ruins  bases. 

Eu  só  me  fio  absolutamente  em  documentos;  mas 
vamos  por  partes. 

Diz  Camilo  que  mestre  João,  cristão  novo,  natural 
de  Mazagão,  e  afilhado  de  D.  João  II,  era  em  1492,  com 
o  nome  de  mestre  João  do  Porto,  fisico  da  Rainha 
D.  Leonor. 

No  reinado  de  D.  João  II  não  existiu  no  reino 
nenhum  fisico,  nem  cirurjião,  denominado  mestre  João 
do  Porto. 

Tenho  noticias  de  vários  Joões  do  Porto,  desde  1433 
até  1522  "-'. 


2  Vide  no  fim  deste  artigo  o  Apêndice,  1. 

15 


226  ESTUDOS 

O  mais  antigo  encontrado  dentro  deste  período,  era 
escrivão  das  sisas  dos  panos  e  herdades  de  Lisboa, 
e  foi  dispensado,  por  carta  de  6  de  dezembro  de  1433, 
de  ter  cavalo. 

Achei  um  João  do  Porto,  inglês,  mercador,  morador 
na  vila  de  Bristol,  a  quem  se  deu,  em  5  de  oitubro  de 
1451,  carta  de  seguro  para  a  sua  nau  Gabriel.  Outro, 
escudeiro  do  Infante  D.  Fernando  Duque  de  Viseu,  teve. 
por  causa  de  mulheres,  vários  embaraços  com  as  justi- 
ças réjias,  como  atestam  algumas  cartas  de  perdão. 
Ainda  outro,  "nosso  cantor,,,  de  D.  João  II,  teve  em 
1484  uma  tença  de  quatro  moios  de  trigo,  e  foi  nomeado 
escrivão  da  Casa  do  Civel  em  1488,  e  em  1490  escrivão 
da  Correição  da  Corte.  Sobreviveu  a  seu  protector,  e 
continuou  na  casa  de  D.  Manuel,  de  quem  outrosim  foi 
cantor,  e  que  lhe  confirmou  a  referida  tença  por  carta 
de  28  de  fevereiro  de  1497. 

Também  viveu  por  esses  tempos  um  clérigo,  que 
chegou  a  chamar-se  D.  João  do  Porto,  e  a  ser  Bispo 
de  Targa,  dignidade  em  que  já  estava  investido  no  anno 
de  1514. 

De  todos,  porem,  o  mais  conhecido,  e  que  mais  lidou 
na  corte,  foi  escudeiro  dei  Rei,  escrivão  da  sua  fazenda 
e  seu  comprador.  Começou  a  servir  neste  oficio  em 
1468,  e,  com  breves  interpolações,  o  desempenhou  até 
14S4  inclusive,  recebendo  em  todo  este  período  para 
compras  dei  Rei  a  importante  quantia  de  onze  milhões 
novecentos  e  trinta  mil  cento  e  noventa  reaes,  da  qual 
se  lhe  deu  carta  de  quitação  em  15  de  maio  de  1486. 
Depois  serviu  até  fim  do  anno  de  1493  de  almoxarife 
•dos  escravos  que  vinham  de  Guiné,  e  á  sua  viuva  e 
herdeiros  foi  dada  quitação  por  carta  de  27  de  fevereiro 
de  1500. 

Outros  vários  Joões  do  Porto  existem  nomeados  em 
documentos,  mas  nenhum  fisico,  e  somente  aparece  um 


ENVENENADO  227 

que  foi  barbeiro  e  depois  cirurjião;  morava  porem  na 
ilha  da  Madeira,  como  declaram  documentos  de  1477 
e  1478  respectivos  á  administração  de  uma  capella  :i. 

Bem  fundado  motivo  tinha  por  tanto  Manuel  Bento, 
para  julgar  confusão  de  Camilo  a  existência  na  corte 
de  um  fisico,  ou  cirurjião,  chamado  mestre  João  do 
Porto,  no  reinado  de  D.  João  II. 

Fica  pois  destruída  a  primeira  asserção  do  roman- 
cista: a  Rainjia  D.  Leonor  nunca  teve  nenhum  medico 
chamado  mestre  João  do  Porto. 

Teve  porem  a  Rainha,  ainda  em  vida  de  seu  marido, 
algum  fisico  ou  cirurjião  que  por  nome  fosse  mestre 
João? 

íi  possivel,  mas  não  se  pode  afirmar. 

Mxaminei  sessenta  e  nove  documentos  respectivos  a 
vários  mestres  Joões,  abranjendo  os  annos  de  1436  a 
1521,  e  em  nenhum  se  declara  haver  qualquer  daquelles 
indivíduos  sido  fisico  ou  cirurjião  de  D.  Leonor. 

Seria  de  certo  interessante,  e  proveitoso  até,  relacio- 
nar aqui  os  apontamentos  extraídos  de  todos  aquelles 
documentos,  e  não  deixaria  de  o  fazer,  pelo  menos 
em  nota,  se  estes  artigos  fossem  de  critica  histórica  a 
sério.  Elles  porem  são  compostos  unicamente  à  lusage 
cies  gens  du  monde,  para  ver  se  comsigo  arranjar  meia 
dúzia  de  leitores;  preciso  por  tanto  de  os  amimar,  não 
lhes  pregando  maçadas,  para  que  me  não  fujam  ''. 

Não  se  pode  afirmar,  repito,  ter  tido  a  Rainha 
D.  Leonor  durante  a  vida  de  seu  marido  nenhum  me- 
dico  chamado   mestre  João;   mas   é  certo   que  na  sua 


•  Chancelarias  de  D.  Afonso  V,  liv.  18.o,  fl.  103  v. ;  e  de  D.João  II, 
liv.  19.o,  fl.  51  v. 

1  Agora,  que  este  artigo  sai  em  livro,  porei  rio  fim  delle  os 
apontamentos  extraídos  dos  documentos  relativos  a  Mestre  João.  Vide 
o  Apêndice,  II. 


'228  ESTUDOS 

casa,  ao  tempo  do  seu  falecimento,  existia  um  mestre 
João.  Este  mestre  João,  "morador  em  minha  cidade  do 
Porto  e  cirurgião  que  foi  da  Rainha  D.  Leonor  minha 
tia..,  teve,  por  carta  de  13  de  julho  de  1527,  licença 
para  andar  em  mula  '.  Alem  disto,  a  6  do  mesmo  mês 
do  anno  antecedente,  havia-lhe  D.  João  III  mandado 
dar  uma  tença  de  dezaseis  mil  e  vinte  reaes,  outro 
tanto  como  recebia  de  ordenado  em  casa  da  Rainha. 
Não  era  porem  ainda  a  este  tempo  morador  no  Porto; 
pelo  menos  na  carta  nenhuma  referencia  a  isso  existe  c. 

Fique  já  assente  não  ser  este  mestre  João  o  mestre 
João  da  Paz,  a  quem  Martins  Bastos,  Camilo  e  Manuel 
Bento  se  referem,  e  de  quem  logo  darei  as  noticias  que 
pude  alcançar.  Fique  isso  assente,  e  irei  respigar  nos 
documentos  as  poucas  indicações  que  se  poderão  referir 
ao  mestre  João,  cirurjião  da  Rainha  D.  Leonor. 

No  Porto  vivia  em  1521  um  mestre  João,  biscainho, 
a  quem,  depois  de  examinado  por  mestre  Gil,  Fisico  e 
Cirurjião  mór  dei  Rei,  foi  dada  carta  de  cirurjia  a  26 
de  janeiro  '.  Não  creio  haver  sido  este  o  que  depois 
serviu  em  casa  da  Rainha. 

Naquella  mesma  cidade  morava  em  1501  outro  mes- 
tre João,  também  cirurjião,  o  qual  era  filho  de  Nuno 
Afonso.  Consta  a  sua  existência  de  uma  carta  de  27  de 
setembro  daquelle  anno,  pela  qual  el  Rei  lhe  fez  mercê 
de  certos  bens  litijiosos  s.  Se  este  foi  o  cirurjião  da 
Rainha,  é  forçoso  concluir  que  só  posteriormente  áquella 
data  entrou  para  o  seu  serviço,  porque  não  faltaria  no 
instrumento  a  indicação  dessa  circumstancia. 


•"'  Chancelaria  de  D.  Iodo  III,  liv.  2. o  de  Doações,  fl.  S4,  doe.  im- 
presso pelo  dr.  Sousa  Viterbo  nas  Noticias  sobre  alguns  médicos 
portuguezes,  sob  n.o  59. 

6  Ibidem,  liv.  36.o,  fl.  125,  incluído  também  nas  referidas  Noticias. 

'■  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  37. o,  fl.  106  v. 

8  Ibidem,  liv.  17.o,  fl.  96. 


ENVENENAI)''  229 

E  mais  nenhum  cirurjião  nem  fisico  encontrei,  que 
se  chamasse  mestre  João  sem  mais  apelido,  e  fosse  mo- 
rador no  Porto  no  largo  período  acima  referido. 

Em  1498  existia  um  mestre  João,  fisico  de  D.  Manuel, 
que  nesse  anno,  por  carta  de  22  de  oitubro,  lhe  deu 
consentimento  e  licença  para  comprar  o  foro  de  uma 
quinta  em  Carnide,  o  qual  lhe  confirmou  pelo  mesmo 
documento  9.  Se  nesta  carta  se  declarasse  ser  mestre  João 
cirurjião  dei  Rei,  e  não  seu  fisico,  pouca  duvida  teria  em 
supor  haver  elle  sido  o  cirurjião  da  Rainha  D.  Leonor 
referido  no  documento  de  1527,  mas  não  me  atrevo,  em 
vista  daquella  discordância. 

Repetirei  pois:  a  Rainha  D.  Leonor  teve  um  cirurjião 
chamado  mestre  João,  é  certo ;  mas  é  provável  haver 
elle  começado  a  servi-la  só  depois  de  viuva. 

Também  é  certo  não  ter  este  mestre  João  sido  o  mes- 
tre João  da  Paz,  como  o  leitor  verá  no  capitulo  seguinte. 


II 


Foi  mestre  João  da  Paz  que  envenenou  D.  João  II, 
afirma  Camilo  Castello  Branco,  podendo-se  resumir  a 
sua  prova  nestes  três  argumentos : 

1.°  D.  João  II  morreu  a  25  de  oitubro  de  1495,  e 
D.  Manuel,  apenas  decorridos  três  meses,  por  carta  de 
24  de  janeiro  de  1496,  deu  a  mestre  João  o  foro  de 
fidalgo  com  cota  de  armas  e  o  apelido  de  Paz. 

2.°  Mestre  João  da  Paz  não  aparece  nas  listas  dos 
fisicos  de  D.  Manuel  que  o  afidalgou  e  lhe  permitiu 
vincular  os  bens,  mas  não  lhe  quis  as  receitas. 


9  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  31.°,  fl.  113. 


230  ESTUDOS 

3.°  Mestre  João  da  Paz  conservou  muitos  annos  cor- 
respondência melindrosa  com  o  Duque  de  Bragança, 
sabedor  do  envenenamento  na  Fonte  Cuberta,  talvez 
aliado  no  delito,  e  certamente  escritor  de  uma  carta 
denunciadora,  que  Duarte  da  Paz,  filho  do  fisico,  rou- 
bou a  seu  pai  e  enviou  de  Roma  a  D.  João  III. 

Estes  são  os  indícios  que  levaram  Camilo  a  acusar 
mestre  João  da  Paz  de  ter  propinado  a  peçonha. 

Na  aparência  são  elles  bem  fortes.  O  1.°  mostra  o 
premio  do  maleficio;  o  2.°  revela  o  receio  da  repetição 
do  delito;  e  o  3.°  denuncia  a  cabeça  dirijente. 

Por  isso  Manuel  Bento,  não  duvidando  delles,  achou-os 
esmagadores,  e  admitiu  a  prova.  A  mim  pareceu-me  ne- 
cessário exame  antes  de  concluir,  e  bem  procedi. 

Os  dois  primeiros  argumentos  são  completa  e  abso- 
lutamente destruídos  pelos  documentos;  o  terceiro,  depois 
de  breves  minutos  de  ponderação,  cai  por  terra.  Só 
admira  não  haver  Manuel  Bento  reparado  para  a  sua 
frajilidade;  mas  isso  mostra  que  a  intelijencia,  por  mais 
vasta  que  seja,  nem  sempre  supre  o  método  adquirido 
com  o  estudo  especial.  Valha-me  isso. 

O  Duque  de  Bragança  nasceu  em  1479;  o  envenena- 
mento na  Fonte  Cuberta  foi  em  1491.  Quem  poderá 
acreditar  que  um  arteiro  Judeu  fosse  arriscar  a  pelle, 
e  os  haveres,  perpetrando  um  crime  de  lesa  majestade 
ao  mando  de  urna  criança  de  doze  annos?  Ninguém,  e 
nessa  não  caía  certamente  mestre  João. 

Por  tanto  a  tal  carta  do  Duque  de  Bragança,  da  exis- 
tência da  qual  se  não  pode  duvidar  por  vir  men- 
cionada em  documentos,  referia-se  a  assunto  diverso  do 
envenenamento  de  D.  João  II.  Direi  mais:  não  é  preciso 
ir  a  Castella  procurar  o  instigador  do  crime;  na  corte, 
aos  lados  dei  Rei,  é  que  elle  devia  estar. 

Mostrada  a  inanidade  da  terceira  prova,  irei  tratar  das 
outras  duas. 


ENVENENADO  231 

Antes  porem  afirmarei  não  ter  empenho  nenhum  em 
rehabilitar  a  memoria  de  mestre  João  da  Paz;  é-me  isso 
indiferente;  unicamente  desejo  apurar  a  verdade.  Já  no 
final  do  primeiro  capitulo  acerca  da  Rainha  D.  Leonor 
eu  disse  que  o  assunto  do  envenenamento  de  D.João  II 
é  tão  interessante  quanto  enredado;  e  é  certo.  Com  do- 
cumentos, e  o  auxilio  de  Manuel  Bento,  provei  o  crime, 
com  documentos  também,  vou  absolver  um  dos  supos- 
tos criminosos. 

Mãos  á  obra. 

"D.  João  II  morreu  em  25  de  oitubro  de  1495,  e  antes 
de  completos  três  meses,  a  24  de  janeiro  de  1496,  el 
Rei  D.  Manuel  deu  foro  de  fidalgo  com  cota  de  armas 
a  mestre  João  com  appellido  de  Paz.,;  São  palavras  de 
Camilo,  citando  para  prova  o  Thesouro  da  nobreza  de 
Portugal  de  Fr.  Manuel,  de  Santo  António. 

A  citação  está  certa;  o  erro  não  é  de  Camilo,  é  do 
Paulista. 

Na  paj.  seguinte,  a  51,  continua  o  romancista:  "Mas 
—  curioso  reparo!  —  mestre  João  da  Paz  não  apparece 
na  lista  dos  fisicos  de  D.  Manuel!  Elle  deu-lhe  brasão, 
afidalgou-o  com  cota  de  armas,  permittiu-lhe  que  vin- 
culasse os  seus  bens  na  província  de  Entre  Douro  e 
Minho,  mas  não  lhe  quiz  as  receitas... 

Desta  vez  não  ha  citação,  mas  a  lista  a  que  o  escritor 
se  refere  é  a  dada  por  Martins  Bastos  na  sua  Nobiliar- 
chia  medica. 

Agora  oiçamos  os  documentos. 

Em  26  de  oitubro  de  1497  foi  confirmada  a  carta  de 
fisico  a  "mestre  João  da  Paz,  fisico  e  nosso  cirurgião, 
morador  em  Guimarães,,,  que  fora  examinado,  haveria 
quinze  annos  e  por  tanto  em  1482,  pelo  dr.  mestre  Ro- 
drigo, Fisico  mór  l0. 


10  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  30.o,  fl.  22  v. 


232  ESTUDOS 

Em  6  de  agosto  de  1400  foi  confirmada  a  carta  de 
cirurjia  a  "mestre  João  da  Paz,  nosso  fisico  e  cirurgião, 
morador  em  Guimarães,,,  que  fora  examinado,  haveria 
dezaseíe  aimos,  e  por  tanto  também  em  1482  pelo 
dr.  mestre  Fernando,  Cirurjião  mor". 

Referem-se  ambas  as  cartas  ao  mesmo  individuo, 
no  mesmo  anuo  examinado  em  fisica  pelo  Fisico 
mór,  e  em  cirurjia  pelo  Cirujião  mór.  Não  ha  discor- 
dância nenhuma,  e  este  era  o  uso. 

Aquelles  dois  documentos  são  bastantes  para  derruir 
toda  a  argumentação  de  Camilo. 

Se  a  carta  de  24  de  janeiro  de  1496,  a  de  fidalguia  e 
brasão  de  armas,  fosse  uma  realidade,  e  não  uma  inven- 
ção de  genealojista,  nos  documentos  acima  citados  de 
1497  e  1499  não  esqueceria  por  caso  nenhum  a  decla- 
ração do  foro  de  mestre  João  da  Paz.  Isso  esquecia  lá! 
Seria  mais  fácil  hoje  em  dia,  num  diploma  relativo  a 
uma  pessoa  do  Conselho  dei  Rei,  omitir-se  esta  cir- 
cumstancia,  do  que  naquelles  tempos  deixar  de  se  de- 
clarar que  o  agraciado  era  cavaleiro  da  casa  dei  Rei. 
ou  seu  fidalgo,  se  este,  o  que  não  é  crivei,  houvesse 
sido  o  foro  dado. 

Por  tanto,  ou  a  carta  de  brasão  e  fidalguia  de  mestre 
João  da  Paz,  que  se  não  encontra  rejistada,  é  apócrifa; 
ou  foi  dada  pelo  menos  quatro  annos  depois  da  morte 
de  D.  João  II,  não  tendo  havido  pressa  de  premiar  os 
serviços  do  fisico.  Disto  não  se  pode  fujir. 

Também  não  ha  duvida,  em  contrario  da  afirmação 
de  Camilo,  que  mestre  João  da  Paz  foi  fisico  e  cirur- 
jião da  casa  de  D.  Manuel.  Lá  o  assevera  a  carta 
de  1497  nas  palavras  "fisico  e  nosso  cirurgião,,,  e  mais 
claramente  ainda  a  de  1499,  onde  se  lê  "nosso  fisico  e 
cirurgião». 


11  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  11.",  II.  55. 


.Vi  XI  NADO 

Não  lhe  receou  por  tanto  D.  Manuel  as  receitas. 

Fique  pois,  em  quanto  não  aparecer  mais  prova,  ili- 
bada do  crime  de  envenenamento  a  memoria  de  mestre 

João  da  Paz. 

Camilo,    fundado    nalgum    nobiliário   que    não   cita, 

ura  ter  sftlo  aquelle  mestre  João  da  Paz  o  pai  do 
famoso  tratante  Duarte  da  Paz. 

Tenho  muitas  duvidas  a  tal  respeito. 

Recorri  ao  Santo  Oficio,  onde  a  prOva  é  sempre  de 
desenganar,  mas  nada  lá  encontrei  relativo  a  estes  Pa- 
zes, e  nem  sequer  ao  caturra  do  Infante  D.  Duarte,  que 
André  de  Resende  chama  Paz,  e  que  Camilo  por  sua 
conta  baptizou  em  Fernão  da  Paz.  Pois  nem  a  respeito 
deste,  apesar  de  mestre  André  nos  dizer  que  elle  fora 
preso,  e  se  suicidara  no  cárcere,  ou  lá  o  mandaram  en- 
venenar os  parentes  receosos  de  suas  revelações  '-.  Te- 
nho por  tanto  de  seguir  outro  rumo. 

Herculano,  que  também  se  não  fiava  em  nobiliários 
e  que  viu  documentos,  apenas  diz  haver  sido  Duarte 
da  Paz  um  cristão  novo  de  obscura  orijem,  que  exer- 
ceu um  cargo  de  certa  importância,  de  justiça  ou  admi- 
nistração, e  que  foi  cavaleiro  da  Ordem  de  Cristo, 
tendo  alcançado  o  habito  por  serviços  em  Africa,  onde, 
parece,  perdera  um  olho  l:!. 

Camilo  conjectura,  "sem  grande  receio  de  errar.,,  que 
Duarte  da  Paz  era  um  dos  contadores  da  camará  de 
D.  João  III.  Pois,  apesar  do  pouco  receio,  errou. 

Duarte  da  Paz,  ou  para  melhor  dizer  Duarte  de  Paz, 
nome  que  lhe  é  dado  nos  documentos  réjios  e  desta 
aparente  subtileza  logo  tirarei  partido;  Duarte  de  Paz, 
repito,    havia   sido   nomeado  feitor  da  alfandega,   sisa 


12  André  de  Resende,  Vida  do  Infante  D.  Duarte,  paj.  35. 

13  Herculano,  Origem  da  Inquisição  em  Portugal,  1,  258. 


234  ESTUDOS 

dos  panos,  marcaria  e  herdades  da  cidade  do  Porto,  por 
carta  de  23  de  julho  de  1529  ''. 

Depois,  por  instrumento  de  30  de  setembro  de  1531, 
passou  aquelle  oficio  a  seu  irmão  Diogo  de  Paz,  que 
só  nelle  foi  confirmado  por  carta  de  22  de  junho  de  1532  ' ', 
nas  prossimidades  da  partida  de  Duarte  para  Roma,  onde 
foi  atraiçoar  todos,  intrujando  (perdoem-me  o  termo) 
papa,  cardeaes,  rei  de  Portugal  e  seus  ministros,  e  até 
os  próprios  Judeus  de  quem  era  delegado. 

Não  era  comtudo  o  cartório  da  feitoria  da  alfandega 
do  Porto,  aquelle  a  que  o  cristão  novo  se  refere  na  sua 
carta  a  D.  João  111  citada  por  Herculano  e  Camilo;  era 
o  da  recebedoria,  que  a  seu  cargo  estivera  na  corte,  da 
meia  dizima,  meia  sisa  e  direitos  das  sedas  de  Castella, 
de  que  prestou  contas  seu  irmão  Diogo  de  Paz,  pas- 
sando-se-lhe  a  carta  de  quitação,  em  Évora,  a  23  de  fe- 
vereiro de  1534  ,(p.  Este  é  que  era  o  cartório,  e  não 
outro  qualquer  da  contadoria  réjia. 

Suponho,  seja  dito  em  ar  de  parêntesis,  haver  sido 
aquelle  Diogo  de  Paz  o  mesmo  que  nos  annos  de 
1516,  17  e  18  serviu  de  recebedor  do  almoxarifado  do 
Porto,  e  nesses  mesmos  annos  e  mais  no  de  1515,  fora 
também  recebedor  da  sisa  dos  panos  da  referida  cida- 
de '".  Estes  ofícios  são  os  mesmos  concedidos  em 
1529,  com  o  titulo  de  feitor,  a  Duarte  de  Paz,  como 
acima  disse,  e  seria  coincidência  demasiada  terem  ocu- 
pado, nesses  tempos,  idênticos  cargos,  em  períodos 
sucessivos,  sujeitos  do  mesmo  nome,  sem  serem  a 
mesma  pessoa  ou  parentes  muito  chegados.  Se  o  Diogo 
de  Paz  de   1516  não  era  o  irmão  de  Duarte  de  Paz, 


'''  Chancele  ria  de  D.  João  III,  liv.  48.°  de  Doações,  fl.  41. 
1  ■■■  Ibidem,  liv.  16.<\  fl.  97. 
111  Ibidem,  liv.  20.o,  fl.  39  v. 

17  Teve  cartas  de  quitação  em  14  e  16  de  abril  de  1520  (Arch  hist, 
port.,  I,  406  e  407). 


ENVENENADO  235 

seria  então  seu  tio,  ou,  quem  sabe?  seu  pai,  destruindo 
assim  as  suposições  de  Camilo.  Como  não  aparecem 
documentos  elucidativos,  tenho  de  fechar  o  parêntesis 
deixando  subsistir  a  duvida. 

Voltando  á  filiação  de  Duarte  de  Paz,  direi  que  ne- 
nhuma prova  da  que  lhe  supoz  nos  apresenta  Camilo. 
Refere-se  ao  breve  de  isenção  concedido  em  1536  ao 
pai,  mãe,  irmãos  e  filhos  de  Duarte  de  Paz;  mas  não 
os  nomeia,  porque  não  viu  o  documento,  nem  hoje  será 
possível  encontra-lo,  e  só  delle  teve  noticia  por  uma 
carta  de  D.  João  III  ao  Cardeal  Santiquatro.  Refere-se 
também  ao  outro  breve  de  28  de  oitubro  de  1542  de 
revogação  do  primeiro,  mas  também  não  o  viu,  ou  pelo 
menos  não  o  extractou. 

Nelle  se  declara  que  pelo  anterior  fora  defeso  o  pro- 
cedimento por  parte  da  Inquisição  contra  Duarte,  ou 
João  de  Paz,  já  finado  1S,  e  Diogo,  também  de  Paz,  e 
Rui  Mendez,  e  outros  muitos  ali  nomeados,  mas  não 
se  mencionam  os  laços  do  parentesco  que  entre  si  os 
ligava  l9. 

Este  documento  é  comtudo  importante  para  a  averi- 
guação da  filiação  de  Duarte  de  Paz,  por  declarar  que 
um  João  de  Paz  já  era  falecido  em  28  de  oitubro  de 
1542,  e  saber-se  que  o  pai  de  Diogo  de  Paz,  e  por  tanto 
também  de  Duarte,  havia  morrido  antes  de  12  de  junho 
desse  anno.  Quem  mo  diz,  é  uma  carta  de  Diogo  a 
el  Rei.  É  datada  do  Porto  a  12  de  junho  de  1542,  e  nella 
amargamente  se  queixa  do  desterro  para  fora  do  reino 
dentro  de  trinta  dias,  que  lhe  é  imposto  unicamente  por 
ser  irmão  de  Duarte  de  Paz,  pois  que  outro  crime  não 
commeteu. 


1S  O  breve  diz:  ant  quondam  Joannc  de  Paz,  e  Du  Cange  no 
glossário  explica :  Quondam  .  .  .  Nade  usurpatur  pro  Defunctus,  at 
nostrum  Gallicum  Feu. 

19  Corpo  diplomático  português,  V,  123. 


236  F.STUDOS 

Da  carta  transcreverei  este  trecho  elucidativo  para  a 
presente  questão:  "meu  pai  e  minha  mãe  conheceram 
o  engano  que  herdaram  dos  seus,  e  mudaram  sua  vida 
com  tanto  prazer  e  gosto  dei  Rei  de  santa  memoria, 
vosso  pai,  e  tamanha  honra;  e  nella  perseveraram  até  sua 
morte,  e  nella  morreram,  segundo  é  notório  nesta  terra 
pelas  obras  que  nella  fizeram,  por  que  mostraram  bem 
claramente  quão  bem  se  tiraram  da  obrigação  em  que 
nasceram»  -". 

De  todo  o  exposto  conclue-se:  que  é  certo  ter  o  pai 
de  Duarte  de  Paz  vivido  no  Porto,  e  bem  possível  ser 
exacta  a  tradição,  conservada  nos  nobiliários,  daquelle 
se  haver  chamado  João  de  Paz. 

Aceito  isto;  e  direi  mais  que  também  me  parece  pro- 
vável, conforme  a  tradição,  haver  elle  sido  medico,  por- 
que encontro  uma  carta  de  medicina,  dada  em  23  de 
dezembro  de  1497  a  mestre  João  de  Paz,  castelhano  "21. 
Bem  sei  que  no  documento  se  diz  ser  elle  então  mora- 
dor em  Elvas,  mas  é  facto  que  nesses  tempos  muitos  Ju- 
deus castelhanos  passaram  para  Portugal,  e  é  bem  pos- 
sivel  que  mestre  João  de  Paz  se  estabelecesse  primeiro 
junto  da  fronteira,  e  só  depois,  por  qualquer  circums- 
tancia,  passasse  para  o  Porto. 

Os  documentos  muita  vez  destroem,  mas  outras  con- 
firmam ou  explicam  a  tradição.  Parece-me  estarmos 
neste  ultimo  caso. 

No  trecho  da  carta  de  Diogo  de  Paz,  acima  trans- 
crito, ha  referencia  clara  ao  facto  do  pai  se  ter  conver- 
tido ao  cristianismo,  "com  tanto  prazer  e  gosto  dei 
Rei  (D.  Manuel),  e  tamanha  honra,,.  Que  outra  podia 
i  tamanha  honra  naquella  ocasião,  se  não  a  dei  Rei 
lhe  ter  servido  de  padrinho  no  acto  do  baptismo?  Ne- 


-"  Corpo  cronolojico,  part.  I,  mac.  72,  doe.  13. 

21  Chancelaria  de  í).  Manuel,  liv.  28.o,  fl.  SI  v. 


ENVENENADO  237 

nliuina  outra;  e,  admitida  cila,  ficam  cm  parte  explica- 
das as  confusões  da  tradição,  e  dos  autores  que  só  por 
ella  se  guiaram. 

Conclusões  finaes: 

1.°  Existiram  c  foram  contemporâneos  um  mestre 
João  da  Pa/,  fisico  c  cirurjião  de  D.  Manuel,  e  mora- 
dor em  Guimarães;  e  um  mestre  João  de  Paz,  castelhano, 
medico,  morador  no  Porto,  afilhado  de  D.  Manuel,  por 
elle  talvez  ngbilitado  depois  de  1497,  e  pai  de  Duarte 
de  Paz. 

2.o  Nenhum  delles  se  chamou  primeiro  mestre  João 
do  Porto,  nem  foi  medico  da  Rainha  D.  Leonor,  nem 
afilhado  e  envenenador  de  D.  João  II. 

O  técnico,  que  por  ordem  da  Rainha  e  do  Duque  de 
Beja  se  prestou  a  preparar,  e  talvez  propinar  o  veneno, 
ainda  não  fica  desta  vez  conhecido.  Não  desisto  por 
ora  de  o  encontrar;  é  preciso  porem  paciência  e  exame. 

Aldeia,  fevereiro  de  1902. 


APEMDICE 


Extractos  de  documentos  relativos  a  João  do  Porto 


1  -  D.  Eduarte,  etc.  Diogo  Gonçalvez  de  Castelbranco,  coudel  em 
Lisboa,  não  constranjaes  a  João  do  Porto,  nosso  escrivão  das  sisas 
dos  panos  e  herdades  em  Lisboa,  que  tenha  cavalo,  nem  armas,  nem 
pareça  em  alardo,  etc.  Santarém,  6  de  dezembro  de  1433.  Chance- 
laria de  D.  Afonso  V,  liv.  19.°,  fl.  1  v. 

2-  D.  Duarte,  etc.  Bartolomeu  Gomez,  provedor  das  nossas  ren- 
das em  Lisboa,  que  João  do  Porto,  escrivão  das  nossas  sisas  das  her- 
dades e  panos  de  linho  em  a  dita  cidade,  haja  licença  e  lugar  para 
em  três  meses  do  anno  poder  pôr  um  escrivão,  que  por  elle  sirva  o 
dito  oficio.  Lisboa,  17  de  novembro  de  1436.  Confirmada  a  João 
Afonso  em  Lisboa,  a  24  de  fevereiro  de  1439.  Ibidem,  liv.  IS. o, 
fl.  83  v. 

3  João  do  Porto  apresentou  a  carta  de  6  de  dezembro  de  1433, 
e  foi-fhe  confirmada  em  Lisboa,  a  10  de  manro  de  1439.  Ibidem, 
liv.  19.",  fl.  1  v. 

!  João  do  Porto,  barqueiro,  morador  em  Lisboa,  disse  que  em 
este  mes  de  abril,  vinde  elle  de  Santarém  em  um  seu  barco  com 
sáveis,  para  a  dita  cidade,  ficara  em  seco  em  Xabregas,  e  alugara  hi 
uma  besta,  em  que  os  levou  para  não  perder  sua  venda,  etc.  Carta 
de  perdão  por  falta  de  pagamento  de  direitos.  Sintra,  26  de  abril  de 
1441.  Ibidem,  liv.  20."  fl.  11. 

5  D.  Afonso  . . .  e  que  estando  elle  dito  João  do  Porto,  aos  2  de 
setembro  que  ora  passou,  em  audiência  perante  os  diteis  juizes,  que 
o  dito  almoxarife  lhe  dera  a  ler  a  dita  carta  de  citação,  que  a  hou- 
vesse de  ler  e  publicar  eemprazar  os  sobreditos  vereadores  e  procura- 
rador  em  cila  conteúdos,  que  presentes  estavam  ;  e  como  assim  fora 
lida,  que  os  ditos  juizes  de  suas  próprias  vontades,  e  a  requerimento 
dos  ditos  vereadores  e  procurador,  o  suspendessem  do  dito  oficio 
do  tabeliado,  etc.  <  larta  mandando  revogar  a  suspensão.  Coimbra, 
9  de  novembro  de  1  143.  Ibidem,  liv.  35.°  fl.  20  v. 

6  João  d<>  Porto,  barbeiro,  morador  em  Lisboa,  carta  de  besteiro 
de  cavalo.  Lisboa,  1  \  de  julho  de  1449.  Ibidem,  liv.  15.°,  fl.  167. 

7  João  do  Porto,  morador  nesta  cidade,  por  quanto  é  porteiro 
e  sacador  do  1  studo  delia,  licença  paia  trazer  anuas.  I  isboa,  11  de 
junho  de  1450.  Ibidem,  liv.  34.°,  fl.  137  v. 


ENVENENAI)!  >  239 

S  [oão  do  Porto,  inglês,  mercador,  morador  em  a  vila  de  Bristol, 
enviou  dizer  que  tem  uma  sua  nau  chamada  Graviel,  que  era  está 
auto  a  nossa  cidade  de  Lisboa,  e  por  quanto  se  temia  de  lhe  ser  na 
sua  nau  e  mercadorias  feita  alguma  tomada,  etc.  <  arta  de  seguro. 
I  isboa,  5  de  oitubro  de  1 151.  Ibidem,  liv.  35.°,  íl.  l>5  v. 

9  [oão  do  Porto,  escudeiro  do  Infante  meu  irmão,  enviou  dizer 
que  Recharte  Paim  e  Violante  Lopez,  sua  molher,  querelaram  delle, 
dizendo  que  vivendo  elle  com  elles  e  tendo  em  sua  casa  uma  Isabel 
sua  criada,  moça  virjem,  que  elle  dormira  com  ella  em  sua  cisa  e 
em  outras  partes;  e  que,  depois  que  assim  com  ella  dormira,  se  Fora 
a  casa  de  Roberto  Paim,  onde  estava  uma  Brites,  irmã  da  dita  Isabel, 
e  se  casara  com  ella  sem  licenc,a  e  autoridade  do  dito  Roberto  Paim, 
e  que,  sendo  elle  assim  casado  com  a  dita  Brites,  tornara  a  dormir 
com  a  dita  Isabel,  tendo-a  elles  já  esposado  com  um  (oão  da  Arruda, 
que  por  causa  da  dita  Isabel  acutilara  um  Álvaro,  criado  dos  ditos 
querelosos,  e  lhe  dera  uma  ferida  pela  mão  esquerda,  de  que  ficara 
manco  de  um  dedo,  o  qual  isso  mesmo  querelara  delle  que  lhe  dera 
outra  ferida;  por  a  qual  razão  elle  fora  degradado  para  Ceuta  por 
um  anuo,  e  fora  preso  por  as  ditas  querelas,  e  que  as  partes  a  que 
a  acção  pertencia  o  não  querem  acusar  e  leixaram  o  feito  da  jus- 
tiça, etc.  E  que  depois,  jazendo  preso  na  prisão  de  Lisboa,  fujira. 
Carta  de  perdão,  com  tanto  que  vá  estar  por  todo  a  nossa  cidade  de 
Ceuta  dez  annos.  Santarém,  29  de  setembro  de  1455.  Chancelaria 
de  Afonso  V,  liv.  15.°,  fl.  86  v. 

10 -João  do  Porto,  escudeiro  do  Infante  D.  Fernando  meu  ir- 
mão, morador  em  Lisboa,  enviou  dizer  que  Richarte  Paim  querelara 
delle  dizendo,  que  vivendo  com  elle  e  tendo  elle  em  sua  casa  Isabel 
sua  moça,  virjem,  que  dormira  com  ella  em  sua  casa  e  em  outras 
partes;  e  que,  depois  que  com  ella  dormira,  se  fora  a  casa  de  Re- 
charte (sic)  Paim,  onde  estava  uma  Beatriz,  irmã  da  dita  Isabel,  e 
casara  com  ella  sem  licença  do  dito  Richarte  Paim;  e  que,  sendo 
assim  casado  com  a  dita  Beatriz,  tornara  a  dormir  com  a  dita  Isabel, 
tendo-a  elle  já  esposado  com  João  de  Arruda;  e  por  causa  da  dita 
Isabel  um  Álvaro  seu  criado  houvera  uma  ferida,  que  lhe  dera  pela 
mão  sestra  de  que  ficou  aleijado  de  um  dedo,  querelando  delle. 
Pelas  quaes  querelas  fora  preso  e  acusado  por  parte  da  justiça,  por 
quanto  os  querelosos  o  não  quiseram  acusar;  e  que,  prolongando-se  o 
feito,  fujira  da  prisão;  e  que  depois  lhe  perdoáramos  com  tanto  tine 
estivesse  dez  annos  em  Ceuta,  como  consta  da  carta  de  perdão  que 
lhe  tora  notificada  por  sua  mulher,  e  não  a  quisera  aceitar  por  ser 
grão  pena,  a  qual  não  entendia  comprir  por  ser  pobre,  pelo  que 
andava  amorado.  Pede,  por  bem  do  perdão  geral  que  ora  fazemos 
por  razão  da  nossa  ida  contra  os  Turcos,  etc.  Carta  de  perdão  com 
tanto  que  fosse  estar  a  Ceuta  três  annos.  Lisboa,  15  de  dezembro  de 
1456.  Ibidem,  liv.  13.<\  fl.  71. 

11  João  do  Porto,  escudeiro  do  Infante  D.  Fernando,  enviou 
dizer  que  Richarte  Paim,  que  foi  nosso  sobre  juiz  em  Lisboa,  que- 
relara delle  dizendo,  que  vivendo  com  elle  e  estando  em  sua  casa 
Isabel,  sua  moça,  virjem,  que  dormira  com  ella  em  sua  casa  e  em 
outros  logares,  e  que,  depois  que  com  ella  dormira,  se  fora  a  casa 
de  Roberto  Paim,  onde  estava  uma  Beatriz,  irmã  da  dita  Isabel,  e 
casara  com  ella  sem   licença  do  dito  Roberto  Paim;  e  que,  sendo 


240  ESTUDOS 

m  casado  com  a  dita  Beatriz,  irmã  da  dita  Isabel,  tornara  a  dor- 
mir com  a  dita  Isabel,  tendo-a  elle  já  esposado  com  um  |oão  da 
Arruda;  e  que,  por  causa  da  dita  Isabel,  um  Álvaro  seu  criado  hou- 
vera uma  ferida,  que  lhe  dera  pela  mão  sestra,  de  que  ficara  aleijado 
de  um  dedo,  querelando  delle.  Pelas  quaes  querelas  fora  preso  e 
acusado  por  parte  da  justiça,  pov  quanto  os  quei  não  qui- 

seram acusar;  e  proseguindo  o  feito  contra  elle,  fujira  da  prisão, 
e  andando  amorado,  lhe  perdoáramos  com  tanto  que  fosse  estar  em 
Ceuta  dez  ânuos,  o  qual  lhe  fora  notificado  por  sua  molher,  e  não 
quisera  aceitar  o  degredo;  e  em  guira  o  perdão  que  fize- 

mos para  a  ida  do  Turco,  e  então  lhe  perdoáramos,  comtanto  que 
fosse  estar  a  Ceuta  três  annos  compridos,  o  qual  por  algumas  ocupa- 
ções que  lhe  sobrevieram  não  pudera  seguir;  e  que,  quando  ora 
fizemos  armada  para  a  filhada  de  Alcácer,  elle  nos  fora  servir  na 
armada  e  filhada  da  dita  vila,  e  em  cila  ficara  por  nosso  mandado  e 
por  nos  fazer  serviço,  até  que  de  todo  os  Mouros  se  daí  foram;  e 
depois  que  viera,  fora  ocupado  em  cousas  de  nosso  serviço,  de  guisa 
que  não  pudera  vir  tirar  seu  livramento  ao  tempo  devido,  etc.  Carta 
pela  qual,  sem  embargo  do  tempo  ser  passado,  lhe  foi  relevado  o 
dito  degredo.  Évora,  10  de  marco  de  1459.  Chancelaria  de  D.  Afonso  V, 
liv.  36.",  fl.  248. 

12  João  do  Porto,  escudeiro  de  João  Rodriguez  de  Sá,  filho  de 
Gil  Lourenço,  clérigo  de  missa  e  abade  de  S.  Martinho  de  Fajões, 
bispado  do  Porto,  e  de  Constança  Gonçalvez,  molher  solteira,  carta 
de  lejitimação.  Lisboa,  2  de  junho  de  1459  (?).  Ibidem,  fl.  lio  \. 

13  João  do  Porto  e  outros,  moradores  em  Portalegre,  carta  de 
perdão  por  uma  assuada  em  que  entraram  em  Marvão  contra  Pêro 
Caldeira,  fidalgo  da  casa  e  alcaide  mór  de  Marvão.  Avis,  30  de  ja- 
neiro de  14ó9.  Ibidem,  liv.  31.°,  fl.  6  v. 

14  -João  do  Porto,  porteiro  t  sacador  do  Estudo  de  Lisboa,  licença 
para  trazer  na  dita  cidade,  de  noite  e  de  dia,  um  punhal,  ou  uma 
arma  desta  sorte  da  grandeza  de  dois  palmos,  pouco  mais  ou  menos. 
Lisboa,  29  de  maio  de  1469.  Ibidem,  fl.  53  v. 

1  5  João  do  Porto,  morador  em  Castello  de  Vide,  carta  de  per- 
dão. Lisboa,  21  de  dezembro  de  1471.  Ibidem,  liv.  17. o,  fl.  23  v. 

16— João  do  Porto,  cunhado  de  Diogo  de  Oliveira,  barbeiro,  mo- 
rador no  Porto,  enviou  dizer  que,  estando  elle  em  casa  do  dito 
Diogo  de  Oliveira,  se  levantaram  ambos  em  razões,  sobre  as  quaes 
lhe  elle  dito  João  do  Porto  dera  com  três  feridas,  etc.  Carta  de  per- 
dão. Coimbra,  28  de  agosto  de  1472.  Ibidem,  liv.  29.<\  fl.  131  v. 

17 -João  do  Porto,  lavrador,  morador  na  Agualva,  termo  de  Pal- 
mella,  carta  de  perdão.  Évora,  12  de  março  de  147 '].  Ibidem,  liv.  33. o, 
fl.  79. 

18- Perante  nós  pareceu  Gil  Gonçalvez,  escudeiro,  morador  na 
ilha  da  Madeira,  sobrinho  que  foi  de  Clara  Estevez,  e  João  do  Porto, 
borzeguieiro,  morador  em  Lisboa;  pelos  quaes  foi  dito,  que  a  dita 
Clara  Estevez,  morador  que  foi  na  dita  ilha,  fizera  uma  capella  na 
igreja  de  Santa  Maria  a  Maior  da  dita  ilha,  á  qual  leixara  certos 
bens,  a  administração  da  qual  leixara  a  um  João  do  Porto,  barbeiro, 
morador  na  dita  ilha,  e  a  Pêro  Gonçalvez  seu  marido,  em  quanto 
elle  não  casasse,  os  quaes  perderam  a  administração  por  não  cum- 
prirem as  condições  do  testamento;  e  por  ello  nós  fizemos  delia 


ENVENENADO  241 

mercê  a  Fr.  Afonso  de  Noronha,  frade  da  Ordem  de  S.  Francisco, 
o  qual,  por  sentir  poso  de  conciencia  e  por  não  poder  administra-la, 
a  leixou  ao  dito  Gil  Gonçalvez  por  ser  sobrinho,  filho  de  irmã,  e 
parente  mais  chegado  de  Clara  Estevez,  etc.  Considerando  porem  <» 
dito  Gil  Gonçalvez,  que  não  pode  administrar  a  capella  por  mitras 
ocupações  que  tem,  e  considerando  da  bondade  do  dito  João  do 
Porto,  borzeguieiro,  pediu  para  darmos  a  administração  ao  dito 
João  do  Porto,  etc.  Carta  a  este.  Santarém,  29  de  oitubro  de  1477. 
Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  18.",  íl.  103  v. 

19  João  do  Porto,  prior  da  igreja  de  I 'almas  do  bispado  de 
Coimbra,  licença  para  poder  lançar  um  asno  a  éguas.  Viana  d'apar 
de  Alvito,  14  de  março  de  1480.  ibidem,  liv.  32.o,  fl.  31  v. 

20  João  do  Porto,  tabelião  do  eivei  e  crime  na  cidade  do  Porto, 
havemos  por  escusado  de  trazer  farpas,  segundo  é  obrigado  (Ord. 
Af.,  liv.  I,  tit.  II,  §  12),  sem  embargo  das  Ordenações,  etc.  de  Vila 
Viçosa,  13  de  junho  de  1480.  Ibidem,  fl.  168  v. 

21— João  do  Porto,  que  ora  tem  cargo  de  escrivão  pelo  chance- 
ler da  correição  da  Estremadura,  carta  de  tabelião  geral  naquella 
correição.  Santarém,  9  de  maio  de  1481.  Ibidem,  liv.  26.o,  fl.  15  v. 

22  João  do  Porto,  bacharel  em  a  Sé  de  Évora,  licença  para  com- 
prar bens  de  raiz.  Óbidos,  6  de  agosto  de  1481.  Ibidem,  fl.  135  v. 

23  João  do  Porto,  criado  que  foi  do  dr.  João  Pereira,  carta  de 
porteiro  dante  o  correjedor  da  corte.  Montemor  o  Novo,  13  de 
fevereiro  de  14S2.  Chancelaria  do  D.João  II,  liv.  6. o,  fl.  12  v. 

24 -João  do  Porto,  escudeiro  de  João  Rodriguez  de  Sá,  do  nosso 
conselho  e  alcaide  mór  do  Porto,  morador  em  essa  cidade,  carta  de 
tabelião  nessa  mesma.  Montemor  o  Novo,  1  de  março  de  1482. 
Ibidem,  fl.  26  v. 

25  — João  do  Porto,  carta  de  tabelião  nesta  comarca  e  correição. 
Évora,  4  de  maio  de  1482.  Ibidem,  fl.  39. 

26-João  do  Porto,  nosso  cantor,  tença  de  quatro  moios  de  trigo, 
em  quanto  nossa  mercê  fôr,  a  começar  do  l.o  de  janeiro  passado. 
Setúbal,  16  de  agosto  de  1484.  Ibidem,  liv.  22.o,  fl.  68. 

27  Mandámos  ora  tomar  conta  a  João  do  Porto,  escudeiro  da 
nossa  casa  e  nosso  comprador,  de  11.930.190  reaes,  que  de  nós  rece- 
beu para  despesa  de  seu  oficio  por  esta  guisa,  a  saber:  179.329  rs. 
e  meio,  o  anuo  de  46S  que  começou  a  servir  o  dito  oficio ;  e  327.814  rs. 
e  3  pretos,  o  anuo  de  69;  e  350.801  rs.  e  9  pretos,  o  anuo  de  70;  e 
381.803  e  8  pretos,  o  anuo  de  71 ;  e  426.464  rs.  e  meio,  o  anno  de  72; 
e  633:000  rs.,  o  anno  de  73;  e  631:000  rs.,  de  dez  meses  do  anno  74, 
porque  os  outros  dois  meses  comprou  Pêro  de  Cubellos,  nosso  bes- 
teiro de  cavalo,  por  nosso  mandado;  e  734. S96  rs.  o  anno  de  iò; 
e  530.413  rs.  o  anno  de  76;  e  69.620  rs.  para  as  dividas  do  dito  anno; 
e  882.105  rs.,  o  anno  de  77;  e  866.000  rs.,  o  anno  de  78;  e  860.000  rs., 
o  anno  de  79;  e  850.000  rs.,  o  anno  de  80;  e  1.054.945  rs.,  o  anno 
de  81  ;  e  1.29S.000  rs.,  de  sete  meses  derradeiros  do  anno  de  83, 
porque  o  anno  de  82  e  os  cinco  meses  primeiros  de  83  serviu  o  dito 
oficio  Álvaro  Rodriguez  por  nosso  mandado;  e  1.860.000  rs.,  o 
anno  de  84.  Dos  quaes  11.930.190  rs.,  nos  ficou  devendo  14.305  rs. 
pelo  encerramento  da  dita  conta,  que  lhe  foi  tomada  por  Antão 
Gonçalvez,  contador  da  nossa  casa,  e  por  João  Ereire,  escrivão  dos 
contos  delia;   dos  quaes   14.305  rs.   nos  entregou  4.305  rs.,  e  dos 

16 


242  ESTUDOS 

10.000  rs.  lhe  fazemos  mercê.  Carta  de  quitação.  Santarém,  13  de 
maio  de  1  186,  Chancelaria  de  D.  João  II,  liv.  4.",  fl.  20. 

28  Clara  Estevez,  viuva  de  Pêro  Gonçalvez,  morador  na  ilha  da 
Madeira  da  parte  do  Funchal,  fez  um  instrumento  pelo  qual  deixou 
sua  alma  por  universal  herdeira;  e  da  capella  que  instituiu  nomeou 
administrador  a  João  do  Porto,  cirurjião,  morador  em  a  dita  ilha, 
ordenando-lhe  por  seu  trabalho,  para  tudo  cumprir,  vinte  mil  reaes, 
não  declarando  bem  se  os  havia  de  haver  cada  anno;  o  qual  João  do 
Porto  ha  catorze  annos  que  administra  a  dita  capella  e  bens,  no 
qual  tempo  elle  fez  tanta  bemfeitoria,  e  acrescentou  em  os  bens  e 
rendas  delles,  que  os  fez  render  mais  as  três  quartas  partes,  que  onde 
rendiam  vinte,  vinte  e  cinco,  até  trinta  mil  íeaes,  rendem  agora  cem 
mil,  etc.  Nós  lhe  mandámos  tomar  a  conta  por  Rui  Gome/,  de  Aze- 
vedo,  fidalgo  da  nossa  casa  e  provedor  mór  da  rendição  dos  cativos, 
o  qual  nos  delia  fez  relação,  e  achámos  que  o  dito  João  do  Porto  o 
fez  assim  bem  no  dito  tempo,  como  compria  a  serviço  de  Deus  e 
nosso  e  vontade  da  alma  da  dita  finada,  pelo  qual  havemos  por  bem 
que  elle  tenha  a  dita  administração,  e  cumpra  todo  o  que  lhe  pela 
dita  defunta  é  mandado,  etc.  Arbitra-lhe  os  vinte  mil  reaes  por  anuo 
pelo  seu  trabalho;  e  manda  que  o  dinheiro,  que  na  conformidade 
da  vontade  da  finada  ha  de  cada  anno  ser  destinado  para  remissão 
de  cativos,  seja  pelo  administrador  remetido  annualmente  para  Lis- 
boa ao  tesoureiro  da  rendição  dos  cativos,  para  daquelle  dinheiro 
fazer  as  rendições  de  cativos  pobres,  e  manda-los  á  ilha  para  faze- 
rem oração,  e  lhes  darem  de  vestir,  e  se  irem  em  boa  ora,  segundo 
pela  dita  finada  é  mandado;  e  o  administrador  não  dará  mais  di- 
nheiro daqui  em  diante  a  nenhumas  pessoas,  salvo  como  dito  é,  etc. 
Santarém,  18  de  fevereiro  de  1487.  Ibidem,  liv.  19.°,  fl.  õl  v. 

29  |oão  do  Porto,  escudeiro,  morador  em  Coimbra,  carta  de  ta- 
belião nessa  cidade.  Santarém,  30  de  abril  de  1487.  Ibidem,  liv.20.°, 
fl.  IS  v. 

30  João  do  Porto,  carta  de  inquiridor  das  juradas  de  Coimbra. 
Santarém,  30  de  abril  de  1487.  Ibidem. 

31  -  João  do  Porto,  escudeiro,  morador  no  julgado  de  Pena,  carta 
de  tabelião  nesse  julgado.  Santarém,  23  de  agosto  de  1487.  Ibidem, 
liv.  20.o,  fl.  187. 

32  [oão  do  Porto,  escudeiro  de  Diogo  de  Azevedo,  fidalgo  de 
nossa  casa,  carta  de  escrivão  das  sisas  do  julgado  de  Pena,  termo  de 
Vila  Real.  Santarém,  30  de  agosto  de  1487.  Ibidem,  fl.  205. 

33  -João  do  Porto,  nosso  cantor,  carta  de  escrivão  dante  os  juizes 
Lsa  do  Civel,  como  foi  até  ora  Pêro  Rebello,  que  ora  se  finou. 

Setúbal,  0  de  novembro,  el  Rei  o  mandou  pelo  dr.  Diogo  de  Lu- 
cena, do  seu  conselho,  que  ora  tem  cargo  de  chanceler  mór,  Duarte 
Borjes  por  Pêro  Borjes  a  fez,  anno  de  1488.  Ibidem,  liv.  14.". 
fl.  94  v. 

\\  João  do  Porto,  nosso  cantor,  carta  de  escrivão  perante  os 
dores  da  corte.  Lvora,  15  de  março  de  1490.  Ibidem,  liv.  12.", 
fl.  23. 

35- João  do  Porto,  nosso  escudeiro,  morador  em  Guimarães, 
carta  de  privilejio  em  forma.  Lisboa,  19  de  novembo  de  1491.  Chan- 
celaria de  D.  Manuel,  liv.  29.",  fl.  52  v. 

'>!>     [oão    do    Porto,    escudeiro   de   nossa   casa   e   recebedor   dos 


ENVENENADO  243 

nossos  escravos  em  esta  cidade,  carta  de  privilejios  para  a  comarca 
da  Estremadura.  Lisboa,  28  de  junho  de  1 192.  Chancelaria  de 
D.João  II,  liv.  7.o,  ti.  130. 

37    João  do  Porto,  morador  em  Guimarães,  cana  de  tabelião 

nessa  vila.  Alcochete,  27  de  setembro  de  14l)2.  Ibidem,  fl.  68  v. 

58  \oao  do  Porto,  cana  de  cónego  na  colejiada  de  Santa  Maria 
de  Ourem.  Lisboa,  30  de  novembro  de  1  192.  Ibidem,  fl.  122. 

3(i  João  do  Porto,  nosso  escudeiro,,  carta  de  escrivão  d'ante  os 
correjedores  da  corte,  como  o  até  ora  Foi  por  carta  de  D.João  II. 
Montemor  o  Novo,  20  de  Fevereiro  de  1496.  Chancelaria  de  D.  Ma- 
nuel, liv.  32.o,  fl.  lio. 

40  Lm  1496,  a  1()  de  março,  em  Montemor  o  Novo,  nas  casas 
onde  poisa  a  senhora  D.  Maria  de  Noronha,  Condessa  de  Paro,  diW 
ella  que  tinha  a  vila  de  Aveiro,  com  todo  o  seu  termo  e  jurisdição, 
de  juro  e  herdade,  no  qual  termo  estava  uma  ilha  junto  com  Vila- 
rinho, a  qual  se  chama  da  Testada,  a  qual  a  aforou  a  João  do 
Porto,  escudeiro  dei  Rei  e  escrivão  da  sua  fazenda.  Chancelaria  de 
D.João  III,  liv.  30. o,  fl.  71.  Neste  documento  ha  dizeres  que  se 
não  entendem.  D.  Maria  de  Noronha,  quando  casou  com  D.  Afonso 
futuro  Conde  de  Laro,  recebeu  em  dote  a  vila  de  Aveiro,  que 
D.  Afonso  V,  por  carta  de  15  de  junho  de  1465,  confirmou  a  ella  e 
a  seu  marido  em  suas  vidas.  Depois,  por  outra  carta  de  20  de  maio 
de  1467,  fez  o  mesmo  Rei  doação  de  Aveiro  para  o  filho  varão  que 
nascer  dos  ditos  D.  Afonso  e  D.  Maria  (Liv.  3.°  dos  Brasões  de  Cin- 
tra, paj.  274).  Por  aqui  se  vê  que  não  existe,  pelo  menos  rejistada, 
doação  da  vila  de  Aveiro  de  juro  e  herdade  á  Condessa  de  Laro; 
mas  ha  mais.  Ella  sobreviveu  a  seu  filho  o  2. o  Conde  de  Laro,  que 
em  documentos  de  1504,  1509  e  1513  é  intitulado  senhor  de  Aveiro 
(Ibidem,  paj.  276),  pelo  que  se  vê  ter  elle  possuído  aquelle  senhorio 
em  virtude  da  segunda  vida  concedida  na  carta  de  1407,  acima 
apontada.  E  tanto  os  Faros  não  tinham  o  senhorio  de  Aveiro  de 
juro  e  herdade,  que  D.  Manuel,  por  carta  de  27  de  maio  de  1500, 
doou  aquella  vila  ao  Duque  de  Coimbra,  para  a  haver  por  morte 
daquelle  que  então  delia  era  donatário.  Liça  pois  sbsistindo  o  que 
escrevi  acerca  do  senhorio  de  Aveiro  no  citado  liv.  dos  Brasões  de 
Cintra,  acrescentando-se  unicamente  que  a  Condessa  de  Laro,  pos- 
suiu aquelle  senhorio  depois  da  morte  de  D.João  II,  sendo  comtudo 
provável  que  ella  apenas  o  administrasse  durante  a  expatriação  do 
filho,  ou  simplesmente  na  sua  menoridade. 

41  João  do  Porto,  escudeiro,  morador  em  Coimbra,  carta  de  inqui- 
ridor dos  feitos  das  jugadas  de  Coimbra  e  termo,  como  até  aqui 
o  foi  por  carta  de  D.  João  II.  Palmella,  28  de  maio,  el  Rei  o  mandou 
pelo  dr.  Rui  Boto,  do  conselho  e  chanceler  mór,  Fernand 'Alvarez, 
escrivão  de  Pêro  Borjes,  fidalgo  da  casa  e  escrivão  da  chancela- 
ria, a  fez,  anno  de  1496.  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  31.", 
fl.  132  v. 

42  João  do  Porto,  nosso  cantor,  apresentou  a  carta  de  10  de  agosto 
de  14S4,  e  foi-lhe  confirmada  em  Évora,  a  28  de  fevereiro  de  1497. 
Ibidem,  liv.  30.c,  fl.  59  v. 

43  João  do  Porto,  nosso  escudeiro,  morador  em  Guimarães,  apre- 
sentou a  carta  de  19  de  novembro  de  1491,  e  foi-lhe  confirmada  em 
Évora,  a  16  de  abril  de  1497.  Ibidem,  liv.  29.°,  fl.  52  v. 


244  ESTUDOS 

-14  João  do  Porto,  escudeiro  de  nossa  casa,  apresentou  o  instru- 
mento de  aforamento  de  10  de  março  de  1400.  Confirina-o  el  Rei  ao 
dito  João  do  Porto,  a  quem  D.  João  II  já  havia  aforado  a  referida 
ilha  da  Testada  no  termo  de  Aveiro.  Lisboa,  15  de  março  de  14(»s. 
t  >ficiaes  da  chancelaria,  mandamos-vos  que  passeis  por  ella  esta 
carta,  posto  que  o  tempo  seja  passado.  Lisboa,  14  de  julho  de  1530. 
Chancelaria  de  D.João  III,  liv.  39.0,  fl.  71. 

45  João  do  Porto,  morador  em  Coimbra,  carta  de  tabelião  do 
eivei  e  judicial  em  Coimbra,  como  até  ora  o  foi  Henrique  Vaz,  que 
<>  renunciou.  Lisboa,  20  de  novembro,  pelo  dr.  Rui  Boto,  chanceler 
mór,  etc,  anno  de  1498.  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  31.",  fl.  13. 

46  Mandámos  tomar  conta  á  mulher  e  herdeiros  de  João  do  Porto, 
escudeiro  de  nossa  casa,  de  todo  o  que  recebeu  e  despendeu  desde  15 
de  junho  de  1486  até  fim  do  anuo  de  1493,  que  foi  almoxarife  dos 
nossos  escravos  que  vêem  de  Guiné  nesta  cidade  de  Lisboa;  e  bem 
assim  do  que  recebeu  e  despendeu  nas  armadas,  a  saber:  na  armada 
do  socorro  da  cidade  de  Ceuta,  e  na  armada.de  Larache  e  Mamora; 
e  do  que  recebeu  e  despendeu  nas  casas  da  Tanoaria  que  mandou 
fazer,  etc.  Lisboa,  27  de  fevereiro  de  1500.  Arch.  hist  port.  III,  477. 

47-  João  do  Porto,  escudeiro,  morador  em  terras  de  Paiva,  carta  de 
escrivão  dos  órfãos  nessas  terras.  Lisboa,  8  de  novembro  de  1503. 
Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  35.",  fl.  55. 

IS  João  do  Porto,  escudeiro,  criado  de  Pêro  de  Sousa,  carta  de 
juiz  das  sisas  de  Chaves.  Lisboa,  20  de  dezembro  de  1504.  Ibidem, 
liv.  23."  fl.  40. 

49  João  do  Porto,  aio  que  foi  de  Pêro  de  Sousa  Ribeiro,  apre- 
sentou certidão  de  D.  João  de  Meneses,  camareiro  mór  do  Príncipe 
meu  filho,  em  que  certificava  como  fizera  cavaleiro  o  dito  João  do 
Porto  pelo  merecer,  e  ser  dos  primeiros  que  saíram  em  Arzila,  quando 
a  tomaram  e  decercaram  aos  Moiros,  pedindo  que  lhe  mandássemos 
guardar  as  liberdades  dos  cavaleiros,  etc.  Outorga,  em  Almeirim,  11  de 
junho  de  1510.  Ibidem,  liv,  3.",  fl.  22. 

50  João  do  Porto,  cavaleiro  de  nossa  casa,  carta  de  contador  dos 
nossos  contos  da  casa  e  do  reino,  com  o  mantimento  de  trinta  mil 
reaes  a  contar  de  janeiro  que  passou.  Lisboa,  20  de  maio  de  1522. 
Chancelaria  de  D.João  Hl,  liv.  51."  fl.  120. 


II 


Extractos  de  does.  relativos  a  Mestre  João 


1  —Mestre  Joanne  nos  mostrou  carta  Mestre Joanne  disse  que  fora 
culpado  na  morte  de  João  Valente,  morador  que  foi  em  Lagos,  pela 
qual  razão  foi   preso  e  acuzado,  e  depois  solto;  apelaram  porem 


ENVENENADO  245 

para  el  Rei,  mas  a  sentença  foi  confirmada.  Diz,  que,  não  embar- 
gando tudo  isto,  teme-se  dos  parentes  e  amigos  do  morto  o  mata- 
rem, ou  acutilarem,  por  não  ousar  trazer  suas  armas  por  guarda  e 

defensão  do  seu  corpo,  etc.  Carta  para  poder  tra/er  armas.  Estremo/, 
9  de  maio  de  1436.    Confirmada  em  Lisboa  a  29  de  agosto  de  1439. 

Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  19.o,  fl.  106  v. 

2-Mestre  João,  morador  em  Montemor  o  Novo,  carta  de  cirurjia. 
Alcácer,  28  de  fevereiro  (por  .Mestre  Martinho,  cirurjião  mordei  Rei) 
de  1442.  Ibidem,  liv.  35.<\  fl.  53. 

5  Mestre  Joanne,  natural  de  Proença,  físico,  morador  em  Coim- 
bra, carta  de  fisica,  e  escusado  de  pagar  peitas,  fintas,  etc.  em  quanto 
naquella  cidade  morar.  Examinado  por  Mestre  Aires,  fisico  dei  Rei. 
Lisboa.  14  de  abril  de  1443.  Ibidem,  fl.  23. 

4  Mestre  Joanne,  cónego  da  Sé  de  Lisboa,  fisico  que  foi  do 
Infante  D.  João  meu  tio,  licença  para  andar  em  besta  muar.  Lisboa, 
27  de  oitubro  de  1444.  Ibidem,  liv.  25.o,  fl.  V)  v. 

5  Mestre  Joanne,  morador  em  Beja,  carta  de  cirurjia  por  Mestre 
Gil,  cirurjião  mor  dei  Rei.  Évora,  21  de  maio  de  1450.  Ibidem, 
liv.  34.0  fl.  93. 

6  -Mestre  Joanne,  cirurjião,  criado  de  Mestre  Gil,  nosso  cirurjião 
mór,  morador  em  Montemor  o  Velho,  como  quer  que  com  o  Infante 
D.  Pedro  viesse  á  batalha  da  Alfarrobeira,  que  contra  nossa  pessoa 
e  real  estado  houve,  por  quanto  fomos  certificado  por  uma  inqui- 
rição, que  a  petitório  mandámos  tirar,  que  elle  veio  com  o  dito 
Infante  por  força  e  contra  sua  vontade,  etc.  Não  se  entenda  com  elle 
na  conformidade  das  cartas  expedidas  contra  os  que  foram  naquella 
batalha.  Santarém,  10  de  novembro  de  1450.  Ibidem,  fl.  213. 

7  -Mestre  João,  morador  em  Viana  de  Caminha,  carta  de  isenção 
de  encargos,  servidões  e  contribuições  do  concelho.  Tentúgal,  30 
de  setembro  da  1459.  Ibidem,  liv.  36.Q,  fl.  242  v. 

S  Mestre  João,  criado  de  Mestre  Pêro  de  Vilanova,  carta  de 
cirurjia,  examinado  por  Mestre  Gil,  cavaleiro  de  nossa  casa  e  nosso 
cirurjião  mór.  Estremoz,  31  de  dezembro  (por  Mestre  Gil,  etc.) 
de  144o.  Ibidem,  liv.  S.o,  fl.  36  v. 

9  — Mestre  Joanne  da  Grécia  disse  como  elle  viera  ora  a  estes  nossos 
reinos,  e  que  sabia  bem  de  fisica.  Carta  de  fisico,  havendo  sido  exa- 
minado pelo  dr.  Mestre  Afonso  Madeira,  nosso  fisico  mór.  El  Rei 
o  mandou  pelo  dito  dr.  Mestre  Afonso  Madeira,  seu  fisico  mór  e 
examinador  de  todos  os  fisicos  de  seus  reinos  e  senhorios.  Palmella, 

27  de  novembro  de  1465.  Ibidem  liv.  14.°  fl.  47. 

10  Mestre  João,  francês,  pedreiro,  morador  no  Porto,  por  ser 
estranjeiro  e  por  o  dr.  Fernand^lvarez  Baldaia,  nosso  escudeiro, 
morador  na  dita  cidade,  que  no-lo  por  elle  pediu,  etc.  Carta  de 
isenção  de  encargos,  servidões  e  contribuições  do  concelho.  Porto, 

28  de  janeiro  de  1466.  Ibidem,  liv.  14.<>,  fl.  26. 

11  Mestre  João,  catalão,  estranjeiro,  carta  de  cirurjia.  Examinado 
por  Mestre  Gil,  nosso  cirurjião  mór.  Santarém,  2  de  maio  de  1466. 
Ibidem,  fl.  37  v. 

12  Mestre  João,  morador  em  Coimbra,  carta  de  requeredor  das 
sisas  de  Coimbra.  Santarém,  15  de  janeiro  de  146S.  Ibidem,  liv.  35/', 
fl.  49. 

13 -Mestre  Joanne,  criado  de  Mestre  Afonso,  morador  em  Lisboa, 


24  Ô  ESTUDOS 

carta  de  cirurjia.  Examinado  por  Mestre  Gil,  ciruíjião  do  Duque 
D.  João,  nieu  sobrinho,  a  que  dêmos  cargo  de  examinar  pelo  bacha- 
rel Mestre  Fernando.  Lisboa.  1  de  novembro  (pelo  dito  Mestre  Gil) 
de  1471.  Chancelaria  de  D.  Affonso  V,  liv.  22.",  fl.  101  v., 

14  Mestre  João,  morador  em  Portalegre,  carta  de  cirurjia.  Exa- 
minado por  Mestre  Gil,  cirurjião  do  Duque  D.  João,  meu  sobrinho, 
a  que  temos  dado  cargo  de  examinar  pelo  bacharel  Mestre  Fernando. 
Lisboa,  4  de  dezembro  (pelo  dito  Mestre  Gil)  de  1471 .  Ibidem,  liv.  17.", 
ti.  15. 

15 -Mestre  Joanne,  morador  em  Montemor  o  Velho,  nosso  vas- 
salo, carta  de  aposentado  apesar  de  ainda  não  ter  a  idade.  Sintra, 
10  de  fevereiro  de  1472.  Ibidem,  liv.  29.»,  fl.  90. 

lò  Mestre  Joanne,  morador  em  Montemor  o  Velho,  carta  de 
privilejio  de  vassalo  para  a  comarca  da  Estremadura.  Coimbra,  27 
de  agosto  de  1472.  Ibidem,  fl.  168. 

17  Mestre  Joanne,  boticário,  morador  em  Tomar,  carta  de  fisica. 
Examinado  pelo  Eisico  mór.  Lisboa,  1 1  de  julho  (pelo  dr.  Mestre 
Afonso,  fisico  mór)  de  1473.  Ibidem,  liv.  33.",  fl.  141. 

18  Mestre  João,  morador  em  Vila  Real,  carta  de  cirurjia.  San- 
tarém, 22  de  fevereiro  (por  mestre  Fernando,  fisico  e  cirurjião  mór) 
de  1481.  Ibidem,  liv.  26.o  fl.  22  v. 

10  Mestre  Joanne,  filho  de  Mestre  Fernando,  morador  em  Lisboa, 
licença  para  usar  de  cirurjia.  Examinado  pelo  dito  Mestre  Fernando. 
Beja,  20  de  junho  (el  rei  o  mandou  pelo  dito  Mestre  Fernando) 
de  1481.  Chancelaria  de  D.João  II,  liv.  3.o,  fl.  3. 

20-Majister  Joannes,  nosso  capellão,  carta  de  apresentação  na 
igreja  de  Santa  Maria  da  diocese  de  Viseu.  Évora,  17  de  janeiro 
de  1482.  Ibidem,  liv.  2.",  fl.  5  v. 

21— Mestre  Joanne,  morador  em  Montemor,  carta  de  escrivão  dos 
órfãos  na  dita  vila,  pela  guisa  por  que  o  elle  até  aqui  foi  por  carta  de 
D.  Afonso  V.  Évora,  23  de  maio  de  1482.  Ibidem,  liv.  6.",  fl.  55  v. 

22  Mestre  João  de  Lisboa,  morador  em  Tarouca,  licença  para 
usar  da  arte  de  cirurjia,  por  quanto  somos  certo  pelo  dr.  Mestre 
Fernando,  nosso  fisico  e  cirurjião  mór,  a  que  o  mandamos  exami- 
nar, que  era  idonio  e  pertencente  para  usar  da  dita  arte.  Évora,  5  de 
agosto,  el  Rei  o  mandou  pelo  dr.  Mestre  Fernando,  de  1483.  Ibidem, 
liv.  24.",  fl.  35  v. 

23  Mestre  João,  morador  na  vila  de  Torres  Novas,  cirurjião, 
licença  e  logar  que  use  e  possa  obrar  de  cirurjião  por  todos  nossos 
reinos,  por  quanto  somos  certo  pelo  dr.  Mestre  Fernando,  nosso 
fisico  e  nosso  cirurjião,  a  que  o  nós  mandámos  examinar,  e  porque 
elle  era  idonio  e  pertencente  para  usar  da  dita  ciência  .  .  .  (Sem 
data;  está  entre  uma  carta  de  Torres  Novas,  a  14  de  novembro 
de  14S3,  e  outra  de  Seia  a  22  de  oitubro  de  1483.)  Ibidem,  liv.  25.", 
Fl.  04  v. 

24 -Mestre  Joanne,  bombardeiro,  e  nos  serve  em  fazer  tiros  de 
fogo,  etc.  Carta  de  privilejios  para  a  comarca  de  Entre  Doiro  e 
Minho.  Lisboa,  15  de  novembro  de  1480.  Ibidem,  liv.  8.",  fl.  108. 

25  Mestre  João,  bombardeiro,  o  filhamos  ora  por  nosso  bom- 
bardeiro com  a  tença  de  10:000  reaes  a  começar  no  l.°  de  janeiro 
deste  anno  de  1490,  com  todas  as  honras,  fanquezas  e  liberdades 
que   temos  dadas   e  outorgadas  aos  outros    nossos   bombardeiros. 


ENVENENADO  247 

Évora,  lo  de  fevereiro  dé  moo.  Chancellaría  de  D.João  II,  liv.  13.", 
fl.  142  V. 

26  Pêro  Babilão,  nós  el  Rei,  etc.  Carta  para  Mestre  João,  por 
em  Tanjer  não  haver  tísico  nem  cirurjião,  ir  como  tal  para  lá,  com 
5:000  reaes  de  ordenado  de  fisico  e3:000de  cirurjião,  e  dois  homens 
que  comsigo  leva  assentados  nos  nossos  ordenados,  etc.  Évora,  14 
de  abril  de  1491.  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  32.°,  fl.  91  v. 

27  Mestre  João,  morador  em  Trancoso,  por  sermos  certo  pelo 
dr.  Mestre  António,  etc.  Carta  de  cirurjia.  Santarém,  S  de  julho, 
el  Rei  o  mandou  pelo  dr.  Mestre  António,  cavaleiro  de  sua  casa  e 
sen  fisico  e  cirurjião  mor,  de  1491.  Chancelaria  de  D.João  II,  liv,  10.', 
fl.  140  v. 

28 -Mestre  J/oanne,  cirurjião,  morador  em  Aveiro,  a  requeri- 
mento dos  oficiaes  e  homens  bons  da  dita  vila  que  no-lo  por  elle 
mandaram  requerer,  temos  por  bem,  que  em  quanto  na  dita  vila 
viver,  etc.  Carta  de  escusado  de  feitos,  etc.  Mosteiro  do  Varatojo,  5 
de  junho  de  1493.  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  27.o,  fl.  2 

29  Mestre  Joanne,  fisico  e  cirurjião,  morador  em  Tanjer,  apre- 
sentou a  carta  de  14  de  abril  de  1491.  Confirma  em  Montemor 
o  Novo  a  1  de  fevereiro  de  1496.  Ibidem,  liv.  32. o,  fl.  01  v. 

30  -  Mestre  Joanne  apresentou  a  carta  de  1 5  de  novembro  de  14S6. 
Confirma  em  Santarém  a  S  de  novembro  de  1496.  Ibidem,  liv.  27.o, 
fl.  30. 

31  Mestre  Joanne,  cirurjião,  morador  em  Aveiro,  apresentou  a 
carta  de  5  de  junho  de  1493.  Confirma  em  Évora  a  8  de  março 
de  1497.  Ibidem,  fl.  2. 

32  Mestre  João,  castelhano,  morador  em  Évora,  carta  de  cirurjia. 
Examinado  pelo  cirurjião  mór.  Évora,  26  de  oitubro  (por  Mestre  Gil, 
cirurjião  mór)  de  1497.  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  28.°,  fl.  32. 

33  Mestre  João,  castelhano,  morador  em  Évora,  carta  de  medicina. 
Examinado  pelo  dr.  Mestre  António  de  Lucena,  nosso  fisico  mór. 
Évora,  9  de  novembro  (pelo  dr.  Mestre  António,  etc.)  de  1497.  Ibidem. 

34  Mestre  João,  morador  em  Vila  do  Conde,  havia  dezasete 
annos,  pouco  mais  ou  menos,  que  fora  examinado  pelo  dr.  Mestre 
Rodrigo  e  houvera  carta.  Carta  de  fisica.  Examinado  pelo  dr.  Mes- 
tre António  de  Lucena,  fisico  mór.  Lisboa,  22  de  maio  (pelo  dr.  Mes- 
tre António,  etc.)  de  1498.  Ibidem,  liv.  44.o,  fl,  2  v. 

35-  Mestre  João,  morador  em  Punhete,  carta  de  cirurjia.  Exami- 
nado por  Mestre  Gil,  fisico  e  cirurjião  mór.  Lisboa,  19  de  julho 
(por  Mestre  Qil,  etc.)  de  1498.  Ibidem,  liv.  31. o,  fi.  134  v. 

36  —D.  Leonor  de  Sousa,  mulher  que  foi  de  Diogo  Gil  Moniz, 
apresentou  uma  carta  de  13  de  fevereiro  de  1492  de  confirmação  de 
vários  bens  e  entre  elles  os  quartos  do  Lumiar  e  o  foro  de  uma 
quinta  em  Carnide,  e  uma  procuração  por  ella  feita  a  seu  filho  Pêro 
Moniz,  em  Odemira  a  12  de  abril  de  1498,  para  poder  vender  os 
referidos  quartos.  Pede  a  el  Rei,  por  se  ter  concertado  com  Mestre 
João,  nosso  fisico,  sobre  o  foro  da  quinta  de  Carnide,  que  lhe  dê 
seu  consentimento  e  licença.  Carta  de  aprovação  e  confirmação  a 
Mestre  João.  Lisboa,  22  de  oitubro  de  1408.  Ibidem,  fl.  113. 

37  — Mestre  João,  morador  em  termo  de  Silves,  onde  chamam  a 
Lagoa.  Carta  de  cirurjia.  Lisboa,  6  de  novembro  (por  Mestre  Gil, 
fisico  e  cirurjião  mór)  de  1498.  Ibidem,  fl.  142. 


248  ESTUDOS 

58  Mestre  |oão,  morador  em  Rebordão,  termo  de  Bragança.  Carta 
de  cirurjia.  Examinado  por  Mestre  Gil,  fisico  e  cirurjião  mór.  Lisboa, 

14  de  dezembro  (por  Mestre  Gil,  etc.)  de  1  498.  Chancelaria  de  D.  Ma- 
nuel, liv.  31.°,  ti  131. 

39  Mestre  João,  morador  na  vila  de  Santa  Marinha,  disse  haver 
dezaseis  annos  pouco  mais  ou  menos,  que  fora  examinado  pelo 
dr.  Mestre  Rodrigo,  nosso  fisico  mór  que  foi,  e  houvera  carta  em 
forma.  Carta  de  medicina.  Examinado  pelo  dr.  Mestre  António.  Lis- 
boa, IS  de  marc,o  (pelo  dr.  Mestre  António  de  Lucena,  fisico  mór) 
de  1449.  Ibidem,\w.  14.'»,  fl.  21  v. 

40  Mestre  João  de  Badajoz,  morador  em  Serpa,  carta  de  medi- 
cina. Examinado  pelo  dr.  Mestre  António  de  Lucena,  fisico  mór. 
Lisboa,  21  de  janeiro  (pelo  dr.  Mestre  António,  etc.)  de  1500.  Ibi- 
dem, fl.  S3. 

41  Mestre  Joanne,  filho  de  João  Afonso,  morador  em  Monsanto, 
carta  de  cirurjia.  Examinado  por  Mestre  Gil,  nosso  fisico  e  cirurjião 
mór.  Lisboa,  20  de  julho  (por  Mestre  Gil,  etc.)  de  1500.  Ibidem, 
liv.  12.o,  fl.  5S. 

42  Mestre  João,  morador  em  Sousel,  carta  de  fisico.  Examinado 
pelo  dr.  Mestre  António  de  Lucena,  nosso  fisico  mór.  Lisboa,  10  de 
novembro  (pelo  dr.  Mestre  António,  etc)  de  1500.  Ibidem,  fl,  52  v. 

43  Mestre  Joanne,  morador  em  Viseu,  disse  que  havia  já  dez 
annos  pouco  mais  ou  menos,  que  fora  examinado  pelo  dr.  Mestre 
António,  nosso  cirurjião  mór,  e  que  houvera  sua  carta  em  forma,  e 
que  queria  ser  confirmado.  Examinado  por  Mestre  Gil,  nosso  fisico 
e  cirurjião  mór.  Carta  de  cirurjia.  Lisboa,  24  de  novembro  (por  Mes- 
tre Gil,  etc.)  de  1500.  Ibidem,  liv.  12.o,  fl.  50  v. 

44 -Mestre  João,  morador  em  Coimbra,  enviou  dizer  que  apren- 
dera muitos  tempos  da  ciência  e  arte  de  cirurjia,  e  que  havia  já  seis 
annos  pouco  mais  ou  menos,  que  fora  examinado  pelo  dr.  Mestre 
António,  nosso  cirurjião  mór,  e  que  houvera  sua  carta  em  forma, 
etc.  Confirmado  por  ter  sido  certificado  por  Mestre  Gil,  nosso  fisico 
e  cirurjião  mór,  por  quem  foi  examinado,  que  era  idóneo,  etc.  Lis- 
boa, 24  de  março  (por  mestre  Gil,  etc.)  de  1501.  Ibidem,  liv.  1.",  fl.  12  v. 

45  Jorje,  filho  de  Mestre  João,  que  Deus  haja,  morador  que  foi 
em  Lisboa,  e  de  Margarida  Eernandez,  mulher  solteira,  carta  de  leji- 
timação.  Lisboa,  2  de  abril  de  1501.  Ibidem,  liv.  17.",  fl.  26  v. 

46  Mestre  João,  cirurjião,  morador  na  cidade  do  Porto,  disse  que 
Nuno  Afonso  seu  pai  em  sua  vida  vendera  certos  bens  de  raiz  a  um 
Vasco  Martinz,  morador  em  Penaverde,  os  quaes  são  em  Figueiró 
da  Granja.  A  venda  foi  a  retro,  suscitaram-se  duvidas,  e  el  Rei  fez 
mercê  dos  bens  a  Mestre  João.  Lisboa,  27  de  setembro  de  1501. 
Ibidem,  fl.  96. 

47  Mestre  João,  cirurjião,  morador  em  Viseu,  mandou  dizer  que 
vendera  um  rocim  a  um  Lopo  Mendez,  mercador,  morador  na  dita 
cidade,  seu  primo  com  irmão,  e  por  elle  suplicante  pedir  algum 
dinheiro  que  lhe  o  dito  Lopo  Mendez  ainda  ficara  devendo  da  venda 
do  dito  rocim  sem  lho  querer  pagar,  elle  lhe  mandara  tomar  o  dito 
rocim  de  uma  casa  donde  o  elle  tinha,  por  um  seu  mocinho  por 
nome  Gabriel,  por  bem  do  qual  o  dito  Lopo  Mendez  querelara  e 
denunciara  delle,  dizendo  que  lhe  furtara  o  dito  rocim,  por  bem  do 
qual  andava  amorado.  Apresentou  perdão  da  parte.  Carta  de  perdão, 


ENVENENADO  249 

pagando  trezentos  reaes  para  piedade,  os  quaes  recebeu  D.  Fran- 
cisco, Bispo  de  Fez,  que  ora  por  especial  mandado  tem  cargo  de 
esmoler  em  ausência  de  Álvaro  rernandez,  nosso  capellão.  Lisboa,  27 
de  novembro  de  1501.  Chancelaria  de  D.  Manuel,  tiv.  37.o,  fl.  36. 

48  Mestre  João,  fisico  castelhano,  morador  na  Vidigueira,  carta 
de  fisico  Examinado  pelo  dr.  Mestre  António  de  Lucena,  nosso  fisico 
mór.  Lisboa,  3  de  fevereiro  (pelo  dr.  Mestre  António,  etc.)  de  1502. 
Ibidem,  liv.  2.o,  fl.  8  v. 

4()  Mestre  João,  fisico,  morador  em  Castello  de  Vide,  carta  de 
fisico,  tendo  sido  examinado  pelo  dr.  Mestre  António  de  Lucena, 
nosso  fisico  mór.  Lisboa,  28  de  abril,  el  Rei  o  mandou  pelo  dr.  Mes- 
tre António,  seu  fisico  mór,  Mestre  Rodrigo  a  fez,  de  1502.  Ibidem, 
fl.  26. 

50  Mestre  João,  cirurjião,  morador  em  Castello  de  Vide,  carta 
de  cirurjião,  tendo  sido  examinado  por  Mestre  Gil,  nosso  cirurjião 
mór.  Lisboa,  2  de  maio,  el  Rei  o  mandou  por  Mestre  Gil,  seu  cirur- 
jião mór,  Diogo  de  Lucena  a  fez,  de  1502.  Ibidem. 

51  Mestre  João,  boticário  do  Duque  de  Bragança,  carta  de  cirur- 
jia.  Examinado  por  Mestre  Gil,  fisico  e  cirurjião  mór.  Lisboa,  8  de 
novembro  (por  Mestre  Gil,  etc.)  de  1503.  Ibidem,  liv.  35.",  fl.  54  v. 

52  Mestre  João,  "jenoes-,,  criado  de  Mestre  Martinho,  licença 
para  curar  de  hérnias,  a  saber:  de  tirar  pedras,  e  curar  de  quebra- 
dos e  potrosos  por  todos  nossos  reinos,  etc.  Examinado  por  Mestre 
Gil,  nosso  fisico  e  cirurjião  mór.  Lisboa,  7  de  novembro  (por  Mestre 
Gil,  etc.)  de  1504.  Ibidem,  liv.  23.°,  fl.  36. 

53  Mestre  João  Sanchez,  de  nação  galego,  morador  em  Cangas, 
carta  de  cirurjião.  Examinado  por  Mestre  Gil,  nosso  fisico  e  cirur- 
jião mór.  Lisboa,  23  de  janeiro  (por  Mestre  Gil,  etc.)  de  1505.  Ibi- 
dem, fl.  51  v. 

54 -Mestre  João,  recebedor  do  almoxarifado  de  Guimarães  o  anno 
de  1507,  carta  de  quitação.  Évora,  5  de  julho  de  1509.  Arch.  hist.  port., 
III,  238,  fl.  29. 

55  Mestre  João,  rendeiro  e  recebedor  dos  portos  de  Trás  os 
Montes  nos  annos  de  1508  e  1509,  carta  de  quitação.  Lisboa,  4  de 
junho  de  1511.  Ibidem,  239. 

56  -Mestre  João  de  Torres  Vedras,  barbeiro,  morador  em  Setúbal, 
licença  para  curar  de  boubas  e  chagas  delias,  e  postemas,  e  a  sangrar 
e  tirar  dentes,  pôr  ventosas.  Lisboa,  6  de  julho,  el  Rei  o  mandou  por 
Mestre  Gil,  seu  fisico  e  cirurjião  mór,  de  1511.  Chancelaria  de 
D.  Manuel,  liv.  S.°,  fl.  70  v. 

57  Mestre  João  de  Ribadescrir  (?),  castelhano,  morador  em  Setú- 
bal, carta  de  cirujia.  Examinado  por  Mestre  Gil,  nosso  fisico  e  cirur- 
jião mór.  Lisboa,  3  de  julho  de  1511.  Ibidem. 

58-  Mestre  João  de  Buetes  (?),  bacharel  em  medicina,  morador 
na  Pedreneira,  carta  de  cirurjia.  Examinado  pelo  dr.  Diogo  de  Faria, 
fisico  e  cirurjião  mór.  Lisboa,  18  de  setembro  (pelo  dr.  Diogo  de 
Faria,  etc.)  de  1513.  Ibidem,  liv.  42.o,  fl.  104  v. 

59  -Mestre  João,  "estrolico,,  tenha  do  l.o  de  janeiro  que  virá 
de  1514,  em  quanto  nossa  mercê  for  e  nos  delle  servirmos  nesta 
cidade,  12:000  reaes  de  tença  assentados  no  almazem  da  índia  por 
só  esta  carta.  Lisboa,  22  de  oitubro  de  1513.  Ibidem,  liv.  15.",  fl.  172. 

60  Mestre  João,  morador  em  Vila  Nova  de  Portimão,  carta  de 


250  ESTUDOS 

cirurjia.  Examinado  pelo  dr.  Diogo  de  Faria,  nosso  cirurjião  mor. 

Lisboa,  (•  de  novembro  (pelo  dr.  Diogo  de  Faria,   etc.)  de   1513. 
Chancelaria  de  D.  Manurl,  livro  15.",  fl.  52  v. 

ol  Mestre  João,  morador  em  Guimarães,  rendeiro  e  recebedor 
que  foi  o  anuo  de  1510  da  sisa  e  dizima  dos  portos  de  Trás  os  Mon- 
tes, carta  de  quitação.  Lisboa,  12  de  maio  de  1514.  Arch.  hist.  port., 
III,  239. 

62  Mestre  João,  morador  em  Messejana,  carta  de  cirurjia.  Exa- 
minado pelo  dr.  Diogo  de  Faria,  nosso  cirurjião  mór  ...  2  de 
novembro  (pelo  dr.  Diogo  de  Faria,  etc.)  de  1514.  Chancelaria  de 
D.  Manuel,  liv.  15.°,  fl.  155  v. 

63  Mestre  João,  morador  em  Lisboa,  carta  de  cirurjia.  Examinado 
pelo  dr.  Diogo  de  Faria,  nosso  cirurjião  mór.  Lisboa,  24  de  julho 
(pelo  dr.  Diogo  de  Faria,  etc.)  de  1515.  Ibidem,  liv.  24. o,  fl.  88. 

64  Mestre  João  de  Riba  de  Ser,  fisico,  morador  em  Setúbal,  disse 
que  havia  muitos  annos  que  usava  e  praticava  física,  e  por  bem  do 
rejimento  que  ora  tínhamos  dado  ao  dr.  Mestre  Afonso,  nosso  fisico 
mór,  elle  não  podia  usar  menos  que,  segundo  nossa  ordenança,  fosse 
examinado;  e  vendo  nós  seu  dizer  e  pedir,  mandámos  ao  fisico  mór 
que  o  examinasse  segundo  a  ordem  e  instrução  de  seu  rejimento; 
o  qual  com  o  dr.  Mestre  Gil  e  com  Mestre  Diogo,  nossos  físicos, 
o  examinaram,  assim  na  theorica  como  na  pratica,  levando-o  o  nosso 
fisico  mór  três  vezes  comsigo  por  esta  nossa  cidade  a  visitar  seus 
enfermos;  e  por  a  todas  três,  em  a  elle  fisico  mór  no  modo  de  visi- 
tar dar  mui  boa  conta,  e  alem  disso  fazer  auto  por  prova  suficiente 
e  bastante,  que  havia  oito  ou  nove  annos  que  usava  e  praticava  como 
fisico  do  Mestre  de  Santiago  e  de  Avis,  Duque  de  Coimbra,  meu 
muito  amado  e  prezado  sobrinho,  e  com  outros  fisicos,  e  por  assim 
o  achar,  etc.  Carta  de  fisica.  Lisboa,  24  de  de  agosto  (pelo  dr.  Mestre 
Afonso,  fisico  mór)  de  1515.  Ibidem,  fl.  100  v. 

65 -Mestre  João,  morador  na  vila  do  Crato,  licença  para  curar 
de  boubas  e  dores  delias,  e  chagas,  e  de  todo  o  que  procede  delias, 
e  assim  daquellas  coisas  de  cirurjia,  a  saber:  apostemas,  e  feridas 
pequenas,  e  mais  não.  Examinado  pelo  dr.  Diogo  de  Faria,  nosso 
cirurjião  mór.  Lisboa,  20  de  fevereiro,  el  Rei  o  mandou  pelo 
dr.  Diogo  de  Faria,  seu  cirurjião  mór  em  todos  os  seus  reinos, 
de  1516.  Ibidem,  liv.  25.°,  fl.  7. 

66  Mestre  João,  filho  de  Mestre  António  de  Beja,  morador  em 
Fstremoz,  carta  de  cirurjia.  Examinado  pelo  dr.  Mestre  Gil,  cirurjião 
mór.  Évora,  14  de  novembro  (pelo  dr.  Mestre  Gil)  de  1520.  Ibidem, 
liv.  36.o,  fl.  Ho. 

67  Mestre  João,  biscainho,  morador  em  o  Porto,  carta  de  cirurjia. 
Examinado  por  mestre  Gil,  nosso  fisico  e  cirurjião  mór.  Lisboa,  26 
de  janeiro  (por  Mestre  Gil,  etc.)  de  1521.  Ibidem,  liv.  37.o,  fl.  106  v. 

(iS  Mestre  João,  morador  em  Veiros,  carta  de  cirurjia.  Exami- 
nado por  dr.  Mestre  Gil,  nosso  fisico  e  cirurjião  mór.  Lisboa,  28  de 
agosto  (pelo  dr.  Mestre  Gil,  etc.)  de  1521.  Ibidem,  liv.  18.",  fl.  5  v. 

69  Mestre  João  haja  de  mantimento  com  o  oficio  de  avaliador 
da  pedraria,  aljôfar,  âmbar,  e  almíscar,  e  cousas  outras  da  Casa  da 
índia,  4:000  reaes  em  cada  anno,  do  l.o  de  janeiro  que  passou 
de  1521.  Lisboa,  14  de  fevereiro  de  1522  (sic,  mas  deve  ser  1521, 
porque  a  carta  é  de  D.  Manuel).  Ibidem,  liv.  39.°,  fl.  5. 


XI 


'  O  CAMAREIRO 


Estava  Lisboa  apertada  pelo  assedio,  que  desde  fins 
de  fevereiro  de  1373  lhe  puzera  D.  Henrique  II  de  Cas- 
tella,  quando  um  dos  seus  capitães,  o  Adiantado  de 
Galiza  Pedro  Rodriguez  Sarmiento,  com  os  fidalgos  e 
homens  de  armas  daquelle  reino  invadiu  o  Minho  e 
avançou  até  Barcellos. 

Naquella  província,  onde  era  muito  herdado,  encon- 
trava-se  então  Henrique  Manuel,  tio  materno  dei  Rei 
D.  Fernando  e  posteriormente  conde  de  Seia.  Juntou- 
se  elle  a  outros  fidalgos  da  comarca,  e  á  testa  das  suas 
gentes  de  guerra,  e  da  peonajem  dos  concelhos  do 
Porto  e  Guimarães,  foi  oferecer  batalha  aos  Galegos, 
que  a  aceitaram,  e  derrotaram  as  tropas  minhotas. 

"O  bom  escudeiro,,  Nuno  Gonçalvez,  que  tinha  o  cas- 
tello  de  Faria  desde  1367,  vendo  do  alto  dos  seus  mu- 
ros passar  a  hoste  portuguesa,  deliberou  sair  com  os 
seus  e  dar  de  súbito  nos  invasores,  carregando-os  de 
flanco,  para  maior  ser  o  seu  destroço.  Chegou  porem 
tarde,  porque  a  victoria  já  era  dos  inimigos,  que  o  des- 
barataram e  aprisionaram. 


252  ESTUDOS 

No  seu  castello,  suprindo  as  suas  vezes,  deixara  o  Al- 
caide um  seu  filho  '  que  poderia  não  ter  o  suficiente 
animo,  para  ruão  entregar  a  fortaleza,  se  os  Castelhanos, 
ao  pé  das  muralhas,  á  sua  vista,  fossem  sujeitar  o  pai  a 
tratos,  agravados  com  ameaças  de  suplicio.  Receoso 
desta  possível  fraqueza,  desculpável  num  filho  mancebo 
ainda,  resolveu  Nuno  Gonçalvez  praticar  um  acto  de 
heroicidade  comparável  com  alguns  dos  mais  celebrados 
feitos  dos  antigos  Gregos  e  Romanos.  Dirijiu-se  o  Al- 
caide ao  Adiantado  Pedro  RodriguezSarmiento,  pedindo 
para  ser  levado  junto  da  barbacan  do  castello  de  Faria, 
a  fim  de  cá  de  baixo  ordenar  ao  filho  que  abrisse  as 
portas. 

Anuiu  o  Adiantado,  e  no  meio  de  uma  escolta  lá  foi 
levado  o  Alcaide,  que,  apenas  viu  o  filho  entre  as  ameias, 
lhe  exclamou: 

—  Filho!  Bem  sabes  que  esse  castello  me  foi  dado  por 
el  Rei  D.  Fernando,  e  lhe  fiz  por  elle  menajem.  Tra- 
zem-me  aqui  seus  inimigos  para  te  ordenar  que  lho  en- 
tregues; eu  porem,  guardando  a  minha  lealdade,  te 
mando,  sob  pena  de  minha  benção,  que  tal  não  faças, 
e  que,  ainda  que  á  tua  vista  me  despedacem,  só  entre  - 


1  Não  ha  certeza  nenhuma  do  nome  deste  filho.  Chamei-lheMartim 
Gonçalvez,  fiando-me  num  nobiliário,  por  saber  que  o  Gonçalo  Nu- 
nêz  de  Faria,  senhor  de  Fão,  não  podia  ter  sido,  como  quer  Manuel  de 
Faria  e  Sousa  nas  suas  Notas  ai  Nobiliário  dei  Conde  D.  Pedro,  o 
que  ficara  defendendo  o  castello  de  Faria.  O  senhor  de  Fão  era  se- 
cular no  tempo  de  D.  João  I ;  e  o  filho  do  Alcaide  de  Faria  fizera-se 
padre  ainda  no  reinado  de  D.  Fernando,  segundo  na  Chronica  da- 
quelle  rei  assevera  Fernão  Lopez,  única  autoridade  que  temos  para 
nos  garantir  o  caso  do  castello  de  Faria.  Descobri  depois  (no  artigo 
/■árias  lá  mais  adiante  se  verá  isso)  que  foram  contemporâneos  dois 
Gonçalos  Nunez  de  Faria;  o  senhor  de  Fão,  e  outro,  abade  de  Rio 
Covo.  Poderia  pois  supor  ter  sido  este  o  filho  do  valoroso  Nuno 
Gonçalvez,  se  encontrasse  autor  de  confiança,  anterior  a  Faria  e 
Sousa,  confirmando  a  tradição;  mas  como  não  aparece,  e  tendo 
aquelle  inventado  tanta  coisa  acerca  dos  Farias,  julgo  mais  prudente, 
seguindo  a  Fernão  l.opez,  Duarte  Nunez  do  Lião  e  outros  antigos 
dar  nome  ao  filho  do  heróico  Alcaide. 


O   CAMAREIRO  253 

guês  o  castello  a  cl  Rei,  meu  senhor,  ou  a  quem  elle 
por  seu  certo  recado  to  mandar  entregar. 

Palavras  não  eram  ditas,  caiu  o  valoroso  Alcaide 
traspassado  de  golpes,  regando  com  o  mais  puro  e  leal 
sangue  a  terra  da  sua  pátria. 

O  digno  filho  do  heroe,  executando  á  risca  a  sua  ul- 
tima vontade,  resistiu  com  o  castello,  do  qual  os  inimi- 
gos se  não  puderam  apoderar.  Passados  annos,  tendo 
ainda  por  vezes  dado  mostras  do  seu  valor,  mas  não 
se  lhe  podendo  apagar  no  coração  a  imajem  da  horrí- 
vel trajedia,  foi  procurar  conforto  na  relijião,  orde- 
nando-se.  "E  depois  lhe  deu  el  Rei  um  mui  honrado 
beneficio,  por  quanto  lhe  prouve  escolher  vida  de  clé- 
rigo» -. 

De  Nuno  Gonçalvez,  o  glorioso  alcaide  do  castello 
de  Faria,  pretendem  os  genealojistas  derivar  os  Farias 
que  nos  tempos  de  D.  Afonso  V  e  D.  João  II  se  prin- 
cipiaram a  ilustrar.  Sem  base  documental,  sem  critica 
sequer,  começaram  aquelles  ilustres  escrevinhadores, 
que  geralmente  se  não  prendem  com  bagatellas,  a  de- 
duzir uma  caprichosa  descendência,  chegando  á  perfei- 
ção de  fazerem  pai  e  filho  a  dois  rapazes,  Lourenço  e 
Antão,  nomeados  em  1468  e  69  para  o  serviço  do  Prín- 
cipe, sob  cujas  ordens  combateram  em  Toro,  e  que 
morreram  com  quatro  annos  de  intervalo,  em  1511  um, 
em  1515  o  outro! 

Na  segunda  metade  do  xv  século  viviam  na  corte 
estes  Farias:  Álvaro,  comendador  de  Moura  e  do 
Casal  na  Ordem  de  Avis;  outro  Álvaro,  cavaleiro  da 
casa  dei  Rei ;  Garcia,  Lourenço  e  Antão,  criados  do  Prín- 
cipe. Um  pouco  depois,  em  1475,  aparece,  João  de  Faria, 
uchão,  que  nesse  anno  entregou  ao  Camareiro  do  Prin- 

2  Fernão  Lopez,  Chronica  de  D.  Fernando,  cap.  LXXIX. 


254  ESTUDOS 

cipe  vinte  e  nove  marcos  e  seis  reaes  de  prata  por  seis 
bacios  de  cozinha,  dois  prateis  da  mantiaria,  duas  taças  e 
dois  saleiros,  e  mais  vinte  mil  reaes  em  dinheiro  \ 

E  impossível,  me  parece,  averiguar,  excepto  para  os 
três  criados  do  Príncipe,  o  parentesco,  se  o  havia,  que 
ligava  todos  estes  indivíduos.  Não  se  pode  recorrer  aos 
nobiliários,  porque  os  bons  desses  tempos,  os  de  Xisto 
Tavares  e  Damião  de  Ooes,  não  se  referem  á  família  de 
Faria,  que  não  era  fidalga;  e  nos  mais  modernos  não 
ha  que  fiar,  como  já  disse. 

Nenhum  daquelles  Farias  foi  fidalgo.  Sabe-se  isto 
pelos  oficios  que  primeiro  ocuparam,  e  pelos  casamen- 
tos que  contraíram.  Elevaram-se  pelo  réjio  valimento, 
sobretudo  Antão  de  Faria,  e  deste  proveio  geração  de 
fidalgos,  é  certo,  mas  elle  não  o  foi. 

Tia  uma  diferença  enorme  entre  o  fidalgo  e  o  nobre, 
diferença  tão  grande  que  o  rei  só  pode  fazer  nobres, 
porque  a  fidalguia  procede  unicamente  do  nascimento  ''. 
Ainda  hoje  se  conhece  isto.  Ha  por  aí  marqueses  e 
condes,  a  quem  ninguém,  nem  mesmo  os  criados  delles, 
se  lembrará  de  chamar  fidalgos.  É  verdade  que  os  títu- 
los em  Portugal  valem  agora  tanto  como  uma  pitada 
de  esturro. 

Entenda-se  bem  por  tanto:  podem  Antão  de  Faria,  os 
Figueiredos  (Henrique,  Gomes  e  Lopo),  Afonso  Garcês, 
Afonso  Fernandez  de  Montarroio,  os  Pinas,  Garcia  de 
Resende,  Rui  de  Sande,  Álvaro  da  Costa,  e  outros  desses 
tempos;  podem,  repito,  aparecer  em  documentos  com 
o  titulo  de  fidalgo,  que  isso  apenas  mostra  haverem  sido 


1  Chancelaria  de  D.João  II,  liv.  3.",  fl.  14  v.,  numa  carta  de  qui- 
tação a  Antão  de  Faria. 

1  No  Espejo  de  verdadera  nobleza,  escrito  nos  últimos  annos  do 
egundo  quartel  do  século  xv,  cita  Diego  de  Valera  o  proloquio 
popular:  "puede  el  Rey  fazer  cavallero,  masnofijo-dalgo.»  Sr. Gama 
Barros,  Hist.  da  administração,  II.  391. 


O  CAMAREIRO  255 

nobilitados  pelo  rei  com  aquelle  foro  na  sua  casa;  mas 
nunca  servirá  de  prova  de  haverem  nascido  fidalgos, 
nem  de  como  taes  serem  considerados  na  corte.  Eram 
nobres,  concordo,  mas  fidalgos  não,  porque  o  rei  só 
pode  fazer  fidalgos  procriando  bastardos. 

Insisto  nesta  distinção  entre  o  fidalgo  e  o  nobre, 
porque  ella  era  enorme  no  xv  século,  e  foi  muito  grande 
até  ha  bem  pouco  tempo  ainda,  menos  de  um  século; 
e  porque  hoje  já  poucos  a  notam,  mostrando,  quando 
escrevem  de  tempos  antigos,  bem  extraordinária  igno- 
rância dos  usos  passados.  O  fidalgo,  do  alto  dos  seus 
pergaminhos,  tratava  o  nobre  com  a  massima  arrogân- 
cia, ainda  que  este  tivesse  subido  ás  culminancias  do 
poder  e  valimento.  Repare-se  para  o  Marquês  de  Pom- 
bal que  é  de  hontem. 

Voltemos  aos  Farias  acima  nomeados. 

Álvaro  de  Faria,  que  já  era  comendador  do  Casal 
em  1453  ',  serviu  em  Africa  em  1459  e  60  sob  as  ordens 
do  Conde  D.  Duarte  de  Meneses  capitão  de  Alcácer,  e 
desaparece  depois  de  147Ó,  anno  em  que,  por  duas  car- 
tas, ambas  de  2Q  de  agosto,  lhe  foram  lejitimadas  as 
filhas  Caterina  e  Beatriz,  e  lhe  foi  relevado  o  pagamento 
do  foro  imposto  num  casal,  no  paul  de  Ota,  e  numas 
casas  em  Lisboa,  no  Rocio,  junto  dos  Estaus  li.  É  pro- 
vável comtudo  que  este  Álvaro  de  Faria  seja  o  "fidalgo 
de  nossa  casa  morador  em  Lisboa,,,  a  quem  foi  dada, 
em  Santarém,  a  10  de  maio  de  1487,  carta  de  privilejios 
de  fidalgo  para  a  comarca  da  Estremadura  e  cidade  de 
Lisboa  '. 

Ao  outro  Álvaro  de  Faria,  cavaleiro  da  casa  dei  Rei, 


0  Consta  da  carta  de  23  de  janeiro  de  1453,  pela  qual  um  seu 
escudeiro  foi  nomeado  coudel  do  Casal.  Chancelaria  de  D.  Afonso  V, 
liv.  3.o,  fl.  5  v. 

"  Ibidem,  liv.  7/\  fl.  53  v.,  e  liv.  0.",  fl.  45. 
Chancelaria  de  D.  João  //,  liv.  9.°,  fl.  63  v. 


256  íístudos 

encontro,  numa  carta  de  18  de  novembro  de  14ó6  pela 
qual  foi  nomeado  coudel  de  Alemquer  por  três  annosj 
intitulado  ainda  estribeiro  mor,  apesar  delle  haver  já 
largado  o  oficio,  no  qual,  por  carta  de  5  de  junho  de 
1464,  havia  sido  provido  seu  sobrinho  Pêro  Feo  s.  O 
oficio  de  estribeiro  mór  não  tinha  então  a  estimação 
alcançada  depois,  como  declara  o  próprio  autor  da  His- 
toria genealógica,  e  acrescentarei,  que  o  primeiro  fidalgo 
nelle  certamente  investido  foi  Álvaro  da  Cunha  no  rei- 
nado de  D.  João  II. 

Este  Álvaro  de  Faria,  ou  outro,  também  cavaleiro  da 
casa  dei  Rei,  foi  filho  de  Maria  Fernandez  de  Faria, 
moradora  em  Torres  Vedras,  que  em  10  de  oitubro  de 
1491  fez  escritura  de  aforamento  em  três  vidas  de  umas 
casas  sobradadas,  junto  com  o  hospital  dos  Meninos, 
situado  em  Lisboa  á  porta  de  S.  Vicente  na  freguesia 
de  Santa  Justa,  e  doutras  casas  térreas,  junto  ao  poço  do 
Borratem,  ambas  pertencentes  ao  referido  hospital.  Afo- 
rou as  casas,  porque  delias  "ha  mister  para  viver  nellas, 
quando  a  esta  cidade  vier,, ;  mas  pouco  depois  nomeou 
no  filho  a  segunda  vida.  A  este  foi  confirmada  a  no- 
meação por  escritura  de  10  de  abril  de  1497,  feita  no 
hospital  de  S.  Vicente  dos  Romeiros,  perante  Estevão 
Martinz,  cónego  mestre  escola  da  sé  de  Lisboa,  prove- 
dor mór  e  juiz  dos  hospitaes,  albergarias,  capellas  e  con- 
frarias daquella  cidade.  Finalmente  foi  tudo  confirmado 
por  carta  réjia  de  7  de  fevereiro  de  1498  9.  Por  ultimo 
consta-me  ter-se  expedido,  a  6  de  setembro  de  1519, 
um  alvará  ordenando  ao  Recebedor  da  Chancelaria  da 
Corte,  que  entregasse  aos  herdeiros  de  Álvaro  de  Faria, 
quarenta  mil  reaes  devidos  da  sua  tença  de  trinta  mil  '". 


*  Chancelaria  de  D.João  II,  liv.  35.o,  PI.  8  v.,  e  liv.  8.",  fl.  98  v. 
"  Chancelaria  de  I).  Mamwl,  liv.  31.o,  fl.  14. 
"'  Corpo  cronolojieo,  parte  l.a,  mac.  25,  doe.  30,  apud  Cardeal 
Saraiva,  Obras  completas,  IV,  327. 


O  CAMAREIRO  257 

Continuando  com  os  Farias  existentes  na  corte  na 
segunda  metade  do  século  xv,  temos  mais  o  uchão  João 
de  Faria.  Foi  elle  pessoa  muito  da  confiança  de  D.João  II, 
que  por  cartas  de  23  de  setembro  e  6  de  oitubro  de  1483, 
dadas  em  Abrantes  pouco  depois  da  execução  em  estatua 
do  Marquês  de  Montemor,  fez  a  João  de  Faria  alcaide 
mór,  capitão  e  fronteiro  do  castello  e  vila  de  Portel  " 
anteriormente  possuido  pelo  Duque  de  Bragança.  Ao 
novo  Alcaide,  no  anuo  seguinte,  depois  da  morte  do  Du- 
que de  Viseu,  entregou  el  Rei  a  criação  de  D.  Afonso, 
filho  batsardo  do  Duque,  e  posteriormente  Condestavel 
do  reino.  F,  já  agora,  notarei  o  engano  de  Damião  de  Góes 
no  capitulo  45.°  da  1.»  parte  da  Chronica  de  D.  Manuel, 
onde  diz  ter  sido  D.  Afonso  posto  na  guarda  de  Antão 
de  Faria,  Camareiro  dei  Rei  e  Alcaide  mór  de  Portel. 
Antão  de  Faria  foi  alcaide  mór  de  Palmella  e  de  Évora 
Monte;  e  o  Alcaide  mór  de  Portel,  a  quem  foi  confiado 
o  bastardo  do  Duque  de  Viseu,  era  João  de  Faria.  Consta 
positivamente  da  carta  de  vinte  mil  reaes  de  tença,  dada 
por  D.  Manuel,  em  Setúbal,  a  20  de  abril  de  1496,  a 
João  de  Faria,  fidalgo  da  sua  casa  e  alcaide  mór  de 
Portel,  pelos  serviços  feitos  "a  D.  Afonso,  meu  sobrinho, 
em  sua  criação,,  '-. 

Garcia  de  Faria  era  escudeiro  da  casa  de  D.  Afonso  V, 
que,  por  carta  dada  em  Santarém  a  23  de  fevereiro 
de  1468,  o  nomeou  estribeiro  mór  do  Principe  D.  João 
no  logar  de  Rui  Velho,  cavaleiro  da  ordem  de  Cristo, 
a  quem  o  oficio  fora  outorgado,  mas  que  o  renunciara  ' ;. 
Ignoro  se  Garcia  de  Faria  chegou  a  ser  estribeiro  mór 
de  D.  João  depois  de  rei,  mas  sei,  que  em  15  de  novem- 
bro de  14S7  já  tinha  aquelle  oficio  Álvaro  da  Cunha, 


11  Chancelaria  de  D.João  II,  liv.  26.0,  fl.  13  e  110. 

12  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  43.",  fl.  79  v. 

13  Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  16. <\  fl.  87. 

17 


258  ESTUDOS 

que  por  duas  cartas  dessa  data  teve  a  mercê  dos  senho- 
rios de  Oestaçô  e  Penajoia.  Garcia  de  Faria  já  era  fale- 
cido em  1504. 

Lourenço  de  Faria  era  também  escudeiro  da  casa  de 
D.  Afonso  V,  quando  este  o  nomeou  para  a  do  Príncipe, 
dando-lhe  neila,  por  carta  passada  em  Lisboa  a  22  de 
março  de  1468,  o  oficio  de  mantieiro  l4.  Acompanhou 
seu  amo  a  Castella,  e  com  elle,  em  1  de  março  de  1476, 
entrou  na  batalha  de  Toro,  levando  o  seu  estandarte,  e 
do  seu  arrojo  no  combate  dão  prova  evidente  as  muito 
notáveis  palavras,  já  por  mim  algures  impressas  1:',  da 
carta  de  doação  dos  casaes  de  Belide,  Figueira  e  outros 
no  termo  de  Montemor  o  Velho.  Exerceu  Lourenço  de 
Faria  nessa  jornada  o  perigoso  posto  de  porta  bandeira 
do  Príncipe,  não  ha  duvida,  apesar  da  carta  de  alferes 
do  seu  estandarte  ser  só  passada  em  Évora  a  17  de 
fevereiro  de  1479,  se  esta  data  está  certa,  pois  que  da 
carta  orijinal  se  não  encontra  o  rejisto  l6. 

Morou  Lourenço  de  Faria  em  Lisboa,  na  freguesia  da 
Sé,  não  muito  lonje  da  porta  de  Alfofa,  por  isso  que  as 
suas  casas,  a  que  pertencia  um  lanço  do  muro  velho  da 
cidade  com  uma  torre,  confrontavam  por  esta  parte  com 
outro  pedaço  de  muro  aforado  a  D.  Mecia  da  Cunha, 
mulher  de  D.  João  de  Abranches  17.  No  pedaço  da  mu- 
ralha da  cerca  moira  de  Lisboa,  então  pertencente 
áquella  fidalga,  existia  uma  torre  chamada  de  D.  João 
de  Abranches,  com  a  qual  também  partiam  as  casas  de 
Antão  de  Faria,  as  quaes,  segundo  um  documento  lá 
adiante  citado,  ficavam  junto  á  porta  de  Alfofa.  As  casas 


14  Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  16.°,  fl.  ')"). 

15  Liv.  2.°  dos  Brasões  de  Cintra,  paj.  67. 

16  Está  trasladada  na  de  confirmação  de  D.  Manuel,  a  qual  foi 
dada  em  Évora,  a  17  de  maio  de  1-W7.  Chancelaria  de  D.  Manuel 
liv.  30.o,  fl.  85. 

r  Consta  da  escritura  de  aforamento  de  15  de  julho  de  1502,  no 
liv.  o."  da  Chancelaria  de  D.  Manuel,  fl.  Sõ  v. 


O   CAMAREIRO  259 

de  D.  Mecia  da  Cunha  separavam  por  tanto  as  de  Lou- 
renço, e  de  Antão  de  Faria. 

Lourenço  de  Faria  morreu  no  anuo  de  1511,  depois 
de  13  de  maio,  data  do  seu  testamento  is;  antes  porem  de 
21  de  agosto,  como  consta  da  carta  de  padrão  de  uma 
tença  de  dez  mil  reaes  vaga  por  seu  falecimento,  e 
naquella  data  confirmada  a  seu  filho  Simão  de  Faria, 
para  a  receber,  comtudo,  só  do  primeiro  de  janeiro 
de  1512  em  diante  l9. 

Garcia,  Lourenço  e  Antão  de  Faria  eram  irmãos,  filhos 
todos  três  de  João  de  Faria,  coudel  de  Évora  L". 

Dos  Farias  existentes  na  corte,  meado  já  o  xv  século, 
e  lá  atrás  nomeados,  só  me  falta  aludir  a  Antão  de 
Faria,  que  foi  camareiro  de  D.  João  II,  seu  muito  pres- 
tante criado  e  leal  amigo.  Delle  tratarei  nos  capítulos 
seguintes,  por  ser  elle  o  objecto  principal  deste  estudo. 


Ainda  estavam  em  Abrantes,  entregues  á  guarda  de 
Lopo  de  Almeida,  os  ossos  do  desditoso  vencido  da 
Alfarrobeira,  quando  em  Lisboa  nasceu  a  3  de  maio  de 
1455  seu  neto,  e  futuro  vingador,  o  Príncipe  D.  João, 
d'ali  a  sete  meses  órfão  de  sua  mãe. 

A  criação  e  educação  de  seus  dois  filhos  confiou 
D.  Afonso  V  a  D.  Beatriz  de  Meneses,  que  também  já 
fora  aia  da  falecida  Rainha  D.  Isabel,  e  a  Diogo  Soa- 


|s  Graça  de  Lisboa,  mac.  16,  n.°  40-15,  na  Torre  do  Tombo. 

19  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  8.°,  fl.  85  v. 

-"  No  capitulo  IX  veremos  a  prova  desta  filiação;  eu  aqui  escre- 
vera primitivamente:  "Seriam  elles,  Lourenço  e  Antão  de  Faria, 
irmãos?  — Não  sei;  mas  pai  e  filho,  como  querem  os  nobiliários,  é 
que  de  certo  não  foram.,, 


260  ESTUDOS 

rez  de  Albergaria,  que  "por  sua  fidalguia,  bondades  e 
grande  saber,,,  escolheu  para  governador  do  Prín- 
cipe '. 

I).  Beatriz  de  Meneses  era  já  enteio  viuva  de  Aires 
Gomez  da  Silva,  fidalgo  muito  afeiçoado  ao  Infante 
D.  Pedro,  que  o  armara  cavaleiro  em  Ceuta  após  a 
conquista  da  cidade,  e  que  o  nomeara  Rejedor  da  Casa 
do  Civel  por  carta  de  7  de  julho  de  1441.  Companheiro 
do  Infante,  com  elle  entrou  na  batalha  da  Alfarrobeira  no 
triste  dia  20  de  maio  de  1449,  e  por  esse  facto  lhe  foram 
confiscados  os  bens  e  tirado  o  oficio.  Pouco  sobreviveu 
á  sua  mina,  vindo  a  falecer  a  25  de  maio  de  1454. 

Apesar  dos  rigores  havidos  com  o  marido,  não  expe- 
rimentou quebra  a  estima  a  D.  Beatriz  tributada  por 
D.  Afonso  V  que,  empregando  palavras  afectuosas,  fez 
doação,  por  carta  de  lo  de  agosto  de  1454,  da  terra  de 
Azurara  e  outros  bens  ao  filho  da  antiga  Aia  da  Rainha, 
a  referida  D.  Beatriz  de  Meneses,  ainda  não  encontrada 
por  mim  em  nenhum  documento  com  o  titulo  de  cama- 
reira mór,  que  os  genealojistas  lhe  dão.  Não  creio  pois 
que  exercesse  este  cargo,  mas  o  de  aia  do  Príncipe 
D.  João  tenho  a  certeza  de  o  haver  desempenhado, 
porque  aparece  com  elle  na  carta  de  21  de  março 
de  1459,  pela  qual  seu  filho  João  da  Silva  foi  nomeado 
camareiro  mór  daquelle  Príncipe-. 

Em  1462  recolheu-se  D.  Beatriz  de  Meneses  ao  con- 
vento de  S.  Marcos :!,  e  sucedeu-lhe,  no  cargo  de  aia 
do  Príncipe,  D.  Beatriz  de  Vilhena,  sua  madrinha  de 
baptismo  e  mulher  do  seu  Governador.  Consta  de  uma 
carta,  dada  em   Lisboa  a  4  de  novembro  de  1462,  de 


1  Pina,  Chronica  de  D.  Affonso  V,  paj.  462. 

2  Chancelaria  de  D.  Affonso  \\  liv.  36.o,  !l.  112  v. 

1  Acerca  de  D.  Beatriz  de  Meneses  veja-se  lã  adiante  o  estudo  in- 
titulado San  Marcos. 


O  CAMAREIRO  261 

confirmação   de   certos   bens   áquella   senhora  no   do- 
cumento intitulada  "Aia  de  meus  filhos,,  ''. 

Diogo  Soarez  de  Albergaria,  o  Governador  do  Prín- 
cipe, ao  inverso  do  marido  da  sua  primeira  Aia,  havia 
sido  dos  partidários  da  Rainha  D.  Leonor  contra  o  In- 
fante D.  Pedro,  com  quem  comtudo  se  congraçou,  pois 
que  em  1447  foi  um  dos  fidalgos  companheiros  do 
Condestavel  I).  Pedro,  filho  do  Rejente,  no  escusado 
socorro  enviado  a  Castella  contra  os  Infantes  de  Ara- 
gão. 

Encontram-se  a  cada  passo  inconstancias  destas  nos 
fidalgos  daquelles  tempos.  Ora  os  vemos  a  ferro  e  fogo 
num  partido,  como  logo  depois  os  topamos  militando 
no  adverso. 

Diogo  Soarez  de  Albergaria,  sendo  do  Conselho  dei 
Rei  e  Governador  de  seus  filhos,  foi  nomeado  mordomo 
mór  do  Príncipe  por  carta  de  15  de  dezembro  de  1462  '. 
Neste  honroso  e  espinhoso  cargo  permaneceu  o  neto  do 
Bispo  de  Viseu  D.  Gonçalo  de  Figueiredo  até  morrer, 
sucesso  ocorrido  no  anno  de  1472  antes  de  18  de  agos- 
to, apesar  do  epitáfio  da  sua  sepultura  em  S.  Marcos 
junto  a  Coimbra  lhe  pôr  o  falecimento,  dizem,  em  1473. 
Por  carta  da  data  acima  referida  havia  sido  dada  a 
D.  João  Galvão,  Bispo  de  Coimbra  e  Conde  de  Santa 
Comba,  a  védoria  mór  das  obras  da  Beira  a  qual  fora 
de  Diogo  Soarez  de  Albergaria,  "que  se  ora  finou,, 6. 
Sua  viuva  D.  Beatriz  de  Vilhena,  acreditando  agora  no 
epitáfio,  é  que  morreria  em  1473. 

Quando  lhe  faleceram  os  velhos  aios,  já  o  Príncipe 
D.  João  contava  dezasete  para  dezoito  annos,  já  era 
casado,  já  fora  armado  cavaleiro  sobre  as  ruínas  fume- 


'  Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  Q.n,  fl.  lõl  v. 

'  Ibidem. 

"  Ibidem,  liv.  29/',  fl.  206. 


262  ESTUDOS 

gantes   de   Arzila,   já,   em    suma,    nelle   se   divisava   o 
homem  que  havia  de  vir  a  ser. 

Quis  por  tanto  deixar  nomeados,  reparando  a  ingra- 
tidão dos  historiadores,  aquelles  que  formaram  o  espi- 
rito juvenil  do  Príncipe  Perfeito,  que  lhe  desenvol- 
veram a  razão,  que  lhe  incutiram  no  animo  a  vonta- 
de, reflexão  e  ponderação  que  tanto  o  caracterisaram, 
que  lhe  ensinaram,  entre  outras  virtudes,  a  de  nunca 
mentir. 

A  casa  do  Príncipe  compunha-se  unicamente  do 
Governador  e  da  Aia,  quando  em  1459,  ainda  não 
completos  os  quatro  annos  de  idade,  lhe  foi  dado  para 
camareiro  mór,  pela  carta  já  acima  citada  de  21  de 
março,  a  João  da  Silva,  4.°  senhor  de  Vagos. 

João  da  Silva  foi  o  que  teve  o  combate  singular  junto 
a  Ouguella  com  D.  Martim  Oalindo.  Ficou  este  logo  no 
primeiro  encontro  morto  no  campo,  deixando  porem 
seu  adversário  tão  mal  ferido  que  apenas  vinte  e  um 
dias  lhe  sobreviveu.  Assim  o  conta  o  epitáfio  de  João 
da  Silva  em  S.  Marcos  junto  a  Coimbra,  e  o  confirma 
em  parte  um  alvará  dado  pelo  Príncipe  em  Estremoz 
a  22  de  agosto  de  1475,  pelo  qual  fez  mercê  ao  seu 
Camareiro  mór,  "se  fôr  vontade  de  nosso  Senhor  vos 
levar  pêra  si  desta  ferida  que  por  nosso  serviço  houves- 
tes em  a  villa  de  Ouguella,,,  de  toda  a  casa  e  do  oficio 
para  seu  filho  Aires  de  Silva ',  d'ali  a  dias,  a  8  de  setem- 
bro, investido  já  no  cargo  de  camareiro  mór. 

Pouco  depois  da  nomeação  de  João  da  Silva,  a  29 
e  30  de  janeiro  do  anno  seguinte,  o  de  1460,  foi  au- 
mentada a  casa  do  Príncipe  com  dois  novos  oficiaes: 


:  Chancelaria  de  D.  João  III,  liv.  16.°,  de  Doações,  fl.  44,  com  a 
data  certa,  e  com  ella  errada  na  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  32.<>, 
fl.  28. 


O  CAMAREIRO  263 

João  Escudeiro,  fidalgo  cavaleiro  da  casa  dei  Rei,  e 
Rui  Velho,  cavaleiro  da  do  Príncipe,  nomeados  respe- 
ctivamente seu  guarda  e  estribeiro s. 

Durante  uns  poucos  de  annos  ficou  a  casa  de  D.  João 
composta  apenas  de  mordomo  mór,  Diogo  Soarez  de 
Albergaria,  de  camareiro  mór,  João  da  Silva,  de  guarda, 
João  Escudeiro,  e  de  estribeiro,  Rui  Velho;  e  deviam 
chegar  bem  para  o  serviço  de  uma  criança.  Depois,  em 
1468  e  69,  quando  elle  já  estava  de  treze  para  catorze 
annos,  e  já  tinha  o  casamento  ajustado,  nomearam-se 
mais  alguns  criados:  estribeiro  mór,  Garcia  de  Faria, 
por  carta  de  23  de  fevereiro  de  1468;  mantieiro,  Lou- 
renço de  Faria,  por  outra  de  22  do  mês  seguinte,  ambas 
já  citadas;  camareiro  e  guarda-roupa,  Antão  de  Faria, 
por  consentimento  e  a  requerimento  do  Camareiro  mór, 
como  declara  a  carta  de  nomeação  dada  em  Lisboa  a 
2  de  junho  de  1469  '■';  e  finalmente,  a  30  de  julho,  Pêro 
Borjes,  cavaleiro  da  casa  dei  Rei,  teve  carta  de  vedor 
da  do  Príncipe  1". 

Estes,  e  mais  Fernão  de  Lima,  nomeado  copeiro  mór 
por  carta  de  15  de  janeiro  de  1471  u,  são  os  únicos 
oficiaes  da  casa  do  Príncipe,  que  teem  as  suas  cartas 
de  nomeação  rejistadas. 

Outros  teve  elle ;  não  posso  porem  determinar  o 
tempo  em  que  o  começaram  a  servir.  Em  1475  era 
o  dr.  João  Fernandez  da  Silveira  escrivão  da  puridade, 
chanceler  mór  e  vedor  da  fazenda  do  Príncipe,  como 
declara  a  carta  de  barão  de  Alvito  dada  em  Portalegre 
a  24  de  abril.  No  mesmo  anno,  em  8  de  setembro  ou 
pouco  antes,  começou  Aires  da  Silva  a  servir  de  eama- 


8   Chancelaria  de  D.  Afonso   V,  liv.  36.°,  fl.  228  v.,  e  liv.  1.°, 
fl.  27  v. 

!l  Ibidem,  liv.  16,o,  fl.  86  v. 

10  Ibidem,  liv.  31.o,  fl.  83  v. 

11  Liv.  de  Extras,  fl.  38  v. 


264  ESTUDOS 

reiro  mór,  sendo  já  por  esses  tempos  mordomo  mor 
D.  Pedro  de  Noronha;  e  em  fins  de  dezembro  tinha 
Antão  de  Faria,  alem  do  oficio  de  camareiro,  os  de 
cevadeiro  mór  e  armador  mór.  Em  1476,  era  Fernão 
Martinz  Mascarenhas  capitão  mór  dos  ginetes  do  Prín- 
cipe, e  D.  Henrique  Henriquez  seu  aposentador  mór. 
No  anno  seguinte  servia-lhe  de  meirinho  mór  Rui  de 
Sousa,  senhor  de  Sagres. 

Basta.  Não  devo  alongar  esta  lista,  para  me  não  des- 
viar mais  do  assunto  principal. 

Antão  de  Faria  caiu  logo  nas  boas  graças  do  Prín- 
cipe, que  imediatamente  começou  a  dar-lhe  provas  da 
sua  afeição. 

Em  1475,  tendo  D.  João  a  rejencia  do  reino  que 
seu  pai  lhe  deixara  quando  invadiu  a  Castella,  e 
estando  ainda  em  Estremoz,  para  onde  havia  ido  vijiar 
a  fronteira  alemtejana,  e  d'onde  havia  mandado  recu- 
perar a  praça  de  Ouguella  da  qual  por  um  golpe 
de  mão  ousado  os  Castelhanos  se  haviam  apoderado, 
mandou  o  Príncipe  dar  carta  de  privilejios  ao  seu  Ca- 
mareiro. Foi  o  diploma,  no  qual  se  refere  ao  serviço 
continuadamente  feito  pelo  seu  criado,  passado  em  29 
de  dezembro,  e  não  é  elle  a  simples  e  trivial  conces- 
são de  privilejios  e  imunidades  bastante  vulgar  então. 
Abranje  não  só  a  isenção  para  Antão  de  Faria  do  paga- 
mento de  serviços,  pedidos,  empréstimos,  fintas,  etc, 
quer  sejam  lançados  pelo  rei,  quer  pelos  concelhos 
onde  o  Camareiro  tiver  bens ;  mas  também  os  privile- 
jios usualmente  outorgados  aos  caseiros,  lavradores, 
mordomos  e  paniguados  dos  fidalgos;  e  ainda  mais 
lhe  concede,  e  isso  é  o  principal,  que  em  quanto  elle 
fôr  seu  oficial,  ou  em  sua  casa  andar,  ou  servir  sua 
fazenda,  ou  fôr  a  algum  logar  por  mandado  seu  ou  dei 
Rei  seu  pai,  não  possa  ser  citado,  nem  acusado,  nem 


O   CAMAREIRO  265 

demandado  civil  ou  criminalmente,  senão  perante  o 
Correjedor  da  Corte  '-. 

Pouco  depois  entrava  o  Príncipe  em  Castella  com  o 
seu  pequeno  exercito,  levando  com  sigo  a  sua  casa,  pelo 
menos  parte  delia,  inclusive  o  Camareiro  que  já  na 
expedição  de  Arzila  em  1471  o  acompanhara  também. 
Na  batalha  de  Toro  mão  teve  Antão  de  Faria  parte  tão 
notável  como  seu  irmão,  o  Alferes  do  estandarte  Lou- 
renço de  Favia,  e,  comtudo,  devido  ao  valimento,  mere- 
ceu o  seu  serviço  galardão  muito  superior  ao  daquelle. 

Por  carta  dada  em  Lisboa  a  15  de  junho  de  147Ó, 
atendendo  aos  muitos  e  estremados  serviços  de  Antão 
de  Faria,  assim  no  reino,  como  nas  partes  de  Africa, 
como  nos  reinos  de  Castella,  e  considerando  como  até 
então  o  havia  servido  muito  lealmente  em  todas  as 
coisas  de  que  o  encarregara,  pelo  que  lhe  estava  em 
muita  obrigação  de  lhe  fazer  acrescentamento  e  mercê, 
lhe  deu  o  Principe  a  alcaidaria  mór  do  castello  de 
Palmella  com  todas  as  rendas,  direitos  e  foros,  e  com 
todas  as  honras,  privilejios  e  liberdades,  como  fora 
possuída  por  Nuno  da  Cunha,  que  se  então  finara  l:i. 

Este  Nuno  da  Cunha,  seja  dito  entre  parenthesis,  era 
o  dono  da  casa  em  Setúbal,  onde  depois  o  Duque  de 
Viseu  encontrou  a  morte. 

Na  pessoa  de  Antão  de  Faria  o  cargo  de  camareiro 
não  foi  meramente  um  oficio  de  corte,  foi  um  cargo 
preponderante,  tanto  na  politica  como  na  fazenda  real. 
Para  se  ajuizar  da  importância  delle  neste  segundo 
ponto,  extractarei  a  carta  de  quitação  que  se  lhe  deu  rela- 
tiva aos  annos  de  1474  a  1478,  quando  D.  João  ainda 


•'-  Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  30.",  fl.  142  v. 

13  Ibidem,  liv.  i.<\  fl.  111,  com  o  final  apagado,  só  se  podendo  ler 
da  data  a  palavra  Lisboa ;  mas  extractada  por  Lousada  a  fl.  606  v. 
da  parte  l.a  dos  seus  Sumários  da  Torre  do  Tombo,  quando  o 
documento  era  ainda  todo  lejivel. 


266  ESTUDOS 

não    havia  subido  ao  trono.  For  ella  se  verá  a  con- 
tundi já  então  outorgada  pelo  Príncipe  ao  seu  criado. 

No  anno  de  1474  recebeu  Antão  de  Faria  2:090  cru- 
zados de  oiro  de  Fernão  Qomez  da  Mina  e  de  Guede- 
lha Palaçano. 

No  de  1475  recebeu  1.010.3Ó7  reaes  e  1.370  cruzados 
das  seguintes  pessoas :  Afonso  Fernandez  de  Montarroio, 
tesoureiro  dei  rei,  Luis  Alvarez,  copeiro,  Lopo  Afonso 
dos  Coiros,  Vasco  d'Antas,  Fernão  Gomez  da  Mina, 
Afonso  Carvalho,  almoxarife  de  Pernes,  João  de  Faria, 
uchão,  e  do  Recebedor  do  almoxarifado  de  Abrantes. 
Da  ucharia  recebeu  vinte  e  nove  marcos  e  seis  reaes 
de  prata  por  peças  de  cozinha  e  mantiaria;  e  do  Arce- 
bispo de  Braga  D.  Luis,  um  retabolo  e  dois  castiçaes 
de  prata,  a  que  se  não  tomou  o  peso.  O  judeu  Palaçano 
entregou  três  ardeis  •*  de  oiro,  os  quaes  o  Príncipe  man- 
dou lavrar,  gastando-se  no  feitio  117.300  reaes,  pagos 
pelo  Camareiro.  Alem  disto  tudo,  adquiriu,  também  para 
a  camará  do  Principe,  um  garnimento  (jaezes)  de  oiro, 
do  peso  de  quatro  marcos,  quatro  onças  e  seis  oitavas. 

Em  1476  recebeu  536.123  reaes  de  varias  pessoas, 
principalmente  de  Judeus,  entrando  50.000  reaes  de 
Lopo  Diaz,  então  tesoureiro  do  Principe.  Recebeu  tam- 
bém trezentos  e  cincoenta  covados  e  meio  de  pano 
de  branqueia  (estofo  de  lan)  de  Castella,  entregue  pelo 
Recebedor  do  porto  de  Almeida;  e  mais  setenta  e  um 
marcos  e  cinco  reaes  de  prata  marcadoira,  das  mãos  de 
João  Pestana,  tesoureiro  mór,  e  de  Álvaro  Rodriguez, 
escudeiro  do  Principe. 

No  anno  de  1477  recebeu  em  reaes:  248.889  de  Diogo 
Rodriguez,  moço  da  estribeira;  115.000  de  Vasco  Leite; 
75.000  de   Diogo  Gonçalvez,  "nosso  çapateiro,,;  8.000 


11  "Argolas  possas  em  que  se  funde  o  oiro,  para  não  virem  pó  e 
girar  no  comercio»,  explica  o  .Morais. 


O  CAMAR1  IRO  267 

de  João  Afonso,  contador  de  Évora;  1.300  de  João  Go- 
niez,  moço  da  estribeira;  30.587  de  Marti m  Afonso, 
almoxarife  de  Borba;  e  1.175.479  de  l.nis  Alvarez, 
copeiro;  ao  todo  1.654.255  reaes.  Recebeu,  alem  disto, 
10.075  cruzados  do  dito  Copeiro,  e  3.323  de  António  de 
Aguiar  e  Agostinho  Caldeira,  moços  da  camará.  Entre- 
gou também,  o  referido  Luis  Alvarez,  copeiro,  mais  50 
ducados  e  meio,  e  81  henriques  de  Leão,  84  henriques 
e  2  coroas  /de  França,  4  reaes  de  oiro,  250  dobras  de 
banda,  6  frolins  (florins)  e  236  escudos  de  oiro  de  Por- 
tugal '•'.  E  por  ultimo  deu  o  Camareiro  outrosim  conta, 
neste  anno,  de  170  cruzados  e  dois  terços,  gastos  no  Li- 
vramento de  um  baraço  de  oiro  que  no  guarda-roupa 
do  Príncipe  andava. 

Finalmente,  em  1478  recebeu,  alem  de  100  reaes  bran- 
cos, mais  480  cruzados,  sendo  270  de  Álvaro  Gomez, 
cavaleiro,  morador  em  Tavira,  e  os  restantes  210  de 
cinco  mercadores,  dos  quaes  três  Judeus  de  Lisboa, 
Moussem  (Moisés)  Faião,  Moussem  Sacon,  e  Nacim 
Faiom. 

Recebeu  por  tanto  nos  cinco  referidos  annos  de  1474 
a  1478,  só  em  reaes  e  cruzados,  calculados  cada  um 
destes  em  324  daquelles,  conforme  a  lei  de  16  de  se- 
tembro de  1472,  a  quantia  de  7.Q26.000  reaes  corres- 
pondente a  perto  de  trezentos  contos  da  moeda  de 
hoje  "'. 

De  todo  este  oiro,  prata  e  dinheiros  foi  dada  quitação 
a  Antão  de  Faria,  fidalgo  da  casa  dei  Rei,  seu  camareiro 


15  De  todas  estas  moedas  e  dos  seus  valores  aprossimados,  nos 
dá  noticia  o  sr.  Costa  Lobo  no  cap.  IV  da  sua  preciosa  Hist.  da 
sociedade  em  Portugal  no  século  xv,  só  me  parece  não  encontrar  lá 
referencia  aos  henriques,  os  quaes,  conforme  uma  escritura  de 
18  de  novembro  de  1471,  valiam  então,  os  velhos,  quatrocentos 
reaes  cada  um  (Arch.  hist.  port.,  VI,  442). 

16  Faço  o  calculo  pelas  tabeliãs  do  citado  livro  do  sr.  Costa  Lobo, 
p.  417  e  418. 


268  ESTUDOS 

e  cevadeiro  mor,  por  carta  passada  em  Évora  a  25  de 
julho  de  14S2,  feita  por  João  de  Lisboa,  amo  da  Rainha 
D.  Leonor  '". 

Da  confiança  já  naquelle  tempo  posta  pelo  Príncipe 
em  Antão  de  Faria,  tenho  mais  uma  prova  na  missão 
de  que  o  encarregou  junto  a  seu  pai,  em  França,  no 
anuo  de  1477. 

Neste  armo,  a  28  de  abril,  havia-se  reunido  no  con- 
vento do  Espinheiro,  junto  a  Évora,  um  conselho  con- 
vocado pelo  Príncipe  Rejente,  afim  de  nelle  se  resolver 
acerca  do  remédio  a  dar  ao  estado  desgraçado  em  que 
o  reino  se  encontrava.  Sem  justiça,  sem  defesa,  sem 
dinheiro,  estava  elle  prestes  a  perder-se,  não  se  lhe 
acudindo  logo  com  determinações  salutares  e  reforma- 
doras. A  fazenda  real  "era  assim  diminuída  e  apoquen- 
tada, que  a  despesa  sobejava  pela  receita  bem  dez  mi- 
lhões, os  quaes  já  este  anno  ficavam  de  fora,  sem  se 
poderem  pagar,  afora  todalas  dividas  e  quebras  do 
anno  passado,;  1S.  Para  atalhar  o  mal  resolveram,  o  Prín- 
cipe com  os  do  conselho,  convocar  Cortes  em  Santarém 
para  8  de  setembro,  e  "de  estas  coisas  assim  todas  enviar 
dizer  por  uma  pessoa  fiel  a  el  Rei  seu  pai,,  l9. 

Do  documento  citado  não  consta  quem  foi  a  "pessoa 
fiel,,;  mas  dos  dizeres  de  Rui  de  Pina  se  ha  de  entender 
ter  sido  Antão  de  Faria,  que  a  França  "era  ido  com 
visitação  e  outras  coisas  entre  o  pai  e  filho  secretas,,  -°. 
Em  França  estava  o  Camareiro  quando  D.  Afonso  V 
desapareceu  em  fins  de  setembro  de  1477,  deixando 
cm  cartas  ordenado  ao  Príncipe  que  se  fizesse  pro- 
clamar rei,  e  aos  Estados  do  reino  que  o  reconheces- 


17  Chancelaria  de  D.  João  II,  liv.  3.°,  fl.  14  v. 
Is  Auto  do   Conselho  havido  no  Espinheiro  em  1 177,  no  Arch. 
hist.  port.,  I,  199. 
19  Ibi. 
-"  Chronica  de  D.  Affonso  V,  cap.  CCII. 


O  CAMAREIRO  269 

sem  como  tal.  De  as  trazer  a  Portugal  foi  incumbido 
Antão  de  Faria,  que  se  apressou  em  desempenhar  a  sua 
missão,  da  qual  resultou  a  aclamação  de  10  de  novem- 
bro no  alpendre  de  S.  Francisco  de  Santarém. 

Durou  poucos  dias  esta  realeza,  mas  menos  de  quatro 
annos  depois,  a  28  de  agosto  de  1481,  subiu  definitiva- 
mente o  Principe  D.  João  ao  trono. 


III 


"El  Rei,  meu  senhor,  que  Santa  Gloria  haja,  me  dei- 
xou em  muito  trabalho  e  perigo,,. 

Com  esta  frase  respondeu  D.  João  II  ao  confessor  do 
preso  Duque  de  Bragança,  o  padre  Paulo,  cónego  secu- 
lar de  S.  João  Evanjelista,  que  lhe  dissera:  "Senhor, 
perdoe  Deus  a  el  Rei  vosso  padre,  que  assim  creou 
estes  senhores  de  Portugal  tanto  em  suas  vontades,  e 
lhes  deu  tanto  favor  que  lhes  fez  muito  dano;  e,  não 
sei  por  que  juizo,  vejo-vos  ser  tão  desviado  e  tão  desse- 
melhante da  sua  nação  e  condição,  que  é  necessário 
que  muitos  quebrem  por  meio-,  '. 

As  palavras  do  Loio  definem  exactamente  a  situação 
em  que  D.  João  II  se  encontrou  ao  subir  para  o  trono. 

As  brilhantes  qualidades  de  D.  Afonso  V,  a  sua  va- 
lentia, bondade,  desinteresse  e  honestidade,  que  o  tor- 
naram um  modelo  de  cavaleiros,  eram  obscurecidas 
pela  prodigalidade,  simpleza,  facilidade  e  despreocupa- 
ção, defeitos  que  delle  fizeram  um  máu  rei.  Procedendo 
muita    vez    influenciado    pelas    sujestões    daquelles    a 


1  Breve  Tratado  que  escreveo  o  Padre  Paulo  sobre  a  morte  do 
Duque  de  Bragança,  paj.  7S0  do  vol.  III  das  Provas  da  Hist.  genea- 
lógica. 


270  rsrrnos 

quem  era  inclinado,  que  o  adulavam  e  aconselhavam 
ao  sabor  dos  seus  desejos,  achou-se  o  Africano,  por 
tendência  e  indolência,  quasi  completamente  dominado 
pela  camarilha.  Convivendo  familiarmente  de  mais  com 
os  fidalgos  que  nas  suas  empresas  o  seguiam,  e  na 
corte  o  acompanhavam,  era  para  elles  benévolo  em 
extremo,  não  lhes  regateando  mercês,  honras  e  isenções, 
que  recaíam  com  pesados  encargos  e  vexames  sobre 
o  povo  do  reino.  E  tanto  mais  insuportáveis  se  tornavam 
os  gravames  e  opressões,  quanto  é  certo  que  os  senho- 
res abusavam  da  frouxidão  de  D.  Afonso  V,  impotente 
para  lhes  coibir  os  desmandos. 

Estava  pois  á  sua  morte  o  reino  dividido  em  dois  cam- 
pos: um,  restricto  em  numero,  constituído  pela  fidalguia 
opressora;  outro,  a  grande  maioria,  pelo  povo  opri- 
mido. 

Chegou  D.  João  11,  e  viram-n-o  "tão  desviado  e  tão 
dessemelhante  da  nação  e  condição  de  seu  pai,,,  que  a 
luta  se  exasperou  por  forma,  que,  se  a  momentânea 
victoria  pertenceu  a  el  Rei,  foi  não  só  devido  á  tenaci- 
dade do  seu  caracter  e  ao  seu  valor  pessoal,  mas  tam- 
bém, e  sobretudo,  á  dissimulação  precursora  da  presteza 
na  execução. 

Não  nos  iludamos.  D.  João  II  para  vencer  precisava 
tinjir,  por  isso  que  só  quasi  comsigo  podia  contar. 

A  doblez  politica  no  Rei,  a  soberbía  estulta  nos  Bra- 
ganças,  facilitaram  o  golpe,  que  estoirou  como  um  raio, 
tomando  todos  tão  de  surpresa,  que  o  encarceramento 
do  Duque  D.  Fernando,  e  a  expatriação  de  seus  irmãos, 
se  realizaram  sem  haver  uma  revolta  no  reino,  sem  que 
nenhum  dos  muitos  castellos  por  elles  possuídos  ousasse 
fechar  as  portas  aos  enviados  do  Soberano. 

"El  Rei  era  tão  pesado  e  tão  curto  em  seu  saber,,,  que 
dificilmente  tomaria  resolução.  Isto,  bem  iludido,  escre- 
via D.  Álvaro  de  Portugal   a  seu  irmão  D.  Fernando, 


O  CAMAREIRO  271 

quando  já  a  coruja  estava  ensaiando  o  vôo,  para,  trans- 
formada em  falcão,  deixar-se  cair  sobre  a  presa,  agar- 
rando no  chefe  da  conspiração  e  encerrando-o  nos 
sótãos  do  castello  velho  de  Évora. 

"Tempos  ha  para  usar  de  coruja,  e  outros  para  usar 
como  falcão!..  J 

Logo  que  começaram  as  delações  de  Lopo  de  Figuei- 
redo, isto  é,  e,m  fins  de  1481,  depois  das  Cortes  de  Évora 
e  antes  da  ceremonia  das  menajens,  a  única  pessoa 
a  quem  talvez  D.  João  II  comunicasse  a  noticia,  seria 
ao  seu  camareiro  Antão  de  Faria,  "de  que  muito  con- 
fiava, e  a  quem  descubria  seus  segredos.,; :! 

Foi  elle,  segundo  dizem  os  cronistas,  o  encarregado 
por  el  Rei  de  copiar  os  primeiros  documentos  trazi- 
dos pelo  Escrivão  da  fazenda  do  Duque  de  Bragança;  e 
também  foi  elle,  que  por  ordem  de  seu  amo  se  foi  avis- 
tar, na  quaresma  de  1483,  a  um  casal  prossimo  de  San- 
tarém, com  Gaspar  Jusarte,  o  segundo  delator.  Final- 
nal mente,  á  guarda  do  Camareiro  mor  Aires  da  Silva, 
e  do  Camareiro  Antão  de  Faria,  foi  entregue  a  pessoa 
do  Duque  de  Bragança,  quando  el  Rei  o  prendeu  nos 
paços  do  Conde  de  Olivença,  onde  então  poisava,  na 
tarde  da  sexta  feira  depois  do  Corpo  de  Deus,  no  dia 
30  de  maio  de  1483 ''. 

Da  herança  do  Duque  levou  Antão  de  Faria  "um 
bom  quinhão,,,  diz  o  dr.  Diogo  Pinheiro  no  seu  Mani- 


2  Palavras  de  D.  João  II  a  Lopo  de  Figueiredo  depois  da  execu- 
ção do  Duque  de  Bragança.  Tratado  de  Lopo  de  Figueiredo,  paj. 
561  do  I  vol.  dos  Annaes  das  sciencias  e  lettras. 

3  Resende,  Vida  de  D.João  II,  cap.  27,  fl.  16. 

''  Esta  data  vem  errada  em  todos  os  autores  coevos  por  não  con- 
cordarem o  dia  do  mês  com  a  féria,  pondo  a  sexta  feira  a  29  quando 
ella  foi  a  30.  Análogo  engano  sucedeu  a  alguns  com  a  data  da  ba- 
talha de  Toro,  que  marcaram  na  sexta  feira  2  de  março  de  1476,  tendo 
ella  caído  no  dia  1. 


272  ESTUDOS 

festo;  e  é  certo,  e  não  foi  só  do  Duque,  porque  também 
houve  bens  que  haviam  sido  de  seu  irmão  D.  Álvaro. 

Não  existe  rejistada  a  carta  de  doação  delles,  mas 
encontra-se  a  da  satisfação  ao  antigo  Camareiro  dada 
por  D.  Manuel  para  restituir  os  bens  aos  Braganças, 
naquella  sua  faina  tão  pouco  politica,  económica,  e  até 
decorosa,  de  os  repor  no  primitivo  estado. 

D.  João  II,  alem  da  pensão  dos  tabeliães  de  Faro, 
fizera  doação  a  Antão  de  Faria,  em  sua  vida  e  na  do 
filho  mais  velho  que  lhe  sobrevivesse,  do  senhorio  e 
alcaidaría  mór  da  vila  de  Évora  Monte,  que  fora  do 
Duque  D.  Fernando,  e  dos  direitos  do  genesim  e  sisa 
judenga  das  vilas  de  Santiago  e  Sines  e  seus  termos,  e 
da  sisa  judenga  de  Mertola  e  de  todas  as  outras  vilas 
e  logares  do  campo  de  Ourique,  tudo  outrora  pos- 
suído por  D.  Álvaro.  D.  Manuel,  por  carta  passada  em 
Lisboa  a  20  de  março  de  1498,  confirmou  a  Antão  de 
Paria  a  pensão  dos  tabeliães  e  em  contentamento  dos 
outros  direitos  e  rendas,  arbitrou-lhe,  em  duas  vidas, 
uma  tença  de  cento  e  setenta  mil  reaes;  mas  não  ficou 
ainda  por  aqui,  porque,  "havendo  respeito  a  seus  mere- 
cimentos, e  bons  serviços  que  a  nós  tem  feito,,,  estendeu 
aquella  mercê  a  um  neto  e  binesto,  dando-lhe  por  tanto 
a  tença  em  quatro  vidas'. 

Não  se  pode  estranhar  demasiadamente  o  reconheci- 
mento de  D.  Manuel  a  Antão  de  Faria,  que  se  afirma 
ter  contribuído  para  clle  ficar  nomeado  herdeiro  da  co- 
roa no  testamento  de  D.  João  II,  e  que  não  concorrera 
directamente  para  a  ruina  e  morte  dos  Duques  de  Bra- 
gança e  de  Viseu. 

Custa  níais  a  entender  a  benignidade  desmemo- 
riada de  que  o  Rei  Venturoso  usou  com  os  dela- 
tores de  seu  cunhado  Bragança  e  de  seu  irmão  Viseu. 


5  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  31. °,  fl.  75  v. 


O   CAMAR]  IR<  >  273 

Aquelles,  apesar  de  terem  com  as  suas  denuncias  levan- 
tado o  cadafalso  de  Évora  e  aguçado  o  punhal  de 
Setúbal,  encontraram,  mais  ou  menos,  benévolo  animo 
no  novo  soberano. 

Lopo  de  Figueiredo,  o  primeiro  delator  do  Duque 
D.  Fernando,  foi  cavaleiro  da  easa  de  D.  Manuel,  que 
em  Estremoz,  a  10  de  janeiro  de  1497,  lhe  confirmou  a 
tença  dada  por  D.  João  II  em  paga  da  delação,  como 
claramente  [\or  estas  palavras  o  diz  a  primitiva  carta: 
"esguardando  nós  a  um  grande  e  assignado  serviço 
que  Lopo  de  Figueiredo,  escudeiro  de  nossa  casa,  nos 
tem  feito,.1'. 

Gaspar  Jusarte,  o  que  se  avistara  com  Antão  de 
Faria  no  casal  prossimo  de  Santarém,  no  intento  de  fa- 
cilitar a  denuncia  de  seu  irmão  Pêro,  conservou  D.  Ma- 
nuel no  seu  Conselho,  e  confirmou-lhe,  em  Setúbal, 
seis  meses  depois  de  ser  rei,  a  27  de  abril  de  1496,  o 
premio  por  D.  João  II  outorgado  em  satisfação  do  seu 
serviço ~. 

Pêro  Jusarte,  o  cavaleiro  da  privança  do  Duque 
D.  Fernando,  o  mensajeiro  dos  seus  avisos  a  Castella, 
a  principal  testemunha  de  acusação,  a  única  repetidas 
vezes  nomeada  nos  considerandos  da  sentença s,  foi 
fidalgo  da  casa  e  do  Conselho  de  D.  Manuel,  que  em 


6  A  Lopo  de  Figueiredo  mandou  D.João  II  assentar  50.000  rs.  de 
tença  em  sua  vida,  sendo  33.826  por  uma  carta  de  padrão,  e  os  res- 
tantes 16.174  por  outra  dada  em  Santarém  a  11  de  abril  de  14S4. 
Chancelaria  de  D.  João  11,  liv.  23.o,  fl.  38.  A  carta  de  D.  Manuel 
de  confirmação  desta  está  rejistada  no  liv.  21. o  da  sua  Chancelaria, 
a  fl.  13. 

"  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  40.°,  fl.  105.  O  prémio  conce- 
dido a  Gaspar  Jusarte  havia  sido,  por  carta  dada  em  Abrantes  a  9  de 
setembro  de  1483,  uma  tença  de  100.000  reaes  brancos,  sendo  35.000 
pagos  pelas  rendas  e  direitos  da  alcaidaria  mór  de  Setúbal,  que  lhe 
fora  doada  em  vida,  32.500  pela  dizima  do  pescado  da  mesma  vila, 
e  os  outros  32.500  em  dinheiro.  Chancelaria  de  D.João  II,  liv.  25.», 
fl.  9S  v. 

8  Impressa  no  Arch.  Hist.  Port.,  vol.  I,  paj.  393. 

IS 


2/4  ESTUDOS 

Estremoz,  a  12  de  janeiro  de  1497,  lhe  confirmou  os 
cento  e  quatro  mil  reaes  de  tença,  os  quaes,  com  o 
senhorio  e  alcaidaria  mor  de  Arraiolos,  avaliados  em 
noventa  e  seis  mil,  perfaziam  os  duzentos  mil  reaes 
líc  renda,  prémio  da  traição'1.  E  ainda  mais:  quando 
el  Rei  tratou  de  satisfazer  a  Pêro  Jusarte  os  direitos 
de  Arraiolos,  que  lhe  tirava  para  restituir  ao  Duque 
D.  Jaime,  deu-lhe,  entre  outras  coisas,  os  direitos 
reaes  da  Sortelha,  e  na  carta  desta  doação,  feita  em 
Évora  a  23  de  maio  de  1497,  declara  D.  Manuel 
fazer-lha,  "havendo  respeito  aos  muitos  serviços  que 
Pêro  Jusarte,  do  nosso  Conselho,  tem  feitos  a  el  Rei 
meu  Senhor  (D.  João  II),  e  esperamos  que  ao  diante  a 
nós  faça,,  l0. 

O  Conde  de  Borba,  D.  Vasco  Coutinho,  que  levado 
pela  sua  extremada  lealdade  não  duvidara  arriscar  a  vida 
de  seu  irmão  para  descubrir  a  D.  João  II  toda  a  trama 
do  Duque  de  Viseu,  continuou  a  receber  bom  agasalho 
de  D.  Manuel,  que  entre  outras  provas  da  sua  benevo- 


9  "Esguaridando  os  muitos  e  extremados  serviços,  que  nos  tem 
feitos  com  grande  lealdade  Pêro  Jusarte,  fidalgo  de  nossa  casa,  e  espe- 
cialmente em  nos  descobrir  cousas  grandes,  que  se  contra  nossa  pes- 
soa, estado  e  reinos  tratavam,  a  que,  com  a  graça  de  Deus,  por  nos 
elle  assim  avisar,  remediámos,.,  fa/.-lhe  D.  João  II  doação  em  duas 
vidas  do  senhorio  e  jurisdição  da  vila  de  Arraiolos,  por  carta  dada 
em  Évora  a  7  de  julho  de  1483.  (Chancelaria  de  D.João  II,  liv.24.o, 
fl.  74).  O  senhorio  foi  dado  em  parte  de  200.000  reaes  de  renda,  e 
tendo  elle  depois  sido  avaliado  em  96.000  rs.,  passou-se  carta  de 
padrão  dos  104.000  rs.  que  faltavam,  em  Montemor,  a  5  de  janeiro 
de  1  185.  Esta  carta  encontra-se  transcrita  na  de  confirmação  de 
I).  .Manuel,  apontada  no  texto,  e  trasladada  no  liv.  l.o  dos  Místicos, 
a  fl.  57  v.,  com  a  data  errada.  Efectivamente  o  escrivão  datou  o 
documento  de  Estremoz,  a  12  de  janeiro  de  1486,  anuo  em  que 
I).  Manuel  ainda  estava  lonje  do  trono;  deverá  ser  porem  1497, 
porque  os  princípios  deste  anuo  passou  D.  Manuel  em  Estremo/. 
Consta,  não  só  do  que  diz  Damião  de  (iões  nos  cap.  XVIII,  XIX 
e  XX  da  I  parte  da  Ghronica  de  D.  Manuel,  mas  é  plenamente  con- 
fimado  pela  carta  de  confirmação  do  oficio  de  anadel  mor  dos  bés- 
teiros,  concedido  a  Rui  Gil  Magro  em  Estremoz,  a  IS  de  janeiro 
de  1497.  Vide  Liv.  3.°  dos  Brasões  de  Cintra,  paj.  247. 

10  Chancelaria  de  I).  Manuel,  liv.  27."  fl.  98. 


O   CAMARF1RO  275 

lencia  deu  a  de  acudir  ao  perdulário  Conde  com  a  carta 
de  12  de  julho  de  1500,  destinada  a  suavizar  as  sentenças 
contra  as  suas  rendas  lançadas  ". 

Dir-me-hão  que  D.  Manuel,  conservando-se  benigno, 
ou  premiando  os  bons  servidores  de  seu  antecessor, 
mantinha  o  prestijio  da  realeza,  prestando  a  elle  e  á 
memoria  de  D.  João  II  um  assinalado  serviço,  pois  que 
por  esta  forma  confessava  haverem  sido  as  conspirações 
um  facto  provado,  e  por  tanto  justo  o  procedimento  do 
Príncipe  Perfeito. 

Isto  seria  efectivamente  assim,  se  outros  actos  por 
D.  Manuel  praticados  logo  depois  da  sua  exaltação  ao 
trono,  não  viessem  demonstrar  a  pequena  consideração 
por  elle  na  verdade  ligada  ao  prestijio  da  realeza. 

Como  podia  D.  Manuel  invocar  para  a  restituição  da 
casa  ao  Duque  de  Bragança  D.  Jaime  o  salutar  principio, 
de  que  os  filhos  não  deviam  padecer  pelos  crimes  dos 
pais,  se  elle  nas  suas  Ordenações  manteve  para  o  crime 
de  lesa  majestade  penas  que  recaíam  sobre  os  filhos 
dos  criminosos?  Como  podia  elle  explicar  a  imediata 
repatriação  de  D.  Álvaro  de  Portugal,  a  quem  mandou 
regressar  ao  reino  por  uma  carta  muito  amigável  que 
lhe  dirijiu  em  2  de  abril  de  1496  '-,  tendo  aquelle  fidalgo 
sido,  não  só  complice  de  seus  irmãos  Bragança  e  Mon- 
temor, como  declara  a  sentença  de  9  de  agosto  de  1485  IJ, 
mas  também  escritor  de  uma  carta  a  D.  João  II,  tão 
ofensiva  que  ella  por  si  só  constituía  crime  de  lesa 
majestade  ''?  Como,  sobretudo,  se  poderá  D.  Manuel 
lavar  da  nódoa  do  chamamento  de  D.  Álvaro  de  Ataíde 
e  restituição  dos  seus  bens  e  dignidades,  quando  este 


11  Impressa  pelo  dr.  Sousa  Viterbo  a  paj.  35  da  Batalha  de  Toro. 
'-  Góes,  Chronica  de  D.  Manuel,  part.  l.a,  cap.  XIII. 
I!  Arch.  H/st.  Port.,  vol.  II,  paj.  273. 

"  Provas  da  H/st.  genealógica,  vol.  V,  paj.  492,  e  Annaes  das 
scienciãs  e  lettras,  vol.  II,  paj.  104. 


276  ESTUDOS 

havia  sido  condenado  á  morte  e  confiscação  por  sen- 
tença de  9  de  agosto  de  1485  l5,  a  qual  el  Rei  nunca 
se  atreveu  a  revogar? 

Este  perdão  orijinou  um  facto  extremamente  singular 
e  humoral. 

Em  maio  de  1497  começou  D.  Manuel  a  confirmar 
a  casa  a  D.  Álvaro  de  Ataíde  já  então  do  seu  Conse- 
lho "',  e  elle  viveu  até  ás  prossimidades  de  30  de  abri! 
de  1509  em  que  já  era  falecido  17. 

Durante  uma  dúzia  de  annos  deu-se  por  tanto  o 
extraordinário  caso,  único  talvez  na  historia,  de  tomar 
parte  nos  conselhos  da  coroa  um  homem  condenado  por 
sentença  publica,  nunca  revogada,  a  pena  capital! 

Não  quero  crer,  que  D.  Manuel  fosse  tão  generoso 
para  os  implicados  nas  duas  conspirações,  por  no  fundo 
da  sua  alma,  tanto  aos  conspiradores,  como  aos  delato- 
res, agradecer  o  terem-lhe  facilitado  o  advento  ao  trono, 
do  qual  tão  lonje  nascera.  Não  quero  supor  isso,  mas 
realmente  os  filhos  dos  Infantes  D.  Fernando  e  D.  Brites, 
se  fisicamente  se  não  resentiram  todos  da  dejeneração 
resultante  dos  repetidos  enlaces  entre  prossimos  paren- 
tes, parece  terem  moralmente  enfermado  de  qualquer 
eiva  orijinaria. 

O  mais  velho,  D.  João,  3.°  Duque  de  Viseu,  foi  sem- 
pre enfezado,  e  constantemente  se  lhe  receou  a  morte, 
que  o  levou,  com  menos  de  vinte  e  cinco  annos,  em 
1472,  depois  de  3  de  julho.  O  segundo,  D.  Diogo,  4.° 
Duque  de  Viseu,  bastantes  provas  de  insensatez  e  mau 
caracter  deu.  O  terceiro,  D.  Duarte,  morreu  moço, 
tendo-lhe  talvez  apressado  a  morte  o  cunhado  Bra- 
gança,   conforme   as   suspeitas   de    D.    João    II    que  o 


l;'  Árch.  Hist.  Por/.,  vol.  II,  paj.  276. 

Ifi  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  26.<\  fl.  84. 

17  Chancelaria  de  D.João  III,  livro  6.o  de  Doações,  fl.  36  v. 


O   CAMAREIRO  27  I 

padre  Paulo  nos  conservou  ls.  Alem  destes  houve  mais 
dois  rapazes  e  uma  rapariga,  todos  falecidos  na  infân- 
cia, e  D.  Manuel  que  foi  rei,  e  cujo  caracter  ainda 
precisa  mais  estudado.  Mais  velhas  do  que  elle  foram 
suas  irmãs,  a  Rainha  D.  Leonor,  cujas  acções  e  Índole 
já  são  conhecidas  dos  meus  leitores,  se  os  tenho;  e 
D.  Isabel,  Duquesa  de  Bragança,  mulher  do  Duque 
degolado  em  Évora,  "a  única  figura  suave,  boa  e  com- 
passiva,/, na  frase  de  Manuel  Bento  de  Sousa  ''■'. 

Esta  senhora,  "suave,  boa  e  compassiva»,  tinha  a  seu 
cargo  uma  criança  de  sete  para  doze  annos,  desposada 
de  seu  filho  o  Duque  D.  Jaime.  Tão  bem  velava  pela 
honra  da  criança,  que,  na  ocasião  em  que  aquelle 
doido  perverso  fujiu  de  Portel,  uma  das  razões  por 
D.  Manuel  alegadas  ao  Papa,  para  elle  não  consen- 
tir na  profissão  do  sobrinho,  era,  haverem-se  passado 
entre  os  esposados,  apesar. da  consumação  por  falta  de 
idade  não  ter  ainda  tido  logar,  "outras  algumas  cousas 
de  que  ella  não  ficaria  tão  limpa  e  fora  de  pejo,  que 
mui  grande  inconveniente  se  não  seguisse!,,"20 

A  criança  precocemente  depravada  pelo  seu  futuro 
marido,  foi  a  Duquesa  D.  Leonor  de  Mendoça,que  doze 
annos  depois,  por  ser  a  amante  do  pajem  António 
Alcoforado,  foi  assassinada  pelo  Duque,  esquecido  de 
haver  sido  elle  próprio  quem  lançara  a  semente  da 
corrupção. 

Para  acabar  com  horrores,  direi  que  no  caso  do  Du- 
que de  Viseu  teve  Antão  de  Faria  pequena  parte, 
havendo  apenas  servido,  segundo  parece,  para  media- 


|s  Breve  Tratado  que  escreveo  o  Padre  Paulo  efe.,  impresso  no 
vol  III  das  Provas  da  H/st.  genealógica,  onde,  a  paj.  786,  se  encontra 
a  referencia  á  morte  de  D.  Duarte. 

19  Carta  de  15  de  fevereiro  de  1894  a  Oliveira  Martins,  impressa 
a  paj.  174  do  Príncipe  perfeito. 

20  Corpo  diplomático  portuguez,  vol.  XI,  paj.  17, 


278  ESTUDOS 

neiro  entre  Diogo  Tinoco,  o  primeiro  denunciante,  e 
el  Rei;  e  depois  para  receber  de  D.  Vasco  Coutinho  o 
pedido  de  conferencia  com  D.  João  II. 

Os  casos  Bragança  e  Viseu,  mal  ficam  agora  aponta- 
dos; continuarei  porem  com  as  noticias  de  Antão  de 
Faria. 


IV 


Do  pouco  acima  dito  acerca  das  conspirações  dos 
Duques  de  Bragança  e  de  Viseu,  apuram-se  ainda  assim 
dois  pontos :  primeiro,  que  Antão  de  Faria  teve  naquel- 
les  casos  pequena  parte;  segundo,  que  era  muito  grande 
a  confiança  no  seu  Camareiro  depositada  pelo  Soberano. 

Deste  segundo  facto,  de  sucessos  anteriores  já  pre- 
suposto  e  por  outros  posteriores  confirmado,  colheram 
consequências  conforme  a  suas  premissas  os  escritores 
que  de  D.  João  II,  seja  qual  fôr  o  motivo,  formam  juizo 
muito  diferente  do  verdadeiro.  Aquelles  que  o  conside- 
ram perverso  e  hipócrita  como  Luis  XI  de  França,  po- 
liticamente também  um  grande  rei,  e  a  elle  o  com- 
param, levam  a  perfeição  do  paralelo  ao  ponto  de 
arranjar  para  D.  João  II  um  Olivier  le  Dain  na  pessoa 
de  Antão  de  Faria.  Não  repararam  que,  pelo  menos  em 
três  pontos  capitães,  se  diferençam  absolutamente  os 
dois  reis  e  os  dois  criados.  D.  João  II  encubriu  a  ver- 
dade só  em  quanto  precisou  dissimular;  Luiz  XI  faltou 
em  toda  a  vida  aos  mais  solenes  protestos  e  jura- 
mentos. O  Barbeiro  do  Rei  de  França  foi  enforcado,  se 
não  por  ordem,  pelo  menos  com  assentimento  de  seu 
sucessor;  o  Camareiro  do  Rei  de  Portugal  foi  pelo 
herdeiro  deste  mantido  em  todos  os  bens,  honras  e  pri- 
vilejios,  incluindo  até  os  extraordinários  de  só  respon- 


O   CAMAREIRO  279 

der  em  feitos  eiveis  e  crimes  perante  o  Correjedor  da 
Corte.  Olivier  le  Dain,  homem  de  baixa  extracção  e 
cujo  único  mérito  era  a  dedicação  pelo  monarca,  foi 
desprezado  pelos  seus  contemporâneos,  franceses  e  es- 
tranjeiros;  Antão  de  Faria,  apesar  de  não  ser  fidalgo  ', 
foi  estimado  de  todos  que  com  elle  praticaram,  durante 
o  valimento  e  depois  da  morte  de  I).  João  II. 

O  único  ponto  em  que  acertam  todos  que  de  Antão 
de  Faria  tee,m  tratado,  é  quando  rejistam  a  ilimitada 
confiança  no  seu  Camareiro  depositada  por  D.  João  II. 
Neste  facto  não  pode  haver  duvidas. 

São  poucos  os  documentos,  rejistados  nas  chance- 
larias, passados  por  E).  João  II  depois  de  rei  a  Antão 
de  Faria.  Alem  da  carta  de  quitação  de  25  de  julho 
de  1482,  já  num  precedente  capitulo  citada,  e  de  ou- 
tra análoga  de  19  de  janeiro  de  1490,  relativa  ao 
exercicio  do  oficio  de  cevadeiro  mor  nos  onze  an- 
nos  decorridos  de  1479  a  89.  nos  quaes  recebeu  três 
mil   trezentos   e   noventa   e   sete   moios   e  quarenta  e 


1  As  lerias  dos  genealojistas  acerca  dos  Farias,  ás  quaes  ninguém 
que  tenha  estudo  e  san  critica  dá  fé,  apesar  de  antigas  e  já  im- 
pressas desde  1646  pelo  menos,  o  que  lhes  tira  todo  o  aspecto  de 
novidade,  não  destroem  absolutamente  em  coisa  nenhuma  a  minha 
asserção.  Antão  de  Faria,  cujo  pai  não  é  nomeado  em  nenhum  docu- 
mento nem  livro  coevo,  não. foi  fidalgo,  nem  podia  ser  filho  de  Lou- 
renço de  Faria,  que  foi  seu  contemporâneo  e  aprossimadamente  da 
mesma  idade,  como  sobejamente  o  provam  os  documentos  já  por 
mim  citados. 

Para  se  avaliarem  as  trapalhices  dos  genealojistas,  transcreverei 
de  um  delles  o  seguinte  trecho,  que  teve  agora  a  immerecida  honra 
da  impressão:  "Lourenço  de  Faria  foi  alferes  mór  do  príncipe 
D.  João  na  batalha  de  Toro,  aonde  se  distinguiu  notavelmente, 
alcaide  mór  de  Portel,  senhor  de  Évora  Monte,  monteiro  mor. 
Casou  com  D  .  .  .  tiveram  ..... 

Agora  eu. 

Tudo  quanto  fica  transcrito  é  mentira,  excepto  a  estada  em  Toro. 
Lourenço  de  Faria   não  foi,  nem  alferes  mór  do  Príncipe  D.  João 
em  Toro  (o  alferes  mór  era  então  o  Conde  de  Loulé,  que  no 
sucedera  em  1464  a  seu  pai  em  virtude  de  uma  carta  de  20  de  julho 
de  1452  para  aquelle  efeito),  mas  simplesmente  alferes  do  seu  estan- 


280  ESTUDOS 

três  alqueires  de  cevada  -,  só  lá  encontrei  mais  estes 
diplomas:  uma  carta  dada  em  Sintra  a  9  de  janeiro  de 
1486  de  doarão  de  todos  os  bens  moveis  e  de  raiz 
de  mestre  Isac  Zarco,  morador  em  Santarém,  a  quem 
haviam  sido  confiscados  por  meter  no  reino  panos  de 
Castella  sem  selo  !;  outra,  datada  de  Santarém  a  2  de 
maio  do  mesmo  anno,  pela  qual  D.  João  II  lhe  confirma 
a  de  privilejios  que,  sendo  Príncipe,  lhe  outorgara4; 
outra,  na  mesma  villa,  a  2  também  de  maio  de  1486,  de 


darte,  como  declara  a  carta  de  nomeação  já  por  mim  citada;  nem 
alcaide  mór  de  Portel,  alcaidaria  qne  era  do  Duque  de  Bragança,  e 
foi  dada  depois  da  sua  execução  a  João  de  Faria  por  carta  de  23  de 
setembro  de  1483,  já  por  mim  apontada;  nem  foi  senhor  de  Évora 
Monte,  senhorio  possuído  depois  da  morte  do  referido  Duque  unica- 
mente por  Antão  de  Faria,  como  deixei  provado  por  um  documento 
citado;  nem  foi  monteiro  mór,  oficio  que,  como  consta  de  muitos 
diplomas,  exerceram,  no  reinado  de  D.João  II,  desde  1482,  D.  Diogo 
Fernandez  de  Almeida,  que  também  é  nomeado  D.  Diogo  de  Almeida 
em  documentos;  e  no  reinado  de  D.  Manuel,  D.  Álvaro  e  D.  João 
de  Lima  até  1516,  anno  em  que  já  Lourenço  de  Faria  era  morto,  como 
declarei.  Este  foi  simples  e  modestamente,  como  pertencia  a  quem 
nã(  i  era  Fidalgo,  mantieiro  da  corte,  uma  espécie  de  criado  de  mesa,  ou 
maitre  (Vhotã  na  antiga  acepção  da  palavra.  O  oficio  foi-lhe  dado  por 
cuia  de  22  de  março  de  1468,  também  já  citada,  e  posteriormente 
teve  o  foro  de  fidalgo  da  casa  dei  Rei.  Daqui,  desta  relativamente 
humilde  graduação,  nunca  passou. 

Basta  aquelle  rosário  de  disparates,  acima  transcrito,  para  se  aqui- 
latar o  critério  dos  genealojistas,  que,  alem  de  varias  outras  coisas, 
inventaram  também,  neste  caso,  uma  carta  de  brasão  dada  per  el  Rei 
D.  Fernando  aos  Farias,  quando  o  mais  antigo  diploma  existente 
daquella  espécie,  é  de  dois  meses  anterior  ao  reinado  de  D.  Afonso  V. 

As  asserções  dos  genealojistas  portugueses,  bem  como  as  das  cartas 
de  brasão  posteriores  ao  XVI  século,  só  raríssimas  vezes  teem  alguma 
valia.  Aquelles  sujeitos  são  "mentirosos  por  índole  e  oficio,  ou  por 
vaidade;  são  parvos  geralmente  de  nascença..,  Nelles  não  confio 
ilutamente  nada,  e  os  meus  únicos  oráculos  em  estudos  históricos 
i  is  documentos,  monumentos  e  escritos  coevos,  tudo,  ainda  assim. 
bem  ponderado. 

Com  estas  palavras,  já  demasiado  longas  para  a  insignificância  do 

assunto,  e  só  com  ellas,  porque  não  tenho  tempo  para  perder  por 

bujiarias,    respondo   a   uma  pseudo-critica  do  género  presunçoso- 

qui   me  i  dirijida  no  jornal  do  Porto,  A  Palavra,  do  dia  17 

deste  mês  (abril  de  1902),  hontem  recebido. 

'-'  Chancelaria  de  I).  João  II,  liv.  17."  ti.  11. 

'■  Ibidem,  liv.  8.-,  fl.  150. 
Ibidem,  fl.  lo"-,  v. 


O   CAMAREIRO  281 

doação  de  uns  bens  junto  á  sua  quinta  dos  Olivaes, 
bens  por  seu  sogro  João  Gonçalvez  comprados  a 
um  Moiro  forro'1;  e  finalmente,  ainda  outra  do  mesmo 
anuo,  datada  porem  de  Lisboa  a  25  de  oitubro,  de  pri- 
vilejios  para  os  réus  rendeiros  '"'. 

Apenas  isto  lá  existe  dentro  do  período  apontado; 
mas,  ainda  assim,  o  primeiro  documento  tem  impor- 
tância, por  nos  revelar  que  já  em  9  de  janeiro  de  1486 
era  Antão  de, Faria  do  Conselho  dei  Rei. 

É  pois  certo  não  se  poder  atestar  pelos  rejistos  da 
chancelaria  o  valimento  havido  junto  do  Soberano  pelo 
seu  Camareiro ;  mas  da  privança  se  encontra  a  prova  em 
autores  contemporâneos,  e  sobretudo  no  testamento  de 
D.  João  II  e  em  alguns  diplomas  de  D.  Manuel. 

Rui  de  Pina,  historiador  sóbrio  e  geralmente  pouco 
encarecedor,  limita-se  a  declarar-nos  na  sua  Chronica  a 
pequena  parte  que  o  Camareiro  teve  nos  casos  das 
conspirações  dos  Duques;  acrescenta  porem,  que  D. 
João  II  deixara  nas  Alcáçovas,  onde  o  fizera,  o  seu  tes- 
tamento entregue  a  Antão  de  Faria,  e  esta  prova  de 
confiança  é  muito  grande  '.  O  dr.  Diogo  Pinheiro,  no 
Manifesto,  também  se  refere  a  terem  sido  os  documen- 
tos comprovativos  da  traição  do  Bragança  confiados 
para  os  copiar  a  Antão  de  Faria,  "que  desta  herança 
levou  um  bom  quinhão,,*.  Lopo  de  Figueiredo,  no  Tra- 
tado, apenas  nomeia  confusamente  o  Camareiro,  repor- 
tando-se  a  uma  carta  de  D.  Álvaro  a  seu  irmão  o  Duque 
D.  Fernando,  na  qual  "lhe  recontava  as  cousas  que  el  Rei 
então  fazia,  e  como  el  Rei  provera  do  arcebispado  de 
Braga  ao  Bispo  de  Coimbra  (fins  de  1482,  princípios  de 


'  Chancelaria  de  D.João  II,  liv.  4. o,  fl.  /. 

6  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  3().<\  fl.  129  v. 

'  Chronica  de  D.João  II,  paj.  21,  36,  43,  57,  58  e   191. 

s  Provas  da  Hist.  genealógica,  vol.  III,  paj.  638. 


282  ESTUDOS 

1483). . .  e  o  Bispo  de  Coimbra  com  pensão  de  um  mi- 
lhão, e  balada  a  fana,,''. 

Com  efeito  encontro  no  anno  de  1484  algumas  car- 
tas, relativas  a  besteiros  da  camará,  mandadas  executar 
por  Antão  de  Faria,  que  nellas  se  intitula  comendador 
de  Santa  Maria  de  Valada  (na  Ordem  de  Cristo).  Exer- 
cia elle  então  interinamente  o  cargo  de  anadel  mor  da- 
quelles  besteiros,  pelo  proprietário  do  oficio,  Francisco 
de  Porto  Carreiro  :tl. 

Quem  nos  ministra  mais  pormenores  acerca  do  vali- 
mento de  Antão  de  Faria,  é  Garcia  de  Resende  nas  suas 
anecdotas,  tão  depreciadas  por  Alexandre  Herculano. 

Conta-nos  o  cronista  vários  casos  que  todos  servem 
para  mostrar  a  confiança  de  D.  João  II  no  seu  Cama- 
reiro, não  só  confidente  e  tesoureiro  do  bolsinho  dei  Rei, 
mas  até  executor  dos  castigos  por  elle  ordenados,  quando 
recaíam  em  crianças. 

D.  João  II,  D.  Manuel,  e  outros  reis,  antes  e  depois 
delles,  formavam  da  sua  corte  uma  sorte  de  vasta  fa- 
mília, no  seio  da  qual  exerciam  funções  de  chefe, 
para  não  dizer  de  pai.  D.  João  II  cercava-se  durante  o 
jantar  de  moços  fidalgos,  que  aos  seis  e  oito  se  sentavam 
no  chão  a  seus  pés,  ou  de  baixo  da  mesa,  alem  de  mais 
dois  que  em  pé  a  seus  lados,  com  leques  de  seda  lhe 
enxotavam  as  moscas.  Com  elles  praticava,  e  entre  elles 
repartia  o  primeiro  prato  de  fruta  que  lhe  serviam  ". 

Em  1490  era  pajem  dei  Rei  D.  Jorje  de  Castro,  irmão 
do  futuro  3.°  Conde  de  Monsanto,  "moço  muito  for- 
moso e  gentil  homem,,,  como  diz  Resende,  acrescentando 


n  Annaes  das  sciencias  e  lettras,  vol.  I,  paj.  553. 

111  Chancela  ria  de  D.João  II,  livro  22.o,  íí.  10  e  liv.  23.o  II  95  v. 

11  Viaje  de  Nicolas  de  Popielovo,  paj.  32  da  colecção  de  Viajes  de 
extranjeros  por  Espana  y  Portugal  en  los  siglos  XV,  XVI  y  XVII. 
Coleccion  de  Javier  Liske.  .  .  traducidos.  .  .  por  /'.  R.  Madrid,  s. 
d.  Nicolaus  von  Popplau,  nobre  polaco,  esteve  em  Portugal  no  verão 
de  1 184. 


O   CAMAREIRO  283 

que  nas  festas  de  Évora  elle  se  apresentara  ricamente 
armado  com  muitos  doirados  e  pedrarias,  e  na  cabeça 
uma  "guirlandaH  de  pedraria  terminada  por  um  penna- 
cho  de  pennas  de  «arca.  Três  annos  depois  já  era  pajem 
dei  Rei  outro  D.  Jorje,  este  de  Meneses  e  filho  do  1  o 
Conde  de  Cantanhede,  o  qual  também  el  Rei  trazia  ri- 
camente trajado.  Por  um  mandado,  passado  em  Torres 
Vedras  a  3  de  julho  de  14Q3,  ordenou  el  Rei  que  ao 
seu  Pajem  íqsse  dado  um  tabardo,  um  pelote  e  umas 
calças  de  lila  (Lille),  um  jubão  de  veludo  nergo  dobrado, 
e  um  barrete;  pouco  tempo  depois,  em  Lisboa,  a  21  de 
novembro,  nova  andaina  de  roupa  para  D.  Jorje  de  Me- 
neses, e  esta  rica  a  valer:  um  balandram  (balandrau)  de 
escarlata  de  Londres,  acairelado  de  retroz  carmezim,  com 
suas  borlas  e  perilhas  de  oiro  e  carmezim,  um  pelote 
da  dita  escarlata,  um  gibão  de  setim  roxo,  e  uma  cara- 
puça de  veludo  preto  dobrado.  E  não  ficou  só  por 
aqui,  porque  um  mês  certo  depois,  ainda  em  Lisboa, 
lhe  mandou  dar  mais  uma  loba,  capelo  e  pelote  de 
roles  '-  e  um  gibão  de  solia  1:!.  Era  um  casquilho,  o 
pajem ! 

Este  D.  Jorje  de  Meneses,  como  todos  os  fidalgos  da 
sua  linhajem,  era  já  galanteador  com  as  damas,  apesar 
de  meio  fedelho  ainda,  e  isso  rendeu-lhe  ser  castigado 
em  publico  por  D.  João  II.  Passou-se  o  caso  em  Alco- 
chete, indo  el  Rei  a  pé  com  a  Rainha  e  a  corte  e  encon- 
trando na  rua  um  toiro  que  arrombara  a  cancella  do 
corro.  Todos  fujiram  menos  el  Rei,  que  se  pôs  diante 
da  Rainha  com  a  capa  num  braço  e  a  espada  na  mão ; 
mas,  para  a  desembainhar,  tivera  de  esperar  pelo  seu 


12  Roles  era  unia  fazenda  de  proveniência  e  fabricação  irlandesa. 
Roles  e  rolos  de  Galvei  ou  Galveu  (Galway)  encontram-se  mencio- 
nados em  varias  Cartas  de  quitarão  de  D.  Manuel,  n.os  23 

442,  etc. 

13  Corpo  eronolojico,  parte  l.a  niac.  2.o,  doe.  28,  93,  e  106. 


284  ESTUDOS 

Pajem  da  lança,  entretido  atrás  em  conversação  com 
as  Donzellas  da  Rainha.  Apesar  do  perigo  qnasi  imi- 
nente, teve  ainda  assim  I).  João  II  enerjia  e  tempo  para 
arrepelar  o  moço,  antes  de  pegar  na  arma  '''. 

O  trajo  dos  moços  fidalgos  também  era  rico  e  vis- 
toso. A  um  do  senhor  D.  Jorje  mandou  el  Rei  dar  para 
sen  vestido,  em  Torres  Vedras,  a  30  de  julho  de  14Q3, 
um  capuz,  pelote  e  calças  de  Londres,  jubão  de  setim 
e  barrete  preto  dobrado;  e  outra  andaina  de  fato  mais 
encorpado,  e  que  se  compunha  de  capuz,  pelote  e  cal- 
ças de  menim  (Meenen),  e  jubão  de  veludo  negro  do- 
brado; tudo  isto  alem  de  seis  camisas  de  olanda.  Pouco 
depois,  em  Lisboa,  a  12  de  dezembro,  mandou  el  Rei  dar 
a  seis  moços  fidalgos  também  de  D.  Jorje,  a  cada  um, 
gibão  de  setim  roxo  e  calças  de  menim,  afora,  para  a 
brincadeira,  um  saio  de  momos  de  mytaão  (Mitau?)  com 
seus  pendentes  de  lata  de  Flandres.  A  Lionel  de  Lima  e 
sen  irmão  Diogo  Lopez,  moços  fidalgos  dei  Rei,  man- 
dou-lhes  este  dar,  em  Sintra  a  13  de  oitubro  de  1493,  a 
cada  um,  capuz  e  pelote  de  vintém,  isto  é,  creio  en,  do 
preço  por  covado  de  um  vintém,  moeda  de  prata  do 
valor  de  vinte  reaes  brancos;  e  mais  um  gibão  de  setim  e 
calças  de  ipry  (Ypres).  Aparece  também  o  vestuário  para 
um  moço  fidalgo  francês  '',  que  fora  pajem  de  "monseor 


11  Resende,  Vida  cie  D.João  II,  cap.  70,  fl.  4S  v. 

')  nome  deste  moço  fidalgo  francês  leu  [oão  Pedro  Ribeiro,.no 

vol.  V  das  Dissertações,  por  esta  forma:  João  de  binf;  a  mim,  salvo 

íeito  devido  ao  Mestre,  parece-me  dever  ler-se  biuf;  mas  julgo 

avermos  ambos  nós,  e  desculpem-me  a  ousadia  da  camarada- 

jem,  entendido  bem  o  nome  que  o  escrivão  da  camará  quis  pôr  no 

mandado.  ()  meu  estudioso  amigo  e  distinctissimo  paleógrafo  Pedro 

A.  de  Azevedo,  consultado  por  mim,  interpreta  a  leitura  daquelle 

nome   por  esta  maneira:  João  de  biu  f,   isto  e  João  de  biu francês. 

Admitindo  o  muito  possível  caso  do  ponto  no  i  aparecer  deslocado, 

posto  sobre  a  primeira  perna  em  seguida  ao  />,  quando  devia 

estar  na  terceira,  era  bui  que  se  havia  de  ler,  confirmando  esta  leitura 

outro  mandado  passado  pouco  depois,  a  17  de  setembro,  ainda  em 

forres  Vedras.  Nelle  ordenou  el  Rei  a  Rui  (iil  que  desse  a  João 


O   CAMAREIRO  285 

de  Leam,,,  René  de  Chateaubriand,  senhor  chi  Lyon  d'An- 
gers,  criado  conde  de  Ouazava  em  Africa  por  D.João  II, 

por  carta  de  11  de  agosto  de  1493,  passada  em  Torres 
Vedras  no  dia  seguinte  áquelle  em  que  mandara  vestir 

0  moço  fidalgo.  Por  este  mandado  consta  que  lhe  deram 
um  jubão  de  setim  preto,  pelote  de  veludo  preto  do- 
brado, carapuça  do  mesmo  veludo,  calças  de  menim, 
outro  gibão  de  comtrai  (Courtray)  frisado,  e  um  par  de 
camisas  de  olanda  "'. 

Todos  estes  fatos  eram  dados  "feitos  e  tirados  da 
costura,/,  e  os  mandados  todos  passados  áquelle  Rui 
Gil,  que  era  Rui  Gil  Magro,  cavaleiro  da  casa  dei  Rei, 
e  Anadel  mor  dos  besteiros  da  camará  por  carta  de  20 
de  abril  de  14Q1,  confirmada  por  D.  Manuel  em  18  de 
janeiro  de  1497  17.  Então,  em  1493,  exercia  Rui  Gil  o 
cargo  de  recebedor  do  tesouro  dei  Rei,  a  quem  hon- 
rada e  dedicadamente  serviu. 

Voltemos  aos  moços  fidalgos. 

D.  João  II  não  só  os  vestia,  mas  mandava-os  também 
estudar,  para  o  que  lhes  assinava  tenças  com  que  se 
pudessem  manter  no  estudo.  Isto  mesmo  já  D.  Afonso  V 
praticara,  e  bastarão  para  o  provar  as  três  cartas  dadas 
a  António  do  Sem,   uma  de  seis  mil  reaes  brancos  a 

1  de  abril  de  1450,  para  seu  mantimento  com  que 
aprenda  no  estudo,  outra  de  3  de  março  de  1452  na 
qual  se  lhe  acrescentam  mais  mil  reaes  á  pensão,  e 
finalmente  a  terceira,  em  18  de  março  de  1455,  de  mais 
sete  mil  e  quatrocentos  reaes  1S. 


de  Buy,  francês,  um  capuz,  pelote,  e  calças  de  menim,  um  jubão  de 
setim  com  meias  mangas  e  colar  de  veludo  preto  dobrado,  e  um 
barrete  preto  dobrado  (Corpo  cronolojico,  parte  I,  mac.  2.o,  doe.  60). 

Ui  Corpo  cronolojico,  parte  I,  mac.  2.°,  doe.  41,  108,  69  e  15. 

11  Chancelaria  de  D.João  II,  liv.  10.°,  fl.  29  v.,  e  Chancelaria  de 
D.  Manuel,  liv.  21. o,  fl.  14  v. 

18  Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  34.o,  fl.  61,  liv.  12.o,  fl.  22,  e 
liv.  15.o,  fl.  21. 


286  ESTUDOS 

No  meio  daquella  rapaziada  toda,  surjiam  ás  vezes 
desordens  mesmo  no  paço,  as  qnaes  el  Rei  precisava 
reprimir  com  castigo,  para  evitar  as  repetições. 

Uma  vez  dois  moços  fidalgos  desavieram-se  dentro 
no  paço,  e  lá  mesmo  se  esgatanharam  e  arrepela- 
ram. El  Rei  soube-o,  e  mandou-os  chamar  para  os  cas- 
tigar como  crianças,  apesar  delles  já  serem  granditos. 
Um  apareceu,  e  foi  logo  relaxado  a  Antão  de  Faria 
para  lhe  dar  um  gibão,  mas  de  açoites;  o  outro  não 
houve  ve-lo,  porque  os  parentes  esconderam-n-o.  Então 
D.  João  II  ordenou  ao  Correjedor  da  corte,  que  publi- 
casse uma  sentença  na  qual  o  delinquente  era  con- 
denado a  dez  annos  de  degredo  em  Ceuta.  Acudiram 
logo  os  parentes  todos,  aflictissimos  com  tão  severo 
castigo,  e  el  Rei  lhes  disse:  "Pois  não  quisestes  que  o 
castigasse  como  moço,  castiguei-o  como  homem.,; 

Trouxeram-lho,  e  elle,  apesar  de  andar  bem  doente, 
por  suas  próprias  mãos,  não  delegou  então  no  Cama- 
reiro, "o  tomou  pelos  cabelos  e  o  espancou  bem,,, 
com  um  pau,  diante  de  todos  l9. 

Mas  não  era  só  em  lhe  entregar  o  castigo  dos  moços 
fidalgos,  que  D.  João  II  mostrava  a  confiança  deposta 
em  Antão  de  Faria.  Outros  casos  mais  significativos 
nos  conservou  Garcia  de  Resende. 


V 


O  que  fica  dito  no  precedente  capitulo  mostra  já  em 
parte,  que  efectivamente  no  xv  século  o  rei  de  Portu- 
gal era  na  realidade  o  chefe  de  uma  numerosa  família. 


I!l  Resende,  Vicia  de  D.João  II,  cap.  192,  ti  111 


O   CAMAREIRO  287 

Nos  tempos  de  D.  Afonso  V  constaria  cila  somente  de 
gente  dá  corte;  nos  de  D.  João  II  estendia-se  também  a 
muitos  do  povo. 

Logo  de  pequenos  tomava  el  Rei  conta  de  vários 
súbditos  seus,  aos  quaes,  conforme  a  classe  a  que  per- 
tenciam, dava  moradias  na  casa  real  para  seu  manti- 
mento e  educação.  Depois  outorgava-lhes  o  chamado 
casamento,  certo  dote  em  dinheiro,  do  qual,  se  nem 
sempre  pagava  tudo,  entregava  todavia  armualmente, 
por  meio  de  um  padrão  de  tença,  a  graça  arbitrada, 
isto  é,  o  juro  correspondente,  e  as  prestações  por 
esta  forma  pagas  nunca  eram  abatidas  no  princi- 
pal, quando  este  era  satisfeito.  Finalmente,  confirmava 
quasi  sempre  ás  viuvas  e  filhos  dos  moradores  da  sua 
casa  as  tenças  a  elles  concedidas  em  sua  vida,  e  muitas 
vezes  criava  outras  de  novo,  se  os  serviços  do  fale- 
cido, ou  as  circumstancias  dos  sobreviventes,  a  isso  o 
levavam. 

Isto  era  o  usual ;  mas  muitos  extraordinários  havia. 
Donativos  de  dinheiro  em  tempos  de  D.  João  II,  como 
prémio  de  bom  serviço  ou  proceder,  eram  frequentes; 
dadivas  de  vestuário,  ou  de  prendas  ricas,  também  eram 
vulgares,  mesmo  a  pessoas  de  alta  jerarchia.  Nos  pre- 
ciosos cento  e  sete  mandados  dirijidos  a  Rui  Gil  Ma- 
gro, os  quaes  se  guardam  no  maço  2.°  da  l.a  parte  do 
Corpo  cronolojico,  e  a  alguns  dos  quaes  já  me  referi,  en- 
contram-se  exemplos  destes  dons  de  toda  a  sorte,  a  in- 
dividuos  de  todas  as  classes,  apesar  das  ordens  abranje- 
rem  o  bem  curto  periodo  decorrido  de  22  de  janeiro  a 
13  de  dezembro  de  1493,  de  se  terem  de  certo  perdido 
muitas,  e  de  se  referirem  só  á  repartição  da  recebedo- 
ria do  tesouro  dei  Rei. 

A  "Excelente  Senhora,  minha  prima,;,  mandou  dar 
vinte  varas  de  olanda  e  oito  covados  de  pano  preto 
de  vintém,  ou  de  outro  de  sua  sorte,  em  Torres  Vedras 


288  F.STUDOS 

a  1  de  abril1;  e  cm  Lisboa,  a  5  de  dezembro,  uma 
murça  de  lila  píeta  forrada  de  arminhos,  um  manto  de 
frisa,  meia  onça  de  almíscar,  e  outra  meia  de  âmbar'-.  A 
D.  Isabel  de  Abranches,  filha  do  2°  Conde,  D.  Fernando 
de  Almada,  vinte  espadins  de  oiro,  em  17  de  maio3.  Ao 
Rabi  Abraão  "estrolico»  (astrólogo),  dez  espadins  de  oiro, 
em  9  de  julho'';  ao  famoso  dr.  Cataldo,  um  mantão, 
pelote  e  calças  de  menim,  jubão  de  setim,  e  um  barre- 
te, a  12  de  julho";  ao  outro  não  menos  famoso  doutor, 
o  dr.  Vasco  Fernandez  de  Lucena,  pano  preto  para  um 
pelote  e  uma  opa,  tosado  ou  aparelhado,  e  pano  de 
setim  preto  para  um  gibão,  com  seus  forramentos.  Or- 
dena que  a  toda  a  pressa  lhe  mandem  logo  estas  fazen- 
das para  Torres  Vedras  por  um  homem  do  tesouro, 
"para  se  fazer  esta  noite,, 6.  Foi  o  mandado  passado 
naquella  vila  em  10  de  julho,  e  a  pressa  seria  motivada 
pela  recepção  publica  que  então  se  fez  a  M.  du  Lyon 
d'Angers,  que  dirijiu  uma  fala  a  el  Rei,  á  qual  prova- 
velmente o  dr.  Vasco  Fernandez,  do  Desembargo,  Cro- 
nista e  Guarda  mor  da  Torre  do  Tombo,  e  bom  la- 
tino, respondeu. 

Ainda  outras  dadivas,  interessantes  para  o  meu  caso, 
aparecem.  Por  exemplo:  dez  covados  de  veludo  preto 
dobrado  e  doze  de  setim  preto  fino,  mandados  dar  em 
17  de  agosto  a  D.  Francisco  de  Almeida,  o  futuro  Vice 
Rei  da  Índia7;  uns  bons  estribos  prateados  de  cavalo 
da  gineta,  em  30  de  novembro,  a  D.  Garcia  de  Castro  s, 
o  senhor  do  paul  do  Boquilobo;  ao  carpinteiro  Heahea, 


1  Corpo  crônolofico,  part.  l.a,  mac.  2."  doe.  12. 
'-'  Ibidem,  doe.  100. 
;!  Ibidem,  (.Inc.  10. 
1  Ibidem,  doe.  18. 

1  Ibidem,  doe.  31. 
6  Ibidem,  doe.   t6. 

Ibidem,  doe.   1'». 

Ibidem,  doe.  97. 


O   CAMAREIRO  289 

moiro,  em  29  de  julho,  um  capuz,  pelote,  calças,  e  ca- 
rapuça de  antona,  jubão  de  fustão  preto,  e  um  par  de 

camisas  de  pano  da  terra'1;  ao  besteiro  Pedr'Afonso, 
em  21  de  oitubro,  um  capote,  saio  curto,  e  calças  de 
antona  verde,  jubão  de  fustão,  e  calções  de  pardo  por 
meia  coxa  '";  a  mestre  Pedro,  fundidor  de  ferro,  em  13  de 
novembro,  um  saio  bastardo  francês,  umas  calças  de 
Londres  de  preço  de  quatrocentos  reaes  o  covado,  um 
jubão  de  chamalote  com  meias  mangas  e  colar  de  ve- 
ludo preto,  e  uma  carapuça  do  dito  veludo".  E  mais 
exemplos  ainda  se  encontrariam,  sem  sair  dos  mandados 
adereçados  a  Rui  Gil,  recebedor  do  tesouro  dei  Rei, 
mas  não  paga  a  pena  indica-los. 

Para  se  poder  avaliar  o  enorme  movimento  de  di- 
nheiro e  objectos  variadissimos,  desde  os  mais  preciosos 
até  aos  mais  ordinários,  desde  os  mais  delicados  aos  mais 
grosseiros,  que  no  tesouro  privativo  do  Rei  entravam  e 
saíam,  não  resisto  a  transcrever,  apesar  de  longa,  a  carta 
de  quitação  dada  por  D.  Manuel  a  Rui  Gil  Magro,  dos 
quatro  annos  que  foi  recebedor  do  tesouro  de  D.  João  II. 

O  leitor  frívolo  salte  todo  o  resto  deste  capitulo,  bem 
mais  interessante,  de  certo,  para  o  estudioso  do  que  o 
meu  aranzel. 

Aqui  vai  o  documento,  advertindo  que  as  palavras 
em  itálico  são  algumas  das  variantes  da  leitura  nova 
do  diploma,  nas  copias  ordenadas  por  D.  Manuel. 


A  Rui  Gil  Magro,  recebedor  do  tesouro  e  pagador  das  moradias, 
quitação  de  todo  o  dinheiro,  ouro,  prata,  e  muitas  outras  cousas  que 
rccebeo  e  despendeo,  etc. 

D.  Manoel...  mandámos  ora  tomar  conta  a  Rui  G ir  Magro,  ca- 
valeiro de  nossa  casa,  de  todo  o  que  espendeo  e  recebeo  os  annos 


9  Corpo  croiwlojico,  part.  l.a,  mac.  2.°,  doe.  40. 

10  Ibidem,  doe.  75. 

11  Ibidem,  doe.  90. 


19 


200  ESTUDOS 

de  491  ''-',  e  de  92,  e  de  93,  e  de  94,  que  foi  recebedor  do  nosso 
tizouro  e  pagador  das  nossas  moradias.  E  per  a  recadaçam  de  sua 

conta  se  mostra  recebei-,  em  os  ditos  quatro  annos,  70.183.750  reaes, 
contando  nesta  soma  1.049.757  rs.  que  valeo  o  ouro  e  prata,  jóias, 
borcados,  veludos  e  sedas,  e  panos  de  lan  e  de  linho  e  detodasorte, 
e  outras  muitas  mercadorias  e  cousas  que  o  dito  Rui  Gil  ficou  de- 
vendo no  primeiro  ensaramento  dela,  em  que  lhe  foram  avaliadas 
per  nosso  mandado,  segundo  mui  decraradamente  se  contem  em  a 
dita  arrecadaram.  E  bem  assi  se  mostra  receber  mais  o  dito  Rui  Gil 
26  anés  de  ouro;  e  de  aljofre  2  marcos,  4  onças,  e  4  oitavas  e  mea, 
e  106  grãos;  e  1  alenterna  de  prata;  e  6  albarradas  douradas e lavra- 
dras;  e  9  agomis  de  prata;  e  liumas  alcaladas  de  prata;  e  1  apito  de 
prata;  e  1  alifante  de  prata;  e  2  barris  de  prata;  e  10  bacios  de  prata 
de  agoa  ás  mãos;  e  10  bacios  de  ter  fruyta;  e  \b  bucetas  de  prata;  e 
32  bacios  de  prata  de  servir  de  cozinha;  e  2  bocaes  de  prata;  e  1  ba- 
cia de  mijar:  e  2  colares  de  ouro  riquos,  com  pedraria;  e  2  cestos  de 
ouro;  e  0  cadeas  de  ouro;  e  de  castonu-s  (castões)át  ouro,  7;  e  3  cru- 
ze^ de  ouro;  e  1  de  prata;  e  1  coroa  de  ouro  com  cem  perlas;  e 
3  cambainhas  (campainhas)  de  ouro  da  Mina;  e  48  colheres  de  prata; 
e  4  qualez,  hum  deles  de  ouro;  e  S  quastiçaçs  de  prata;  e  21  marcos, 
6  onças  e  4  outavas  de  chaparia  de  prata;  e  2  sintas  de  prata;  e  3  cal- 
deiras de  prata;  e  1  caldeiram  de  prata;  e  2  cacetasde  prata;  e  1  chy- 
melaa  de  prata;  e  2  canas  de  prata  de  ter  folhas  de  livros;  e  20  es- 
cudelas de  prata;  e  1  escalfador  de  prata;  e  6  confeiteiras  de  prata; 
e  IS  copos  de  prata;  e  11  copas  de  prata;  e  33  cabeçadas  de  prata; 
e  1  barcelete  de  ouro;  e  2  cadeas  de  prata;  e  20  diamães  e  40  esme- 
raldas todas  encastoadas  e  os  diamães,  em  ouro;  e  6  escudos  de  prata ; 
e  3  estatuías  de  prata;  e  4  especieiros  de  prata;  e  13  firmaesde  ouro; 
e  3  fontes  de  prata;  e  1  ferrada  de  prata;  e  2  fonisde  prata;  e  60 gar- 
fos de  prata;  e  8  galetas  (galhetas)  de  prata;  e  2  garas  (jarras)  de 
prata;  e  0  gaspas  e  9  gaezas  de  ouro  e  prata;  e  o  ilhós  de  ouro;  e 
1  mea  coroa  com  cinquo  diamães;  e  (>  maças  de  prata;  e  40  momos 
de  prata;  e  3  marquos  e  1  honça  e  7  outavas  de  prata  em  moeda  de 
fora  do  reino;  e  3  medidas  de  prata;  e  1  maça  de  ouro  per  âmbar; 
e  3  marquos  e  2  honças  e  1  hoitava  de  ouro  da  Mina;  e  3  cruzados 
e  }  quartos  de  ouro  batido;  e  1SS  cruzados  e  45  gramos  (grãos)  de 
ouro  fino  de  cruzado;  e  48  gramos  de  ouro  fino  ele  primeiro  emsães; 
e  69  gramos  de  ouro  fino  de'  três  emsães;  e  24  gramos  ele  ouro  da 
Mina;  e  0  ouveiros  de  prata;  e  2  pedras  estopaes;  e  110  per  las;  e 

9  piches  de  prata,  lavrados  e  dourados;  e  2  portaz.es;  e  2õ  panes 
(pratas)  de  prata  de  mantearia;  e  2  privados  de  prata;  e  2  pretuma- 
doiros  de  prata;  e  598  marquos  e  5  honças  e  1  houtava  e  mea  ele 
prata  marcadoira;  e  26  robis;  e  uma  roza  de  prata;  e  1  rebicairo 
(relicário)  de  ouro;  e  1  rede  de  ouro;  e  1  relógio  de  inata;  e  12  ser- 
pes de  ouro  com  lyomes  (liões)  esmaltados;  e  5  sinetes  de  ouro;  e 

10  saleiros  de  prata;  e  10  salseirinhas  de  prata;  e  4  tornes  de  ouro; 
e  2  tanores  de  prata:  e  o  taças  de  desvairadas  feiçomes  (feições)  e 
preço;  e  2  taboas  de  prata  de  cavalgar;  e  2  tisouras  de  prata  de  es- 


12  \o  rejisto  está  b    LRj  (591),  masfoi  engano  do  escrivão,  evi- 
dente, até  porque  a  data  da  carta  é  de  1514. 


O  CAMAREIRO  291 

pivitar;  e  2  tribulos  de  prata  dourados;  e  6  thelis,  4  de  prata;  e  1  ta- 
voa  cie  ouro,  maneira  de  retavolo;  e  i  marqui  -  e  I  hi  nças  e  5  lion- 
ças  (aliás,  outavas)  e  mea  de  prata  batida;  e  3  caixas  de  ouro;  e  66 
presas  de  ouro;  e  29  balaises;  e  71  botees  (botões)  de  ouro  esmal- 
tados, e  30  deles  cheos  de  ambre;  e  6  brochas  de  prata;  e  2  penas 
de  prata  pêra  escrever;  e  1  punho  de  prata;  e  7.  onças,  3  quartos  de 
outava  de  prata  tirada  per  fieira;  e  2  sostentenentes  (sostenentes)  de 
prata;  e  H>  marquos,  5  honças  e  l  outava  de  pano  de  ouro  partido; 
e  ()3  covodos  de  borcado  de  pelo;  e  46  covodos,  1  do/ao  (dozavo) 
de  borcado  raso;  e  258  covodos  e  5  dozaãos  de  borcado  apedrado; 
e  7  outavas  de  borcado  colhocha;  e  36  covodos  e  meo  de  borcadi- 
Iho;  e  71  covodos  e  1  do/ao  de  veludo  aviotado  (avelutado)  crime- 
sim;  e  106  covodos  e  8  dozavos  de  veludo  crimisim;  e  1857  covodos 
e  3  dozavos  g'meo  de  veludo  dobrado,  de  cores;  e  214  covodos  e 
5  dozavos  e  meo  de  veludo  sinjelo;  e  32  covodos,  5  dozavos  de 
cetim  aliitado  (avelutado)  crimisim;  e  315  covados  e  1  sesma  de  ce- 
tim cremesim;  e  Ml  covados  e  terça  de  cetim  avelutado  de  cores;  e 
6575  covados  e  1  sesma  de  catis  (çatins)  e  demasquins  de  cores;  e 
1171  covados  e  terça  de  tafetá;  e  1358  covados  e  7  dozaãos  de  ar- 
mentim;  e  475  covados  de  balarte;  e  3598  covados  e  5  dozavos  de 
bristol;  e  17  covados  e  quarta  de  burel  de  Aragão;  e  18S  covados  e 
meo  de  bruges;  e  372  varas,  7  outavas  de  besuarta;  e  1200  varas 
quoartas  (e  quarta)  de  burel;  e  91  covados  e  7  dozavos  de  pano 
busto;  e  49  varas  2  terças  de  caduel  (cadavcl);  e  150  covados  e  3  oi- 
tavas de  condado;  e  653  covados  e  2  oitavas  de  contrai;  e  27  cova- 
dos de  cordinõ;  e  180  covados,  5  dozavos  e  meo  de  danão;  e  340 
covados  e  1  dozavo  de  zeochim;  e  974  covados  e  5  dozavos  e  meo 
de  ezcalatra  (escarlata);  e  179  covados  e  1  oitava  de  estamenha;  e  2276 
covados  e  7  dozavos  e  meo  de  espinete;  e  873  varas  de  estopa;  e  121 
varas  e  quarta  de  escorcia;  815  covados  e  5  seismas  de  frorentim;  e 
177  covados  e  7  dozavos  e  meo  de  frorete;  e  14.940  covados  e  5  do- 
zavos de  fustão;  e  120  covados  e  1  sesma  de  finamarca;  e  1157  co- 
vados de  grãa;  e  634  varas  e  quarta  de  goardalate;  e  72  varas  e  quoarta 
de  gualez  (galez);  e  17  varas  e  mea  de  cacheira;  e  3  covados  de  gante; 
e  1923  covados  e  1  dozavo  de  hypre;  e  378  covados  de  yprytum;  e 
273  varas  e  11  dozavos  de  irlanda;  e  3042  varas  e  3  dozavos  e  meo 
de  lenço  da  terra;  e  5996  covados  e  1  oitavo  de  londres;  972  cova- 
dos quarta  de  li  Ia ;  e  31  covados  e  sesma  de  lemeste  (lemiste) ;  e  1878 
varas  e  3  dozavos  e  meo  de  lenço  francês;  e  2099  varas  e  2  terças 
de  lenço  de  Bretanha;  e  217  varas  de  lona;  e  500  varas  e  3  quoartas 
de  gualvem;  e  6499  varas  e  7  dozavos  de  ligitimot;  e  853  varas, 
5  seysmas  de  luyto;  e  1174  varas  e  mea  de  lenço  nabal;  e  3  varas  de 
lenço  de  Barbante;  e  10  covados,  e  7  dozavos  de  mea  graã;  e  1271 
co\ados  e  cinco  dozavos  de  menim;  1440  covados,  5  dozavos  de 
mitão;  1250  varas  e  mea  de  olanda;  e  3949  covados  de  marca;  e 
514S  varas,  7  dozavos  de  olanda;  e  IS  covados  e  sesma  de  olam  ;  e 
14.  822  covados,  11  dozavos  de  pardo  de  Castela;  e  21.601  covados, 
2  terças  de  pano  de  Castela;  e  53  covados,  1  terça  de  pano  de  Fran- 
ça; e  60  covados,  três  quartas  de  panos  pretos  aselados;  e  10  cova- 
dos e  meo  de  pano  de  bedem;  e  134  covados  de  pano  mourisquo; 
e  68  covados  de  picote;  e  290  covados  de  pano  papalvo;  e  303  cova- 
dos e  2  terças  de  perpenhão;  e  42  covados  e  meo  de  ruão;  e  1191 


202  ESTUDOS 

covados,  9  dozavos  e  meo  de  role;  e  r>2  covados  e  meo  de  sarja 
de  Veneza;  e  1255  cevados  e  sesma  de  sarja;  e  27  covados,  7  doza- 
vos  de  sinabafa;  e  707  covados  de  solia;  e  672  varas  e  11  dozavos  e 
nico  de  toalhas  pêra  mesa;  e  60  covados  de  pano  tum  (tuunt);  e  27 
varas  de  tanaby;  e  2150  varas,  3  oitavas  de  pano  de  varas;  e  247 
varas  e  11  do/avos  e  nico  de  varas  de  londres;  e  310  covados  e  meo 
de  vinta  dousem;  e  182  covados,  1  terça  de  vintém;  e  141  almofa- 
das de  borcado  e  seda  e  sortes;  e  11  alcatifas;  e  46  lençoes  de  mui- 
tas sortes;  e  3  cubrecamas  de  ras;  e  3  céos  de  figuras  pêra  cama;  e  3 
costaneiras  com  ouro,  riquas;  e  10  paramentos  de  cama  de  seda,  e 
doutras  sortes;  e  15  corrediças;  e  80  guarda  portas  de  brocado  de 
feguras  e  de  muitas  sortes;  e  6  dorcees  de  borcado  riquo,  com  for- 
cadura;  e  6  panos  papul  preto,  de  borquado  e  veludo;  e  137  panos 
de  armar,  de  borquado  e  de  seda,  de  muitas  sortes;  e  10  panos  de 
cadeira,  de  veludo  e  de  seda,  de  sortes  desvairadas;  e  9  panos  pêra 
portapaz  de  borcado  e  seda,  de  muitas  sortes;  e  5  panos  pêra  estante, 
de  seda  de  toda  sorte;  e  2  sarjas;  e  19  tapetes  cie  muitas  sortes;  e 
2  tapizes  de  Levante;  e  1  testeira  de  ras;  e  9  colhelhas  (colchas)  de 
seda  e  olanda;  e  2  terçadas  de  espinete;  e  46  corchões  de  olanda  e 
lenço;  e  5  espaves  de  olanda  e  lenço;  e  82fronhas  pêra  almofadas;  e  33 
fronhas  pêra  traveseiro,  de  olanda  e  fustão;  e  12  almatequasdepanode 
ouro,  de  borcado  e  veludo  e  seda,  de  toda  sorte;  e  43  alvas  de  olanda  e 
lenço;  e  17  visti mentas  e  mantos  de  borcado  e  seda,  de  muitas  sortes;  e 
6  cortinas  de  altar,  de  borcado  e  veludo  e  seda ;  e  14  capas  pêra  a  capela, 
de  borcado  e  veludo  e  seda,  com  savastros  capelos;  e  14  frontaes  de 
borcado  e  veludo  e  outra  seda;  e  17  fundas  pêra  livros;  e  30  godo- 
mecis  (guadamecis) ;  e  2  grinuaes  (grimiaes)  de  borcado  e  damasquo; 
e  21  alambel  de  toda  sorte;  e  109  lenções  de  olanda  e  mea  olanda  e 
lenço;  e  400  covados  de  lenço  de  Paris;  e  17  cobertores  de  toda 
sorte;  e  344  onças  de  cravo;  e  120  onças  de  canela;  e  23  anates 
de  açafrão;  e  1720  nosquadas  (nozeadas);  e  327  berneos;  e  50  mesas 
de  toalhas  de  Paris;  e  32  covados  de  meos  eques;  e  457  onças  de 
prata  fiada  e  6  marquos  de  Levante;  e  355  covados,  duas  terças  de 
ourilhado ;  e  23  panos  pêra  cima  da  sela,  antretalhados  de  seda ;  e  1  pa- 
leo  de  borcado  de  pello,  baixo;  e  67  onças  e  mea  de  ruibarbo;  e 
147  reposteiros;  e  1037  onças,  7  oitavos  de  retrós  de  cores;  e  17õ 
onças  e  3  oitavos  de  retrós  cremisim;  e  83  sobrepelizias;  e  25  selas 
de  muitas  sortes;  e  423  covados  de  tecidos  de  ouro  e  seda;  e  22  teci- 
dos de  cingir;  e  2  felizes  pintados;  e  6  trombetas;  e  1  terçado;  e  6 
velas  de  tafetá;  e  15  veiros;  e  48  cotees  de  cordeiras;  e  2  manteos 
de  gatos  cervaes;  e  55()  arminhos;  e  419  toalhas  de  olanda;  e  2  ramaes 
de  alambres;  e  14  alquices;  e  5  arquei  lias  de  seda;  e  19  anates,  3  on- 
ças de  alacar;  e  222  peças  de  almafega;  e  23  abetos  de  pano  de  laã 
de  muitas  cal  idades;  e  8  aljubetas  de  pano  de  laã;  e  679  barretes  de 
laã,  dobrados  e  singelos;  e  13ò  barretes  e  carapuças  de  seda;  e  6  be- 
quas  de  veludo  e  pano;  e  11  balandrões  de  pano;  e  590  calças;  e 
687  capuzes;  e  1185  camisas;  e  36  capelos  de  vistir;  e  55  capa-;  <.■ 
21  capotis;  e  10  capelhares;  e  241  gibões  de  cetim;  e  1  gibom  de 
borcado  raso;  e  5  gibões  de  damasco;  e  311  lobas  e  mahtões; 
amarelotas  (mariolas);  e  1')  mongis;  e  (»  opas  e  9  pelotes  de  seda;  e 
1204  pelotes  de  pano  de  laã;  e  ()  bastardos;  e  2  tabardos  de  chama- 
lote   e  damasquo;  e  42  tabardos;  e  69  caraminhelas ;  e  103  cintos 


O  CAM  \K'l  IRO  293 

lavrados  de  fio  de  ouro  partido  e  de  Fio;  e  13  cordões  pêra  cavalos; 
e  37  carapazões  de  borcado  f  veludo  e  seda,  de  sortes;  e  15  espadas 
riquas  e  goarnecidas;  e  2  estoques;  e  23  escravos,  machos  e  fêmeas, 
brancos  e  pretos,  e  (»  forros;  e  l>74  varas  de  fita;  e  37  goarnições;  e 
4()  livros;  e  3  punhaes;  e  1  I  gibanetes;  e  mitras  muitas  mercadorias, 
panos,  vistidos,  assi  de  omens  como  molheres,  e  outras  muitas  cou- 
sas, que  por  serem  em  grande  cantidade,  se  nõ  espreverão  aqui,  que 
mui  decraradamente  na  dita  recadação  são  nomeadas.  Dos  quaes 
70.183:750  reaes,  com  toda  a  dita  prata,  ouro  e  jóias,  panos  e  cou- 
sas, aqui  e  na  dita  recadação  declaradas,  que  assi  recebeo,  nos  deu 
conta  com  entrega  sem  falecer  cousa  alguma.  E  por  nos  assi  dar 
conta.  .  .  damos.  ..  a  ele  dito  Rui  Gil  e  a  todo.  -eus  herdeiros  por 
quites  e  livres.  .  .  Dada  em  Lixboa,  a  13  dias  dn  mes  de  oytubro  de 
1514.  E  bem  as^i  quis  e  aprouve,  etc.  t3 

O  tesouro  dei  Rei  era  uma  botica!  Havia  lá  de  tudo! 

Não  me  espraiarei  em  considerações  que  seriam  inter- 
mináveis; notarei  simplesmente  que  o  documento  trans- 
crito revela-nos  bem  o  viver  da  corte  de  D.  João  II,  na 
qual  o  seu  Camareiro  tinha,  em  resultado  do  valimento, 
preponderância  muito  grande,  infinitamente  superior  á 
correspondente  ao  seu  modesto  oficio. 

Antão  de  Faria  era  uma  espécie  de  poder  oculto, 
tanto  quanto  seria  possível  se-lo  com  um  soberano  que 
nem  na  aparência  sequer  admitia  validos.  Não  me 
pareceu,  por  tanto,  fora  de  propósito  a  inclusão  da  carta 
de  quitação  neste  estudo  acerca  do  Camareiro,  ao  qual 
vou  voltar,  protestando  fazer  a  dilijencia  por  não  tornar 
a  divagar  muito. 

VI 

Três  homens  notáveis,  que  me  lembre  agora,  merece- 
ram, apesar  de  apenas  nobres,  a  massima  confiança  a 
D.  João  II.  Dois,  Antão  de  Faria  e  Pêro  da  Alcáçova,  con- 
servaram-n-a  todo  o  tempo  ;  o  outro,  António  Carneiro, 
perdeu-a  em  1491.  Serviram  elles  ao  Rei  nos  negócios 


13  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  11.",  fl.  1 15;  Iiv.  6."  de  Místicos, 
fl.  137.  Já  foi  impressa  no  Arcfi.  hist.  port.  V,  442. 


204  ESTUDOS 

públicos,  é  certo,  sobretudo  o  ultimo;  mas  era  princi- 
palmente nos  seus  negócios  particulares,  pessoaes,  que 
D.  João  !!  os  empregava  de  preferencia. 

António  Carneiro,  sobrinho  de  Vasco  Carneiro,  cida- 
dão do  Porto,  era  um  rapaz,  que  já  desde  1482,  pelo 
menos,  exercia  o  oficio  de  escrivão  da  camará  dei  Rei  l, 
não  tendo  alcançado  porem  carta  de  nomeação  em  forma 
antes  de  4  de  fevereiro  de  1490  -.  A  sua  aptidão  e 
talento  eram  todavia  de  tal  ordem,  que,  apesar  da  pouca 
idade,  mereceram  completa  confiança  em  negócios  polí- 
ticos e  administrativos  a  D.  João  II,  como  claramente 
o  revela  a  relação  dos  livros  e  documentos,  alguns 
bem  particulares  e  importantes,  entregues  pelo  Escrivão 
da  camará  por  ordem  dei  Rei  em  22  e  29  de  setembro 
de  1491,  em  Alemquer,  para  onde  parece  ter  ido  des- 
terrado, quando  caiu  no  desagrado  do  soberano  ::. 


1  Carta  de  23  de  maio  de  1482  nomeando  recebedor  das  sisas  de 
Tomar  a  [oão  de  Marecos.  < Chancelaria  de  D.  João  II,  liv.  (>.", 
fl.  4S  v.). 

2  Chancelaria  de  D.João  II,  liv.  1  /.°,  fl.  43. 

Rol  dos  papeis  entregues  por  António  Carneiro  quando  foi  preso, 
vol.  II  do  Arch.  Ilist.  Perl.,  paj.  63.  O  caso,  que  motivou  a  prisão 
de  António  Carneiro,  havia  de  se  ter  passado  entre  15  e  21  de  setem- 
bro de  1491.  Na  primeira  data  ainda  elle  fez  um  alvará,  que  se 
em  -  ntra  transcrito  na  confirmação  de  uma  doação  de  D.  Gonçalo 
de  Castelbranco  aos  Franciscanos  de  Xabregas  (liv.  1 1."  de  D.João  II, 
fl.  <)7);  na  segunda  fui  assinada  no  Varatojo  a  provisão  ordenando 
a  entrega  dos  papeis.  Quando  terminou  a  pena  imposta  a  António 
Carneiro,  não  posso  dizer  ao  certo;  mas  advertirei  que  na  Dedacção 
chwnologica,  parte  2.;»,  demonstração  6.a,  §  12,  encontra-se  um  alvará 
que  se  diz  feito  por  António  Carneiro  em  -1  de  fevereiro  de  1495, 
parecendo  indicar  ter  elle  sido  restituído  ao  seu  oficio  de  escrivão 
da  camará  ainda  no  reinado  de  D.  João  II.  Não  se  pode  porem  daqui 
colher  a  certeza  do  facto,  porque  a  data  do  alvará  não  é  aquella, 
como  já  advertiu  J.  P.  Ribeiro  nos  Additamentos  á  Synopsis  chro- 
nologica,  paj.  157  e  296;  a  verdadeira  é  4  de  fevereiro  de  1490,  e 
com  el la  se  encontra  o  documento  transcrito  a  fl.  57  do  Livro  das 
Extravagantes  de  Duarte  Nunez  do  Lião,  na  Torre  do  Tombo,  e  a 
paj.  õ74  do  III  vol.  dos  Inéditos  de  historia  portuguesa. 

Inclino-me  porem  a  crer  que  tivesse  sido  perdoado  ainda  por 
D.  foão  II,  fundando-me  no  preambulo  da  carta  de  doação  da  ilha 
do  Príncipe,  no  qual  se  diz:  "lembrando-nos  db  muito  serviço  que 


O  CAMAREIRO  295 

Pêro  da  Alcáçova  já  não  era  novo,  pois  servira  a 
D.  Afonso  V,  que  em  1470  o  nomeara  escrivão  da  sua 
Fazenda  '',  e  no  anuo  seguinte  o  armara  cavaleiro  na 
tomada  de  Arzila,  para  a  qual  elle  muito  concorrera 
com  as  informações  trazidas  da  missão  em  que  fora  en- 


Antonio  Carneiro,  cavaleiro  de  nossa  casa  e  escrivão  da  nossa  camará, 
fez  a  el  Rei  D.  João,  e  como  das  cousas  em  que  o  encarregou,  lhe 
deu  de  si  sempre  mui  boa  coma  e  recado,  polo  qual  sabemos  que  o 
dito  senhor  tinJia  vontade  de  lhe  fazer  mercê  e  acrescentamento;  e 

esguardando  isso  mesmo  ao  muito  e  mui  continuado  serviço  que 
depois  até  ora  delle  recebemos  e  nos  faz»,  etc.  Foi  a  carta  passada 
em  Lisboa,  a  7  de  abril  de  1500,  e  por  ella  fez  D.  Manuel  doação 
perpetua  a  António  Carneiro,  e  a  todos  seus  descendentes  por  linha 
direita  lejitima  masculina,  da  capitania  da  ilha  do  Príncipe,  "que 
também  se  chama  de  Santo  António,  que  é  rio  mar  do  nosso  senho- 
rio de  Guiné»  (Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  21.",  ti.  IS  v). 

Mas,  se  não  chegou  a  readquirir  as  boas  graças  de  D.  João  II,  é 
comtudo  certo,  que  logo  no  principio  do  reinado  de  D.  Manuel 
já  António  Carneiro  estava  outra  vez  servindo  na  corte.  No  inven- 
tario da  Torre  do  Tombo  feito  em  1532  diz-ze,  que  um  alvará 
de  D.  Manuel,  de  17  de  junho  de  149o,  fora  expedido  "com  um 
conhecimento  (recibo)  do  Secretario  António  Carneiro,,  (Arch.  Hist. 
Po/i.,  111,  2QS).  Parece  por  tanto  estar  elle  já  naquella  data  resti- 
tuído ao  seu  antigo  oficio  de  escrivão  da  camará;  não  era  porem 
ainda  então  secretario,  como  o  intitulam  na  citada  nota,  explicando-se 
o  anacronismo  por  ella  ser  escrita  em  documento  muito  posterior. 
António  Carneiro  foi  nomeado  secretario  por  carta  de  16  de  abril 
de  1509  (Trigoso,  Memoria  sobre  os  secretários,  na  2.a  serie  das  Me/n. 
da  Academia,  tom.  I  part.  I,  paj.  41),  sucedendo  no  oficio  a  Jorje 
Garcês,  já  finado  em  oitubro^  de  150S  (Sepulturas  do  Espinheiro, 
paj.  65). 

Quanto  ao  motivo  que  deu  causa  á  prisão  de  António  Carneiro, 
é  caso  ainda  por  averiguar,  parecendo-me  ter  muita  parte  de  romance 
o  geralmente  propalado.  No  desterro  para  a  ilha  do  Príncipe,  fran- 
camente não  acredito;  mas  não  darei  as  minhas  razões  para  não 
alongar  mais  esta  nota,  ja  indisculpavelmente  longa,  se  não  se  tratasse 
de  um  ministro  tão  notável  como  foi  o  Secretario  de  D.  Manuel  e 
D.  João  III. 

1  Por  carta  dada  em  Palmella  a  1 1  de  agosto  de  1470,  declara  D. 
Afonso  V  ter  então  nomeado  escrivão  da  fazenda  a  Pêro  da  Alcá- 
çova, que  era  escrivão  da  fazenda  de  Guiné,  e  manda  que  dali  para 
o  futuro  esta  escrevaninha  da  fazenda  de  Guiné  se  incorpore  na  da 
fazenda  de  todo  o  reino,  de  que  Pêro  da  Alcáçova  e  Henrique  de 
Figueiredo  eram  ao  tempo  os  escrivães  (Chancelaria  de  D.  Afonso  V, 
liv.  16.°,  fl.  57).  Não  encontrei  a  carta  de  nomeação  de  escrivão  da 
fazenda  de  Guiné,  mas  da  carta  de  mercê  de  oito  Moiros  e  seus 
bens  feita  a  Pêro  da  Alcáçova,  consta  elle  já  possuir  aquella  escreva- 
ninha em  2  de  novembro  de  1404  (Ibidem,  liv.  S.°,  fl.  17S). 


296  kstudos 

viado  ao  Rei  de  Fez3.  Conservou-o  D.  João  II  naescreva- 
ninlia  da  sua  fazenda,  e  no  seu  testamento  declara  que 
delia  elle  tinha  o  principal  cargo. 

Antão  de  Faria,  homem  novo,  vivia  mais  junto  do 
soberano,  que,  se  para  a  fazenda  real  tinha  por  admi- 
nistrador e  guardador  a  Pêro  da  Alcáçova,  depositava 
comtudo  os  dinheiros  do  seu  bolsinho  nas  mãos  do 
Camareiro. 

Querendo  D.  João  II  premiar  o  desassombro  do  Vigário 
de  Tomar,  o  dr.  Pêro  Vaz,  desembargador  que  num 
pleito  havia  sido  o  primeiro  dos  juizes  a  sentenciar 
contra  el  Rei,  por  não  lhe  achar  justiça,  mandou-o  ir 
ter  com  Antão  de  Faria  para  lhe  dar  duzentos  cruzados. 
A  um  homem,  que  perdera  duzentos  mil  reaes  em  vir- 
tude de  um  alvará  fundado  em  falsas  informações,  o 
qual  D.  João  II  não  queria  revogar  por  outro  a  fim  de 
manter  o  prestijio  da  autoridade,  encaminhou  secreta- 
mente para  o  Camareiro,  com  ordem  de  lhe  entregar 
os  duzentos  mil  reaes,  em  oiro ''. 

Todos,  cônscios  da  privança  de  Antão  de  Faria;  o 
procuravam,  quando  alguma  pretensão  tinham  dei  Rei. 

Já  vimos  Gaspar  Jusarte,  Diogo  Tinoco  e  D.  Vasco 
Coutinho,  dirijirem-se  ao  Camareiro,  quando  quiseram 
denunciar  as  conspirações  dos  Duques  de  Bragança  e 
de  Viseu;  agora  vamos  ver  um  velho  fidalgo,  cheio  de 
serviços,  jazendo  no  leito  da  agonia,  aproveitar-se  tam- 
bém do  valido  para  endereçar  ao  soberano  uma  suplica, 
muda,  mas  intensa. 

D.  Pedro  de  Eça,  alcaide  mór  de  Moura,  valente  sol- 
dado de  Africa,  e  tanto  da  confiança  de  D.  João  II 
que  fora  um  dos  três  assistentes  á  execução  do  Duque 


5  Carta  de  brasão  de  14  de  janeiro  de  1490,  no  liv.  u."  da  Chan- 
celaria de  D.  João  II,  fl.  104,  impressa  a  paj.  12  da  Armei  ria  portu- 
guesa, em  apêndice  ao  Arch.  Iiist.  port. 

"  Resende,  Vida  de  D.João  II,  ti.  58  v.  e  02. 


O  CAMAR]  IRO  207 

de  Viseu,  estava  á  morte  em  Santarém,  vila  onde  então 

el  Rei  se  encontrava.  Mandou  o  fidalgo  chamar  Antão 
de  Faria  a  sua  casa,  e  lhe  rogou  que  dissesse  a  el  Rei 
como  o  achara,  e  lhe  entregasse  as  chaves  da  fortaleza 
de  Moura,  que  lhe  havia  sido  dada  em  sua  vida  somente. 

Voltou  o  Camareiro  com  o  recado  para  o  paço,  e 
I).  João  II  lhe  disse,  "que  logo  tornasse  as  chaves  a 
D.  Pedro  de  Eça,  e  lhe  dissesse,  que  aos  taes  cavalei- 
ros, como  elle  era,  não  custumava  tirar  o  seu  a  seus 
filhos,  mas  antes  lhe  fazer  muitas  mercês;  que  tomasse 
as  chaves,  e  que  a  fortaleza,  e  quanto  delle  tinha,  re- 
partisse por  seus  filhos  á  sua  vontade,  como  cousa  sua 
própria,  e  mandasse  fazer  os  despachos,,  '. 

Esta  cena  afectuosa  havia  de  se  ter  passado  no  ve- 
rão de  1491 ,  anno  em  que  D.  João  II  residiu  em  San- 
tarém, ou  nas  suas  vizinhanças,  desde  meado  maio  até 
meado  setembro  s;  e  onde  não  tornou  antes  de  30  de 
oitubro  de  1492,  quando  já  D.  Pedro  de  Eça  era  fale- 
cido 9. 

Assim  como  D.  João  II,  quando  se  irritava,  incutia 
terror  no  aspecto,  nos  olhos  injectados  de  sangue,  e  na 
tremula  e  fanhosa  voz,  que  ainda  mais  então  lhe  tar- 
dava; assim  pelo  contrario,  quando  não  tinha  preo- 
cupações que  o  desgostassem,  era  a  sua  presença  agra- 
dável, e  folgava  de  se  divertir  na  sua  brilhante  corte,  a 
mais  luzida  que  houveram  reis  portugueses. 

Faziam-se  caçadas,  montearias,  toiradas,  corridas  de 
cavalos,  porfias  de  lutadores,  justas,  e  outros  jogos,  nos 


:  Resende,  Vida  de  D.João  //,  ti  89  v. 

M/r//,  fiist.  port.,  II,  342. 

9  Na  referida  data  foi  passada  uma  carta  de  doação  da  portajem 
e  direitos  da  moiraria  e  judiaria  de  Moura  a  D.  Rodrigo  de  Eça, 
filho  de  D.  Pedro,  já  então  falecido.  Chancelaria  de  D.  João  //, 
liv.  7.o,  fl.  101  v. 


208  ESTUDOS 

quaes  tomavam  parte  el  Rei  e  os  fidalgos;  mas  não  se 
pensava  só  nos  exercícios  físicos.  Com  elles  entreme- 
tiam os  do  espirito,  ás  noites,  nos  serões,  nos  quaes, 
alternando  com  as  dansas  dos  cortesãos,  se  escutavam 
as  trovas  dos  poetas,  se  viam  os  entremêses,  se  gozava 
da  musica  dos  ministreis,  se  aplaudiam  os  bailos  dos 
Moiros  e  Moiras,  se  admiravam  as  retortas  moiriscas  nas 
quaes  as  Donzellas  do  paço,  invencionadas  em  riquíssi- 
mos e  bem  apropriados  trajos  musulmanos,  excitavam 
com  sua  formosura  e  gentis  meneios  o  mais  vivo  en- 
tusiasmo, e  faziam  pular  no  peito  os  corações  dos 
fidalgos  e  nobres  da  corte. 


Pêro  que  tenha  jurado 
de  me  nunca  namorar, 
por  vossa  fylha  balhar, 
meu  juramento  he  quebrado. 
E,  se  nam  fossa  revolta 
que  disto  se  seguiria, 
loguoje  deprenderia 
a  fazer  mourisca  volta. 


Eu  quero  ser  vosso  genrro 
antros  outros  servidores, 
porque  sam  hum  omem  tenrro, 
na  ydade  dos  amores  '". 


Estas  trovas,  depois  de  ter  assistido  a  uma  retorta 
moirisca  no  paço,  endereçava  Diogo  de  Pedrosa  ao 
Coudel  mor,  que  julgo  ser  Fernão  da  Silveira,  o  qual, 
apesar  de 

huma  aguea  temorosa, 

de  quatro  pedras  cercada, 
no  meo  doutra  assentada, 
por  armas  oos  de  Pedrosa 
antiguamente  ser  dada  ", 

correu,  também   em   verso,   com  o  presunçoso  galante. 


10  Cancioneiro  geral,  fl.  57,  col.  5. 

11  Ibidem,  fl.  116,  col.  4. 


O   CAMAREIRO  290 

I  >oce  baylo  de  mourisca 
mil  sentidos  faz  perder, 
e  lá  mete  numa  tal  trisca, 
que  é  iiuiv  má  de  guoarecei . 
Quer  sejays  dure,  quer  tenrro, 
procuray  vossos  favores; 
mas  sobre  conpadre,  jenrro, 
duvydam  nyss'os  doutores12. 

E  assim,  D.  João  II  e  os  cortesãos,  se  divertiam  ale- 
gremente nos  salões,  ao  passo  que  lá  dentro,  nou- 
tra camará  Afastada,  socegadamente,  D.  Diogo  Ortiz, 
Bispo  de  Tanjer,  o  Calçadilha  como  lhe  chamavam 
até  em  documentos  oíiciaes,  e  os  Judeus  mestres 
Rodrigo  e  Josepe,  "a  quem  el  Rei  cometia  estas  cousas 
da  cosmografia  e  seus  descobrimentos »  1:!,  estudavam 
com  outros  sobre  os  tratados,  mapas,  e  instrumen- 
tos, a  melhor  forma  de  proseguir  nas  navegações,  e 
de  alcançar  os  descobrimentos  por  que  D.  João  II  ali- 
ciava. 

Era  um  rei,  este  homem! 

Aos  saraus  do  paço  concorria  o  Camareiro,  que  tam- 
bém as  vezes  versejava. 

Garcia  de  Resende  conservou-nos  no  Cancioneiro 
umas  trovas  de  Antão  de  Faria,  que  por  poeta  se  não 
distinguiu,  valha  a  verdade,  as  quaes  são  comtudo  pos- 
teriores á  morte  de  D.  João  II,  pois  foram  feitas  a  pro- 
pósito de  uma  "grande  carapuça  de  veludo,  que  os 
Castelhanos  chamam  gangorra,,,  com  a  qual  no  verão 
de  1406,  antes  de  agosto,  veio  de  Castella  o  aio  do 
Duque  de  Bragança  D.  Jaime,  Lopo  de  Sousa,  que  de- 
pois foi  senhor  do  Prado,  e  era  filho  da  neta  de  mestre 
João  e  da  Moira,  aquella 


12  Cancioneiro  geral,  fl.  57,  col,  6. 

11  Ásia  dcjoain  de  Barros,  l.a  década,  fl.  37  v. 


JOO  ESTUDOS 

.  .  .  Maria  Pinheira. 

mãe  tia  mãe  daquelle  Conde, 

que  é  <  )onde  da  ( Castanheira  ' '. 

As  trovas  de  Antão  de  Faria,  provocadas  por  uma 
alusão  de  D.  Garcia  de  Castro,  que  também  apodara  a 
gangorra,  são  estas: 

Se  nam  fosse  por  pendença, 

eu  certo  nam  na  traria, 
peso  com  que  dom  Garcia 
nunca  fará  reverença; 
porque  mais  leve  seria 
o  morrião, 
com  quele  foy  ter  o  chão  ' '. 

Num  dos  taes  saraus,  em  Setúbal,  aí  por  1488,  mais 
anuo  menos  anno,  se  leram  aquelles  Porquês,  sátira 
anónima  aparecida  no  paço,  que  tanto  brado  então 
daria,  e  pela  qual  se  patenteou  mais  uma  vez,  que  nos 
livre  Deus  dos  oficiaes  do  nosso  oficio.  Lá  preguntam 
as  trovas: 

Porque  Pêro  de  Bayam 

diz  mal  d'Antam  de  Paria?"' 

Por  quê? —Porque  Pêro  de  Baião  havia  sido  no- 
meado, por  carta  de  23  de  maio  de  1486,  camareiro  e 
guarda  roupa  do  Príncipe  D.  Afonso,  "pela  guisa  por 
que  o  Antão  de  Faria  é  nosso.,  ''.  O  Camareiro,  que 
estava  no  chão,  não  podia  ver  sem  inveja  o  outro  que 
poisava  no  poleiro.  Eram  dois  galos;  com  a  diferença 
porem,  de  um  só  ter  piado  nas  intrigas  da  corte,  ao 
passo  que  o  outro  ainda  hoje  canta  na  historia. 

Mais  vestijios  da  presença  de  Antão  de   Faria   nos 


n  Existe  uma  variante  para  o  ultimo  verso,  que  ás  vezes  se  encon- 
tra substituído  por  este:  e  sua  avó  verdadeira. 
15  Cancioneiro  geral,  fl.  160,  col.  5.a 
"'  Ibidem,  foi.  175,  col.  2.a 
r  Chancelaria  de  D.João  II,  liv.  19.",  fl  36  V. 


O   (AM  \k'l  [RO  301 

serões  e  divertimentos  do  paço  não  me  ocorrem,  e  são 
tão  poucos  os  encontrados  que  só  quasi  por  ilacção  me 
permitem  determinar  a  sua  comparência  naquclles  fol- 
guedos. 

Depois  veio  a  morte  do  Príncipe,  e  pararam  por  al- 
gum tempo  as  festas.  Voltaram  porem,  não  tão  brilhan- 
tes, mas  tornaram,  porque  o  terrível  golpe  não  despe- 
daçou completamente  o  coração  de  D.  João  II,  que  no 
filho,  "de  car^a  inglesa..  |s,  e  génio  brando  como  seu  avô 
D.  Afonso  V,  não  via  um  sucessor  enerjico,  capaz  de 
seguir  e  manter  a  sua  politica;  e  isto  foi,  no  dizer  de 
Resende,  a  causa  que  suavizou  a  tremenda  dor.  Sobre- 
vieram porem  os  padecimentos  da  doença,  as  angus- 
tias do  prossimo  fim,  e  em  todo  este  tempo  teve 
D.  joão  II  por  companheiro  a  Antão  de  Faria,  seu  fiel 
amigo,  dedicado  criado,  e  leal  conselheiro,  que  lhe  não 
regateou  desvelos,  carinhos  e  avisos. 


VII 


Recuperara  a  Rainha  a  saúde,  perdida  em  maio  de 
1494  em  Setúbal,  onde  adoecera  gravemente,  e  reco- 
meçara entre  os  réjios  esposos  a  terrível  porfia  ori- 
jinada  na  nomeação  do  sucessor  á  coroa,  contenda 
feroz  já  esboçada  no  meu  estudo  acerca  da  Rainha 
D.  Leonor,  quando,  ainda  no  verão  desse  anno,  os 
padecimentos  de  D.  João  II  se  agravaram  terrivelmente, 
e  os  médicos  classificaram  a  sua  moléstia  de  "clara  e 
mortal  hidropesia,,.  Apesar  porem  do  precário  estado 
fisico,   conservava-se   o   espirito  tão  são  e  desembara- 


18  Viaje  de  Nico/as  de  Popielovo,  já  cit.,  paj.  27. 


302  ESTUDOS 

çado,  que  permitia  a  el  Rei  pensar  nos  negócios  do 
listado  e  desvelar-se  pela  sua  defensão. 

Neste  tempo,  lá  em  Setúbal,  D.  João  II,  "que  sabia 
muito  de  artilharias,  cuidando  muito  nisso  para  melhor 
guardar  sua  costa „,  inventou  e  adoptou  o  sistema  de 
montar  em  pequenas  caravelas  grandes  bombardas,  ati- 
rando tão  rasteiras,  que  as  balas,  correndo  quasi  á  flor 
da  agua,  iam  ferir  as  embarcações  inimigas  na  linha  de 
fluetuação.  Foi  este  invento  que  durante  muito  tempo, 
no  parecer  de  Resende,  tornou  tão  temidas  no  mar  as 
nossas  esguias  e  lijeiras  caravelas,  ás  quaes,  por  facil- 
mente se  safarem,  não  podiam  as  naus  grossas  causar 
prejuízo  com  seus  tiros  '. 

Também  por  esses  tempos  mandou  el  Rei  levantar 
uma  torre  em  Cascaes;  ordenou  a  construção  da  fortaleza 
de  Caparica,  depois  chamada  a  Torre  Velha;  e  planeou 
a  edificação  doutra  torre  fronteira  a  esta,  em  Belém, 
para  a  qual  Resende  deu  o  desenho  -,  obra  posterior- 
mente realisada  por  D.  Manuel,  sobre  outro  projecto,  e 
que  ainda  hoje  vemos,  mas  toda  enfarruscada  de  pó  e 
fumo  de  carvão,  como  jóia  mal  estimada. 

Estas  foram  quasi  as  ultimas  centelhas  do  grande 
espirito. 

No  principio  do  inverno,  por  o  ar  umido  do  mar 
lhe  não  convir,  passou  D.  João  II  para  Évora,  onde  a 
doença  ainda  recrudesceu,,  e  o  prostrou  por  forma,  a 
obriga-lo  a  nomear  uma  espécie  de  conselho  de  rejen- 
cia  para  despachar  os  negócios  públicos',  e  a  começar 
a  assinar  de  chancela  os  diplomas.  Em  julho  entrou 
naquella   cidade  a  peste,  e,  fujindo  a  ella,  dirijiu-se  el 


1  Resende,  Vida  de  D.  João  II,  cap.  ISO,  fl.  109  v. 

-  Ibidem. 

'■  tina  das  pessoas,  em  quem  D.João  II  delegou  os  seus  pi  »de- 
res,  foi  D.  Rodrigo  de  Castro,  "assistente  por  S.  A.  nas  comarcas  de 
Entre  Tejo  e  Odiana,  e  reino  do  AlgarveH  (Areh.  hist.  port.,  IV  ](>S). 


O   CAMAREIRO  303 

Rei  com  a  Rainha  e  alguns,  poucos,  cortesãos  para  as 
Alcáçovas,  onde  permaneceu  até  ao  começo  de  oitubro, 
seguindo  então  para  o  Algarve. 

Durante  a  estada  nas  Alcáçovas  teve  logar  a  defini- 
tiva victoria  da  Rainha  e  da  lejitimidade;  lá  dictou 
[).  João  II  o  seu  testamento,  em  29  de  setembro  de 
1405,  tendo-se  encerrado  na  sua  camará  com  seu  con- 
fessor o  padre  Fr.  João  da  Povoa,  que  foi  quem  escre- 
veu todo  o  documento.  Níio  ha,  não  pode  haver  duvi- 
das; o  próprio  testador  o  declara:  "e  porque  com 
minhas  grandes  ocupações  eu  não  pude  escrever  por 
minha  mão  todo  este  meu  testamento,  encomendei  e 
mandei  ao  padre  Fr.  João  da  Povoa,  meu  confessor,  que 
mo  escrevesse  por  sua  mão,  como  o  elle  mui  verdadei- 
ramente fez,/'. 

O  testamento  ainda  não  tinha  sido  impresso,  que  eu 
saiba,  mas  existia  na  Torre  do  Tombo,  onde  ainda  hoje 
se  guarda,  quando  em  1639  D.  Agostinho  Manuel  de 
Vasconcellos  mandou  estampar  em  Madrid  a  sua  Vida 
y  acciones  dei  Rey  D.  Juan  èl  Segundo.  Este  historiador, 
que  escreveu  lonje  dos  documentos  ou  pelo  menos  sem 
os  consultar,  declara  na  paj.  331,  dando  certo  credito 
a  lendas  de  família,  haver  encontrado  entre  alguns 
cavalheiros  descendentes  de  Antão  de  Faria  a  tradi- 
ção de  ter  o  testamento  sido  escrito  pelo  próprio  Ca- 
mareiro, o  qual,  segundo  ella,  exercia  então  o  oficio 
de  escrivão  da  puridade.  A  seguir  acrescenta:  "i  por- 
que las  noticias  que  se  fundan  en  alguna  probabilidad 
enriquecer!  las  Historias,  i  es  justo  entregarias  a  los 
curiosos,  diré  puntualmente  lo  que  tengo  oido,  sin 
aprovado,  ni  condenarlo.,,  Como  em  Portugal,  infeliz- 
mente,  quasi  só  curiosos  tem  havido  em  Historia,  foi 


4  Testamento  de  D.João  11,  impresso,  com  muitas  incorrecções,, 
advertirei,  no  II  vol.  das  Provas  da  Hist.  genealógica,  paj.  167. 


304  ESTUDOS 

a  tradição,  apesar  de  falsa,  adoptada  por  muitos  até  ao 
presente. 

Dizia  cila,  que,  chegando  o  testamento  á  altura  do 
testador  designar  o  herdeiro  da  coroa,  dictara  D.João  II 
o  nome  de  seu  filho  bastardo  D.  Jorje,  e  que  então  o 
Camareiro  poisara  a  penna,  negando-se  a  escrever  tal 
coisa,  e  ponderara  enerjicamente  a  el  Rei  os  inconvenien- 
tes de  tão  desastrada  nomeação.  Agastou-se  D.  João  II 
ao  principio,  mas  por  fim,  reconhecendo  os  bons  argu- 
mentos de  Antão  de  Paria,  cedeu,  e  ordenou-lhe  que 
assentasse  no  testamento  por  sucessor  da  coroa  ao 
Duque  D.  Manuel. 

Se  a  tradição  fosse  verdadeira,  apresentava-nos  ella 
um  facto  de  certo  muitíssimo  honroso,  tanto  para  a  pru- 
dência do  Rei,  como  para  a  ousada  lealdade  do  amigo; 
mas  tal  caso  não  sucedeu,  pelo  menos  na  ocasião  e 
na  forma  apresentada  por  D.  Agostinho  Manuel.  Alguma 
coisa  houve  naquelle  sentido,  estou  disso  persuadido, 
mas  passou-se  antes  da  feitura  do  testamento,  porque, 
quando  a  ella  se  procedeu,  já  a  resolução  dei  Rei  a 
respeito  da  sucessão  da  coroa  estava  tomada.  A  prova 
disto  existe  no  facto,  já  por  mim  apontado  quando  tratei 
da  Rainha  D.  Leonor,  de  D.  João  II  ter  consentido  em  que 
ella,  antes  do  testamento  escrito,  fosse  a  Viana  de  Alvito 
ter  com  sua  mãe  e  sua  irmã,  a  dar-lhes  parte  do  tão 
desejado  desfecho. 

Estou  porem  persuadido,  repito,  de  haver  Antão  de 
Faria  com  seus  conselhos,  e  nessa  parte  tem  algum  fun- 
damento a  tradição,  concorrido  eficazmente  para  resolver 
el  Rei  a  nomear  a  coroa  no  Duque  de  Beja,  e  deste  o 
ter  sabido,  encontrando  a  prova  de  tudo  nalgumas  muito 
notáveis  palavras,  que  documentos  de  D.  Manuel,  já 
Rei,  nos  conservaram. 

Numa  carta  passada  em  Évora,  a  24  de  maio  de  1407, 
de  cento  e  vinte  mil  reaes  de  tença,  sendo  cincoenta  e 


O  CAMAREIRO  305 

nove  mil  quinhentos  e  sessenta  e  quatro  em  satisfação 
do  oficio  de  cevadeiro  mór,  e  sessenta  mil  e  quatro- 
centos e  trinta  e  seis  pelo  de  camareiro,  na  razão  de 
cincoenta  e  um  mil  quatrocentos  e  trinta  e  dois  reaes, 
equivalente  á  moradia  de  conselheiro,  e  de  nove  mil 
e  quatro  reaes  para  arredondar  a  conta;  na  tal  carta, 
repito,  diz  D.  Manuel:  "Havendo  nós  respeito  aos  muitos 
e  muito  continuados  serviços  que  Antão  de  Faria,  do 
nosso  Conselho,  tem  feitos  a  el  Rei  D.  João,  e  espera- 
mos que  ao  diante  nos  faça,  e  querendo-lhe  fazer  graça, 
e  mercê,  etc.n  •'. 

Estas  palavras,  já  significativas  na  boca  de  D.  Manuel 
a  respeito  do  antigo  confidente  e  servidor  de  D.João  II, 
são  ainda  muito  excedidas  pelas  seguintes,  realmente 
memoráveis,  e  que  constituem  um  completo  e  insus- 
peito panejirico  das  acções  de  Antão  de  Faria:  "El  Rei 
D.  João,  havendo  respeito  á  muita  criação  que  Antão 
de  Faria,  do  nosso  Conselho,  e  seu  camareiro  e  ceva- 
deiro mór,  tinha  recebido  dei  Rei  D.  Afonso,  e  aos 
grandes  e  continuados  serviços  de  longo  tempo  e  de 
muita  fiança,  que  delle  tinha  recebidos,  que  a  sua  pessoa 
e  estado  tocavam,  e  assim  outros  que  nestes  reinos  e 
fora  delles,  nas  guerras  de  Castella  e  partes  de  Africa, 
onde  o  sempre  em  tudo  bem  e  grandemente  serviu, 
por  onde  lhe  era  em  obrigação  de  fazer  acrescenta- 
mento e  mercê,  e  assim  aos  que  delle  descendessem  6, 
e  querendo-lhe  em  alguma  parte  galardoar  os  ditos  ser- 
viços, lhe  fez  mercê,  etc E  havendo  nós  respeito  a 

seus  merecimentos,  e  bons  serviços  que  a  nós  tem  feitos, 


'■'  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  31. o,  fl.  70. 

6  Se  precisasse  de  mais  prova  da  não  fidalguia  de  Antão  de  Faria, 
encontrava-a  frisante  neste  documento.  Em  nenhum  análogo  desses 
tempos,  passado  a  fidalgo,  se  deixou,  entre  os  mais  considerandos, 
de  fazer  referencia  aos  serviços  daquelles  de  quem  o  agraciado  des- 
cendia. Esta  era  até,  pouco  mais  ou  menos,  a  formula  oficial. 

20 


30Ò  ESTUDOS 

e  ao  diante  esperamos  que  faça,  e  querendo-lhe  fazer 
graça  e  mercê,;,  confirma-lhe,  em  Lisboa,  a  20  de  março 
de  1498,  a  pensão  dos  tabeliães  de  Faro,  e  dá-lhe  cento 
e  setenta  mil  reaes  de  tença,  em  quatro  vidas,  pelos 
direitos  de  Évora  Monte  e  outros  bens  que  haviam  per- 
tencido ao  Duque  de  Bragança  e  a  seu  irmão  D.  Álvaro  ". 

E  bons  serviços  que  a  nós  tem  feitos  ?—  Quaes  eram 
esses  serviços?— Nenhuns  outros  podiam  ser,  alem  dos 
prestados  no  caso  da  sucessão  da  coroa;  porque  na 
carta  passada  em  Setúbal,  a  27  de  abril  de  1496,  de 
confirmação  a  Antão  de  Faria  de  todos  os  grandes  pri- 
vilejios  a  elle  outorgados  por  D.  João  II,  declara 
D.  Manuel  terminantemente,  confirmar-lhos,  "posto  que 
agora  não  seja  nosso  oficial,  nem  ande  na  nossa  corte,,  s. 

Não  sendo  seu  oficial,  nem  andando  na  sua  corte, 
não  pudera  Antão  de  Faria  haver  servido  a  D.  Manuel 
como  rei;  mas  havia-lhe  prestado  valiosíssimos  obsé- 
quios antes,  em  quanto  Duque  de  Beja  e  lejitimo  su- 
cessor da  coroa,  e  foram  esses  que  D.  Manuel,  ainda 
então  não  ingrato,  se  não  esqueceu  de  premiar. 

D.  Agostinho  Manuel,  continuando  no  logar  citado 
a  referir-se  ao  Camareiro,  escreveu  vários  desacertos  por 
não  conhecer  os  documentos;  e  lá  vem  também  com  a 
sabida  cantata,  muito  repetida  em  casos  análogos,  de 
não  ter  D.  João  II  premiado  condignamente  os  serviços 
do  seu  fiel  servidor.  Antão  de  Faria  foi  um  homem  de 
bem,  que  se  não  aproveitou  da  confiança  do  soberano 
para  o  defraudar  nos  seus  haveres,  nem  do  seu  vali- 
mento politico  para  se  enriquecer.  Nesses  tempos,  antes 
do  descobrimento  da  índia,  raríssimas  vezes,  se  as  houve, 
serviu   a   politica   para  adquirir  meios,  mais  ou  menos 


:  Chancelaria  de  I).  Manuel,  liv.  31. o,  fl.  75  v. 
s  Ibidem,  liv.   vi.",  fl.  33  V. 


O  CAMAREIRO  307 

licitamente.  Depois  de  nos  termos  transformado  em 
tratantes  do  comercio  oriental,  começou  ella  a  servir 
de  escala  para  o  saque,  e  o  uso,  para  este  fim  delia 
feito,  foi  sempre  crescendo,  generalizando-se  hoje  por 
forma,  que,  infelizmente,  quasi  só  para  isso  e  por 
isso  é  procurada.  Da  índia  pouco  resta;  o  mais  domínio 
ultramarino  ir-se-ha;  mas  a  traficancia  politica  perma- 
neceu, e  medrará. 

Antão  de  Faria  não  foi  muito  rico,  mas  os  seus  ser- 
viços  foram  bem  premiados  por  seu  amo,  que  o  nobi- 
litou, dando-lhe  senhorios  de  terras,  alcaidarias  mores, 
comendas  e  ofícios,  que  não  eram  só  honoríficos, 
mas  também  rendosos.  Quando  o  antigo  Camareiro 
morreu,  possuía  não  só  alguns  bens  próprios,  casas  em 
Lisboa,  quintas  e  prédios  nos  Olivaes,  uns  adquiridos, 
outros  herdados  de  seu. sogro,  como  também  percebia 
rendimentos  importantes  da  coroa.  Desfrutava  elle,  alem 
das  pensões  dos  tabeliães  de  Faro,  e  dos  direitos  da 
alcaidaria  mór  de  Palmella  e  da  comenda  de  Valada 
na  Ordem  de  Cristo  '',  duas  tenças  na  importância 
total  de  duzentos  e  noventa  mil  reaes,  quantia  bem 
considerável  para  o  tempo,  e  mais  doze  mil  reaes  da 
graça  ordenada  ás  mil  e  duzentas  coroas,  de  cento 
e  vinte  reaes  cada  uma,  do  seu  casamento.  E  tudo  isto, 
por  especial  deferência  de  D.  Manuel  para  com  elle,  lhe 
era  pago  no  almoxarifado  de  Setúbal  por  carta  geral 
dada  em  Lisboa,  a  ó  de  março  de  1499,  e  pela  qual 
el  Rei  ordenou  ao  Almoxarife  daquella  vila,  que  apar- 
tasse annualmente  para  pagamento  de  Antão  de  Faria 
todo   o   rendimento  das  sisas  de  Palmella,  sem  delle 


9  Não  ha  duvida  de  ter  Antão  de  Faria  desfrutado  a  comenda 
de  Valada,  como  atrás  fica  dito;  o  que  não  sei  comtudo,  por  terem 
desaparecido  os  livros  antigos  da  Ordem  de  Cristo,  é  se  elle  até 
ao  fim  da  vida  esteve  de  posse  da  comenda. 


30S  ESTUDOS 

distrair   qualquer    quantia    antes  do  antigo   Camareiro 
estar  inteiramente  satisfeito  ;". 

Feito  o  testamento,  foi  aprovado  no  dia  30  de  setem- 
bro, servindo  de  notário  Rui  de  Pina,  e  ficou  "posto  em 
mão  de  Antão  de  Faria,,,  como  no  próprio  documento 
se  lê.  Deste  facto  já  tirei  uma  conclusão,  a  da  confiança 
do  Rei  no  seu  Camareiro;  agora  vou  tirar  outra,  a 
de  que  este  sabia  a  principal  disposição  exarada  no 
documento,  a  da  designação  do  sucessor  da  coroa. 

Depois  seguiu-se  a  triste  peregrinação  pelo  Algarve, 
aquella  via  sacra  de  martírios  físicos  e  moraes,  na  qual 
o  Camareiro  acompanhou  o  Soberano,  e  com  elle, 
quando  veio  o  descanço  com  a  morte,  estava  em  Alvor, 
apesar  dos  cronistas  o  não  nomearem;  mas  consta, 
porque  alguns  documentos  então  lá  passados  foram 
escritos  por  Antão  de  Faria,  e  porque  o  testamento, 
a  elle  confiado,  foi  aberto  logo  que  D.  João  exalou  o 
ultimo  suspiro. 

Nelle,  no  testamento,  apareceram  as  derradeiras  pro- 
vas da  estima  e  confiança,  que  a  el  Rei  merecia  o  seu 
Camareiro. 


VIII 


Aberto  o  testamento  de  D.  João  II,  encontraram-se  lá 
estas  referencias  a  Antão  de  Faria : 

"Item,  logo  como  fôr  meu  fallecimento,  mando  que 
se  digam  por  minha  alma  três  mil  missas  .  .  .  e  aos  que 
ouverem   de  dizer  estas  missas  lhes  será  feyta  esmola 


'"  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  !(>.",  fl.  36. 


O  CAMAREIRO  309 

de  tres  mil  reaes  de  prata  desta  moeda  ora  corrente  de 
ley  de  onze  dinheiros,  que  cento  e  dezasete  peças  fazem 
hum  marco,  os  quaes  sam  em  poder  de  Antam  de  Faria, 
que  pêra  esto  tenho  apartados. 

"Item,  porque  tenho  muita  devaçõ  nas  obras  da 
caridade,  que  sam  muito  acceptas  a  nosso  Senhor  e  pro- 
veitosas pêra  as  almas  dos  que  as  fazem,  e  hedificam  e 
consolam  os  próximos,  mando  que  se  despendam  mil 
e  quinhentos  e  xx  justos  douro  da  moeda  que  ora 
corre  de  triinta  e  biij"  peças  em  marco  de  ley  de  viinte 
e  dous  quirates,  em  esta  maneira  que  se  segue,  a  saber: 
a  quorenta  e  huma  orfaãs  pêra  ajuda  de  seu  casamento, 
a  cada  huuma  delias,  vinte  justos;  e  pêra  ajuda  de  tira- 
rem quorenta  e  hum  cativos  portugueses,  os  mais  des- 
emparados  que  se  acharem,  outros  viinte  justos  a  cada 
hum.  Os  quaes  justos,  com  este  meu  testamento,  tenho 
postos  em  maão  de  Antam  de  Faria,  meu  camareyro  e 
do  meu  conselho,  e  lhe  tenho  mandado  que  delles  nõ 
se  faça  outra  nenhuma  despesa;  e  porque  já  destes  di- 
nheiros mandei  despender  alguuma  parte,  e  cada  dia 
se  despendem  nas  sobredittas  cousas,  quero,  e  me  praz, 
que  lhe  seja  levado  em  despesa  todo  o  que  mostrar  ter 
despeso  por  meos  alvaraaes. 

"Item,  estabelleço,  e  ordeno,  e  escolho  por  meu  tes- 
tamenteiro o  dito  Duque,  meu  primo  (D.  Manuel),  .  . . 
e  todo  o  que  a  descargo  de  minha  concientia  e  salvaçõ 
de  minha  alma  comprir  de  fazer,  ordene  com  o  conselho 
do  bispo  de  Tanger  dom  Diego  Ortiz,  e  do  doutor 
Fernã  Rodriguez,  adayam  de  Coymbra,  e  do  padre 
frey  Joam  da  Povoa,  meu  confessor,  e  de  dom  Diego 
d'Almeida,  prior  do  Crato,  e  de  dom  Álvaro  de  Crasto, 
meu  veedor  da  fazenda,  e  de  Antam  de  Faria,  meu  ca- 
mareiro e  do  meu  conselho;  e  queria  que  Pêro  da  Al- 
cáçova escrevesse  em  qual  quer  cousa  que  for  necessa- 


310  ESTUDOS 

ria  de  se  escrever  pêra  o  comprimento  deste  meu  testa- 
mento. F  queria,  quando  estes  todos  podessem  ser 
presentes  em  estas  cousas,  se  fezessem  todas  com  elles: 
E  em  caso  que  alguuns  sejam  absentes,  se  façam  com 
quem  o  dito  Duque,  meu  primo,  ouver  por  bem  l.» 

Pertenceu  por  tanto  Antão  de  Faria  ao  conselho  testa- 
mentario  nomeado  por  D.  João  II;  mas  não  foi  seu 
testamenteiro,  como  diz  Manuel  de  Faria  e  Sousa, 
o  inventor,  ou  pelo  menos  o  divulgador  pela  imprensa 
da  fantástica  genealojia  dos  Farias  -.  Creio  porem,  que 
poucas  vezes  se  reuniu  aquelle  conselho;  não  atribuo 
por  tanto  a  isso  o  facto  de  ter  Antão  de  Faria  seguido 
ainda  algum  tempo  a  corte,  apesar  de  nella  não  andar, 
nem  servir  mais  desde  a  morte  de  seu  bemfeitor,  o  que 
já  ficou  provado  por  um  documento  passado  seis  meses 
depois,  e  o  tornará  a  ser  por  outro  a  que  logo  me  refe- 
rirei. A  causa  foi  diversa.  Cumpriu  porem  satisfactoria- 
mente  as  obrigações  que  o  testamento  lhe  impuzera  a 
respeito  das  missas  e  dos  dotes  e  resgates,  como  declara 
a  respectiva  carta  de  quitação,  dada  em  Lisboa,  a  30  de 
junho  de  1502  :!. 

Nella  declara  D.  Manuel  haver  Antão  de  Faria,  do  seu 
Conselho,  recebido,  em  vida  de  D.  João  II,  novecentos 
e  setenta  e  dois  mil  reaes,  sendo  novecentos  e  doze  mil 
para  casar  órfãs  e  tirar  cativos,  e  sessenta  mil  para  se 
dizerem  três  mil  missas,  os  quaes  dinheiros  todos  dis- 
pendeu  "por  seus  mandados  e  nossos,.. 

Existe  porem   um   erro  de  conta  nestes  dinheiros,  o 


1  Gaveta  XVI,  mac.  1.".  n.o  16  D.João  II  escolheu  quarenta  e 
um  órfãos  e  quarenta  e  um  cativos  por  esse  numero  corresponder 
á  sua  idade. 

2  Notas  ai  Nobiliário  dcl  Conde  D.  Pedro,  paj.  675  da  edição  de 
Madrid,  e  Europa  portuguesa,  vol.  II,  paj.  466. 

3  Cartas  de  quitação  dei  Rei  D.  Manuel,  n.o  90,  Are/i.  Hist.  Port., 
vol.  I,  paj.  287. 


O   CAMAREIRO  311 

qual  eu  não  sei  bem  explicar.  Mandou  D.  João  II  no 
testamento  que  se  gastassem  mil  quinhentos  e  vinte 
justos  em  dotes  e  resgates,  e  desta  quantia  foi  passada 
a  quitação,  por  isso  que,  valendo  o  justo  seiscentos 
reaes  brancos,  os  novecentos  e  doze  mil  reaes  corres- 
pondem aos  mil  e  quinhentos  e  vinte  justos.  Não  está 
aqui  o  engano;  nem  no  dinheiro  das  missas,  porque  os 
três  mil  reaes  de  prata  equivaliam  aos  sessenta  mil 
brancos  da  carta  de  quitação;  o  erro  está  no  testamento. 
Nelle  declara  o  testador,  que  os  dotes  serão  quarenta  e 
um,  e  os  resgates  outros  tantos,  tudo  a  vinte  justos  por 
cabeça;  ora  vinte  vezes  oitenta  e  dois  são  mil  seiscentos 
e  quarenta,  e  não  mil  quinhentos  e  vinte;  que  aplicação 
tiveram  por  tanto  os  cento  e  vinte  justos,  ou  setenta  e 
dois  mil  reaes,  que  faltam?  Provavelmente  estariam 
gastos  quando  o  testamento  foi  feito,  pois  que  nelle  se 
alude  a  algumas  despesas  já  realisadas  relativas  aos  taes 
dotes  e  resgates. 

Este  não  é  agora  o*caso;  mas  não  me  surpreendem 
muito  erros  de  conta  em  cartas  de  quitação.  Tenho-os 
encontrado  frequentes  vezes,  e  só  se  podem  explicar,  ou 
pela  falta  de  designação  nos  reaes  serem  de  prata,  ou 
pretos,  e  não  brancos,  que  eram  a  moeda  corrente, 
ou  então  por  erro  de  cópia  dos  escrivães  encarregados 
de  passar  as  cartas  orijinaes  para  os  cadernos  do  rejisto. 

Existem  mais  três  cartas  de  quitação  dadas  a  Antão 
de  Faria. 

A  primeira  foi  passada  em  Lisboa  a  17  de  junho  de 
14Q6,  e  diz  respeito  a  certos  dinheiros  recebidos  por 
ordem  de  D.  João  II;  mas  infelizmente  não  designa  a 
aplicação  a  elles  dada.  Por  não  omitirem  esta  parte, 
são  muito  mais  interessantes  as  cartas  de  quitação  de 
D.  Afonso  V.  Os  taes  dinheiros,  pelo  Camareiro  arre- 
cadados, foram  quarenta  mil  dobras  de  oiro  de  S.  Jorje 


312  ESTUDOS 

e  mil  e  sessenta  cruzados,  tudo  entregue  por  Fernão  Lou- 
renço, tesoureiro  de  Guiné;  quatro  mil  e  oitocentos  e  um 
cruzados,  recebidos  de  António  Pirez  Bode;  e  um  conto 
e  vinte  mil  reaes  de  Lopo  Mendez,  feitor  da  Casa  de 
Guiné.  Também  na  mesma  carta  se  deu  quitação  a  An- 
tão de  Faria  de  vinte  e  quatro  mil  setecentos  e  qua- 
renta e  nove  cruzados,  gastos  no  lavramento  de  vinte 
e  urna  mil  duzentas  e  dezanove  dobras  de  oiro  de 
S.  Jorge  '. 

A  segunda  refere-se  ao  exercício  do  oficio  de  ceva- 
deiro  mór  nos  annos  de  1490  a  1495,  nos  quaes  recebeu 
cento  e  vinte  e  oito  moios,  vinte  e  três  alqueires,  e  três 
quartas  de  trigo,  e  dois  mil  duzentos  e  setenta  e  seis 
moios,  catorze  alqueires  e  quarta  de  cevada.  Foi  passada 
em  Lisboa,  a  8  de  fevereiro  de  1498  '. 

A  terceira,  finalmente,  diz  o  seguinte:  "Fazemos  saber, 
que,  por  falecimento  dei  Rei  D.  João,  Antão  de  Faria, 
do  nosso  Conselho,  e  camareiro  e  seu  guarda-roupa, 
entregou  por  nosso  mandado  a  Fernão  Lopez  Correia, 
nosso  guarda-roupa,  todalas  cousas  que  tinha  recebidas 
da  garda-roupa  do  dito  Senhor,  e,  por  assim  ter  entre- 
gue, o  damos  por  quite,  etc,  Foi  passada  em  Lisboa, 
a  30  de  junho  de  1502 6. 

Por  esta  ultima  carta  claramente  se  vê  ter  Antão  de 
Faria  largado  imediatamente  o  oficio  de  camareiro,  e 
não  haver  sido,  como  alguns  pretendem,  convidado  para 
o  continuar  a  servir  pelo  novo  soberano,  que  lhe  deu 
ordem  para  tudo  entregar  ao  seu  Guarda-roupa,  o  qual, 
comtudo,  não  era  o  nomeado  na  posterior  carta  de  qui- 
tação. Por  isto  mais  uma  vez  se  confirma  não  ter  nunca 
Antão  de  Faria  servido  na  corte  de  D.  Manuel,  da  qual 


'  Cortas  de  quitação  dei  Rei  D.  Manuel,  xifl  87! 
1  I liidcm,  n."  88. 
''  Ibidem,  n.°  89. 


O  CAMAREIRO  313 

se  afastou,  assim  que  pôde,  para  viver  sdcegadamente 

na  sua  casa  em  Lisboa. 

O  apartamento  não  foi  logo  em  seguida  á  morte  de 
D.  João  II,  nem  podia  ter  sido,  não  só  por  causa  dos 
negócios  do  testamento,  mas  sobretudo  por  ter  de  fazer 
a  entrega  dos  variados  e  valiosos  objectos  da  camará  e 
guarda-roupa  do  falecido  monarca.  Ao  novo  soberano 
acompanhou  pois  Antão  de  Faria  algum  tempo,  mas 
sem  o  servjr.  Com  elle  se  encontrava  em  Setúbal, 
quando  para  lá  transferiu  a  corte  em  princípios  de 
abril  de  1406,  seguindo-o  no  verão  para  Lisboa.  Em 
Évora  estava  na  primavera  do  seguinte  armo,  no  fim  do 
qual  com  el  Rei  tornou  para  a  capital,  onde  parece  ter 
então  assentado  definitivamente  a  sua  residência. 

Não  posso  asseverar  que  tudo,  sem  discrepância,  se 
passasse  por  esta  forma,  apesar  de  me  ter  guiado  pelas 
datas  dos  documentos  dados  a  Antão  de  Faria,  muitos 
dos  quaes  já  estão  citados. 

Em  Setúbal,  na  primavera  de  149ó,  estava  elle  com 
certeza,  o  que  consta,  não  só  pelas  datas  de  duas  cartas, 
mas  também  pelas  trovas  por  esses  tempos  compostas 
naquella  villa,  e  já  do  Cancioneiro  transcritas  noutro 
capitulo. 

Lá  viu  elle,  e  Deus  sabe  com  que  magoa,  a  obra 
politica  do  seu  rei  começada  a  destruir.  Lá  viu  a  en- 
trada festiva  e  victoriosa  dos  maiores  inimigos  do  Prín- 
cipe Perfeito,  os  Braganças.  Lá  ouviu  os  vitupérios  dos 
seus  criados,  falas  tão  publicas  e  deshonestas,  que  D.  Ma- 
nuel teve  de  as  mandar  reprimir.  . . 

Precisou  fujir.  A  saudade  pelo  amigo,  a  admiração 
pelo  rei,  a  pena  pela  querida  memoria  tão  desrespei- 
tada, tudo  levava  Antão  de  Faria  a  desaparecer,  a  viver 
da  recordação  do  passado.  Encerrou-se  o  Camareiro  nas 
suas  casas  da  porta  da  Alfôfa,  e  aqui,  ou  na  sua  quinta 
dos  Olivaes,  viveu  obscuramente,  afastado  de  tudo. 


314  ESTUDOS 

Nos  seguintes  capítulos  referir-me-hei  ás  suas  casas 
de  Lisboa,  e  ao  que  puder  apurar  da  sua  família  e  vida 
particular. 


IX 


Antão,  Lourenço  e  Garcia  de  Faria  eram  irmãos,  e 
todos  três  filhos  de  João  de  Faria  e  de  Mór  Vaz. 

Em  1504,  em  Évora,  sendo  Antão  casado  com  Leo- 
nor Gonçalvez  de  Oliveira,  e  Lourenço  com  Maria  da 
Agua,  celebrou-se  entre  ambos,  por  falecimento  de  Gar- 
cia, uma  escritura  de  concerto  sobre  a  partilha  dos  bens 
de  seus  pais.  Pelo  mesmo  instrumento  também  consta 
serem  os  três  Farias  meios  irmãos  de  um  Nuno  da  Sil- 
veira marido  de  Ana  Metello  '. 

Aquelle  documento,  que  se  diz  ter  existido  no  car- 
tório do  cabido  de  Évora,  onde  o  não  encontrei,  susci- 
tou-me  alguma  duvida,  quanto  á  sua  autenticidade, 
por  nelle  o  nome  da  mulher  de  Antão  de  Faria  não 
condizer  com  o  que  se  lê  no  instrumento  de  4  de  feve- 
reiro de   1511   de  instituição  de  vinculo,  onde  ella  se 


1  "No  cartório  deste  cabido  (de  Evóra)  está  o  concerto  que  fizeram 
Antão  de  Faria  e  sua  mulher  Leonor  Gonçalves  de  Oliveira  por  morte 
de  seu  irmão  Garcia  de  Faria,  Estribeiro  mór  dei  Rei  D.João  II,  com 
seu  irmão  Lourenço  de  Faria  e  sua  mulher  Maria  da  Agua,  nas  par- 
tilhas de  seus  pais  João  de  Faria  e  Mór  Vaz,  e  se  declara  serem  os 
ditos  meios  irmãos  de  Nuno  da  Silveira,  marido  de  Anna  Metello. 
Évora,  1^04...  Sr.  José  de  Azevedo  e  Meneses,  Ninharias,  artigo  no 
Jornal  do  Coinnurcio,  de  Lisboa,  no  numero  de  22  de  maio  de  1902. 

Em  outro  artigo,  no  numero  de  22  de  julho  seguinte,  acrescentou 
o  autor:  "A  descoberta  de  tal  filiação  (de  Antão,  Lourenço  e  Garcia 
de  Faria)  é  de  Sebastião  Leite  de  Faria  e  Sousa,  que  viveu  no  sé- 
culo XVIII,  e  foi  deputado  do  Santo  Officio  em  Évora,  aonde  viu  no 
cartório  do  Cabido  o  citado  concerto  de  partilhas  feito  em  lõ()4  .  .  . 
Sebastião  Leite.  .  .  deu  a  noticia  do  achado  a  João  Alvares,  Abbade 
de  I  smeriz,  e  autor  do  meu  nobiliário  manuscrito  em  cinco  grossos 
volumes,  etc.» 


O  CAMAREIRO  31 5 

encontra  nomeada  Leonor  Gonçalvez  somente'-.  No 
contrato  porem  de  instituição  de  capella;  celebrado 
a  S  de  julho  de  1504,  declara-se  estarem  presentes 
"Antão  de  Faria  e  Leonor  Gonçalvez  de  Oliveira  sua 
molhei*..  :í.  Fica  pois  desvanecida  a  duvida,  tanto  quanto 
é  possível  a  respeito  de  um  documento  desapare- 
cido e  unicamente  apontado  por  genealojistas;  mas 
aceito-o,  não  só  por  elle  vir  destruir  as  primitivas  asser- 
ções daquelas  escritores  quanto  á  filiação  e  fidalguia  do 
Camareiro,  confirmando  as  indubitáveis  ilacções  tiradas 
de  todos  os  outros  documentos  meus  conhecidos;  como 
também,  por  explicar  dois  pontos,  que  me  davam  que 
pensar.  Primeiro,  a  coincidência  de  três  rapazes  Farias 
serem  nomeados  quasi  sucessivamente,  em  menos  de 
anno  e  meio,  para  oficios  menores  da  casa  do  Príncipe; 
segundo,  o  motivo  da  escolha  de  gente  tão  nova  na 
corte. 

Ambos  os  pontos  ficam  esclarecidos:  os  rapazes  eram 
irmãos;  os  serviços  do  pai,  e  a  simpatia  que  elle  me- 
recera ao  Infante  D.  Pedro,  determinaram  a  escolha. 

Do  parentesco  existente  entre  os  três  Farias,  já  eu 
desconfiava,  e  tanto,  que  a  respeito  de  Antão  e  de  Lou- 
renço logo  no  primeiro  capitulo  o  dera  a  entender;  da 
razão  porem,  que  motivara  a  eleição,  é  que  não  suspei- 
tava. 

João  de  Faria,  pai  dos  três,  era  um  modesto  peão, 
natural  talvez  de  Évora,  a  quem,  não  sendo  ainda  nem 
sequer  escudeiro,  foi  dada  em  Lisboa,  a  17  de  fevereiro 
de  1439,  carta  de  coudel  de  Évora  e  seu  termo,  e  do 
logar  de  Montoito,  por  cinco  annos,  contados  do  1.°  do 
mês    de    março    precedente.  No  documento   declara-se 


-  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  15.°,  fl.  57  v. 
:i  Liv.  l.o  das  Escrituras  do  Convento  da  Graça  de  Lisboa,  fl.  33, 
na  Torre  do  Tombo. 


316  ESTUDOS 

ser  elle  nomeado,  "sem  embargo  que  ora  seja  orde- 
nado de  tirar  todolos  coudeis  como  acabarem  de  ser- 
vir os  cinco  annos,  por  que  tinham  as  coudelarias, 
por  quanto  os  homens  bons  da  dita  cidade  mandaram 
pedir  nas  Cortes  de  Leiria  (janeiro  de  1438),  que  fosse 
tirado  de  coudel,  e  el  Rei  respondeu  que  não  queria, 
porque  o  havia  por  bom  coudel,,  '.  Quem,  á  data  da 
carta,  respondeu  pela  boca  de  D.  Afonso  V,  então  criança 
ainda,  foi  o  Rejente  do  reino,  o  Infante  D.  Pedro. 

Não  desmereceu  comtudo,  apesar  da  amisade  do 
Infante,  o  antigo  Coudel  de  Évora  no  conceito  dei  Rei, 
que  lhe  tornou  a  dar  a  mesma  coudelaria,  por  outros 
cinco  annos,  por  carta  passada  naquella  cidade  a  3  de 
março  de  1450,  sendo  João  de  Faria  a  esse  tempo 
escudeiro,  vassalo,  e  morador  na  capital  alemtejana  5. 
Por  lá  se  deixou  ficar,  e  chegou  a  ser  vereador  da 
camará,  cargo  que  exercia  no  anno  de  1464  6. 

Nenhumas  outras  noticias  tenho  de  João  de  Faria  ", 
falecido  provavelmente  pouco  tempo  depois,  visto  que 
em  1504  tinha  um  enteado  já  casado. 

Aquelle  que  merecera  ao  Infante  D.  Pedro  uma  elei- 
ção contraria  ao  voto  dos  procuradores  ás  Cortes,  estava 
de  certo  na  memoria  do  Príncipe  D.  João,  ou  pelo 
menos  na  da  Senhora  D.  Filipa,  sua  tia,  que  lhe  apon- 
taria o  dever  de  premiar  os  serviços  do  antigo  Coudel 
de  Évora,  e  a  conveniência  de  trazer  para  casa  pes- 
soas seguras.  As  nomeações  dos  três  Farias  fizeram-se, 
quando  já  os  pedidos  do  filho  se  começavam  a  impor 
ao  pai,  tendo  talvez  para  ellas  também  concorrido  o 


,1  Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  1(J.",  ti.  72. 

■"■  Ibidem,  liv.  34.°,  fl.  57  v. 

"'Corpo  cronolojico,    part.    l.a,  niac.    1.",  doe.  24,   impresso  pelo 
sr.  Gabriel  I Vieira  a  paj.  ()7  do  vol.  II  dos  Documentos  de  Évora. 

Não  é  bem  exaeto,  depois  encontrei  outras,  como  se  verá  no 
eap.  v  do  estudo  sobre  os  Farias. 


O   CAMAREIRO  317 

patrocínio  de  mestre  Gil,  fisico  e  cirurjião  mór  de 
D.  Afonso  V,  e  marido  de  uma  Guiomar  de  Faria,  que 
pode  muito  bem  ter  sido  destes,  irmã,  ou  antes,  prima 
de  João  de  Faria. 

A  escolha  foi  acertada.  Os  rapazes  eram  valentes,  e 
foram  dedicados  a  seu  amo;  afirmação  que  só  posso 
fazer  comtudo  a  respeito  de  Lourenço  e  Antão,  porque 
de  Garcia  mais  nada  me  consta,  e  julgo  até  ter  elle  muito 
cedo  saído  do  serviço  do  Príncipe.  Encontro  efectiva- 
mente um  Garcia  de  Faria  escudeiro  dei  Rei,  foro  idên- 
tico ao  que  tinha  o  Estribeiro  mór  do  Príncipe,  nomeado 
tabelião  de  Évora,  por  carta  dada  naquella  cidade  a  12 
de  novembro  de  1472  s.  Não  posso  asseverar  ser  este 
o  mesmo,  mas  tudo  me  leva  a  crer  que  sim,  até  o  facto 
de  D.  João  II  ter  escolhido  para  seu  estribeiro  mór  a 
um  fidalgo,  que  já  exercia  o  oficio  em  1487  com  cer- 
teza, e  por  tanto  muitos  annos  antes  da  morte  de  Garcia. 

Do  valor  de  Antão  e  de  Lourenço  dão  fé  documentos 
já  citados;  da  dedicação  do  Camareiro  por  D.  João  II 
acham-se  neste  bosquejo  histórico  provas  que  fartem; 
da  do  Mantieiro  darão  testemunho  algumas  palavras  do 
seu  testamento. 

Lourenço  de  Faria,  fidalgo  da  casa  dei  Rei,  encon- 
trava-se  em  Samuel,  no  termo  de  Montemor  o  Velho, 
onde  eram  situados  os  casaes  que  lhe  haviam  sido  doa- 
dos como  prémio  do  seu  esforço  na  batalha  de  Toro, 
quando,  sentindo-se  doente,  resolveu,  em  13  de  maio 
de  1511,  determinar  as  suas  ultimas  vontades.  Entre 
outras  coisas  declarou  o  seguinte:  "Que  emprestara  em 
amor  e  em  graça,  sobre  um  penhor,  a  seu  filho  João 
de  Faria  trezentos  cruzados  para  serviço  do  sr.  Mestre 
(D.  Jorjc,  filho  de  D.  João  II);  manda  e  quer,  que,  se 
se  achar  que  o  dito  seu  filho  algum  interesse  tem  levado 


s  Chancelaria  cie  D.  Afonso  V,  liv.  29.°,  fl.  218  v, 


318  F.STUDOS 

ao  dito  sr.  Mestre,  que  por  descargo  de  sua  alma,  e  da 
do  dito  seu  filho,  que  se  tornem  ao  dito  sr.  Mestre, 
achando-se  que  por  direito  se  deve  tornar  e  a  isso  é 

obrigado,  e  isto  de  todo  a  cama  (de  todo  o  monte) 

Qe  manda  a  seu  filho  Simão  de  Faria,  sob  pena  de  sua 
benção  e  maldição,  que  se  torne  para  o  sr.  Mestre,  e 
que  pede  por  mercê  a  el  Rei.  nosso  senhor,  que  o  não 
haja  por  mal» ''.  Quem  tão  dedicado  se  mostrava  pelo 
filho,  havia  de  ter  sido  bom  servidor  do  pai. 

No  seu  testamento  mandou  Lourenço  de  Faria  edificar 
uma  capella  em  Santa  Maria  da  Graça  de  Lisboa,  na  qual 
para  seu  jazigo  "será  feito  um  moimento  honrado,  com 
uns  cães  de  baixo,  e  postas  as  suas  armas  nella,  na 
maneira  que  parecer  melhor  a  seus  filhos,,.  Destes  no- 
meia mais,  alem  dos  dois  acima,  a  Garcia,  Francisco,. 
Mor  e  Joana  de  Faria.  Manda  dar  seis  mil  reaes  em 
cumprimento  do  seu  casamento  a  Branca  da  Agua,  tal- 
vez irmã  de  sua  mulher,  a  quem,  provavelmente  por 
ser  já  falecida,  não  ha  referencia  no  documento.  Declara 
possuir  uma  quinta  nos  Olivaes,  e  viver  em  Lisboa  nas 
suas  casas  "que  estão  junto  da  Sé,  que  são  foreiras  ao 
mosteiro  de  Santa  Clara  da  dita  cidade.,,  Etc. 

Pouco  tempo  depois,  neste  mesmo  anno  de  1511, 
antes  de  21  de  agosto,  como  já  lá  acima  ficou  referido, 
faleceu  Lourenço  de  Faria  "'. 

Parece  terem  vizinhado  muito  os  dois  irmãos,  Lourenço 
e  Antão.  Ambos  possuíram  quintas  nos  Olivaes,  ambos 
moraram  em  Lisboa  em  casas  muito  prossimas,  ambos 
procuraram  a  mesma  igreja  para  jazigo  dos  seus  restos. 


'  (irava  de  Lisboa,  mac.  16,  ii.°  40-15,  na  Torre  do  Tombo. 

10  O  Cardeal  Saraiva,  nos  extractos  do  Corpo  cronolojico  publica- 
dos nas  suas  Obras  completas,  IV ',  1'M,  enganou-se  ao  lera  assina- 
tura de  uma  carta  de  11  de  abril  de  1513  (doe.  n.o  23),  a  qual  não 
Foi  endereçada  a  D.  Manuel  por  Lourenço  de  Faria,  mas  sim  por 
João  de  Faria.  Naquella  data  havia  perto  de  três  ânuos  que  Lourenço 
falecera. 


O   CAMAREIRO  31<) 

Antão  de  Faria  casou  antes  de  1478  com  Leonor 
Oonçalvez,  filha  de  João  Gonçalvez,  dos  Olivaes  ",  e  de 
sua  mulher  Alaria  Estevez;  e  para  este  casamento  deu 
D.  Afonso  V  ao  Camareiro  de  seu  filho  um  alvará  de 

mil  e  duzentas  coroas,  de  cento  e  vinte  reaes  cada  uma  '\ 
O  nome  do  sogro  consta  de  um  documento  atrás  citado, 
e  de  uma  carta  de  doação  passada  a  favor  do  genro  em 
20  de  fevereiro  de  1478,  sendo  João  Gonçalvez  já  então 
falecido  1!;  o  nome  da  mulher  deste  encontra-se  na 
escritura  de  26  de  abril  de  1455,  de  compra  de  certos 
bens  na  do  Facão,  termo  de  Sintra  ''. 

Leonor  Gonçalvez  é  nomeada  Leonor  Gonçalvez  de 
Oliveira,  sempre  sem  o  dona,  em  dois  documentos, 
alem  do  instrumento  de  partilha  de  1504  atrás  aponta- 
do i:i,  sendo  um  daquelles  posterior  á  morte  delia.  O 
apelido,  acrescentado,  provavelmente,  para  satisfação 
de  vaidades,  proveio  da  designação  dos  Olivaes  com  a 
qual  era  seguido  o  nome  de  seu  pai,  para  o  diferençar 
de  vários  contemporâneos  homónimos.  De  João  Gon- 
çalvez pouco  mais  sei  ao  certo,  e  apenas  posso  conje- 
cturar a  custo,  haver  elle  sido  um,  entre  aquelles  todos, 
que  foi  escrivão  dos  livros  do  Infante  D.  Pedro,  com  quem 
entrou  na  batalha  da  Alfarrobeira,  pelo  que  lhe  foram  con- 
fiscados os  bens,  dos  quaes  D.  Afonso  V  depois  lhe  res- 
tituiu umas  casas  em  Lisboa,  por  carta  de  1 1  de  novem- 
bro de  1451,  dada  naquella  cidade  "'. 

Se  este  João  Gonçalvez  foi  o  dos  Olivaes,  as  casas  a 
elle  tornadas  eram  no  topo  de  um  beco,  com  entrada  pela 


11  Na  carta  de  doação  abaixo  citada  nomeia-se  "João  Gonçalvez, 
dos  Olivaes,  sogro  delle  dito  Antão  de  Faria.,. 

12  Chancelaria  de  D.João  III,  liv.  36.o  de  Doações,  fl.  16,  onde  se 
alude  ao  alvará  sem  lhe  declarar  a  data. 

13  Liv.  7.o  da  Estremadura,  fl.  139. 

'■  Graça  de  Lisboa,  mac.  16,  n.o  16-12. 

1 '  Vide  paj.  314,  nota  1. 

16  Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  37.°,  fl.  45  v. 


320  ESTUDOS 

rua  direita  que  ia  da  fonte  dos  Cavalos  (chafariz  de 
Dentro)  para  a  porta  da  Cru/.  Com  o  tal  beco  e  rua 
direita  confrontava  o  "palheiro  dei  Rei»,  também  desi- 
gnado por  "estrebaria  das  azemalas  que  está  alem  do 
chafariz  dos  Cavalos»,  prédio  de  que  foi  doado  o  ar, 
isto  é,  os  altos,  para  nelles  edificar,  a  Antão  de  Faria. 
pela  carta  de  20  de  fevereiro  de  1478  lá  acima  citada. 
Do  prédio  veio  elle  também  a  possuir  os  baixos,  por 
troca  feita  com  D.  Afonso  V,  a  quem  deu  por  elles 
uma  casa  na  Alcáçova,  junto  á  porta  de  Santa  Cruz, 
sendo  a  respectiva  escritura  celebrada  em  Lisboa,  no 
Almazem,  a  24  de  agosto  de  1479,  e  confirmada  por 
el  Rei  a  21  de  janeiro  seguinte  ''. 

A  quinta  nos  Olivaes  possuída  por  João  Oonçalvez, 
e  que  serviu  para  a  denominação  de  seu  proprietário, 
era  junto  á  igreja  de  Santa  Maria,  e  creio  ser  hoje  a 
chamada  do  Mortorio,  ou  alguma  pegada  com  cila. 
Leonor  Oonçalvez,  a  mulher  do  Camareiro,  houve  a 
dita  quinta  na  sua  lejitima,  e  depois  delia  ainda  a  pos- 
suiu seu  filho  Francisco  de  Faria,  que  no  seu  testamento, 
datado  de  9  de  novembro  de  1554,  a  deixou  a  seu  neto 
Diogo  da  Silva,  filho  do  seu  falecido  filho  Aires  da 
Silva  1S.  Diogo  não  teve  descendência  lejitima,  parte  da 
sua  casa  passaria  aos  Aguiares,  seus  sobrinhos,  e  delles 
aos  Camarás  que  estão  hoje  no  Visconde  da  Asseca,  e 
por  isso  a  quinta,  que  não  sei  a  quem  actualmente  per- 
tence, saiu  para  fora  da  família  e  o  falecido  2.°  Conde 
das  Alcáçovas  possuía  apenas  um  domínio  directo,  de 
dois  mil  e  duzentos  réis  e  duas  galinhas,  imposto  nuns 
prédios  junto  á  quinta,  aforados  por  escritura  de  4  de 
dezembro  de  1553  ''•'. 


■'  Chancelaria  de  D.  Afonso  V,  liv.  32.",  fl.  140. 
18  Cartório  do  Conde  das  Alcáçovas. 
1 '  ibi. 


O  CAMAREIRO  321 

l  stando  na  sua  quinta  dos  Olivaes,  instituiu  Antão  de 
Faria,  em  1511,  o  morgado  das  suas  casas  á  porta  eia 
Alfôfa;  mas,  para  seguir  a  ordem  chronolojica,  referir- 
me-hei  primeiro  á  fundação  da  capella. 

No  dia  S  de  julho  de  1504,  em  Lisboa,  nas  casas  de 
morada  de  Antão  de  Faria,  fidalgo  da  casa  de!  rei  e  do 
seu  Conselho,  estando  elle  presente,  e  Leonor  Gonçal- 
vez  de  Oliveira  sua  mulher,  e  bem  assim  o  P.  M. 
Rodrigo,  Prior  do  mosteiro  de  Nossa  Senhora  da  Graça 
da  Ordem  de  Santo  Agostinho  em  Lisboa,  foi  Lurado 
o  compromisso  da  capella  ordenada  por  aquelles  no 
referido  convento. 

Disseram  os  primeiros  outorgantes,  que  por  sua  devo- 
ção, e  por  serviço  de  Deus  e  de  nossa  Senhora,  haviam 
edificado  no  convento  da  Graça  uma  capella,  que  lá 
teem,  na  qual  esperam  de  sepultar  seus  corpos.  Deseja- 
vam porem  que  nella  os  frades  lhes  digam  em  cada 
semana  para  sempre  um  anniversario  por  suas  almas, 
com  nocturno  de  três  lições,  missa  e  responso,  tudo 
cantado,  e  para  isso  lhes  doam  um  casal  no  termo  de 
Sintra,  onde  chamam  a  do  Facão,  o  qual  ao  tempo 
rendia  três  moios  de  pão  meado,  de  sessenta  e  quatro 
alqueires  o  moio,  e  mais  um  carneiro  e  dois  frangos. 
Aceita  o  Prior  o  contrato  em  nome  da  comunidade, 
que  o  ratifica  no  dia  seguinte,  e  toma  posse  do  casal 
logo  a  12  de  agosto  -". 

Esta  capella,  na  qual  efectivamente,  como  declara 
o  já  citado  testamento  de  Francisco  de  Faria,  foram 
sepultados  os  fundadores,  desapareceu  na  reconstru- 
ção da  igreja,  em  1556;  ou  veio  a  perecer  no  terre- 
moto de  1755.  Da  capella  creio  não  haver  hoje  ves- 
tijios. 


-■'  Liv.  l.o  das  Escrituras  do  convento  da  Graça  de  Lisboa,  fl.  33, 
na  Torre  do  Tombo. 

21 


322  ESTUDOS 

Das  "suas  casas  que  tem  em  Lisboa  junto  com  a 
porta  da  Alfôfa»,  é  que  Antão  de  Faria  instituiu  morgado. 

Onde  eram  ellas? — Vou  dize-lo.  Antes,  porem,  citarei 
os  documentos  que  me  guiarão. 

O  primeiro  é  o  instrumento  de  3  de  julho  de  1501, 
pelo  qual  o  Alcaide  mór  de  Palmella  reconheceu  a 
el  Rei  como  senhorio  directo  da  "barbacan  do  muro 
velho,  com  um  chão  que  ora  é  feito  em  quintal,  com 
uma  cisterna,  com  seus  muros  de  uma  parte  e  da  outra ,,, 
tudo  pertencente  e  pegado  ás  casas  compradas  por  elle, 
Antão  de  Faria,  ao  Conde  de  Penamacor,  que  por  troca 
as  houvera  da  Sé  de  Lisboa  -'. 

O  segundo  é  a  escritura  de  doação  e  instituição  de 
morgado.  Foi  feita  a  4  de  fevereiro  de  1511,  no  termo 
de  Lisboa,  na  freguesia  de  Santa  Maria  dos  Olivaes,  na 
quinta  do  sr.  Antão  de  Faria,  do  Conselho  dei  Rei, 
estando  elle  presente  e  bem  assim  sua  mulher,  a  sr.a 
Leonor  Gonçalvez.  Pela  referida  escritura  doaram  os 
conjujes  as  suas  casas  da  porta  da  Alfôfa  a  seu  filho  Fran- 
cisco de  Faria,  vinculando-as  a  elle  e  a  seus  descenden- 
tes na  linha  primogénita  lejitima,  com  preferencia  do 
varão  á  fêmea,  com  exclusão  dos  bastardos,  e  com  a 
obrigação  do  apelido  de  Faria;  e  logo  lhe  transmitiram 
a  posse,  com  a  condição  de  ambos  os  instituidores 
viverem  nas  ditas  casas  até  á  hora  das  suas  mortes  22. 

listes  documentos  são  os  principaes;  algum  outro  a 
que  me  refira,  cita-lo-hei. 

Alem  dos  documentos,  também  me  auxiliaram  muito 
dois  óptimos  livros,  que,  por  assim  dizer,  se  completam: 
a  Lisboa  antiga  do  sr.  Visconde  Júlio  de  Castilho,  e  a 
Cerca  moura  de  Lisboa,  do  sr.  Augusto  Vieira  da  Silva. 


-1  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  17.",  fl.  60  v.f  transcrito  na 
carta  réjia  de  confirmação  de  9  cio  mesmo  mês. 

-'-'  Ibidem,  liv.  li.",  fl.  õ7  v.,  transcrita  na  carta  réjia  de  confirma- 
ção, dada  a  Francisco  de  Faria  em  26  de  abril  de  1514. 


O  CAMAREIRO  323 

Ambos  investigadores  pacientes,  críticos  apurados,  teem 
escrito  sobre  o  mesmo  assunto  por  bem  diversa  maneira 
comtndo.  Castilho,  poeta,  dá  vida  á  velha  cidade;  Vieira 
da  Silva,  enjenheiro,  esquadrinha-lhe  os  vestijios.  Um, 
conta-nos  a  historia  da  antiga  Lisboa;  o  outro,  mede- 
lhe  o  rasto. 

Pelos  documentos  vê-se  que  a  propriedade  do  Cama- 
reiro de  D.  João  II,  apesar  de  constituir  um  todo  con- 
tíguo, compreendia  comtudo  dois  prédios  de  natureza 
diversa:  um,  alodial;  o  outro,  fateusim.  Aquelle,  era 
formado  pelas  casas;  este,  pelo  quintal  que  pagava  seis 
reaes  de  prata  de  foro  ao  "Almazem  dei  Rei,,. 

Mas,  para  exórdio  já  basta. 

As  casas  de  Antão  de  Faria  ficavam  sobranceiras  á 
"Calçada  que  vai  de  baixo  pêra  os  paços  dei  Rei,,,  a 
qual  então  "subia  da  porta  do  Ferro  pêra  a  da  Alfôfa,,, 
e  á  qual  se  começou  a  dar  o  nome  de  calçada  de 
S.  Crispim  no  ultimo  quartel  do  século  xvi,  depois  dos 
sapateiros  de  Lisboa  haverem  fundado  a  capella  da  invo- 
cação daquelle  santo.  Em  frente  das  casas  do  Alcaide 
mór  de  Palmella  estendia-se  o  quintal  até  ao  adarbe  da 
ameada  muralha  moira,  da  qual  ainda  hoje  lá  se  vêem 
uns  restos  por  cima  dos  telhados  de  umas  casas  baixas, 
á  direita  de  quem  sobe  as  escadinhas  de  S.  Crispim. 
Os  restos  da  muralha,  e  as  casas  que  hoje  substituem 
as  antigas,  aparecem  reproduzidos  numa  estampa,  na 
paj.  25  do  citado  livro  do  sr.  Vieira  da  Silva. 

Pelo  norte  chegavam  as  casas  de  Antão  de  Faria  até 
á  "rua  do  Arco  da  Porta  da  Alfôfa»,  no  fim  da  actual 
rua  do  Milagre  de  santo  António,  quando  ella  desem- 
boca no  largo  dos  Lóios;  e  por  este  lado  partiam  tam- 
bém "com  as  casas  pequenas  que  fez  Pêro  da  Alcáçova, 
que  ora  (1501)  são  da  Condessa  de  Penamacor,  que  es- 
tão á  porta  da  Alfôfa  quando  entram  á  mão  direita,,, 


32  l  ESTUDOS 

casas  que  em  1511  eram  "do  Secretario  António  Car- 
neiro»;. Passadas  estas,  galgavam  as  de  Antão  de  Faria 
por  cima  de  uni  arco  a  rua  depois  chamada  do  Arco 
do  Mira,  "ate  entestarem  com  casas  da  senhora  Rainha 
D.  Leonor,  da  banda  do  norte,,;  daqui  corriam  direi- 
tas ao  sul,  "partindo  com  Santo  Eloi,  da  banda  do 
levante,,.  Depois,  fazendo  volta  para  o  poente,  confron- 
tavam pelo  sul  com  "uma  azinhaga  estreita  que  è  serven- 
tia de  goteiras. .,  a  qual  ia  desde  as  casas  de  Santo  Eloi, 
em  que  entestava  pelo  nascente,  até  á  mesma  rua  poste- 
riormente chamada  do  Arco  do  Mira,  hoje  de  todo  des- 
aparecida creio  eu,  e  enteio  situada  entre  as  trazeiras  dos 
prédios  da  actual  rua  da  Saudade  e  as  dos  das  escadi- 
nhas de  S.  Crispim.  Chegadas  as  casas  de  Antão  de 
Faria  á  tal  rua  do  Arco,  tornavam  a  passar  sobre  ella,  e 
iam  confrontando,  sempre  pelo  sul,  com  casas  "do 
Caiado,  cónego  da  Sé  de  Lisboa,.,  com  a  torre  que  foi 
de  D.  João  de  Abranches,  e  com  casas  de  Dinis  Eanes 
clérigo,  até  entestarem  outra  vez  na  Calçada  com  a 
qual  partiam  pelo  poente. 

Destas  confrontações  "para  dentro  é  todo  do  dito 
assento,  sem  se  aí  meter  cousa  alguma  alheia,  somente 
a  dita  rua  que  é  serventia  publica,  que  passa  por  baixo 
dos  arcos  das  mesmas  casas,-. 

Já  agora  recordarei  algumas  memorias,  que  me  trazem 
á  lembrança  as  confrontações  da  propriedade  de  Antão 
de  Faria. 


X 


Era  muito  interessante  o  bairro  de  Lisboa,  onde  esta- 
vam situadas  as  casas  de  Antão  de  Faria. 

Naquelles    sitios   moravam    pessoas   reaes,   a   rainha 


EXPLICAÇÕES  Á  PLANTA  .-O  norte  fica  na  ,,„  , 
Rainha  D.     eZ       ,     1  ít Vi ■      !"  """"""  *"*  ™°°  *»  ^onsecas  no  XV,  secai    ÒZ     '         "     V-7  "™*  "  Condessa  <"  Penamacor ,  ea,  1511  o  Secretario  António 

-  amo  fJo,  -  o,  „,„  mic  esislin  o  hosiiital  <le  Smto  E;ltroiiia°:i;^dc  ™zr  ■  "'*"  ""ww"rt" "  ""■*  "* Sfl 


-íM,  i 


O   CAMAR1  [RO  325 

D.  Leonor,  viuva  de  D.  João  II;  fidalgos,  I).  João  de 
Abranches,  o  ('onde  cie  Penella,  a  Condessa  de  Pena- 
macor; homens  notáveis,  António  ('arneiro,  na  Historia, 
Gil  Vicente,  na  Arte  e  nas  Letras.  Ali  ao  pé,  nos  vastos 
eirados,  de  larga  e  aprazível  vista,  do  convento  de  Santo 
Eloi,  passeavam  os  seus  ócios  os  cónegos  de  S.  João 
Evangelista,  os  Lóios,  como  geralmente  lhes  chamavam, 
e  que  deram  com  os  seus  hábitos  o  nome  a  uma  cor,  o 
azuloio.  Ao^pé  delles,  no  hospital  de  Santo  Eutropio, 
albergavarri-se  "os  quatro  pobres  envergonhados;;  da 
pia  instituição  do  Bispo  de  Silves. 

Era  um  bairro  fidalgo  e  quieto.  O  grande  movimento 
da  cidade  nova  para  os  paços  dei  Rei,  na  Alcáçova,  fa- 
zia-se  pela  Calçada  e  rua  das  Portas  da  Alfôfa,  deixando 
á  direita  os  pacatos  sitios  da  freguesia  de  S.  Bartolo- 
meu. O  silencio  só  era  cortado  pela  "suave  e  alegre 
consonância  dos  sete  sinos  de  Santo  Eloi»,  repicando 
ao   desafio  com  os  não  sei  quantos  de  S.  Bartolomeu. 

Havia  comtndo  ocasiões  em  que  os  ermos  se  povoa- 
vam. Era  quando  as  Cortes  estavam  convocadas,  porque 
no  convento  se  reunia  o  braço  da  nobreza.  Pouco  tempo 
porem  durava  o  bulício;  breve  caía  tudo  no  primitivo 
socego. 

Para  cumprir  com  o  prometido  no  final  do  prece- 
cedente  capitulo,  isto  é,  para  reviver  as  memorias  sujeri- 
das  pelas  confrontações  das  casas  de  Antão  de  Faria,  tenho 
de  recorrer,  para  melhor  intelijencia  do  leitor,  á  planta 
que  lhe  vou  apresentar.  Para  ella  tive  á  vista  a  de  João 
Nunes  Tinoco  feita  em  1650,  a  de  José  Valentim  de 
Freitas,  e  a  vermelha  que  nos  dá  o  sr.  Vieira  da  Silva 
na  estampa  u  da  sna  Cerca  moura  de  Lisboa.  Ambas 
estas  são  posteriores  ao  terremoto  de  1755;  apresentãò- 
nos  porem  a  cidade  anterior  á  catástrofe.  Diferem  todas 
mais  ou  menos  umas  das  outras,  e  em  partes,  facto 
mais  grave,  nenhuma  condiz  com  as  medições  do  Tombo 


$26  ESTUDOS 

da  cidade  de  Lisboa,  feito  em  1771  e  guardado  na 
loire  do  Tombo. 

Na  planta  apresentada  pelo  sr.  Vieira  da  Silva  ha  uma 
parte  propriamente  sua,  a  do  muro  da  cerca  moira.  Essa 
parte  aproveitei  toda,  porque  creio  dever  cila  inspirar 
confiança  aos  mais  escrupulosos.  Das  outras  plantas  ado- 
ptei o  que  pude,  cinjindo-me  ás  medições  marcadas  no 
Tombo  da  cidade,  ás  designadas  nalguns  documentos,  e 
a  outras  informações  nestes  colhidas.  Sobre  estas  bases 
fiz  a  planta,  para  a  qual  peço  a  benevolência  do  leitor, 
lembrando-lhe  ser  ella  obra  de  curioso. 

Agora,  mais  facilmente  poderei  começar  o  meu  passeio 
de  roda  das  casas  do  antigo  Camareiro. 

Onde  está  a  letra  A  na  planta,  eram  as  casas  de  Dinis 
Eanes,  clérigo  de  missa,  que  em  1502  possuia  um  bene- 
ficio na  igreja  da  Madalena.  A  14  de  junho  desse  anno 
fez  elle  no  Almazem  escritura  de  aforamento,  pelo  foro 
de  noventa  e  um  reaes  de  prata,  de  um  bocado  de  chão, 
em  parte  do  qual  havia  já  edificado  casas,  e  que  ficava 
entre  o  muro  e  a  barbacan,  nas  costas  do  prédio  de 
D.  João  de  Abranches,  que  lhe  havia  cedido  o  terreno, 
julgando  pertencer-lhe. 

Confrontava  a  propriedade  de  Dinis  Eanes,  da  parte 
de  cima,  isto  é,  do  nascente,  com  o  quintal  de  Antão 
de  Faria  (D),  e  com  uma  torre  aforada  á  mulher  do  dito 
D.  João  (B);  e  da  outra  parte,  do  poente,  com  chão 
dei  Rei  emprasado  a  João  Lourenço;  por  de  trás,  com 
o  muro  aforado  á  referida  senhora  (B);  e  por  diante, 
com  a  Calçada  que  vai  para  o  Paço  '. 

O  chão  pegado  ao  de  Dinis  Eanes  e  aforado  a  João 
Lourenço,  era  também  sobre  a  Calçada,  e  ficava  defronte 
das  casas  de  D.  Fernando  de  Ataíde,  ('orno  ainda  a  ellas 


1  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  (>.",  fl.  80. 


O   CAMAREIRO  327 

me  hei  de  referir,  quero  deixar-lhes  o  sitio  indicado. 
Consta  a  vizinhança  de  uma  escritura  de  aforamento 
feita  em  6  de  março  de  1513,  tempo  em  que  já  nem 
Dinis  Eanes,  nem  João  Lourenço,  viviam  "-'. 

Em  B  estavam  situados  o  muro,  torre  e  casas  de  D.  João 
de  Abranches. 

As  casas,  ou  pertenciam  ao  morgado  instituído  em 
1383  por  seu  bisavô  Vasco  Lourenço  de  Almada,  ou 
áquelle  vinculo  haviam  sido  anexadas  em  1408  por 
João  Vasquez  de  Almada,  "cidadão  de  Lisboa,  mui  hon- 
rado cavaleiro-,  e  avô  de  D.  João.  Eram  ellas  situadas 
na  freguesia  da  Sé,  e  tinham  nas  costas  um  lanço  do 
muro  da  cerca  velha  com  uma  torre,  do  qual,  tanto 
D.  João,  como  seus  antecessores,  donos  das  casas,  sem- 
pre por  muitos  annos  se  haviam  servido.  Apesar  disso, 
para  maior  descanço,  a  viuva  de  D.  João,  D.  Mecia  da 
Cunha,  fez,  em  15  de  março  de  1502,  escritura  de  reco- 
nhecimento do  foro  de  cinco  reaes  de  prata  a  el  Rei, 
declarando-se  confrontarem  então,  o  lanço  do  muro  e 
a  torre,  de  uma  parte,  com  outro  lanço  do  mesmo  muro 
que  servia  umas  casas  pertencentes  á  Sé  (C);  e  da  outra 
parte,  com  outro  lanço  que  trazia  Lourenço  de  Faria  :!. 

O  lanço  do  muro  que  trazia  Lourenço  de  Faria,  irmão 
de  Antão,  também  tinha  uma  torre,  e  estava  por  de  trás 
das  suas  casas  de  morada,  na  freguesia  da  Sé,  foreiras 
a  Santa  Clara.  Do  lanço  do  muro  tinha  elle  feito  escri- 
tura de  aforamento  a  15  de  julho  de  1502,  já  por  mim 
citada,  e  por  ella  constam  as  confrontações  do  praso, 


2  Liv.  13.o  da  Estremadura,  fl.  39  v. 

1  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  6.°,  fl.  37.  No  principio  do 
rejisto  desta  carta  escreveu-se  por  engano  D.  João  de  Abrantes,  em 
vez  de  Abranches.  O  mesmo  erro  se  encontra  também  na  leitura 
nova  dalguns  documentos,  e  daqui  passou  para  o  cit.  livro  do 
sr.  Vieira  da  Silva. 


328  ESTUDOS 

as  quaes  eram:  "de  uma  parte,  com  outro  muro  que  traz 
D.  Mecia  da  Cunha,  mulher  de  D.  João  de  Abranches, 
que  é  de  trás  das  casas  do  dito  D.  João;  e  da  outra,  com 
umas  casas  da  Sé  que  ora  traz  aforadas  Afonso  Vaz, 
clérigo;  e  da  parte  de  fora  com  umas  casas  do  dito 
Senhor  (el  Rei),  que  traz  Rui  Fragoso,  contador,,. 

Da  torre  de  D.  João  de  Abranches  ainda  existem 
restos.  São  os  encontrados  pelo  sr.  Vieira  da  Silva  "no 
jardim  do  prédio  construído  no  local  da  primitiva  ermida 
de  S.  Crispim.»  E  fácil  prova-lo. 

Por  morte  de  D.  João  de  Abranches  as  suas  casas, 
por  serem  de  morgado,  seguiram  para  seu  filho  D.  Álvaro 
de  Abranches;  a  torre  e  o  muro  ficaram  a  sua  viuva 
D.  Alceia  da  Cunha,  que  em  1502  fez  a  citada  escritura 
de  reconhecimento.  Depois,  por  alvará  de  28  de  janeiro 
de  1513,  foi  autorizado  D.  Álvaro,  então  mestre  sala  dei 
Rei,  a  subrogar  ao  Conde  de  Penella  as  taes  casas  do 
seu  morgado;  e  porque  na  venda  "entra  o  assento  da 
torre  e  muro  que  D.  Mecia  de  nós  traz  enfatiota.,  e 
porque  ella,  sua  mãe,  deu  o  seu  consentimento  ao  con- 
trato, concede  el  Rei  a  necessária  licença  para  o  praso 
poder  passar  para  o  Conde  \  Decorridos  annos,  em 
1563,  sendo  já  o  Conde  falecido,  seu  filho  e  sucessor 
D.  Afonso  de  Meneses  doou  á  irmandade  dos  sapateiros 
o  terreno  prossimo  á  sua  torre,  no  qual  elles  edificaram 
a  primitiva  ermida  de  S.  Crispim,  como  logo  direi  em 
chegando  á  letra  E. 

D.  João  de  Abranches  era  o  filho  mais  velho  do  valo- 
roso e  desditoso  D.  Álvaro  de  Almada,  cavaleiro  da 
Jarreteira,  e  Conde  de  Avranches  na  Normandia  por 
carta  de  4  de  agosto  de  1445,  dada  em  Westminster 
por  Henrique  VI  rei  de  Inglaterra.  Álvaro  Vasquez  de 
Almada  (tal  era  o  nome  do  Conde  ao  tempo  em  que 


1  I.iv.  13.o  da  Estremadura,  íl.  54  v. 


l  I   CAMAR]  IRO  329 

de  sua  primeira  mulher,  D.  Isabel  da  Cunha,  lhe  nasceu 
o  filho  João)  foi  capitão  mór  da  Frota,  por  carta  de  23 
de  junho  de  1423,  e  alcaide  mór  do  castello  de  Lisboa, 
por  outra  de  9  ele  abril  de  1440.  Morreu  na  batalha  ela 
Alfarrobeira,  a  20  de  maio  ele  1440,  ao  lado  do  Infante 
D.  Pedro,  e  os  seus  bens  foram  confiscados  e  doados, 
por  carta  de  25  de  agosto  do  mesmo  anuo,  a  Álvaro 
Pirez  de  Távora,  seu  concunhado,  marido  de  uma  irmã 
de  D.  Isabel.  Da  confiscação  escapou  todavia,  como  a 
própria  carta  de  25  de  agosto  declara,  o  morgado  insti- 
tuído por  Vasco  Loure:ie;o,  avô  do  Conde,  passando  os 
bens  vinculados  ao  filho  deste,  o  referido  D.João  de  Abran- 
ches. Todos  estes  documentos  já  tive  ocasião  de  citar  '. 

Com  D.  João  praticou-se,  comtudo,  uma  daciuellas 
injustiças  de  corte  bem  vulgares  nesses  tempos.  Seu  pai 
tornara  a  casar  com  D.  Caterina  de  Castro,  e  delia 
tivera  um  único  flho.  D.  Fernando  de  Almada.  Como  a 
Condessa  de  Abranches  (á  portuguesa)  contraísse  novo 
casamento  com  o  Conde  da  Atouguia,  e  fosse  irmã  do 
Conde  de  Monsanto,  fidalgos  de  muita  valia  no  paço, 
ao  filho  delia  foram  confirmados,  em  detrimento  de  seu 
irmão  primogénito,  os  bens  da  coroa  que  seu  pai  hou- 
vera, e  foi-lhe  dado  o  titulo  de  conde  de  Abranches, 
em  147Ó  ou  77. 

Não  sei  se  D.  João  afinaria  com  o  caso,  mas  calculo 
que  sim,  e  que  por  isso  andaria  na  corte  de  cabeça 
levantada,  impertigado  e  insolente. 

Porque  Abranches  dom  Joã 
senbrida  como  guayteiro? 

pregunta  lá  o  dos  Porquês  de  Setúbal  6. 
Gaspar  Alvarez   de   Lousada,  nos  seus  Sumários  da 


5  Liv.  2.o,  dos  Brasões  de  Cintra,  paj.  365  e  seg. 
,;  Cancioneiro  de  Resende,  ti.  174,  col.  òa 


330  ESTUDOS 

Torre  do  Tombo,  diz  ter  encontrado,  nuns  autos  de  contas 
da  capella  administrada  pelos  Abranches,  a  data  da 
morte  de  D.  João  no  dia  de  santo  Antão  (17  de  janeiro) 
de  1504.  Daquelle  manuscrito  só  conheço  cópias,  e  por 
tanto  julgo  haver  erro  na  designação  do  armo.  rim 
1502  fez  I).  Mecia  da  Cunha  a  citada  escritura  de  reco- 
nhecimento, e  ainda  que  nella  se  não  declare  positiva- 
mente ser  aquella  senhora  viuva,  não  parece  provável, 
se  o  marido  ainda  vivesse,  aparecer  ella,  sósinha,  outor- 
gando no  contrato  sem  autorização  delle. 

Passemos  ás  casas  da  Sé  situadas  onde  na  planta  se 
vê  a  letra  C. 

A  ellas  pertencia  também  um  lanço  da  muralha  da 
cerca  moira,  o  qual  confrontava  da  banda  de  baixo, 
como  já  disse,  com  o  outro  possuído  por  D.João  de  Abran- 
ches, e  da  banda  de  cima  com  o  aforado  a  Antão  de 
Faria,  segundo  declara  a  escritura  de  emprasamento  de 
3  de  julho  de  1501,  já  citada. 

Nesta  data  trazia  as  casas  aforadas  D.  Martim  Vaz, 
'•que  ora  é  Arcebispo  desta  cidade.,, 

Era  Martim  Vaz,  que  depois  de  arcebispo  passou 
a  chamar-se  D.  Martinho  da  Costa,  de  uma  raça  de 
bispos.  Foi  meio  irmão  do  Cardeal  D.  Jorje  da  Costa, 
Bispo  de  Évora,  Arcebispo  de  Lisboa  e  de  Braga,  e 
irmão  inteiro  de  outro  D.  Jorje  da  Costa,  Arcebispo 
também  de  Braga.  Alem  disso  teve  dois  sobrinhos, 
I).  Diogo  e  D.  Pedro  da  Costa,  que  foram  ambos  Bispos 
do  Porto. 

O  autor  de  toda  a  assombrosa  fortuna  da  família  era, 
nos  princípios  do  reinado  de  D.  Afonso  V,  um  modesto 
clérigo,  natural  de  Alpedrinha,  nascido  "de  gente  mui 
baixa,  popular  e  pobre,,,  como  declara  Damião  de  Góes. 
Foi  elle  o  licenciado  Jorje  Martinz,  homem  muito  inte- 
lijente,  sabedor,  ambicioso,  astucioso,  e  pertinaz,  a  quem 


O   CAMAREIRO  331 

quaesquer  escrúpulos  não  desviaram  nunca  de  seguir 
o  seu  caminho  de  açambarcador  de  honras,  proventos 
e  riquezas. 

Conta-se,  que  pregando  um  dia  em  Santarém  diante 
da  corte,  na  presença  da  Infanta  D.  Caterina,  esta  se 
agradara  tanto  da  doutrina  do  sermão,  que  pedira  o 
pregador  para  seu  mestre  e  capellão. 

Abriu  a  nomeação  a  entrada  no  paço  ajorje  Martinz,  que 
desta  facilidade  se  aproveitou  para  ser  dentro  em  pouco 
confessor  e  inseparável  conselheiro  de  D.  Afonso  V,  em 
cujo  animo  se  insinuou  por  forma,  que  logo  em  1463 
o  nomeou  bispo  de  Évora,  e  no  anno  seguinte  o  trans- 
feriu para  o  arcebispado  de  Lisboa.  Eleito  bispo,  mudou 
de  nome,  e  ficou-se  chamando  D.  Jorje  da  Costa,  ape- 
lido tomado  não  se  sabe  ao  certo  d'onde,  parecendo 
mais  plausível  te-lo  adoptado  de  sua  madrasta.  Depois, 
em  1476,  foi  feito  cardeal,  contando  já  setenta  annos. 

Á  rápida  e  inesperada  medrança  do  pobre  clérigo 
beirão  se  referiu  com  espanto  Garcia  de  Resende  nestes 
versos  da  Miscellanca: 

Um  clérigo,  natural 

da  vila  de  Alpedrinha, 

vimos  cá  ser  Cardeal 

em  pouco  tempo,  e  asinha 

Cardeal  de  Portugal. 

Teve  dous  arcebispados, 

abadias  e  bispados; 

fez  dous  irmãos  arcebispos, 

parentes,  amigos,  bispos, 

e  criados  mui  honrados. 

Com  D.  João  II  não  fazia  farinha  o  ambicioso  prelado, 
e  por  isso  se  ausentou  para  Roma,  onde  continuou 
gozando  dos  enormes  rendimentos  eclesiásticos  adqui- 
ridos em  Portugal,  e  dos  que  foi  granjeando  lá  por 
fora.  Na  Cúria  dispoz  sempre  de  enorme  valimento  junto 
dos  papas  Alexandre  VI  e  Júlio  II. 

D.  Manuel,  na  ideia  nefasta  de  seguir  politica  diferente 


332  ESTUDOS 

da  de  seu  glorioso  predecessor,  tornou  a  servir-se  do 
Cardeal,  que  lhe  pagou,  e  foi  muito  bem  feito,  com  um 
tremendo  coice,  metendo-se  em  1501,  pelas  suas  intri- 
gas na  Cúria,  no  arcebispado  de  Braga,  vago  por  morte 
de  seu  meio  irmão,  o  outro  D..  Jorje  da  Costa.  Nesta 
ocasião  o  Cardeal  escreveu  de  Roma,  a  2  de  setembro, 
a  el  Rei,  uma  carta,  perfeita  no  género  hipócrita,  a  qual 
se  acha  hoje  impressa  \ 

Morreu  D.  Jorje  da  Costa  em  Roma  no  anno  de  1508, 
com  cento  e  dois  annos.  Até  nisto  foi  feliz. 

Seu  irmão  D.  Martinho  da  Costa,  em  quem  elle  renun- 
ciara em  1501  o  arcebispado  de  Lisboa,  a  ocultas  de  D.  Ma- 
nuel e  contra  sua  vontade,  chegou  também  a  estar  eleito 
cardeal  em  1512,  ao  que  el  Rei  por  meio  dos  seus 
ajentes  em  Roma  comtudo  obstou.  Morreu  o  Arcebispo 
em  1521,  com  oitenta  e  sete  annos. 

Muito  antes,  já  em  1511,  pertenciam  as  casas  junto 
á  torre  de  D.  João  de  Abranches  a  uru  Caiado,  cónego 
da  Sé  de  Lisboa,  que  não  sei  quem  fosse. 

Com  a  letra  D  estão  marcados  na  planta  os  sitios 
onde  eram  o  quintal,  muralha  e  casas  de  Antão  de  Faria. 


Corpo  diplomático  portuguez,   vol.   1,  paj.  S.     A  carta  merece 
transcrição: 

"Senhor.  Depoys  de  encomendar  a  deos  vossa  alteza  o  a  mim 
encomendar  em  merece  daquella,  nom  screvo  a  vossa  alteza  pello 
meude  porque  ha  calidade  da  cousa  e  payxam  nom  me  da  lugar  de 
a  sinhyficar  mais  largamente  a  vossa  Senhoria,  ha  quall  sayba  que 
sem  meu  Requirimento  aprouve  a  Nosso  Senhor  lio  papa  e  colegeo 
prover  me,  per  morte  do  arcebispo  meu  Irmaão,  da  Igreja  de  braga 
e   dos  outros  benefícios,  de  que  cu  sabe  deos  que  gOStey  pouco  nem 
o,  mas  por  me  parecer  que  com  elles  se  poderám  satisfazer  car- 
gos de  criados  e  outra-  muytas  cousas  tocantes  a  sua  alma  ho  aceptey: 
terey  cm  mercê  ha  vossa  alteza  aver  por  bem  ysto,  e  mandar  me  dar 
ha  posse  poys  minha  pesoa  e  todo  será  a  serviço  de  vossa  Senhoria. 
Senhor  se  hy  otivera  lugar  de  sperar  vossa  vontade  eu  hasperara, 
pêro  foy  feito  sem  ho  eu  saber  como  dicto  he,  e  creo  Isto  mays  ser 
en  iço  que  fazer  se  per  outra  maneyra. 

i  ho  segundo  dya  de  setenbro  de  1501. 
De  vossa  alteza  orador  c  servidor.     Cardeal.» 


O   CAMAREIRO  333 

O  quintal  era  em  baixo,  junto  á  torre  de  D.  João  de 
Abranches,  entre  a  muralha  velha  da  eidade  e  o  chão 
onde  depois  se  edificou  a  primitiva  ermida  de  S.  Cris- 
pim. Um  pedaço  do  muro  do  quintal  deitava  sobre  a 
Calçada,  e  ficava  fronteiro  ao  terreno  ocupado  posterior- 
mente pelo  seminário  de  S.  Patrício.  No  quintal  havia 
uma  cisterna,  a  qual,  como  declara  a  carta  de  afora- 
mento de  3  de  julho  de  1501,  "Antão  de  Faria  fizera  á 
sua  custa.,-  > 

Apoderou-se  a  lenda  desta  vulgar  cisterna,  tornando-a 
de  fantástica  grandeza  e  de  misteriosa  orijem. 

O  divulgador  da  novela  foi  Fr.  Joaquim  de  Santa 
Rita  na  sua  Academia  dos  humildes  e  ignorantes,  onde, 
a  paj.  14  do  1  vol.,  impresso  em  1750,  diz  o  seguinte: 
"Defronte  da  porta  do  Castello  de  Lisboa,  chamada  de 
Alfôfa  estão  umas  casas,  que  foram  do  desembargador 
Manuel  Pinto  de  Mira  .  . . ,  estas  casas  teem  um  quintal 
com  parreiras,  e  muro  para  a  parte  do  seminário  de 
S.  Patrício,  e  nelle  uma  pequena  estrebaria,  na  qual  tem 
uma  cisterna,  que  tal  não  é  nem  foi,  nem  será  fácil 
saber-se  o  seu  principio,  e  o  que  hoje  é  . . .  „ 

Entre  parêntesis,  para  acabar  de  identificar  o  quintal 
quinhentista  com  o  do  xvm  século,  vou  já  anunciando 
ter  sido  aquelle  Desembargador  a  pessoa  que  em  1703 
comprou,  á  representante  de  Antão  de  Faria,  as  suas 
velhas  casas.  Logo  se  verá. 

Continuando  Fr.  Joaquim  com  a  descrição  da  cis- 
terna, vai-nos  impinjindo,  entre  outras  patranhas,  estas: 
o  éco,  gritando-se  uma  palavra  no  bocal,  repete-a  inteira 
e  clara  quasi  um  quarto  de  hora;  a  grandeza  do  edifício 
é  tal  que  ocupa  por  baixo  todo  o  Castello  e  a  maior 
parte  da  cidade  até  ao  mar;  colunas  monstruosas  supor- 
tam a  abobada;  escadas  grandes  existem  debaixo  da 
agua,  não  se  sabendo  d'onde  ella  vem,  mas  fazendo 
lá  dentro  tal  sussurro  como  de  caudaloso  rio ;  um  búzio 


334  ESTUDOS 

(mergulhador)  andara  nella  um  dia  inteiro  á  procura  de 
um  moço  que  lá  caíra.  Apesar  da  sua  imensidade,  no 
inverno  trasbordava  com  as  aguas  da  chuva!  é  o  frade 
que  o  diz.  "Muitos  cuidam,  acrescenta  elle,  que  isto  foi 
o  mais  celebre  templo  do  gentilismo  na  Lusitânia,  ou- 
tros que  a  primeira  e  mais  decantada  mesquita,  e  que  a 
entrada  era  pela  rua  de  S.  Chrispim.  Ignoro  o  dano  que 
lhe  fez  o  terremoto;  mas  julgo  ser  a  fabrica  mais  digna 
da  averiguação  dos  curiosos  deste  reino,  e  calo  o  mais 
que  delia  contam  os  que  moraram  nestas  casas!,; 

Mete  medo!  Mal  pensava  Antão  de  Faria,  quando 
mandou  construir  a  sua  cisterna,  apercebendo-se  caute- 
losamente para  as  faltas  de  agua,  os  contos  para  que 
ella  havia  de  dar. 

Castilho  em  1S38,  para  não  cair  no  logro,  foi  falarão 
bocal  da  cisterna,  e  nenhuma  voz  lhe  respondeu.  Elle 
próprio  o  conta,  acrescentando  que  um  seu  amigo 
mandara  descer  exploradores,  e  averiguou  ser  tudo  falso, 
não  tendo  nunca  lá  existido  senão  uma  vulgar  cisterna  s. 

Pegando  em  baixo  com  o  quintal,  subia,  quasi  direito 
ao  norte,  o  lanço  do  muro  da  cerca  velha,  aforado  a 
Antão  de  Faria  pela  já  muita  vez  citada  escritura  de  3 
de  julho  de  1501.  Estendia-se  a  barbacan  do  Alcaide 
mor  de  Palmella  em  frente  das  suas  casas,  confrontando, 
ella  e  o  quintal,  "de  uma  parte  com  casas  pequenas  que 
fez  Pêro  da  Alcáçova,  que  ora  são  da  Condessa  de 
Penamacor,  que  estão  á  porta  da  Álfôfa  quando  entram 
á  mão  direita;  e  vai  de  longo  entestar  em  umas  casas 
da  Sé,  que  trazia  D.  Marfim  Vaz,  que  ora  é  Arcebispo 
desta  cidade;  e  corre  de  longo  (agora  é  o  quintal)  pelo 
muro  velho  até  á  torre  que  ora  tem  D.  João  de  Abran- 
ches,  e   d'ali  vai  da  outra  parte  de  baixo,  como  diz 


H  Quadros  históricos,  paj.  41. 


O  CAMAREIRO  335 

o  muro  da  barreira  atrieado  ao  longo  da  Calçada,  até 

á  porta  da  Alfôfa  e  casas  da  dita  Condessa.» 

O  comprimento  do  muro  encontrava-se  no  desapa- 
recido Tombo  velho  das  propriedades  foreiras  ao  Alma- 
zem  do  Reino,  livro  começado  em  1515,  onde,  a  fl.  75  v.f 
se  lia  o  seguinte  assento:  "Mais  adiante  tem  o  dito  Se- 
nhor (el  Rei)  uma  barbacan  em  que  vão  dois  quintaes 
e  uma  cisterna,  e  tem  de  longo,  da  rua  até  á  porta  da 
Alfôfa,  noventa  covados  (59'",40);  tra-la  Francisco  de 
Faria-,  9. 

Onde  era  o  segundo  quintal  não  sei  dizer,  porque  só 
neste  assento  o  encontro  mencionado. 

Por  de  trás  da  muralha,  dominando-a,  levantavam-se 
sobre  arcos,  por  baixo  dos  quaes  passava  uma  rua  publica, 
as  casas  de  Antão  de  Faria. 

Haviam  ellas  sido  do  Conde  de  Penamacor,  que  as 
adquirira  por  troca  feita  com  a  Sé  de  Lisboa,  em  cuja 
posse  estavam.  Comprou-as  Antão  de  Faria  antes  de  3 
de  julho  de  1501,  mas  não  sei  se  directamente  ao  Conde, 
se  á  coroa  depois  da  confiscação  dos  bens  daquelle 
fidalgo,  um  dos  conspiradores  de  1484.  O  prédio,  vasto 
e  nobre,  era  residência  própria  para  um  grande  senhor, 
e  o  curioso  é  ter  passado  do  Camareiro  mór  muito 
valido  de  D.  Afonso  V,  para  o  Camareiro  menor  muito 
aceito  a  D.  João  II. 

Tinham  as  casas  uma  renque  de  dez  janellas  de  sacada, 
e  pela  sua  grandeza  e  bella  aparência  mereceram  ser 
incluídas  numa  lista,  feita  pelos  annos  de  1566,  de  vinte 


9  Cartório  do  Conde  das  Alcáçovas. -Ao  apontamento  transcrito 
no  texto  segue-se  no  mesmo  papel  mais  isto:  "Outro  assento  que 
está  no  dito  livro,  fl.  76.  Outra  torre  e  lanço  de  muro  trazem  os  her- 
deiros de  Lourenço  de  Faria.  E  não  dizem  mais  os  ditos  assentos,  e 
os  que  estão  no  dito  livro  antes  delles  dizem,  que  as  casas  nelles 
declaradas  estão  na  rua  que  vai  da  porta  do  Ferro  para  os  paços 
pela  calçada  acima,,. 


336  ESTUDOS 

e  um  palácios  de  Lisboa.  Nella  são  mencionadas  entre 
o  do  Contador  mór  (D.  Dinis  de  Almeida)  á  porta  da 
Alfôfa  "',  e  o  de  D.  Garcia  de  Noronha  em  frente  de 
S.  Crispim  ",  por  estas  palavras:  "Item  —  Francisci  de 
Faria,  in  quo  habitavit  111.""'""  D.  Cardinalis  Infans  Por- 
tugalliae»i  '-'. 

Aquelle  Cardeal  Infante  seria  D.  Afonso  falecido  em 
1540,  on  D.  Henrique  purpurado  em  1545?  —  A  lista 
dos  palácios,  apesar  de  nella  vir,  ainda  em  seu  nome,  o 
de  Francisco  de  Faria  falecido  em  1554,  não  pôde  ser 
comtudo  muito  anterior  a  1566,  porque  nella  ha  refe- 
rencia á  ermida  de  S.  Crispim  começada  a  edificar  em 
1563.  Pode  pois  ter  sido  qualquer  dos  cardeaes  o  ilustre 
inquilino  da  casa  dos  Farias;  creio  porem  que  dos  dois 
irmãos  o  lá  morador  foi  o  mais  velho.  Fundo-me  em  pala- 
vras do  próprio  autor  do  rol  dos  palácios.  Referindo-se  elle 
ao  do  Conde  de  Tentúgal  junto  á  igreja  de  Santiago, 
diz:  "in  quo  habitavit  \\\.mu* Dominas  meus  Cardinalis 
Infans  Portugalliae,,.  Este  é  que  havia  de  ter  sido  o  Car- 
deal D.  Henrique,  meu  senhor,  para  quem  a  lista  foi 
organizada.  Alem  disto,  também  sei  por  documentos  que 
vi,  ter  aquelle  Francisco  de  Faria,  I  do  nome,  residido 
mais  em  Palmella,  onde  se  mandou  sepultar,  do  que  em 
Lisboa. 

As  casas  de  Antão  de  Faria  em  1511  não  chegavam 
até  á  rua  de  Jerusalém,  como  se  vê  na  planta.  Elias  então 
partiam  do  nascente  com  Santo  Eloi,  "até  entestarem 
com  casas  da  Senhora  Rainha  D.  Leonor  da  banda  do 
norte,  e  vai  partindo  com  ellas,  e  toma  a  dita  rua  que 


te  palácio  do  Contador  mór  era  situado  ao  norte  cia  porta  da 
Alfôfa,  e  em  1771,  como  logo  direi,  pertencia  ao  Duque  de  Cadaval. 

11  No  palácio  de  D.  Garcia  de  Nor<  nha  fundou-se  depois  o  semi- 
nário de  S.  Patrício. 

'-'  Visconde  Júlio  do  Castilho,  Lisloa  antiga,  part.  2.a,  vol.  VI I 
paj.  466. 


O   CAMAREIRO  337 

vai  por  baixo  d^>  arco  (a  do  Arco  do  Mira),  etc.«  l:. 
Consta-me  porem  que  no  morgado  de  Palmella,  ins- 
tituído em  1572  por  Antão  cie  Faria,  neto  do  Camareiro, 
se  compreendia  uma  casa  ria  rua  de  Jerusalém.  Consta- 
me  também  que  Francisco  de  Faria,  II  do  nome,  neto 
daquelle  Antão,  comprara  em  1Ó3S  umas  casas  na  tra- 
vessa "que  vai  para  Santo  Eloi.,,  a  qtial  era  a  referida 
rua;  e,  finalmente,  que  uma  neta  de  Francisco,  D.  Joana 
Micaella  de  Meneses,  adquirira  mais  duas  casas  junto 
cás  grandes  e  as  unira  ao  morgado  da  sua  familia  '''.  Foi 
depois  destas  aquisições,  que  o  prédio  alcançou  pelo 
norte  a  confrontação  com  a  rua  de  Jerusalém. 

O  certo  é  terem-se  encontrado  em  1771  no  bairro  do 
Castello,  na  freguesia  de  S.  Bartolomeu,  "umas  casas, 
que  também  estão  arruinadas  pelo  terremoto,  que  foram 
do  Desembargador  Manuel  Pinto  de  Mira,  e  depois  de 
seu  filho  o  Desembargador  José  Falcão  de  Sousa,  e 
depois  dos  Padres  da  congregação  do  Oratório  de 
S.  Filippe  Neri,  e  por  se  compensar  a  estes  o  chão  delias, 
para  o  seu  convento  do  Espirito  Santo,  na  rua  Nova  do 
Almada,  ficou  o  dito  chão  (o  do  Mira)  pertencendo  á 
Inspecção  (a  da  reedificação  de  Lisboa);  cujas  casas  são 
por  de  trás  do  convento  dos  Lóios,  com  frente  na  rua 
que  vai  das  portas  da  Alfôfa  para  a  rua  dos  Cóne- 
gos, e  tinham  arcos  na  frente  ...  A  frente  das  ditas  casas 
pela  dita  rua  chamada  do  Arco  do  Mira,  que  desce  para 
a  dos  Cónegos,  se  achou  ter  duzentos  e  vinte  e  dois 
palmos  (48m,84);  e  pela  rua  de  Jerusalém,  oitenta 
(17m,ó0);  e  de  fundo,  pelo  lado  do  nascente  opposto  á 
frente  do  arco  do  Mira,  quarenta  e  três  e  meio  (9m  57); 
mais  de  resalto  até  ao  convento  dos  Lóios,  vinte  e  cinco 
(5m,50);  contando  ao  fundo,  vinte  (4m,40);  resalto  para 


13  Escritura  de  4  de  fevereiro  de  1511,  já  citada. 

11  Documentos  do  cartório  do  Conde  das  Alcáçovas. 

22 


338  ESTUDOS 

dentro  do  mesmo  chão  da  dita  propriedade,  quarenta  e 
três  (9m,46);  continua  ao  fundo,  vinte  e  seis  (5m,72);  de 
resalto  para  os  Lóios,  doze  (2»\64);  e  continua  mais  ao 
fundo  com  setenta  e  nove  (17m,3S);  e  de  resalto  para 
dentro  do  chão,  cinco  (1"\10);  fecha  pelo  sul  com  qua- 
renta e  cinco,,  (Q'",90)  i:i. 

Falta-me  declarar  onde  fui  saber  o  numero  de  janel- 
las  que  tinham  as  casas  de  Antão  de  Faria,  e  a  ocasião 
em  que  ellas  saíram  para  fora  da  família.  Vamos  a  isso. 

Francisco  de  Faria,  o  II  do  nome,  terceiro  neto  do 
Camareiro  de  D.  João  II,  fez  em  1612  obras  de  repara- 
ção na  casa  do  seu  morgado,  como  consta  dos  dois 
seguintes  recibos,  ambos  guardados  no  cartório  do 
Conde  das  Alcáçovas. 

"Digo  eu,  João  Fidalgo,  mestre  pedreiro,  que  é  ver- 
dade que  eu  estou  pago  e  satisfeito  de  toda  a  obra  que 
fiz  ao  sr.  Francisco  de  Faria  para  as  suas  casas  da  porta 
da  Alfôfa,  em  que  o  dito  sr.  mora  em  Lisboa,  e  por 
assim  passar  na  verdade  assinei  este  em  Lisboa,  hoje 
3  de  Julho  de  612  annos,  e  declaro  que  a  dita  obra  são 
uns  dez  janellas  de  pedraria,  as  quaes  me  obriguei  a 
dar  lavradas  á  porta  das  mesmas  casas  da  porta  da 
Alfôfa.  Eu,  Constantino  de  Abreu,  fiz  este  e  me  assinei 
aqui.,, 

"Digo  eu,  Gonçalo  Carvalho,  que  estou  pago  de  toda 
a  obra  que  fiz  ao  sr.  Francisco  de  Faria,  alcaide  mór  de 
Palmella,  para  as  suas  casas  da  porta  da  Alfôfa,  a  qual 
obra  foram  dez  grades  de  sacada,  e  mais  sessenta  e  cinco 
arráteis  que  também  entraram  na  dita  obra,  e  por  me 
não  ficar  devendo  nada  pedi  a  Constantino  de  Abreu 
que  este  fizesse  para  o  eu  assinar,  em  Lisboa,  hoje  9  de 
acosto  de  612... 


''  Tombo  da  cidade  de  Lisboa,  liv.  1.°.  Castello,  fl.  19  v.,  na  Torre 
do  Tombo. 


O  CAMAREIRO  339 

De  uns  apontamentos  da  letra  de  Francisco  de  Faria 
consta,  que  as  dez  grades  custaram  sessenta  mil  réis;  e 
a  "linha  de  ferro  para  a  sala  (os  taes  sessenta  e  cinco 
arráteis  a  mais?),  oito  mil  réis.» 

O  ultimo  Faria,  possuidor  das  casas  da  porta  da 
Alfôfa,  foi  D.  Antão  de  Faria  da  Silva,  Prior  mor  de 
Palmella,  filho  deste  Francisco  de  Faria  acima  mencio- 
nado. Morou  o  D.  Prior  por  vezes  naquellas  casas,  das 
quaes  pagava  oito  mil  réis  de  decima  (felizes  tempos!); 
mas  foi  em  Palmella,  segundo  parece,  que  elle  morreu 
no  dia  12  de  junho  de  1675  l6. 

A  elle  sucedeu  no  vinculo  sua  sobrinha  D.  Maria 
Luisa  Pereira  de  Meneses  e  Faria,  filha  de  sua  irmã 
D.  Juliana  de  Meneses  e  de  Brás  Pereira  de  Miranda, 
fidalgo  do  Porto.  Casou  D.  Maria  Luisa  com  D.  Hen- 
rique Henriquez,  senhor  das  Alcáçovas,  e,  sendo  já  viuva 
e  tendo  o  consentimento  de  seu  filho  e  imediato  su- 
cessor D,  Jorje  Henriquez,  senhor  da  mesma  vila,  pediu 
a  el  Rei  autorização  para  vender  as  casas  da  porta  da 
Alfôfa,  "que  estavam  summamente  arruinadas,  promet- 
tendo  ruina  pela  sua  muita  antiguidade,,,  pelo  preço  de 
dez  mil  cruzados,  obrigando-se  a  subrogar  aquella  quan- 
tia nas  casas  de  Santa  Caterina,  que  D.  Jorje  comprara 
por  sessenta  mil  cruzados,  "que  eram  nobilissimas  e 
novas,».  Foi  concedida  a  licença  por  provisão  de  15  de 
junho  de  1703  i:. 

Aquellas  casas  de  Santa  Caterina,  arrasadas  pelo  ter- 
remoto e  hoje  substituídas  pelos  prédios  do  pateo  do 
Lancastre,  haviam  sido  compradas  por  D.  Jorje  Henri- 
quez, antes  de  4  de  julho  de  1699,  a  Gonçalo  José 
de  Carvalho  Patalim  l8,  como  declara  o  documento  cita- 


16  Cartório  do  Conde  das  Alcáçovas. 

'"  Doações  de  D.  Pedro  II,  liv.  45.o,  fl.  169  v. 

1S  Ibidem,  liv.  53.o,  fl.  ISO  v. 


340  ESTUDOS 

do;  mas  seria  aos  seus  herdeiros,  porque  aquelle  fidalgo, 
que  foi  provedor  das  obras  dos  paços  e  casas  reaes, 
parece  ter  morrido  a  30  de  agosto  de  1698  ' '. 

O  comprador  das  casas  da  porta  da  Alfôfa  foi  o  ba- 
charel Manuel  Pinto  de  Mira,  nomeado  correjedor  do 
crime  do  bairro  Alto  por  carta  de  12  de  maio  de  1705, 
"pelo  bem  que  me  serviu  na  commissão  da  condução, 
que  se  lhe  encarregou,  de  conduzir  as  equipagens  da 
corte  dei  Rei  Catholico  (o  pretendente,  depois  o  impe- 
rador Carlos  VI)  na  campanha  passada,  e  á  despesa  que 
fez  na  jornada-. 

Para  desempenhar  comissões  daquellas  era  preciso 
ser-se  abonado,  e  delias  resultava  geralmente  ficar-se 
rico.  Outro  tanto  provavelmente  sucedeu  ao  Mira,  pos- 
teriormente promovido  a  desembargador  de  agravos  da 
Casa  da  Suplicação,  por  carta  de  18  de  janeiro  de  1725. 
Delle  tomou  o  nome  a  rua  que  passava  por  baixo  das 
suas  casas. 

Estas  ainda  pertenceram  a  seu  filho,  o  desembargador 
osé  Falcão  de  Sousa,  a  respeito  do  qual,  chamando-lhe 
osé  Pinto  de  Mira  Falcão,  declara  em  1759  o  autor  da 
Academia  dos  humildes,  que  morrera  na  Congregação  do 
Oratório.  A  ella,  provavelmente  em  testamento,  deixou  as 
suas  casas  da  porta  da  Alfôfa,  pelo  chão  das  quaes,  como 
mostra  a  parte  lá  acima  transcrita  de  um  documento,  se 
deu  aos  Oratorianos,  depois  do  terremoto,  compensação 
em  terrenos  na  rua  Nova  do  Almada,  junto  ao  seu  con- 
vento do  Espirito  Santo.  Ficaram,  em  virtude  desta  troca, 
á  Inspecção  das  Obras  da  Cidade  as  minas  das  casas  de 
Antão  de  Faria,  das  quaes  ella  dispôz,  e  hoje  encontra- 
se  tudo  ocupado  por  modestos  prédios,  entre  as  esca- 
dinhas de  S.  Crispim  e  a  rua  da  Saudade,  aberta  ao 
fundo  dos  terrenos  das  casas  do  Camareiro  de  D.  João  II. 


111  Sousa,  Hisí.  Genealógica,  vol.  XI,  paj.  238. 


O  CAMAREIR<  I  341 

O  chão  marcado  na  planta  com  a  letra  1;  vicia  a 
pertencer,  como  já  fica  dito,  a  D.  Afonso  de  Meneses, 
filho  primogénito  do  2.°  Conde  de  Penella,  D.  Jofio  de 
Vasconcellos  e  de  Meneses,  a  quem  D.  Afonso  suce- 
deu na  casa  pelos  annos  de  1541  ou  42.  Já  então  era 
Arcebispo  de  Lisboa  o  irmão  do  Conde,  D.  Fernando 
de  Vasconcellos  e  de  Meneses,  que  morreu  em  1564. 

Durante  o  episcopado  de  seu  tio,  em  17  de  oitubro 
de  1563,  doou  D.  Afonso  de  Meneses  aos  sapateiros  da 
confraria  de  S.  Crispim  aquelle  chão,  no  qual  "estava 
uma  amoreira»,  e  do  qual  elle  não  era  bem  certo  de  ser 
o  lejitimo  possuidor. 

D.  Afonso,  bem  como  D.  João  de  Abranches  seu  an- 
tecessor na  posse  da  torre  e  casas  marcadas  na  planta 
em  B,  ia  chamando  seu  a  tudo  quanto  ficava  de  roda 
delias;  acautelou-se  porem  D.  Afonso  neste  caso,  sujei- 
tando a  doação  á  aprovação  da  Camará  de  Lisboa,  para 
lhe  não  suceder  como  a  D.  João  que  dera  a  Dinis  Eanes . 
um  chão  ali  ao  pé  (A),  o  qual  depois  se  reconheceu  não 
pertencer  ao  doador. 

A  medição  do  terreno  foi  feita  em  15  de  novembro, 
e  encontraram-lhe  setenta  palmos  (15m,40)  de  comprido 
pelo  nascente,  partindo  com  barbacan  da  cidade  per- 
tencente a  Antão  de  Faria,  o  Ií  do  nome;  pelo  sul,  cin- 
coenta  e  sete  palmos  (12nl,54),  confrontando  com  chão 
do  mesmo  Antão  de  Faria.  Do  poente,  a  correr  com  rua 
publica,  que  seguia  para  a  porta  da  Alfôfa  (a  Calçada, 
que  em  toda  a  testada  do  chão  tinha  trinta  e  quatro 
palmos,  7ra,48,  de  largo),  mediram  oitenta  e  dois  pal- 
mos (18m,04).  Todo  o  chão  era  da  forma  de  uma  espé- 
cie de  triangulo  :,). 

No  chão  doado  edificaram  os  sapateiros  de  Lisboa  a 


20  Visconde  Júlio  de  Castilho,  Lisboa  antiga,  part.  2.;>,  vol.  VI, 
paj.  141c  142,  citando  os  livros  da  irmandade  de  S.  Crispim. 


342  ESTUDOS 

primitiva  ermida  de  S.  Crispim,  a  qual,  depois  de  ar- 
ruinada pelo  terremoto,  foi  reconstruída  noutro  sitio,  um 
pouco  mais  abaixo. 

Onde  na  planta  se  vê  a  letra  F,  haviam  de  ter  sido 
"as  casas  pequenas  que  fez  Pêro  da  Alcáçova,  que  ora 
são  da  Condessa  de  Penamacor,  que  estão  á  porta  da 
Alfôfa  quando  entram  á  mão  direita.,,  E  certo  por  tanto 
terem  aquellas  casas  existido  naquelle  sitio;  mas  também 
é  certo,  não  haver  eu  encontrado  campo  para  ellas  em 
nenhum  dos  mapas  que  vi.  Ha  referencias  a  ellas  nou- 
tros documentos,  nenhumas  porem  são  de  molde  a  re- 
solverem o  caso. 

Encontrei-as,  já  depois  disto  composto;  e  confesso 
ter  já  para  ellas  reparado  no  Tombo  da  cidade,  mas  pu- 
las de  parte  levianamente,  por  me  não  ocorrer  que  o  mo- 
desto Pêro  da  Alcáçova  tivesse  sido  ascendente  de  uma 
Duquesa  de  Cadaval 21.  A  introdução  das  casas  na  minha 


21  No  já  citado  liv.  l.o  do  Tombo  da  cidade  de  Lisboa  encontra-se, 
na  fl.  10  v.,  a  medição,  feita  a  10  de  agosto  de  1771,  de  umas  casas 
do  Duque  de  Cadaval. 

Confrontavam  pelo  norte  com  casas  de  D.  Inês  de  Salasar,  ou  de 
seus  herdeiros;  pelo  poente,  com  sequeiro  do  desembargador  José  Ri- 
calde  Pereira  de  Castro;  pelo  sul,  com  arco  das  portas  de  Alfôfa;  e 
pelo  nascente,  com  a  rua  que  vai  para  o  Castello.  Medição:  "de  fren- 
te, até  ao  angulo,  cincoenta  e  sete  palmos  e  meio  (12™, 05),  e  delle, 
até  ao  fim  do  arco,  tem  mais  de  frente  cincoenta  e  um  palmos  (llm,22); 
e  pelo  lado  do  norte  tem  de  fundo  sessenta  e  três  (13m, 80),  resalto 
para  dentro  das  casas,  vinte  e  quatro  (5m,28),  continua  maisaofuudo 
com  vinte  e  oito  (O»1, 10);  lado  opposto  á  frente,  cem  (22"1);  continua 
o  lado  que  serve  de  quintal,  sessenta  e  nove  e  meio  (15m,29);  lado  do 
fundo  do  quintal,  sessenta  e  cinco  (14»i,30);  resalto  para  dentro  do 
quintal  e  produzido  por  detraz  da  muralha  do  castello,  cincoenta 
(11'")  por  trinta  e  dois  (7>», 04)  das  casas;  e  mede  ao  fundo  do  dito 
quintal,  por  de  traz  da  muralha,  cento  e  oito  (23m,7õ).  E  sua  figura 
mostra  a  letra  E. 

"Tem  mais  unia  casa  por  cima  do  arco  das  portas  de  Alfôfa,  tendo 
passadiço  por  cima  delia  paia  a  rua  que  vai  para  o  arco  do  Mira, 
que  tem  por  esta  rua,  de  frente,  trinta  e  três  palmos  (7™,26)  juntos 
com  o  vão  do  arco;  e  de  fundo,  no  arco,  doze  (2m.64);  e  de  frente 


O   CAMAREIRO  343 

planta  altera-a  alguma  coisa,  nada  porem  que  possa  in- 
fluir no  meu  arrazoado.  Com  elle  irei  continuando,  re- 
conhecendo mais  uma  vez  quanto  este  género  de  estu- 
dos está  sujeito  a  muitas  e  variadas  continjencias. 

Não  ha  duvida  de  por  aquelles  arredores  da  porta 
da  Alfôfa  haverem  vivido,  e  tido  casas,  as  três  filhas  do 
Escrivão  da  fazenda  de  D.  João  II. 

Em  1511,  nas  casas  á  porta  da  Alfôfa,  que  confronta- 
vam com  as  de  Antão  de  Faria,  vivia  o  Secretario  An- 
tónio Carneiro,  já  então  senhor  da  ilha  do  Príncipe  e 
marido  de  D.  Beatriz  da  Alcáçova.  João  da  Fonseca, 
escrivão  da  fazenda,  senhor  das  ilhas  de  Santo  Antão, 
Flores  e  Corvo,  e  marido  de  Margarida  da  Alcáçova, 
tinha  casas  para  esses  sitios,  visto  declarar-se  em  do- 
cumentos haver  uma  rua  que  ia  das  portas  da  Alfôfa 
para  as  casas  delle.  Em  chegando  á  letra  H  explicarei. 
Francisco  de  Matos,  marido  de  Isabel  da  Alcáçova,  a 
terceira  filha  de  Pêro  da  Alcáçova,  também  por  aí 
morava,  como  consta  do  que  vou  transcrever. 

"As  casas  da  Rainha,  nossa  Senhora,  que  Santa  Glo- 
ria haja  (a  Rainha  D.  Leonor),  teem  um  cano  que  vem 
da  sua  cozinha,  e  vem  ter  abaixo  da  porta  da  Alfôfa,  e 
neste  cano  teem  serventia  o  Secretario,  e  Francisco  de 
Matos,  e  João  da  Fonseca»  --.  Este  cano  só  podia  seguir 
pela  rua  da  Amargura,  como  logo  direi,  e  por  tanto  as 
casas  dos  três  cunhados  ficavam  nessa  rua  e  na  sua  pro- 
longação  até  á  porta  da  Alfôfa. 


para  a  dita  rua  do  Arco  do  Mira,  cincoenta  e  três  palmos  (11»', 66); 
de  fundo,  vinte  e  três  (5™, 06),,. 

Estas  segundas  casas  é  que  eram  "as  pequenas  que  fez  Pêro  da 
Alcáçova  á  porta  de  Alfôfa,  quando  entram  á  mão  direita... 

Todo  o  prédio  formava  pelos  annos  de  1566  o  palácio  do  Conta- 
por  niór,  a  que  já  lá  atrás  aludi. 

-Vide  uma  lista  dos  canos  de  Lisboa  publicada  pelosr.  Freire  de 
Oliveira  a  paj.  549  do  I  vol.  dos  Elementos  para  a  historia  do  mu- 
nicípio de  Lisboa. 


344  ESTUDOS 

A  viuva  de  João  da  Fonseca,  Margarida  da  Alcáçova, 

foi  confirmada,  por  carta  de  0  de  agosto  de  1525,  a  posse 
do  corredoiro  do  muro,  que  está  nas  suas  casas  em  Lis- 
boa,  pela  maneira  por  que  o  tinha  seu  marido  -"'.  Estas  ca- 
sas e  lanço  da  muralha  eram  porem  situadas  ao  norte  da 
porta  da  Alfôfa,  junto  á  porta  de  S.  Jorje.  Vou  mostra-lo. 

Por  escritura  de  5  de  março  de  1499  aforou  a  cidade 
a  João  da  Fonseca  um  chão  por  cincoenta  reaes.  Em 
1522,  por  falecimento  do  foreiro,  passou  o  chão  a  seu 
filho  António  (aliás  Antão)  da  Fonseca,  e  deste  o  her- 
dou sua  viuva  D.  Leonor  de  Miranda.  Na  posse  desta 
senhora  estava  o  tal  chão  em  1573,  quando  foi  medido 
e  confrontado,  como  consta  do  seguinte  assento:  "Um 
chão  em  que  está  feito  um  laranjal  e  parreiral  em  Alcá- 
çova, junto  da  porta  de  S.  Jorge,  antes  de  chegar,  e 
está  á  mão  esquerda  indo  para  o  eastello,  pegando  com 
o  muro,  e  de  trás  das  casas  de  D.  Leonor  de  Miranda, 
o  qual  está  ladrilhado  e  cercado  de  parede  alta... 
Da  banda  do  norte  parte  com  muro  da  cidade,  e  ao 
longo  delle  tem  de  comprimento  vinte  e  três  varas;  da 
banda  de  levante  parte  com  casa  de  D.  Leonor  de  Mi- 
randa, e  tem  de  largo  oito  varas;  do  sul,  com  quintal 
de  D.  Joana,  viuva,  molher  do  Contador  mór  que  Deos 
haja,  e  da  dita  banda,  ao  longo  da  parede  que  vai  entre 
um  e  outro,  tem  de  comprimento  outras  vinte  e  três 
varas;  do  poente,  com  o  dito  quintal  delia  D.  Joana  e 
com  um  miradoiro  da  dita  D.  Leonor,  e  da  dita  banda, 
ao  longo  da  parede,  outras  oito  varas,,  24. 

Aquella  D.  Joana,  viuva  do  Contador  mór,  também 
descendia  de  Pêro  da  Alcáçova.  Chamava-se  D.  Joana 
da  Silveira,  e  era  filha  de  seu  neto  o  Secretario  Fran- 


(  hancelaria  de  D.João  111,  Mv.  8.o  de  Doações,  El.  101. 
-'  Liv.  2.o  do  Tombo  das  propriedades  foreiras  á  Camará  . . .  colli- 
gidas...  pelo  licenciado  Luiz  Lourenço,  íl.  295  v.  Está  no  arquivo 
da  Camará  Municipal  de  Lisboa. 


O   CAMAREIRO  345 

cisco  Carneiro,  2."  senhor  da  ilha  do  Príncipe,  primo 
com  irmão  de  Antão  da  Fonseca,  marido  de  D.  Leonor 
de  Miranda,  dona  do  chão  confrontado.  Por  aqui  se 
prova  mais  nina  vez  que  todos,  ou  quasi  todos,  os  pros- 
simos  descendentes  do  Escrivão  da  Fazenda  de  I  K  João  il 
viveram  nas  vizinhanças  da  porta  da  Alfôfa.  Era  um 
bairro  da  família.  O  Contador  mor,  de  quem  D.  Joana 
da  Silveira  era  viuva,  chamou-se  D.  Dinis  de  Almeida 
e  de  uma  sua  neta  e  herdeira  é  que  descendeu  a  Du- 
quesa de  Cadaval,  a  que  acima  aludi. 

As  casas  pequenas  á  porta  da  Alfôfa  feitas  por  Pêro  da 
Alcáçova,  as  quaes  em  1501,  segundo  resa  a  muito  ci- 
tada carta  de  aforamento,  eram  da  Condessa  de  Pena- 
macor, e  em  1511  do  Secretario  António  Carneiro, 
acham-se  ligadas  a  uns  poucos  de  nomes  conhecidos 
na  historia  de  Portugal. 

O  edificador,  Pêro  da  Alcáçova,  foi  o  escrivão  da 
fazenda  de  D.  Afonso  V  e  D.  João  II  já  neste  estudo,  lá 
muito  atrás,  mencionado.  Não  creio  que  tivesse  nunca 
vendido  as  suas  casas  á  Condessa  de  Penamacor,  fidalga 
pobre;  suponho  simplesmente  haver  ella  lá  habitado  por 
aluguer.  Confirma  esta  suposição  o  facto  do  prédio  em 
1511,  sendo  ainda  a  Condessa  viva,  pertencer  a  António 
Carneiro,  genro  de  Pêro  da  Alcáçova.  Este  já  era  fale- 
cido em  8  de  junho  de  1509  -',  e  por  sua  morte  passa- 
riam as  casas  da  porta  da  Alfôfa  a  sua  filha  D.  Beatriz 
da  Alcáçova,  mulher  do  Secretario.  Nellas,  segundo  Bar- 
bosa Machado  que  numa  coisa  se  enganou  -''',  nasceu 
num   dia   29   de   junho,  o  filho  segundo  de  António 


23  Data  da  carta  de  confirmação  por  seu  falecimento  do  paul  de 
Ota  a  seu  filho  Fernão  da  Alcáçova.  Chancelaria  de  D.  Jauo  III, 
liv.  6.o  de  Doações,  fl.  140. 

28  Bib.  lusitana,    III,   547.  O  engano  do  douto  Abade  de  Seve 
consiste  em  dizer  que  as  casas  da  porta  da  Alfôfa,  onde  Pêro  da  Alcá- 
çova Carneiro  nasceu,  pertenciam  a  seu  tio  materno  Pêro  da  Alcá- 
çova;  avô  materno  é  que  elle  era.  Talvez  fosse  erro  de  impressão 


346  ESTUDOS 

Carneiro,  o  celebre  Secretario  de  Estado  Pêro  da  Alcá- 
çova Carneiro,  Conde  da  Idanha  a  Nova  por  alvará  de 
lembrança  de  1  de  novembro  de  1581,  confirmado  por 
carta  de  2  de  janeiro  de  1584  -". 

A  Condessa  de  Penamacor,  D.  Leonor  de  Noronha, 
quando  em  1501  habitava  nas  casas  á  porta  da  Alfôfa, 
era  viuva  havia  uns  oito  annos.  Seu  marido,  Lopo  de 
Albuquerque,  camareiro  mór  muito  aceito  a  D.  Afonso  V, 
fora,  junto  dos  descontentes  fidalgos  castelhanos,  talvez 
o  principal  negociador  do  casamento  dei  Rei  com  a 
Beltraneja  e  da  desastrosa  invasão  de  Castella.  Por  isso, 
logo  que  em  Placencia  se  celebraram  os  desposorios  de 
D.  Afonso  V  com  a  Princesa  D.  Joana,  quando  tudo 
ainda  corria  auspiciosamente,  deu  el  Rei,  nos  últimos 
dias  de  maio  de  1475,  ao  seu  Camareiro  mór,  em  galar- 
dão dos  seus  serviços,  o  titulo  de  conde  de  Penamacor, 
e  seguidamente  fez-lhe  muitas  outras  mercês.  D.  João  II 
porem,  sucedendo  na  coroa,  tirou  ao  Conde  a  rejedoria 
da  Casa  do  Civel  de  Lisboa,  e,  ainda  que  lha  pagou 
com  uma  tença  de  duzentos  mil  reaes,  não  deixou  satis- 
feito a  D.  Lopo,  que  por  este,  e  talvez  outros  motivos, 
se  alistou  em  1484  na  conspiração  do  Duque  de  Viseu. 
Descoberta  ella,  teve  o  Conde  finalmente  de  fujir  do 
reino,  decaindo  de  todas  as  grandezas,  e  depois  de  va- 
rias aventuras  foi  morrer  a  Sevilha  "2S. 

Estes  successos  ficaram  na  memoria  de  Duarte  da 
Gama,  um  dos  poetas  do  Cancioneiro : 


Lembra  me  Penamacor 
como  foy  já  prosperado, 

e  depoys  foy  desterrado 
do  reyno  com  tanta  dor  -"'. 


27  Doações  de  D.  Filipe  I,  liv.  4.°,  fl.  266  v. 

28  Liv.  2."  dos  Brasões  de  Cintra,  paj.  392. 
■•':l  Cancioneiro  geral,  ti.  H4,  col,  3.a. 


O   CAMAREIRO  347 

D.  Leonor  de  Noronha,  Condessa  de  Penamacor,  era 
filha  do  turbulento  Arcebispo  de  Lisboa  D.  Pedro  de 
Noronha,  bisneta  dos  Reis  D.  Henrique  II  de  Castella  e 
D.  Fernando  de  Portugal,  irmã  da  Marquesa  de  Monte- 
mor e  da  Condessa  de  Abrantes,  e  sobrinha  dos  Con- 
des de  Vila  Real  e  de  Odemira  e  da  Duquesa  de  Bra- 
gança D.  Constança.  Apesar  de  toda  a  sua  altíssima 
fidalguia  padeceu  D.  Leonor  privações  lá  fora  e  até  cá 
no  reino,  para  onde  regressou  por  morte  de  D.  João  II, 
valendo-lhe  D.  Manuel  com  algumas  tenças.  A  Condessa, 
que  foi  um  vivo  exemplo  das  "monstruosidades  do  tempo 
e  da  fortuna,,,  encontrou  a  morte  num  dos  annos  de 
1518  a  1520. 

No  Cancioneiro  geral  aparece  ella  designada,  numas 
trovas  de  João  Gomez  de  Abreu  escritas  em  1498,  por 
uma  forma  absolutamente  inintelijivel  para  mim: 

Fylhos  dons  Penamacor 
da  Condesa  de  liçeyra, 
o  pequeno  que  é  mayor, 
tem  Macedo  por  terceyra  ''. 

Liceira,  que  nem  chego  a  saber  se  é  nome  de  terra 
(existe  um  logar  de  Liceiras  na  freguesia  de  Asmes),  se- 
ria apenas  palavra  inventada  pelo  poetastro  para  rimar 
com  terceira?  ou  nella  existirá  alguma  alusão?  Não  sei. 
E  charada  por  ora  indecifrável  para  mim,  como  aliás 
varias  outras  da  compilação  de  Resende. 

A  porta  da  Alfôfa  está  marcada  na  planta  em  G. 

Defronte  delia  existiam  em  1771  umas  casas  velhas, 
denominadas  o  Monturo.  Do  cunhal  destas  casas  até  á 
porta  mediram  de  comprimento  vinte  e  dois  palmos; 


:!l'  Cancioneiro  geral,  fl.  191.  col.  l.a 


34S  ESTUDOS 

de  largura  da  porta,  trinta  c  um;  e  quarenta  e  cinco  de 
comprimento  da  mesma  M. 

Antes  de  entrar  a  porta  via-se  na  parede  do  lado  di- 
reito nma  cruz,  chamada  a  Cruz  da  porta  da  Alíôfa. 
Aquella  parede,  que  continuava  para  o  poente  a  da 
estrema  norte  da  propriedade  de  Antão  de  Faria,  vedava 
um  chão  da  cidade  que  em  1573  andava  aforado  a 
Pedr'Eannes,  ourives;  chão  que  tinha  quasi  a  forma  de 
um  triangulo,  no  vértice  do  qual  se  fazia  a  voita  da 
Calçada  para  a  porta  da  Alfôfa  '"'-. 

Sobre  a  porta,  da  banda  de  dentro,  havia  em  1750 
um  nicho  com  uma  imajem  de  santo  António;  e  na 
parede  da  esquerda,  olhando  para  a  imajem,  estava  um 
painel  de  azulejos  no  qual  se  representava  o  milagre  do 
santo,  quando  foi  livrar  o  pai  da  forca  :{:!.  A  parede,  onde 
o  quadro  se  via,  era  a  das  casas  que  haviam  sido  de 
Pêro  da  Alcáçova,  e  não  a  das  de  Antão  de  Faria  que 
não  chegavam  até  lá  tanto  acima. 

O  sitio  da  porta  da  Alfôfa  correspondia  aprossimada- 
mente  á  actual  esquina  das  ruas  do  Milagre  de  Santo 
António  e  de  S.  Bartolomeu,  um  pouco  mais  ao  poente. 

Todo  o  chão  marcado  na  planta  com  a  letra  H  per- 
tencia em  1771  a  José  António  Freire  de  Andrada, 
2.°  Conde  de  Bobadella  por  carta  de  9  de  maio  de  1763, 
em  sucessão  ao  1.°  Conde  seu  irmão,  o  tenente  general 
Gomes  Freire  de  Andrada,  notável  governador  e  capi- 
tão general  que  havia  sido  do  Rio  de  Janeiro  e  Minas. 

No  chão  existiam,  arruinadas  pelo  terremoto,  umas 
casas  grandes  com  a  frente  para  a  rua  das  Portas  da 


31  Tombo  da  cidade  de  Lisboa,  liv.  l.q,  Castcllo,  fl.  .4  v. 

:i-  Cit.  liv.  2.°  do  Tombo  das  propriedades  forciras  á  Camará,  fl. 

yi   Fr.   Apolinário  da  Conceição,  Demonstraçam   histórica,   paj. 
1S7. 


O   CAMAREIRO  349 

Alfôfa,  para  onde  mediam  duzentos  e  quarenta  e  quatro 
palmos  (53m,68),  desde  a  esquina  do  beco  ou  rua  da 
Amargura  para  cima.  Voltavam  depois  para  esta  rua,  que 
tomavam  toda,  medindo  de  comprimento  cento  e  qua- 
renta e  cinco  palmos  (31"\90);  chegadas  ao  fim  da  rua, 
tinham  de  frente  para  o  largo  de  S.  Bartolomeu  qua- 
renta e  quatro  palmos  (9"\68)  até  ao  angulo  reintrante, 
e  delle  seguiam  com  trinta  e  nove  palmos  e  meio  (8m,ó9) 
entrando  na  pia  por  de  trás  da  igreja  ;'. 

Neste  chão  existia  no  século  xvi,  segundo  creio, 
a  casa  dos  Fonsecas:  João,  senhor  das  ilhas  de  Santo 
Antão,  Flores  e  Corvo,  escrivão  da  fazenda,  e  marido 
de  Margarida  da  Alcáçova;  e  Antão,  seu  filho  segundo, 
também  escrivão  da  fazenda,  que  sucedeu  nas  casas  a 
seu  pai,  tendo  as  ilhas  ficado  ao  irmão  mais  velho,  Pêro 
da  Fonseca. 

João  da  Fonseca  parece  ter  morrido  a  22  de  agosto 
de  1522,  como  declarava  o  seu  epitáfio  na  capella  de 
SanfAna  da  igreja  de  S.  Bartolomeu  :;:i.  Ainda  vivia 
porem,  quando  D.  Leonor,  viuva  de  D.  João  II,  fez  o  seu 
testamento,  porque  numa  verba  delle  declara  a  Rainha 
possuir  varias  casas  que  havia  comprado  de  redor  das 
de  sua  morada  em  Lisboa,  umas  debaixo  do  eirado, 
outras  sob  a  Casa  de  Jerusalém,  e  ainda  outras 
"ao  longo  da  rua  que  vai  para  onde  vive  João  da 
Fonseca,;.  Posteriormente,  numa  certidão  passada  em 
1538,  por  tanto  já  depois  da  morte  de  João  da  Fon- 
seca, afirma-se  que  uma  das  taes  casas  compradas  por 


34  Tombo  da  cidade,  liv.  l.o,  Castello,  fl.  18  v. 

30  Visconde  Júlio  de  Castilho,  Lisboa  antiga,  part.  II,  vol.  VII, 
paj.  S.  -  A  29  daquelle  mês  de  agosto  já  era  morto  com  certeza,  como 
declara  a  carta  dessa  data  de  confirmação  a  Antão  da  Fonseca  da 
adiça  no  termo  de  Almada,  vaga  por  morte  de  seu  pai  João  da 
Fonseca.  Liv.  46.«  de  Doações  de  D.João  III,  fl.  160  v.,  impressa 
pelo  dr.  Sousa  Viterbo  a  paj.  13  das  Artes  e  industrias  metallicas 
em  Portugal.  Minas  e  mineiros. 


350  ESTUDOS 

D.  Leonor  de  roda  das  suas,  estava  na  "rua  que  vai  das 
portas  da  Alfôfa  para  as  casas  de  Antão  da  Fonseca,,  36. 
Aquella  rua  não  podia  ser  senão  a  da  Amargura,  ou  a 
de  Jerusalém,  porque  entre  ellas  ficavam  os  paços  da 
Rainha.  Se  a  rua  fosse  a  de  Jerusalém,  era  mais  provável 
designar-se  como  rua  que  ia  das  portas  da  Alfôfa  para 
Santo  Eloi,  forma  por  que  a  encontro  determinada  nal- 
guns documentos.  Mas  ha  mais  ainda,  para  prova  da 
rua  ser  a  da  Amargura. 

A  cozinha  dos  paços  de  D.  Leonor  ficava  pegada  e 
ao  norte  das  casas  em  I',  e  por  tanto  deitava  para  a  rua 
da  Amargura.  Ora  eu  já  apresentei  o  documento  por 
onde  se  prova  que  da  tal  cozinha  saía  um  cano  de  des- 
pejos que  ia  terminar  a  baixo  da  porta  da  Alfôfa.  Repare 
o  leitor  para  a  planta,  e  verá  que  esse  cano  não  podia 
ter  outra  directriz  a  não  ser  pela  rua  da  Amargura  a 
baixo  até  á  referida  porta.  Está  convencido?  Pois  desse 
cano  também  se  serviam  as  casas  que  até  1522  foram  de 
João  da  Fonseca,  e  depois  de  seu  filho  Antão  da  Fon- 
seca. 

Viriam  as  casas  provavelmente  até  ao  recanto  de 
S.  Bartolomeu,  e  da  vizinhança  com  essa  igreja  resul- 
tou escolhe-la  João  da  Fonseca  para  jazigo  seu  e  de 
seus  descendentes,  fundando  lá  uma  capella  á  qual  vin- 
culou, alem  doutros  rendimentos,  é  provável,  uma 
renda  de  dez  mil  reaes,  da  qual  se  passou  carta  de  padrão 
em  24  de  março  de  1528  :!7. 

Passemos  agora  as  casas  da  Rainha  D.  Leonor,  que 
já  estou  com  pressa  de  lá  chegar. 

Os  paços  da  viuva  de  D.  João  II  estão  marcado^  na 
planta  em  I  e  I'. 


111  Chancelaria  de  D.  João  III,  liv.  I,.'    de  Doações,  íl.  14í). 

;"  Lousada,  Sumários  da  Torre  do  Tombo,  part.   I,  fl.  4  v.,  mihi. 


O   CAMAREIRO  351 

"Defronte  de  S.  Bartolomeu,  que  hoje  está  em  mon- 
turo, temos  (os  Lóios)  um  chão  que  antigamente  foi 
praso  da  Rainha  D.  Leonor,  e  depois  de  vários  enfiteutas, 
sequestrado  por  divida  real,  e  depois  tornado  a  restituir 
ao  Convento  por  alvará  dei  Rei  de  15  de  maio  de  1651, 
e  depois  novamente  emprasado  a  D.  Antónia  Leitão..   \ 

Logo  abaixo  continua,  transcrevendo  agora  do  Tombo 
velho:  "Item,  o  dito  Mosteiro,  logo  junto  com  a  Senhora 
Rainha  D.  Leonor,  tem  (falta  esta  palavra)  umas  casas 
(P);  rua  em  meio,  que  ora  traz  Inês  Vaz  e  sua  filha, 
em  três  pessoas,  das  quaes  ora  tem  a  dita  Senhora  o  ar 
emprasado  em  três  vidas,  e  paga  um  real  de  prata,  e 
partem  (as  casas  de  Inês  Vaz)  da  banda  do  norte  com 
a  dita  Senhora  e  sua  cozinha,  e  da  outra  parte  com  rua 
publica,  e  teem  as  ditas  casas  em  largo  oito  varas  esfor- 
çadas (8,m80),  e  em  comprido  dez  varas  menos  quarta 
(10m,725),  com  duas  lojas,  e  um  patim  que  tem  uma 
parreira,  e  isto  em  vão;  as  quaes  casas  teem  um  sobrado 
com  seus  repartimentos,  tudo  dentro  desta  medida  das 
varas;  e  tinha  serventia,  assim  para  a  rua  que  vai  da 
nossa  portaria  para  as  portas  da  Alfôfa,  como  para  a  rua 
defronte  de  S.  Bartolomeu,  sobre  que  caíam  os  paços 
da  Rainha»  39. 

A  portaria  do  convento  dos  Lóios  ficava  junto  ao 
canto,  perto  da  casa  L  na  planta,  comunicando  com  o 
claustro,  situado  ao  poente  da  igreja,  logo  por  de  trás 
delia.  Por  tanto  a  rua  que  ia  da  portaria  de  Santo  Eloi 
para  a  porta  da  Alfôfa,  era  a  de  Jerusalém,  nem  podia 
ser  outra. 

Parte  dos  paços  da  Rainha  ficava  sobre  umas  casas, 
que  estavam  "rua  em  meio.,  do  convento;  logo  eram 


;;s  Tombo  de  Santo  Eloi,  íl.  1;  liv.  17. o  dos  daquelle  mosteiro  na 
Torre  do  Tombo. 
•*'  Ibidem. 


J52  ESTUDOS 

cilas  do  outro  lado  da  rua,  a  de  Jerusalém,  e  por  tanto 
os  paços  da  Rainha,  visto  correrem  sobre  as  taes  casas, 
estendiam-se  ao  norte  daquella  rua. 

Caíam  os  paços  sobre  "a  rua  defronte  de  S.  Barto- 
lomeu ..,  a  qual  não  podia  ser  a  rua  da  Amargura,  por- 
que a  isso  se  opunha  a  medição  das  casas  por  baixo 
das  da  Rainha,  as  de  Inês  Vaz,  que  não  alcançavam 
aquella  rua,  mas  tinham  serventia,  tanto  para  a  rua 
de  Jerusalém,  como  para  a  tal  "rua  defronte  de  S.  Bar- 
tolomeu sobre  que  caíam  os  paços  da  Rainha,,. 

Esta  rua,  que  durou  até  depois  de  1541,  sei  onde  era, 
mas  não  a  marquei  na  planta  por  não  ter  dados  positi- 
vos para  o  fazer,  e  não  querer  pôr-me  a  inventar.  Partia 
ella  da  portaria  do  convento  de  Santo  Eloi,  e  subia  até 
ao  adro  de  S.  Bartolomeu,  porque  o  largo  dos  Lóios 
ainda  não  existia.  Aí  eram  casas  nos  tempos  da  Rainha 
D.  Leonor.  Lá  adiante,  em  chegando  á  letra  O,  ficará 
isso  provado;  aqui  bastará  dizer  agora  mais  o  seguinte. 

No  chão  do  tal  largo  dos  Lóios  existiram  dois  prédios 
de  casas,  metendo-se  talvez  uma  rua  entre  elles  e  o 
convento.  Ambas  aquellas  casas  compraram  os  frades 
de  Santo  Eloi  para  arrasar,  e  fazer  o  terreiro  defronte 
do  seu  convento.  Uma  delias  era  propriedade  particu- 
lar; não  sei  quando  foi  vendida.  A  outra  era  de  capella, 
e  nella  estava  estabelecido  o  hospital  de  Santo  Eutropio, 
o  qual,  só  depois  da  bula  de  20  de  abril  de  1541  de 
autorização  para  a  sua  transferencia,  é'  que  pôde  ser 
mudado  para  poço  do  Borratem.  É  certo  pois  ter  elle, 
até  áquella  data  permanecido  no  seu  antigo  logar  na 
freguesia  de  S.  Bartolomeu.  Não  ha  duvida,  em  vista 
do  documento  transcrito,  de  que  a  casa  de  Inês  Vaz, 
marcada  I'  na  planta,  tinha  serventia  para  duas  ruas,  a  de 
Jerusalém  e  a  defronte  de  S.  Bartolomeu.  Esta  havia  de 
ser  por  tanto  a  que  partia  de  Santo  Eloi  direito  ao  adro 
de   S.   Bartolomeu,   tendo   ao   poente  as  casas  de  Inês 


O   CAMAREIRO  353 

Vaz  por  baixo  das  cia  Rainha,  e  ao  nascente  o  hospital 
de  Santo  Eutropio,  ou  o  outro  prédio  a  elle  mistico. 
Creio  ter  explicado  bem  o  caso. 

Dava  por  tanto  a  frontariâ  dos  paços  da  Rainha,  parte, 
sobre  o  adro  de  S.  Bartolomeu,  e  o  resto  para  a  tal 
rua  que  de  lá  descia  para  a  portaria  de  Santo  Eloi.  Não 
me  restam  duvidas;  mas,  para  desvanecer  alguma  ainda 
existente  no  espirito  do  leitor,  vou  apresentar-lhe  outra 
prova.  t 

As  casas  da  Rainha  davam  para  a  rua  de  Jerusalém, 
já  vimos  isso,  e  chegavam  até  á  rua  da  Amargura,  como 
logo  provarei,  mas  não  cubriam  todo  o  quadrilátero 
marcado  na  planta  com  a  letra  I.  Sabe-se  por  isto. 

De  uma  certidão  junta  a  uma  verba  do  testamento 
da  Rainha  D.  Leonor,  certidão  e  verba  adiante  transcri- 
tas, consta  que  outras  casas  de  baixo  das  da  Rainha, 
nas  quaes  morava  Diogo  Alvarez  a  quem  ella  as  legou, 
confrontavam  do  nascente  e  sul  com  o  paço  e  quintal 
da  Rainha,  do  norte  com  a  rua  da  Amargura,  e  do 
poente  com  casas  de  Simão  da  Fonseca.  Tomavam  por 
tanto  as  casas  deste  Simão  da  Fonseca  (um  capellão 
fidalgo,  filho  também  do  já  por  vezes  nomeado  João  da 
Fonseca),  provavelmente  todo  o  lado  curto  do  quadrilá- 
tero, desde  a  rua  da  Amargura  até  á  de  Jerusalém. 

Ora  el  Rei  D.  Manuel  não  se  contentou  somente  em 
doar  a  sua  irmã,  por  carta  de  29  de  abril  de  1496,  "as 
nossas  casas  que  estão  em  Lisboa  junto  com  Santo  Floi, 
que  são  do  nosso  património  e  as  houvemos  por  com- 
pra de  D.  Fernando,  marichal  de  nossos  reinos,,  ";  mas 
quis  também  que  essas  casas  ficassem  desafrontadas. 
Para  esse  efeito,  "mandámos  derribar  á  porta  da  Alfôfà 
desta  cidade  umas  casas  do  mosteiro  de  Santo  Eloi  para 
ficarem  em  terreiro  as  casas  da  Rainha,  minha  Senhora 


í"  Liv.  l.o  de  Reis,  fl.  96  v. 

23 


354  ESTUDOS 

irmã..  ''.  Ao  norte  tinham  os  paços  de  D.  Leonor  a  rua 
da  Amargura,  ao  sul,  a  de  Jerusalém,  ao  poente,  as  casas 
de  Simão  da  Fonseca,  e  por  nenhum  destes  lados  podiam 
elles  ser  afrontados  por  casas  de  Santo  Eloi.  Ficava  só 
a  frente  para  o  adro  de  S.  Bartolomeu,  e  aí,  pouco 
mais  ou  menos  em  J,  haviam  de  ter  sido  as  casas  manda- 
das derrubar  para  as  da  Rainha  "ficarem  em  terreiro». 

Não  faça  duvida  dizer-se  no  documento  serem  as 
casas  derrubadas  "á  porta  da  Alfôfa»,  e  eu  pô-las  na 
planta  tão  lonje.  As  portas  da  Alfôfa  era  designação 
lata,  quasi  de  bairro. 

A  verba  do  testamento  da  Rainha  D.  Leonor,  a  que 
acima  aludi,  diz  isto:  "Alando  que  todas  as  outras  ca- 
sas que  mandei  comprar,  que  estão  de  redor  das  casas 
sobreditas  em  que  vivo  em  Lisboa,  assim  como  são  as 
que  estão  de  baixo  do  eirado,  e  as  que  estão  de  sob  a 
Casa  de  Jerusalém,  com  todalas  outras  que  estão  ao 
longo  da  rua  que  vai  para  onde  vive  João  da  Fonseca, 
e  as  em  que  vivia  Gil  Vicente  que  estão  da  outra  parte, 
todas  se  vendam,  ou,  se  alguns  meus  criados  ou  criadas 
as  quiserem  tomar  em  desconto  do  que  de  mim  houverem 
de  haver,  que  lhas  dêem  naquelle  preço  que  valerem, 
tirando  as  casas  em  que  está  Diogo  Alvarez  e  sua  mu- 
lher Leonor  Alvarez,  aos  quaes  faço  delias  mercê,,  '-. 

"A  rua  que  vai  para  onde  vive  João  da  Fonseca,,,  já 
mostrei  que  havia  de  ser  a  posteriormente  chamada  da 
Amargura.    Chegavam   por  tanto   os   paços  da  Rainha, 


"  Carta  de  16  de  agosto  de  1502,  dando  ao  convento  outras  casas 
em  satisfação  das  derrubadas.  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  4.", 
ti.  31. 

V!  Chancele  ria  de  D.João  III,  liv.  44.°  de  Doações,  fl.  146,  trans- 
crita a  verba  na  carta  de  29  de  janeiro  de  153S  pela  qual  D.João  III 
confirmou  aos  referidos  Diogo  Alvarez  e  Leonor  Alvarez  a  doação  a 
elies  feita  pela  Rainha  D.  Leonor.  Este  documento  encontra-se  hoje 
impresso  na  integra  sob  n.°  \vn,  a  paj.  1()(>  do  Gil  Vicente  do 
General  Brito  Rebello,  que  para  ilustrar  o  texto  reproduziu  parte 
da  planta  junta  a  este  meu  estudo. 


O   CAMAREIRO 

por  si,  ou  pelas  casas  por  cila  adquiridas  ele  roda  delles, 
á  rua  da  Amargura  com  a  qual  partiam  pelo  norte,  para 
a  qual  dava  a  cozinha,  e  pela  qual  corria  o  cano  dos 
despejos  até  á  porta  da  Alfôfa. 

As  casas  "em  que  vivia  Gil  Vicente  que  estão  da 
outra  parte,,,  ficavam,  é  evidente,  fronteiras  ás  da  Rai- 
nha, do  outro  lado  de  uma  rua,  que  era  a  de  Jerusalém, 
como  lá  adiante  direi,  na  letra  K. 

Agora,  a  /  Casa  de  Jerusalém  pegada  com  a  da 
Rainha,  e  que  deu  o  nome  á  rua,  é  que  não  sei  onde 
fosse,  nem  a  que  pertencesse.  Nem  em  livros,  nem  em 
documentos  encontrei  referencia  clara  a  semelhante  casa. 
Preguntei  ao  Visconde  de  Castilho,  ao  General  Brito 
Rebello,  ao  sr.  Freire  de  Oliveira,  e  nenhum  delles  sabia 
a  tal  respeito  mais  do  que  eu.  Era  pertença  da  Ordem 
militar  de  S.  João  de  Jerusalém?  Relacionava-se  com  a 
Ordem  monástica  da  Trindade  pela  redenção  dos  cati- 
vos? Não  sei.  Outro  mais  feliz  desvendará  o  mistério. 

No  II  vol.  dos  Elementos  para  a  historia  do  municí- 
pio de  Lisboa  apresenta  o  sr.  Freire  de  Oliveira,  a 
paj.  325,  um  rol,  fundado  em  documentos,  das  esmo- 
las, ordinárias  lhes  chamavam,  dadas  pela  Camará  em 
princípios  do  xvn  século.  Na  lista  encontra-se:  "Ao 
Commissario  da  Terra  Santa  de  Jerusalém,  4$000.„ 

No  mesmo  documento  já  citado,  no  qual  vem  trans- 
crita a  referida  verba  do  testamento  da  Rainha  D.  Leo- 
nor, traslada-se  mais  abaixo  uma  certidão,  também 
interessante.  Diz  ella:  "A  quantos  esta  certidão  virem, 
Francisco  Cardoso,  que  ora  tem  cargo  das  cousas  dos 
descargos  da  alma  da  Rainha  D.  Leonor,  que  Santa 
Gloria  haja,  e  João  Machado,  escrivão  do  dito  cargo, 
fazemos  saber  que  as  casas  em  que  morava  Diogo  Al- 
varez e  Leonor  Alvarez  sua  molher,  em  vida  da  dita 
Senhora,  estão  na  rua  que  vai  da  porta  da  Alfôfa  para 
as  casas  de  Antão  da  Fonseca,  e  são  três  casas  sobra- 


356  imidos 

dadas,  com  trcs  lojas,  e  uma  delias  tem  outro  sobrado 
das  casas  que  foram  da  dita  Senhora  em  cima,  e  as 
duas  de  telha  vau;  e  partem  da  banda  de  baixo  com 
casas  da  dita  Senhora,  e  das  costas  com  quintal  das  ca- 
sas da  dita  Senhora,  e  da  banda  de  cima  com  casas  de 
Simão  da  Fonseca,  e  com  a  dita  rua ;  c  por  certeza 
disto  passamos  esta  certidão . . .  em  Lisboa,  a  24  de  ja- 
neiro de  1538». 

Todos  os  esclarecimentos  ministrados  por  esta  certi- 
dão já  aproveitei,  e  transcrevi-a  unicamente  para  funda- 
mentar o  que  disse  nella  fundado.  Notarei  ainda  assim 
mais  uma  coisa.  É  que  da  descrição  nella  feita  das  ca- 
sas de  Diogo  Alvarez,  combinada  com  a  das  de  Inês 
Vaz,  já  lá  acima  mencionada,  se  mostra  serem  os  paços 
da  rainha  altos.  Tinham  elles  por  baixo,  alem  de  lojas,  um 
sobrado,  isto  é,  um  andar,  e  sobre  este  é  que  corriam. 

As  transcritas  verba  e  certidão  foram  apresentadas 
pelo  referido  Diogo  Alvarez,  cavaleiro  da  ordem  de 
Santiago,  a  el  Rei,  pedindo  lhe  mandasse  dar  a  posse 
das  casas  que  a  Rainha  D.  Leonor  lhe  doara.  D.  João  III 
defere,  manda  que  Diogo  Alvarez,  Leonor  Alvarez  sua 
mulher,  e  todos  seus  herdeiros,  hajam  e  possuam  as  três 
lojas  e  três  casas  sobradadas  que  a  Rainha  lhes  doara, 
"porem  a  casa  sobradada  que  está  em  cima  de  uma  das 
ditas  casas,  ficará  com  a  herança  das  outras  casas  que 
foram  da  dita  Senhora  Rainha,  que  ora  são  minhas,  por 
quanto  a  dita  Senhora  lhe  não  fez  doação  delia». 

Foi  a  carta  passada  cm  Lisboa  a  29  de  janeiro  de 
1538,  e  por  ella  ficámos  ultimamente  sabendo  haver 
D.  João  III  herdado  de  sua  tia,  a  Rainha  D.  Leonor,  os 
seus  paços  de  S.  Bartolomeu. 

Encontrei  a  medição  do  quadrilátero  dentro  do  qual 
ficavam  os  paços  da  Rainha;  diz  assim:  "Um  grande 
pedaço  de  chão,  que  está  entre  a  rua  da  Amargura  e 
da   de  Jerusalém,  sobre   si,  e  está  defronte  das  ditas 


O  CAMAREIRO  357 

casas  do  Conde  de  Bobadella  (II),  que  se  disse  ser 
também  do  mesmo  (onde.  Tem  de  frente  para  a  rua 
das  Portas  da  Alfôfa  vinte  e  um  palmos  (4m,62);  pela 
rua  de  Jerusalém,  cento  e  cincoenta  (33m);  pela  da 
Amargura,  cento  e  quarenta  e  cinco  (31m,90);  e  de  frente 
para  o  largo  011  adro  de  S.  Bartholomeu,  oitenta  e  seis 
palmos  (18m,92),  cujo  chão  está  como  baldio.,  ' '. 

Nenhuns  restos  existem  pois  dos  paços  de  S.  Barto- 
lomeu, onde , a  Rainha  D.  Leonor  morou  e  morreu. 

Também  encontrei  a  medição  das  ruas  da  Amargura 
e  de  Jerusalém.  Aquella,  que  ia  das  portas  da  Alfôfa 
para  S.  Bartolomeu,  tinha  de  comprimento  cento  e 
vinte  e  quatro  palmos  (27m,2S),  e  de  largura  sete  pal- 
mos (1"\54).  Era  realmente  um  beco.  A  outra,  a  de 
Jerusalém,  tinha  de  comprimento  cento  e  sessenta  pal- 
mos (35m,2),  e  de  largo  dezasete  (3m,74).  Também  não 
era  nenhuma  avenida  '". 

Por  ultimo,  aproveitando  a  planta  do  sr.  Vieira  da 
Silva,  direi  que  os  paços  da  Rainha  D.  Leonor  tomavam 
aprossimadamente  metade  do  actual  largo  dos  Lóios, 
desde  a  esquina  ocidental  da  rua  de  S.  Bartolomeu, 
passando  em  frente  da  desembocadura  da  rua  da  Sau- 
dade, e  ocupavam  ainda  uma  parte  do  chão  dos  pré- 
dios que  deitam  para  o  lado  norte  do  largo  dos  Lóios, 
desde  a  esquina  oriental  da  rua  de  S.  Bartolomeu  ''. 


í3  Tombo  da  cidade  de  Lisboa,  liv.  1.°,  Castello,  fl.  19. 

11  Ibidem,  fl.  4  v. 

'    No  Jornal  do  Commercio  de  S  de  julho  de  1902  lê-se  o  seguinte: 

"Do  sr.  Visconde  Júlio  de  Castilho  acabamos  de  receber  a  seguinte 

carta  acerca  do  estudo  histórico  sobre  Antão  de  Faria 

Sr.  Redactor. 

Acabo  de  ler  os  três  últimos  artigos  de  Silex,  que  fazem  parte  do 
seu  erudito  e  complexo  estudo  sobre  O  Camareiro.  Averigua-se,  a  po- 
der de  insano  trabalho  e  interessantíssimas  pesquizas,  o  sitio  onde 


358  ESTUDOS 

No  ponto  J  da  planta,  ou  por  aí  perto,  estavam  as 
casas  por  IX  Manuel  mandadas  derrubar  para  as  da 
Rainha  sua  irmã  ficarem  em  terreiro.  Já  a  ellas  me 
referi. 

Em  K  existiam  casas  compradas  pela  Rainha  D.  Leo- 
nor de  roda  dos  paços  em  que  habitava.  Eram  as  que 
"estavam  da  outra  parte,,,  aquellas  "em  que  Gil  Vicente 
vivia»;  e  a  razão  por  que  eram  essas,  parece-me  simples. 

As  casas  de  Antão  de  Faria  iam  correndo  pelo  nas- 
cente ao  lado  do  convento  de  Santo  Eloi,  "até  entesta- 
rem em  casas  da  Senhora  Rainha  D.  Leonor  da  banda 
do  norte,,.  Não  ha  por  tanto  duvida  de  que  ao  sul  da 
rua  de  Jerusalém  também  a  Rainha  possuiu  casas.  Ella, 
na  citada  verba  do  seu  testamento,  manda  vender  "todas 
as  outras  casas . . .  que  estão  de  redor,,  dos  seus  paços, 
excepto  umas,  as  doadas  a  Diogo  Alvarez.  Para  descrimi- 
nar aquellas,  declara  serem  ellas  "as  que  estão  de  baixo 
do  eirado,  e  as  que  estão  de  sob  a  casa  de  Jerusalém, 
com  todalas  outras  que  estão  ao  longo  da  rua  que  vai 
para  onde  vive  João  da  Fonseca,, ;  todas  estas  são  pega- 
das aos  paços.  Depois  continua:  "e  as  em  que  vivia 
Gil  Vicente,  que  são  da  outra  parte.,, 


ficava  no  século  xvi  o  paço  da  Rainha  D.  Leonor,  mulher  del-Rei 
D.  João  II.  A  argumentação  de  Silex,  irrespondivel,  e  baseada  em 
alicerces  de  primeira  ordem,  vem  destruir  completamente  o  que  a 
respeito  d'esse  mesmo  paço  eu  disse  na  minha  Lisboa  antiga.  O  que 
sinto  é  que  o  autor  d'esta  série  de  admiráveis  quadros  o  não  dissesse, 
para  esclarecimento  de  leitores  pouco  attentos.  Nestas  matérias  his- 
tórica--, tão  difficeis,  não  deve  haver  melindres  demasiados;  a  ver- 
dade, embora  nua  e  crua,  nunca  escandaliza  a  quem  só  deseja  acertar. 
Entendo  dever  de  lealdade  esta  declaração;  e  felicitando  a  v.  pela 
publicação  tias  instruetivas  obras  de  Silex,  que  tanto  nome  teem  (.lado 
rev<  i-me 

I  )e  v.  etc. 
Lumiar,  7  de  julho  de  1902. 

Júlio  de  Castilho. 

Esta  carta.,  acrescentarei  agora,  honrosissima  para  tinem  a  escre- 
veu, não  devia  ficar  perdida  nas  colunas  dum  periódico. 


O   CAM  \U\  [RO  359 

A  primeira  vista  parece  que  estas  ficavam  alem,  ao 
norte,  da  rua  tia  Amargura,  "a  rua  que  vai  para  onde 
vive  João  da  Fonseca»,  mas  não  pôde  ser,  porque  é 
positivo  ter  a  Rainha  possuído  casas  pegadas  com  as  de 
Antão  de  Faria,  e  essas  só  podiam  seráquem,  ao  sul,  da 
rua  de  Jerusalém. 

Era  pois  aí,  ao  sul  da  rua  de  Jerusalém,  junto  ás 
casas  de  Antão  de  Faria,  que  viveu  Gil  Vicente,  o  ouri- 
ves trovador. 

O  Planto  português,  como  apregoaram  agora  meia 
dúzia  de  vozes  por  ocasião  da  chocha  comemoração 
que  lhe  fizeram.  Tão*  insignificante,  que  bem  fez  el  Rei 
pondo-se  ao  largo. 

Ainda  assim,  salva-la-ha  de  completo  esquecimento  a 
excelente  biografia  do  poeta,  que  o  General  Brito  Rebello 
tem  pronta  a  sair  do  prelo  para  celebrar  dignamente  o 
quarto  centenário  da  auspiciosa  estreia  cénica  de  Gil 
Vicente  ''''. 

Nos  sitios  marcados  na  planta  com  as  letras  L,  M  e  N, 
eram  situadas  umas  casas,  arruinadas  pelo  terremoto,  per- 
tencentes aos  Lóios,  das  quaes  encontrei  as  medições  no 
Tombo  da  cidade'";  e  mais  o  convento  e  a  igreja  de 
Santo  Eloi. 

O  ponto  marcado  em  O  é  mais  interessante. 

Era  ali,  no  largo  dos  Lóios  de  1755,  com  cento 
e  doze  palmos  (24m,64)  de  comprimento  e  oitenta  e 
cinco  (18m,7)  de  largo  ',s,  que  havia  existido  o  antigo 
hospital  de  Santo  Eutropio.  Revelou-me  o  facto  um 
assento  do  Tombo  de  Santo  Eloi. 

"Todo  o  chão  d'ante  a  porta  travessa  de  S.  Bartolo- 


";  Apareceu  no  próprio  mês  de  julho  de  1902  cm  que  eu  escrevia 
estas  coisas  no  Jornal  do  Cominaria. 
1    Liv.  1.",  Castello,  fl.  20. 
1 '  Ibidem,  fl.  4  v. 


360  ESTUDOS 

meu,  assim  como  parte  com  o  adro,  até  á  porta  de 
Santo  Eloi,  que  Foram  casas  compradas  a  Lourenço  de 
Guimarães,  e  casas  que  foram  hospital  de  Santo  Eutro- 
pio,  que  pertence  ao  morgado  de  S.  Mateus,  e  foram 
escambadas  por  outras  de  Santo  Eloi«  ''•';  todo  aquelle 
chão  era  de  Santo  Eloi,  pelos  frades  mandado  arrasar 
para  desafrontar  o  seu  convento. 

Por  instrumento  de  31  de  agosto  de  130S  instituiu 
D.  João,  Bispo  de  Silves,  como  elle  se  nomeia  e  intitula 
nesta  escritura,  ou  D.  João  Soarez  Alão,  como  lhe  cha- 
mam os  historiadores,  um  hospital  e  capella  °. 

A  capella  ordenou-se  na  igreja  de  S.  Bartolomeu 
sob  a  invocação  de  Santo  Eutropio,  e  o  hospital  nas 
casas  do  Bispo  situadas  naquella  freguesia.  A  esta  insti- 
tuição vinculou  elle  todos  os  seus  bens  moveis,  semo- 
ventes e  de  raiz,  e  nomeou  para  a  administrar,  por  morte 
do  Bispo  D.  Domingos  Jardo  (o  fundador  do  contíguo 
hospital  de  Santo  Eloi),  a  seu  neto,  do  Bispo  instituidor, 
Gonçalo  Mendez,  e  depois  deste  ao  clérigo  seu  parente 
mais  prossimo.  Na  falta  de  parente  clérigo  sucederá  na 
administração  quem  pelo  dito  seu  neto  for  nomeado. 
Os  encargos  eram  a  manutenção  de  dois  clérigos  para 
celebrarem  os  oficios  divinos  na  capella,  e  a  de  qua- 
tro pobres  envergonhados,  assim  homens  como  mu- 
lheres. 

Manda  dar  diariamente  aos  dois  sacerdotes,  alem  de 
pão  e  vinho,  um  arrátel  de  carne  cozida,  e  aos  domin- 
gos e  quintas-feiras  mais  um,  assado.  Nos  dias  de  jejum 
terão  um  pescado,  e  ás  quintas  e  domingos  dois.  Os 
quatro  pobres  terão  para  todos  a  mesma  ração  de  carne 
ou  de  peixe,  que  se  der  aos  dois  clérigos.  Todos  seis  rece- 


1  Foral  de  1117  a  1507,  fl.  59,  liv,  n."  IS  de  Santo  Eloi  na- Torre 
t!<>  Tombo. 

0  Provas  da  Hist  genealógica,  vol.  VI,  paj.  140  e  142. 


O   CAMAR1  [RI  >  3Ó1 

berão  remédios  e  tratamento  necessários,  quando  enfer- 
mem; e  cada  um  terá  seu  leito  com  "um  colchão,  e 
um  chumaço  com  pentia,  dois  lençoes,  uma  colcha,  e 
cubertor.H  Haverá  um  dormitório  e  refeitório  comuns, 
e  serão  servidos  pelas  pessoas  necessárias.  Receberão, 
alem  disso,  para  vestuário:  os  clérigos,  "ele/aseis  cova- 
dos  de  sarja  com  dois  pares  de  calças  de  estamenha  ou 
de  brugia,  e  quatro  libras  e  meia  a  cada  um  delles  para 
pennasw,  e  mais  o  calçado;  os  pobres,  terão  "onze  cova- 
dos  de  estamenha  ou  de  brugia,  dois  pares  de  camisas 
e  de  çapatos,  os  quaes  çapatos  se  sollem  quando  fôr  ne- 
cessário.,, 

Meado  o  xiv  século  era  Lopo  Soarez  de  Albergaria 
senhor  da  albergaria  de  Paio  Delgado,  também  insti- 
tuída na  freguesia  de  S.  Bartolomeu,  e  mais  do  hos- 
pital de  Santo  Eutropio  51.  A  albergaria  herdara  por 
sucessão  de  seus  maiores,  e  o  hospital  por  ser  parente 
do  neto  do  Bispo  instituidor,  Gonçalo  Mendez,  que  em 
Lopo  Soarez,  ou  em  seu  pai,  nomeara  a  administração. 

Por  morte  de  Lopo  Soarez,  ou  de  seu  filho  Afonso 
Soarez,  sucedeu  naquelles  bens  Diogo  Soarez  de  Alber- 
garia, irmão  de  Lopo.  Foi  Diogo  Soarez  alcaide  mor  de 
Arronches  por  carta  de  10  de  oitubro  de  1369  '-,  e  delle 
se  encontram  varias  memorias  na  chancelaria  de  D.  Fer- 
nando. A  Diogo  Soarez  sucedeu  sua  filha  Caterina  Soa- 
rez, a  quem,  por  motivo  de  passar  para  Castella  com 
sua  mãe  Urraca  Fernandez,  foram  os  bens  confiscados, 
e  doados  a  Martim  Vasquez  da  Cunha  por  cartas  de  20 
de  setembro  e  14  de  oitubro  de  1386  ,!. 

Fra  Martim  Vasquez  realmente  o  representante  da 
antiga  família  dos  Albergarias,  por  ser  filho  de  Brites 


A  Sentença  de  17  de  março  da  era  de  1427  (1389  da  era  vulgar) 
impressa  a  paj.   14S  do   vol.  VI  das  Provas  da  Hist.  genealógica. 
•'-  Chancelaria  de  D.  Fernando,  liv.  1. "  fl.  46  v. 
;,i  Chancelaria  de  D.João  I,  liv.  l.°  fl.  177  e  185. 


362  ESTUDOS 

Lopez  de  Albergaria,  e  como  tal  lhe  foram  setenceados 
os  morgados  em  17  de  março  de  1389    '. 

Martim  Vasquez  da  Cunha,  alem  de  ser  um  dos  maio- 
res senhores  de  Portugal,  era  um  dos  mais  ricos,  não  só 
pelos  seus  imensos  bens  próprios,  como  pelos  de  sua 
mulher,  D.  Maria  Giron,  senhora  da  casa  de  Giron  e 
das  vilas  de  Tarouca  e  Valdijem.  A  todos  estes  bens  se 
havia  de  juntar  a  grande  casa  de  seu  pai,  Vasco  Martinz 
da  Cunha,  senhor  da  Taboa,  Ànjeja,  Pinheiro,  Pereira 
etc.  lira  pois  para  apetecer  o  casamento  com  qualquer 
das  suas  filhas,  não  só  pelo  lustre  da  aliança,  como  pela 
opulência  do  dote.  Foi  pois,  como  prémio  de  seus  ser- 
viços, que  D.  João  I  casou,  em  Coimbra,  no  mês  de  julho 
de  1389,  o  dr.  João  das  Regras  com  uma  das  filhas  do 
futuro  Conde  de  Valência  de  Campos. 

Efeituado  o  casamento,  e  havendo  Martim  Vasquez 
passado  para  Castella,  onde  foi  criado  conde,  fez  el  Rei 
doação,  por  carta  de  22  de  julho  da  era  de  1435  (1397 
e.  v.),  dos  hospitaes  e  albergarias  de  Paio  Delgado, 
Santa  Barbara  e  Santo  Eutropio  ao  genro  do  Conde,  o 
dr.  João  das  Regras  ''.  Veio  por  tanto  o  hospital  de 
Sinto  Eutropio,  com  os  outros,  a  pertencer  áquelle 
celebre  jurisconsulto,  que  o  transmitiu  a  seus  descen- 
dentes, os  Marqueses  de  Cascaes,  e  depois  os  de  Nisa. 

Quando  João  das  Regras  tomou  posse  da  administra- 
ção do  hospital  de  Santo  Eutropio,  não  era  elle  tão  im- 
portante, como  se  tornou  pela  anexação,  que  o  privado 
de  D.  João  I  posteriormente  lhe  fez,  do  morgado  de 
S.  Mateus  por  elle  fundado. 

O  hospital  de  Santo  Eutropio  foi,  como  fica  dito,  insti- 
tuído pelo  Bispo  D.  João  Alão  com  obrigação  de  sustentar 
dois  capellães  e  quatro  mercieiros.  O  hospital  de  S.  Ma- 


:,í  Cit.  sentença  de  1  /  de  março  da  era  de  1427. 
-  Provas  da  H/st.  genealógica,  vol.  VI,  paj.  lôl 


„     O   CAMAREIRO  303 

teus,  instituído  e  anexado  por  João  das  Regras  ao  prece- 
dente, tinha  o  encargo  da  manutenção  de  um  capellão 
e  de  dezaseis  mercieiros 86.  Ficaram  pois  os  dois  hos- 
pitaes  obrigados  a  sustentar  três  capellães  e  vinte  mer- 
cieiros. 

Para  acommodar  esta  gente  alcançou  D.  Luis  de  Castro, 
administrador  daquelles  hospitaes,  uma  bula,  passada 
a  29  de  abril  de  1541,  pela  qual  se  lhe  facultou  a  aqui- 
sição de  um  espaçoso  prédio  situado  nas  vizinhanças  do 
poço  do  Borratem,  e  foreiro  em  vidas  á  paroquia  de 
S.  Nicolau.  Juntou  elle  este  prédio  ao  seu  morgado,  e 
para  lá  transferiu  o  hospital  i;.  Por  este  documento  se 
prova  ter  até  então  permanecido  o  hospital  na  freguesia 
de  S.  Bartolomeu,  onde  primitivamente  fora  instituído,  e 
só  pelos  annos  de  1541  é  que,  passando  para  o  poço 
do  Borratem,  veio  a  pertencer  á  freguesia  de  Santa  Justa, 
onde  já  estava  em  1552  '\ 

Parece  pois  poder-se  d'aqui  concluir  que  João  das 
Regras  não  morou  nunca  ao  poço  do  Borratem,  como 
alguns  autores  supozeram.  Com  efeito  elle  habitou, 
mas  foi  "nos  paços  e  casas.  .  .  na  cidade  de  Lisboa  a 
par  de  Santa  Marinha..,  cuja  acquisição  lhe  foi  confir- 
mada por  D.  João  I  por  carta  dada  em  Santarém  a  25  de 
setembro  de  1390  "''',  e  nelles,  em  29  de  junho  de  1403, 


5e  Cartório  do  hospital  de  S.  José,  Âppenso  2."  aos  Autos  do  pro- 
cesso intentado  pelo  Hospital  contra  os  Marquezes  de  Nisa,  autos 
designados  pelo  n.°  7Sb  do  maço  93,  n."  4. 

;,:  Cit.  Autos. 

:,s  Estatística  de  Lisboa  do  anno  de  1552,  ms.  da  Biblioteca  Na- 
cional, B-ll-10,  do  qual  encontrei  a  noticia  no  III  vol.  da  2.a  parte 
da  Lisboa  antiga  do  Visconde  Júlio  de  Castilho. 

59  Chancelaria  de  D.João  I,  liv.  2.",  fl.  49  v.  —  Carta  de  confirma- 
ção da  permutação  feita  entre  o  dr.  João  das  Regras,  do  nosso  con- 
selho, e  D.  Beatriz  de  Castro,  filha" do  Conde  D.  Álvaro  Pire/  de 
Castro,  pela  qual  o  dr.  adquiriu  delia  "huuns  paaços  e  casas  que 
forom  do  dito  seu  padre  com  todas  suas  pertenças  os  quaaes  som 
na  cidade  de  Lixboa  apar  de  sãta  Marinha..;  e  de  doação  do  direito 
real  que  podesse  haver  sobre  os  ditos  prédios,  outorgando-lhe  "que 


3Ó4  ESTUDOS 

isto  é,   dez  meses  antes  da  sua  morte,  persistia  ainda: 
"em  que  elle  ora  mora.,  ''". 

Mas,  se  eu  me  ponho  a  falar  em  João  das  Regras, 
está  o  leitor  bem  servido.  Nada,  voltemos  ao  assunto. 

Em  P  era  a  igreja  de  S.  Bartolomeu,  arruinada  pelo 
terremoto,  a  qual  tinha  sessenta  e  quatro  palmos  (14m,0S) 
de  frente,  e  cem  (22111)  de  fundo  (il. 

Dava  para  um  pequeno  largo,  chamado  o  adro  de 
S.  Bartolomeu,  o  qual  tinha  cincoenta  e  um  palmos 
(li111, 22)  de  comprimento,  e  cincoenta  e  três  (llm,66)  de 
largura  ' -.  Da  parte  de  cima  do  adro  havia  outro  largo- 
sito,  designado  pelo  nome  de  recanto  de  S.  Bartolo- 
meu, com  quarenta  e  seis  palmos  (10in,12)  de  comprido, 
por  quarenta  e  um  (9'»,02)  de  largo  (i;;. 

Aqui  findará  o  meu  passeio  de  roda  das  casas  de 
Antão  de  Faria.  Quem  me  dera  entrar  lá  dentro! 

Veremos  no  seguinte  capitulo. 


X! 


Já,  demoradamente  de  mais  talvez,  dei  volta  pela  parte 
de  fora  ás  casas  de  Antão  de  Faria.  Quem  me  dera  en- 
trar lá  dentro!  Torno  a  dize-lo. 


aja  o  bayrro  dos  ditos  paaços  e  que  lhe  seja  privilegiado  e  coutado 
per  a  guisa  que  o  cia  cm  tempo  do  dito  Conde  I).  Álvaro  Pirez  e 
dos  outros  cujos  os  ditos  paaços  forom  atite  dei.» 

''"  Instrumento  tia  referida  data  encontrado  110  almario  7."  do 
cartório  do  convento  de  S.  Vicente  de  1  ora  por  Gaspar  Alvarez  de 
Lousada,  que  o  extratou  na  parte  II  dos  seus  Sumários  da  Torre 
do  Tombo,  fl.  184  v.  mirii. 

"  Cit.  Tombo  da  Cidade,  liv.  1.',  Castello,  fl.  5. 

'■  Ibidem,  fl.  4  v. 

' '  Ibidem,  fl.  5. 


O  CAMAREIRO  365 

Falta-me  comtudo  o  principal:  um  documento  que 
me  abra  a  porta. 

Não  tenho  chave?  Recorrerei  á  gazúa,  e  com  cila,  no 
dia  30  de  janeiro  de  148é,  atrás  ele  Afonso  Alvarez, 
juiz  dos  feitos  da  Mina,  me  introduzirei  numas  casas 
fronteiras  ás  do  Camareiro,  do  outro  lado  da  calçada  que 
ia  para  as  portas  da  Alfôfa. 

As  casas  eram  no  chão  onde  depois  se  fundou  o  se- 
minário de  ,S.  Patrício,  e  pertenciam  então,  ou,  para 
melhor  dizer,  haviam  pertencido  a  D.  Álvaro  de  Ataíde, 
que  fora  condenado,  por  sentença  de  9  de  agosto  de 
1485,  como  réo  do  crime  de  lesa  majestade,  á  pena  de 
morte  e  confiscação.  São  ellas  as  mesmas  a  que  já  de 
passajem  me  referi  no  principio  do  capitulo  precedente, 
as  possuídas  em  1513  por  D.  Fernando  de  Ataíde,  filho 
do  conspirador,  a  quem   D.  Manuel  as  havia  tornado. 

D.  João  II  mandara  expedir  um  alvará,  em  Sintra,  a 
29  de  novembro  de  1485,  ordenando  a  Afonso  Alvarez 
que  arrolasse  os  moveis  de  D.  Álvaro  existentes  na  sua 
casa  de  Lisboa,  e  os  entregasse  a  sua  mulher  D.  Leonor 
de  Noronha.  A  generosidade  dei  Rei  para  com  esta  se- 
nhora proviera  delia  ser  filha  do  falecido  Conde  da 
Atalaia,   Rejedor  que  fora  da  Casa  do  Cível  de  Lisboa. 

No  tal  dia  30  de  janeiro  de  1486,  o  juiz  dos  feitos 
da  Mina,  para  dar  cumprimento  á  ordem  dei  Rei,  diri- 
jiu-se  á  casa  de  D.  .Álvaro  e  abrindo  a  porta  entrou  para 
lá  com  o  seu  escrivão.  Atrás  delles  vou  eu  agora,  e, 
curioso  como  sou  destas  coisas,  darei  fé  de  tudo  quanto 
lá  encontraram.  Não  ficarei  sabendo,  é  certo,  qual  o  re- 
cheio que  poucos  annos  depois  tinha  Antão  de  Faria  na 
casa  fronteira  a  esta,  agora  também  abandonada  em  vir- 
tude do  homizio  em  que  se  via  obrigado  a  andar  o  seu 
ultimo  proprietário,  o  Conde  de  Penamacor;  não  o  ficarei 
sabendo,  repito,  mas  por  analojia  poderei  formar  ideia 
muito  aprossimada. 


J66  ESTUDOS 

Vamos  ver  a  mobília  que  no  reinado  de  D.  João  II 
guarnecia  uma  casa  fidalga. 

Transcreverei  o  inventario,  para  me  não  alongar  em 
considerações  intermináveis;  elle  falará  por  si: 

"Recebeo  D.  Leonor  estas  coisas  adiante  nomeadas  e 
avaliadas:  um  pano  de  armar,  grande,  de  setenta  e  cinco 
covados,  usado,  da  historia  de  Abraão,  avaliado  em  treze 
mil  reaes;  outro  pano  de  armar,  grande,  de  sessenta  co- 
vados, usado,  da  historia  de  Roboão,  avaliado  em  sete 
mil  reaes;  uma  cobricama,  usada,  de  ervagens,  de  trinta 
e  quatro  covados,  avaliada  em  três  mil  e  quinhentos 
reaes;  uma  colcha  de  tafetá  carmezim  forrada  de  pano 
de  linho,  de  trinta  covados,  avaliada  em  quatro  mil 
reaes;  um  bancai  de  banco,  velho,  de  ervagens,  avaliado 
em  quinhentos  reaes;  um  bancai  de  mesa,  velho,  de  er- 
vagem, avaliado  em  mil  e  quinhentos  reaes;  três  guarda- 
portas  de  arvoredo,  todas  usadas,  e  avaliadas  todas  em 
três  mil  e  quinhentos  reaes;  um  pano  detrás  copa,  de 
ervagem,  velho,  avaliado  em  oitocentos  reaes;  umas  cor- 
tinas brancas  de  fio,  em  peça,  novas,  avaliadas  em  seis 
mil  reaes ;  uma  caixa  em  que  estas  cousas  estão,  avalia- 
da em  mil  e  quinhentos  reaes;  dentro  nella  dois  ban- 
caes  de  arvoredo,  usados,  de  bancos,  avaliados  em  dois 
mil  reaes;  oito  coxins  usados,  avaliados  em  três  mil 
reaes;  uma  alcatifa  grande,  de  Castella,  usada,  avaliada 
em  três  mil  reaes;  a  caixa  em  que  estão  estas  cousas, 
avaliada  em  mil  e  quinhentos  reaes;  um  retabolo  de 
nosso  Senhor,  avaliado  em  três  mil  reaes;  uma  manta  ca- 
cheira, usada,  avaliada  em  oitocentos  reaes;  umas  cor- 
tinas velhas,  vermelhas,  com  suas  corrediças  e  cobricama, 
avaliadas  em  quatro  mil  reaes;  uma  colcha  branca  velha, 
pequena,  avaliada  em  quinhentos  reaes;  um  cobertor 
gordelate  usado,  avaliado  em  mil  e  duzentos  reaes;  um 
cobertor  de  grã,  usado,  avaliado  em  quatro  mil  reaes; 
cinco  alcatifas  pequenas,  delias  novas  e  delias  usadas,  ava- 


O   CAMAR]  [RO  367 

liadas  em  cinco  mil  reaes;  outra  alcatifa  castellã,  grande, 
usada,  avaliada  em  mil  e  quinhentos  reaes;  um  livro 

missal  de  papel,  de  forma  (impresso),  avaliado  em  oito- 
centos reaes;  uma  vestimenta  de  veludo  roxo  com  sua 
alva,  avaliada  em  dois  mil  reaes;  outra  caixa,  avaliada 
em  mil  e  quinhentos  reaes;  dois  cofres  grandes,  de  Le- 
vante, avaliados  em  dois  mil  reaes;  dois  arquibancos, 
avaliados  em  dois  mil  reaes;  duas  arcas  encoiradas,  ve- 
lhas, avaliadas  ambas  em  seiscentos  reaes;  cinco  cofres 
de  Levante,  velhos,  avaliados  em  mil  reaes;  cinco  fro- 
nhas de  coxins,  velhas,  avaliadas  em  duzentos  e  cin- 
coenta  reaes;  no  sótão,  outra  caixa,  avaliada  em  mil  e 
quinhentos  reaes;  uma  taceira  (por  onde  se  vê  não 
serem  só  os  ourives  que  as  usavam,  como  diz  o  Moraes), 
avaliada  em  mil  reaes;  duas  cadeiras  e  um  arquibanco, 
avaliados  em  mil  reaes;  dois  esteios  de  mármore,  pe- 
quenos, avaliados  em  quinhentos  reaes,,  '. 

É  muito  interessante  esta  pequena  lista  para  quem  qui- 
ser estudar  a  maneira  por  que  viviam  os  nossos  maiores. 

Antão  de   Faria  era  vivo  com  certeza  em  S  de  março 
de  1514  -,  e  creio  mesmo  que  ainda  não  tinha  morrido  a 


1  Corpo  cronolojico,  part.  l.a,  mac.  l.o,  doe.  36.  — Alem  dos  obje- 
ctos mencionados  no  texto  recebeu  D.  Leonor  de  Noronha  mais  o 
declarado  na  seguinte  verba: 

E  depois  disto,  no  dito  dia,  cidade  e  casas,  a  sr.a  D.  Leonor  disse 
que  recebera,  alem  das  sobreditas  cousas,  da  mão  dei  Rei  "estas 
escravas,  escravo,  todo  avaliado  nos  preços  adiante  escritos  .  . . :  pri- 
meiramente Lianor  Alvarez,  molher  de  trinta  e  cinco  annos,  avaliada 
em  dezoito  mil  reaes;  Isabel  Alvarez,  de  quinze  annos,  avaliada  em 
riezaseis  mil  reaes;  Joana  Alvarez,  de  doze  annos,  em  catorze  mil 
reaes;  Lianor,  negra,  de  dezoito  annos,  em  dez  mil  reaes;  Maria, 
baça,  de  cincoenta  annos,  em  seis  mil  reaes;  Jorje .  .  . ,  que  cila  diz 
que  lhe  el  Rei  mandou  entregar,  de  quarenta  annos,  em  sete  mil 
reaes;  das  quaes  escravas  e  escravo,  se  cila  deu  por  entregue  etc.„  Re- 
cebeu mais  no  mesmo  dia  um  coral  encastoado  de  ouro  no  pé,  que 
todo  vale  três  cruzados  de  ouro,  etc. 

-  Data  da  carta  de  padrão  de  sessenta  mil  reaes  de  tença,  resto  de 
cento  e  vinte  mil,  de  que  Antão  de  Faria  doara  os  outros  sessenta  a 
seu  filho  Francisco.  Chancelaria  de  D.  Manuel,  li v.  1t.",  il.  20  v. 


$68  ESTUDOS 

26  do  seguinte  mês  de  abril,  apesar  de  nessa  data  ter 
sido  confirmado  o  morgado  a  seu  filho  Francisco  de 
Faria  ;.  No  documento  citado  não  se  declara  ser  o  antigo 
(  amareiro  já  falecido,  e  não  admira  que  ainda  em  sua 
vida  tivesse  tido  logar  a  confirmação  do  morgado  ao 
filho,  visto  que  delle  lhe  fizera  doação  imediata,  como 
se  declara  na  instituição.  Tinha  porem  deixado  já  de 
existir  a  16  de  agosto  de  1515  ''. 

Sua  viuva,  Leonor  Gonçalvez  de  Oliveira,  sobreviveu- 
lhe  uns  dez  annos,  pois  que  só  veio  a  morrer  no  de 
1525.  É  o  que  se  ha  de  induzir  da  carta  de  20  de 
janeiro  de  1526,  pela  qual  foram  confirmadas  a  seu 
filho  Francisco  de  Faria  as  mil  e  duzentas  coroas  do 
casamento  de  sua  falecida  mãe  ;i. 

Antão  de  Faria  teve  a  satisfação,  antes  de  morrer,  de 
deixar  seu  filho  primogénito  aliado  a  uma  das  melho- 
res casas  do  reino,  e  uma  sua  neta  casada  com  um 
fidalgo  da  casa  de  Bragança,  imediato  sucessor  do  con- 
dado de  Odemira. 

Estas  alianças  foram  para  elle  de  tanta  satisfação, 
como  para  seu  antigo  amo,  D.João  II,  o  enlace  do  Prín- 
cipe com  a  primogénita  dos  Reis  Católicos. 

Chamava-se  D.  Maria  de  Ataíde  aquella  neta  do 
Alcaide  mor  de  Palmella,  e  era  filha  herdeira  de 
D.  Joana  de  Faria  e  do  valoroso  capitão  de  Safim 
Nuno  Fernandez  de  Ataíde,  senhor  de  Penacova  e 
alcaide  mór  de  Alvor,  onde  possuía  as  casas  que  haviam 
sido  a  ultima  morada  do  Príncipe  Perfeito,  a  cuja  morte 
assistira.  Fez-se  o  contrato  do  casamento  de  D.  Maria 
de  Ataíde  com  D.  Afonso,  filho  primogénito  e  herdeiro 


3  Ibidem,  fl.  57  v. 

1  I>.it;i  .la  caria  de  confirmação  ela  tença  de  cento  e  sessenta  mil 
Francisco  de  Faria  por  morte  de  seu  pai,  Antão.  Ibidem,  liv.  24.», 

fl.  KU. 

5  Chancelaria  de  D.  João  III,  liv.  3o."  de  Doações,  fl.  16. 


O  CAMAREIRO  369 

de  D.  Sancho,  Conde  de  Faro  e  de  Odemira,  a  28  de 
maio  de  1513,  em  Lisboa,  nos  paços  do  "mui  ilustre  c 
excelente  senhor,  o  sr.  D.  jaime,  Duque  de  Bragança  e 
de  Guimarães»,  procurador  de  seu  primo  o  Conde  de 
Odemira,  outorgando  como  representante  do  pai  da 
noiva  Álvaro  da  Costa,  camareiro  e  armador  mór  de 
D.  Manuel,  outro  parvenu,  que  foi,  guardadas  as  pro- 
porções em  ambos,  o  Antão  de  Faria  daquelle  rei.  A  ó 
de  junho,  na  mesma  cidade,  nas  casas  de  Antão  de 
Faria,  aprovou  o  contrato  sua  filha  I).  Joana  de  Faria, 
mãe  da  noiva  e  irmã  de  uma  das  testemunhas,  Francisco 
de  Faria,  fidalgo  da  casa  dei  Rei  6. 

Foi  um  dia  de  inefável  alegria  nas  casas  da  porta  da 
Alfôfa,  aquelle  em  que  o  filho  do  modestíssimo  Coudel 
de  Évora  viu  sua  neta  prestes  a  enlaçar-se  a  uma  famí- 
lia quasi  de  príncipes. 

Caiu  em  breve,  mas,  felizmente  para  Antão  de  Faria, 
depois  da  sua  morte,  a  desgraça  sobre  sua  joven  neta, 
que  no  mesmo  fatal  dia  19  de  maio  de  1516  perdeu  ás 
mãos  dos  Moiros  seu  pai  e  seu  marido!  Ficou-lhe  porem 
um  filho,  que  ella  ainda  viu  conde  de  Odemira  em  1556. 

Francisco  de  Faria,  filho  primogénito  de  Antão,  casou 
em  1513  '  com  D.  Joana  de  Castro,  filha  do  Rejedor 
Aires  da  Silva,  camareiro  mór  que  fora  de  D.  João  II. 
Este  casamento  prova  a  amizade  e  consideração  mere- 
cida pelo  Camareiro  ao  seu  superior  hierárquico,  que 
aplaudiu,  apesar  do  enubio,  o  enlace  de  sua  filha  com 
o  herdeiro  do  seu  antigo  subordinado. 

Aqui  findarei  o  meu  estudo  acerca  do  Camareiro  de 
D.  João  II. 


(i  Chancelaria  de  D.  Manuel,  liv.  42.",  fl.  55  v. 
Por  provisão  de  20  de  maio  de  1513  foi  mandado  pagar  a 
Francisco  de  Faria   o  primeiro  terço  dos  271.639  reaes  de  moto  do 
sen  casamento.  Corpo  cronolojico,  part.  2.a,  mac.  38,  doe.  130. 

24 


370  ESTUDOS 

Antão  de  Faria  era  uma  figura  esbatida  no  fundo  do 
grande  painel  da  vida  daquelle  Rei.  Trouxe-o  para  o  pri- 
meiro plano,  onde  é  o  seu  logar,  não  por  acções  bri- 
lhantes praticadas,  mas  pela  dedicação,  lealdade  e  dis- 
crição com  que  sempre  procedeu,  serviu  e  aconselhou. 

D.  João  II  não  desmereceu  o  epiteto  de  Príncipe 
Perfeito,  com  que  é  honrado  pela  Historia,  em  nenhuma 
das  vezes  que  se  guiou  pelo  parecer  do  seu  Camareiro. 
Esta  é  a  maior  gloria  de  Antão  de  Faria,  assim  como  a 
melhor  prova  do  seu  bom  caracter  está  no  retraimento 
em  que  viveu  depois  da  morte  de  seu  bemfeitor. 

Muitos  esqueceram;  o  Camareiro  porem  não  foi 
desses.  No  seu  espirito  conservou-se  sempre,  nitida  e 
venerada,  a  memoria  do  grande  Rei. 

Homens  sinceros  e  honestos  como  Antão  de  Faria  é 
que  hoje  nos  faltam  na  governação  do  Estado. 

O  seu  sangue  não  seria  azulado;  tinha  porem  a  ver- 
melhidão intensa  do  que  nesses  tempos  girava  nas  veias 
do  povo  português,  e  que  era  bem  diferente  da  desso- 
rada aguadilha  d'agora. 


Aldeia,  março-julho  de  1002. 


FIM    DO   PRIMPJRO   VOLUME 


ÍNDICE  alfabético 


Abiul,  Senhorio  de,  152. 

Ahraào.  Rabi,  astrólogo,  288. 

Ibranehes,  I>.  Álvaro  de,  mestre  sala 
de  D,  Manuel,  J28. 

Abranches.  Conde  de,  1.".  vide  Mun- 
da. 1).  Álvaro;  2.°,  vide  Limada, 
D.  Fernando. 

viiraiiciics.  Condessa  de,  vide  (astro. 
D.  <  'atenua. 

Abranches.  1».  [sabei  de,  filha  do  2.° 
C  nde,  288. 

kbranehee,  1».  João  de,  filho  do  1." 
Conde,  328,  329,  330.— Sua  torre 
.  r;«;is  nu  Lisboa,  258,  324,  326, 
327,  328,  332,  :i;i:i.  :!:i4,  341. 

Abrantes,  3,  lli. —  I.á  foi  a  primeira 
sepultura  do  Infante  1).  Pedro, 
259.  —  Residência  da  Excelente  Se- 
nhora, 160,  161.  —  Nasce  lá  o  filho 
'iastardo  de  D.  João  II,  1  IS,  (64. 
—  Diplomas  de  lá  datados,  257, 
'273. — Aleaide  mór  do  eastello, 
160. — Recebedor  do  almoxarifado. 
'266.  —  Senhor  da  vila,  160. 

Mirantes.  Conde  de,  1 .",  vide  Almei- 
da, D.  Lopo;  '2.".  vide  Almeida. 
D.  João. 

Mirantes.  ( ondessade,347.— lú/c  sil- 
va, D.  Brites. 

Abrantes,  Duques  de,  ramo  da  famí- 
lia de  Lancastre,  156. 

Altrantes.  Marqueses  de,  ramo  da  fa- 
mília de  Lancastre,  156. 

Abreu,  Constantino  de,  3.38. 

Abreu,  João  Comez  de,  poeta  do 
Cancioneiro,  25,  347. 

Abreu,  Pêro  de,  1.34. 

Afonso.  D.,  Cardeal  Infante,  cavaleiro 
fidalgo  da  sua  casa,  84.  —  Seu  pa- 
lácio em  Lishoa,  336. 

Afonso.  D.,  1.»  Conde  de  Faro,  243. 

Afonso.  D.,  Condestavel,  257. 

Afonso,  D.,  filho  herdeiro  do  3.° 
Conde  de  Odemira,  368.  369. 

Afonso.  Mestre,  físico  mór  de 
D.  Afonso  V,  24(i.  Vide  Madeira. 
Mestre  Afonso. 

Afonso,  Mestre,  físico  mór  de  D.  Ma- 
nuel. 250. 


Afonso.  D.,  Príncipe,  filho  de  D.  João 
II,  18,  22,  33,  34,  131,  208.  Seu 
nascimento   e  casamento,    1 15. 

Seus  amores  ;uveiu<,  146,  147. 
148. — Suas  armas,  179. —  Foi  mes- 
tre 'las  ( Irdens  de  Santiago  e  d< 
\\is,  17!).  — Sua  morte.  99,  [00, 
102,  106,  145,  152,  301.— Seu  tu- 
mulo provisório  na  casa  do  capi- 
tulo da  Batalha,  173.  —  Por  que 
não  foi  tão  sentida  a  sua  morte 
pelo  pai  comei  era  de  prever,  301. 

—  Valor  da  lejitima  que  pertenceu 
a  sua  mãe,  1  lii. — Seus  restos  trans- 
portados para  a  capella  do  Funda- 
dor no  referido  convento.  13!*, 
140,  173,  174.  —  Frontal  do  seu 
novo  tumulo,  179.  —  Seu  cama- 
reiro e  guarda  roupa,  vide  Baião, 
Pêro,  —  Governador  da  sua  casa, 
vide  Meneses.  1).  .loão. 

Afonso  I.  1».,  Rei  de  Portugal.  17. — 
Doação  sua  á  Ordem  de  Santiago. 
1.3. 

Afonso  IV,  D.,  Lei  de  Portugal,  142. 

—  Defende  a  independência  da 
<>rdem  de  Santiago,   15. 

Afonso  V.  D..  Lei  de  Portugal,  l(i. 
18,  35,  74,  lis,  [32,  147,  185,207, 
208,  211,  243,  253,  287,  316,  319. 

—  Pessoas  a  quem  entregou  a  cria- 
ção e  educação  de  seus  filhos.  259, 
260,  261,  262.  —  Suas  empresas 
africanas.  2,  3,  4,  5.  —  Reconhece 
os  serviços  do  Conde  de  Viana.  5, 
ti,  7,  8,  11. — Decreta  um  perdão 
geral,  192,  239,  240.— Concede 
cartas  de  perdão,  239. — Invade 
Castella,  191,  340.  —  Desposa-se 
com  a  Princesa  D.  Joana,  34fi. — 
Junta-se-lhe  o  Príncipe  em  Toro 
160. — Decide  a  ida  a  França,  161 
— Parte  para  la,  162.  —  Estando  lá, 
envia-lhe  o  Príncipe  um  mensa- 
geiro, 268,  269.  —  Regressa  de  lá, 
Pi'2. —  Pretende  afastar  o  Príncipe 
da  amante,  ltiti. —  Suas  qualidades 
e  defeitos,  1,  269,  270,  301. — 
Acessos  de  pavor  a  que  era  sujei- 


372 


[NDICl    AIIABLTICO 


to,  3.      I  '.i\  n  tenças  o  moços  fidal- 
andarcm  no  estudo,  I8.r» . 
-  armas,  I  75.      Sen  tumulo 
|)ro\  isorio  no  Batalha,  na  casa  do 
tulo,     1  ~i .'.     17.;.      Suas    exe- 
-.  187,  198.     Seus  restos  trans- 
is t  i  a-,  í  7  4 . 
I  rasladados  para  :i  capella  < I o  Fun- 
dador, 139,   1 10.      Frontal  da  sua 
]!..\  a  sepultura,  174a  1 77.— 
oticios   da    casa    e   reino:    alferes 
mór,   vide   Meneses.   1).   Duarte,  e 
l>.     Henrique;    apnsentador   mór, 
Furtado  de  Hendoça,  Nuno;  cama- 
reiro mor,  Albuquerque,  ] ).  Lopo  ; 
sua  casa,  263  ;  cirur- 
lor,    Mestre    Fernando,    Mes- 
Gil,     i  Martinho : 

.  <  nsta.  I  >.  Jorje  ;  <!"  3eu  ei mse- 
lho,  184,  261  ;  copeiro,  Alvarez, 
l.nis;  escrivão  'la  Fazenda,  alcá- 
çova, Pêro,  Figueiredo,  Henrique; 
escudeiros  da  3ua  casa,  257,  258; 
estribeiro  mor.  Faria.  Álvaro,  Feo, 
Pêro;  físico,  245;  físico  mor,  Ma- 
deira, Mestre  Afonso,  Mestre  Ro- 
drigo; moço  fidalgo  da  sua  casa 
197;  tesoureiro,  Montarroio,  Afonso 
Fernandez;  tesoureiro  mor,  Pes- 
tana. João. 
Afonso,  João,  contador  de  1"\  ora,  267. 
Afonso,  1).  Maria,  (ilha  bastarda  de 
I ).  1  >inis  sepultada  em  <  Idivellas, 
168. 
Afonso.  Martim,  almoxarife  de  Bor- 
ba, 267. 

Afonso.   Nuno.  228,   248, 

Afonso,  Pedro,  besteiro,   i89. 
Africa,    Condado  de  Guazava,  285. 

—  Empresas   de  I>.  Afonso  V,  õ. 

—  Do  Infante  D.   Fernando,    1,  \!. 

—  Serviço  lá,  255,  305,  — Merc»  do 
habito   de   Cristo  por  esse  facto, 

Agua,  Branca  'la.  318. 

Agua,  Maria  'la.  mulher  de  Lourenço 

de   I  ária.  314. 

Agualva,  termo  d'-  Palmella,  240, 
Aguiar,  Senhor  de,  198. 

\i-iiiar.   Aátenio  '1''.  moço  'la  camará 

do  Príncipe  I'.  João,  267. 

Aguiar,  Este; a..  'Ir,  51 . 

Aguiar,  Jorje  de,  poeta  'lo  Cancio- 
neiro, 187. 

Aia-      de     D:    JoãÒ    li.    Vide    Meneses. 

D    Beatriz,  e  Vilhena.  J  i.  Beatriz, 
Ures.   Mestre,    tísico    <\<-    D.  Afon- 

.  245- 
\ião.  D  João  Soarez,  vide  Joio,  I».. 

: 


Albergaria,  Afonso  Soarez  de,  sr.  da 

ergaria     \>    Paio   Delgado  ■  ■  do 

hospital  de  Santo   Eutropio,    161  . 

albergaria,  Brites  Lopez  de.  mulher 
de  Vafco  Martin/  da  Cunha,  361- 
362. 

albergaria,  Caterina  Soarez  de.  sr." 
da  referida  albergaria  e  hospital, 
361, 

Albergaria,  Diogo  Soarez  de.  gover- 
nador do   Principe   I'.  João,  259- 

260,  '-'iil .  -    Seu    mordomo    mor, 

261,  263. 

Llbergaria,  Diogo  Soarez  de.  sr.  dos 
referidos  hospital  e  albergaria,  e 
alcaide  mor  de  Arronches,  361. 

Albergaria,  Lopo  Soarez  de.  sr.  dos 
referidos  hospital  e  albergaria, 
361. 

Albuquerque,  I'.  Lopo  de,  Conde  de 
Penamacor,  camareiro  mor  de 
i>.  Afonso  V,  335,  .'ííii.  —  Sua&ca- 
sas  em  Lisboa,  322,  335,  365. 

Albuquerque,    Teresa  de,   mulher   de 
um    desconhecido   Garcia   de  l£e- 
.  88. 

Alcácer  do  Sal,  doada  á  Ordem  de 
Santiago,  13,  14.  —  lá  recebeu  a 
Rainha  D.  Leonor  e  sen  irmão 
J).  Manuel  a  noticia  da  morte  de 
l>.  João  II.  112.  — Lá  é  aclamado 
rei  D.  Manuel,  1 1  3. 

Alcácer  Seguer,  Tomada  de.  240. 
Estada  lá  de  Afonso  Y,  .'!. — Cer- 
cos  postos  pelo   Bei   de  Fez,  •">  - 

Capitães,   r/í/e  Meneses.  I>.  Duarte, 
e  D.  Henrique. 

:erquibir,  Batalha  de,  163. 

Alcáçova,  D.  Beatriz  da.  mulher  do 
Secretario  António  Carneiro,  iii.i, 
!  1 1  õ . 

Alcáçova,   Francisco  da,  Br.  d"  paul 
i  »ta,  345. 

Alcáçova.  Isabel  da.  mulher  de  Fran- 
cisco de  Matos,  343.  ' 

Alcáçova,  Margarida  da,  mulher  de 
João  da  Fonseca,  343.  34  i,  349\ 

Alcáçova,  Pêro  da,  escrivão  da  fa- 
zenda de  D.  Afonso  V.  295;  dê 
D.  João  II.  137,  293,  296.  Escri- 
vão da  testamentária  de  D.João  II. 
309.  —  Suas  casas  em  Lisboa,  32$, 
334,  342,  345,  348.  -Suas  filhas  e 
s,  343,  344,  345. 

Ucaçou  Carneiro,  Pêro  da..  Secreta- 
rio de  Estado  e  I  'onde  da  Idanhn 
a  Nova,  345,  34.6. 

Alcáçovas  residência  temporária  de 
D.'  João  II,  110)  149,  166.  l  á 
ta/    o    sen    testamento,    111,    281, 


ixnicr  \i  i  ABi  rico 


373 


Diploma  ile  lá  datado,  100. 
Srs.  da  vila,  23,  339. 

Alcáçovas,  •  ond<  3  d.i^.  1 56  Seu 
cartório,  320,  335,  337,  3 

Alcochete,  caso  IA  sucedido  a  I  > . ,  l . . ;* . . 
II.  283.  Diploma  lá  assinado,  '243. 

Alcoforado,  António,  pajem  e  amante 
da  I  uiquesa  de  Bragança,  .'77. 

Alcoutim,  Carta  do  condado  de,  180. 

Alcunhas   com    foros   oficiaes,    vide 

Calçadlllia,  Olilcliorro. 
aldeia  (jalega  da  Merceana,  as  suas 
rendas  e  d  Lreitos  reaes  pertenciam 

ú  Rainha  D.  Li •,  I  13,  118,  1 18. 

\-  jugadas,  rendas  de  pão  e 
vinho,  foros  e  outros  direitos  Bão 
doados  ao  hospital  das  Caldas  da 
Rainha,  124,  125,  126. 

Aldeia  < .'avinha,  as  suas  rendas  e  di- 
reitos reaes  pertenciam  á  Rainha 
D.  Leonor,  113,  118,  128. 

Alegrete,  Recuperação  de,   IO'.'. 

Uemquer,  as  suas  rendas  e  direitos 
reaes  pertenciam  á  Rainha  D.  Leo- 
nor, I  13,  I  18,  128.  Lara  lá  foi 
desterrado  António  ( larneir 
—  Almoxarifes  da  Rainha  na  vila, 
134. — Coudel,  256. 

Alemtejo,  <  lamparina  sustentada  pelo 
Príncipe  J».  João  no,  162.  Pré- 
dios lá  designados  por  quintas,  64. 

Alexandre  III.  papa.  1 3. 

Alexaudre  VI.  papa,  122,  331. 

Alfaias  diversas,  108,  109,134,290, 
292,  366,  367.-  De  igreja,  134,  Lis. 

Àlfajar  de  Pena,  doado  á  Ordem  de 
Santiago,  1  í. 

Alfarrobeira,  Batalha  da,  259,  260, 
319,  329.  —  Carta  de  perdão  por 
ter  lá   estado,  245. 

Alferes  do  estandarte  do  Principe 
1).  João  em  Toro.  vide  Faria,  Lou- 
renço. 

Alferes  mor  de  D.  Afonso  N  .  oide 
Meneses,  1>.  Duarte,  e  J>.  Henrique. 
—De  D.  João  III.  Meneses,  D.  João, 

Algarve,  lá  morre  I>.  João  II,  99, 
308. — Dinheiros  dos  atuns  das 
armações  da  RainhaD.  Leonor,  1 3 ! . 
138.— Assistente  por  1).  doão  II 
naquella  comarca,  302 

Alguns  documentos...  da  Torre  do 
Tombo  acerca  das  navegações  e  con- 
quistas portuguezãs  publicados.  . . 
ao  celèbrar-se  u  vommemorat  ão  qua- 
dricentenaria  <lo  descobrimento  >la 
America,  Lisboa,   1.892,  —  7.  77. 

Aljubarrota,  Batalha  de,  31. 

Ajustrel,  doado  á  Ordem  de  Santia- 
go, I  L 


\  Imada,  doada  á  '  Irdem  do  Santia- 
go, 1 3.       \di.a  do  seu  terim 

Umada,   D.  Álvaro  de,  I .  '  I ionde  de 
da  Jarretei- 
ra,  capitão  niór  da  frota, 
mor  de  Lisboa,   I  76,    3  28, 
.Morri-  na  I. atalha  da  alfarrobeira  e 
seus  bens  Bão  conl  i  sca   o 

Limada,    Álvaro   Vasquez   de, 
precedente. 

limada,  1 '    I  ernando  d 
de  Abran 

Limada,  D    Isabel  de,  91. 

Almada,  João    \  asquez   de, 
de  Lisboa,  327 

Almada.    1».    1  eonor   de,    nu;, 
André  Falcão  de  Resende,  91 . 

Almada,  \  asco  1  .ourenço 
dor  de  um  \  inculo,  327,  329. 

Almeida,  Recebedor  do  porto 

Almeida,  D.  Dinis  de,  contador  mor, 
34  ',  345.-  -Seu  palácio  em  Lisboa, 
336,  3í  1. 

Almeida.  D.  Diogo  de,  Li  ior  - 

to.   25,    I '1 1 ,    152.  —  Monteiro   mor 
de  D.  João  II,  280.— Do  -■ 
selho  testamentario,  309. 

Almeida.     1>.      DiogO     I  «niaiide/.     de, 

oide  o  precedente. 
Almeida.  1  >.   Francisco  de,  \  ice  Rei 

da    Índia.  288. 

Almeida,   D.  João  de,  2.°  <  londe  de 
Abrantes,     vedor    da    fazenda    de 
D.    João  11,    167.  —  Esti 
lhe   o  rilho  bastardo  para  acabar 
de  o  criar,  152,  167. 

Almeida.  D.   Lopo  de,   I."  Conde  de 
Abrantes,  são-lhe  entregues 
tos  do   Infante   1»    Pedro,    . 
Mordomo   mor    da  Excelente   v'-- 
nhora,  ficando-lhe  confiada 
guarda,   160,   167. 

Almeida,  1>.  Maria  de,  mulher  de 
Manuel   Coelho  da  Silva,  57. 

Almeirim,  diploma  de  lá  data  d 

Alpedrinha,  de  lá  era  natural  o  i  lar- 
deal  1>.  Jorje  da  ( !osta,  33l 

Alpedrinha,  Cardeal  de,  vide  Costa, 
D.  Jorje. 

Alvaiázere,  as  rendas  reaes  perten- 
ciam á  Rainha  I).  Leonor,   118. — 
<  lom   seu  consentimento   «... 
das  á  Princesa  D.  Isabel,  (18. 

Alvarez.  Afonso,  Juiz  dos  feitos  da 
Mina,  365. 

Alvares,  Diogo,  cavaleiro  da  ' 
de    Santiago,   356.      I  »eixa-lhe   a 
Rainha  ]>.  Leonor  umas  casas  sob 
os  seus  paços,  353,  354,  355,  356, 
358. 


374 


INDICF.  alfabético 


Uvarez,  Fernando,  almoxarife  'ia 
Rainha   1»    Leonor  em   Alemquer, 

Alvarez,  Fernando,  escrivãoda  Chan- 
celaria, 243. 

Alvarez,  Fernando,  tesoureiro  mor  de 
D.  João  III,  133,  137. 

Alvarez,  João,,  abade  de  Esmeriz,  au- 
tor ile  um  nobiliário,  31  í. 

Alvarez,  .Ioãi>.  amo  do  Mestre  I ».  Jor- 
je,   152. 

Uvarez,  João,  escrivão  da  fazenda 
da  Kainha  1>.  Leonor,  137. 

Alvarez,  Leonor,  guarda  do  oratório 
da  Eíainha  1).  Leonor,  é-lhe  dada 
carta  de  quitação,  136.  —  A  cila 
e  ao  marido,  Diogo  Alvarez,  deixa 
a  Rainha  umas  casas,  354,  355, 
356. 

Alvarez.  Luis,  copeiro  de  1>.  Afon- 
so V,  260,  267. 

Alvarez.  Pedro,  almoxarife  da  Rainha 
1>.   Leonor  em  Faro.   134. 

Aharo.  1).,  ridr  Portugal,  D.  Álvaro. 

Alvito,  liarão  de,  I.  ,  vide  Silveira. 
•  loào  Fernandez;  '!.",  vide  Lobo. 
1».  Diogo;  3",  ride  Lobo,  D.  lio- 
drigo. 

Alvor,  lá  morre  D.  João  II,  36,  112, 
165,  223,  308,  .'U.S.  — A  casa  onde 
morreu  é  visitada  por  D.  Sebas- 
tião, 11"'. — População  da  vila,  1  12 
—  Sen  alcaide  mor,  112,  368 

A  nadei  mor,  vide  em  besteiros, 
les,  1  lerda. le  <los,  64. 

Ancs.  D.  Lourenço,  Comendador  mor 
e  depois  Mestre  da  <  Irdem  de  San- 
tiago, 15. 

.  Senhor  de,  362. 

Anjeja,    Marquês   de,  o  ultimo,  208. 

Annaes  das  sciencias  e  lettras,  publi- 
cados debaixo  dos  auspícios  da 
Icademia  Real  das  Scienciax.  Lis- 
boa, 1857-1858,  2  vols/,  163,  271, 
275,  282. 

Anobra,  Doação  'lo  senhorio  de,  153. 

Anrlquez,  vide  Henriques* 

Anta,  Herdade  e  quinta  da,  i3,  •">•'>. 
63,  64.  —  Nella  institue  Garcia  de 
Resende  um  morgado,  i3,  59,  64, 
66,  70. 

Antas.   Vasco   de,   266. 

Antona.   Pano  de,  134,   289 

António,  Mestre,  vide  Lucena,  Mestre 
António. 

Aposentador  mor  de  I».  Afonso  V, 
ride  Furtado  de  Hendoça,  Nuno. — 
De  I  >  João  1 1 .  vide  Henrlnuez, 
1».  Henrique. 

:i\  iado    contra   os 


Infantes  de,  261.— Burel,   291 
Candeias  para  resar,  109. — Prin- 
cesa herdeira,   106,  14Ô. 

Archivo  histórico  portuauez.  Lisboa, 
1903-1909,  7  vols.,  34,  37,  19,  85, 
87,  88,  89,  91,  92,  93,  94,  103,  109, 
llii,  129,  153,  183,  193,  194,  234, 
244,  249,  250,  267,  268,  273,  275, 
276,  293,  294,  295,  296,  297,  302, 
310 

Arguim,  pensões  pagas  pelos  capi- 
tães e  escrivães  dos  navios  que 
para  !ã  se  armavam  em  Lisboa,  ou 
de   lã  para  os  rios  de  Guiné,  i2. 

Armador  mor  de  I>.  João  II,  vide  Ka- 
ria.  Antão.  —  De  1».  Manuel,  vide 
fusta,  Álvaro. 

Armaria  portuguesa,  apêndice  ao  Ar- 
chivo histórico  portuguez,  296. 

Armas,   licenças  para    as   trazer,  75, 

240,  245. 

Armas  do  reino  modificadas  por 
D.  João  II.  124,  177.  178. 

Arraiolos,  Senhorio  e  alcaidaria  mor 
de,  274, 

Arraiolos.  Conde  de,  vide  (astro, 
1>.  Aharo  Pirez. 

Arronches,  Alcaide  mor  de,  361. 

Arruda,  doada  ã  <  >rdem  de  Santia- 
go, 13. 

Arruda.  João  da,  239,  240. 

Arvers.  autor  de  um  celebre  soneto, 
190. 

Arzila,  Tomada  de,  3,  262,265,295. 
—  Recuperação,  244. — Adail,  vide 
Resende,  Gonçalo.  —  Capitão,  vide 
.Meneses.   1).    Henriípie,   e  1>.  -1 • 

Astrólogo,  MO. —  Vide  Estrolico. 

Ataíde.  1).  Al  varo  de,  um  dos  cons- 
piradores contra  1>.  João  11,  é  con- 
denado por  sentença  nunca  revo- 
gada, 153,  276.— 1>.  Manuel  inde- 
corosamente  restitue-lhe  os  bens, 
153,  154,  275,  276.  —  Sua  casa  em 
Lisboa,  365.  —  Recheio  delia,  366, 
367. 

Ataíde.  1).  rernand"  de.  suas  casas 

em  Lisboa .  326,  365. 

Ataíde.    I  »,    [nês  de.   mulher  de  DÍOgO 

<  lomez  Peixoto,  59. 
Ataíde.     1».     Maria     de,    mulher    de 

I ).   Uonsii,  filho  herdeiro  do  Conde 

de  Odemira.  368,  369. 
Ataíde.   Nuno  Fernandez  de,  capitão 

de  Safim,  sr.  de  Penacova  e  alcaide 

mor  de  Alvor,  368,  369. 
Atalaia.   I  onde  da,  365, 
Atouiruia.  2.°  Conde  da,  3,  153,329 
Aveiro,    188.  —  E'   lá  criado  o   filho 

bastardo    de    1>.    João    II,    151. — 


índice  ai  i  abi  rico 


375 


<  irurjião  lá  morador,  247.  —  Se- 
nhorio  da  vila,  152,  243.  So  Beu 
termo  <->t.i\a  a  ilha  da  Testada, 
junte  de  Vilarinho,  ','íi  244. 

Aveiro,  Duque  de,  I.  .  i'íde  Lanoas- 
tr.-.  D.  João;  ■.'.'.  93,  94  Os  du- 
ques eram  oa  chefes  da  família  de 
Lancastre,  15G. 

Avis,  <  arta  datada  de,  240.      <  irdem 

militar,    vide  <  Irdem   de   A\  is. 

Urranehea,  Conde  de,  na  Normandia, 
328. 

Ayamonte,  doado  á  <  Irdem  d< 
tia^ro.  14. 

Azambuja,  os  seus  direitos  reaes per- 
tenciam á  (tainha  1».  Leonor,  119, 
128. 

A/.anil>iijii.  Conde  da,  actual.  211. 

Lzevedo,  Diogo  de,  fidalgo  da  casa 
de  D.  João  11.  242. — Sr.  de  Aguiar, 
S.  loão  de  liei,  etc.,  198. 
izevedo,  ./.  Lúcio  de,  Os  Jesuítas  no 
Grão-Pard,  suas  missões  e  o  colo- 
nizarão. Lisboa,  1901.  —  Criticaa 
este 'livro.  213,  2  I  í.  217. 

Izevedo,  Pedro  de,  1.°  conservador 
na  Torre  do  Tombo,   112,  284. 

Azevedo,  Pedro  de.  Sebastião  de  Ma- 
cedo, o  moço.  artigo  no  I  vol.  do 
Arch.   Iiist.  port..   91 . 

AzeuMld.  Rui  Gomez  de,  provedor 
mór  da  rendição  dos  cativos,  242. 

Lzeredo    Castello     Branco.     Jos 
Bibliotecário  mor,  216. 

Azeredo  de  Meneses,  José  de,  Ninha- 
rias. O  camareiro  Antão  de  Faria 
e  os  seus  ascendente*,  artigos  no 
Jornal  do  Commercio,  de  22  de 
maio  e  22  de  inibo  de  1902  - 
314. 

Azurara,  Doação   da  terra    de,  200. 

Azurara,  nomes  Eanes  de,  Chronica 
do    Conde    D.    Duarte   de   Meu,  ses 
no  111  tom.  dos  Inéditos  de  histo- 
ria portugueza .. .  Lisboa,  1793 
3,  l,  G. 

Rabilão,  1'ero,  "J 1 7 . 

Badajoz,  Mestre  João  de,  medico  em 
Serpa,  248. 

Baiio,  Pêro  de,  camareiro  e  guarda- 
roupa  do  Príncipe  1».  Afonso,  300. 

llairos.    ride  Barrnv 

Baldai*,  l>r.  Fernando  Alvarez,  mo- 
rador no  Porto.  245. 

Baleisão,  herdade  no  termo  de  Beja, 
12,  72. 

Raltar,  Senhor  de,  185. 

Balzttc.  II.  ile.  OEuvres  completes. 
XXJIJ  OEuvres  direrses.  Septième 
partie.   Estais  historiques  et  poli- 


tiques. Paris,  <  alinann  Lè\  v,  edl- 
teur,  1879.   -181 

Barata,  António  Francisco,  conser- 
vador na  Bib.  publica  de  IA ora . 
214. 

tíarata,    intonio  Francisco,  André  de 
Hesende  e  não  Lúcio  André  de  Re- 
sende, artigo  no  III  vol.  do    Ire/». 
hist.  port.,  85. — breve  memoria  his- 
tórica do  mosteiro  de  Sossa  S 
do  Espinheiro  extramuros  rfi    I 
ra.  Évora,  1900,  39.-    I  Itima  ver- 
ba. André  de  Resende,  Lúcio  '  Re 
posta  e  addit amento  a  um  artigo  da 

Senhoril    D.    (  aiotina    Mirhaelis  de 

Vasconcellos  incerto  no  vol.  3.°  do 
Archivo  Histórico.  Évora,  1905, 
52,  5G,  84,  91. 

Barbeiro,  ('arta  de  cirurjia  dada  a 
um,  249. 

Barbosa,  Jorje,  morador  em  Évora, 
51. 

Barbosa  Machado,  Diogo,  Bibliotheca 
Lusitana  Historiai.  Critica  e  t  ro- 
nologica...  Lisboa,  1741-1759,  \ 
vols.,  G9,  78,  80,  90,  194,  345. 

Barcellos,  25 1 . 

Barcellos,  ( Sondes  de,  9. 

Barcellos,  Peru  de,  recebedor  das 
vintenas  de  Guiné,  129. 

Barreira,  João  de,  impressor,  78. 

Barros,  Beatriz  de,  mulher  de  <íil 
de   Resende,   7 'i .  75. 

Barros,  Diogo  de.  almoxarife  ria 
Rainha  1>.  Leonor  em  Silves,  134. 

Barros,  Filipa  de,  filha  de  'íonealo 
Nunez  de  Barros,  7 ! . 

Barros,  '  ionçalo  Nane/  de,  7  1. 

liarros.  -loão  de,  historiador,  73,  7li, 
77,  78,  79,  80,  137. 

liarros.  Joam  de,  Ásia  ile — ,  rfos  fr- 
eios Que  os  Portugueses  fizeram  no 
descobrimento  e  conquista  dos  ma- 
res e  terras  do  Oriente.  Impressa 
per  Germão  Galharde  em  Lisboa: 
a.  xxviij.  de  Junho  auno  de.  m. 
v.'  li j .  299.  —  Década  terceira  da 
Asm  ,ti — Dos  feitos  etc.  Lisboa, 
1628,    74,    77,    80,    81.— Quarta 

denota     da     Ásia     de  —  DOS     feitos 

etc.  Lisboa,  1615,  78.  —  Compila- 
ção de  varias  obras  do  insigne  Por- 

tuguez  João  de  liarros.  Contem  a 
Ropica  pnefma,  c  o  Dialogo  com 
dons  filhos  seus  sobre  preceitos 
moraes...  Feita  esta  reimpressão 
por  diligencias  e  cuidado  do  Vis- 
conde I  -•  lo.  Porto,  1869,  73, 
77.  78,  80.  —  Crónica  do  empera- 
rador    Clarimumlo    etc.,    1  .a    ed.. 


376 


ÍNDICE  Al  I  ABETICO 


Lisboa,  1522,  77,  78 ;  -'. '  ed., 
i  loimbra,  1555,  78. 

Barros  Gomas,  Henrique  de,  Prefacio 
tio  Príncipe  perfeito  de  <  'liveira 
Martins,    1  Í3boa,    18!  6,    159,   221. 

Barros  de  Vasconcellos,  .João  de,  co- 
mendador de  <  Iristo,  7  1. 

Basto,  Senhorio  de,  wrie  '  'elorico 
de  Basto. 

Batalha,  administrador  do  concelho, 
180.— 1'aroco,  180. — Presidente  da 
Camará,  17'.'.  174. 

Batalha,  <  lonvento  da,  capi  lias 
imperfeitas,  140.  —  Exéquias  de 
I  >.  Afonso  V,  187.  Sepultura  de 
D.  João  II.  131,  169.— Auto  da 
trasladação  dos  seus  restos  para  a 
capella  da  Piedade,  180.  Trasla- 
dações de  D.  Afonso  Y,  Rainha 
1).  [sabei  '■  Príncipe  I '.  Afonso,  da 
casa  do  capitulo  para  a  capella  do 
Fundador,  139,  140,  172,  17.'!.— De 
D.  João  II  da  capella  da  Piedade 
para  a  do  Fundador,  1 39,  I  40, 
169,  171),  l71.^Frontaes  das  no- 
vas sepulturas  nesta  ultima  capei? 
la,  174  a  179. 

Beatriz,  I>..  Infanta,  tutora  do  filho 
1).  Diogo^  147.— Iíecebe  a  noticia 
de  1).  João  II  haver  nomeado  a 
coroa  em  seu  outro  filho  D.  Ma- 
nuel,   111.  —  Domina-o,    31,    ILr>. 

—  Donzellas  da  sua  casa,  190. 
Beiço,  Estevão,  almoxarife  da  Rainha 

D.  Leonor  em  Silves,  133-134. 

leira.  161. —  1'rivilejio  de  fidalgo 
para  a  comarca,  75,  -  Senhorios  na 
c área.  186,  190. — Védoria  moí- 
das (j  liras,  261 . 

Beja,  .Morador  em,  245.  —  Diploma 
de  lá  datado,  'J'i(i.  —  Herdade  no 
seu  termo,  5 1,  72. 

Beja,  Duque  de,  vide  Diogo,  D.,  e 
Manuel.   D. 

Beja,  Infante  D.  Manuel.  Duque  de, 
nas  argolas  da  urna  com  os 
restos  de  D.  J.oão  II,  na  solene 
trasladação  na  Batalha,  17"'. 

Belém,  Torre  de,  37,  302. 

Belém,  Fr.  Jerónimo  de,  Chronica será- 
fica da  Santa  Provinda  dos  ligar- 
ia fíegvlar  Obse>  vancia  de. .  . 
s.  Francisco,  parte  terceira... 
Lisboa,  1755.       130,  131. 

Bemvi\  er,  Senhor  de,  185. 

Benacofú,  Expedição  á  Berra  de,  3,  i 

Benafilé,  freguesia  do  termo  de  Évo- 
ra,  herdades   lá    situadas,   12,    16. 

—  A  sua  ribeira,  12. 
Benamarim,    Terra  de,  em  Africa,  7. 


Bernaldez,  I  osmo,  134. 

Berredo,    l>.    .Maria    de,    mulher   di 

Bui  Vaz  Pereira,  194. 
Berredo,   Marti m   Afonso  de,   sr.  de 

Unhão,   185. 
Besteiro,  Vestuário  para  um,  289. 
Besteiros    da    camará,    282.      Seu 

anadel  mor,  27 1,  282,  285. 
Besteiros  de  cai  alo,  Í38,  Í41.      Seu 

a  1 1  a  d  i  d   mor,    1  i  7  ,    1 48. 

Bíblia  dos  Jerónimos,  códice  ms.  da 
Torre  do    I  ombo,   124. 

Bibliotecas  publicas,  seu  pessoal, 
21  'i.  215.  Reformas  desgraçadas, 
215!  —  Bibliotecários  mures,  216, 
217. 

Biscainho,  cirurj ião,  morador  no  Por- 
to, 228,  250.  ' 

Bluteau,   /'."   D.  Rafael,    Vocabulário 
portugiiez  e  latino...   Coimbra  e 
Lisboa,    1712-1721.    8   vols.   Sup- 
plemento  ao  I  ocabulario .  .  .  I 
1727-1728.  2.  vols.,  195,  206. 

Boa  Fé,  freguesia  do  concelho  de 
Évora,  cide  Benafilé 

Bobadella,  Condes  de,  vide  Freire 
de  ladrada,  Gomes  e  José  Antó- 
nio. 

Bode,   António    1'ire/,   312. 

Boletim  de  bibliographia  portugueza 
sob  <i  direcção  de  Annibal  Fernan- 
des Thomaz,  ■  ■  <  'oimhra,  1879- 
1882,  '.!  vols.,  o  2.°  incompleto, 
84,  85. 

Boletim  da  Sociedade  de  Geographia 
de  Lisboa,  fundada  em  1875.  25.* 
Serie,  1907.  85. 

Bombardeiro,  carta  de  privilejios  a 
um  que  faz  tiros  de  fogo,  246. 
Carta  de  10.000  rs.  de  tença.  146. 

Bonifácio  VIII.  papa,  1  'i. 

Boquilobo,  Senhor  do   paul  de,  288. 

Borba,  Almoxarife  de,  247. — Satis- 
fação pelo  senhorio   da  vila,    HG. 

Borba,  Conde  de,  vide  Coutinho, 
I).   Vasco. 

Borjes,  1».  Diogo,  abade  comendata- 
rio  de  líefoios,  191. 

Borjes,  Duarte,  escrivão  da  Chance- 
laria, 242. 

Borjes,  Pêro,  escrivão  da  Chancela- 
ria, 240,  Í43. 

Borjes,  Pêro,  vedor  da  casa  do  Prín- 
cipe D.  -loão,  263. 

Borjes  de  Figueiredo,  A,  C,  0  mo  - 
teiro  de   Odivellas.   Casos  de  rei» 
r    memorias    de    fieiras.    \ 
1889,  168. 

Bota,  Beatriz,  mulher  de  Francisco 
de  Resende,  34,  '-'(is. 


[NDK  l    Al  I  AB]  riCO 


377 


Bota,  <  laterina,   >l ,  5 .'. 

Bota,  Filipa,  mãe  de  Leonor,  51,  52. 

Bota,  Filipa,  mulher  de  I  ranci  3C0  de 
Resende, 

Bota,  I  eonor,  freira  de  S  I  'rancis- 
co,  .M 

Bota,  Maria,  filha  do  dr.  Duarte  de 
Pina,  ."i| . 

Boticário,  246.-  ( »  do  Duque  de  Bra- 
gança, 249. 

Boto,  orijem  do  ápel  idó,  3  'i 

Boto,  António,  possuidor  de  um 
moinho  em  I  isboa,  a  Val\  erde, 
35, 

Boto,  João,  morador  em   Évora,  15. 

Boto,  Martim,  morador  em  Évora, 
51. 

Boto,  Dr.  1,'iii.  desembargador  do 
paço,  35  ;  chanceler  mor  de  I  >.  Ma- 
nuel, 243,  244. 

Boto,  Iíui,  morador  em  Évora,  51. 

Braamcamp  Freire,  Anselmo,  Bra- 
sões da  Sala  de  Cintra,  liv.  l.°, 
2.  e  3.°  Lisboa,  1899-1905,  '..  7, 
8,  In,  II,  94,  124,  155,  167,  194, 
243,  258,  274,  329,  346.-  Cartas 
de  quitarão  de  D.  Manuel  publica- 
das no  Arch.  hist.  port.,  37,  129, 
283,  3  I  0.—A  Cha  nce liaria  de 
D.  João  li.  no  cit.  Arch,  109.— 
Emmenta  da  Casa  da  índia,  no  vol. 
de  1907  do  Boletim  da  Sociedade 
de  Geographia  de  Lisboa,  85.  — -4 
gente  do  Cancioneiro,  no  vol.  \  da 
Revista  lusitana,  24. — O  livro  das 
tenças  dei  liei,  no  cit.  Arch.,  1  16. 
—  As  sepulturas  do  Espinheiro, 
Lisboa,  1901.  29,  67,  69,  70,  295. 

Rrabante,  Lenço  de,  ,".)l . 

Braga,  Arcebispado  de,  281.  —  Ar- 
cebispo, 15;  vide  Costa,  ]>.  Jorje; 
outro  Costa.  I).  Jorje ;  Luis,  D.; 
Pereira.  1).  Gonçalo.  —  Biblioteca 
publica,  21  í. 

Braga,  Theophtlo,  Bernardim  Ribeiro 
e  o  Bucolismo.  Porto,  1897.  168.  -■ 
Poetas  palacianos.  Porto  1871.  184. 

Bragança,   Logar  do  termo  de.  248. 

Bragança,  Casa  de,  melhor  rei  que 
nos  deu,  !)N. — A  declinação  de  Por- 
tugal começa  no  reinado  do  pri- 
meiro príncipe  com  sangue  desta 
casa,   132. 

Bragança,  Duque  de,  D.  Afonso,  108. 

Bragança,  Duque  de,  D.  Fernando.  1, 
8. 

Bragança,  Duque  de,  D.  Fernando  II. 
sua  primeira  mulher,  10.  —  '•  om  n 
titulo  de  Conde  de  Guimarães 
serve  em  Africa,  2,  •!.  —  Seus  de- 


latores,   271,    ■;  ■  ia  pri- 

são, 270,  271.      Sua  Bentem 

—  Degolado  em  Seus 
bens  doados  :i  varies  em  paga- 
mento do  sen  iços,  1  I 6,  ?57 .  272, 
280,  281.  Malfeitores  acoitados 
nas  suas  terras  do  Minho,  198. — 

Acusado    da    rte    do    i-Niih.nl'. 

D.  Duarte,  276.  —i  >  caso  da  sua 
conspiração  mal  fica  apontado, 
278.  —  1'.  Manuel  reconheci 

ella    sído    facto    provado,    275. 
Premiando  os  seus  delaton 
\!7.>.  —  Seu   irmão  I>.  Álvaro,   152. 
Si  ii  .mi ig Ir.  Diogo  Pinhei- 
ro,   1 66.  —  seu   confessor,    269. 
Seu   escrh  ão   da   fazenda,   271. 
Seu    represi  ntante    no    seculò   \\ 
pega    numa    das   argolas  da  uma 
com    os   restos  de   I ».  João  II  por 
ocasião  da  sua  solene  trasladará... 

Bragança,  I  >uque  de,  I '.  Jaime,  res- 
titue-lhe  1  >.  Manuel  a  casa.  1 14, 
1 15,  116,  153,  274,  275.—  ti 
mente  acusado  de  mandar  enve- 
nar  D.  doa..  II,  225,  230.  Per- 
i  espi .sã  criança  ainda.  277. 
Nos  seu  -  paços  de  I  .isboa  cele- 
bra-se  um  contrato  de  casamento, 
369.  Seu  aio,  299.  -  Seu  boticá- 
rio, 249. 

Bragança,  Duque  de,  D.  Luis  Fili- 
pe, pega  nas  argolas  da  urna  com 
os  r.-st. is  de  I  >.  João  1 1.  na  oca- 
sião  da    sob  ne    I  rasladação,    1 72. 

Bragança,  I  >uquesa  de,  I '  I  lonstan- 
ça,  347. 

Bragança,    Duquesa    de,    D. 

recebe  a  noticia  da  nomeação  de 
seu  irmão  D.  Manuel  para  suceder 
na  coroa.  111.  —  Sua  pouca  viji- 
lancia  pela  honra  da  nora,  277 . 

Bragança,  Duquesas  de,  vide  Meudoça, 
D.  Joana,  e  D.  Leonor. 

Braganças,    instincto    de    cubica    de 
todos  elles,  106,  K>8.  —  Sua 
bia.    270 — Sua    expatriarão.    270. 

—  Sua  repatriação  e  entrada  em 
Setúbal.  31  '.  Restituição  das 
suas  casas.  31,  114,  115,  110,272, 
'.'Ti.  275,— Expressamènti 

da    por   D.    João   II.    106,     110.  - 
Enerjicamente  verberada  pi 
mião   de   ( !oes,    114,    115,    1 16.  — 
I  desfalque  trazido  por  ella  á 
do  reino.    I  16,    117.   31  6. 
Brandão,  Fr,  António,  Terceira  parte 
da  Monarchia  I  usitana . . .  I 
1632.  17. 


378 


INDICF  ALFABÉTICO 


Brandoa,  Maria,  mulher  de  Diogo  de 
i  iões,  89. 

Brantdme,  escritor  francês,  27. 

Bretanha,  Lenço  de,  [34,  291. 

Bristol,  Natural  de.  226,  239. 

Brito.  António  de,  capitão  de  Tér- 
mite. Tii.  77.   ?8. 

Brito,  .lorje  <le,  capitão  mór  da  ar- 
mada da  Índia.  7<i. 

Brito.  Lourenço  <le,  copeiro  mór  de 
D.  Manuel.  103. 

Brito  fíebello.  Jacinto  lanado  de. 
Ementas  históricas  II.  Gil  Vicente. 
Estuam.   Lisboa,    1902.   354,  359. 

1 '.rires,  Pano  de.  291 . 

Buarcos,  Doação  do  senhorio  de. 
152.  —  Não  continuada.   153. 

Buy,  João  de.  moro  fidalgo  francês, 
284-285. 

Cabeceiras  de  Basto,  Concelho  de, 
193.  — Senhores  delle,  184,  185. 
187,  190,  L98,  199,  209.— Rendas 
e  direitos  reaes  do  julgado,  192, 
199.  —  Mosteiro  de  Befoios  lá  si- 
tuado, 191. 

Cabral,  Aldonça.  mulher  de  Fernão 
Nunez,  73. 

<  aça,  Peças  para,   108. 

(.'aceres,  primeiro  assento  da  Ordem 
de  Santiago.  13. 

Cadaval,  Duque  de.  uma  sua  casa 
em  Lisboa,  336,  342. 

Cadaval,  Duquesa  de,  342,  J4.">. 

faiado,  cónego  da  Sé  de  Lisboa, 
suas  casas.  324,  332. 

Caix,  Honorato  de.  embaixador  de 
V rança.  51 . 

Calada,  Joana,  mulher  de  Honório 
Bosado,  91 . 

I  aldas  da  Bainha,  Vila  das,  122,  123. 

—  Casa   dos   banhos.  99,    121,    L22, 
123. —  Aposentos    para    os    enfer- 

99.  —  Privilejios   aos  mora- 
dores, 99,  122.  — Isenta  do  julgado 
i-   sisas  de  Óbidos,   1U0.  —  Fun- 
dação  do   hospital,   99,   121,   123. 

—  Dotarão    delle,    120,    121,    124, 
125,    126.  —  Compromisso.     1  II. 
Autorizado    a   possuir   300.000  rs. 
de    renda    em    bens   próprios.    122. 

—  Fundarão  da  igreja  de  N.  Sra. 
do  Populo,  122,  L23,  124. 

Caldeira,  Agostinho,  movo  da  camará 
rio  Príncipe  I  >.  João,  267. 

Caldeira,  Pêro.  alcaide  mordeMar- 
■    240. 

Camareiro,  <  >.  \;õl  a  370.  Vide  Fa- 
ria. Antão. 

Camareiro  do  Príncipe  D.  Afonso, 
vide  Baiio,  Pêro. 


(  'amareiro  dei  Bei  1 '.  João  II,  I  ide 
Faria.  Antão. 

Camareiro  dei  Bei  1*.  Manoel,  vide 
Costa.   Álvaro. 

•  amareiro  r  do  Príncipe  D.  João, 

depoisD.  João  II.  vide  Silva,  João. 
Camareiro  mor  do  Príncipe  1).  .loão. 

depois   I).   João    111.   Vide   Meneses. 

D.    João. 
Camareiro  mor  dei  Bei  1>.  Afonso  V, 

ritlr    Vll>iii|iieri|ue.   1).   I.opo. 
Camareiro  mor  dei  Bei  1>.  João  II, 

vide  Silva.  Aires. 

•  amareiro  mor  dei  Bei  D.  João  III. 

riiti'    Castelbranco,    1'.    Francisco. 

Cambridge,  Conde  de,  capitão  de 
tropas  auxiliares  inglesas,    196. 

Camillo  Castello  Branco,  Karcotico» 
I.  Porto,  1882.  159,  165,  225,  -ir,. 
228,  229,  230,  231,  232,  233.  234, 
235. 

<  laminha,  Senhorio  de.  7. 

Campores.  Doação  do  reguengo  de, 
153. 

<.'ana\  ezes,  jurisdições,  Fi7. — Senhor 
da  terra.   199. 

Cancioneiro  geral  ''mu  preuilcgio 

Ordenado  e  emendado  por  Garcia 
de  Resende.  Lisboa,  1516,  .repro- 
dução em  fac-simile  de  Archer  M 
Huntington.  1904.  23,  24,  25,  26, 
27.  32,  37.  38.  39,  40,  67,  79,  146, 
187,  188,  189,  298,  299,  300,  313, 
346,  3'i7.  —  Dificuldade  em  iden- 
tificar a>  pessoas  neile  nomeadas. 
146.  —  Como  se  apuram  as  datas 
das  suas  composições,  188,  18'.'. 
190.  —  O  caso  das  ceroilas  de  cha- 
malote  de  Manuel  de  Noronha. 
187.  —Os  Porquês  de  Setúbal,  300, 
329.  —  As  trovas  de  Pêro  de  Sousa 
Bibeiro  aos  casados  que  andavam 
de  amores,  quando  foram  escritas. 
[88,  190.  Poetas,  vide  Abreu, 
-loão  (lomez  :  Aguiar,  .lorje  ;  Alvi- 
to, liarão;  (astro.  I).  Garcia,  e 
1).  KodrigO;  Costa.  T.rás  ;  Faria. 
Antão;  Gama,  Duarte;  Guiomar' 
!>.;  Homem,  Pêro;  Meneses.  I). 
João;  Noronha,  D.  João;  Pedrosa, 
Diogo;  Pereira.  João  Bodriguez, 
e  Nuno;  Resende,  Duarte,  Garcia, 
e  Jorje;  Silveira,  Fernão,  Fran- 
cisco e  I».  Martinho;  Sonsa  Bi; 
beiro,  PerO  ;  Sousa  tio  Sem.  Simão  ; 
Vimioso.  Conde.  —  Raparigas.  21  a 

•J7.  L46. 
(  um  ioneiro,  índices  do,  de  Retinir  ,■ 
da*  obras  de  Gil  Vicente.  Lisboa. 
1900.  21,  27,  28. 


INDICI-:   Al  IAIS1   I  ICO 


370 


<  angas,  Cirurjião  morador  em,  24!). 
Canha,  [gabei  de,  mulher  do  segundo 

(  rareia  de  Resende,  .:i  I , 
I  Cantanhede,  I  is  Meneses  de,  í). 
Cantanhede,  Conde  de.  1  "■  28  '■. 
I  lantor  de  I  '■  João  II  e  I >.  Manuel, 

226,  241,  242,  243. 
Caparica,  A  torre  velha  de,  mandada 

(■(instruir  por  D.  João  1 1.  37,  302. 

—  Preço  da  sua  construção,  37. 

<  Sapellão  de  1».  Manuel,  24!). 
Capitão  mor  da  frota,  329. 
Capitão   mor   doa  ginetes  do    Prín- 
cipe D.  João,  2G4. 

Cardoso,  Francisco,  134;  cavaleiro 
da  casa  de  1».,  João  111  e  tesou- 
reiro do  dinheiro  dos  legados  pios 
da  Rainha  I).  Leonor,  e-lhe  dada 
carta  de  quitação,  L>7. — 1'assa 
nina  certidão.  355. 

Cardoso  <le  Almeida,  António,  mora- 
dor em  Elvas  61 . 

Cardoso  Girão,  José,  desembargador, 
60. 

Carlos  VI.  Imperador,  340. 

Carneiro,  António,  escrivão  da  cama- 
rá, 294.  —  Homem  da  confiança  de 
l>.  -loão  II,  2!)3.  294. — Sua  prisão 
e  desterro  para  Âlemquer,  294  — 
Quando  perdoado,  294,  295.  —  Doa- 
ção da  ilha  do  Príncipe,  294,205. 

—  Secretario  de  I>.  Manuel.  38, 
127,  295,  343.  — De  D.  João  lli. 
295. — -Suas  casas  em  Lisboa,  324, 
325,  345. 

{'arneiro.  Francisco,  secretario.  .'  ° 
sr.  da  ilha  do  Príncipe.    344-345. 

(arneiro.  Vasco,  cidadão  do  Porto. 
294. 

Carnide,  Quinta  em,  229,  2't7. 

Carregal,  no  termo  <le  Pinhel,  ren- 
das e  direitos  reaes  do  logar,  192, 
199. 

Carta  de  brasão,  a  mais  antiga  de 
que  existe  rejisto.  280. 

Gartas  de  escusado,  245,  247. —  De 
lejitimação,  92,  93,  248  — De  per- 
dão por  usar  calções  de  seda.  86  : 
por  ferimentos  e  fujida  da  prisão; 
239;  por  ter  estado  na  batalhada 
Alfarrobeira,  \.''C>;  por  furtar  um 
rocim,  248.  —  De  quitação  dalguns 
dos  responsáveis  pelos  bens  moveis 
e  dinheiros  da  Rainha  D.  Leonor. 
133  a  138;  do  comprador  de 
D.  .loão  II,  241  ;  de  Antão  de  Pa- 
ria seu  camareiro  em  quanto  Prín- 
cipe. 265  a  268;  do  mesmo,  dos 
dinheiros  deixados  para  legados  no 
testamento.  310;  do  mesmo,  dou- 


i  roa    dinheiros,    311;    do   mesmo, 
na    qualidade    de  cevadeiro  mor, 
312 ;   do  mesmo,  pelos  valo 
guarda-roupa,  312 ;   do   recebedor 

doa  cs(Ta\ os  de  ' iuiné,  24 í . 
Cartas  de  quitação  de  D.  Manuel,  no 
Arch.    hist.    port.,    37,    129,    283, 

310.  -Erros  de  conta  em  algumas, 

311.  —  As  de  D.  Afonso  \  mais 
interessantes  por  mencionarem  a 
despesa,  311. 

Carvalho,  Afonso,  ai xarife  de  Per- 
nes, 206. 

Carvalho,  Gonçalo,  serralheiro,  338. 

Carvalho  Patallm,  Gonçalo  José  de, 
pro\ sdor  das  obras  dos  paços  e 
casas  reaes.  330,  340. 

Carvalhosa,   Bráa  CJonçalvez  da,  - 

rador  em  L\  ora,  '<■>. 

Casa  Branca,  herdade,  'tG.  —  Entron- 
camento, <i't. 

('asa  de  Ceuta,  Tesoureiro  78. 

('asa  doCivel,  Escrivão  da,  226,  242, 
—  Iíejedor,  260,  346,  365. 

( 'asa  de  <  íuiné,   Leitor  da,  312. 

(asa  da  índia.  Avaliador  da  pedra- 
ria, aljôfar,  âmbar  e  almiscar, 
250.  —  Tesoureiro,  78,  133,  137. — 
Tesoureiro  da  especcaria,  133, 

Casa  da  Mina,  Tesoureiro,   132. 

Casa  da  Suplicação, Desembargador, 
340.—  Lejedor,  26,  3G0. 

Casal,  Comendador  do,  253,  255.— 
Coudel,  255. 

Casal.  Álvaro  do,  morador  em  Évo- 
ra, 15. 

Casal.  Filipe  do,  anuncia  a  L.doão  11 
o  casamento  do  lilbo  realisado  em 
Sevilha,  22. 

Casal  de  Álvaro,  Doação  do  senhorio 
de,  153. 

i  ascaes,  os  direitos  reaes  pertenciam 
á  Rainha  D.  Leonor,  119,  128. — 
Lá  manda  construir  D.  .loão  II  uma 
torre,  302. 

Cascaes,  Marqueses  de,  302. 

Cascão,  Coronista  João,  fíelaçam  da 
jornada  d'El-Rey  D.  Sebastião 
quando  partio  da  cidade  de  Évora, 
cod.  da  Torre  do  Tombo,   112. 

Castanheda,  Fernã  Lovez  de,  Ho  *ci- 
timo  Urro  da  historia  tio  descobri- 
mento <■  conquista  <l<i  índia  pelos 
Portugueses.  Com  privilegio  Peai. 
1554.  "78. 

Castanheira,  os  direitos  reaes  per- 
tenciam á  Rainha  D.  Leonor. 
119,  128. 

Castanheira,  <  onde  da,  sátira  á  sua 
ascendência.   300 


380 


INDICI-:   Al  I  AHIT1CO 


Castelbranco,  Diogo  Gonçalvez  de, 
conde)  de  Lisboa,  239. 

Castelbranco,  l>.  Francisco  de,  ca- 
mareiro nua  de  João  111 ,  19. 

Castelbrani  o,   D.  l  ionoalo  de,  29  í . 

Castelbranco,  D.  Martinho  de,  v.édor 
da  fazenda  de  I».  João  II.  22,  141. 

i  lastelhanos  :  cirurj  ião,  J47,  249  ;  ti- 
sico,  249  ;  judeus,  23G ;  med  ico, 
Z30.  Põem  cerco  ao  castello  de 
Faria,  2o2. 

<  lastella,  ( fuerra  da  invasão  de,  I  'i7. 
[51,  IGO,  191,  198,  2G4,  >65,  305, 
346.  -  .luramentos,  25,  -iT.  1 15, 
[86.  Expedição  desastrosa  do 
Bispo  de  Evòra,  162.  —  Socorro 
lá  enviado  contra  os  Infante-;  de 
Aragão,  261,  —  Mensajeiro  lá  en- 
viado  com  avisos  pelo  I  mque  de 
Bragança,  273.  —  Portugueses  lá 
homisiados,  191 . — Outros  que  para 
lá  passaram,  361,  362.  —  Princesa 
herdeira,  [06,  145. — Panos  de  lá, 
134,  266,  291.  — Alcatifas,  366, 
367.  —  Sedas,  86,  234. —  Contra- 
bando de  panos  trazidos  de  lá,  280. 

'  astello  Iíeal,  Alcaidaria  do,  .'!.'(. 

Castello  de  Vide,  Morador  em,  240. 
—  Fisico  lá  residente,  249. 

Castilho,  intonio  Feliciano  de,  Gar- 
cia de  Resende,  excerptos  seguidos 
de  uma  noticia  sobre  stta  vida  <• 
ohms...  i;io  de  Janeiro,  1865.  111 
vol.  da  «Livraria  Clássica»,  38, 
48,  70,  207.  —  Quadros  históricos 
de  Portugal...   Lisboa,  [838.  334. 

Castilho,  Visconde  Júlio  de,  índices 
do  Cancioneiro  de  Resende  e  das 
Obras  de  Gil  Vicente,  27. —  Lisboa 
antiga.  Segunda  parte.  Rairros 
orientacs.  Coimbra  e  Lisboa,  1884- 
1890.  7  vols.,  322,  323,  336,  341, 
349,  363.  —  Carta  sua  publicada 
no   «Jornal   do  Commercio»,  357. 

Castro,  I>.  Álvaro  de,  vedor  da  fa- 
zenda de  1 '.  João  II,  do  sen  con - 
selho  testamentario,  309. 

Castro,  D.  Álvaro  Pirez  de,  Conde 
de   Arraiolos,   363. 

Castro,  1».  Beatriz  de,  possuidora  de 
uns  paços  em  Lisboa  a  par  de 
Santa   Marinha.    16  I. 

Castro,  I».  I  laterina  de,  < londessa  de 
Abranches  11,  329. 

•  astro.  1>.  Fernando  de,  governador 
da  '-asa  do  Infante  D.  Henrique,  Kl. 

Castro,  I».  Garcia  de,  sr.  do  paul 
do  Boquilobo,  288 ;  poeta  do  <  aii- 
.  iro    300. 

Castro,   D.  Guiomar  de,  donzella  do 


paço,  mulher  do  Bejedor  A  ires  da 

Silva,  26. 

(astro.  1 1.  [sabei  de,  *  londesss  di 
Mana.    10,    I  1. 

rastro,  1).  Joana  de,  mulher  de  Fran- 
cisco de  Faria,  369. 

rastro.  1).  João  de,  governador  da 
Índia,  escreveu-lhe  ^ndré  de  Be- 
sende  uma  carta,  84,  85. 

Castro,  1).  .lorje  de.  pajem  de 
D    João   II.  282. 

Castro,    D.    Leonor  de,   donzella   da 
casa    da    Bainha,  mulher   di 
Bodriguez  Pereira,   185. 

Castro.  D.  Luis  de,  administrador 
dos  hospitaes  de  s.  Mateus,  Santo 
Eutropio,  etc  363. 

(astro.  1).  Pedro  de.  sr.  de  Bemvi- 
ver,  Sul  e  Beriz,  capitão  da  arma- 
da de  Tanjer,  185. 

(astro.  1).  Bodrigo  de,  alcaide  moí- 
da ( 'o\  iihã,  24  ;  assistente  por 
D.  João  II  nas  comarcas  de  Entre 
Tejo  e  Guadiana  e  Algarve,  302. 

(astro.  1).  Bodrigo  de.  poeta  do  Can- 
cioneiro, 26. 

Castro  Queimado,   Batalha.de,  1GH. 

<  atalão,  cirurjião,  245. 
Catáldo,  Dr.,  288. 

Catalogo  dos  manuscriptos  da  Uiblio- 
theca  Publica  Eborense  ordenado 
com  "s  descripções  e  notas  do  bv- 
bliothecario  Joaquim  Heliodoro  da 
Cunha  Rivara  e  com  outras  pró- 
prias por  Joaquim  António  de  Sou- 
sa Telles  de  Mattos.  Tomo  IV.  Lis- 
boa. 1871.  73. 

Caterina,  Infanta  D.,  filha  de  D.  Duar- 
te. 331. 

(aterina.  Bainha  D.,  mulher  de 
1  '.  João   111,  escudeiro  da  sua  Casa, 

86. 

Cativos,  Provedor  mor  dos.  242. 

Celorico  de  Basto,  Senhores  de,  147, 
198. 

Cenáculo.  D.  Fr.  Manuel  do,  Arce- 
bispo de  Évora,  90. 

<  ernache  do  Bom  Jardim,  nos  seus 

bosques  teem  logar  as  entrevistas 
do  Príncipe  D.  João  com  I).  Ana 
de  Mendoça.  162,  163,  164. 
Ceuta,  20.  —Conquista,  31,  34,  260. 
Armada  de  socorro,  244. — D.  Afon- 
so \  lá.  2,  3,  'i.  —  Degradados  paia 
lá.  184,  239,  240,  -.'Mi.  — Bispo. 
vide  Jaime,  1*..  e  Joio,  IX  —  Vide 
(  asa  de  (  euta. 

<  'evadeiro   mor   de  1>.  João  II,  vide 

Caria.  Antão.       (  arta  de  quitação, 

312. 


índice  ai  fabi  rico 


381 


Ceziínbra  doada  á  Ordem  de  Santia- 
go, li. 

Chancelaria  de  l>.  João  II  muito 
mutilada,  100. 

<  íhanceler  mor  do  Príncipe  I  >.  João, 

ii, Ir  Silveira,  João  Fernandez. 

Chanceler  mor  interino  dei  Rei 
I >.  João   11.    vide   Lucena,   Di 

( íhanceler  mor  dei  liei  D.  Manuel, 
vide  Boto,  dr.  Uni. 

Chateaubriand,    René    de,    (  o 
i  íuazava,  285. 

t  ha\  es,  Juiz  das  si>as  de,   .'  í  í , 

Chichorro,  i>.  vide  Sousa,  Vasco  Mar- 
tin/.. 

<  tcero,   tradução*  de  "liras  suas,   ;,;, 

79. 

Cirurjia,  <  lartas  de,  228,  232,  245, 
246,  247,  248  249,  250.  Exami- 
nador de,  24G. 

Cirurjião,    245.  —  Especialista,    249. 
—  Do  Duque  de  Viseu,  246.  —  Da 
Rainha    1>.    Leonor,    227,   228. 
Del  Rei  D.  Manuel.  231,  232,  237. 

Cirurjião  mor  de  D.  Afonso  V,  vide 
Fernando,  Mestre;  Gil,  Mestre-. 
Martinho,  Mestre.  —De  I».  João  II. 
Fernando,  Mestre;  Lucena,'  Dr. 
mestre  António.  —  De  D.  João  111. 
Gil,  Mestre.  — De  D.  Manuel,  Fa- 
ria, Dr.  Diogo;  Gil,  Mestre ;  outro 
Gil,  Mestre. 

<  leiuente  VI.  papa,  lõ. 
Coelheiros,  Torre  dos,  22.  —  Morga- 
do, 57. 

(  oelho,  Jorje,  dirije-lhe  uma  carta 
André  de  Resende,  ST. 

Coelho,  Nicolau,  escrivão  dos  órfãos 
de  Évora,  58,  94. 

Coelho  <le  Figueiredo,  Domingi 

Coelho  «la  Silva,  Manuel,  57. 

Cogominho,  Fernão  Gonçalvez,  mor- 
gado da  torre  dos  Coelheiros,  57. 

Coimbra,  lá  casa  o  dr.  João  das  Re- 
gras, 361.  —  A  Excelente  Senhora 
passa  por  lá,  160,  e  depois  pro- 
fessa no  convento  de  Santa  Clara, 
ll'p'2.  —  Livros  lá  impressos.  73,  78, 
79,  80,  90.  — Bispado,  241.  Bis- 
po, ride  Galvão,  1).  João.  —  Cirur- 
gião lá  morador,  248.  —  Deão  da 
Sé,  309..  —  Diplomas  datados  de 
lá,  238,  240,  246.— Doação  do  se- 
nhorio, 1.V2;  não  continuada.  153; 
— Ducado,  152,  15.1,  154.— .Estu- 
dantes na  Universidade,- 69,  90. — 
Fisico  lá  morador,  245.  —  Inqui- 
ridor das  jugadas,  242,  243.  - 
Lente  de  véspera  de  cânones  na 
Universidade,  90.— Morador,  242, 


Prior    de    Santa    <  Iruz ,    I  16. 
Requeredor  das   sisas,    J45        I  d 
belião,   242,   244.       Kib.  da   I  ni 
\  ersidade,  215.      Com  ento  do  San 
Marcos,  260,   261,  262  ;  de  Santa 
( Iruz,  i  L     Mosteiro  de  Santa  <  la 
ra.    [62. 

Coimbra,    Duque   de,  vide  Jorje,  D. 
Escudeiro  da  sua  casa.  87,  89. 

Coimbra,  Duquesa  de,  vide  Vilhena, 
D.  Brites  de. 

Coiros,  Lopo    \  fonso  dos.   : 

Compostela,  arcebispo  de,  lõ. — 
[greja  de  Santiago,  I ; . 

( lomprador  de    I '.   João    1 1.  226. 
( larta  de  quitação,  24  I . 

I  i ni .  ir  .1  pnllinario  da,  De- 
monstraram histórica  iin  primeira, 
e  real  parochia  de  Lisboa  de  </>"' 
lir  singular  Patrona,  e  Titular 
\.  S.  dos  Martyres.'.  Liaboa, 
L750.  348. 

( londado,  Pano  de,  291 . 

<  onde  Prior,  vide  Meneses,  D.  João. 

Condeixa,  Doação  do  senhorio  de, 
152. 

Condestavel,  r/r/''  4 fonso,  D.;  Pe- 
dro. 1 1.  ;  Pereira,  D.  X  uno  Alva- 
rez. 

Confessor  de  D.  Afonso  Y.  vide  tos- 
ta. D.  Jorje-  De  D.  João  1 1 ,  i  ide 
Povoa,  Fr.  João. 

Constâncio,  Francisco  Solano,  Wovo 
diccionario  c^itú  <>  e  etymologico  da 
língua  portiigueza. . .  Paris,  1836. 
206. 

Contador  da  camará  real,  233.  —  Da 
casa  de  D.  João  II.  241.  —  Dos 
<  lontos  da  <  -asa  e  do  Reino,  24  t, 
328. 

Contador  mor,  riilr  almeida,  D.  Di- 
nis. 

Contreiras,  Fr.  Miguel  de,  fundador 
da  irmandade  da  Misericórdia,  97, 
98. 

( 'opa.    Homem  da,    I  02. 

I  lopeiro  de  I  >.  Afonso  \  ,  vide  Alva- 
rez. Luis.  —  De  D.  João  II.  vide 
Sequeira,  Estevão, 

Copeiro  mor  de  D.  João  II,  vide 
Lima,    Fernão.  —  De    D.     Manuel, 

Vide  Brito.    Lourenço. 

Cordes  Brandão,  e  Ataíde,  Simão  de, 
lente  de  véspera  de  cânones  na 
Universidade  de  <  lóimbra,  90, 

( Iprnelhã,  Privilejios  da,  17. 

Corpo  diplomático  português,  cnii- 
tendo  ou  actos  e  relações  politicas 
e  diplomáticas  de,  Portugal  çovn  as 
diversas  potencias  do  mundo  desde 


382 


ÍNDICE  ALFABÉTICO 


o  neculo  \  17  até  <>s  misses  dias, 
publicado  de  ordem  da  ícadcmia 
Real  das  Sciencias  de  Lisboa  por 
Luis  Augusto  fíebello  da  Silva,  To- 
mo 1-  Relações  com  a  Cúria  Hu- 
mana. I. isl.ua.  1862.  38,  39,  332.— 
<  orpo  diplomático.  ■  ■  /»)>•  José  du 
Silva  \I*>ndes  Leal.  Tomo  \  .  Lisboa, 
1874.  235.  —  Corpo  diplomático. . . 
por  Jayme  Constantino  de  Freitas 
Moniz.'  Tomo    XI.    Lisboa,    !898. 

Correia,  Fernão  Lopez.  guarda-roupa 
de  1>.  Manuel,  :il2. 

Correia,  Manuel  Mendez,  91. 

Corte,  Correjedor  da.  265.  286. 
Escrivão  da  correição,  226.  —  Es- 
cri\  ão  perante  os  correjedores,  226, 
242,  243.  —  Porteiro  d'ante  o  i  or- 
rejedor,  241. —  Recebedor  da  chan- 
celaria, 256. 

<  Yirtes.  ride  em  Évora,  Leiria,  Mon- 
r  c.  \\>\  o  e  Santarém.  —  Em 
Lisboa  o  braço  da  nobreza  reuni a- 
se  em  Santo  Eloi,  325. 

Coruche,  Comendadores  de,  lõb. 

Costa.  Álvaro  da,  camareiro  e  arma- 
dor mor  de  D.  Manuel.  369 •  não 
i-ra  fidalgo,  254. 

tosta.  j;r:\>  da.  poeta  do  Cancioneiro, 
27. 

(osta.  Caterina  Diaz  da.  mulher  de 
António  de  Resende,  '.i">. 

Costa,  D.  Diogo  'la.  bispo  do  Porto, 
330. 

Costa,  D.  Jorje  da.  arcebispo  de 
Braga,  330,  332. 

Costa,  I).  Jorje  da.  bispo  de  Évora, 
arcebispo  de  Lisboa  e  de  Braga, 
cardeal,  32,  330,  331,  332.  — Carta 
raa  a  1>.  Manuel,  XVI. 

tosta.  Luis  da.  escrivão  da  iazenda. 
■  »> 

Costa,  D.   Martinho  da.   arcebispo  de 

Lisboa.  330,  332,  334. 
Costa,  I».  Pedro  da.  bispo  do  Porto. 
330. 

tosta.     Sebastião     da,      escrivão      'I" 

reposte  da  Rainha  D.  Leonor.  137. 
Costa    Basto,   JoBé    Manuel    da.    dire- 

ctor  da  Torre  'lo  Tombo,  21  í . 
Costa  Lobo,  A.  de  Sousa  Silva,  His- 

toria  iíii  sociedade  em  Portugal  no 

século  XV.  Secção  l.  Lisboa  1903. 

128,  267. 
Coudel,    ride    em    Alemquer.    <  asai. 

Évora,  Li«boa.  Montoito. 
Coudel    mor.    ride  Silveira,  I 

i-  Silveira,  Francisco. 
l  ourtray,  Pano  de  285,  291. 


Coutinho,  D.  Beatriz,  Condessa  do 
\  ila  Real,  9,  10. 

Coutinho, D.  Branca,  amada  do  Princi- 
peD.  Afonso,  1  16,  147. — Casa  com 
Jorje  de  Mello,  o  Lajéo,  I  16,  I  'i7. 

—  Enviuva  e  morre.  148. 
Coutinho,    Fernão,    filho    de   Vasco 

I-  ornando/   I  'oiitinho.    1  W. 

Coutinho.  Fernão,  sr.  de  Celorico  de 
Basto,  147. 

Coutinho,  I'.  Filipa,  desposada  do 
l.«  Conde  de  \  ila  Real,  10. 

Coutinho,  Gonçalo,  2.°  Conde  de 
Marialva.  2. 

Coutinho,   Henrique,   186. 

Coutinho,  D.  Isa  boi.  filhado  1  ."Conde 
de   \  ila   Real.   III. 

Coutinho.  I>.  VaSCO,  delator  do  Du- 
que de  Viseu.  296  ;  premio  da 
delação,  274  ;  carta  do  titulo  de 
«•onde.  188,  189;  Conde  de  Borba, 
278;  satisfação  que  recebeu  pe- 
las suas  terras  restituídas  aos 
Braganças,  116;  benevolência  de 
D.  Manuel  para  elle  apesar  da  de- 
lação, 275. 

Coutinho.  Vasco  Fornandez.  morto 
na  guerra  da  invasão  de  Castella, 
147'.  148. 

Covilhã.  Alcaide  mor  da,  \!4. — Pa- 
nos, 134. 

Cozinha.  Peças  da.  266,  290. 

(.'rato.    Cirurjião    morador  no,   250; 

—  Vide  Prior  do  I  rato. 
Cristãos  novos.  225,  233,  '•!■'>•">. — Seu 

enviado  em  Roma.  ride  Paz.  Duar- 
te.—  Fama  de  o  serem  tinham 
os  Margalhos,  de  Évora.  00;  os 
[{esendes,  60  ;  os  Sandes,  de  Es- 
tremoz. 59. 

( ironista  mor.  288. 

Cronistas  de  D.  João  II,  55. 

Coura.  Senhor  de.  198. 

Cruzado  de  oiro.  seu  valor.   121. 

Cubellos,  Pêro,  besteiro  de  cavalo. 241 

Cunha,  Álvaro  da.  estribeiro  mor  de 
D.  João  II,  256,  257,  317. 

Cunha.  D.  Isabel  da,  mulher  de  Ál- 
varo \  asquez  de  Almada.  329. 

Cunha.  Martim  Vasquez  da.  sr.  da 
albergaria  de  I 'aio  Delgado  e  hos- 
pital de  Santo  F.ntropio  e  Conde 
de  Valência  de  Campos,  361,  362. 

(unha.  Ib  Meei  a  da.  mullier  de  D.  João 
de  Abranches,  suas  casas  em  Lis- 
boa, 258,  259,  327,  328,  330. 

<  unha.  Nuno  da.  alcaide  mor  de  Pal- 
mella,  265. 

cunha.  Pêro  da.  -r.  de  Celorico  de 
Basto,  etc,  198. 


IND1CI-   AI  1  Ali!  I  K  O 


383 


(unha.  1  ristão  da,  einbaixadoT  ein 
Roma,  38,  39. 

tunda.  Vasco  Martin/  «la.  sr.  da 
Taboa,  Anjeja.  etc.,  362. 

Cxmha  Rivara,  .'.  //.  iln.  Extractos 
de  does.  no  archivo  da  Camará  de 
Évora,  56,  68.  —  Vide  Rivara. 

Çurita,  Geronymo,  Los  cinco  libros 
postreros  de  la  segunda  parte  de 
los  Anules  de  la  (<->rona  de  Aru- 
qnii...  Turno  quarto.  Çaragoça, 
1610.  177. 

Dama  do  paço,  24 . 

lianas.  Fernão,  tabelião  de  Évora, 
90,  91. 

Deduecão  chronotogica,  e  analytica, 
parte  segunda...  Dada  á  luz  pelo 
doutor  Josepli  de  Seabra  dn  Sylva... 
Lisboa,  1768    294. 

Desembargador,  60,  296,  337,  340, 
342. —  l>a  casa  da  Suplicação,  .'Í40. 
—  Do  Paço,  .:."-. 

Deslandes,  Venâncio,  possuidor  de 
ms.  cits..   148,   151. 

Dias.  Caterina,  proprietária  em  Lis- 
boa. 06. 

Dias.  Fernão,  mantieiro  da  Rainha, 
D.  Leonor.   Li7. 

Dias.  Isabel,  viuva  de  Pedro  Anes 
Pinheiro,  4'2. 

Dias.  Lopo.  tesoureiro  do  Príncipe 
D.  João,  266. 

Dias.  Madalena,  viuva  de  .loão  Va- 
rella,  42. 

Dias.  Pêro.  capelláo  da  Rainha 
D.  Leonor.  L!7. 

Dicionário  contemporâneo  da  língua 
portugueza  feito  sobre  um  plano 
inteiramente  novo.  Lisboa,  1881. 
•20(3. 

Dinis.  D.,  Rei  de  Portugal,  concorre 
para  o  ramo  português  da  Ordem 
de  Santiago  se  desligar  do  tronco 
castelhano.  14.  15. —  Tem  uma 
rilha  bastarda  sepultada  em  Odi- 
vellas.   168. 

Diogo.  D.,  4.°  Duque  de  Viseu.  147;  e 
3.°  de  Beja.  17'2. —  Foi  o  chefe  de 
uma  conspiração  contra  D.  .loão  II. 
153,  17'.!  '277.  340. —  Seu  primeiro 
denunciante.  '278.  —  Outros  dela- 
tores, '290;  os  quaes  encontraram 
animo  benigno  em  D.  Manuel, 
27'2.  '273  — Dono  da  casa  de  Se- 
túbal onde  foi  morto.  '205.  —  Um 
dos  que  assistiram  á  sua  execu- 
ção. 296.  —  O  caso  da  sua  conspi- 
ração mal  rica  apontado,  '278.  — 
Insensatez  do  seu  caracter.  270. — 
Sen  filho  bastardo,  '257. 


Documento»  para  a  historia  da  iypo- 
graphia  portugueza  no  século  \i/ 
e  \i//.  Lisboa,  1881.  84. 

Domingues,  ;  .  do  I  'onde  de 

\  iana.   10. 

Donzellaa  da  Infanta  D.  Beatriz, 
190  ■  -Do  Paço  "ii  da  [tainha,  "23, 
24,  25,  26,  185,  284,  298.— Da 
Princesa  D.   loana,  160. 

Duarte,  D.,  li  11  io  do  Infante  I ».  I.  r- 
nando,  parece  ter-lhe  seu  cunhado 
o  Duque  de]  Bragança  encurtado  a 
vida.  270 

Duarte.  D.,  Infante,  filho  de  1».  Ma- 
nuel.  233. 

Duarte,  D.,  Rei  de  Portugal,  começa 
a  construção  das  capellas  imper- 
feitas na  Batalha  e  conclue  a  do 
Fundador.  140.  —  Foi  cavaleiro  da 
Jarreteira,  170. 

I)u  Cange.  Carolo  Dufresne  domino 
Glossarium  media  el  Ínfimos  latini- 
talis  conditum  a  —  <  um  supplemen- 
tis  integris  monachorum  ordinis 
S.  Benedicti  D.  \>,  Carpenterii, 
Adelungii,  aliorum,  suisque  digessit 
G.  A.  ]..  Heuxchel.  Tomus  Quintvs. 
Paris,   1845.  '235. 

Eanes,  Dinis,  clérigo,  suas  casas 
Lisboa,  324,  326,  327,  341. 

Eanes.  Pedro,  ourives.  348. 

Eça,  D.  Pedro  de.  alcaide  mor  de 
Moura.  296,  297. 

Eça,  D.   Rodrigo   de.   seu  lilho.  '207. 

Edmondson,  Joseph,  A  complete  bod;/ 

of  Heraldry :    containing In 

Historical  Catalogue  o  fali  ikedif- 
ferent  Orders  of  Knighthood,  from 
the  earliest  to  lhe  present  Time... 
Vol.  I.  Londres  1780.   170-177. 

Elvas.  Capitão  reformado  do  reji- 
mento  de  cavalaria  de,  03.  —  Me- 
dico castelhano  lá  morador.  '230. 
—  Olival  no  termo.  05,  66. — Pes- 
soas lá  nascidas  ou  moradoras. 
59,  61,  62,  63,  65.  — Rua  do  Tabo- 
lado,  63.  —  Sarjento  mor  de  cava- 
laria naquella  praça.  01. — Tenente 
do  dito  rejimento,  62. 

Elvas,  Gomes  de.  mestre  da  obra  da 
torre  de  Caparica.  37. 

Ennes.  António,  bibliotecário  mor. 
216. 

Entre  Doiro  e  Minho,  bens  naquella 
comarca.  231. — Privilejios  para 
moradores  nella.  107.  '2'i0. 

Entre  Tejo  e  Guadiana,  assistente 
por  D.  João  II  naquella  comarca. 
302. 

Escócia.  Pano  de,  '201 . 


m 


ÍNDICE  ALFABÉTICO 


Escravos,  valores  dalguns  nos  fins 
do  \\  1  século,  367. 

Escrivão  da  camará,  vide  Carneiro, 
itonio  :  Plrez,  André, 
io  da  fazenda,  vide  alcáçova, 
Pêro;  Costa,  Luis ;  figueiredo, 
Henrique;  Fonseca,  Antão  e  João; 
Pirez,  André  ;  Porto,  João;  Besen- 
<lc.  Garcia.  —  Pequena  importância 

do  ofici segundo  quartel   do 

s  iculo  \  \  I.  41.-    Propinas  em  es- 
aria   inerentes   ao   cargo,   40. 

Escrivão  da  puridade  dó  Príncipe 
D.  João,  vide  Silveira.  João  I  '  i- 
nandez. 

Escudeiro,  João,  guarda  do  Príncipe 
D.  João,  2C3. 

Esmi  riz,  Abade  de,  31  í 

Esmoler  da  Rainha  D.  Leonor,   134. 

—  Del    Rei   D.   Manuel.  249. 

i  sp  cearia  varia,  292;  — ^Tesoureiro 
delia  na  Casa  da  Índia.  133. 

Esperança,  Visconde  da,  manuscritos 
da  sua  biblioteca,  42,  NT.  95. 

Espinheiro,  convento  da  Ordem  de 
S.  Jerónimo  junto  a  Évora,  no 
qual  em  capella  própria  foi  sepul- 
tado  <  'areia  de   Resende,  29,    'i  I . 

14,  16,  52,  ;.;;.  61,  62,  67,  70.  - 
Doações  que   elle   lhe  fez  'i  1 .   14, 

15,  50,  60.  —  Lá  reúne  p  Príncipe 
1 1.  João  um  conselho,  268. 

Espinosa,  Gonçalo  Gomez  de,  capi- 
tão de  uma  das  naus  da  expedição 
de   Fernão  de  Magalhães,  77.  80. 

Estalisna  de  Lisboa  no  anrtfl  de  1552, 
ms.  B-l  l-Ui  na  Bib.  Xae.  de  Lis- 
363. 

Este  vez,  ('Iara.  instituidora  de  unia 
capella  na  ilha  da  Madeira,  240, 
241,  242. 

Estevez,  Maria,  mulher  do  João  God 
çalvez,  dos  ( llivaes,  319. 

Estremadura,  Comarca  da,,  161.  - 
Escrivão  da  sua  chancelaria,  241. 

—  Privilégios  para  moradores  na 
comarca,  243,  ^''tí>,  J.r>.r>.  —  Tabel- 
lião  geral  delia.  24  1 . 

Estremoz,  cirurjião  lá  morador,  250. 

—  Diplomas      de      lá     datados.     7 'l  . 

>45,  Í62,  273,  274.  -Estada  lá  do 
Príncipe  D.  João,  264.  Morado- 
res na  vila,  63. — Os  Sandes  de 
lá  naturaes  tinham  lama  de  cris- 
l  Los  novos,  59. 
Estribeiro  mor  do  Duque  de  Peja, 
D.  Manuel,  ridr  Homem,  Pedro. — 
Do  Príncipe  D.  João,  vide  Faria, 
Garcia;  e  Velho,  Rui.  —  Del  Hei 
D.    Afonso  Y,  riilr  Paria,  Ah  aro; 


e  Fco,  Pero.  —  Del  liei  D.  João  II, 
>  ide  Cunha,  Álvaro.  Este  cargo 
não  tinha  ao  principio  a  estimação 
depois  adquirida,  256. 

Estrolico,  dadiva  de  dinheiro  a  um. 
288.  Tença  arbitrada  a  outro. 
249. 

Eugénio  iv.  papa,  16. 

Évora:  almoxarifado,  tença  nelle 
paira,  .V.),  lili.  —  Assentos  de  livros 
lindos  das  suas  freguesias,  50,51. 
I  lonselho  de  rejencia  lá  nomi  a- 
do  por  I>.  João  I  I  durante  a  sua 
doença,  302.  Cortes  lá  reunidas. 
'i!>,  '.'7  1  .       Diplomas  de  lá  datados, 

10,  '..".,  67,  79,  99,  234,  240,  241, 
242,  243,  245,  246.  247,  250,  258, 
274,  304.  —  Duque  de  Bragançàlá 
justiçado,  273.  Entrada  solene 
do  Mestre  D.  Jorje,  lõ\!.  —Festas 
do  casamento  do  Príncipe  I •  .  Afon- 
so, 102,  li.'.  283. — lornal  «Noti- 
cias de  Évora»,  70.  —  Pátria  e  re- 
sidencia  de  '  íarcia  de  Resendt  . 
33,  35,202,207.  -Peste  na  cidade, 
162,  302. — Keirosijos  pela  celebra- 
ção das  bodas  do  Príncipe  D.  Afon- 
so. 22,  23.  —Residência  temporária 
da  corte,  i'.l ;  de  D.  João  II,  I  10; 
de  D.  Manuel,  313. 
Évora:  almotacé,  59,  —  Arcebispo, 
vide  Cenáculo, — Arcediago  da  Sé, 
51-52.  —  Bacharel  na  Sé,  241.  — 
Bispo,  vide  <'osta.  D.  Jorje;  e 
Meneses,  D.  Garcia. — Cidadão,  s.;, 
93.— Contador,  267.  Coudel,  259, 
315,  316,  369.— Deputado  do  San- 
to Oficio,  314. — Escrivão  do  judi- 
cial, 90;  dos  órfãos,  58,  9"4.— Fa- 
mília Falcão,  li!)  ;  (iões,  87.  - 
Inquisidor,  90. — Juiz  dos  órfãos, 
68,  90,  94.— Meirinho,  86.-  Mora- 
dores, 15,  51.  52,  56,  59,  63,  71. 
8ij  v.  94,  :i7.  Provedor  da  fa- 
zenda, 141.— /Recebedor  dos  em- 
prest  imos  na  cidade  o  sua  comarca, 
(»8. — Secretario  do  Santo  Oficio, 
88.     Tabelião,  42,  87,  90,  91,  2'4t, 

317.      Vereadores    da  <  amara.    19, 

56,  59,  68,  316. 

Évora:  bairro  de  S.  Mamede.  '.I."i. — 
Biblioteca  Publica,  códices  lá 
guardados',  42,  52,  60,  67,  68,  73, 
8.4 .  90 ;  ossos  de  Garcia  de  Re- 
sende lá  recolhidos,  55 ;  pesscfal 
lá  empregado,  214..  (amara  Mu- 
nicipal. í'.i.- -Cartório  do  Cabido, 
3IÍ;  da  Misericórdia.  51,  ~>7. — 
Casa  de  Afonso  Gárçês,  21  ;  a 
chamada    de    Garcia  de  Resende, 


ÍNDICE  ALFABÉTICO 


65,  06;  a  grande  de  Garcia  de 
Resende,  16,  66 ;  uma  junto  ao 
de  S.  Mansos.  65.  (  asti  lio 
velho,  271. — Curral  do  Concelho, 
72. — enterros  da  Misericórdia,  51 . 
—  Freguesia  de  S.  Mamede,  60, 
66;  da  Sé,  66. — igreja  de  Santo 
Antão.  94.  Livros  findos  de  San 
Mamede,  51  ;  de  Santo  Intão  >0 
51,  52,  89,  94  ;  da  Sé,  52  Mise- 
ricórdia, 57,  58.  -Mosteiro  de  S. 
Domingos,  9.1,  95;  de  S.  Francis- 
co, "iG  :  de  Santa  Clara.  III.'. 
Paços  do  Conde  de  Olivença,  271. 
— Porta  da  Mesquita,  72  •.  Nova, 
52. — Praça,  •>,.  22. — Rua  das  Esta- 
lajens,    õl  ;   dos  Mercadores  (hoje 

do   Paço),   22  :  da   Porta   Nova.  .".1  ; 
da  Selaria.  23.— Sé.  '.!•.!.   i2,  91.    - 
Teatro  de  <  ■'areia  de  Lesendc.  .">.;. 
Terreiro  de  Álvaro  Velho,  ã 

Évora,  Termo  de:  bens,  42. — Fer- 
rajiaes  junto  aos  muros.  12,  72. — 
Herdade  da  Fonte  Coberta.  7.  r. 
— Mosteiro  do  Espinheiro.  </.  r. — 
Prasos  foreiros  ao  Bispo  e  Cabi- 
do.  12,  7'.'. — Quinta  da  Manisola. 
87;  de  Valbom.  93,  95.— Sitios, 
oide  Benafilé,  S.  ilrissos.  Valbom, 
Varellas. 

Évora-  Monte.  Alcaide  mor  de.  vide 
Faria.  Antão  de. — Doação  da  alcai- 
daria,  272,  280. — Direitoc  reaes, 
306. 

Excelente  Senhora,  vide  Joana,  Prin- 
cesa D. 

Facão,  A.  do.  termo  de  Sintra,  319, 
32 1 . 

Faião.  Mousem.  mercador  judeu  de 
Lisboa.  267. 

Fainm.  Nacim,  mercador  judeu  de 
Lisboa.  267. 

Fajões.    Abade    de  S.  Martinho  de, 
240. 
,■   Falcão.    André,    de    uns    Falcões  de 
Évora.  (i!). 

Falcão  do  Resende,  André,  poeta,  69, 
89,  '.hi.  ;il. 

Falcão  de  Resende,  (.'areia.  90.  Vide 
Resende  Falcão.  Garcia. 

Falcão  de  Sousa,  .losé,  desembarga- 
dor, suas  casas  em  Lisboa,  337,  .140. 

Falcoa,  Lucrécia,  mulher  de  Jor^e 
de  Uesende.  li!»,  '.Hl,  91. 

F"alcoa.  Teresa,  õl . 

Fale,  Herdade  do.  46,  ''>.'!.  64. 

Fão,  Senhor  de.  252. 

Farão,  vide  Faro. 

Faresoa.  Tirites,  mulher  de  Conr-alo 
de  Uesende.  7">.  7'i. 


Faria,    alcaide   do  casti 

252,  253. 
Faria.  Álvaro  de,  cavaleiro  da  casa 

dei  Ri  iõ  :  coudel  de  Alem- 

quer  e  estribeiro  mor  de  Afo 

356. 
Faria.    Álvaro    de,   comendador   ■  ;•' 

Moura   c   ilo  1   a-al,    253,    -'õõ. 

Faria.  Antão  de.  camareiro  de  I'. 
loão  li.  não  era  fidalgo,  254 ,279 
105,  370.      Seus  pais,  259,  3 1  i. 

Seus    irmãos,    vide  Faria.  <  rareia. 

e  Lourenço.      Entra  para  o 

jo   do    Príncipe    D.  João,  253. 

Motivo  da  escolha,  315,  316,  -11 T . 

—  Foi  seu  camareiro  em  quanto 
Príncipe  e  depois  de  Rei,  ",!Õ7.  263, 
265,  J7!b — Também  foi  seu  guar- 
da-roupa,  263,  31 .'  ;  cevadeiro  m  ir, 
264,    268,    312;    e    armador   mor. 

264.  —  Acompanhou-o  na  tomada 
de  Arzila,  265;  e  na  batalha  de 
Toro.  253,  265.— Concede-lhe  o 
Príncipe  uma  especial  carta  de 
privilejios,  264,  265,  280;  confir- 
mada por  1>.  Manuel.  278,  306. — 
Faz-lhe  o  Príncipe,  mercê  da  alcai- 
daria  mor  de Palmella,  265.  —  En- 
via-o  a  seu  pai  a  França,  268. 
D.  Afonso  V  doa-lhe  umas  casas 
em  Lisboa,  .'!'20.  —  Com  o  cargo 
de  camareiro  tinha  parte  de  tesou- 
reiro do  bolsinho  do  Príncipe, 
265. — Destes  dinheiros  recebe  car- 
ta de  quitação,  265  a  268. — Outra 
do  oficio  de  cevadeiro  mor,  279. 
'  —  Amizade  e  confiança  que  mere- 
ceu a  D.  -loão  II,  254,  264,  268, 
278,  279,  281,  293, 296,  297.—  Parte 
que  teve  nas  conspirações,  271, 
272,  273,  277,  278,  281.— São-lhe 
doados  bens  dos  Braganças,  271, 
272,  281. — Doação  d.t  alcaidaria 
mor  de  Évora  Monte,  272,  280  — 
Outras  mercês  de  D.  .loão  II,  271, 
272,  -isi),  281,  282.— Também  teve 
a  comenda  de  Valada,  282,  307. 
Anadel  mor  interino  dos  besteiro- 
da  camará,  282.  —  Do  Conselho  de 
D.  João  II,  289,309.— Tesourei- 
ro do  seu  bolsinho,  'IS'!,  -"Jli. — 
Executor  dos  castigos  por  elle  or- 
denados, quando  recaiam  em  crian- 
ças, 282,  286.  —  Contribue  para 
D.  Manuel  ser  nomeado  sucessor 
da  coroa.  272,  304,  306.  —  Mas  não 
escreveu  o  testamento  de  D.  João 
II,  303.  —  O  'jual  foi  comtud"  .  - 
tregue  á  sua  guarda,  281,  308.- 
AcompanLa  el  liei  na  sua  doença, 

25 


3S6 


índice  alfabético 


301.  -Assiste   ;'i    sim  morte,  .>i|S. 

—  No  seu  testamento  è  nomeado 
para    o    conselho    testamentario, 

309,  310.  —  I  obrigações  que  no  tes- 
tamento lhe  são  impostas,  309, 
310;  satisfa-las  e  recebe  carta  de 
quitação,  310.  —  Ainda  seguiu  al- 
gum  tempo  a  curte,  .'!I0,  313. — 
1  '(Mia    do    Cancioneiro.    299,   300. 

—  Abandona  a  corte,  306,  .'i70. — 
Passa  a  viver  nas  suas  casas  de 
1  isboa  ou  na  sua  quinta  dos  Oli- 
vaes,  313.  —  Seus  serviços  foram 
condignamente  premiados  por  D. 
João  II,  30(5,  312,  313.— Defe- 
rência de  I».  Manuel  para  com  elle, 
307.— Confirma-lhe  os  bens  <la 
coroa   e    os  privilejios,   'J t j  J ,  278. 

—  Notáveis  palavras  nas  cartas 
destas  confirmações,  304,  305,  306. 

—  Do  Conselho  de  D.  Manuel,  305, 

310,  312.  —  Satisfações  recebidas 
pelos  oficios  de  cevadeiro  mor  e 
camareiro  305;  pelos  bens  dos 
Braganças,  272.  —  São-lhe  dadas 
cartas  de  quitação  de  varies  di- 
nheiros recebidos  de  D.  doão  II, 
alem  dos  consignados  no  testa- 
mento, 311,  312;  e  outra  do  oficio 
de  cevadeiro  mor,  312.  —  Seu  ca- 
samento, 319.  —  Sua  mulher,  riiic 
Oliveira.  Leonor  Gonçalvez  de. — 
"•cus  sogros,  281,  319.  —  Seus  bens 
próprios  e  da  coroa.  307.  —  Sua 
quinta  nos  Olivaes,  281,  307,  313, 

320,  321.  —  Suas  casas  em  Lisboa 
á  porta  da  Cruz,  320.  —  As  de  mo- 
rada á  porta  da  Alfôfa,  258,  259, 
307,  313,  314,  321,  322,  323,  324, 
325,  326,  330,  332  a  340,  343,  348, 
358,  359,  364,  369.  — Institue  um 
morgdo    destas    suas   casas.    314, 

321,  322. —  Funda  uma  capella  na 
Graça  de  Lisboa,  315,  321.— Últi- 
mos tempos  da  sua  vida,  367. — 
'  asamento  de  seu  filho.  368,  369. 

—  Sua  morte.  368.  —  Sua  sepultu- 
ra. 321.  —  Importância  verdadeira 
da  sua  personalidade  politica.  370. 

Faria,    Antão   de.   II   do  nome,   insti- 
tue  o  morgado  de  Palmella,  327. 

—  Possue  as  casas  da  poria  da 
Alfôfa,  341. 

Parla,  Beatriz  de.  lilha  de  Álvaro  de 

Faria,  255. 
Karia,    Caterina    de,  sua  irmã,    '->r>. 
Faria,    Dr.   ]  >ioj;o  de,  cirurjião  mor 

de  D.  Manuel.  249,  250.  ' 

Karia.   Francisco   de,  ti  lho  do  Cama- 
reiro, ;ib7.  —  Doam-lhe  os  pais.  em 


sua  vida,  a>  casas  da  porta  da 
\liota.  em  morgado,  322. —  Pos- 
sue-as,  335,  33o,  368.—  Seu  ca- 
samento, 368,  369.  —  Viveu  e  foi 
sepidtado  em  Palmella,  336.  — 
Seu  testamento,  320,  321. 

Karia.  Francisco  de,  11  do  nome, 
abaide  mor  de  Palmella,  possue 
as  casas  da  porta  da  Alfôfa,  338, 
339.  —  Compra  outras  junto  da- 
quellas,  337. 

Karia.  Francisco  de,  filho  de  Lou- 
renço, 318. 

Karia.  Francisco  de,  morador  em 
Évora,  52. 

Faria.  Garcia  de,  estribeira  mor  do 
Príncipe  1).  João,  253,  257,  258, 
263,  317.— Seus  pais.  259,  314. — 
Partilha  de  seus  bens,  314. — Tal- 
vez tabelião  em  Évora,  .'il7. 

Faria.  Garcia  de,  filho  de  Lourenço. 
318. 

Karia.  Gonçalo  Nunez  de,  abade  de 
Lio  Covo,  252. 

Karia.  Gonçalo  Nunez  de,  sr.  de  Fão, 
252. 

Karia.  Guiomar  de,  mulher  do  mes- 
tre Gil,  cirurjião  mor,  .Hl  7 

Faria.  Joana  de,  lilha  de  Lourenço. 
318. 

Karia.  I>.  Joana  de,  mulher  de  Nuno 
Fernandez  de  Ataíde,  368,  369. 

Faria,  doão  de,  coudel  de  Évora, 
259,  314,  315,  316,  317,  369. 

Faria,  doão  de,  filho  de  Lourenço, 
317. 

Faria,  doão  de,  uchão  de  I).  doão  II, 
■.'õ.!.  257,  266. — Alcaide  mor  de 
Portel,  257,  280. 

Faria,  doão  Alvarez  de,  escudeiro  do 
sr.  de  Hasto.    184. 

Faria.  Lourenço  de,  mantieiro  de 
D.  João  II.  antes  e  depois  de  rei. 
253,  258,  263,  280.  — Seu  alferes 
do  estandarte  na  batalha  de  Toro. 
253,  258,  265,  279,  317.  — Seus 
pais,  ''->'K  314.  —  Suamulher,  314. 
—  Suas  casas  em  Lisboa,  258,  259, 
318,  327,  328,  335.  — Sua  morte. 
253,  259,  318.  —  Seu  testamento, 
317,  318. 

Faria.  Maria  Fernandez  de.  mora- 
dora em  Torre*  Vedras,  256. 

Faria.  Mor  de,  filha  de  Lourenço. 
318. 

Faria.  Nicolau  de.  secretario  da  em- 
baixada ao  papa  l.eao  x.  39. 

Faria.    Simão   de.  filho  de   Lourenço, 

259,  318. 

Faria.  1>.   Teresa  Losa  de.  mulher  de 


índice  alfabético 


387 


Francisco  Policarpo  Girão  de  Re- 
sende, lil . 

Parla  da  Silva,  1».  Antão  de,  Prior 
mor  de  Palmella,  possue  as  casas 
da  porta  da  Alfafa,  339. 

Farto  y  Sousa,  Manuel  de,  Europa 
Portuguesa.  Lisboa,  1679.  310.  — 
Notas  ai  Nobiliário  de  don  Pedro, 
Conde  de  Barcelos,  hijo  dei  Rey 
dou  Dionis  de  Portugal,  na  ed.  de 
Madrid,  de  1646,  daquelle  Nobiliá- 
rio, 252,  310. 

Farias:  seu  possível  progenitor,  253 ; 
os  dos  tempos  de  1).  Afonso  V  e 
D.  João  II.  253,  255,  257,  259; 
não  eram  fidalgos,  254,  279;  erros 
dos  geneolojistas  a  seu  respeito, 
279,  310;  suposta  carta  de  brasão 
a  elles  dada,  280. 

Faro,  Almoxarifes  de,  134.  —  Doação 
da  vila  á  Rainha  1).  Leonor  II!). — 
A  el!a  pertenciam  as  rendas  e  di- 
reitos reaes,  113,  127,  128  ;  os  di- 
reitos da  judiaria  e  moiraria  e 
os  foros  dos  próprios,  l'27,  129. 
—  As  pensões  dos  tabeliães  per- 
tenciam a  Antão  de  Faria.  'i7'.', 
306,  307. 

Faro,  Conde  de,  I ,°,  vide  Afonso,  D. ; 
2.°,  vide  Sancho.  D. 

Faro.  Condessa  de,  vide  Noronha, 
1).   Maria. 

Fazenda  real,  vide  em  Escrivão  e 
Vedor. 

Feo,  Pêro,  estribeiro  mor  de  I).  Afon- 
so V,  256. 

Fcrnandez,  Álvaro,  capellão  e  esmo- 
ler de  D.  Manuel,  249. 

Fcrnandez,  Álvaro,  esmoler  da  Rainha 
D.  Leonor,  134 

Fcrnandez.  Isabel,  mulher  de  Afonso 
Garcês,  '21 . 

Fcrnandez,  .João,  o  Lavrador,  navega- 
dor, 129. 

Fcrnandez,  D.  João,  1.°  Mestre  da 
Urdem  de  .Santiago  em  Portugal, 
IL 

Fcrnandez,  Urraca,  mulher  de  Diogo 
Soarez  de  Albergaria,  361. 

Fcrnandez,  Vasco,  tabelião  de  Évora, 
12. 

Femandez  Costa,  D.  Duarte  de  Me- 
neses e  D.  Isabel  de  Castro,  artigo 
no  n."  de  abril  de  1901  do  Boletim 
da  Sociedade  de  Geographia  1. — 
Critica  a  este  artigo,  4,  6,  8,  9,  10. 

Fernando,  o  Católico,  Rei  de  Cas- 
tella  e  Aragão,  35,  1  G"2. 

Fernando.  Mestre,  cirurjião  mor  de 
D.  Afonso  V,  232  246. 


Fernando,  D.,  Infante,  filho  de  D. 
João  l,  sepultado  na  Batalha,  1 10. 

Fernando,    D.,    Infante,    innao   de    D. 

Afonso  Y,  Duque  de  Viseu,  '220, 
23!).  —  Seu  caracter,  I,  2.  —  Sua 
expedição  infeliz  em  Africa,  2. — 
Seus  filhos,  276,  277. 

Fernando,   |).,  Maricbal,   353 
Fernando,  Mestre,  morador  em  Lis- 
boa, 246. 
Fernando  li.  1>.,  Rei  de  Leão,  funda 
a  ( )rdem  de  Sanl  iago,  1 3. 

Fernando,    1)..    Kei   de   Portugal,    194, 

252,  280,  347. 

Ferrão  de  Castello  Kraneo.  José,  in- 
dica ao  autor  a  etimolojia  da  pa- 
lavra marramaque,  196. 

Ferreira,  António,  morador  em  EvO- 
ra,  õl . 

Ferreira.  D.  Caterina,  51. 

Ferreira,  Rodrigo,  sobrinho  do  mes- 
tre André  de  Resende,  86. 

Fez,   Bispo  de,    Vide   Francisco,  D. 

Fez,  Rei  de,  cerca  a  vila  de  Alcá- 
cer, õ. 

Fidalgo,  diferença  entre  elle  e  o  no- 
bre, 254,  255.' 

Fidalgo,  Afonso,  homem  «la  copa  de 
1).  .loão  11,  102,  103,  104,  224. 

Fidalgo,  João,  mestre  pedreiro.  338. 

Figueira,  Alcaide  mór  da,   156. 

Figueiredo,  António  Bernardo  de, 
major  de  artilharia.  17'.!,  174. — 
Mede  a  múmia  de  D.  João  II, 
170,  171. 

Figueiredo,  Cândido  de,  Novo  diccio- 
nario  da  língua  portuguesa.  ■  ■  Lis- 
boa, IS!)!).  2  vols.   195. 

Figueiredo,  bornes  de,  provedor  de 
Évora,  141,  254. 

Figueiredo,  D.  Gonçalo  de,  bispo  de 
Viseu,  '201 . 

Figueiredo,  Henrique  de,  escrivão  da 
fazenda  de  D.  Afonso  V,  254,  295. 

Figueiredo,  Lopo  de,  escrivão  da  fa- 
zenda do  Duque  de  Bragança,  271. 
—  Seu  delator,  254,  271,  273.— 
Prémio  da  delação  confirmado  por 
D.   Manuel,  273. 

Figueiredo,  Lopo  de,  Traindo  de  — 
em    que  se  contem  algumas  carta* 

e  outras  cousa*  que    tacão   ao  raso 

do  Duque  de  Bragança,  publicado 
nos  Annaes  de  sciennas  e  leiras, 
163,  164,  271,  281. 

Figueiredo,  D.  l.uisa  de,  mulher  de 
Pedro  Paulo  de  Resendi  ,  58. 

Figueiró,  Senhor  de,  192,  '210. 

Figueiró  da  Granja,  bens  lã  situa- 
dos, 248. 


388 


indici:  ALFABÉTICO 


Filipa,  D.,  filha  do  Infante  1>.  Pedro. 

316. 
Filipa,  1'..  Rainha  de  Portugal,  196. 

—  Sepultada  na  Batalha,  140. 
Fisica,  Cartas  de,  231,  245,246,  247, 

>48,  249,  250. 

i  isico  ile  D.  Afonso  \.  245. — Do 
Infante  1>.  João,  245.— De  1>.  Ma- 
nuel, 229,  231,  232. 

Físico    mor   de    D.    Afonso  V,   231, 

245,  246,247,  248.— De  D.  João  II. 

246,  247.— De  D.  João  III,  228. 

—  De   D.    Manuel,  247,  248,  249, 
250. 

Fisicos,  Examinador  dos.  245,  250. 

Flandres,  1  aia  de,  «84. 

Florença,  Estamenha  de,  134. 

Florentim.  pano,  291 . 

Fonseca,  Antão  da,  escrivã"  da  fa- 
zenda, sua  casa  em  Lisboa,  344. 
345,  349,  350,  355. 

Fonseca,  Pe  Francisco  da,  Évora  glo- 
riosa. Epilogo  dos  quatro  tomos  da 
Évora  /Ilustrada,  que  compoz  o  R. 
I>.  M.  Manoel  Fialho. . .  Roma, 
1728.  68,  71,  88. 

Fonseca,  João  da,  escrivão  da  fa- 
zenda de  D.  Manuel,  sr.  das  ilhas 
de  Santo  Antão,  Flores  e  Corvo, 
34-i,  353. —  Suas  casas  em  Lisboa. 
343,  344,  349,  350,  354,  358. 

Fonseca,  Paulo  Gomez  da,  juiz  dos 
órfãos  de  Évora.  94. 

Fonseca,  Pêro  da,  sr.  das  ilhas  de 
Santo  Antão,  Flores  e  Corvo,  349. 

Fonseca,  Simão  da,  capellão  fidalgo, 
suas  casas  á  porta  da  Alfôfa,  353, 
354,  356. 

Fonte  Cuherta,  herdade  onde 
D.  .loão  II  foi  envenenado,  120, 
230. 

Fragoso,  Jordão,  morador  em  Évora, 
45. 

Fragoso,  Rui,  contador,  328. 

Fraião,  Senhor  de,  198. 

França,  Embaixador  de,  õ] . — Moeda, 
267. —  Pano,  291.  —  Para  lá  parte 
Afonso  V,  160;  e  lá  recebe  um 
enviado  do  Príncipe  D.  João,  208, 
269. 

I  rances:  lenço,  291  :  moço  fidalgo, 
284,  285:  pedreiro,  245;  saio  bas- 
tardo, "289. 

Francisco,  !>.,  Bispo  de  Fez,  esmo- 
ler de  D.  Manuel,  249. 

Francisco,  D.,  1.  Conde  do  Vimio- 
so, 24. 

I  rasto,    Brites,   mulher  de  '  I 
de  Resende,  75,  70. 

Frederico   li.    Rei    da   Prússia,    142. 


Freire,  Gomes,  fidalgo  morto  em 
Tanjer.    2. 

Freire,  -loão,  escrivão  dos  contos  da 
casa  de  D.  João  II,  24  1 . 

Freire.  D.  Maria,  Marquesa  de  Vila 
Real,  189. 

Freire  de  Andrada,  Gomes.  l.°  Conde 
de  Bobadella,  348. 

Freire  <le  àndrada,  José  António.  2.° 
Conde  de  Bobadella,  348.  357. 

Freire  de  Oliveira,  Eduardo,  Ele- 
mentos para  a  historia  do  muni- 
cípio de  Lisboa.  ■ .  l.a  Parte,  Vol.  1, 
Lisboa,  1882,  343.  Vol.  II,  Lisboa, 
1885.  355. 

Freitas.  José  Valentim  de,  traça 
nina  planta  de  Lisboa,  .'i"25. 

Freitas.  Lourenço  de,  tesoureiro  e 
ucbáo  da  Bainha  D.  Leonor,  137. 
—  Cartas   de   quitação,    133,   135. 

Funchal,  Morador  no,  'l\'l. 

Fundidor  de  ferro.  "289, 

Furtado.  João,  tabelião  em  Évora, 
42,  87. 

Furtado  de  Mendoça,  Afonso,  151. 

Furtado  de  Hendoça,  Nuno,  aposen- 
tador  mor  de  D.  Afonso  Y,  148, 
151, 

Galego,  cirurjião,  249. 

íiago,    João,    almoxarife    de  Sintra, 

134. 
(•aso.   João,    tesoureiro   da  Casa  da 

Mina,    132. 
t.airn.    Bui.    feitor   nas  Molucas,  77. 
Galbarde,    Germão,    impressor,    73, 

78,  79. 
(.ali ii do.  D.  Martim,  262. 

Galiza,   Adiantado  de,   251. 

Gallardo,  D.  Bartolomé  José.  Ensayo 
de  una  biblioteca  espanola  de  libros 
raros  y  curiosos  formado  con  los 
apuntamientos  de — ,  coordinados  y 

aumentados  por  D.  M.  li.  /anu 
di  I  Yalle  y  D.  ./.  Sancho  Rayon.  ■ . 
Tomo   primero.  Madrid,  1863.  78. 

Galvio,  Duarte,  24. 

(.aluiu.  1».  loão.  Bispo  de  Coimbra 
e  Conde  de  Santa  Comba,  2I>1, 
282.  —  Arcebispo  eleito  delirada. 
•281. 

Galvei,  Galveu,  -ide  o  seguinte. 

Galway,  Pano  de,  283,  291. 

(•ama.  Duarte  da,  poeta  do  Cancio- 
neiro. 346. 

Gama  Barros,  Henrique  da,  Historia 
da  administrarão  publica  em  Por- 
tugal nos  séculos  x:i  a  xv.  Lis- 
boa, 1885-1896.  2  vols.,  16,  17. 
254. 

<  iante,  Pano  de,  291 . 


índice  alfabético 


3SQ 


Garcês,  Afonso,  secretario  de 
D.  João  II.  21,  22,  254. 

<iarrès,  Jorje,  secretario  de  I».  .Ma- 
nuel, 295. 

Genealojistas,  pequena  valia  das  suas 
asserções,  280. 

Genovês,  cirurgião  especialista,  249. 

Gestacò,  mercê  do  senhorio,  258, 

Gibraltar,  lá  se  encontram  Afonso  V 
e  Henri([iie  1\'  de  Castella,  2,  3. 

I liela,  Senhor  .hi  casa  «Ir.  198. 

Gil,  Mestre,  cirurjiáo  mor  de  1). 
Afonso  Y.  245. 

Gil,  Mestre,  cirurjiáo  do  Pnque  de 
Viseu,  246;  cirurjiáo  mor  de  D. 
Manuel,  \!'i7f  248,  249,  317. 

Gil,  Pr.  Mestre,  outro  cirurjiáo  mol- 
de D.   Manuel,   228,  250. 

Ginetes,  Capitão  mor  dos,  do  Prín- 
cipe D.  João,  246. 

<;irão  de  Besende,  Francisco  Poli- 
carpo. '.)."  administrador  do  mor- 
gado da  Anta.  60,  61,  66. 

Girou.  P.  Maria,  mulher  de  Marti m 
Vasquez  da  (  unha.  362. 

Goa,  Morador  em,  85. 

Godinho,  António,  fez  o  livro  das 
armas   da   Torre   do  Tombo,    17.S. 

Godinho,  Gaspar,  escrivão  da  cama- 
rá, 138. 

(íoes.  família  deste  apelido  em  Évo- 
ra, 87. 

(•'oes.  Angela  Leonor  de,  mãe  de 
André  de  Resende,  87. 

C.oes,  Barnabé  de,  morador  em  Evo- 
ra,  51,  87. 

Góes,  Damião  de,  Chronica  do  feli- 
cissimo  Hei/  dom  Emanuel.  ■  ■  Lis- 
boa, 1619.  34,  102,  114,  I!."»,  154, 
\!õ7,  '274,  275. — Na  primeira  edi- 
ção, suprimida  pela  censura,  da 
primeira  parte  desta  Chronica, 
censurava  energicamente  a  resti- 
tuição da  casa  aos  Braganças, 
115,  116.  —  Chronica  do  Príncipe 
dom  Joam,  Rei  que  foi  destes  líe- 
(jnoít  segundo  do  nome...  Coim- 
bra. 1905.  164,  IGõ.  —  Nobiliário, 
copia  ms.  em  meu  poder.  7'i.  184, 
254,  330. 

Góes,  Piogo  de,  almoxarife  dos  for- 
nos da  porta  da  Cruz,  8í). 

<íoes.  Piogo  de,  escudeiro  do  Puque 
'  de  Coimbra  ,87,  89. 

ftoes,  Piogo  de,  fidalgo  da  casa  dei 
Rei,  89. 

<.ne>.  Piogo  de,  morador  em  Évo- 
ra, 51,  89. 

(iões,  Leonor  Vaz,  mãe  de  André 
de  Resende,  87. 


(.oes.  Meei  a  de,  mulher  de  Francisco 

de  Faria,  52. 
Gomes,    Uvaro,   cavaleiro,  morador 

em  Ta\  ira,  267 , 
(.ume/.    Bartolomeu,    provedor    das 

rendas  reais  de  Lisboa,  238. 
«.orne/.   João,  mOQO  da  estribeira  do 

Príncipe  D.  João,  '.'(17. 

(.ume/    Freire,    Luis    Garcia,    capi 
tão,  62. 

Gonçalvez,  Antão,  contador  da  casa 
de  I».  João  II,  241. 

Gonçalves,  Diogo,  sapateiro  do  Prín- 
cipe D.  João,  266. 

Gonçalves,  Diogo,  tabelião  de  Évo- 
ra, 12. 

Gonçalvez,  Gaspar,  homem  da  copa 
da  Rainha  I>.  Leonor,   137. 

Gonçalves,  João.  dos  Olivaes,  sogro 
dê  Antão  de  Faria.  281,  319,  320 

Gonçalves,  João,  tesoureiro  da  Casa 
dá  Índia,    137. 

Gonçalves,  Leonor,  mulher  de  Antão 
de  Faria,  vide  Oliveira,  Leonor 
Gonçalvez. 

Gonçalves,  Nuno,  alcaide  do  castello 
de  Faria,  251,  252,  253. 

Gonçalves,  Vasco,  almoxarife  de 
Alemquer,  134. 

Governador  da  casa  do  Príncipe 
D.  Afonso,  vide  Meneses.  D.  João. 
—  Pa  casa  do  Príncipe  D.  João, 
vide  Albergaria,  Piogo  Soarez. 

'Irão  Fará,  sua  colonização,  "217. 

Grécia,  Mestre  Joane  da,  fisicò,  245. 

Guarda,  Almoxarife  da,  11.  —  Fassa 
por  lá  a  Excelente  Senhora,  100. 

Guarda  do  Príncipe  P.  João,  '263. 

Guarda  mor  de  D.  João  111,  41. 

(inania  roupa  de  D.  João  11,  vide 
Faria,  Antão. — Pe  P.  Manuel,  vide 
Correia.  Fernão  Lopez. 

Gnazava,  (onde  de,  em  Africa,  '28Õ. 

Guimarães,  Comarca  de,  192. — Físico 
lá  morador,  '231 ,  232. — Outros  mo- 
radores, 242,  243,  250. — Mosteiro 
de  S.  Domingos,  194.  —  Peonajem 
do  concelho,  251. — Recebedor  do 
almoxarifado,  249. — Tabelião, 243. 

(iiiiinaràes.  Conde  de.  vide  Bragança, 
Duque  de,  D.   Fernando  II. 

Guimarães,  Lourenço  de,  360. 

Guiné,  Almoxarife  ou  recebedor  do> 
escrai  os  vindos  de,  226,  234,244. — 
Escrivão  da  fazenda,  295. — Feitor 
da  Casa,  312. — Ilhanomardaquelle 
senhorio,  295. —  Pensões  pagas  pe- 
los capitães  e  escrivães  dos  na\  io^ 
que  para  lá  se  armavam  em  Lis- 
boa e  em  certas  ilhas,  42. — Rece- 


390 


índice  alfabético 


bedor  'las  vintenas  de  lá,  129. — 
lis.' uni  ró,  312. — Titulo  do  senho- 
rio  quando  introduzido  no  dictado 
real,  183. 

Guiomar,  1).,  Condessa  de  Loulé,  8. 

Gaiomar,  1).,  dama  'I"  paço,  poetiza 
do  Cancioneiro,  23,  24. 

Guiomare8,  \s  treh  grandes,  do  Can- 
cioneiro, .''i. 

Heahea,  carpinteiro  moiro,  288. 

Henrique,  !>.,  Cardeal  Infante,  seu 
camareiro  e  guarda-roupa,  91. — 
Seu  capelão  fidalga,  90,91. — Fi- 
dalgo da  sua  casa.  91 . — Ralacio  em 
Lisboa  onde  residiu.  336. 

Henrique,  D.,  Conde  de  Portugal,  17. 

Henrique,  I>.,  Infante,  til  lio  de 
1).  .loão  I,  cavaleiro  da  darr<-- 
teira.  146.  —  Dota  o  Conde  de 
Viana,  II.  —  Governador  da  sua 
casa.   10-11. 

Henrique  II.  D.,  Rei  de  Castella,  23, 
250,  347. 

Henrique  IV.  ]>.,  Rei  de  Castella,  '2. 

Henrique  VI.  Rei  de  Inglaterra,  328. 

Henrique/.    António,   contador,    1.17. 

Henrique/..  ]>.  Briolanja,  mulher  de 
Aires  de  Miranda.  "l'.\,  25. 

Henriquez,  D.  Garcia,  capitão  de 
Ternate,  78. 

Henriques,  Guilherme  João  Carlos, 
Alemquer  e  seu  concelho.  •  ■  2.*  edi- 
ção, correria  e  augmentada.  Par- 
te .V.  A  villa  de  Alemquer,  Lis- 
boa, 1902.  91. 

Henrique/.  1).  Guiomar,  donzella  do 
paço,  mulher  de  Garcia  de  Mel- 
lo, 25. 

Henrique/.  I).  Henrique,  aposentador 
im.r  de  D.  .loão  II.  23,  264. 

Henriquez,  J>.  Henrique,  sr.  das  Al- 
cáçovas, 339. 

Henrique/.  ]).  Jorje,  sr.  das  Alcáço- 
vas, 339. 

Henrique/.  I>.  .Margarida,  apodada 
nos  Porquês  de  Setúbal,  25;  ca- 
mareira mor  da  Rainha  D.  Leo- 
nor, 134, 

Herculano,  Alexandre,  historiador, 
F27. 

Herculano,  Alexandre,  Garcia  de  Re- 

semlr,    no    Y    vol.    dos    Optisculos. 

Lisboa,  1880.  30,  282.  —  Historia 
da  origem  e  estabelecimento  da 
Inouisição  rui  Portugal.  Lisboa, 
1864-1867.  3  vols.  233,  234.— 
Historia  de  Portugal  desde  o  co- 
meço iin  monarchia  até  d  fim  do 
reinado  'ir  l>.  Afonso  m  Lisboa, 
I8<;:t.  4  vois.  i; 


Historia,  U  estudo  da,  despregado 
entre  DÓS;  os  altos  poderes  cio 
F.Stado   san  ns   peores ;  á  testa  <los 

arquivos    e    bibliotecas,    não    Be 

põem    homens  competentes,   '21  í. 

Homem,    Fedro,   estribeiro   mor   do 

Duque  de  Beja,  poeta  do  Cancio- 
neiro,  I  'i0. 

Honorato,  embaixador  de  França. 
vide  Caix.  Honorato  de. 

Manha  a  Nova.  Conde  da,  vide  Alcá- 
çova Carneiro.  l'ero. 

Ilha  'lo  Corvo,  Senhor  da,  343,  349. 

Ilha  das  Flores,  Senhor  da,  343,  349. 

Ilha  da  Madeira,  barbeiro  lá  mora- 
dor, 240;  cirurjião,  242;  outros 
moradores,  227,  240,242. —  [gre  b 
de  Santa  Maria  a  Maior,  240. 

Ilha  do  Príncipe,  Doação  do  senhorio 
da,  294,  295.  —  Senhores  delia. 
343,  345. 

Ilha  de  San  Tomé,  pensões  pagas 
pelos  capitães  e  escrivães  dos  na- 
vios que  para  lá  se  armavam  em 
Lisboa,  ou  de  lá  para  os  rios  de 
Guiné,  52. 

Ilha  de  Santiago,  idênticas  pensões,  i"2. 

Ilha  de  Santo  Antão.  Senhor  «ia,  343, 
349. 

Ílhavo,  Doação  do  senhorio  de,  152. 

Índia.  Armadas  da,  70,80. —  Arma- 
zém, 249.  —  Capitães  mores  de 
armadas,  7U. — Descobrimento,  31. 
—  Depois  delle  a  politica  entre  nus 
foi -se  tornando  mercenária,  3IJti, 
307. —  Tesoureiro  da  Casa,  78, 
133.  —  Tesoureiro  da  especearia. 
133.  — Vice  Rei,  '2X8. 

indires  do  Cancioneiro  de  Resende  e 
itas  Obras  de  Gil  Vicente,  Lisboa, 
1900.  21,  "27,  -28. 

Tneditos,  Collecção  de  Urros,  de  his- 
toria portugueza,  dos  reinados  de 
D.  João  L,  D.  Duarte,  l>.  Affon- 
so  V-.  e  l>.  .loão  II.,  publicados  de 
ordem  da  Academia  Real  das  Scien- 
cias  de  LUboa.  Por  José  Corria  d" 
Serra.  Tomo  l.  Lisboa,  1790;  tom. 
11.  ibi.  1792  ;  tom.  III.  ibi.  1793. 
182,  294. 

Inglaterra,  Relações  com.  196. 

Inglês.  Carta  de  seguro  para  a  nau 
de  um,  220. 

Inocêncio,  Dic.  bibliográfico,  vide 
Silva,  Inocêncio  Francisco. 

Inquisição,  breve  proibindo-lhe  pro- 
cedimento contra  certos  cristaos- 
novos,  235.  —  Dos  seu  26:000  pro- 
cessos só  existi-  muito  deficiente 
catalogo,  216. 


INDICl     ALFABÉTICO 


391 


Instituto,  0,  jornal  identifico  e  litlr- 
rarío.  Volume  decimo  quinto.  <  loim- 
bra,  1872.  19,  b't 

Ipre,  Pano  de,  vide  Ypres. 

Irlanda,  Lano  < [o,  291 . 

Irlandês,  Pano,  283. 

Isabel.  D.,  Princesa,  mulher  do  Prín- 
cipe D.  Afonso,  22,  145.     -Doação 

•  las  vilas  de  Torres  Novas,  Torres 
Vedras  e  Alvaiázere,  11S. —  Vide, 
Isabel,  ]>.,  Rainha,  mulher  de 
D.  Manuel. 

Isabel,  D.,  Rainha  Católica,   162. 
Faz  com   que  D.  .loão  II  deixe  a 
aniant".    166. 

Isabel,  D.,  bainha  de  Portugal,  mu- 
lher de  D.  Afonso  V.  seu  tumulo 
provisório  na  casa  do  capitulo  da 
Batalha,  17.5.  —  Seus  restos  tras- 
ladados para  a  capella  do  Funda- 
dor, 139,  140,  173.  -Sua  aia,  vide 
Meneses.  1).  Beatriz.  —  Donzellada 
sua  casa,  185. 

Isabel.  1).,  Rainha  de  Portugal,  mu- 
lher de  D.  .Manuel,  enviuva  do 
Príncipe  D.  Afonso  e  torna  a  ca- 
sar, 145. — .lurada  herdeira  de 
Castella  e  Aragão,  106,  145. — 
Morre,  14.">. — Vide  Isabel.  D.,  Prin- 
cesa. 

Jaime.  D.,   Bispo  de  Ceuta,  [51. 

Jardo,  1).  Domingos,  Jiispo  de  Lis- 
boa, 360. 

Joana.  Infanta  D.,  irmã  de  D  João  II, 
cria  o  Mestre  D.  .lorje  seu  sobri- 
nho, 152. 

Joana.  Princesa  D.,  a  Excelente  Se- 
nhora, desposada  de  D.  Afonso  V. 
;i40.  —  Entra  com  elle  em  Portu- 
gal, 16(1. — Vai  residir  para  Abran- 
tes, 160,  161,  162,  167. — Larga  os 
títulos  e  entra  como  noviça  no  con- 
vento de  Santa  Clara  de  Santa- 
rém, 162.  —  Passa  para  o  de  Santa 

•  Iara  de  Évora,  162. — Professa 
no  de  Santa  Clara  de  Coimbra, 
162,  164,  211. — Dadivas  que  lhe 
fez  D.  .loão  II.  287,  288.— Sua 
camareira  mor,  1  (>7.  —  Donzellada 
sua  casa.  148,  160,  1 1  >7 .  —  Seu 
mordomo  mor,   160. 

João.  D.,  Bispo  de  Ceuta,  16. 
Joào.  D..  Bispo  de  Silves,  fundador 

do  hospital  de  Santo  Eutropio  em 

Lisboa,  325,  360,  362. 
João.     Mestre,     cirurjião     biscainho 

morador  no  Porto,  228. 
Joào,    Mestre,    cirurjião   da    Rainha 

D.  Leonor,  morador  no  Porto.  228, 

229,  248. 


Joào.  Mestre,  cristão-novo,  afilhado 

de   l  >.   João   11,   físico  da    Rainha 

I  >.  Leonor n  o  nome  de  mestre 

João  do  Porto,  '.''«'o. 
Joào,  ]>..   3.°  Duque  de  \  iseu,  tem 

curta   \  ida,   27o.      Seu   cirur  ião 

246. 
joào.   Mestre,   físico  de  D.  Manuel, 

229,  Z47. 
João.  D.,  Infante,  filho  de  D.João 

1 10,  175.-  Seu  físico,  245. 
Joào.  Mestre,  judeu,  299. 
João.  D.,  Marquês  de  Montemor,  3, 

257,  275. 

João  XXII.   papa.    15, 

Joào.  D.,  Príncipe,  nasce  em  Lis- 
boa. 259!  —  Sua  madrinha  de  ba- 
ptismo, 260.  —  Educação  recebida 
de  seus  aios.  262.  Âjusta-se  o 
sen  casamento,  263,  Armado  ca- 
valeiro, 261-262.  —  Contrato  do 
seu  casamento.  117.  125. 
cia  do  reino  na  ausência  do  pai 
em  Castella,  264.  —  Valimento  do 
Camareiro,  264,268.  -Mercês  qne 
então  lhe  faz,  264,  265.  —  Entra 
em  Castella,  265. —  Em  Toro  co- 
meçam os  seus  amores  com 
D.  Ana  de  Mendoça,  160  '  on- 
tiuuam  durante  a  viajem  da  Exce- 
lente Senhora  para  Abrantes.  Kit. 

—  Rejencia  do  reino  durante  a  au- 
sência do  pai  em  França,  162,  268 
— Estado  do  reino,  268. —  Convoca 
um  conselho  no  mosteiro  do  Espi- 
nheiro, 268. — Envia  o  Camareiro 
a  França  com  recados  ao  pai.  268. 
269.  —  Primeira  aclamação  em 
Santarém.  162,  269.  —  Entrega  o 
governo  ao  pai,  162. — Pazes  com 
os  Leis  Católicos,  1G2. —  Recome- 
çam os  amores  no  Vimieiro,  162. 
— Encontros  com  D.  Ana  nos  bos- 
ques de  Cernache.  162.  —  Em 
Coimbra  concebe  ella  o  futuro 
Mestre  D.  .lorje,  lli.i,  164.  Nas- 
cimento do  filho  bastardo,  Ki4. — 
Sobe  ao  trono.  269. —  Sua  casa 
em  quanto  Principe,  262,  263,  264. 

—  Algumas  pessoas  que  o  servi- 
ram :  aia.  vide  Meneses.  D.  Beatriz, 
e  Vilhena,  D.  Beatriz;  alferes  do 
seu  estandarte  em  Toro,  Faria. 
Lourenço;  aposentador  mor.  Hen- 
riqnez,  D.  Henrique  ;  armador  mor, 
Faria.  Antão;  camareiro.  Parla, 
Antão,  e  lhe  dada  carta  de  quita- 
ção. 265  a  268  :  camareiro  mor. 
Silva.  Aires,  e  .loão  ;  capitai-  mor 
dos  ginetes,   Hascarenbas,   Fernão 


392 


ÍNDICE  ALFABÉTICO 


Martinz ;  cevadeiro  mor,  Parla, 
\  ntâo :  chanceler  mor  Silveira, 
Femandez  ;  copeiro  mor,  i,i- 
iii».  Fernão  ;  escrivão  da  puridade, 
Silveira,  João  Fernandez;  estrihei- 
ro  mor.  Parla,  '.areia,  e  Velho, 
Rui;  governador,  Albergaria,  Diogo 
Soarez;  guarda,  Escudeiro,  João; 
guarda-roupa,  Parla',  Antão;  man- 
tieiro,  Faria,  Lourenço;  meirinho 

i ■,   Sonsa,   [íui ;   mordomo  mor, 

albergaria,  Diogo  Soarez-,  e  Noro- 
nha. D.  Pedro;  sapateiro,  "-!iiii; 
tesoureiro,  Diaz,  Lopo;  vedor  da 
sua  casa.  Borjes,  Pêro-;  vedor  da 
sua  faznida.  Silveira,  -loão  Fer- 
nandez.—  Vide  João  li.  1>..  liei 
de  Portugal. 

Joio,  !>..  Príncipe,  seu  camareiro 
mor,  244.—  Vide  .loa<>  III,  1)..  liei 
de  Portugal. 

Joio  I.  D..  Hei  de  Portugal,  30,  31, 
252.  —  Sua    capei  la    na    Batalha, 

1  30,     140.  —  <  'asa    <>    rir.   João   das 

Regras,  362. 
.loão  II.  1)..  liei  de  Portugal,  18,  10, 
.hl  31,  102,  108,  '2D7.  '.T.:!.— Es- 
tado em  que  o  pai  1  lie  deixou  o 
reino.  200,  270.  —  Sua  castidade 
depois  de  rei,  149,  164. — Duraram 

pOUCO  OS  seus  amores.  140,  164, 
165,  100,  ]li7.  168. — Abandona  a 
amante.  166, —  Doações  que  1  lie 
fez,  140,  105.  IGG.  —  Conspirações 
e  conspiradores.  116,  153,  '-'7(1. 
','71.  272,  '277,  278,  281,  296,  335, 
346.  -Verba  do  seu  testamento 
relativa  aos  conspiradores,  116.- 
Absoltrfamente  contraria  ao  re- 
gresso dos  conspiradores  e  resti- 
tuição  das  suas  casas.  I  lõ.  I  1(1. 
—  Para  a  impedir  doa  a  diversos. 
em  premio  de  serviços,  muitos  bens 
•  ia   coroa  '■   patrimoniais  dos    Bra- 

ganças,    Mo,  257,  272.  —  Benevo- 
lência dispensada  á  mulber  de  um 
conspiradores,  365.  —  Prémios 
aos   delatores,   '273.  '274. —  Confir- 
mados por  1).  Manuel,  .pie  por  esta 
forma  reconhece  haverem  sido  as 
conspirações   facto  provado.   275. 
Padrinho  de  casamento  da  filha 
<lo   seu   Secretario,   21.  —  Recebe 
a  noticia  de  se  haverem  celebrado 
o-    desposorios    do   Príncipe    seu 
22,    23.  —  Morte   deste.   99, 
li").    100,    li."..  301.— Motivo  por 
não  sentiu  tanto,  quanto  era 
de  prever,  301.  —  Discórdias  com 
sua    mulher  a    Rainha    1 1.    Leonor, 


99,  101,  106,  1)17.  108.—  Mercês 
que  lhe  faz,  00,  100,  108,  109, 
I  10,  1 18,  120.  —  Corre  a  acompa- 
nha-la  na  doença,   108.  —  No  seu 

testamento  nem  uma  BÚ  vez  a  no- 
meia, 112.  -Ódio  que  ella  até  final 
lhe  consagra.  131.  —  Deseja  deixar 
a  coroa  ao  filho  bastardo.  101,  106, 
1 10.  152,  304.— Luta  com  a  Rainha 
sobre  a  nomeação  do  sucessor  á 
coroa,  101,  106, 107,  1  lo,  111.1 12. 

—  Nomeia-a  em  1  >.  Manuel.  111.  — 
Para  o  que  concorre  o  I  lamareiro, 
'27'2. —  dá  doente  cuida  na  defesa 
do  porto  de  Lisboa.  37,  302. — 
Nomeia  um  conselho  de  rejencia, 
302. —  Faz   o  seu  testamento,    III. 

281,   303.— E'    aprovado,   308. 
Entrega-o  ao  Camareiro,  281,  308. 

—  Parte  para  Monchique.  112.- — 
Sua  doença  final,  30,  os.  112,  301, 
302,  303,  :J0,S.— Nella  o  acompanha 

0  Camareiro,  301 . — Na  sua  camará 
dormia  Garcia  de  Resende,  41. — 
Fora  envenenado  na  Fonte  Cuber- 
ta.  230.  —  Seu  envenenador,  224, 
^\!f>,  229,  230,  232,  \!:i:i.  '237.— 
Morre  em  Alvor.  36,  37,   112,  308. 

—  Casa  onde  morreu.  112,  368. — 
Morreu  envenenado, |0|,  [02,  103, 
lo'..  221,  222,  '.'•.'::.  224,  231.— 
Abre-se  o  testamento.  308. — Ver- 
bas delle.  ih.  ih;.  IV.).  153,  303, 
308,  300.  310.  — Nomeia  testa- 
menteiro e  conselho  testamentario, 

300.  —  Quitação  de  certos  dinhei- 
ros deixados  em  legados,  310. — 
Seus  detractores.  107.  132,  278.—? 
Seu  caracter,  141.  142,  143.  VOO. 
'270.  — Sua  politica.  106,  270,271, 

301.  —  A  ella  sacrifica  a  amante, 
107.  —  A  sua  obra  politica  come- 
çada   a    destruir    por   D.    Manuel. 

1  13.  31;!. —  A  sua  memoria  desres- 
peitada por  elle  e  pela  Rainha, 
llõ.  —  Notáveis  palavras  de  lou- 
vor usadas  por  I>.  Manuel  a  seu 
respeito,  154,  155.  —  Festas  e  usos 
da     sua     corte.      I  'i  I  .     I  12,     282     a 

•280.  293,  297  a  301.—  Pe?soas  da 

sua  Confiança:  os  Almeidas,  Con- 
des de  Abrantes.  107;  Pêro  da 
Alcáçova.  '203.  295;  António  Car- 
neiro, '203.  204;  Garcia  de  Resen- 
de. 33,  35,  36,  37  ;  o  Camareiro 
Antão  de  Faria.  254,  '278.  279, 
281,  293,296,  370;  doações  que  lhe 
fez.  '271.  272,  280,  '281,  282  ;  era 
o  tesoureiro  do  seu  bolsinho,  282, 
296  ;  varias  cartas  de  quitação  que 


iNPicr   \i  i  \i;i-:ti<:<> 


303 


este  recebe,    179,  311,  312.  —  Foi 

cavaleiro     da     Jarreteira,      176. — 

Decreta  alterações  nas  armas  reaee, 
124,  177.  178. Sen  dictado,  183. 

—  Seu  selo  real.  202,  210,  211. 
Sua  empresa,  177,  211.  —  Sua 
( 'hancelaria  muito  mutilada,  109, 
110.  —  Variadíssimos  objectos  que 
entravara  no  seu  tesouro,  28a  a 
293.  —  Mobília  de  uma  casa  fidal- 
ga no  seu  reinado,  3G6,  -!G7. — 
Sua  descendência,  145  a  l.*>7. — 
Põe  casa  ao  filho  bastardo,  I  52 
Doações  que  lhe  faz  em  testamen- 
to no  qual  o  deixa  muito  recomen- 
dado a  D.  M/nnuel,  153. —  Seus 
únicos  actuaes  desceu  lentes  por  li- 
nha varonil,  156.  —  E'  sepultado  na 
Batalha,  131. — Auto  da  traslada- 
ção dos  seus  restos  para  a  capella 
da  Piedade.  180. — Projecta-se  a 
trasladação  para  a  capella  do  Fun- 
dador, 139,  140.  —  Abre-se  o  cai- 
xão, 169.  —  Sua  múmia,  [69,  170. 
171 ,  174. — O  seu  despojo  encerrado 
numa  simples  caixa,  171. — E'  le- 
vado para  a  sacristia.  17'.!. — Pes- 
soas que  o  transportam,  I7"í. — 
Pessoas  que  pegam  ás  liorlas  na 
solene  trasladação,  17".!. — Frontal 
da  sua  nova  sepultura  na  capella 
do  Fundador.  177.  —  Algumas  pes- 
soas que  o  serviram:  anadel  moí- 
dos besteiros  da  camará.  Vide 
Macro,  Uni  Gil,  e  Portocarreiro, 
Francisco  :  anadel  mor  dos  bestei- 
ros de  cavalo,  Mello.  Jorje  ;  apo- 
sentador  mor.  Henrique/.  D.  Hen- 
rique :  camareiro.  Faria.  Antão ; 
camareiro  mor,  Silva.  Aires;  can- 
tor. Porto.  .João  ;  capitão  mor  dos 
ginetes.  Mascarenhas,  Fernão  Mar- 
tinz:  cevadeiro  mor,  Faria.  An- 
tão ;  chanceler  mor  interino,  Lu- 
cena, Diogo  ;  cirurjião  e  físico  mor, 
Fernando,  Mestre,  e  Lucena.  Dr. 
Mestre;  comprador.  Porto,  João: 
confessor,  Povoa.  Fr.  .loão;  do  seu 
conselho,  241,  281;  contador  da 
casa,  '241  ;  copeiro  mor.  Lima, 
Fernão;  copeiro  pequeno,  Sequei- 
ra, Estevão  ;  cronista,  Martin/.. 
Antão,  e  Pina.  Uui  ;  escrivão  da 
camará,  Carneiro,  António  :  escri- 
vão ila  fazenda,  Alcáçova.  Fero,  e 
Porto,  .loão  ;  estribeiro  mor.  Ca- 
nha, Álvaro  ;  guarda-roupa,  Faria. 
Antão  ;  mantieiro,  Faria,  Louren- 
ço', moço  da  escrevaninha,  Resen- 
de, Garcia,  e  Saúde.  Uni;  monteíro, 


mor,  Almeida.  I>.  Diogo;  mordomo 

mor,    Meneses.    D.  João.  e   Noronha. 

1>.  Fedro;  pajem,  Castro,  I».  .Jor- 
je   e    Meneses.    1>.    Jorje ;   provedor 

mor  da  rend  i  jão  doa  cal  ivos,  l  i  -' ; 
recebedor  do  tesouro,  Magro,  Rui 
Gil;    secretario,   Oarcên,    Afonso 

tesoureiro  do  hol8Ínho,  Paria.  An- 
tão :  acbão,  Parla,  João;  \  'dor  da 
fazenda,  Almeida.  D,  João,  Cm- 
telbrnneo,  D.  Martinho,  e  (astro. 
I».  Álvaro.  —Vide  Joio,  I).,  1'rin- 
cipe. 
Joio  iii.  D.,  liei  de  Portugal,  132, 
228,  230,  233,  234,  235.  Herda 
de  sua  tia  a  Rainha  D.  Leonor  os 
seus  paços  de  S.  Bartolomeu,  350. 

—  Mercês  feitas  a  Garcia  de  Re- 
sende,   iO,    12,   44,    i'.,  50.  — Seu 

alferes  mor.  riilr  Meneses.  I>.  João: 

camareiro  mor,  Castelbranco, 
1».  Francisco;  cirurjião  e  físico 
mor.  Gil,  Mestre  ;  escrivão  da  fa- 
zenda. Resende,  Garcia;  guarda 
mor.  Silveira.  Luis;  secretario. 
Carneiro,  António  ;  tesoureiro  mor. 
Alvarez.  Fernando.  —  Vide  Joio, 
D..  Príncipe. 

.loão.  Mestre,  vários,  nenhum  porem 
físico  nem  cirurjião  da  Rainha 
D.    Leonor.    227,    229,    244  a  250. 

Jóias,  dizima  das  que  entravam 
nas  alfandegas  do  reino.  1U8. — 
Varias.   108,   109,   L!4. 

Jorje.  D.,  filho  bastardo  de  1).  Joãoll. 
99,  145,  117.  .lis.  — Seu  nasci- 
mento. 148,  149,  163,  164.— -Sua 
mãe.  ri/lf  Mendoça.  1).  Ana. 
E  criado  em  Aveiro.  151.  152.— 
Entrada  na  corte,  152.  —  Pomo  da 
discórdia  conjugal  de  sen  pai,  99. 

—  Sai  da  corte.  152,  167. — Mes- 
tre da  Ordem  de  Santiago,  150, 
151,  152.  —  Seu  pai  pretende  no- 
mear nelle  a  coroa.  101,  100,  110. 
152.- — Doações  que  lhe  fez  o  pai 
em  seu  testamento.  152,  153.— 
Nem  todas  confirmadas  por  D.  Ma- 
noel, lõ.i.  —  Doação  da  casa  e  do 
titulo  de  duque  de  Coimbra, 
154,  lõõ.  —  Duque  de  Coim- 
bra, l'i'v.  150. —  Doação  do  se- 
nhorio de  Aveiro.  '„").'!. — Seu  ca- 
samento. 155.  —  Seus  amores  de- 
pois de  viuvo.  156. —  Sua  morte 
e  sepultura.  156. —  Sua  descen- 
dência, 156.  —  Seu  aio.  152. — Seu 
amo.  152.  —  Um  escudeiro  da  sua 
casa.  87,  89. — Mocos  fidalgos  seus. 
284. 


394 


índice  alfabético 


Jorje,  Helena,  mulher  de  Sebastião 
.!.■  Macedo,  91. 

José,  D.,  Kei  de  Portugal,  98. 

Josepe,  Mestre,  astrólogo  judeu,  299. 

Judenga,  Sisa,  de  Lisboa,  113. — 
Genesim  e  sisa  de  Mertola,  Ouri- 
que, Santiago,  Sines,  q.  v. 

Judeus,  sua  expulsão,  31.  —  Atrai- 
çoados pelo  seu  enviado  em  Roma, 
23  \ . —  Astrólogos,  299.  —  Caste- 
lhano, 236  — Mercadores  em  Lis- 
boa. 200,  207. —  Lendas  o  direitos 
do  serviço  real  e  genesim  que 
pagavam  em  Lisboa,  1  li). 

Judiaria  de  Faro,  127.  —  De  Moura. 
297. — Das  terras  da  Rainha  I>.  Leo- 
nor. 119. 

Jnje,  ]>.  Helena,  mulher  de  Sebas- 
tião de  Macedo.  !)I . 

Júlio  II.  papa,  331. 

Jusarte,  Gaspar,  delator  do  Duque 
de  Bragança,  271,  273,  296. 

Jusarte,  Pêro,  delator  do  Duque  de 
Bragança,  273,  274. 

Lagoa,  termo  de  Silves,  cirurjião 
lá  morador.  2'i7. 

Lagos,  assassinío  lá  cometido.  244. 
—  < »s  direitos  reaes  da  vila  e  do 
castello  pertenciam  á  Rainha 
D.  Leonor.   1  17.    125. 

Lamegal,  Senhores  do  couto  de.  184, 
190,  195,  199,  209,  210. 

Lamego.  Escrivão  do  almoxarifado. 
75. — luiz  dos  órfãos.  7(3.  —  Pes- 
soas lá  nascidas  ou  moradores. 
70.  Tf». 

Lancastre,  apelido,  primeira  pessoa 
que  o  usou.  156. —  liamos  da  fa- 
mília.   1Õ(J. 

Lancastre,  Duque  de.  196. 

Lancastre,  D.  Filipa  de,  Rainha  de 
Portugal.    196. 

Lancastre,  D.  Helena  de.  comenda- 
deira  de  Santos,  I">1 . 

Lancastre,  I».  -loáo  de.  I.°  Duque  de 
Aveiro.  94,  156. 

Landim,  Mosteiro  de.   194. 

Larache,  Armada  de.  244. 

Leam,  Monseor  de,  284,  285. 

Leio  \.  papa.  38,  39. 

I  [enriques  de,  moeda.  267 . 

Le  Dain.  Olivier,  barbeiro  de  Luis  X I. 
278,  279. 

Leiria,  Oôrtes  de,  316.  —  Governa- 
dor civil  do  districto,  169,  17", 
171.  172,  17'.. 

I. «-Mio.  I).  Antónia,  proprietária  no 
século  \i  das  casas  que  haviam 
sido   da    Rainha   I >.  Leonor,    iõl . 

Leitão  de  Andrada,  Miguel,  iliscella- 


mii  do  siiin  de  \.  S.«  da  Luz  do 
Pedrógão  Grande.  Apparecimento 
de  ma  Santa  Imagem.'.  Lisboa, 
L629.  163.  104. 

Leitão  Ferreira,  Francisco,  Noticias 
da  vida  de  André  de  Resende,  no 
Arch.   hist.  port.,   34,   87,  92,  94. 

Leite,  \  asco.  266. 

Leite  de  Kiirin  e  Sonsa,  Sebastião, 
deputado  do  Santo  Oficio  de  Évo- 
ra. 314. 

Leitura  nova.   109. 

Leonor,  1».-  Rainha  de  Portugal,  mu- 
lher de  D.  Duarte,  261. 

Leonor,  D.  Rainha  de  Portugal,  mu- 
lher de  D.  doão  II,  seus  irmãos, 
270.  277. —  Contrato  do  seu  ca- 
samento. 117.  119,  120,  126.— 
Recebe  doações  de  varias  vilas. 
117.  118.  119. —  Sente  muito  a  in- 
fidelidade do  marido.  107.  —  Ape- 
sar disso,  recebe  bem  o  bastardo, 

99,  152.  —  Muda  com  a  morte  do 
Príncipe  e  torna-se  consorte  pou- 
co extremosa.  98,  1(11.  112. — Des- 
avenças   com    o    marido.    98,  99, 

100,  101,  10."..  106,  107.  108. — 
Recebe  delle  muitas  mercês.  99, 
IÒ0,  108,  109,  110.  117.  118,  11!'. 
—  A  tudo  sobreleva  o  amor  pela 
sua  família,  98,  99,  100.  115.— 
Sustenta  porfiadamente  o  direito 
do  irmão  á  sucessão  da  coroa. 
1(11.  107.  110.  111,301,303.— Gra- 
ve doença  em  Setúbal,  na  qual  o 
marido  a  acompanha,  108,  301. — 
Recebe  em  Alcácer  do  Sal  a  no- 
ticia da  morte  do  marido,  a  .piem 
abandonara  na  doença.  1 12. — 
Complice  talvez  no  seu  enve- 
nenamento. 101.  225,  2:37.  — Tem- 
lhe  ódio.  131.  — Desrespeita  a 
sua  memoria,  11."..  — Funda  a 
casa  dos  banhos  e  o  hospital 
das  Caldas.  99,  121,  122.  —  Edi- 
fica a  igreja.  122,  123,  .l^L  — 
Dota  o  hospital  com  dinheiros  da- 
dos por  D.  Manuel.  120,  121,  124, 
125,  126.  —  É  falsa  a  lenda  das 
jóias  empenhadas  para  dotar  o 
hospital.  120.  —  Dá-lhe  compro- 
misso, 131. —  Sua  parte  na  insti- 
tuição  da  irmandade  da  Miseri- 
córdia. 07.  98.  —  Valor  da  lejitima 
que  herdou  do  filho,  11!»,  120.— 
Confirpia-lhe  D.  Manuel  todos  os 
bens  e  rendas  da  coroa.  113,  114, 
1 10.  — Doa-lbe  umas  casas  a  Santo 
Lloi.  1 13, 353.  nutras  doações  que 
lhe  faz,  113,  12(1.  120,  130.  —  Exa- 


índice  alfabético 


395 


jero  destas  confirmações  e  doaçi "  is, 
1 13,  1 19. — Domina  o  irmão.  ;ii , 
115.  —  Faz  •  -  *  >  1 1 1  elle   contas,    117. 

I  19,    120     121,    125.    -Carta  sua  a 

IV  Manuel,  ameaçando-o  com  de- 
mandas se  não  lhe  satisfaz  certas 
rendas,  127,  128,  L29.-  Sua  cu- 
bica e  avidez,  108,  1 15,  121,  130. 
-  Sua  caridade,  1 20,  130.  Seu 
amor  ás  letras  e  bellas  artes.  Ml. 
132.  —  Suas  armas.  123.  — Sua 
morte,  130.  Sepultada  na  Madre 
de  Deus,  130,  131.—  Verbas  do 
sen  testamento,  130,  131,349,353, 
354, 355, 358.  Dinheiros  da  suahe- 
rança,  133,  I34„135  137.  —  Alguns 
dos  seus  l>ens  moveis,  130,  133,  134, 
I;!.").  —  Pecas  da  sua  ucharia,  135. 

—  Do  seu  oratório.  130.  —  Outras 
legadas  ao  mosteiro  da  Madre  de 
Deus,  13G-137. — O  despacho  dos 
seus  legados  pios  cometido  á  Mesa 
da  Conbiencia,  137.  —  Tesourei- 
ro do  dinheiro  para  elles  aplica- 
do. 138.  —  Importada  da  sua  do- 
tação. 128,  129. — Hendas  e  direitos 
que  lograva:  assentamento.  100, 
113,  117,  118,  119,  120,  125;  dote, 

117,  118,  119,  120,  125,  126;  arras. 
100,  110,  117.  118,  II!!,  126;  dí- 
zimos das  jóias  que  entravam  pe- 
las alfandegas  do  reino.  108.  113; 
sisa  judenga  de  Lisboa.  113,  119; 
padroado  de  três  igrejas  em  Lis- 
boa e  duas  em  Santarém.  114; 
armações  de  atum  no  Algarve,  134, 
138;  drogas  na  Casa  da  índia.  133. 

—  Terras  que  possuiu:  Aldeia 
Galega  da  Merceana,  113,  118; 
Aldeia  Gavinha,  113,  118;  Alem- 
quer,  113,  118;  Alvaiázere.  118; 
Azambuja,  II'.);  Cascaes,  II'.); 
Castanheira,  11'.);  Faro,  113;  La- 
ííos.  117.  125;  Óbidos,  01).  I  13, 
I  17,  1  IN.  L20;  Silves.  113;  Sintra, 
I  13,  117,  118.  120;  Torres  Novas. 
118;  Torres  Vedras.  117.  118,  120; 
Vila  Franca  de  Xira,  119.  —  Pri- 
vilejios  nas  jurisdições  das  suas 
terras,  109,  113.  —  Seus  paços  em 
Lisboa,  113,  324,  325,  336,  343, 
350  a  .'i57. — Casas  de  redor  delles 

30,  349,354, 


por  ella  compradas,  130,  349,354, 
355,  :;58,  359.— Herda  D.  doáo  III, 
os  paços,  356.  —  Algumas  pessoas 
que  a  serviram:  almoxarifes  de 
Alemquer,  Faro,  Silves  e  Sintra, 
134;  capellão,  137;  cirurjião,  227, 
228,  229,  '24S;  confessor,  98 ;  con- 
tador,   128;    escrivão  da  fazenda, 


137  :  escrivão  do  reposte,  I  I 
moler,  1 3  i  ;  guarda  do  oratório 
I  :t(i ;  tísico  suposto,  V'.'."p,  2  .'  i 
guarda  reposte,  1 37  ;  guardt 
[ki ,  I  17 ;  homem  da  copa,  137 ; 
mantieiro,  Li7 :  tesoureiro 
135,  137  ;  uchão,  135,  MT. 

Levante,  Cofres  de.  367,  —  Prata, 
292.-     Tapizes,  292. 

I.ião,  Duarte  Nunez  do.  Primeira 
parte  das  Chronicas  dos  Reis  de 
Portugal. . .  Lisboa,  1600,  252,— 
Livro  das  extravagantes,  que  atte 
d  tempo  presente  ha  mi  casa  da 
Suplicação,  Ho  i/nnl  se  lançou  mi 
Torre  do  Tombo  Ao  anno  <<<>  senhor 
de  \llil,.\\l...  cod.  da  Torre  do 
Tombo.  294. 

Lille  (lila),  Pano  de.  _>,s;;,  288,  191 

Lima,  D.  Álvaro  de,  monteiro  mor 
de  D.  Manuel,  '.'NU. 

Lima,  Diogo  l.opez  de,  103;  moco 
fidalgo,  284. 

Lima,  Fernão  de,  copeiro  mór  de 
D.  .João  II,  102,  In.!,  104,223,  224, 
263. 

Lima,  D.  João  de,  monteiro  mor  de 
D.  Manuel,  280. 

Ltma,  Lionel  de,  moço  fidalgo,  184. 

Lima.  1).  Lionel  de,  1.°  Visconde  de 
Vila  Nova  da  Cerveira,  117.  198. 

Lima.  1).  Maria  de,  mulher  de  Vasco 
Fernandez  Coutinho,  147. 

Lisboa:  Cerco  da  cidade,  251. — Ca- 
samento celebrado  nos  paços  do 
Duque  de  Bragança,  369. —  Defeza 
da  cidade  e  do  seu  porto,  .'i7.  302. 
—  Diplomas  de  lá  datados.  7õ.  86, 
Liô,  136,  137,  138,  185,  192,  238, 
239,  240,  243,  244,  245,  246,  247, 
248,  249,  250,  258,  260,  265,  272, 
281,  283,  284,  288,  293,  295,  306, 
:(07,  .110,  312,  315,  356.— Institui- 
ção da  irmandade  da  Misericór- 
dia, 97,  08.  • — Livro  lá  impresso, 
78. — Novas  de  lá  enviadas  para 
Aragão,  25.  —  Parte  de  lá  Afon- 
so V  para  França,  162.  —  Pátria 
de  D.  João  II.  259.  — Peste,  7'.), 
90.  — Planta  da  cidade,  325. — Ke- 
cheio  de  uma  casa  fidalga  nos  fins 
do  século  xv,  .'ilifj,  367.  —  Residên- 
cia temporária  de  1».  Afonso  V, 
.",  :  de  D.  .loão  II,  109;  de  D.  Ma- 
nuel, ;í7,  313.  —  Toml.o  dacidade 
feito  em  1771.  325-326. 

Lisboa  :  alcaide  mor.  329,  --Almoxa- 
rife da  alfandega,  133;  dosfornos 
da  porta  da  Cruz,  89. —  Areei  is- 
po,    vide   Costa,   D.  -lorje:  Costa, 


300 


índice  alfabético 


l).  Martinho;  Noronha,  1).  Pedro; 
fasconcellos  e  de  Meneses,  1).  Fer- 
nando. ■  -  Barbeiro,  238.  —  Bar- 
queiro, '238.  —  Bispo,  vide  Jardo, 
D.  Domingos.  —  Borzeguieiro,240. 
—  Gamara  Municipal.  341.  —  Ci- 
dadão,  327.  —  Cónego  da  Sé,  245, 
•„'.'>ii,  324,  ■')•!.'.  —  Correjedor  fio 
crime  do  Bairro  Alto,  .'540.  —  Cou- 
del,  238.  —  Director  da  Bibliote- 
ca Nacional,  214.  —  Escrivão  da 
sisa  il<>s  panos  e  herdades,  22G, 
239. — Inspecção  das  obras  de  re- 
edificação  <la  cidade,  .'i.'i7,  340.  — 
Irmandade  dos  sapateiros,  323,328, 
34  I .  —  Mercadores  judeus,  '207.  — 
Moradores,  239,  245,  246,  248,  250, 
255.  -  Morgado  de  S.  Lourenço, 
184.  —Padres  da  congregação  do 
I  Iratorio  de  S.  Filipe  Neri,  337, 
340;  da  'Trindade,  98.  —  Porteiro 
.  sacador  do  Estudo,  238,  240.  — 
Provedor  das  rendas  reaes,  238. 
Provedor  mor  e  juiz  dos  hospitaes, 
albergarias,  capellas  e  confrarias, 
Í56.  —  Recebedor  dos  escravos 
que  vinham  de  Guiné,  226,  242, 
243,  244.  —  Sobre  juiz,  239.  — Ta- 
belião, 92. — Tesoureiro  da  ren- 
dição dos  cativos,  242. 

Lisboa:  foros  pagos  ao  Alniazem, 
07,  323,  326,  33Õ. —  Pensões  pa- 
gas  pelos  capitães  e  escrivães  dos 
navios  armados  para  Àrguim, 
ilhas  de  San  Tomé  e  Santiago, 
Malagueta,  rios  e  toda  Guine,  42  ; 
/'í/em  dos  armados  para  a  Mina 
13.  -PrivilejioB  de  fidalgo  para 
a  cidade,  255.  —  Recebedoria  da 
meia  dizima,  meia  sisa  e  direitos 
das  sedas  de  Castella,  234.  — Ren- 
das  da  cidade  aplicadas  ao  paga- 
mento do  assentamento  da  Rainha 
D.  Leonor,  117.  —  Lendas  e  di- 
reitos  do  serviço  real  e  genesim 
dos  .ludeiis,  119.  —  Sisa  judenga, 
113. 

Lisboa:  adro  de  S.  Bartolomeu,  352, 
353,  354,  357,  364.  —  Albergaria 
de  Paio  Delgado,  361,  362.  ■— Al- 
mazem,  320;  vide  Casa  do  Arma- 
zém. — ■  Arco  do  Mira,  337,  342. 
Armazéns  e  tercenas  do  reino.  00. 
— -Arquivo  da  (amara  Municipal. 
344.  —  Bairro  do  Castello,  337. 
Biblioteca  Nacional,  85,  92,  L94, 
Íl4,  363.  —  Calçada  para  os  paços 
da  Alcáçova,  323,  324,  325,  326, 
333,  :::;:»,  341,  365.  — Calçada  de 
1  rispim,    323 .  —  Cartório    do 


hospital   de  S.  .los.'-,  363.  —  I  'asas  : 

na  Alcáçova,  320,  344  ;  de  D.  Al- 
var., de  Ataíde,  365  ;  de  Antão  .1, 
faria,  á  porta  da  Alfôfa,  258,  259, 
307,  313,  314,  321,  322,  323,  324, 
325,  326,  330,  332  a  340,343,  348, 

358,  359,  369;  do  mesmo,  á  porta 
da  Cruz,  32Ó;  do  Armazém,  66, 
07;  do  Aver  do  Peso,  113;  do 
Caiado,  cónego  da  Sé,  324,  332; 
do  ('onde  de  Penamacor,  322,  335  : 
da  I  ondessa  de  Penamacor,  323, 
325,  334,  335,  342,  345;  de  Dinis 
Eanes,  clérigo,  324,  326;  do  Du- 
que  de  Cadaval,  á  porta  da  Alfô- 
fa, 3.'i0.  342;  dos  Fonsecas,  a 
S.  Bartolomeu,  343,344,349,350, 
354,  355,  358  ;  á  fonte  dos  Cava- 
los, 319.  320;  d.e  Francisco  de  Ma- 
tos, 343;  de  Garcia  de  Resende, 
66:  d.-  <;il  Vicente,  325,  354,355, 
358,  359  :  ao  hospital  dos  Meninos. 
256;  de  Jerusalém,  349,  354,  355, 
3ÕK ;  de  João  .las  Regras,  aparde 
Santa  Marinha.  363;  de  Lourenço 
de  Faria,  258,  259,  318,  327,  328, 
335;  de  D.  Mecia  da  Cunha,  258, 
259,  327,  328;  de  Pêro  da  Alcá- 
çova, 323,  334,  342,343,345,348; 
da  Rainha  1).  Leonor,  a  Santo  Eloi, 
113,  130,  324,  325,  336,  343,  349, 
:t.->0  a  357,  358,  359;  no  Rocio, 
junto  aos  Estaus,  255;  na  rua  do 
Lagar  do  Cebo,  60;  a  Santa  Ca- 
terina,  330;  casas  da  Sé,  322,  327, 
328,  330,  334,  335;  do  Secretario 
António  Carneiro,  324,325,345; 
da  Tanoaria.  244.  —  Castello,  342, 
344.  — Cerca  moira,  ou  velha,  ou 
muro  \elho,  258,  323,  326,  327, 
330,  333,  334.  —  Chafariz  de  Den- 
tro, 320.  —  Cisterna  misteriosa. 
333,  334.  —  Convento  do  Espirito 
Santo.  337,  340 ;  dos  Franciscanos 
de  Xabregas,  294;  dos  Lóios,  vide 
Santo  Eloi;  a  San  João  de  Xa- 
bregas, 139;  de  Santa  Maria  da 
Graça,  318,  321;  de  Santo  Eloi, 
113,  324,  325,  336,  337,  338,  350. 

351,  352,  353,  354,  358,  359,  360. 
Cruz    da    porta  da  Alfafa,  348. 

—  Edifício  de  Santos  doado  á  I  tr- 
ilem de  Santiago,  13.  —  Ermida 
de  S.  Crispim.  323,  328,  3.!:í.  336, 
342.  —  Escadinhas  de  S.  Crispim, 
3-23,  324,  340.  —  Estrebaria  das 
a/cnalas.  320.  — Estudo,  328,  340 

—  Fonte  dos  Cavalos,  .32(1.  —  Fre- 
guesia de  S.  Bartolomeu,  325,  337, 

352,  36Q,  361,  363;  de  Santa  Jus- 


[NDIC1    ALFABÉTICO 


397 


ta,  250.  363;  do  Sé,  258,  .lis.  327. 

—  Hospital  dos  Meninos,  256;  de 
San  Mateus.  3C0,  3G2;  de  San  Vi- 
cente dos  Romeiros,  256;  de  San- 
ta Barbara,  362;  de  Santo  Eutro- 
pio,  325,  352,  353,  359  a  363.  — 
Igreja  <la  Madalena,  114,  32G ;  de 
s.  Bartolomeu,  349,  350,  351,  359, 
360,  364;  de  s.  Domingos,  152; 
de  S.  Martinho,  114;  de  S.  Nico- 
lau, 114,  303. —  Largo  dos  Lóios, 
323,  352,  357,  359;  de  S.  Barto- 
lomeu,   34o.  —  Misericórdia,    97. 

—  Moeda,  66.  —  Moinho  abaixo 
das  casas  de  Valverde,  35,  iO.  — 
Monturo  ás  portas  lia  Alfòfa,  347. 

—  Mosteiro  da  Madre  de  Deus, 
97,  130,  137;  de  Santa  «Iara.  318, 
327;  de  Santos,  149,  150,  151,  167. 

—  Paços  da  Alcáçova,  323,  325, 
335;  da  Rainha  I>.  Leonor,  vide 
vasas  ;  de  Santos.  24. — Palácios 
em  1566,  336;  do  Cardeal  Infante 
1).  Afonso,  330:  do  Cardeal  In- 
fante D.  Henrique,  336;  do  Conde 
de  Tentúgal,  336;  do  Contador 
mor.  336,  343;  de  D.  Garcia  de 
Noronha,  336.  —  Palheiro  dei  Rèi, 
320. —  Pateo    do    Lancastr.e,  339. 

—  Poço  do  Borratem,  256,  352, 
363.  —  Porta  da  Alfòfa,  258,  313, 
323,  333,  334,  335,  336,  337,  340, 
342,  343,  344,  345,  346,  347,  348. 
350,  351,  353,  354,  355,  357;  do 
Castello,  333:  da  Cruz.  89,  320; 
do  Ferro.  323.  335;  da  Judiaria, 
66;  de  San  Jorje.  344:  de  San  Vi- 
cente. '250 :  de  Santa  Cruz,  320. — 
Prisão.  239.  —  Recanto  de  S.  Bar- 
tolomeu. 350,  304. — Pua  da  Amar- 
gura, 343,  34!).  350,  352.  :'^-\.  354, 
355,  350,  357,  359;  do  Arco  do 
Mira,  324,  337.  340,  ■^■U  do  Arco 
da  porta  da  Alfòfa,  323;  dos  Có- 
negos. 327;  defronte  de  S.  Rarto- 
lomeu,  351,  352,  353:  de  Jerusa- 
lém, 330,  337,  350,  351,  352.  AÕ.',, 
354,  355,  350,  357,  358,  350;  do 
Lagar  do  Cebo,  00:  do  Milagre 
de  Santo  António,  323.  348;  nova 
do  Almada.  337.  340;  das  Portas 
da  Alfòfa,  325,  348,  357:  que  vai 
das  portas  da  Alfòfa,  para  a  rua 
dos  Cónegos,  337;  de  San  Barto- 
lomeu, 348,  357;  de  San  Crispim, 
334;  da  Saudade,  324,  340,  357; 
da  Tanoaria,  00.  —  Seminário  de 
S.  Patrício,  333,  336.  305.  — Ta- 
noaria. 66.  —  Termo,  vide  Olivaes. 

—  Torre  cie  1).  João  de  Abranches, 


>58,  324,  326,  327,  328,  332,  333, 

I34i    141        l  i.i\  essa  que  \  ai  para 
Santo  Eloi,  337.  -    Jíal    i 

Lisboa,    VIestri    João   de,   cu 
246 

Luto  fio  Arm&iro  mor,  códice  ilumi- 
nado descrito  no  liv.  I  dos  Brasões 
de    Cintra,   paj.   xv  e  segs.,   17n. 

Livro  das  cape  lias  do  Espinheiro 
ms.  da  Biblioteca  Publica  de  K  fo- 
ra, 60,  62. 

l.irro  da  nobreza  perfeiçam  das  ar- 
mas dos  Reis  christãos  <■  nobres  li- 
nhaoes  dos  reinos  e  senhorios  de 
Portugal,  coordenado  e  iluminado 
por  Lntonio  ( fodinho,  códice  e\  is- 
tente  na  Torre  do  Tombo,  17n. 

Livro  vermelho,  Trellado  do,  do  tem- 
po Del  Rey  Dom  Afonso  o  Quinto... 
no  III  vol.  dos  Inéditos  de  histo- 
ria portugueza,  182,  183. 

Lobo.  António,  fidalgo  da  casa 
dei  Rei,  89. 

Lobo,  1>.  Diogo,  2."  liarão  de 
to,    vedor    da    fazenda,    poeta    do 
Cancioneiro,  189. 

Lobo,  Duarte,  morador  na  Vila  Nova, 
51. 

Lobo.  1).  Filipe,  neto  do  1."  Marão 
de  Alvito,  50,  51. 

Lobo.  D.  João,  genro  de  D.  Rodrigo 
de  Castro,  24. 

Lobo.  1).  Rodrigo,  3.°  Barão  de  Al- 
vito, 50-51. 

Lobo  de  Ávila,  Artur,  Amores  do 
Príncipe  Perfeito,  romance  histó- 
rico começado  a  publicar  no  Diá- 
rio de  noticias,  em  dezembro  de 
1901. — Critica  ao  romance.  183, 
186,  202,21)4  a  212.— Cartas  do  seu 
autor  publicadas  no  Jornal  do 
Commercio,  200,  201,  203, 

Londres,  Calcas  de.  289.  —  Escarla- 
ta, 283.  — Pano.  134,  284,  291, 
292. 

Lopez,   Fernão,  cronista.  30    31,  32. 

Lopez,  Fernão,  Chronica  do  Senh  •■■ 
liei  l>.  Fernando,  nono  Hei  de  Por- 
tugal, publicada  no  1Y  vol.  dos 
Inéditos  de  historia  portuguesa, 
252,  253. 

Lopez.  Pêro.  tesoureiro  da  Casa  da 
Índia,   133. 

Loulé,  Condado  de,   7. 

Loulé.  Conde  de.  vide  Meneses, 
I).  Henrique. 

Loulé.  Condessa  «le.  ride  (.iiiumar.  ].). 

Loulé,  Duque  de,  211. 

Lourenço.  Estevão,  almoxarife  em 
Faro,  134. 


3QS 


índice  alfabético 


Lourenço,  Fernão,  tesoureiro  de  Qui- 
ne, 312. 

Lourenço,  João,  proprietário  em  Lis- 
boa, 326,  327. 

Lousã,  Doação  do  senhorio  da,  152. 

Lousft,  Condes  da,  156,  157. 

Lousada,  Gaspar  Alvarez  de.  Sumá- 
rios ihi  Torre  da  Tombo.  ins.  em 
.;   vol.  na   Bib.   Nac.  de  Lisboa,  89, 

194,  265,  329,  350,  364. 

Lucena,  Dr.  Mestre  António  de,  fí- 
sico e  cirurjião*mor  de  D.  João  II, 
247;  de  D.  Manuel,  247,  248, 
249. 

Lucena,  Diogo  de,  chanceler  mor 
interino  de  D.  João  II,  242. 

Lucena,  Diogo  de,  íisico  de  D.  Ma- 
nuel, 249. 

Lucena,  Dr.  Nasço  Fernandez  de, 
cronista  mor  e  guarda  mor  da 
Torre  do    lombo,  288. 

i.uis.  D.,  Arcebispo  de  Braga,  266. 

Luia  XI.  liei  de  França,  278. 

I.uis  XIV.   liei  de   França,   142. 

Luis  I.  D.,  Lei  de  Portugal,  208. 

Lumiar,  Quartos  do,  247, 

1. umiares,  .Senhores  do  couto  de, 
184,  190,  L95,  199,  209,  210. 

Lyon,  d'Angers,  Senhor  du,  285,  288. 

Macedo.  Sebastião  tle,  camareiro  c 
guarda-roupa  do  Cardeal  Infante 
1).  Henrique,  Hl . 

Machado,  João,  escrivão  dos  legados 
pios  da  Rainha  D.  Leonor,  355. 

Madeira,  Mestre  Afonso,  tísico  mor 
de  D.  Afonso  V,  245.  Vide  Afonso. 
Mestre. 

Madureira,  Álvaro  de,  morador  em 
Évora,  51. 

Magalhães,  Fernão  de,  uma  das  naus 
da  sua  armada  arriba  ás  Molucas, 
i  / . 

Magro,  Rui  Gil,  anadel  mor  dos  bes- 
teiros da  camará,  274;  recebedor 
•  bi  tesouro  de  D.  João  II,  284,  285, 

287,  289  ;  carta  de  quitarão,  289  a 

293. 

Malagueta,  pensões  pagas  pelos  ca- 
pitães c  escrivães  dos  navios  que 
para  lã  se  armavam  cm  Lisboa, 
OU  cm  certas   ilhas,  42. 

Malhorca,  arriba  lã  a  nau  da  embai- 
xada de  1).   Manuel  a  Leão  X,  39. 

Mamora,  Armada  da,  244. 

Hancata,  Eujenia,  mulher  de  Bar- 
nabé  de  Resende,  94. 

Mantearia,  Peças  da,  254,  266. 

Manteeiro  de  I'.  João  II,  vide  Faria. 
Lourençi  i. 

Manuel,   D.,   Duque  de   Beja,  22. — 


Seus  irmãos,  276,277. — Sua  irmã 
a  Rainha  D.  Leonor  defende  o 
seu  direito  ao  trono,  101,  107. 
Ill),   111.  —  E1  nomeado  por 

D.  .loão  II  sucessor  da  coroa  e  seu 
testamenteiro,     111,    :!()!,    :S0!>.  — 

—  Recebe  em  Alcácer  do  Sal  a 
noticia  da  sua  morte,  112. — Oom- 
plice  no  envenenamento  de 
D.  doão  II,  225,  237. — Suas  armas, 
178;  postas  no  fecho  da  abobada 
da  igreja  do  hospital  das  Cabias, 
123,  124.  —  Seu  aio,  23.  —  Seu  es- 
tribe iro  mor,  146. —  Vide  Manual,  D., 
Rei  de  Portugal. 

Manuel,  D.,  Infante,  vide  Beja,  Du- 
que. 

Manuel,  D.,  Rei  de  Portugal,  53,31, 
75,  100,  132,  166,  192,  198,  207. 
281.  —  É  aclamado  em  Alcácer 
do  Sal,  1 13.  — Passa  a  Montemor  o 
Novo  onde  logo  começa  a  destruir 
a  obra  de  D.  doão  11,"  113,  313. 
Segue  politica  diversa  da  delle. 
331,  332. — Prove  em  criados  seus 
alguns  dos  ofícios  mores  do  reino. 
103.  —  Dominado  pela  mãe  e  irmã 
D.  Leonor,  31,  115.  —  Restitue  as 
casas  aos  liraganças  contra  a  ex- 
pressa determinação  de  D.  João  11, 
31,  153,  272.  — Ilegal  e  extraordi- 
nária liberalidade,  114,  115,275. — 
Enerjicamente  verberada  por  Da- 
mião    de    <íoes,     114,    115,    116. — 

Desfalque  por  ella  trazida  ãs  ren- 
das do  reino,  31,  116,  117.  —  Res- 
titue ao  reino  e  aos  bens  a  D.  Ál- 
varo de  Ataíde,  outro  conspira- 
dor, 153,  275,  270. — Censura-o 
pelo  acto  o  Cardeal  D.  Fr.  Fran- 
cisco de  S.  Luis,  153,  154.  —  Re- 
sultado extraordinário  desta  res- 
tituição, 270.  —  Em  contradição 
com  estes  factos,  usa  de  benigni- 
dade com  os  delatores  das  cons- 
pirações, 272,  273,  274,  275,  270. 

—  Causa  possivel  do  seu  reconhe- 
cimento a  elles,  276.  —  Premian- 
do-08,  reconhece  haverem  sido 
verdadeiras  as  delações,  275.— 
Notáveis  palavras  dalguns  seus  do- 
cumentos em  louvorde  D.  João  II. 
154,  155. — Deixa-lhe  este  o  filho 
bastardo  muito  recomendado,  elle 
porem  não  satisfaz,  todas  as  re- 
comendações, 153,  154. — Mas  con- 
tinua integralmente  a  tença  doada 
a  sua  mãe,  149.  —  Seu  primeiro 
casamento,  145.  —  Vai  aos  jura- 
mentos de    Castella,  25,  .17,  145, 


índice  alfabético 


399 


186.  —  Embaixador  que  tratou  do 
seu  segundo  casamento,  35,  34. 
Confirma  todaa  as  doações  de  sua 

irmã    a    Rainha    l>.    1  <•< •,  1 13, 

114,  —  Doa-lhe  amas  casas  em  Lis- 
boa, 113,  353.  —  Outras  doações  e 
mercês  que  lhe  faz,  114,  129,  130. 
— Exajero  destas  doações  e  confir- 
mações, 113,  119,  125. — Faz  con- 
tas com  dia.  119,  120,  121.— Das 
quaes  resulta  dar-lhe  <>  dinheiro 
com  que  cila  dota  o  hospital  'las 
Caldas,  125,  126.  —  Apesar  de  tudo 
é  ]mr  cila  ameaçado  com  deman- 
das, 127,  128,  129.  —  Confirmações 
a  Lntão  de  Faria,  272.  —  Mani- 
festa-Ihe  reconhecimento,  talvez 
por  cllc  ter  contribuído  para  su- 
ceder na  coroa,  272,  304,  305,  306, 
J07. —  Premeia  o  suposto  envene- 
nador  de  D.  João  11,  229,  236, 
237.  — Premeia  a  pessoa  que  ha- 
via criado  seu  sobrinho,  '257. — 
Doa  a  ilha  do  Príncipe  a  António 
I  arneiro,  295. — Manda  construir  a 
torre  de  Belém,  .'57,  302. —  Manda 
fazer  o  livro  das  armas  da  Torre 
do  Tombo,  178. —  Envia  uma  em- 
baixada a  Leão  X,  38,  39.  — Não 
se  lhe  conhece  amante,  168. — 
Suposta  filha  sua  natural,  168. — 
Seu  caracter  precisa  mais  estuda- 
do, '277.  —  No  seu  reinado  começa 
a  declinação  de  Portugal,  132. — 
Algumas  pessoas  que  o  serviram: 
alferes  mor,  vide  Meneses,  D.  João; 
anadel  mor  dos  besteiros  da  ca- 
mará, Mairro.  Rui  Gil;  armador 
mor,  Costa,  Álvaro;  camareiro, 
Costa,  Álvaro;  cantor,  Porto,  João; 
capellão,  Fernandez,  Álvaro  ;  chan- 
celer mor,  Hoto.  Rui  ;  cirurjião, 
231,  232,  "2.57  ;  cirurjião  mor,  Fa- 
ria, Diogo;  (íil,  Mestre;  e  oiitro 
Gil,  Mestre  ;  do  seu  conselho,  195, 
L99,  208,  209,  210,  243,  27;;,  274, 
276,  305,  310,  312,  321  ;  copeiro 
mór,  lírito,  Lourenço;  esmoler, 
Francisco.  D.;  tísico,  229,  231,  232, 
237 ;  tísico  mor  Afonso.  Mestre, 
Lucena,  Dr.  mestre  António  :  guar- 
da-roupa,  Correia.  Fernão  Lopez; 
mestre  sala,  Abranches.  D.  Álvaro; 
monteiro  mor,  Lima,  D.  Álvaro,  e 
]).  João;  mordomo  mor,  Meneses. 
D.  João;  secretario,  Carneiro.  An- 
tónio, e  Garcês,  Jorje;  vedor  da 
fazenda,  Lobo,  D.  Diogo. 
Manuel.  D.  Henrique,  (onde  de  Seia, 
251. 


.Manuel.  I>  Maria,  por  quem  se  apai- 
xona <>  velho  I  luque  de  <  'oimora, 
156. 

Manuel  i  Vasconcellos,  l>.  Áugustin, 
Vida  de  don  Duarte  de  Meneses, 
tercero  Conde  de  Viana,  y  sucessos 
notable*  de  Portugal  en  su  tiempo 
Lisboa,  I(i27.  í. —  Vida  y  acciones 
dei  Hcij  don  .hum  el  Segundo, 
Decimotercío  de  Portugal...  Ma- 
drid,   1639.  165  303,  304,  306. 

Hardel,  Júlio,  vogal  da  Comissão 
dos  Monumentos  Nacionaes,  172, 
174 

Harecos,  João  de,  recebedor  das  si- 
sas de  Tomar,  249. 

Hargallio  Geraldo,  Dr.  Pedro,  insti- 
tuidor de  um  morgado  em  Evo- 
ra,  li(),  65,  lili. 

Hartralhos,  Os,  de  Évora,  tinham 
lama   de  cristãos  novos,  (il),  til. 

Marialva.  Conde  de,  1.",  74,  147; 
2",  nide  Coutinho,  1».  Gonçalo. 

Marialva,  Condessa  de.  vide  Sousa, 
D.  Maria. 

Marichal  do  reino,  .'!.">.'!. 

Nariz,  Pedro  de,  historiador,  17. 

Marquesado,  o  único  existente  nos 
fins  do  século  sv,   189. 

Marramaque,  O,  181  a  212.  —  Vide 
Pereira,  João  Rodriguez. 

Marramaque,  derivação  etimolojica 
da  palavra,   1'.)."),  196,  197. 

Martinho.  Mestre,  cirurjião  mor  de 
D.  Afonso  \ ',  24. 

Martin/.,  Antão,  clérigo,  cronista  de 
1».  João  II,  55. 

Martin/..  Estevão,  mestre  escola  da 
Sé  e  provedor  mor  e  juiz  dos  hos- 
pitaes,  albergarias,  etc,  de  Lis- 
boa, 256. 

Martin/..  Licenciado  Jorje,  clérigo, 
natural  de  Alpedrinha,  330. 

Martin/,  Vasco,  morador  em  Pena- 
verde,  248. 

Martins  Bastos,  Francisco  António, 
Nobiliarchia  medica.  Noticia  dos 
médicos  e  cirurgiões  <la  lirtti  Ca- 
mará, dos  phyncos  mores,  e  cirur- 
giões mores  do  reino.  . . .  Lisboa, 
1858.  225,  228,  231. 

Marvão,  Alcaide  mor  de,  240. 

Mascarenhas.  Fernão  Martinz,  capi- 
tão mor  dos  ginetes  de  1).  João  11 , 
264. 

Hata,  Roque  da,  escrivão  do  judicia! 
em  Évora,  90. 

Miitos.  Francisco  de,  sua  casa  em 
Lisboa,  343. 

Mazagão,  Capitão  donatário  de,  146, 


400 


ÍNDICE  ALFABÉTICO 


|  ',7.       i  ristão    novo   de   lá   natu- 
ral. 225. 
Medicina,  Carta  de,  236,  247,  248. 
Medico  castelhano,  236. 
Meenen,    Pano    de,    284,    285,    288, 

291. 
Meirinho  mor  do  Príncipe  1>.  João, 

264. 
Meliapor,  Soldado  em,  57,  58. 
Mello.  Garcia  de,  o  Braseiro,  25. 
Mello.  Jorje  di  -  o  Lajéo,  capitão  do- 
natário de   Mazagão,   anadel   mor 
■  los  besteiros  de  cavalo,  146,  147, 
148 
Mello.   D.  Jorje   de,   oficial  mor  da 

casa  real.  170,  17'.'.  174. 
Mello,    Martim    Afonso    de.    anadel 
nmr     dos     besteiros     de     cavalo, 
148. 
Memorial   das  sepulturas   que   estão 
mi    convento   do    Espinheiro,   ms. 
de   1645  na  Bib.  Pub.   de  Évora, 
67. 
Memorias,  Historia  c  da  Academia 
Real  das  Sciencias  de  Lisboa.  2.» 
Serie.    Tomo    I,   Parte  I.   Lisboa, 
1843.  Z95. 
Merjcoveiro,  Herdade  de,  91. 
Hendez,   Gonçalo,   1."  administrador 
.]..    hospital    de    Santo   Eutropio, 
360,  361. 
Mendez,    Lopo,    feitor   da    Casa    de 

Guiné,  312. 
Mendez.    Lopo.   mercador  em  Viseu. 

>48. 
Mendez.    Rui,   cristão  novo,  235. 
Hendoça,    D.    Ana  de,  donzella   da 
Excelente    Senhora,  •  148,    160.  — 
Amante    de  1'.  .João  II,  14»,  159, 
211. — Em    Toro    começaram    os 
amores,  100.  —  Continuam  duran- 
te a  viajem  da  Excelente  Senhora 
para    Abrantes.     161.  —  Acompa- 
nha-a  nas  suas  peregrinações,  162. 
Recomeçam  os  amores  no  Vimiei- 
ro, 162. —  Vai  para  Coimbra  e  lá, 
ou  nos  bosques  de  Cernache,  con- 
cebe   o    filho,  D.  dorje,  162,   163, 
104.  —  Duraram  pouco  os  amores, 
164,   165,   1GG,  107.  —  Tiram- 
lhe    o   tílho    e    sai    do   serviço  da 
Excelente  Senhora,  167.— Ficou  em 
Abrantes,  onde  o  filho  nascera,  ou 
foi    recolhida  para  o  convento  de 
Santos,    167.  —  Talvez   já  lá  esti- 
vesse  quando    D.  João  11  lhe  fez 
nercê  de  uma  tença,  140,  165,  166, 
•  '.      -  A  qual  D.  Manuel  continua. 
i  ■    —  I  lomendadeira  de    Santos, 
[51,  107.  —  Sua  mort< 


Hendoça,  1».  Joana  de,  dona  no 
convento  de  Santos,   151. 

Hendoça,  D.  Joana  de,  Duquesa  de 
Bragança,  1 18 

Hendoça,  1».  Leonor  de,  Duquesa 
de  Bragança,  '^77. 

Hendonça  e  Faria,  Inocêncio  dose  de, 
sarjento  mor  de  cavalaria  na  praça, 
de  Elvas,  61 ,  65. 

Meneses,  I  >.  Afonso  de,  filho  e  suces- 
sor do  (onde  de.  1'enella,  .'V28,  341. 

Meneses,  D.  Beatriz  de,  '2  a  Condessa 
de  Vila  Ural,  0. 

Meneses.  D.  Beatriz  de,  mulher  de 
Aires  Gomez  da  Silva,'.).  —  Aia  da 
Bainha  D.  Isabel  e  do  Príncipe 
D.  João  seu  filho,  259,  260. 

Meneses,  D.  Duarte  de,  Conde  de 
\  iana,  capitão  de  Alcácer,  alfe- 
res mor  de  D.  Afonso  V,  1,  2, 
255.  —  Seus  serviços  em  Africa. 
5,  6,  7.  — Sua  morte,  3,  4.  — Seu 
tumulo,  9,  10.  — Seus  pais,  10.— 
Sua  mulher,  10,  1 1  .  —  Seus  filhos, 
8,  11. 

Meneses,  D.  Fernando  de,  degolado 
em  Setúbal,  8,  11. 

Meneses.  D.  Fernando  de,  2.°  Mar- 
quês de  Vila  Real,  116,  189. 

Meneses.  D.  Carcia  de,  Bispo  de 
Évora,  8,  11.  35,  162. 

Meneses.  D.  'íuiomar  de,  donzella 
do  paço,  25. 

Meneses.  D.  Guiomar  de,  donzella  do 
paço,  filha  de  Duarte  Galvão,  24, 
25. 

Meneses,  D.  Henrique  de,  Conde  de 
Viana,  depois  de  Valença  e  por 
ultimo  de  Loulé,  capitão  de  Al- 
cácer e  de  Arzila,  alferes  mor  de 
D.  Afonso  V,  4,  6,  7,  11,  '-'70. 

Meneses.  D.  -loana  Micaela  de,  com- 
pra umas  casas  em    Lisboa,   .'i-17. 

Meneses.  D.  doão  de,  camareiro  mor 
do  Príncipe  D.  João,  244. 

Meneses.  D.  doáo  de,  Conde  de  Ta- 
rouca, capitão  de  Arzila  e  de  Tan- 
jer,  governador  da  casa  do  Prin- 
cipe  D.  Afonso,  mordomo  mor 
de  I».  -loão  II  e  1).  Manuel,  Prior 
do  Crato,  alferes  mor,  8,  11,  38, 
39,  143.. 

Meneses.  D.  -loão  de,  poeta  do  Can- 
cioneiro,  25. 

Meneses,     D.     Joije     de,     capitão     de 

Ternate,  78. 
Meneses.     D.    dorje    de,    pajem    de 

D.  João  II,  283. 
Meneses.     D.   Juliana    de,  mulher  de 

Brás  Pereira  de  Miranda,  339. 


ÍNDICE  Al  I  ABI  IKii 


101 


■eiiegeN,  D.  Leonor  tle,  mulher  de 
1).  Fernando,  depois  3."  I  >uque 
de  liraganra,  í). 

Meneses,  D.  Pedro  de,  I.1  Conde  de 
Vila   Real   e   2."  de  \  iana,  :'.   10. 

Meneses.  I  Is,  de  i  antanhede,  9.  Os 
dos  Condes  de  \  iana,  9. 

Menim,  vide  M<  ener . 

Mertola,  doada  á  <  Irdem  de  San- 
i  iago,  I  'i .      Sua  sisa  judenga,  272. 

Mesa  da  Conciencia,  aos  seus  depu- 
tados foi  cometido  o  despacho  dos 
legados  pios  da  Rainha  D.  Leo- 
nor, 137. 

Messejana,  cirurjião  lá  morador, 
250.  '  »  ." 

Mestre  sala  de  D.  Manuel,  328. 

Mestre  das  sentenças  de  Pedro  Lom- 
bardo, códice  da  Torre  do  I  ombo, 
124,  178. 

Hetello,  Ana.  mulher  de  Nuno  da 
Silveira.  31  'i . 

Michaelis  de  Vasconcellos,  D.  <  aro- 
lina,  Lticius  Anãreas  Resendius  Lu- 
sitanus,  artigo  no  UI  vol.  do  Arch. 
hist.  fiirt..  87-88.  —  Poesias  de 
Francisco  de  Sá  de  Miranda.  Edição 
feita  sobre  cinco  manuscriptos  iné- 
ditos... acompanhada  ■  /<'  um  es- 
tudo sobre  o  poeta,  variantes,  no- 
tas,... Halle,  1885.   193,  195. 

Mina.  Campainhas  de  oiro  da,  290. 
— Juiz  dos  feitos,  305.  —  Oiro  de 
lá  proveniente,  311,  312.— Pensões 
pagas  pelos  capitães  e  escrivães 
dos  na\  ios  que  para  lá  se  armavam 
em  Lisboa,  ou  ile  lá  para  cá,  13. 
—  Tesoureiro  da  (asa.  TN.   133. 

Mina,  Fernão  Gomez  da,  .'lib. 

Minas.  Capitão  general  de,  ;  1  'i S . 

Mimis,  Marqueses  das,  150. 

Minho,  Invasão  do,  251.  —  Senhorios 
lá  existentes.  1  SI»,  190. —  Nas  ter- 
ras ile  certos  donatários  acoita- 
'vam-se    muitos    malfeitores,    198. 

Mira',  /'.''  José  Lopes  de,  Genealogia 
de  liesendes,  ms.  da  Bib.  Pub.  de 
Évora,  08,  84.  -Outro  eoilice  na 
bib.  ilo  Visconde  <la  Esperança,  88, 
89,  94,  95. 

Mh-amla.  Aires  de,  alcaide  mor  de 
Vila  Viçosa,  '23. 

Miranda.  D.  Leonor  de,  mulher  i !<• 
Antão  ila  Fonseca.  344,  -" "> 't r> . 

Miranda.  I).  Margarida  de,  Condessa 
de  Vila  Kcal,  9,  10. 

Miranda  do  Doiro,  estada  lá  de 
D.  Afonso  V  e  do  Príncipe  D.  João, 
100. 

Mitan.  Pano  de,  284,  291 . 


Monos  da  camará,  33,  84,  20!l 

Uguns     faziam    n     guarda    di 

D.  .1 II.    il. 

\\<«  og  da  eacret  aninha  de  I >.  João  li . 

33,  34,  35,  11. 
Mooos  da  estribeira  de  l>.  João   II. 

200,  207. 
Mooos  fidalgos  na  corte  de  D. João  II. 

282,  284,  285,  280.      A  algm 

gava-se  paia  estudarefti,  285. 
Moedas,  varias,  >G7,  284,   288,  31 1. 

312.  -   Arma-      |)08tas      índias     em 

tempo  de  I >.  .loao  II.  1 77 .  178. 
Moiraria    de    Paro,    127,    129.  —  De 

Moura,  297. 
Moirisca,  Retorta,  298. 
Moirisco,  Pano,  29 1 . 
Moiro,  <  larpinteiro,  288-28'.). 
Moiros.    Bailos  de.   298.      Expulsão 

delles.    31. 

Molucas,  ilhas.  /d.  — Escrivão  da  sua 

feitoria,  77.  —  Feitor,  77. 
Momos   de   mitão,   284.      De    prata, 

290. 
Monchique,   Cairias  de,   104.  -Nellas 

se    trata    I >.    João    II.    III.      Vai 

I ).  Sebastião  \ è-las,  I  1 2. 
Moniz.   I>itig(.  Gil,    ,''i7. 
Moniz,    )'ero,   247. 

Monsanto,  morador  nesta   vila,   248. 

Monsanto.  I  ionde  de,  I .".  3,  II.  329; 
2.°,  282. 

Montarroto,  Afonso  Femandez  de, 
254;  tesoureiro  de  D.  Afonso  V, 
200. 

Monteiro,  Afonso,  moço  da  camará 
de  D.  Sehastião,  84. 

Monteiro.  Monçalo,  almoxarife  da 
Guarda,  1 1 . 

Monteiro.  1  >r.  Rodrigo,  õl . 

Monteiro  mor  de  l>.  João  II.  280. 

Monteiro  mor  de  D.  Manuel.  280. 

Montelongo,  Senhor  de,  L98. 

Montemor.  Escrivão  dos  órfãos  de, 
240. 

Montemor.  Marquês  de,  vide  Jofto,  D. 

Montemor,  Marquesa  de,  347. 

Montemor  o  Novo,  Concelho  de.  43. 
i  lôrtes,  102.  Diplomas  de  lá  da- 
tados, 13,  150,  100,  241,  243,  247, 
274.  -Pessoas  lá  moradores,  ",'iõ. 
—  Reside  lá  D.  Manuel.  113. 
Termo  da  \  ila.  50. 

Montemor  o  Velho,  casaes  no  termo, 
258,  317.  — Doação  do  senhorio. 
152.— Moradores  lá.  245,  ,"iii. 

Montês  Matoso,  Fr.  Luis,  Memorias 
Sepulrhrat»  que  existem  nos  Con- 
ventos  e  Mosteiros  desta  Província 
dos  Menores  Observantes  de  Porlu- 

26 


402                                INDH  I    Al  I- MU  I  ico 

i/nl    tinidas  dos  próprios  fv gares  Nogueira,  D.  Violante,  comendadeira 

aonde  agora   existem...     inno  de  de  Santos,  149,  150,   167. 

I7s7.    Ms.   iiii   poder   do   falecido  Noronha,    Fr.    Afonso    de,    frade   da 

conselheiro    Venâncio    Dcsiandes,  Ordem  de  S.  Francisco,  241. 

148.  Noronha,   D.  <  ■  a i-<-i;i  de,  sen  palácio 

Montoito.  Coudel  de,  315.  em  Lisboa,  330. 

Moraes,  I  eonor  de,  guarda  roupa  <la  Noronha.  I'.  João  de,  prior  de  Santa 

Cainha  D.  Leonor,  137.  Cruz,   poeta   do   Cancioneiro-,   I  'iti. 

tíoraes  <■  Silva,    intonio  de,   Diccio-  Noronha.  D.  Leonor  de,  '  ondessa  de 

nano  da  fingua   portugueza  reco-  Penamacor,  oiti.  ." í '#- "7 . — Suas  casas 

pilado  de  todos  os  impressos  até  o  em    Lisboa,    323,    325,    334,    335, 

presente;    2.*    ed.    Lisboa,    L813.  342,  345. 

195,202,200,260,367.      \i.aedição  Noronha.    D.    Leonor   de,  mulher  de 

melhorada  e   muito   acerescentada  D.    Álvaro    de   Ataíde,    365,   360, 

pelo  iics.1'  Agostinho  de  Mendonça  3G7. 

/•Ví/fí/r» .  .  .   I  isboa,  1858.  195.  Noronha.    Manuel    de,    apodado    no 

Mordomo  mor  do  Príncipe  D.  João,  Cancioneiro,  187. 

vide     Albergaria,    Diogo     Soarez;  Noronha,  D.    Maria  de,  •  ondessa  de 

Noronha.  1 1    Pedro.  Faro,  243. 

Mordomo  mor  de    D.  João  II.   vide  Noronha,  I).  Pedro  de,  Arcebispo  de 

.Meneses.  D.  João.  Lisboa,  '!47. 

Mordomo   mor    de   D.    Manuel.  vide  Noronha.  I>.  Pedro  de,  mordomo  mor 

Menezes,  D.  João.  de  D.  João  11.  2G4. 

Morenas.  Herdade  das,  63.  Noronha,    D.    Sancho   de,    I  "   Conde 

Mota.  Henrique  da,  escrivão.  138.  de  Odemira,  2,  í. 

Mota    Cortesão.    Pêro   da,   testamen-  Noudar,  Recuperação  de,  102. 

teiro    de   Garcia    de    Resende,  50.  Nnnez,  Fernão,  cavaleiro  da  casa  de 

Moura.    Alcaidaria    do    castello    de,  D.   João    III.    morador  em  Silves, 

297.    -  Comendador,  253.-— I tirei-  7'-'.  73. 

ioS  da  moira  ri  a  e  judiaria,  297.  Nunez,    Fernão,  contador  da   Rainha 

Levantamento    do    Alcaide    mor,  l>.   Leonor,    128,  135,  130,  137. 

102.  Óbidos,   diploma   de   lá   datado.   241 . 

Mousinho    <le    Albuquerque,    Luis    da  — As  jugadas,  rendas,  foros  e  di- 

Silva,    inspector   geral    das  Obras  reitos  reaes  da  vila  doados  ao  hos- 

Publicas,   180.  pitai    das    Caldas   da  líainha,   124, 

Mnr/.elo.      João,      guarda-repostl      da  1  -ti.    -As    rendas   e   direitos    reaes 

Rainha  L>.  Leonor.  L17.  pertenciam   á    Rainha   D.   Leonor. 

Nau    Gabriel   pertencente   a    um  In-  99,   113,   117.   118,   120,   128.—  Xo 

glês,  220,  239.  seu  termo  estavam  as  Caldas,  99, 

Nau   Trindade,   uma   das   tia    armada  MUI.    122. 

de  Magalhães,  77.  Obras  Publicas,  Inspector  geral  das, 

Savnrrete,   i>    Martin  Fernandez  de,  1 80. 

Coleccion  de  los  viages  ydescubri-  Odemira,  Morador  em.  247. 

mientos,   que  hicieron  por  mar  los  Odemira.   Conde  de.    I.".  vide  Noro- 

Kspaholes . . .    Tomo  IV.  Expedido.-  nha,   IX  Sancho;  .'!  ".  ride  Sancho, 

nes  de  Maluco.    Viage  de  MagaUar-  D.:  4.°,  112,  .'!<>'••. 

nes  y  de  Elcano.  Madrid,  Is. 17.  77.  Odivellas,  Sepultura  no  convento  de, 

Navio  S.  Pantaleao,  78.  168. 

Sebrixa     Intonio  de,  Chronica  de  los  Oiro,   Peças  de.  266,  267,  290,   .".'I. 

rfi/es  Católicos,  vide  1'ulgar,  Her-  Olanda,  Pano  de,  7<i,  134.  287,  291. 

nando.  -    Objectos   feitos   delle     134    284, 

Nicolau  IV.  papa.  14.  292. 

Nicolau  V,  papa.  10.  Olivaes,    termo    do    Lisboa,    -Vil. — 

Nisa,  Marqueses  de,  302.  <Juinta    de    Antão  de  Faria  lá  si- 

Nogueira,  Herdade  da,  '.ti.  64.  tuada,    281,    307,    313,    320,    321, 

Nogueira,  Afonso  Lanes.  184.  322.  —  Quinta  de  Lourenço  de  Fa- 

Nou-ueira.   Gomes,   Boldado  em  Tan-  ria.     MS,      Quinta    d"    Mortorio, 

jer,  184  120. 

Nogueira,   Rui     morgado  de  S,   Lou-  Oliveira,  Morgado  de.  tis. 

renvo  d.-  Lisboa.  184.  olheira.  Leonor  Goncalvez  de,   mu- 


indici    \i  i  aiíi  nco 


K)3 


lher  de  Antão  de  Faria,  81  >.  315 
Jl!),  320,  321,  322,    168 

Oliveira  Martins,  O  Príncipe  Perfei- 
to, prece  lido  de  uma  inlroducção 
acerca  do  complemento  e  piano  ge- 
ral il<i  obra  por  Henrique  de  Bar- 
ros Comes.  I  ÍRboa,  1896.  150,  210. 
221,  277. 

Olivença,  i  londe  de,  27 1 . 

Oratório,  Peças  do,  da  bainha  I».  Leo- 
nor,  136. 

<  Irdem  de  Avis,  <  lomcndador  •     Ca 

sal   na,  253,  255 ;  de  Monra,   253 

i  loinendadores    mores,     1 56. 
Mestre,    ride    Lfonso,    I»..  e  «Forje, 
D.       A   cruz  ttella  mandada  tirar 
itas  armas  do  reino.   124 

<  Irdein     do     ( larmo,    Provincial    da, 

16. 

<  irdein   de  » iristo,  <  ía  \  aleiro  da,  38, 

233,   257.      Uoinenda   de    Valada, 
282,    307.  —  Comendador,    74. 
Historia  delia,  213,  219.       Mercê 
do  habito,  60,61.  -Mestrado,  153. 

Ordem  da  Jarreteira,  Cavaleiros  por- 
tugueses da,  17-!.  —  Sen  escudo  de 
armas,  175,  176. 

Urdem  de  San  Francisco.  Frade  da, 
52,  241. 

Ordem  de  San  Jerónimo,  vide  Espi- 
nheiro. 

Urdem    de    San   .João  de  Jerusalém, 

Urdem  de  Santiago,  seu  estabeleci- 
mento e  desenvolvimento  em  Por- 
tugal, 13  a  17.  —  Administrador 
do  mestrado,  18.—  Cavaleiro,  356. 
—  Comendador  mor,  14,  15.  —Es- 
cudo «las  suas  anuas.  175.  1  ivro 
de  seus  rejistos,  13,  19.  —  Mestre, 
riih'  Afonso,  1 1.  :  Anes,  1  ourenço  ; 
Fernandes,  D.  João;  Jorje,  D.— 
Os  Treze,  li. 

<  Irdem  do  Templo,  219. 

i  Irdem  da  Trindade,  355. 

Ortiz,  1).  Diogo,  o  Calçadilha,  Bis- 
po de  Tanjer,  299 ;  do  conselho 
testarrentario  de  1 >.  João  II,  309 

Ota,  Casal  no  paul  de,  255.  -Merci 
do  paul,  345. 

Ouguella,  Combate  singular  junto  a. 
266.  —  Recuperação  da  praça,  264 

Uurem,  Cónego  da  colèjiada  de. 
243.  —  Satisfação  pelo  senhorio  da 
vila,  116. 

Ourique,  Campo  de,  sis;1  judenga 
las  vilas  e  togares  delle,  .'7'.'. 

Paços  de  Ferreira,  Senhor  de,  198, 
199.  Seus  d  íreitos  e  remias.  198, 
199. 


Pm'/.  Ah  aro,  almoxarife  em  Mem  ■ 
quer,   134. 

Palm,  U  ichnrte,  iolin  i  em  I  is- 
boa,  239. 

ruim,  Roberto 

l';ii\  a,  Kscrn  ào  'l"~  orl  íoí  L44 

Senhor  <la  vila,  185. 

Pajem  de  D,  João  II,  vide  Castro, 
1 1,  Jorje  ;  Henesés,  1 1    J,o 

Palaçano.  <  !ued<  lha,  judeu,  266. 

Palma,  Fernão  líodriguez  de,  rece- 
hedor   do   dinheiro   do  reino,  I  ■'•] . 

Palmas,  Prior  de,  no  bispado  de 
Coimbra,  241. 

Palmella,  Castello  de,  8.  I  loado  & 
Ordem  do  Santiago,  13,  14.  —  Al- 
cai daria  mor,  mercê  delia,  265. 
Seus  direitos,  301  Ucaide  mor, 
Hde  Canha,  Nuno  ;  Paria,  Antão  ; 
hnr i:i.  Francisco.  Igreja  'I"  cas- 
tello. 156.  -  Diplomas  de  lá  data- 
dos, 243,  245,  295.  Prior  mor. 
339.  -Sisas  da  vila,  107.  —  Seu 
termo,  240.  Morgado  instituído 
em  bens  nelle  situados,  337. 

Panos  e  tecidos  \  arios,  76,  86,  108, 
109,  134,  138,  234,  266.  283,  284, 
285.  287,  288,  289,  290,  291,  292. 
293,  306,    167. 

Parada  de  Bjoiro,  Senhor  <1  <-,  198. 

Pariiz,  Bernardim,  arcediago  do  ba- 
go da  Sé  dê  I  \  ora,  51 . 

I':iris.  Lenço  de,  292.  Pano  Ituam. 
134.-    Toalhas,  292. 

Pnrnlz,  vide  Paritz 

Parteiras,  do  custume  de  serem  ma- 
drinhas de  baptismo  se  derivou  o 
uso  de  lhes  chamar  comadres,  51 

Paulo,  /'.".  Breve  í miado,  queescre- 
veo  o  sobre  a  morte  do  Duque  de 
Bragança  D.  Fernando  o  Segun- 
do. ■  .  Impresso  no  III  vol.  das 
Provas  da  Hisl.  genealógica,  269. 
277. 

Paulo,    I'.".    confessi ir  do  Duqui 
Bragança,  269. 

Pavia,  doação  do  senhorio,  116. 

Paz.  caturra  do  Infante  D.  Duarte, 
233. 

Paz.  Diogo  de,  cristão  novo,  feitor 
da  alfandega  e  recebedor  das  ren- 
das reaes  no  Porto,  234.  — Carta 
sua  a  D.  -loão  III,  235,  236. 
Paz.  Dnatrte  de,  cristão  novo,  filho 
do  mestre  João  de  Paz,  233,  235, 
237.  —  Feitor  da  alfandi  ga  'I"  Por- 
to e  recebedor  de  rendas  n 
e  na  corte,  233,  234.  Enviado 
ilos  Cristãos  m>\  os  em  L' orna,  230, 


404 


[NDICE  Al  I  ABI  riCO 


Pax,  I  riu. ih  da,  233. 

Paz,  Mestre  João  da,  fisico  <■  cirur- 
iãu  de  I >.  Manuel  morador  em 
Guimarães,  231,  232,  233,  237.— 
Suposto  medico  da  [tainha  I».  Leo- 
nor e  em enenador  de  1».  .Toâo  il. 
224.  225,  228,  229,  230,  231,  233. 

1'n/.  João  de,  cristão  novo,  pai  de 
Diogo  e  Duarte  de  Paz,  235, 
236. 

Pu/.  Mestre  João  de,  medico  caste- 
lhano, 236.  Morador  no  Porto, 
237,      Afilhado  de  D.  Manuel,  J37. 

Pedra  Hoa,  Tomada  de,   162. 

Pedreiro,  Mestre,  338. 

Pedreiro  francês,  245. 

Pedreneira,  cirnrjião  lá  morador, 
249. 

Pedro.  1».,  Conde,  vide  Meneses, 
]).  Pedro. 

Pedro,  I)..  Condestavel,  "241. 

Pedro,  Mestre,  fundidor  de  ferro, 
289. 

Pedro,  D.,  Infante,  261.  —  Na  con- 
quista ile  Ceuta,  260.  —  Cavaleiro 
da  -1  arrete  ira,  I7<>. —  Terras  de 
que  se  '•(impunha  o  ducado  de 
Coimbra  por  elle  possuido,  152, 
l.").'i.  —  Kejente  do  reino.  315,  316. 
—  Morre  na  batalha  da  Alfarro- 
beira, 259,  329.— Recolhidos  os 
seus  restos  em  Abrantes,  259. — 
Sepultados  na  Batalha,  140,  175. 
Escrivão  dos  seus  livros,  319. 
Carta  de  perdão  ao  seu  cirur- 
jião,  245. 

Pedrógão,  Nossa  Senhora  da  Luz 
do,   163.  —Senhor  da  vila,  192. 

Pedrosa,  Diogo  de,  poeta  do  Can- 
cioneiro, 298. 

Peixoto,  Diogo  Gomez,  morador  em 
Évora,  59. 

Peixoto  «V  Faria.   Fernando.  58. 

Peixoto  de  Queiroz  e  Vasconcellos, 
António,  Mobiliário  das  famílias 
de  Portugal,  ms.  em  muitos  vols. 
existente  na  Torre  do   Tombo,  hl. 

Pena,  termo  de  Vila  Real,  escrivão 
■  las  sisas  e  tabelião  no  julgado. 
242. 

Penaco\  a,  Senhor  de,  368. 

Penajoia,  Senhorio  de.  }r>H. 

Penamacor,    Conde    de,    vide    Alim- 

I|UITI|UC.    l.OpO. 

Penamacor,  Condessa  de,   vide  Noro- 
nha, D.  Leonor. 
Penaverde,  Morador  em,  248. 
Penella,  Doação  do  senhorio  de,  152. 
Pendia,  Conde  de,  vide  Vasconcellos 

e    fie    Meneses.     I  >      João. 


Perdão  geral  aos  que  fossem  servir 
na  guerra  de  I  lastella,  192.  \"s 
que  fossem  servir  contra  os  Tur- 
cos, 239,  240. 

Pereira,  Doação  do  senhorio  de,  152. 
—  Senhor  da  terra.  362. 

Pereira,  António,  sr.  de  Rasto,  ami- 
go de  Sá  de  Miranda.  193,  194. 
195,  210. 

Pereira,  Gabriel,  director  da  Bib. 
Nac.  de  Lisboa,  21  í. 

Pereira,  Gabriel,  Documentos  históri- 
cos da  cidade  iie  Évora.  Segunda 
parte,  Évora,  1887.  316.  —Estudos 
eborense*  ...  o  Arehivo  da  Sinta 
i  asa  da  Misericórdia  de  Évora, 
1.*  Parte  ■  ■  ■  Évora,  1888.  57,  58. 

Pereira,  Gonçalo,  194. 

Pereira,  D.  Gonçalo,  arcebispo  dé 
Braga,  186. 

Pereira,  1  >r.  João,  24 1 . 

Pereira,  João  Rodriguez,  .'!."  sr.  de 
Cabeceiras  de  Basto,  do  conselho 
de  D.  Afonso  \  .  comete  um  as- 
sassínio r  ('•  degradado  para  <  lenta, 
184.  —  E'    perdoado.    185. 

Pereira.  João  Rodriguez,  o  Marra- 
maque,  'i  "  sr.  de  '  labeceiras  de 
Basto,  seu  nascimento,  I8'i  — Seus 
pais.  184,  185.— Moço  fidalgo  e 
depois  fidalgo  da  casa  de  i».  Afon- 
so V,  1'dT.  —  Sucede  no  '-asa  por 
morte  do  irmão,  185,  190,  1  *  *  T  -  - 
icomete  e  lança  fogo  ao  mosteiro 
de  Refoios,  191,  198.— Honiizia- 
se  e  serve  na  guerra  da  invasão 
de  Castella,  191,  198.  É  perdoa- 
do, 192.  -1'oeta  do  Cancioneiro, 
187,  1<SS.  198. — Seu  casamento, 
1 02.  -  Foi  aos  juramentos  de  I  las- 
tella, 186,  187,  188,  198.  -Era  do 
conselho  de  D.  Manuel,  195,  199, 
Í08,  209,  210.-  -Terras  que  trazia 
de  coroa.  199.   -Nas  do  Minho  se 

itavam  malfeitores,  198.  —  Sua 

morte.  l!»õ. — Foi  um  fidalgo  ale- 
gn-  e  galhofeiro.  186,  202,  210.— 
Nunca  um  plebeu  nem  um  bqbo, 
205,    208,   209,  210.   -Orijem  da 

alcunha.    195,    196. lá  lhe  estava 

posta  em  tempos  de  D.  Afonso  V. 
Í97. 

Pereira,  D.  Manuel,  sr.  da  casa  da 
Taipa.    193. 

Pereira.  Nuno.  poeta  do  Cancioneiro, 
1X7 

Pereira.  1».  Nuno  Alvarez.  Condes- 
tavel,   IMO. 

Pereira.  Rui.  morador  em  Évora,  15. 

Pereira.  Rui  Vaz.   194. 


ÍNDICE   \l  l  mu  rico 


[05 


I).  Maris 
I  lenriqui 


António,  |> 


Pereira,  \  asco,  sr.  de  Paiva  e  Bal- 
tar,   185 

Pi  relra  *t <■  <  ast  ro,  I  >cs.'  José  líi- 
calde,  .;'.  » 

Pereira  de  Meneses  >■  Parla, 
Luísa,    mulher    de    1>. 
Benriquez,    I  IU 

Pereira  de  Miranda,  Brás,  ti  d  ali 
Porto,  339. 

Pereira   das    Neves, 
roço  da   Batalha,  180. 

Pereiras,  suas  armas,  194.  Chefe 
da  liuhajein,  184,  I8C,  194. 

Pi  mes,  Almoxarife  de,  266, 

Perpinhâo,  Pano  de,  291 . 

Pestana,  João,  tesoureiro  mor  de 
D.  Afonso  V.  26G 

Piedade  e  Yasconcellos,  /'.•'  Tgnacio 
(In.  Historia  de  Santarém  edifica- 
da ■  ■  ■  Seg  mi  d  a  parte-  Lisboa, 
1740.   148.  ' 

Pina,  I  >r.  1  marte  de,  morador  em 
Évora,   ôl. 

Pina.    Rui    ile.  cronista,  sua  pátria. 
161).       VIercê    de  duas  tem  as,  5  i 
Sen <•   de  notário  na  apro\ qi  ãi 
do  testamento  de  I».  João  II,  308. 
Foi  plajiado  por  <  rareia  de  Re- 
sende, 54. 

Pinii.  fíui  ile.  Chronica  do  Senhor 
li:  i/  D.  Afonso  I'.  no  1  vol.  da  Col- 
leceão  de  Urros  inéditos  da  histo- 
ria portuguesa,  í,  5,  G,  15,  IGO, 
2  c.n  .  268  .  —  Ch  ro  a  iro  de  I  Rei 
dom  João  II.  no  M  vol.  da  mesma 
:i,o.  54,  99,  101,  102,  108, 
III.  m,  149,  152,  163,  164,  165, 
224,  281. 

Pinas,    Os,    não  eram  fidalgos,  254. 

Pinheira,  Maria.  300. 

Pinheiro,  herdade,  64. 

Pinheiro,   Senhor  do,  362. 

Pinheiro,  António,  tabelião  em  Lis- 
boa, 92. 

Pinheiro,  Dr.  Diogo,  Manifesto...  cm 
que  mostra  a  innocencia  do  Duque 
de  Bragança  D.  Fernando  II.  a  falta 
<lc  prova,  e  a  nullidade  da  Senten- 
ça porque  foicondemnado,  impres- 
so no  vol.  111.  'las  Provas  da  llisi . 
genealógica,  149,  166,  198,  271, 
281. 

Pinheiro,  Pedro  Anes,  lavrador,  V.'. 

Pinhel,  Termo  de,  192. 

Pinto  de  Mira,  lios."1  Manuel,  sua 
casa  era  Lisboa,  333,  337,  340. 

PintO   de    Mira   Falcão.   José,    340. 

Pintos  Herdade  'los.  'iii. 

Pirez,     \ ndré,    escrii  ão  da  fazi  mia. 


cia,  346. 

Plínio,  sentença  aua,  212. 

Pombal,  i  Quinta    unto  b 

Pombal,  Vlarquèa  de,  ministro  di 
D.  -losé,  98,  155    !  i  i 

Ponte  de  1  ima,   Ucaide  mor  de,  l!  8. 

Popplau,  Nicolaus  von,  nobre  pola- 
co, esteve  em  Portugal,  282. 

Portalegre,  carta  de  lá  datada,  Í6  I 
Moradores  na   \  ila,  240.  24G. 

Portel,  Alcaidaria  de,  280.  Alcaide 
mor,  257.  I  >e  lá  fujiu  o  I  tuque 
I».  Jaime,  2Ti . 

Porto,    lá  se  resoh  e  a  ida  de  Afon- 
so >  a  França,  101.        \  Icaide  mor 
da  cidade,  '.''i  1 .      Barbeiro  lá  mo- 
rador,   240.      Biblioteca    munici 
pui,  315.— Bispado,  240.       Bispo, 

(lista.     D.      DiogO,     '■     Insta. 

I».  Pedro.  —  ( larta  r<  ia  li  lá  da- 
tada, 245.  l  lidadào,  294 .  — •  <  i- 
"  lá  morador,  228,  229,  248. 
•  lomarca,  192.  —  Feitor  da 
alfandega,  sisa  dos  panos,  mar- 
caria '■  herdades,  233-234.  —  Fi- 
da Igo  lá  morador,  339.  -  Medico, 
237.  Moradores,  outros,  235,  236, 
24  1 .  245.  -  Peonajem  do  concelho, 
.'■  1 1  Receber!  or  do  almoxari  Fado 
c  ila  sisa  dos  panos,  234. 

Porto,  1 K  João  do,  Bispo  de  I  arga, 
226. 

Porto,  -João  do,  cantor  de  D.  .João  II 
e  de  I).  Manuel,  escrh  ão  la  Casti 
do  Civ  el  e  da  correição  da  <  lôrte, 
226,  241,  242,  243. 

Po  rto,    João    do,    compra 
D.    -João    II.   226,    243;    carta   de 
quitação,    241.      Escrivão   da    Fa- 
zenda de  D.  João  II.  226,  243. 

edi  r  dos  escrai  os  de  Guiné 
em  Lisboa,  226,  242  ;  carta  de 
quitação,  244. 

Porto,  João  do,  i  n\  enenador  suposto 
de  D.  João  II.  225,  227,  237. 

Porto,  João  do,  escrivão  .las  sisas 
'los  panos  e  herdades  de  I  is  oa, 
226,  239. 

Porto,  João  do,  escudeiro  do  In- 
fante D.  Fei  u  cartas  de  per- 
dão, 226,  239. 

Porto,  João  'i".  inglês,  mercador, 
morador  em   Bristol,  226,  239. 

Porto,  João  do,  \  arios  oul  n 
íilimu  fisico  nem  cirurgião 
226,  238  a  244. 

Porto  Carreiro,  Francisco  de,  ana- 
del  mor  dos  -  cie  camará. 

!82. 

1'urt  nuai.    1 1     Alva  ro   de,   irmão  do 


406 


i\DK  I    \i  I  ABI  riGO 


justiçado  Duque  de  Bragança,  es- 
crei  e-lhe  uma  carta,  .'Tu.  ,'s| . 
>. e  outra  a  I '.  João  II.  muito 
jiva,  '275.  Sentença  que  o 
.• lenou,  275.  Bens  seua  doa- 
dos a  oul ros,  2.72.  Restituído  ao 
reino  e  á  cosa,  275.  Casa-lhe 
D.   Manuel  uma  (ilha.    155. 

Povoa,  I  r.  João  da,  confessor  de 
I >.  João  1 1.  escre\ e  q  --cu  1 1  sta- 
mento,  III.  303.  ■  É  nomeado 
para  o  seu  conselho  testamenta- 
rio,  309. 

Povoação  de  Entre  Doiro  e  Minho  no 
\  l  /  século,  'loe.  publicado  no 
III   vol.  do    Irch.  hist.  port.,  193. 

Trata,  Peças  varias  de,  290,  291. 

Prado,  Senhor  do,  299. 

Príncipe  Real,  ride  Bragança,  Duque 
de. 

Prior  <l<>  (ruiu.  3,  -Outros,  vide  VI- 
meida,  l>.  Diogo;  Meneses,  D. 
•  loão. 

Proença,  Natural  de,  '245. 

Provedor  das  obras  dos  paços  e  ca- 
sas reaes,  340. 

Provedor  mor  da  rendição  dos  ca- 
ti\  os,  242. 

Pulgar,  Hernando  de,  Chronica  de 
los...  reyes  Catholicos  don  Fer- 
nando y  dofia  Ysabel  de  gloriosa 
memoria. . .  Compuesta  por  el  maes- 
tro António  de  Nebrixa. . .  Valha- 
dolide,  1565.  (Apesar  de  impressa 
em  nome  de  Nebrixa,  o  seu  ver- 
dadeiro autor,  como  é  sabido,  foi 
Pulgar),  177. 

Panhete,  cirurjião  lá  morador.  247. 

Rabaçal,    doação   do   senhorio.    153. 

Raparigas  do  Cancioneiro,  21   a  27. 

Raposo,  Baltasar,  feitor  em  Ternate, 
78. 

i : ,i  -.'■•  ies,  I  Lerdade  nos,   16. 

Real,  moeda,   i02,  205,  206,  207. 
Seu   valor,  182. 

Rebelo,   Pêro,   escrivão  da  Casa  do 
.  242. 

Rebordão,  cirurjião  lá  morador,  248. 

Recardães,  doação  do  senhorio,  1 52. 

Redondo,    doação  do  senhorio,   I  16. 

Refoios,  Mosteiro  de,  é  acometido 
e  incendiado  pelo  Sr.  de  Basto, 
191. 

Rego,  Beatriz  do,    >l . 

Regras,  Dr.  João  das.  seu  casamento, 
362.  I'  unda  o  hospital  de  S.  Ma- 
teus, 362,  363.  Elabita  em  Lis- 
boa a   Santa  Marinha,  363,  364 . 

Reis  Católicos,  vide  Fernanda  e  Isa- 
bel. 


Rejedor  da  <  asa  do  < livel,  200,  346, 
365. 

Rejedor  da  Casa  da  Suplicação,  .'li, 
369. 

Reriz,  Senhor  de,   185. 

Resende,  Mestre  Vndré  de,  29.  Seu 
pai  suposto.  fiN.  —  Seu  pai  verda- 
deiro,   91,   92.         veu   avô  paterno. 

92.  —  Sua  mãe,  86,  87,  88.  — Não 
era  irmão  do  cronista  <  !arcia  de 
Resende,  34.  18,82,83.  —  Seus  ir- 
mãos, 84 .  85,  86.  -  <  arta  sua  a 
1 1.  loão  de  Castro.  84,  85.  Pa- 
drinho de  um  filho  de  André  fal- 
cão de  Resende,  91.  —  Sua  quinta 
de  Valbom,  93,  !iõ. — Verbas  do  seu 
testamento.  83,  93,  94.  Seu  filho, 
92,  93,  94.  -Seu  neto.  94,  95.— 
Sua  biografia  escrita  por  Leitão 
ferreira,  34,  87,  92. 

fíesende,  Westre  André  de,  Historia 
da  antiguidade  da  cidade  de  Évo- 
ra... Évora,  1553,  82.  —Vida  do 
Infante  dom  Ditai  te .  .  .  mandada 
publicar  pela  Academia  Urdi  <l<is 
Sciencias.  Lisboa,  1789.  233.  ffa 
sumiu  vida  e  religiosa  conversão 
de  Fr.  Pedro  Portt  iro  de  Sancto 
Domingos  de  Évora,  na  Vida  de 
Indrè  de  fíesende,  de  Leitão  Fer- 
reira. 8(í. 

Resende,  André  Lúcio  de,  ultimo  re- 
presentante do  cronista  (rareia, 
62,  63,  65,  ?0. 

Resende,  André  Vaz  de,  pai  do  mes- 
tre   \ndré,  91  .  92. 

Resende,  Antónia  de,  mulher  de 
Afonso  Monteiro.  84. 

Resende,  António  de,  filho  do  cro- 
nista < rareia,   i7.  57< 

Resende,  Lntonio  de,  neto  do  mestre 
André.   94,  95. 

Resende.  Barnabé  de,  filho  do  mes- 
tre \ndrr.  52.  83,  87,  92,  93,  94, 
95. 

Resende,  Beatriz  de  neta  do  cronista 
» !arcia,  51 .      foi  freira.  52. 

Resende,  Fr.  Brás  de,  dominicano, 
escritor,  69,  90. 

Resende,  I>.  Brites  de,  5."  adminis- 
tradora do  morgado  da  Anta.  mu- 
lher de  fernando  Peixoto  de  Fa- 
ria. 58,  59. 

Resende,  I  >.  Brites  de,  filha  de  Jorje, 
69,  90. 

Resende,    Caterina    de,    mulher    de 

Duarte   Lobo,  õl  . 

Resende,  '  Iristina  de,  sobrinha  do 
mestre  André,  mulher  de  Brás  Ro- 
drisuez  Ribeiro,  83,  84.  85 


INDK  1    ALI  ABE  flCO 


407 


Resende,  I  •uarte  ili  ,  primo 

com  irmão  'I"  cronista  •  Jurem .  'i .' . 
14,  71.  72,  7:;. 

Resende,  Duarte  de,  escritor,  29,  71, 
7.'!. — Seus  pais,  74,  (5,  ?0.  farte 
para  a  índia,  70.  Escrivão  da 
feitoria  das  Molucas,  7  i 
cm  Temate,  73,  7C,  Í7,  78,  7!). 
Volta  para  o  reino,  78,  79.  I  >e- 
dica-lhe  João  de  liarrosa  Ropica- 
pnefma,'  7.'i.  78.  Seus  escritos 
em  prosa  e  verso,  79,  80.  —  Seu 
falecimento,  8 1 . 

Resende, 
K \ ora. 


Resende 

90. 
Resende, 


Fernão    de. 
51. 
1>.  Filipa  de, 


irje, 


l'ranoisi 


filho  .In  cro- 
nista Garcia,  17,  83.  —  l.°  admi- 
nistrador do  morgado  instituído 
pelo  pai,  55. — Seu  casamento,  50. 
—  Foi  condenado  ;i  degredo  por 
um  ferimento,  56.  —  Foi  vereador 
•  la  ('amara  de  Évora,  56. — Sua 
morte  e  sepultura,  õii.  ">7. 

Resende,    Francisco  de.  filho  de    for 
ie,  69,  90. 

Resende,    Francisco    de,   pai  do  cro- 
nista '-.'areia.  34,  35,  91 .  92,    208. 

Resende,  Rareia  de,  5.°  administra- 
dor do  morgado  da    \nta.  59. 

Resende,  Garcia  de,  cronista,  28,  91 , 
183,  ]Ni. — Seu  nascimento,  33.  34, 
'202,  205.  207.— Seus  pais.  34,  91 . 
92. — Sen  avô  paterno.  92. — Não 
era  irmão  do  mestre  André,  34, 
18,  82,  83,  85,  87.  — Vivia  em 
Évora  com  um  tio,  35,  202. 
Moço  da  camará  de  I  >.  -João  li. 
33,  209. — Seu  moço  da  escrevani- 
nhã.  33,  34,  35.  —  Nesta  qualidade 
recebe  dei  Rei  muitas  prot  as  de 
confiança  e  afeição,  35,  30,  37.  — 
Retribue-lhas  com  sincera  amiza- 
de, -!7.  —Secretario  da  embaixada 
ao  papa  I  .eão  V  38,  39.  Na  via- 
jem para  Koma,  arriba  a  Malhorca, 
•'!'.).  —  E'  cavaleiro  da  Ordem  de 
Cristo.  .17,  38.  —  17'  nomeado  es- 
crivão da  fazenda  do  Príncipe  I». 
João,  39,  89. — No  mesmo  oficio 
continua  a  servi-lo  depois  de  rei, 
40,  11,  12,  72,87,  88,  89.— Faz-lhe 
1 ».  João  1 II  doação  das  pensões  dos 
capitães  e  escrivães  dos  navios 
que  se  armavam  para  Arguim, 
rios  de  Guiné  e  ilhas,  12,  13. — 
Recebia  análogas  pensões  (los  na- 
vios armados  para  a  Mina.  13. — 
Foi  padrinho   em    haptisados,    õl 


I  'rimo   i i  rmão  de  I  I 

de  Resende,  12,  44,  71,  72  0 
outro    dedica-lhe     uma    tradu  ão 

de   *  licero,  80.       I  >oa   n  tença 

ao    com dito    do    I Ispinhe iro      II 

\a    -mu    cerca   edifica  uma   ca 
pella  para  sua  sepultura,  e  dota-a, 
II,   14,   15,  16,  50,  52,    i  ■    I 

\  sua  capei hi  e  in porada  na 

coroa,  tii .  <0.  aquisições  de  pré- 
dios. 12,  87  Possue  um  moinho 
em  Lisboa,  '>'■<■  10.-  I  ma 
na  mesma  cidade,  66,  67  <  lutras 
em  E\  ora,  16,  66  São  lhe  per- 
tenceram a-  que  hoje  são  lá  co- 
nhecidas com  o  seu  nome,  tio.  liii. 

i  (moine  a  Vida  de  i>  João  1 1 
18,    19.  -Seus  ultimou  annos,  19. 

1  artas  -nas  destes  tempos,  19, 
50  Escreve  o  Sermão  dos  três 
lieis  Uagos,  50.  Sua  morte,  50, 
ol .  52.  Sua  sepultura.  52,  53. 
Seu  testamento,  15,  16,  i7.  52, 
82.  -Institue  nelle  um  morgado, 
1 1 ,  i.'i.  15,  16,  W .  liens  de  que 
elle  se  compunha,  'i  1 ,  12,  'di,  63, 
64.  Sua  moradia.  11.  Ni:h  ar- 
mas, 'li.  'i7.  52.—  Não  era  com 
tudo  fidalgo,  254.  Sua  assina- 
tura,  10.— Sua  índole  alegre,  32. 
-  -Foi  desenhador,   36,  37,    102. 

Também    musii poeta.    30. 

Privilejios  para  a  impressão  das 
suas  obras,  50.  I.''  impressa  a 
Vida  de  D.  João  Tl,  ■">.;.  54.  -Acu- 
sado de  plaiiario  de  Rui  'Ie  Pina, 
54,   55.— O  historiador.    111.  31,    12 

administradores  do  seu  morga- 
do, iò  a  63.  o  seu  representante  é 
em  I7'i7  recusado  para  familiar 
do  Santo  Oficio  por  ler  sangue  de 

crista. (  uo\  O,  60,  61.  O  seu  ulti- 
mo representante  i"i  um  idiota. 
62. — Km  Exora  levantam-lbe  um 
monumento,  mas  deixam  andar  ..s 

SeUS    restes    insepultos,   53. 

Resende,  (.ureia  de,  Cancioneiro  ge- 
ral, q.  v.  Versos  seus  lá  impres- 
sos. 25,  3(f,  18,  39.  índice  delle, 
21,  .'7.  28.  t  entrada  dei  fíeydom 
Manoel  cm  Castclla,  186.  Livro 
das  oliriis  de  Garcia  de  Resende 
que  trata  da  vida  e  grandíssimas 
virtudes. .  .  do  príncipe  el  Rey  dom 
João  o  segundo.  .  .  Lisboa,  1545. 
.!.;.  35,  :7^  18,  19,  50,  53,  99,  101, 
102,  107,  108,  149,  163,  164,  165, 
166,  177.  186,  202.  206,  224,  271, 
282,  284,  286,  296,  297,  302. 
\fiscellania  de  Garcia  de  Resende. 


408 


INDIC1    M  1  MHTICO 


e  variedade  de  historias,  costumes 
vasos  v  cousas  que  em  teu  tempo 
acontecerão,  no  dm  da  ed.  de  1622 
da  Chrnnica  de.  .  .  dom  João  li. 
331.-  i  ida  de  D.  João  11  \  ide 
Livro  das  obras. 

Resende,  <  ■areia  de,  filho  de  Jorje, 
:.l.  52,  69,  90. 

Besende,  <  iarcia  de,  oul  ro,  s^ 

Besende,  dil  de,  escudeiro  de  l.a- 
mego,  7  'i.  75, 

Besende,    Gonçalo  de,   adail   d 
zila,  7  í.  75,  7  ti. 

Resende,  D.  Guiomar  de,  filha  de 
Jorje,  69,  90. 

Besende,  D.  Jeronima,  2."  adminis- 
tradora iln  morgado  do  cronista 
1  Iarcia,  mulher  de  I  'ernão  I  lonçal- 
v  ez  <  ogominho,  57,  58 

Besende,  Jorje  de,  único  irmão  do 
cronista  Garcia,  29,  12,  18,  51, 
32,  83,  91,  92  Vereador  da  Ca- 
mará de  Évora,  i9,  68. — Fidalgo 
da  casa  de-  D.  João  III. 
Poeta  do  Cancioneiro,  53,  67. — 
Tutor  de  seu  sobrinho  Francisco, 
56,  68.  —  Fez  imprimir  a  crónica 
de  seu  irmão,  53,  54 ,  68.-  -Pos- 
suiu mi)  exemplar  <lella.  54,68.— 
Sua  assinatura,  fiS. — Suas  armas. 
07.  Sua  morte,  53,  69.  Sua  se- 
pultura, 44,  t'>7. — Sua  mulher,  69, 
90.— Seus  filhos,  52,  li!»,  70, 
—  Inventarii  i  de  seus  bens,    i3,  90. 

Besende,  Lucrécia  de,  neta  materna 
do  cronista  '  iarcia,  51 .  52. 

Besende,  Manuel  \  az  de,  morador 
em  K\ i ira,  84,  s"'.  86. 

Besende,  Maria  de,  filha  do  cronista 
1  iarcia.  mulher  de  seu  primo  Gar- 
cia de  Kesende,  (7.  51 .  52,  69. 

Resende,  Maria  de,  pobre  desampa- 
rada, 51 . 

Besende,    1>.    Maria    Bosa    Gertrudes 
de,    10. °   administradora   do  mor- 
ido  da    \uta,  61. 

Resende,    Martim    \  az    de,    avô    do 
cronista    Garcia   e  do  hum 
dré,  92. 

Besende,  I'  Micaela  Arcanjela  Ber- 
narda de,  8."  administradora  do 
morgado  da  Anta,  60,  66. 

Besende,  Pedro  Paulo  de,  3.°  adminis- 
trador do  morgado  da  Anta.  57.  58. 

Resende,  Pedro  Vaz  de,  juiz  'I"-  ór- 
fãos de  K\  ora,  68 

Resende,   Sebastião  de,  filho  d 
nista  <  ■areia.    'i7.  Ii7. 

Resende,  Sebastião  de,  frade  de 
S.  Francisco, 


Resende  Paleio,  António  de,  soldado 
em   Meliapor.    57,  -r^.  69,  70,  90. 

Resende  Paleio,  '.areia  de,  52. 

Resende  Pelo,  Francisco  (nacio  de, 
de  Évora,  63. 

Resende  Mendonça  Parla  Vasconcellos 
Sande  <;irão.  André  José  de,  62. 

Resende  e  Sande,  André  Lúcio  de,  62. 

Besende  ■■  Vasconcellos,  André  Lúcio 
le,  62,  65. 

Resende    e    Vasc sellos,    Diogo    de, 

(i."  administrador  do  morgado  da 
Anta.  59. 

Besende  e  Vasconcellos,  D.  Inês  Ha- 
ria  de,  7.;|  administradora  do  mor- 
gado da    Vnta,  59,  60,  66. 

Resende  e  Vasconcellos,  Tomás  José 
de,  bacharel,  62. 

Resposta  aos  quesitos  <l<>  í//.mfl  /<',//,■ 
de  Véspera  de  Cânones  mi  '  niver- 
sidade  de  Coimbra,  o  sr.  Simão  de 
Cordes  Brandão  e  Ataide,  ms.  da 
Bib.  Pub.  de  Évora,  89-90. 

Revista  Lusitana,    irchivo  de  estudos 

philologicos  e  etimológicos  relativos 

a    Portugal,    publicado.  .  .    poi    J 

Leite  de  Vasconcellos.  Vol.  X.  Lis- 

I  I  8.  24. 

Riba  de  Ser.  Mestre  João  de,  físico. 
250. 

Ribeira  de  Alitem,  quinta  junto  a 
Pombal,  73. 

Ribeiro,  liras  Bodriguez,  cidadão  de 
Evoraj  83,  84,  93. 

Bibeiro,  Garcia,  tesoureiro  i 
dor  da   Bainha  1 '.  Leonor  em  Sil- 
ves,  134. 

Ribeiro,  João  Pedro,  Additamentos,  <■ 
retoques  «'  Synopse  Chronologica. 
Lisboa,  1829.294  Dissertações 
chronclogicas  e  criticas  sobre  <i 
historia  e  jurisprudência  ecclesias- 
tica  e  civil  de  Portugal,  Tomo  II. 
a,  L857.  17,  183.  Tomo  \  . 
1  isboa,  1836.  284. 

Ribeiro,  Joàò  Pedro,  patriarca  da 
nossa  diplomática,  218. 

Bibeiro  Pestana  de  r.rito.  José  Ma- 
ria, denunciante  da  capella  de 
< iarcia  de  Besende,  6  ;- 

Bio  i  "\  o,  A  bade  de,  Í52. 

Bio  de  rlaneiro,  <  apitão  general  do, 
348. 

Bivara,  escritor,  88.  —  Vide  Cunha 
Rivara.  J.  II. 

Rodrigo,  Mestre,  J99. 

Rodrigo,  Mestre,  lisico  di  D.  Ma- 
nuel, 249. 

Rodrigo,  Mestre,  lisico  mor  de  D. 
ifonso  \  .  ,'.il.  247,  248. 


1X1)1(1     Al  I  AIII   I  [<  O 


109 


Rodrigo,    1*.    M.    prior   do   convento 

da  i  ■  ra  <a  de  I  isboa,  32 1 . 
Rodrigues,     Alva  r "  ,    escudeiro    do 
Príncipe  1 1     loão,   Í66  ;  comprador 
de  I».  João  II.  241. 

Rodrigues,  Bento,  morador  em  I  vo- 
ra,  51. 

Rodrigues,  Diogo,  moço  da  estri- 
beira 'I"  Príncipe  I  >.  .loão,  266 

Rodrigues,  Dr.  Fernão,  deão  de  * ' i > i  1 1 1  - 
l>ra,  do  conselho  testamentario  de 
D.  ,Ioão  11.  309. 

Rodrigues,  .loão,  morador  em  Goa, 
irmão   de    indré  de   liesende,  85. 

Rodrigues  kntunes,  .João  adminis- 
trador 'I"  cO»ic<  llio  da  Batalha, 
180. 

Rodrigues    da    i  osta .    João 
Prefacio  do  folheto  Ordem  de  San- 
tiago, li.  19. 

Rodrigues  Raposo,  Baltasar,  feitor 
em  Ternate.  78. 

Roma,  lá  assiste  <■  morre  o  l 
1).  Jorje  da  Costa.  331,332.  —  Em- 
baixador de  1 1.  Afonso,  \  .   16. 
De     D.     Manuel.    38.        Enviado 
do-    Cristãos    novos    lá   residente. 
230,  233. 

Romau,  Fr  Jerónimo,  historiador,  17. 

Romances,    Critica    a..s.    históricos 
anotados.    181    a    184,    195, 
204,  212. 

Roquette,   /.-/.,    Diccionario   da  lín- 
gua  porlugueza,   de  José  <ln  Fon- 
scc  i.  feito  inteiramente  de  novo  e 
;  leravel mente  augmentado.  I 'a- 
ris,  1856.  206. 

Roquette,    Muniu/    Xavier    Trindadt  . 

Ordens    militares    porttiguezas.    1 

n   de  Santiago.  Leiria,   1901 . 

13.  <  Iritica  a  este  folheto,  16  a  19. 

Rosado,  Bonorio,  !il . 

Rouffe,  Henriqut,  empregado  da  Bib. 
Pnb.  de  Braga,  214. 

Ruão.  Lenço  de,  134. —  Pano,  134, 
291, 

Sá,  Ayres  de,  Frei  Gonçalo  Velho, 
Vol.  I.  Lisboa,  1899.  185. 

Sá,  io  de,  tesoureiro  da  especiaria 
da  <  asa  da  índia,   133 

s«.  João  Kodriguez  <le.  do  conselho, 
alcaide  mor  do  Porto,  240,  '.!'(  I . 

s;i  de  Miranda,  I  rancisco  de,  poeta, 
193. 

Saconi,  Mousem,  mercador  judeu  de 
Lisboa,  267. 

Safim,  ( lapitão  de, 

i,  Senhor  de,  23,  264 . 

Salasar,  l>.  Inês  de.  sua  casa  em 
Lisboa,  342. 


Siihs   Sim  deu   Carreira,  Joaquim  de, 

presidente   da    •  'amara    M  iin  icipa 
da  Batalha,  172,  174. 

Salva  ij  Uallen,  D.  Pedro,  Catálogo 
de  la  biblioteca  ilr  sn/ru..  To- 
mo II.  \  ulencia,   187  .'.  78. 

Samuel,  termo  de  Monti  mor  o  \  elho, 
.117. 

San  Brissos,  freguesia,  12,43,63,64 

San   .1 i   de    Bei,   Senhoi    de,   l!>fc 

San  Jor  e,  uí  te  Mina. 

San  Luis,  ('ar. leal  1).  Fr.  Francisco 
de,  \  ide  Saraiva,  ( lardeal . 

s.-in  Hartin,  An. ir.   de,  astrolo 

Sanches,  Mestre  .João,  cirurjiao  ga- 
lego, 249. 

Sanchez  de  Baeua,  Viscoí 
oealojista,    168. 

Sanchez  de  Friai     I       má    de,  Pom- 

beiro  da  /;<  oa,   1896.   li). 

Opocla  G  mia.  I  isl  oa,  1901.  19. 

Sancho.  1  >..  .' .    ( ionde  di  I  aro 
i  i  i  mira,  243,  369. 

Sancho  I.  1)..  Rei  de  Portugal,  doa- 
ções suas  á  *  >rdem  <le  Santia 

Sande,  1>.  Brites  Maria  de,  mulher 
de  <  .ar. -ia  di    Resende,  59. 

Saúde,   I »     Rod  rigo  de,  do  conselho, 

Símile.  Rui  de,  moco  da  escrevaninha, 
254. 

Saúde  e  Vasconcellos,  I».  Brites  Ma- 
ria de,  mulher  de  Garcia  de  Kr- 
sende,  59. 

Sande  de  Vasconcellos,  Manuel 
Estremo  .  63. 

Sande  e  Vasconcellos,  Maria  di 

llier   de    I  domingos  ( loelho  de  Fi- 
gueiredo, 

Sandes,  <  Is,  de  Estremoz  tinham  lama 
de  cristãos  in>\  os,  59. 

Santa  Comba,  Co   de  de,  íGl . 

Santa  Maria,  Igreja  de,  da  diocese 
de  \  iseu,  2 16 

Sini/n  Maria,  Fr.  agostinho  de,  His- 
toria  tripartita.  ■  ■  1  isboa,  1724. 
150. 

santa  Maria.  I  r  agostinho  de,  his- 
toriador, 17. 

Santa  liaria.  Ir.  Sebastião  de,  D 
Abade  do  Espinheiro,  61. 

Santa   Marinha,  Morador  em,  248. 

Santa  Rita  Fr,  Joaquim  de,  Acade- 
mia dos  humildes  e  ignorantes... 
Tom..   I.    I  isboa,    l7o9.  333,  340. 

Santarém,  lá  é  aclamado  1>.  João  li. 
162,  269.  Barco  vindo  de  lá  car- 
regado de  sáveis  para  Lisboa 

isal    prossimo    onde,    <-<>ni    o 
en\  ia. lo  de  1 '.  João  II.  se  a\  istam 


410  ÍNDICE  ALFABÉTICO 

os   delatores   'I"    Duque    de    lira-  Sebatittto,  D.,   I ; «- i  de  Portugal,  84. 

gança,  271,  273.  —  <  ôrtes  lú  con-  —  \isitn    em     Uvor   a   casa   onde 

vocadas,    268.        Diplomas   de   lá  morreu  D.  João  II.  112. 

datados,  35,75,  100,238,239,241,  Secretario  de  D.  -João  II.  vide,  Gar- 

242,   245,  246,  247,  255,  257,  273,  cês,    Afonso;  de  l>.  -João  111.  Car- 

280,    363. —  Estada    lá    da    curte.  iieiro,     António    e    Francisco;    de 

331  ■.    de   Garcia   de  ttesende,  72;  I».    Manuel.    Carneiro,   António,  e 

de    l>.    João    II,    297.  —  Família  Garcês,  Jorje. 

i<     lelle/  de  Meneses,  !).       Mora-  Secretario  de  Estado,  346 

dores   na  vila,   148,  280.        Morre  Seda.-.  Defesa  das,  86. 

iá   o   Príncipe    I».  Afonso,   106.-  Segadàes,  doação  do  senhorio,   152. 

Convento    de    S.    Francisco,    148,  Seia.  carta  de  lá  datada,  246. 

269;    de    Santa   I   Iara.    Ili'.'.  —Fora  Seia.   Conde   de,   251. 

de  vila,  9.       Freguesia  do  Salva-  Sem,  António  do,  moço  lid algo,  285. 

dor.  7».  —  igreja  da  Graça,  9;  de  Sequeira,    Estevão    de,    copeiro   pe- 

San  Domingos,  9;  de  Santa  Maria  queno    de    D.    João    II.    102,   103, 

da   Alcáçova,    114;   de  Santo   F.s-  104,223,224. 

tevão,   1 1  'i .  —Museu,  9. — Torre  e  Serpa,  mediei,  lá  morador,  248. 

paços   da    Ucaçova  doados  á  t  >r-  Serralheiro,  338. 

dem  de  Santiago,   13.  Sete  Igrejas,  i  ombate  de,  147. 

Santarém,    Visconde  de,  Quadro  ele-  Setúbal,    lá   é   apunhalado  o  Duque 

mentar  das  relações  politicas  e  di-  de    Viseu,    '.'7o.  —Casa  onde   foi 

plomaticas  de  Portugal  com  as  di-  morto.  265.  —  Diplomas  de  lá  da- 

nersas  potencias  do  mundo.  .  .  Tomo  lados.  I  13,  241,  242,  257,  273,  306. 

decimo    quarto.    Paris.    1 N ,r> ; ; .    17,  Dizima    do    pescado,    273. 

176.  Doença  da  Rainha  D.  Leonor,  Ins. 

Santiago    [do    Cacem],    Direitos   do  301.  —  Entrada  lá  dos  Brag 

genesim   e   sisa  judenga  de,  272.  313.  —  Estada   lá   de   1).  João  II. 

Santiquatro,  Cardeal,  235.  302;    de    D.    VIanuel,   113,  313.— 

Santo    intonio,   Fr.    Manuel  de,   Tlie-  Execução  na   praça,  8. — Morado- 

snuri)  <la  nobreza  de  Portugal,  ms.  res:  barbeiro,  249;  cirurjião,  249; 

de    que    existem    copias   na    Bib.  físico,  250.       Kendas  e  direitos  da 

Nac,  231.  alcaidaria  mor.   r,'.\.  --  Saraus  do 

Santo  Oficio,  Deputado  do,  em  Evo-  paço,  300.  —  Tenças  pagas  no  al- 

ra.    314.  —  Inquisidor    na    mesma  moxarifado,  307. 

cidade.    90.       Secretario    lá,    84,  Severim   de   Faria,    Manuel,    Vida  de 

88.       Becusa    aceitar  para   fami-  João  de  Barros,  nos  Discursos  va- 

liar  o  representante  de  Garcia  de  rios  políticos.  Évora,  1624.  78,  80. 

Uesende,  233.  —  Veracidade  da  — A  elle  andam  atribuídos  os  Su- 

prova  nos  seus  processos,  233.  marios  de  Gaspar   Uvarez  de  Lou- 

Santo  Thomas,   Fr.  Leão  de.  fienedi-  sada,  194. 

ctina  lusitana...  Tomo   I.  Coim-  Sevilha,  3,  22,  346. 

Ura.    1644.    191.  Silva.    Aires    da,    camareiro    mor  do 

Santos  Pereira  Jardim,  Dr:~José  dos,  Príncipe    D.    João,    262,    263;    de 

governador   civil   de   Leiria,    169,  D.  João  II.  e  Bejedor  da  Casa  da 

170,  171,  172,  174.  Suplicação,  26,  271,  369. 

Sapateiro  do  Príncipe  1>.  João,  266.     silva,     iires    da,    neto  de  An1 le 

Saragoça,    lá    é    jurada    a    Princesa  Paria.  320. 

D.  Isabel,  145.       Por  esta  ocasião  Silva,  Aires  Gomez  da,  sr.  de  Vagos, 

sao    de    lá    enviadas    umas   coplas.  Bejedor  da   (asa  do  Civel,  9,260. 

187.  Silva,    l>.    Brites   da,    Condessa    de 

Saraiva,  Cardeal,  Obrai  completas...  .Mirantes,  Ki7. 

[omoe    111    e    i\.    Lisboa;   1874  e  Silva,    Diogo   da,   aio  de  I».   Ma- 

1875,  154,  256,  318.  nuel,  23. 

Sardinha,  Fernão,  juiz  dos  órfãos  de  siim.  Diogo   da,   bisneto   de    \ntáo 

Évora,  90.  de  Faria.  320. 

Sarmlento,  Pedro  Bodriguez,  adian-  silm,   Tnnocencio  Francisco  </".  Dic- 

tado  de  Galiza,  251,  252.  cionario   bibliographico  portuguez, 

Sarrea,    Jorje    Mendez,   almoxarife  I  isboa,   1858-1870.  9  vols.  52,  78, 

em  Taro.  [34.  80. 


l.NDICi:   AI.IAHI   IUO 


1 1 


Silva,  João  'l.\  ar.  de  Vagos,  cama- 
reiro mor  do  Príncipe  I'.  João, 
260,  .'ii.'.  163. 

Silva,  I».  Leonor  da,  mulher  de  Nuno 
Fartado  'li-  Mendoça,   1 18. 

Silva,  I >.  Maria  da,  mulher  de  João 
Uodriguez  Pereira,  o  Marramaque 
192,  193,  194,  198. 

Silveira,  Fe  r  não  il  ;i .  co  ud  e  1  mor, 
poeta  do  Cancioneiro,  22,  298. 

Silveira,  Francisco  da,  coudel  mor, 
poeta  do  Cancioneiro,  23,  INT.  l!)7. 

Silveira,  D.  Joana  da,  mulher  de 
D.   Dinis  de  Almeida,  344,  345. 

Silveira,  João  Alvarez  da,  inquisidor 
em  Évora,  90., 

Silveira,  João  Ferriandez  da,  [."Ba- 
rão de  Uvito,  escrivão  da  purida- 
de, chanceler  mor  e  \  édor  da  fa- 
zenda do  Príncipe  D.  João,  51 . 
263. 

Silveira9  Luis  dn,  guarda  mor  de 
I).  João  111.  11. 

Silveira,  1).  Martinho  da,  poeta  do 
Cancioneiro,  1 16. 

Silveira,  Nuno  da,  31 5 . 

Silveira  Leal,  1>.  Antónia  da,  mulher 
de   André    Lúcio  de  Resende^  (52. 

Silveira  Leal,  I».  Maria  Barbara  da, 
mulher  m>  capitão  Ljús  Garcia 
<  iomes  Freire,  62-63. 

Silves,  Almoxarife  de,  133-134. — 
Dispo,  nide  João,  D.— Doação  da 
cidade  á  Rainha  D.  Leonor,  1 19. 
Moradores,  72,  73.  Rendas  e 
direitos  reaes  pertenciam  á  Rainha, 
113,  128.  -Termo,  247.  — Tesou- 
reiro e  recebedor,   134. 

Simões,  Augusto  Filipe,  Alguns  subsí- 
dios para  a  biografia  de  Garcia  de 
Resende;  artigo  no  vol.  \\  do  Ins- 
l ilido.   19,  07. 

Sines,  Direitos  do  genesim  e  sisa 
judenga  <le,  272. 

Sintra.  Almoxarife  de,  134.  —  Di- 
plomas de  lá  datados,  89,  1 19, 
238,  246,  280,  284,  365.  —  Doação 
da  \  ila  á  Rainha  1  >.  Leonor,  117. 
—  A  ella  pertenciam  as  rendas  e 
direitos  reaes,  113,  120,  128. — 
Termo,  319,  321. 

Soares  de  Albergaria,  vide  em  Uber» 
traria. 

Sortelha,  Direitos  reaes  da,  274. 

Sousa,  D.  António  Caetano  de,  His- 
toria genealógica  da  casa  real  por- 
tuguesa, 1.  isi.ua.  1735-1749,  I .' 
vols.  123,  157,  177.  21.1,  256,  340. 
Memorias  Sepulchraes  que  para 
beneficio   da    Historia  de  Portugal 


offerea  o    ú     icadomiti    Iteal,    ms. 
perte  n  ce  n  i  e  no  Falecido  conse 
lheiro  \  enancio  I  'eslandes,  151. 
Provas  da  Historia  genealógica,  ■ 
I  isboa,  1739-1748,  ti  vols  91,  111, 
116,   1 19,   154,  166,  183,  19" 
205,   206,   269,   275,  277,  281,  303, 
I0C      161,     162        Possuiu   os  Su- 
mários 'l'    l  ousada,  194. 

Sousa.  I»  Francisco  de,  neto  do 
1 ."  Barão  de  Ah  it<>,  51 . 

sonsa.  Henrique  de,  fidalgo,  I8(i 

Sonsa,  1>.  João  de,  donatário  de  cer- 
tos 'lii  eitos  'Mn  1-  aro,  I  27 ,  129. 

Sons  i.  D.  1  eonor  d  e  .  mulher  d  e 
I  >iogo  Gil  Muni/ .  Ji ; . 

Sousa.  1  .eopoldina  de,  .'I  \ . 

Sousa.  Lopo  de,  sr.  do  Prado,  aio 
do  1  >nque  I».  Jaime,  299. 

Sousa.    Dr.    .Manuel    Bento    di 
opinião  acerca  do  em  enenamento 
de  D.  João  II.  104,  221  a  231,  277. 

Sousa.  1  >.  Maria  de,  '  !ond(  ssa  di 
Marialva.  74,  75. 

Sousa.  Pero  de,  24  1. 

Sousa,  l.ui  de,  sr.  de  Sagres,  meiri- 
nho mor  do  Príncipe  I  >.  João,  23, 
264. 

Sousa.  Vasco  Martin/  de,  o  Chichor- 
ro,   197. 

Sousa  Ribeiro,  Pero  de,  poeta  do  l  rtn- 
cioneiro,  188,  189,  199,  244. 

Sousa  ilo  Sem,  Simão  de,  poeto  iK> 
Cancioneiro,  24. 

Sousa  Viterbo.  Dr.,  indica  dois  does. 
ao  autor.  130. 

Sonso  Viterbo,  Artes  <>  industrias  em 
Portugal.  Minas  e  mineiros.  Sepa- 
rata do  Instituto.  Coimbra,  1904. 
349.  I  batalha  de  Touro.  Alguns 
dados  <■  documentos  para  a  sua 
monographia  histórica.  Separata 
da  Hevista  militar.  Lisboa,  1900. 
275.  Diccionario  histórico  e  do- 
cumental dos  architectos,  enge- 
nheiros e  construetores  portuguezes 
ou  a  serviço  de  Portugal.  Vol.  U. 
Lisboa,  1904.  41,  58,  70.  -  Noti- 
cias sobre  algum  médicos  portugue- 
ses, 228.  —  tralm/lios  Náuticos  dos 
Portugueses,  uos  séculos  xvi  e  svii. 
Parte  TI.  Construetores  navaes,  Lis- 
boa, 1900.  129. 

Sousel,  físico  lá  morador,  248. 

Stanley  o/  Alderley.  Lord,  The  first 
ooyage  round  Ho'  world  by  Magel- 
lau .  . .   Londres,   1874.  77 . 

Sul,  Senhor  de,  185. 

Taboa,  Senhor  da,  362. 

Taipa.  Quinta  da,   193. 


412 


INDIC1     VLFABETICO 


Taipa,  '  ondes  da,  193. 
1'anjer,  Palanque  de,   183. 
mento,    I. — Empresa,    2. —  I!is- 
po,  vide  Orti/..  D.  Diogo.-  -Capi- 
tão   da  armada  doa  Infantes,   185 

i  apita  o  da  praça,  vide  M «es, 

l>.    .João.  —  Fisico    e    cirarjião  lá 
morador,  247. 

I  arga,  Bispo  de.  226. 

[Tarouca,  iVlorador  em,  246.  -Sr.  da 
vila, 

Tarouca,  Donde  de,  vide  Meneses, 
D.  João. 

Tavares,  Kisto.  Livro  das  principacs 
linhagens  de  Portugal,  ms.  de  que 
possuo  copia  e  outras  existem  em 
bibliote  ias  publicas,  254. 

'i  aveira,  Pêro,  morador  em  Évora,  51 . 

Tavira,  doada  á  <  'rd em  de  Santiago, 
14.— Morador  lá,  2G7. 

Távora,     Álvaro     Pirez    de,    são-lhe 
los    os    bens    confiscados    ao 
( londe  de  Abranches,  329. 

lYil»'/..  patronímico,  9. 

Tellez,  Afonso,  capitão  de  Alcácer,  õ. 

Tellez  de  Matos,  Joaqu  im  Anti 
Sonsa,  escritor,  T  " 

Tellez    de    Meneses, 

—  Mia-;  armas,  7 
Telles     de     Meneses. 

Unhão,  9,   185. 
Tello,  patronímico,  f). 
Tentngal,  diploma  de  lá  data 

—  Doa  -ão  do  senhorio  não  confir- 
mada,  152.  —  Prior,  74. 

I  ernate,   •  iapitão  de,  76,  7  7.  78. 
!  eitor,  73,  7  1,  77,  78,  79. 

n  iro  de  I  >.  Afonso  \  .  Í66. 
l)o  Príncipe  1> 

iinho  de  1 ) 
vide  Faria,  Antão. 
Tesoureiro    mor    de    l>.    Afonso    V, 
266.  -  De    D.  João  III,   133,   137. 
ro  de  D.   João  II,    Recebedor 
do,  vide  Magro,   Rui  Gil. 
Tinoco,  I  'iogo,  primeiro  denunciante 

do  Duque  de  Viseu,  278,  296. 
Tinoco,  João  Nunes,  traça  uma  planta 

de  Lisboa, 
Toledo,   145. 

ticario   lá   morador,  246. 

—  Recebedor    das    Bisas,    294. 
Vigário,  296. 

Toro.  estada  lá  do  Príncipe  D.João, 
169.  Lá  é  feito  o  primeiro  \  is- 
conde  português,   I  'i7. 

Toro,    Batalha  dé,   3,  31,   I  18,   160, 
253,  265,  '.'71 .    -    Uferes  do  estan- 
darte  do   Príncipe   D.   Joã 
Z79. 


de  Santarém,  9. 

Fernão,    sr.     de 


Torre  do  rombo,  falta  de  índices  e 
catálogos,  216.  Man  estado  da 
Chancelaria  de  l>.  João  II.  109. 
<  lod  ices  lá  existentes,  112.  1 24 . 
178,294.  Inventario,  11)9. — Lei- 
tura nova,  109,  289.  Director, 
2 14.     -  Guarda  mor.  288. 

lorn-s  Novas,  eirurjiao   lá  morador. 

246.       Diploma  de  lã  datado,  246. 

Doação    das   rendas    reaes,    118. 

I  ori-es    \  edras,   diplomas  de  lá  da  • 
lados.  283,  284.  285,  28",  288. 
Doações     das    rendas    reaes,    117. 
118,     120.  —  Pessoa    lá    moradora. 

256. 

Torres  Vedras,  Mestre  João  de,  bar- 
beiro, 249 

Trancoso,  cirurjião  lá  morador,  247. 

I  ias  os  Montes,  privilejios de  fidalgo 
para  aquella  comarca,   197.     Bei 
deiro  e  recebedor  dos  portos  delia, 
>49,  250. 

Trigoso  de  Aragão  Mora  to,  Francisca 
Mn  a  uri.  \femoria  sobro  os  secretá- 
rios dos  reis  e  regentes  'li-  Portu- 
gal... inserta  nas  Memorias  </" 
Academia,  295. 

Tuias.   Senhor  de,    199.— Júris 

do  couto,  197. 
Uchão  de  D.  João  [I,  253,  257,  266. 
I  eharia.    Peças   da,    de  I).  João  II. 

266.—  I>a  Rainha  I».   Leonor.  135. 
assento    da   ( Irdem    de  San  - 

tiago,  13. 
I  clès,  Mestre  de,  li,  15. 
I  nhào,  Senhor  de,  9,   185, 
\  agos,  188.  —  Senhor  da  vila,  D,  262. 
Yal    de    Área-.,    cabi  -a  do  morgado 

instituído  por  Garcia  de  Resende, 

i  ;    16,  56,  64,  65. 
Valada,  Comenda  de<  282,  307. 
Valbom,  Quinta  de,  93,  95.  —  Vinha 

lá   situada.   91  • 

\  aldijem,  Senhor  de,  362. 

\  alenç.a,  *  íarta  do  condado  de,  5. 

Valença,     <  onde    de,    vide    Meneses. 

D.  Henrique. 
Valência    de  Campos,  Conde  d< 
Valente.    João,    morador   em   I  agos, 

2  5  '• . 
Valera,    Diogo  de.   Espejo  de  verda- 

itrrn  nobleza,  cif.  por  Gama  Bar- 

.    .'.Vi. 
Varatojo,    Mosteiro  do,  diplomas  de 

la  datados,  247,  294. 
Varella,  João,  lavrador,  42. 
Varei  las,    Herdade   dos.   :1    |;. 

12. 
Varellas,  I  Lerdade  dos.  a  S.  B 

12,  i6, 


[NDK  I    Al  FABE  I  K  <  I                                 I  I  > 

Vasooncollos,  Diogo  Mendez  de,  nmi-  Viana     de     Alvito,     diploma    de   lá 

go  e  biografo  de    ^ndré  de  Kesen-  datado,    '241.        Vai    lá    o   líninlia 

de,  87,  88  I».  Leonor,  III.  :tU4 

Vaseoncellos,   . ) < > u 1 1 <.-   Mendez  de,  Í4.  Viana  de  Uaminha,  Condado  de,  ■  >. 

Vasconcellos,    Joaquim  rfè,    ircheolo-  ,       VIorador  na  vila,   245. 

gia   artística,    .\."    ln.   Renascença  Vicente,  Gil,  poeta  ourives,  Buas  ca- 

portugueza ■ . .    III.    Goesiana.     \s  saa  em  I  isboa,  32  i 

variantes   das  chronicas.  Porto,  1159.       Lndice  das  biwií   Obra      .'l 

1881.   II (i.  27,  28. 

Vasconcellos,   Kui  Mendez  de,  i.°  sr.  Vidigueira,    fisico   lá  morador,   J49 

de  Figueiró  e  Pedrógão,  192, '210.  Vieira,    P.e     António,    jesuíta,    217. 

Vasconcellos   <■   de    Meneses,   I».  Fer-  Vieira  de  Matos,   l)r.   Sebastião,  00. 

nando    de,    Arcebispo    de  1  isboa,  Vieira    da    S.    Guimarães,    A   Ordem 

341.  de    Christo.  Lisboa,   1901.   Critica 

Vasconcellos  e   de   Meneses.   1».  -lua"  deste    livro,     .'I.!.    214,   217,  218, 

de,  2."  Conde  de  Penella,  325,  328,  219. 

341.  Vieira  da    Silva      lugusto,    .1    Cerca 

Vassalo    aposentado,   Carta  >'u-,  246.  Moura  de  Lisboa,  estudo  historico- 

Vax,    Afonso,    clérigo,    rasa  sua  em  descriptiòo.    Extracto    da     Revista 

Lisboa,  328.  de    /  ngenharia    Militar.     Lisboa, 

Vaz.    Anjela  Leonor,  mãe  do  mestre  1899.  322,  323,  325,  320,  327,328, 

André  de  Kesende,  86,  8"i  157 

Vaz.    Henrique,    tabelião  em  Coim-     Vila    do    Conde,    fisico  lá   rador, 

bra,  244.  247. 

Vh/..  Jnés,  casa  sua  em  Lisboa,  351,  Vila  Franca  de   \ira.  os  scua  direi- 

352,  .'iáii.  tos    reaes    pertenciam    á     Kainha 

Va/..    Leonor,    mulher   de    Diogo  de  D.  Leonor,   119,  128. 

(íoes,  51,  8!).  Vila    Lobos,    Teresa    <!<■,    mulher   de 

Vaz.    1).  Martim,  Arcebispo  de  Lis-  Manuel  Vaz  'lo  Kesende,  84. 

boa,  ride  Costa,  l>.  .Maninho.  Vila   Nova    de   Alvito,  estada  lá  de 

Va/..  Mor,  mulher  de  João  de  Faria,  D.  -loa,.   II.    III.       De  1>.    Sebas- 

314.  liáo.  [12. 

Vaz.    Nuno.    escudeiro    da     líainha  Vila  Nova  ilc  Anços,  Doação  'lo  se- 

3>.  Caterina,  86,  MT.  nhorio  <i e .  152. 

Vae,  Dr.  Pêro,  vigário  de  Tomar,  296.  Vila    Nova    da    Cerveira,    Senhorio 

Vaz    <le    (iões.    Anjela   Leonor,    mãe  de,  7. 

do   mostro  André  de  Kesende,  88.  Vila    Nova  da  Cerreiraj  \  isconde  de, 

Vaz  Vicente.  Nuno,  lavrador,  12.  1  •"■  vide  Lima.  1».   Lionel. 

Vedor  da  casa  do  Principe  D.João,  Vila  Nova  de  Portimão,  cirurjiào  lá 

263.  morador.   249. 

Vedor  da  fazenda  do  Principe  D.  João,  \  ila  Real,  Almoxarifado  de,   197.— 

263.  Morador  na  vila,  .'iii.  —  Sou  termo, 

Vedor  da  fazenda  de  D.  João  II,  vide  242. 

Almeida.     I).    João;    (astolhranoo.  Vila    lleal.    Conde    <lo,     I.".     10;    '-'.'- 

D.     Maninho;    Castro.    D.  Álvaro.  347  ;  3.°,  160. 

—  De  D.  Manuel,  18!).  vila  Real,  Condessa  de,  oide    Contt- 

Veiros,  cirurjiào  lá  morador.  '„'.">().  nlio.  1).  Beatriz;  Meneses.  D,  liea- 

Velho,   Kui,  estribeiro  mor  do  Prin-  triz:  Miranda.  I).  Margarida. 

cipe  l>.  João,  257,  263.  Vila  Beal,  Marquês  de,  1.°,   189;  2.°, 

Veneza.  Sarja  do.  292,  ride  Meneses.  1).  Fernando. — Ini- 

Vestimentas  diversas,  134,  292,  ÒV>1 .  co  marquesado  existente  nos  fins 

Vestuário,   Peças  de,  109,  134,  182,  do  século  st,  189. 

283.  284,  285.  288,  289,  292.  \ila  Beal,  Marquesa  de,  ei,le  Freire, 

Viaje  de  Nicolas  de  Popielovo...,  282,  D.  Maria. 

301.  Vila    Viçosa,    Alcaide   mordo,  23. — 

Viana.    Conde   do,  2.",  vide  Meneses.  Diploma  de  lá  datado.  241. 

D.  Pedro;  3.°,  Meneses, D.  Duaite;  Vilanova,  Mostro  Pedro  de,  24õ. 

l.°,  Meneses,  D.  Henrique.  Vilhena.  I).   Beatriz  de.  Duquesa  de 

Viana.    Condessa    de,    vide   Castro,  Coimbra,  155. 

D.  Isabel.  Vilhena.    D.    Beatriz    de,  mulher  de 


414 


IXDICI     \l  FABETICO 


Diogo    Soarez  de   Albergaria,  aia 

e    i Irinha    de   D.  João   II,  260, 

261. 

Vilhena,  D.  Margarida  de,  mulher 
de  Fernão  Tellez  de  Meneses,  185. 

\  imieiro,  lú  reside  temporariamente 
a  Excelente  Senhora,  162. 

Vimioso,  C le  do,  vide  Francisco,  I  >. 

Viseu,  Bispo  de,  160;  vide  Figuei- 
redo.   1).   fronçalo.  — Cimrjião  lá 


moi  ador.  .'  18.  I  >iocese,  246.  — 
Mercador  na  cidade,  2 18. 

Viterbo,  Fr.  Joaquim  de  Sania  Roxa 
le,  Elucidário  das  palavras,  ter- 
mos, e  frases,  que  em  Portugal  an- 
tiqame  úe  se  usarão.  .  .  Lisboa 
1798-99.  2  vols.  195,  207. 

n  ebster,  International  dictionary  nf 
lhe  English  language,  190. 

"i  pr<  s,  Pano  do,  134   284,  291. 


índice  geral 


I     Os  Condes  de  Viana,  D.  Duarte  e  D.  Isabel  .  .  .    paj.  1 

II     A  Ordem  de  Santiago 13 

III  Rapariga^  do  Cancioneiro '21 

IV  Garcia  de  Resende 29 

Aditamentos  I.     Dois  Duartes  de  Resende 71 

II.    A  suposta  fraternidade  de  Gar- 
cia e  André  de  Resende 84 

V     A  Rainha  D.  Leonor ')7 

Apêndice.     Bens  moreis  e  dinheiros  da  Rainha 

D.  Leonor 133 

VI     Trasladações  na  Batalha 139 

VII     Descendência  de  D.João  II 14^ 

VIII     A  amante ..  'l59 

IX     Na  Batalha ..  169 

Apêndice.     Auto    de  remoção   dos   despojos  de 

D.  João  II 180 

X    O  Marramaque ■■  181 

Apêndice 200 

XI     Livros ••  213 

XII  — Envenenado 221 

Apêndice  I.-   Extractos  de  does.  relativos  a  João 

do  Porto 238 

Apêndice  II.    Extractos  de  does.  relativos  a  Mes- 
tre João  »  241 

XIII     O  Camareiro ..  251 

índice  alfabético 371 


COLOCAÇÃO   DAS  ESTAMPAS 


I     A  capella  de  Garcia  de  Resende  na  cerca  do  Espinheiro,  vista 
do  convento.  — Em  frente  da  paj.  41. 

II  — Porta    da    referida    capella,    sob    o  alpendre.      Em   frente   da 

paj.  44. 
III  — Campa  da  sepultura  de  Garcia  ele   Resende.     Em  frente  da 

paj.  52. 
IV -Casa  chamada  de  Garcia  de  Resende,  em  Évora.     Km  frente 

da  paj.  ()5. 
V     Fac-simile  da  ultima  pajina  de  nina  carta  autografa  do  mestre 

André  de  Resende.     Em  frente  da  paj.  85. 
VI     Arvore  da  geração  varonil  de  D.  João  II.     Em  frente  da  paj. 

157. 
Vil     Planta  de  parte  da  freguesia  de  S.  Bartolomeu  de  Lisboa  no 
século  xvi.     Pm  frente  tia  paj.  325. 


27 


B1NDING  CZZT.  JUL  5  -  1966 


DP  Braamcamp  Freire,    Anselmo 

538  Critica  e  historia 

B73 
v.l 


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